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Psicopatologia Geral

Breve relato da história da loucura

A representação e o modo como a sociedade lidava com a loucura variou ao longo da história.
Na Antiguidade, acreditava-se que o louco era vítima de alguma magia ou que tinha sido possuído pelo
demônio, por conta disso, os primeiros médicos foram os sacerdotes e feiticeiros. Na Grécia Antiga, o
modo de agir da sociedade era contraditório; se por um lado os loucos eram valorizados e vistos como
uma pessoa escolhida pela Divindade. As crises de agitação estavam relacionadas as forças
sobrenaturais; por outro lado, na Cidade de Esparta, era comum que crianças com deficiências físicas
e mentais fossem jogadas de precipícios.
Com a lepra controlada, no final da Idade Média, os leprosários passam a ser usados para o
tratamento das doenças venéreas e dos loucos. A loucura passa a ser vista como uma alienação
mental, e dentre os nomes importantes da época destacam-se os dos psiquiatras Philippe Pinel e
Esquirol. Contrariando a prática da época, Pinel liberta os doentes mentais das correntes e os
transferem para os manicômios, instituições exclusivamente destinadas aos doentes mentais, dando-
lhes, também, o direito de serem ouvidos. Esquirol dá uma maior ênfase as experiências vividas pelos
pacientes como precipitadores das doenças mentais, fazendo com que os fatores psicológicos
passassem a ser considerados quebrando, assim, um pouco da hegemonia organicista.
No Renascimento (Séculos XIV e XVI), o louco conhecido era vista como uma pessoa que
dominava o saber esotérico sobre a natureza da vida. Mas os loucos estranhos, com comportamentos
bizarros e bêbados eram confinados em navios. Na Idade Moderna (Séculos XVI e XVII), a loucura é
vista como uma cisão entre a razão e desrazão e o louco é visto como incapaz de trabalhar e de integrar
os grupos sociais. Por ser considerado desajustado, perturbado e perigoso, o louco é internado
(Período das grandes internações) e mantido acorrentado.

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No século XX, impulsionada pela reforma psiquiátrica italiana, principalmente pelo psiquiatra
Franco Basaglia, nasce o movimento Antimanicomial que denuncia os maus-tratos com que são
tratados os doentes mentais e pouco a pouco o modelo de internação psiquiátrica vai deixando de
existir.

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Tipos ou abordagens da Psicopatologia.
Psicopatologia explicativa.
Baseia-se em esclarecer a etiologia (a origem, a causa) dos transtornos mentais. Ela pode
seguir uma orientação psicodinâmica (psicanálise), cognitiva, existencial, biológica ou social.

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Orientação dinâmica: Interessa-se pelo conteúdo das vivências, dos afetos, desejos e temores
do indivíduo. Ela visa as experiências pessoais (a história de vida do sujeito) e não propriamente dito a
classificação dos sintomas. A principal representante dessa linha é a Psicanálise.
Psicopatologia cognitiva-comportamental.

Essa perspectiva centra sua atenção nas representações cognitivas conscientes. As


representações conscientes são vistas como essenciais ao funcionamento mental, normal e patológico.
Os sintomas resultam de comportamentos e representações cognitivas disfuncionais, aprendidas e
reforçadas pela experiência sociofalimiar.
Psicopatologia descritiva.
Busca descrever as alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas e a vivência patológica
como sintoma mais ou menos típico. A psicopatologia descritiva classifica os sinais, os sintomas e as
síndromes mentais.
Psicopatologia biológica.

Enfatiza os aspectos cerebrais, neuroquímicos ou neurofisiológicos das doenças e dos


sintomas mentais. A base de todo transtorno mental são alterações de mecanismos neuronais e de
determinadas áreas e circuitos cerebrais.

Psicopatologia existencial.

Nesta perspectiva o ser é construído através de suas experiências particulares e a doença


mental não é vista como uma disfunção biológica ou psicológica, mas como um modo particular de
existência, uma forma trágica e dolorosa de ser no mundo ou com os outros.

Saúde mental pode ser vista como a possibilidade de dispor de senso de realidade, senso de
humor, capacidade de relativizar os problemas e os sofrimentos, não permitindo que eles ocupem todo
o tempo de sua vida e a capacidade de resiliência (ter forças para superar). Na medicina e na
psicopatologia há vários critérios de normalidade e anormalidade. Todos são adotados segundo o ponto
de vista filosófico, ideológico e prático do profissional.

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Normalidade estatística: Esse conceito é visto como aquilo que se vê com mais frequência na
população geral. Trata-se de um conceito de normalidade que se aplica a fenômenos quantitativos. O
normal é aquilo que se observa com maior frequência. É um critério considerado falho porque nem tudo
que é frequente é necessariamente saudável.
Normalidade subjetiva: Aqui a ênfase é dada à percepção subjetiva do próprio sujeito em relação ao
seu estado mental. Esse critério também é considerado falho porque pessoas que estão na fase
maníaca se sentem muito saudáveis e felizes mas, que, na verdade estão apresentando um transtorno
grave.
Normalidade funcional: O fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que é
disfuncional e produz sofrimento para a pessoa e/ou para o grupo social que pertence a pessoa.
Normalidade ideal: A normalidade aqui é vista como algo utópico. Estabelece-se o que supostamente
é tomado como “sadio” pelo social. São os indivíduos que se adaptam às normas morais e políticas
que determinam a sociedade.
Normalidade como processo: Aqui observam-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento
psicossocial, as estruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças ocorridas nos períodos
etários. Trata-se de um conceito extremamente importante para a psicologia, psicanálise e psiquiatria.
Normalidade como bem-estar: Esse conceito foi formulado pela OMS que definiu a saúde como
“completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. Trata-se
de um conceito bastante utópico porque é difícil defini-lo de forma objetiva, por ser muito vasto e
impreciso. Afinal de contas, quem se sente nessa condição de completo “bem-estar” ?!
Súmula Psicopatológica

Alguns critérios de avaliação do paciente


Toda avaliação psicológica deve identificar experiências traumáticas como estupro, abusos,
maus-tratos, abandonos e se o agressor é conhecido ou familiar, como outros estressores. Casos
relacionados a estupro e abuso sexual na infância poderão ter sido recalcados ou poderão provocar
vergonha e evitação de se recordar e falar a respeito.

