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Fundamentos e Técnicas

de Entrevista
AULA: A entrevista clínica

Mª Gabriela Neves
DEFININDO A ENTREVISTA CLÍNICA

Em
Porpsicologia, a entrevista
técnica entendemos umaclínica é um
série de conjunto de
procedimentos quetécnicas
de investigação
possibilitam , deostempo
investigar temas emdelimitado, dirigido eventos
questão, relacionar por ume
entrevistador
experiências, fazertreinado ,
inferências,que conhecimentos
utiliza conclusões
estabelecer e tomar
psicológicos
decisões. , em uma relação profissional, com o objetivo de
descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou
sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um
É necessário conhecimentos
processo que visa amplos
a efazer
profundosrecomendações,
da psicologia
clínica:
encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em
- Psicologia do desenvolvimento
benefício das pessoas entrevistadas.
- Psicopatologia – Sinais e sintoma
- Psicodinâmica – Conteúdos inconscientes
- Teorias sistêmicas - Relações
Especificidades da entrevista

A entrevista clínica é um procedimento poderoso e, pelas suas


características, é o único capaz de adaptar-se à diversidade de
situações clínicas relevantes e de fazer explicitar particularidades
que A importância
escapam de enfatizarprincipalmente
a outros procedimentos, a entrevista aoscomo
parte de um processo é de poder vislumbrar o
padronizados.
seu papel e o seu contexto ao lado de uma
grandeé quantidade
A entrevista a única técnica de procedimentos
capaz em de
de testar os limites
psicologia.
aparentes contradições e de tornar explícitas características
indicadas pelos instrumentos padronizados, dando a eles
validade clínica, por isso, a necessidade de dar destaque à entrevista
clínica no âmbito da avaliação psicológica.

(Tavares, 1998)
Entrevista clínica - Dirigida

 Mesmo nas chamadas entrevistas “livres”, é necessário o


reconhecimento, pelo entrevistador, de seus objetivos.

 É no intuito de alcançar os objetivos da entrevista que o


entrevistador estrutura sua intervenção.

 Nas entrevistas clínicas, desejamos conhecer o sujeito em


profundidade, visando a compreender a situação que o levou à
entrevista.
Objetivos entrevista clínica

 A finalidade maior de uma entrevista é sempre a de descrever e


avaliar para oferecer alguma forma de retorno.

 Todas as formas de entrevistas clínicas requerem uma etapa de


apresentação da demanda, de reconhecimento da natureza do
problema e da formulação de alternativas de solução e de
encaminhamento.

 Estratégias diferentes de avaliação podem ser utilizadas para


atingir os objetivos de cada caso, ou combinadas para atingir
objetivos diversos considerando os vários contextos em que a
entrevista clínica é utilizada (no consultório, na saúde pública,
na psicologia hospitalar, etc.).
Modelo Psicanalítico

No decurso das primeiras entrevistas:


O analista, através de um procedimento não diretivo, escuta
os pacientes, a historia das perturbações e a história da sua
vida.
O analista observa, escuta (com uma atenção flutuante e não
seletiva), sabe esperar e calar-se para, no momento
oportuno, dar a interpretação que convêm.
Através da interpretação, o analista comunica ao sujeito o
conteúdo latente do discurso deste.
Abordagem humanista: Carl Rogers
 Não diretividade
 Aceitação – não fazer juízos de valor, aceitar o paciente como
ele é, aceitar suas palavras é o que as torna mais aceitáveis para o
próprio sujeito.
 Compreensão empática – a função do terapeuta é estar presente
e acessível à experiência do seu paciente. Deve confiar nas suas
próprias sensações, naquilo que experimenta em cada momento de
encontro com o paciente.
 Relação interpessoal, positiva e construtiva – existiria em cada
um uma tendência natural de vida: são essas forças construtivas
que o terapeuta põe em evidência para desenvolver as
capacidades de expressão, melhorar as relações do sujeito e as
suas comunicações interpessoais.
Abordagem Cognitiva e Comportamental

