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PSICOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DOS

TRANSTORNOS MENTAIS
Paulo Dalgalarrondo
8. A avaliação do paciente

A avaliação do paciente, é feita principalmente por meio da entrevista. Junto com


a observação cuidadosa do indivíduo, ela se constitui como o principal instrumento de
conhecimento da psicopatologia. A entrevista psicopatológica permite a realização dos
dois principais aspectos da avaliação:
● A anamnese,
● O exame do estado mental atual do paciente.
Aspectos considerados mais relevantes sobre a técnica de entrevista em
psicopatologia:

● Avaliação física;
● Avaliação neurológica;
● Avaliação psicológica;
● Exames complementares.
9. A entrevista com o paciente

O domínio da técnica de realizar entrevistas é o que qualifica o profissional


habilidoso. Nesse sentido, a habilidade do entrevistador se revela pelas perguntas que
formula, por aquelas que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou
apenas calar. Também é atributo do entrevistador a capacidade de estabelecer uma
relação ao mesmo tempo empática e tecnicamente útil para a prática clínica.

Se seremos mais ativos ou não, durante a entrevista, vai variar em função do


paciente, de sua personalidade, de seu estado mental e emocional no momento, do
contexto institucional, dos objetivos da entrevista e da personalidade do entrevistador.
Atitudes inadequadas e improdutivas:
● Posturas rígidas;
● Atitude excessivamente neutra ou fria;
● Reações exageradamente emotivas;
● Julgamentos;
● Reações emocionais intensas de pena ou compaixão;
● Responder com hostilidade ou agressão às investidas hostis ou agressivas de alguns pacientes;
● Entrevistas excessivamente prolixas,
● Fazer muitas anotações.
“Não é a quantidade de tempo com o paciente que mais conta, mas a
qualidade da atenção que o profissional consegue lhe oferecer”
(DALGALARRONDO, 2019, p. 100).
As três regras “de ouro” da entrevista em saúde mental:
● Pacientes organizados (mentalmente), fora de um “estado psicótico”, devem ser
entrevistados de forma mais aberta, o entrevistador fala pouco, fazendo algumas
pontuações para que o indivíduo “conte a sua história”.
● Pacientes desorganizados, em estado psicótico ou paranoide, “travados” por alto nível
de ansiedade, devem ser entrevistados de forma mais estruturada. Nesse caso, o
entrevistador fala mais, faz perguntas mais fáceis de serem compreendidas e
respondidas.
● Pacientes muito tímidos, ansiosos ou paranoides, deve-se fazer primeiro perguntas
neutras, para apenas então, começar a formular perguntas mais específicas (às vezes,
constrangedoras para o indivíduo).
A(S) PRIMEIRA(S) ENTREVISTA(S)

A entrevista inicial é um momento crucial no diagnóstico e no tratamento em


saúde mental. Esse primeiro contato, sendo bem conduzido, deve produzir no paciente
uma sensação de confiança e de esperança em relação ao alívio do sofrimento.
Na primeira entrevista, o profissional deve inicialmente colher os dados
sociodemográficos básicos, como nome, idade, data de nascimento, naturalidade e
procedência, estado civil, com quem reside, profissão, atividade profissional, religião,
etc. Após tais informações, que de fato situam quem é o paciente, deve-se solicitar que
o indivíduo relate a queixa básica, o sofrimento, a dificuldade ou o conflito que o traz à
consulta.
Transferência e contratransferência

A transferência compreende atitudes, percepções, pensamentos e sentimentos


cuja origem é basicamente inconsciente para o indivíduo. São reflexos, repetições de
sentimentos do passado. O paciente projeta inconscientemente, no profissional da
saúde, os sentimentos primordiais que nutria por seus pais na infância.
A contratransferência é, em certo sentido, a transferência que o profissional
estabelece com seus pacientes. Da mesma forma que o paciente, o profissional da
saúde projeta inconscientemente, no paciente, sentimentos que nutria no passado por
pessoas significativas de sua vida.
Entrevista e dados fornecidos por um
“informante”

Para a avaliação adequada do indivíduo, faz-se necessária a informação de


familiares, amigos, conhecidos e outros. Os dados fornecidos pelo “informante”
também padecem de certo subjetivismo, que o entrevistador deve levar em conta. A
mãe, o pai ou o cônjuge do paciente, por exemplo, têm sua visão do caso, e não a visão
(correta e absoluta) do caso. De qualquer forma, muitas vezes, as informações
fornecidas pelos acompanhantes podem revelar dados mais confiáveis, claros e
significativos.
Crítica do paciente e insight em relação a sintomas
e transtornos

Componentes/implicações do insight:
● Consciência de que tem um problema;
● Modo de nomear ou renomear os sintomas;
● Adesão a tratamentos propostos.

A avaliação em psicopatologia apresenta uma dimensão longitudinal (histórica,


temporal) e outra transversal (momentânea, atual) da vida do paciente. Ao se colher a
dimensão longitudinal, deve-se buscar descrever relações temporais, cronológicas, de forma
clara e compreensível, e observar como o indivíduo relata, sente e reage aos eventos passados.
Sobre a confiabilidade dos dados obtidos:
simulação e dissimulação

Denomina-se dissimulação o ato de esconder ou negar voluntariamente a


presença de sinais e sintomas psicopatológicos. Já a simulação é a tentativa do
paciente de criar, apresentar, como o faria um ator, voluntariamente, um sintoma, sinal
ou vivência que de fato não tem.
Relato do caso por escrito

O relato do caso por escrito deve conter, de preferência, as próprias palavras que o
paciente e os informantes usaram ao descrever os sintomas mais relevantes. O uso de
termos técnicos deve ser proporcional ao grau de conhecimento que o profissional
obteve do caso. Já a caligrafia deve ser legível, e o estilo, claro, preciso, com frases e
parágrafos curtos e diretos.

O relato deve ser organizado e coerente, facilitando o estabelecimento de


hipóteses diagnósticas e o planejamento terapêutico adequado.
10. Aspecto geral do paciente e comunicação
não verbal

O comportamento não verbal (CNV), informa muito sobre a personalidade e o


estado mental das pessoas. As funções básicas do comportamento não verbal são: 1)
expressar emoções; 2) apresentar a própria personalidade ao outro 3) acompanhar a
fala com a finalidade de controlar a alternância entre os interlocutores, monitorar o
tema da conversa e a atenção dos participantes e 4) transmitir sinais relacionados às
atitudes interpessoais, como afeto/desafeto, dominação/submissão,
confiança/desconfiança, ternura/hostilidade, dentre outros.
Principais aspectos da comunicação não verbal do paciente:
● Ambiente da comunicação;
● Aparência física;
● Movimentos do corpo;
● Paralinguagem;
● Histórico Cultural.
11. Introdução às funções psíquicas elementares

A memória, a sensopercepção, a consciência do Eu, a vontade, a afetividade, são


construtos aproximativos da psicologia e da psicopatologia que permitem uma
comunicação mais fácil e um melhor entendimento dos fatos. Não existem funções
psíquicas isoladas. “Cada função parcial na vida psíquica e cada aspecto da realidade
psíquica só existem em vinculação estreita com toda a vida e com a realidade psíquica
total” (BLEUR, 1985 apud DALGALARRONDO, 2019, p. 139).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais


[recurso eletrônico] / Paulo Dalgalarrondo. – 3. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019.
OBRIGADA!

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