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Nesses casos, o profissional deverá respeitar o tempo do paciente de expor essas informações.
Esse tempo também inclui uma transferência positiva (psicanálise) ou um bom rapport (psicologia),
entre o paciente e o terapeuta. Ambos os processos incluem empatia, confiança, respeito, admiração,
etc., que irão facilitar a comunicação entre as partes.

Vínculo com o paciente

Rapport é uma técnica aplicada para criar um vínculo empático com o paciente favorecendo na
relação terapeuta-paciente. O rapport visa:

Estabelecer uma confiança mútua entre paciente e terapeuta.


Deixar o paciente mais seguro diante do terapeuta
Facilitar que o paciente aceite melhor as pontuações e observações advindas do
terapeuta, tornando-o mais receptivo a feedbacks.

A voz
O tom de voz pode espelhar o estado emocional do paciente e também a maneira como ele
articula as ideias pode trazer informações sobre a coerência de seu pensamento, se estar ou
não conseguindo fazer os devidos enlaces associativos.
Postura
Com a ajuda da postura corporal é possível entender se a pessoa está confortável, incomodado,
resistente ou receptivo a uma ideia.
Comunicação verbal
Procure entender a demanda clínica do paciente e demonstrar interesse em seu caso. Iguale
sua forma de se comunicar com a do paciente, falando de forma clara e simples.
Tratar sempre pelo nome

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O paciente deve ser tratado sempre pelo nome. Tal condição vai demonstrar atenção a pessoa
do paciente.
Evite julgamentos
Todo julgamento trata-se de uma ideia preconcebida sobre algo ou alguém (preconceito). Tal
prática distancia o terapeuta dos reais interesses que em tese ele se propôs, quando se decidiu
ser um profissional da saúde mental.
Paciência
O profissional deve esperar pelo tempo do paciente, não forçar a barra antecipando pontuações
que ele ainda não está preparado para ouvir e elaborar.

Por outro lado, a transferência diz respeito a atitudes e sentimentos cuja a origem é inconsciente
que o analisando projeta no terapeuta. Nesses casos, dizemos que se estabeleceu uma transferência
analítica. A transferência trata-se de uma repetição de atitudes e sentimentos que foram vividos no
passado e que são atualizados no presente, de forma acentuada, numa situação analítica.
Geralmente o analisando reproduza padrões de comportamento que costuma ou costumava ter
com pai, mãe ou cônjuge ou com outra figura que lhe é cara. Essas figuras serão transpostas ou
deslocadas para o terapeuta.

Tipos de transferência
A transferência na clínica pode emergir de duas maneira, através de uma transferência positiva
ou de uma transferência negativa ou hostil. As duas modalidades podem acontecer em uma única
entrevista ou sessão (Ambivalência da transferência). A transferência positiva envolvem sentimentos
amistosos em relação ao terapeuta e se revela como uma grande aliada para o tratamento. Ela está
relacionada com o desejo de colaborar e de trabalhar com afinco no processo terapêutico, mesmo
diante das resistências ou da transferência negativa. Ela está apoiada na confiança e simpatia pelo
profissional.
A transferência negativa ou hostil revelavam sentimentos agressivos, destrutivos, inveja, ciúmes
e sentimentos eróticos intensos pelo seu terapeuta, colocando-se como um obstáculo para o processo
psicoterápico ou analítico. Para Freud, à transferência erótica é vista como uma “inclinação amorosa
intensa” que revela uma necessidade sexual direta, ou seja, o paciente se diz estar “apaixonado” pelo
seu terapeuta. Nesses casos, o analisando (a) usa as sessões para expressar o seu “amor” e para
demonstrar sua satisfação de estar próximo (a) do seus amado (a), implorando ou mesmo exigindo que
seu “amor” seja retribuído.
A transferência erótica podem ser reedições de conflitos infantis a nível de um desejo
insatisfeito que busca agora a realização no contexto do tratamento psicanalítico; percebida como uma
fantasia defensiva contra a separação e abandono, e nesses casos podem ser situações reais que
ocorreram na infância ou não, mas que surgem como uma necessidade de reparação, e em alguns
casos de pacientes borderline, que podem expressar uma excessiva necessidade de serem amados.
A transferência erótica pode se dar através de padrões neuróticos e psicóticos. No primeiro,
através do manejo da transferência o profissional poderá mostrar ao paciente o conteúdo inconsciente
que motivou ele agir dessa maneira. Ou seja, o profissional faz o paciente entender que as declarações
de amor na verdade não são para ele, mas sim para outra pessoa, para um objeto caro para ele.
O segundo padrão é marcado por atuações fora do campo terapêutico e que podem gerar
situações mais graves como perseguição, conteúdos delirantes com aumento do nível de angústia,
ambivalência entre amor e ódio, necessidade intensa e irracional de estar próximo ao terapeuta.