Acentuam
Todas elas têmas representações
em comum um certo número de características:
cognitivistas: associam um certo Têm por objetivo suprimir o
número de técnicas como a comportamento inapropriado
 O estabelecimento de um contrato entre o paciente e o terapeuta;
para o substituir por um
imagem mental, a organização do
 Apensamento, comportamento
etc.e precisa dos objetivos terapêuticos,
definição clara com umaadaptado,
segundo de
definição das condutas que vão ser alvo das tentativas as mudança;
leis do
Em certas terapias; o objetivo é,
 A medida quantitativa e qualitativa da mudança condicionamento.
obtida
portanto, fazer com que o sujeito
tome consciência dos seus
pensamentos, reconhecer aqueles
que são “tóxicos” e substituindo-
os por ideias positivas.
Conclusão

A entrevista está na base de todas as psicoterapias que associam a


palavra ao dispositivo terapêutico. O quadro e os elementos
técnicos não parecem modificar-se muito, mas há um certo
número de elementos que, no entanto, variam de uma técnica
terapêutica para outra, como:

 A posição das cadeiras (face a face, lado a lado);


 A posição do paciente (sentado ou deitado);
 O numero e a duração das sessões;
 A duração da psicoterapia;
 A atitude do clínico (não diretiva, semidiretiva ou diretiva)
A ENTREVISTA COMO PROCESSO

 Fatores que inevitáveis em toda situação de entrevista:

Fatores conscientes: fatores que são conhecíveis pelo próprio sujeito,


por meio de uma reflexão pessoal sobre eles e que procedem da situação
real e da lógica.

Fatores inconscientes: estes não emergem do campo da consciência,


tornando-se, por isso, de difícil identificação; influenciam, porém,
frequentemente, com maior força do que os fatores conscientes,
apresentando-se, às vezes, de maneira irracional.
Em síntese, poderíamos constatar a possibilidade do aparecimento
de três fenómenos muito significativos:
O entrevistado transfere à situação da entrevista a
dinâmica psicológica de conflitos anteriores que
marcaram, de maneira duradoura, seu modo de reação
a) Transferência inconsciente a “situações tipo”, mas que não
correspondem à situação atual, e sim a outras pretéritas,
b) Contra transferência que o entrevistado não tem atualmente no campo da
consciência.
c) Rapport A transferência depende, em grande parte, da atitude,
aspecto físico, modo de vestir, gestos etc. do
entrevistador.

É a relação harmoniosa, tranquila


e serena, determinada e O entrevistador não é imune à dinâmica do
significada pela empatia. Trata-se inconsciente, projetando sobre o entrevistado
de uma relação cordial, afetuosa, grupos de fenômenos da sua própria estrutura
de confiança, de apreço e respeito psíquica e inconsciente. Assim, gerará
mútuo, relação eminentemente sentimentos de simpatia, hostilidade, aversão,
humana. necessidade de receber afeto ou admiração
etc.
Análise e controle da angústia, sentimentos
presentes no início da entrevista:

Por
Porparte
partedodoentrevistado:
entrevistador:
Procura a entrevista (ou é procurado) devido a uma necessidade pessoal
A angústia
que pode nãotambém é provocada
estar bem resolvida.no entrevistador e originada, especialmente,
Defesa.
pela incerteza (saberei diagnosticar e atuar corretamente?). Daí que o
Teme o resultado
entrevistador da entrevista
inexperiente de àque
cede dependem,
tentação frequentemente,
de encaixar o entrevistado dentro
importantes modificações
de um esquema na sua situação
preestabelecido. e ritmoquanto
Ao contrário, de vida;
mais consciente,
maduro
Teme e experiente forjulgado,
ser menosprezado, o entrevistador,
rejeitado,mais sensível será àmal
incompreendido, originalidade e à
peculiaridade que fazem única cada entrevista, conseguindo, assim, se adaptar
diagnosticado;
ao ritmo e à personalidade de cada indivíduo entrevistado;
Insegurança pela possibilidade de descobrir uma inadequação para o
desempenho de um determinado trabalho profissional;
Acrescenta à angústia o fato de que em cada nova entrevista é posto em jogo o
Pode sentirprofissional
prestígio vergonha e do
humilhação quando se trata de compartilhar
entrevistador.
experiências e situações íntimas, pessoais e familiares, a um estranho.
Dinâmica da entrevista