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A estrutura neurótica é caracterizada pela presença de um conflito psíquico originado quase
sempre na infância e pelo recalque, levando ao surgimento de sintomas como ansiedade,
comportamento compulsivos, fobias, entre outros. Apesar dos problemas que esses sintomas poderão
acarretar na vida da pessoa, principalmente se forem agravados, no geral, os indivíduos que se situam
nessa estrutura possuem a capacidade mental e funcional preservadas, que garantem o indivíduo levar
uma vida relativamente “normal”.
A segunda estrutura é a perversão. Na visão de Freud, o sujeito perverso é marcado pela falta
de castração. Freud utiliza o termo “denegação” para caracterizar um mecanismo de defesa contrário
ao reconhecimento da diferença sexual (Universalidade do pênis) e da castração. Freud descreve que
em sua época as crianças atribuíam um pênis para todos os seres humanos, inclusive para o sexo
feminino.
Assim, o menino diante do medo da castração ao se deparar com a falta de pênis no sexo
oposto, imaginariamente e por via inconsciente, ele é tomado pela ameaça de perder seu próprio pênis,
e como rota de fuga quanto a verdade sobre as diferenças sexuais, ele elege um objeto fetiche para
substituir o pênis na mulher (mãe ou alguém importante).
A renegação provocaria uma espécie de divisão do ego, em que parte reconheceria uma
realidade ao mesmo tempo em que a recusaria. A escolha do objeto fetiche ocorre por associação, por
algo que o menino inconscientemente associe com o pênis. Esse objeto pode ser um objeto inanimado
com parte do corpo, como o pé. O fetiche pode ser normal e patológico. O normal o sujeito não precisa
necessariamente do objeto fetiche para ter prazer. No segundo, acontece uma fixação no objeto do
fetiche, ou seja, o objeto é imprescindível para se ter o prazer ou quando se torna uma parafilia, que
diz respeito a um desvio dos padrões normais do comportamento sexual como, por exemplo, a pedofilia
e o sadismo.
A terceira estrutura é a psicótica. Na psicose ocorre uma cisão do Eu levando-o a um
desprendimento importante da realidade, mas sem ser total. Coexistem no seio do Eu duas atitudes
psíquicas para com a realidade exterior, uma leva em conta essa realidade e a outra nega, colocando
em seu lugar seus desejos e fantasias. Para Freud, a psicose se refere a um mecanismo de defesa
posto em ação quando a pessoa se vê incapaz de resolver pela via normal o pensar, uma representação

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insuportável para seu Eu. A psicose, portanto, consiste de um conjunto de defesas psicopatológicas
posta em ação frente a uma representação insuportável.
A cisão do Eu provoca em uma quebra ou rompimento de sua unidade e a tentativa de
restituição dessa coesão perdida será manifestada através dos sintomas como os delírios, as
alucinações e a ambivalência afetiva. Esses sintomas podem ser considerados como uma luta que é
travada contra a desintegração total das dimensões psíquicas presentes na esquizofrenia.
Na psicose a barreira entre o interno e o externo é constantemente violada ou rompida. A partir
do momento em que a pessoa sente que algo de fora é imposto a ela do tipo “alguém roubou meu
pensamento”, essa pessoa está vivenciando a perda de controle sobre si mesmo. Essa vivência
expressa uma fusão da pessoa com o mundo externo, os dois são a mesma coisa. O psicótico vive
com sua mente à céu aberto.
Desde do DSM – 3 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1980), a APA –
Associação Psiquiátrica Americana – abandona a noção de psicose de referência psicodinâmica para
se basear apenas na classificação dos sintomas empiricamente observados e quantificados. Além disso
também cresce a visão organicista sobre a psicose. Hoje, a psicose é entendida como um transtorno
mental grave que se situa no espectro da Esquizofrenia e de seus subtipos, caracterizada pelos delírios
e alucinações; pensamentos desorganizados e comportamentos bizarros, somada com a perda do
contato com a realidade.

Predomínio da desorganização mental e comportamental na psicose: esquizofrenia heberfrênica.

Pensamento progressivamente desorganizado


De um leve afrouxamente das associações até a total desagregação e produção de um pensamento
totalmente incompreensível.

Comportamento desorganizado
Comportamentos sociais e sexuais inadequados, agitação psicomotora, vestimentos e aparência
bizarras.

Afeto pueril

A pessoa reage de forma infantil ou regredido.

Fatores de vulnerabilidade do paciente

O profissional deverá observar certos fatores de vulnerabilidade do paciente, como tendências


a ter pensamentos negativos acompanhados de humor negativo e sensações corporais. Tal condição
poderá apontar para um transtorno de ansiedade. As ruminações depressivas.
As ruminações geralmente são ideias pessimistas em relação a si e ao mundo, cuja o conteúdo
poderá mudar com certa frequência. Pensamento, linguagem verbal e motricidade quase sempre estão
conectados. Quando o pensamento está acelerado (taquipsiquismo) a fala também estará. Essas
condições poderão sinalizar para um transtorno de ansiedade como maníaco, sendo preciso outros
dados para o diagnóstico.

Quadros sintomáticos
Quadro de Ansiedade Quadro Maníaco

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Pensamentos intrusivos; Pensamentos e motricidade acelerados;
Medo excessivo sem causa plausível ou insegurança; Mania de grandeza;
Tensão muscular; Aumento da sensação de bem-estar;
Falta de ar e dificuldade para respirar; Humor eufórico;
Irritabilidade e mudanças de humor repentinas; Desinibição
Insônia devido a antecipação de eventos (hiperexcitação Aumento exagerado da libido;
mental), Comportamento impulsivo;
Sensação de tontura ou desmaio. Poucas horas de sono já é o suficiente.

Ainda no campo dos transtornos de ansiedade, mas especificamente do transtorno obsessivo-


compulsivo, é preciso avaliar:
 o tempo em que as obsessões e compulsões ocupam na vida da pessoa;
 o quanto elas interferem no seu funcionamento;
 o nível de aflição e tentativas de resistir aos sintomas,
 e qual o nível alcançado de controle dos sintomas.
O avaliador deve investigar se o paciente já apresentava o que chamamos de “personalidade
pré-mórbida”, ou seja, se o paciente já apresentava uma pré-disposição a doença ou se ele já teve
alguma doença psiquiátrica e se foi submetido a um tratamento (farmacológico e psicoterapia). A
personalidade pré-mórbida consiste de um padrão de traços da personalidade que poderá ser um
indicador da predisposição para uma determinada doença psiquiátrica.
Alguns transtornos como, por exemplo, da esquizofrenia, o indivíduo pode apresentar
retraimento social e emocional, introversão, tendência ao isolamento e comportamento desconfiado e
excêntrico. Não quer dizer que necessariamente o indivíduo que apresente esses traços irá desenvolver
a esquizofrenia, mas que se tratam de uma pré-disposição a nível de personalidade. Na esquizofrenia,
o avaliador deve observar dentre outros sintomas alterações na sensopercepção (alucinações), no juízo
(delírio), pensamentos desorganizados e discurso incoerente, e no comportamento regressivo
(comportamentos infantilizados).
Caso o paciente apresente apenas a personalidade pré-mórbida com notável risco a
desenvolver a doença ou surto, é preciso tomar medidas de prevenção (farmacológicas e psicoterapia)
com o objetivo de evitar o desenvolvimento da doença ou de mitigar os sintomas e os possíveis
prejuízos cognitivos e emocionais. Igualmente importante a detecção da personalidade mórbida, é
investigar os antecedentes familiares, verificar se entre os familiares de primeiro grau, mãe, pai ou
irmão, se há ou se já existiu algum caso de doença psiquiátrica.
Estudos genéticos apontam um risco ainda maior para o desenvolvimento de doenças
psiquiátricas quando o paciente possui um parente de primeiro grau (mãe, pai e irmãos) acometido de
alguma doença psiquiátrica. O risco é relevante, mas não determinante, pois para o desenvolvimento
de uma doença mental é preciso contar com os fatores ambientais que se constituem como
precipitadores ou gatilhos para a instalação da doença. Outro ponto importante é a avaliação do risco
de um suicídio. Vários são os fatores que podem levar a pessoa decidir que é melhor morrer do que
ficar viva, mas quando associamos as tentativas de suicídio aos transtornos mentais, podemos elencar:

 os episódios depressivos (38,9% dos casos);


 dependência de substâncias psicoativas (21,9%);
 transtorno de estresse pós-traumático (20,8%);
 dependência de álcool (17,7%);

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 esquizofrenia (15,6%).
 transtorno bipolar (0,4%).

A ideação suicida é caracterizada pelo ato de pensar e planejar sua própria morte, inclusive o
dia que ocorrerá a tentativa e o instrumento a ser aplicado, que poderá ser por ingestão de veneno,
sedativos, analgésicos, antipiréticos, enforcamento, disparo de arma de fogo, saltar de pontes, prédios,
precipícios, etc.

Atitudes globais do paciente.

Atitude perante o entrevistador. Por exemplo: cooperante, indiferente, passivo, fóbico, agressivo,
petulante, dramático, evasivo, cabisbaixo, dissimulado, inseguro, histriônico, sedutor, dentre outros.
Rosto: Agradável, cansado, doloroso, com maquiagem ou com maquiagem excessiva, sem
maquiagem, magro, gordo, pálido, corado.
Olhar: Vivaz, vago, sonolento, intenso, perdido, assustado, perplexo, confuso.
Corpo: Normal, magro, magérrimo, gordo, gestos bizarros, manchas, tatuagem, piercing.
Odor: Agradável, desagradável, perfumado adequadamente ou em excesso, fétido, odor de fezes ou
urina.

Associando os aspectos gerais com alguns transtornos.

Na esquizofrenia, os pacientes cronificados geralmente se apresentam mais descuidados com


a higiene e com a vestimenta (roupas sujas), usam objetos bizarros como colares, medalhões e tiaras
que podem estar associados aos seus delírios. Quase sempre apresentam alteração na motricidade
podendo estar mais acelerada (agitação) ou mais lentificada.
Pacientes com depressão podem apresentar desleixados com sua vestimenta ou com roupas
sujas, sem maquiagem e com preferência por roupas escuras. Na mania, a preferência é por roupas
coloridas (chamativas), curtas, decotadas e muita maquiagem.
Na histeria ocorre uma semelhança com a mania, a pessoa geralmente usa roupas chamativas,
decotadas, muito curtas e muita maquiagem. Na anorexia, roupas mais largas e escuras e na demência
o paciente pode se mostra mais descuidados com a higiene e com sua vestimenta, dentes sujos e

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ausência de senso crítico. Indivíduos com personalidade borderline geralmente usam roupas
extravagantes, muito piercings, marcas no copo, tatuagens, cabelos coloridos. Indivíduos com
personalidade obsessiva e/ou transtorno obsessivo-compulsivo às vezes usam roupas e acessórios
muito “certinhos” (roupas passadas de forma impecável, cabelos penteados, na consulta caso veja
algum objeto em desalinhado procura logo deixa-lo em alinhá-lo.

Exame clínico das funções mentais.

Nível de Consciência: Aqui, o observador deve se ater ao estado de lucidez em que a pessoa se
encontra, que pode variar da vigília até o coma. Trata-se do reconhecimento de reconhecer a realidade
externa ou de si mesmo (do paciente) em determinado momento, e a capacidade de responder a
estímulos. Para a sua avaliação deve-se observar a reação do paciente frente aos estímulos, se
rápida/lenta.

Estado de Orientação: Aqui, o observador deve observar se o paciente se encontra orientado, se ele
sabe informar seus dados pessoais, local onde se encontra, nome de familiares, data do dia, endereço
de moradia, etc e se tem condições de informar sobre sua enfermidade.

Atenção: Aqui, o observador deve verificar na capacidade do paciente de manter sua consciência para
um determinado foco. No caso, para o entrevistador. Ou seja, se o paciente consegue manter o diálogo,
responder a perguntas de modo adequado e manter sua concentração.

Sensopercepção: Aqui, o observador deve se ater na capacidade do paciente de perceber e interpretar


os estímulos que se apresentam aos órgãos dos cinco sentidos. Quando alterada pode manifestar-se
através de ilusões e alucinações.

Pensamento: Aqui, a ênfase está na capacidade do paciente de integrar as informações externas e


internas, analisar, abstrair, julgar, concluir, sintetizar e criar. O pensamento deve estar organizado e
bastante coerente. Caso tenha alguma alteração ela pode se verificar através de ideias
supervalorizadas, delírios, do ritmo da velocidade do pensamento, etc.

Juízo: Aqui, o observador analisa a capacidade do paciente de perceber e avaliar adequadamente a


realidade externa e separá-la da realidade interna (mundo subjetivo). O profissional analisa se o
paciente consegue discernir seus sentimentos, impulsos e fantasias como próprios ou não. Ou seja, se
o paciente tem capacidade de julgamento preservada, se possui a autoavaliação adequada da
realidade de si mesmo, das coisa, de suas dificuldades e de suas qualidades.

Linguagem: Aqui, a ênfase está no modo de se comunicar, verbalmente ou não, envolvendo gestos,
olhar, expressão facial ou escrita. A linguagem falada é o principal ponto de observação e o estudo da
fala envolve a quantidade, a velocidade e a qualidade. Quando o pensamento está desorganizado a
linguagem também é afetado como, por exemplo, quando a pessoa está delirando a velocidade do
pensamento pode aumentar (taquipsiquismo) e a linguagem ficará acelerada (verborragia).