Início da entrevista
É evidente não existir normas gerais nem receitas preestabelecidas.
Portanto, a sensibilidade e características individuais da personalidade
de cada entrevistador, levá-lo-à a se adaptar às circunstâncias, também
individuais do entrevistado,
Exige-se e às modalidades
do entrevistador específicas
uma sincera de cada
e cordial
situação, de maneira mais eficaz.
identificação do entrevistado como pessoa e como
Os primeiros momentos
indivíduo, são dedirigindo-se
inclusive observação e avaloração mútua:
ele, desde tudo o
o início,
que o outro faz é importante e significativo para o entrevistado e para o
pelo nome, porque assim se sentirá simultaneamente
entrevistador. Por exemplo: a roupa, o modo de cumprimentar, de dar a
identificado
mão, de sentar-se, deeolhar,
respeitado
etc. como indivíduo.
Por conseguinte, deve-se evitar, com muito cuidado, que o entrevistado
processe uma identificação do entrevistador com a figura de um
burocrata hostil que acarretaria uma atitude de desconfiança.
Desenrolar da entrevista

Atitudes básicas ou fundamentais por parte do


entrevistador:

a) Saber escutar.
b) Não assumir um ar de superioridade.
Demonstrar interesse, falar somente o necessário e tratando-o sempre
emOtomentrevistador
c)d)afetuoso
Evitar
Sincero encontra-se,
ae respeito
percepção
cortês, certamente,
seletiva.
e interesse pela
desenvolvendo, umaem
pessoa
assim, situação É uma
entrevistada.
transferência
vantajosa e) Atitude
atitude durante de
essencial, a atenção cuidadosa
entrevista. Às
imprescindível, vezes,para
porque
não perder
inclusive
não se pode
nada do
fingir.
Significa ter pré-fabricados os diagnósticos ou esquemas
positiva.
(sobretudoque oquando
entrevistado
se tem relata, e perceber,
sentimento de inclusive, as
inferioridade),
Escutardenão
referência
é somentedesde
ouvir. Éascompreender
primeiras frases
e aceitardoo entrevistado.
entrevistado e
possíveis
aproveita-se
Esta atitude omissões
a escandalizado.
situação,
deverá (conscientes
de
ganhar maneira
atenção, ou inconscientes).
compensadora,
visto que podenem para
esmorecer
tratar
Evitando de encaixá-los
mostrar-se neste diagnóstico,
Não demonstrar percebendo
aprovação
comTambém
manifestar
desaprovação, a rotina,
uma éaparente
respeitar preciso estar
automatizando-se
sinceramente atento
superioridade
a escala à valores
de linguagem
e artificializando-se
sobre o
e a não
nas verbal,
filosofiasuas
de
seletivamente apenas os sintomas que convergem a ele.
vida frequentemente
domanifestações,
entrevistado,
entrevistado. muito
perdendo,
manifestando significativa,
portanto,
respeito (mímica,
suaideias
pelas éticas, gestos,
autenticidade.
religiosas eposições,
políticas. posturas, silêncios, interrupções, gaguejo etc.).
Registo de Dados

 Tomar notas durante a entrevista é uma atitude


normalmente aceita. Entretanto, recomenda-se evitá-lo
nos primeiros momentos e dar atenção apenas a fala.
 É recomendável tranquilizar o entrevistado informando-
lhe que o registro é pessoal e que não cairá nas mãos de
outras pessoas.
 Sempre será aconselhável interromper as anotações
quando o entrevistado contar algo que não gostaria de ver
escrito, e evidenciar que se interrompeu a transcrição,
deixando a caneta sobre a mesa.
Final da entrevista - clínica

Cordialidade, real empatia e rapport positivo aparecerá no


fim da entrevista com o desejo de se encontrar de novo.
Sentimento que se gera espontaneamente, em todo contacto
verdadeiramente humano.
Referências

OLIVEIRA, Maria de Fátima. Entrevista psicológica: o caminho para aceder ao


outro. Trabalho de monografia. 2005. Universidade Lusíada do Porto. Disponível
em:<https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0031.PDF>.

BÉNONY, Hervé. CHAHARAOUI, Khadija. A entrevista clinica. Climepsi Edtores.


2002.

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