Memória: Aqui, o observador deve verificar a capacidade do paciente de registrar, reter, evocar e
reconhecer objetos, pessoas e experiências passadas ou estímulos sensoriais. Deve-se fazer uma
avaliação global das memórias, sobretudo das memória de curto e longo prazo.

Inteligência: Aqui, o profissional deve verificar a condição do paciente de compreender e integrar novos
conhecimentos aos já adquiridos. Ter a condição de raciocinar logicamente e de forma abstrata
manipulando conceitos, números ou palavras, como resolver situações novas com certa rapidez.

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Comportamento: Aqui, a ênfase é dada as manifestações do comportamento. É sabido que o
funcionamento da psique influencia diretamente o comportamento. Sendo assim, devemos observar as
atividades motoras do paciente, se elas se encontram dentro da normalidade, retardadas ou aceleradas
ou, mesmo, se se encontram com sintomas de catatonia ou de agitação. Caso o paciente apresente
algum retardo motor é bom evitar o referido termo “retardo motor” no momento de descrever o quadro.
O ideal é descrever "o paciente permaneceu imóvel durante toda a sessão”, mas descrever os detalhes
como: rígido, fletido (curvado, caído) em posição anômala, agitado com tiques nervosos, etc.

Afetividade e humor: Aqui, a ênfase é dada na vida afetiva, no estado de humor, nas emoções e
sentimentos do paciente. É sabido que a afetividade influencia diretamente a vida mental, portanto,
quando a vida afetiva está afetada negativamente essa condição irá repercutir na vida mental e no
comportamento do indivíduo.

Mais especificamente:
O diagnóstico tem como objetivo identificar qual o adoecimento mental ou transtorno apresentado pelo
paciente. Serão a partir da descrição dos sintomas apresentados, da etiologia (biológica e ambiental) da
doença e das informações coletadas do paciente (história pessoal e familiar) e do exame mental que se constrói
o diagnóstico. A partir do diagnóstico é que será possível estabelecer a linha de tratamento, que via de regra
consiste da combinação de fármacos e psicoterapia.
Na psiquiatria podem ter 5 exames que auxiliem na avaliação do paciente, a saber:
 Testes psicológicos, neurológicos e neuropsicológicos (observar o desempenho cognitivo e suas
possíveis alterações decorrentes de desordens neurológicas ou transtornos);
 Exames de exames imagem,
 E exames físicos (parte motora) e laboratoriais.

Os espectros de muitos transtornos podem reunir sintomas semelhantes exigindo do profissional a


realização de um diagnóstico diferenciado. O diagnóstico diferenciado é uma forma de identificar com maior
precisão a doença. Para a realização de um diagnóstico diferenciado é preciso que o profissional restrinja ao

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máximo o seu diagnóstico a um grupo de sintomas e sinais pertencentes a esse ou aquele quadro clínico,
descartando outras possibilidades. E por último temos o prognóstico, que se trata de uma avaliação antecipada
do resultado do tratamento, baseando-se na avaliação da gravidade da doença, se o mesmo terá um
prognóstico favorável ou não. Trata-se de uma previsão do processo de tratamento.

Outras considerações sobre o diagnóstico

 Observar o processo evolutivo dos sintomas e possíveis fatos emocionais dolorosos ou


estressantes pouco antes de eclodir os sintomas.
 Buscar a totalidade dos dados referentes ao paciente (biológico, psicológico e sociais e
formular uma hipótese plausível sobre os possíveis fatores etiológicos envolvidos no caso.
 A depender dos padrões evolutivos da doença poderá ser necessário repensar no diagnóstico.
 Observar na formulação dinâmica do caso (conflitos conscientes e inconscientes implicados no
caso, mecanismos de defesa, ganho secundário e aos aspectos transferenciais).

Funções
cognitivas

O que é Cognição? Refere-se a todas as atividades


mentais associadas com o pensamento, o conhecimento, a memória, a comunicação, entre outras. É
através da Cognição que o ser humano processa as informações e transforma-as em conhecimento.
Quando falamos em Cognição estamos mencionando um conjunto de funções mentais que se
interagem a fim de processar uma informação e dá a respetiva resposta. O desenvolvimento cognitivo
conta tanto com os fatores ambientais (externos ao sujeito) quanto com os fatores biológicos (internos
do sujeito).
Quanto aos fatores ambientais, esses correspondem as estimulações que o indivíduo recebe
do ambiente. Já os fatores biológicos, são aqueles que constituem o sujeito desde cedo, que são o
Sistema Nervoso e a química presente nos neurotransmissores.

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Existem estímulos, denominados de “estimulação subliminar”, que estão abaixo do nosso limiar
absoluto de percepção, que são coletados à nível inconsciente. Neste caso, o processamento de
informações ocorre de forma automática, fora da tela do radar de nossa consciência.

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O Raciocínio é o encadeamento lógico ou a ligação correta que fazemos entre os conceitos ou
palavras, permitindo chegar a uma conclusão daquilo que estamos pensando e queremos dizer. O

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raciocínio é a forma do pensamento estabelecer as sequências das ideias e emprega-las corretamente
e no momento exato.

O pensamento (ou representação mental) possui as seguintes características:


Pouca nitidez (os contornos, geralmente, são borrados).
Pouca corporeidade (a representação não tem a vida de uma imagem real).
Instabilidade (a representação aparece e desaparece facilmente do campo da
consciência).
Introjeção (a representação é percebida no espaço interno).
Incompletude (a representação apresenta apenas alguns detalhes, sendo uma
imagem incompleta).

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Tipos de pensamentos e suas alterações.
Pensamento abstrato:
É caracterizado pelo seu alto grau de flexibilidade que permite uma série de operações psicológicas,
como um mergulho mais profundo em seu Eu, criar hipóteses, estratégias, realizar deduções, utilizar-
se e entender metáforas, etc.
Pensamento concreto:
É caracterizado pela percepção imediata dos objetos reais com ausência da capacidade de abstração.
Existe um déficit na capacidade de entender e empregar metáforas, o duplo sentido e o que está nas
entrelinhas do discurso. O concretismo está presente em indivíduos com deficiência mental,
principalmente os dementados e esquizofrênicos graves.
Pensamento polarizado:
É caracterizado pela sua forma absoluta não existindo meio termo ou é “tudo ou é nada”, ou é “preto
ou é branco”. Se a pessoa não for perfeita é um fracasso. Se o desempenho fica um pouco aquém do
ideal, você vê-se como um total fracassado.
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Pensamento mágico:
É caracterizado pelo seu aspecto infantil e fantasioso que foge a lógica formal. É um pensamento
primitivo considerado natural em algum período da infância, mas quando apresentado em adultos é
relacionado a algum transtorno, como nos quadros obsessivo-compulsivos, na esquizofrenia e no
borderline. James Frazer (1911) sugeriu algumas leis e particularidades em relação ao pensamento
mágico, dentre elas a lei da continuidade e a lei da similaridade.
Lei da continuidade.
Refere-se ao ato mágico de pensar que ao agir sobre um objeto que pertenceu a outra pessoa (roupa,
adorno, móvel) poderá estar agindo sobre a própria pessoa, por exemplo, ao queimar a camisa da
pessoa estará queimando a própria pessoa.
Lei da similaridade.
Aqui, existe a crença da semelhança, onde se eu queimar um boneco parecido com um inimigo estarei
queimando o próprio inimigo.
Bloqueio ou interceptação do pensamento:
É a interrupção brusca e repentinamente do pensamento, sem qualquer motivo. O doente relata que,
sem saber por que, “o pensamento parou ou foi bloqueado”. Esta alteração está presente na
esquizofrenia.
Verbigeração do pensamento:
É a repetição de palavras ou frases, que não participam do pensamento, de forma intempestiva e
automática, sem sentido e sem lógica. Esta alteração está presente na esquizofrenia e no autismo.
Roubo do pensamento:
É a sensação de que o pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente estranho. Esta
alteração também faz parte do quadro da esquizofrenia.
Fuga de ideias (Aceleração do pensamento ou taquipsiquismo).
As ideias se sucedem à outra rapidamente acontecendo uma variação incessante do tema e uma
grande dificuldade de se chegar a uma conclusão. Na fuga de ideias, o indivíduo se desvia com
facilidade da ideia principal para outras secundárias. A fuga de ideias está presente nos quadros de
mania.
Lentificação do pensamento (ou retardo/inibição).
É caracterizado pelo intervalo entre as perguntas formuladas e as respostas. Ou seja, o raciocínio como
as sensações mentais são lentas, acontecendo uma sensação de incapacidade para pensar. O
indivíduo fala espaçadamente e com tonalidade baixa. É comum nos estados depressivos graves e em
casos de baixo nível de consciência.
Pensamento automático:
São pensamentos disfuncionais que surgem quase sempre de forma espontânea, sem passar por
qualquer tipo de reflexão que leve a uma conclusão lógica ou porque a pessoa processou a informação
de forma errada. Nesse tipo de pensamento existe mais a percepção da emoção relacionada ao
pensamento do que o conteúdo do pensamento propriamente dito. Caso uma pessoa não consiga

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atingir seu objetivo como, por exemplo, aprender a dirigir ou conquistar uma vaga de emprego, a
frustração que ela é tomada conduz à formação de ideias falsas, como: “não teria como conseguir
mesmo”, “nem sei por que tentei”, entre outras. Desse modo, por situações diversas a pessoa interprete
erroneamente que foi culpada por algo ou incompetente por não ter conseguido atingir seu intento, ela
poderá incorporar tais emoções como verdade. Nesses casos a pessoa poderá se sentir culpada ou
mesmo se sabotar todas as vezes que surjam situações semelhantes com a experiência que ela se
sentiu incompetente.

Pensamentos intrusivos:
São pensamentos que surgem na nossa mente sem ter um motivo específico e que qualquer um de
nós estar sujeito a eles, porém pode variar muito de uma pessoa para outra. Apesar de poder ocorrer
com qualquer um de nós, muitos podem estar associados a um trauma, medo ou um acontecimento
do passado. Os pensamentos intrusivos provocam ansiedade e geralmente estão associados a coisas
ruins que podem acontecer ou desconfiança em relação a alguém, podendo se tornarem obsessivos.
Os pensamentos intrusivos estão muito presentes nos transtorno de ansiedade generalizada,
transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e fobia social.

Alguns tipos pensamentos intrusivos:

Pensamentos eróticos com pessoas próximas (Sexual);


Sensação de estar cometendo um pegado (Religioso);
Agredir uma pessoa que gosta ou desconhecida (Violento);
Jogar-se de um veículo em movimento ou nos trilhos do metrô ou pular de um prédio (Impulsividade);
Empurrar alguém de uma sacada (Impulsividade).

Pensamento desagregado:
Existe uma perda radical nos enlaces associativos onde se perde a coerência do pensamento. É
observado uma mistura aleatória de palavras, que nada comunica ao interlocutor. A linguagem mais
parece a uma “salada de palavras” sem nenhum sentido. Esta alteração ocorre nas formas mais graves
e avançadas de esquizofrenia.
Descarrilhamento do pensamento:
O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma desvios, pensamentos supérfluos,
retornando aqui e acolá ao seu curso original. Essa está mais em quadros mais avançados de
esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos maníacos.
Perseveração do pensamento:
É a repetição persistente (automática) e anormal de uma ideia ou tema. Existe uma aderência
persistente a uma determinado pensamento como uma espécie de ruminação mental, como se faltasse
a pessoa a formação de novas representações na consciência. Na perseveração a temática em pauta
se encontra limitada obedecendo um círculo que não tem fim, que se repete seguidamente. A
perseveração está presente nos estados maníacos. Por exemplo, minha mãe corria atrás de mim para
me dar uma surra e eu fugia para a casa da vizinha. Quando eu voltava minha mãe corria atrás para
me dar uma surre e eu fugia para a casa da vizinha.

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Delírio Primário X Delírio Secundário
Delírio primário é uma ideia patologicamente falsa que foge qualquer princípio da razoabilidade, e que
não deriva de nenhum transtorno afetivo. Acontece uma quebra radical da capacidade de discernir o
falso do verdadeiro e uma grave modificação da personalidade do sujeito e no seu modo de estar no
mundo. O delírio primário é chamado também de delírio verdadeiro e está quase sempre associado a
esquizofrenia.
Já o delírio secundário deriva dos transtornos de humor, alterações da sensopercepção e do
rebaixamento do nível de consciência. Para a maioria dos autores, “delírio primário” e “ideia delirante”
são sinônimos, assim como “delírio secundário” e “ideia deliroide”.

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Delírios congruentes são aqueles que fazem parte do espectro de um determinado
transtorno, como por exemplo, delírio de ruína está presente geralmente em quadro de
depressão psicótica.
Delírio incongruentes são aqueles que não fazem parte do espectro de um determinado
transtorno, como por exemplo, delírio de grandeza em um quadro de depressão.

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Assim, Freud reconhece o delírio como um trabalho onde o sujeito tenta reatar as relações com
a realidade e atenuar sua angústia. É o esforço que o sujeito faz para lidar com a desorganização que
a doença de fundo produz (DALGALARRONDO, 2008). Fazem parte dos mecanismos constitutivos dos
delírios:
a interpretação delirante;
a intuição delirante;
a imaginação delirante;
a afetividade;
alterações sensoperceptivas,
e a memória delirante.
Interpretação delirante
Em alguns delírios verifica-se que eles se formam através de uma distorção radical na interpretação
dos fatos e vivências. Por exemplo, uma pessoa com depressão ao ver uma vela se apagando julga
que sua própria existência está murchando, desaparecendo.

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Intuição delirante
O indivíduo, de repente, é tomado por uma intuição que o faz dar um novo sentido as coisas. A realidade
se mostra totalmente convincente com sua intuição, ou seja, confirma a sua intuição.
Imaginação delirante
A imaginação está presente na constituição da maior parte dos delírios, lado a lado com a interpretação
delirante.
Afetividade
Muitos delírios são organizados a partir do estado afetivo que se encontra o sujeito, por exemplo, o
estado afetivo eufórico e de exaltação observa-se, nesses casos, o delírio de grandeza. O delírio é
coerente ao estado de humor.
Alterações sensoperceptivas
Alguns delírios são constituídos a partir de experiências alucinatórias intensas, como alucinações
auditivas de conteúdo persecutório ou alucinações visuais muito vívidas.
Memória delirante
Existe uma mistura de recordações verdadeiras com falsas, recheadas de alucinação ou ilusões
mnêmicas na construção do delírio.
Possíveis causas e teorias etiológicas dos delírios.

Hipóteses causais e modelos psicanalíticos e psicodinâmicos.


A base do delírio contaria com um processo de transformação de impulsos e desejos
inaceitáveis (em especial, homossexual,) expressando-se como delírios persecutórios. Freud
descreveu três cadeias que se sucederiam:

1º. Eu (um homem) amo aquele homem (conteúdo básico inconsciente).


2º. Eu odeio aquele homem (inversão afetiva inconsciente de amor em ódio).
3º. Aquele homem me odeia (projeção dos impulsos inconscientes sobre objetos externos ao
Eu, gerando conteúdo consciente, agora aceitável).

Teoria da hostilidade.

Esta teoria postula que o delírio paranoide seria oriundo do ódio ou de uma hostilidade intensa
projetado inconscientemente nos outros. Desse modo, os sujeitos delirantes passariam a sentir que
estes os odeiam e querem destruí-los.
Teoria da humilhação.
Esta teoria é bem parecida com a teoria da hostilidade. A teoria da humilhação defende a ideia
de uma projeção de auto-acusação nos outros, principalmente quando o sujeito transfere a acusação
de inferioridade pessoal para fora de seu Eu (não é mais o paciente que se acusa de inferioridade, são
os outros que o acusam). Tal condição é vista como um componente importante do desenvolvimento
da ideação delirante.

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Hipótese causais de modelos cognitivos.
Esta teoria defende que o delírio é decorrente de uma anormalidade no processamento
cognitivo que afetaria a interpretação e a lógica dos eventos ou das coisas que são percebidas. Desta
feita, o indivíduo adota o delírio como a realidade, em vez de interpretações da realidade ou crenças.

Modelo da experiência anômala


Este modelo sugere que alguns indivíduos experimentam vivências estranhas, como
ilusões, alucinações sensoriais e/ou estados afetivos disfóricos intensos (desconforto e
angústia difusos), tenderiam a atribuir um significado delirante a tais vivências.
Modelo do viés atencional
Este modelo sugere que pessoas que apresentam delírios de perseguição têm a
tendência, já anterior ao delírio, de dirigir sua atenção seletiva para estímulos ameaçadores do
ambiente, costumando lembrar de forma constante de tais episódios. Assim, muitos desses
indivíduos poderiam interpretar os perigos decorrentes de forma delirante. Esse modelo é visto
como insuficiente para explicar os delírios.

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Modelo do viés atributivo
Este modelo postula que os delírios poderiam estar vinculados a processos distorcidos
de atribuição de causas, atos e intenções. Esse modelo surge da ideia de que todas as pessoas
normais faz atribuições causais (uma atribuição que inclui o termo “porque”) beneficiando a si
mesmas. Esse viés serviria para o aumento ou manutenção da autoestima.
Os delirantes tenderiam a exagerar as suas atribuições causas, imputando a si
mesmos o papel de “inocentes” e “vítimas”, e aos perseguidores, o papel dos que detêm todos
os defeitos e perversidade.
Modelo do viés de salto-para-conclusões
Este modelo postula a ideia de que pacientes com delírios tendem bem mais que
sujeitos normais a extrair firmes conclusões com muito menos evidências fatuais que os
indivíduos normais o fazem.
Modelo com base no déficit de teoria da mente
O modelo da teoria da mente investiga a habilidade que o indivíduo tem de inferir o
estado mental (crenças, pensamentos e intenções) de outras pessoas para, com isso, predizer
e explicar os comportamentos dessas pessoas. Como os delírios de perseguição refletem uma
crença falsa sobre a intenção e o comportamento do outro, o delírio poderia advir de um déficit
na capacidade referente ao que prega a teoria da mente.
Hipóteses causais e modelos neuropsicológicos
Pelo fato de ocorrer a remissão da atividade delirante com o uso de antipsicótico, essa
condição sugere que existem mecanismos neuronais implicados na gênese dos delírios. Assim,
como a capacidade de auto-observação, auto-avaliação e o teste de realidade estariam
comprometidos, esta teoria sugere que ocorreria uma disfunção neuropsicológica associada às
regiões pré-frontais no delírio.

Fazem parte de nossa vontade: o desejo, a necessidade e a inclinação.

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O desejo é um querer, um anseio, um apetite, de natureza consciente ou inconsciente, que visa
sempre algo, que busca sempre a satisfação. A necessidade é um estado interno de insatisfação
causado pela falta de algum bem necessário ao bem-estar. As necessidades podem ser primárias
(fome, sede, sono) como secundárias ou psicológica (como segurança, amor, realizações, etc.,). Já a
inclinação, é a tendência a desejar, buscar, gostar, etc., que se relaciona à personalidade do indivíduo.
A psicologia clássica e contemporânea chama esse constructo de motivação. Tratam-se de fatores que
energizam e moldam os nossos comportamentos.

Ato volitivo ou ato de vontade.

A volição diz respeito à atitude voluntária ou o controle da vontade e dos impulsos.

Para Nobre de Melo (1979), o ato volitivo (ou ato de vontade) é traduzido pelas expressões
típicas do “eu quero” ou “eu não quero”, que caracterizam a vontade humana.
O ato volitivo se dá, de forma geral, como um processo, denominado de processo volitivo. O
processo volitivo ocorre através de 4 etapas ou momentos fundamentais, a saber:
1. Fase de intenção ou propósito;
2. Fase de deliberação;
3. Fase de decisão propriamente dita;
4. Fase de execução.
1. Fase de intenção ou propósito;
Está relacionada as tendências básicas do indivíduo, suas inclinações e interesses. Influenciam o ato
volitivo, nesse momento, os impulsos, desejos e temores inconscientes, muitas vezes imperceptíveis
para a pessoa.
2. Fase de deliberação.
É a fase onde a pessoa pondera, analisa o que seria positivo, negativo, favorável ou
desfavorável, benéfico ou maléfico em sua decisão.

3. Fase de decisão propriamente dita.


Trata-se do começo da ação ou do processo volitivo.
4. Fase de execução.
Constitui a etapa final, na qual os atos psicomotores simples ou complexos decorrentes da
decisão são postos em funcionamento.

Alterações da vontade.
Hipobulia/abulia
Pacientes com hipobulia/abulia apresentam diminuição ou até abolição da atividade volitiva.

Atos impulsivos e atos compulsivos.


Os atos impulsivos são considerados impulsos patológicos que predominam ações
psicomotoras automáticas sem reflexão, ponderação ou decisão prévias. São impulsos instantâneos e
explosivos. O ato impulsivo apresenta as seguintes características:

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 É realizado sem fase prévia de intenção, deliberação ou decisão.
 É realizado, de modo geral, sem que o indivíduo perceba tal ato como inadequado, não
conseguindo evita-lo ou adiá-lo.
 É geralmente associado a impulsos patológicos, de natureza inconsciente, ou relacionado
à incapacidade de tolerância à frustração.
O ato compulsivo, ou compulsão, trata-se de uma força interna irresistível que impele a pessoa
a realizar determinado ato ou comportamento. A compulsão pode envolver atos compulsivos simples
como arranhar-se, até os mais complexos, como tomar banho muitas vezes, lavar as mãos repetidas
vezes, etc. Os atos compulsivos apresentam as seguintes características:

Há uma vivência frequente de desconforto subjetivo por parte da pessoa que realizada o
ato compulsivo. (Por exemplo, sensação de perda de controle, ansiedade).
A vivência é experimentada como indesejável, contrária aos valores morais e aos anseios
da pessoa.
Há uma tentativa de resistir (ou pelo menos adiar) a realização do ato compulsivo.
Há a sensação de alívio ao realizar o ato compulsivo, alívio que logo é substituído pelo
retorno do desconforto subjetivo e pela urgência em realizar o ato compulsivo outra vez.
Ocorre frequentemente associados a ideias obsessivas muito desagradáveis,
representando, muitas vezes, tentativas de neutralizar tais pensamentos. (Por exemplo, a
pessoa é tomada pela ideia de que é impura ou está contaminada, sente, então, a
necessidade de lavar-se compulsivamente.

As formas mais graves de automutilação em psiquiatria são auto-enucleação (extração do próprio olho)
e a auto-amputação do pênis, que ocorrem em pacientes psicóticos, geralmente em esquizofrênicos
em estado de alucinação-delirante e em indivíduos com psicose tóxicas, produzidas por alucinógenos.
Piromania. É o impulso de atear fogo a objetos, prédios, lugares, etc. Ocorre geralmente em indivíduos
com transtorno de conduta e psicopatia.
Frangofilia. É o impulso de destruir os objetos que estão ao redor do sujeito. Está associado a estados
de impulsividade e agressividade intensas. Está presente, geralmente, em indivíduos com transtornos
de personalidade (explosiva, borderline, sociopática, etc.) e em alguns deficientes mentais.
Dipsomania. É a compulsão periódica para ingerir uma grande quantidade de álcool. O indivíduo bebe
seguidamente até ficar inconsciente. Após um sono prolongado geralmente a crise é superada e a
pessoa volta à situação anterior, havendo geralmente amnésia retrógrada para o ocorrido.

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Na dipsomania não se observam características associadas ao alcoolismo crônico, podendo ocorrer
com indivíduos normais, em quadros depressivos graves e no início das esquizofrenias.

O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma a se adequar melhor o
contexto. Por exemplo, em um situação de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados para que
outros mais relevantes possam ser alvo de nossa atenção. (Ficamos em estado de alerta).

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Delirium é um termo usado para designar um estado agudo de confusão mental que implica
rebaixamento leve a moderado do nível de consciência, desorientação temporoespacial, perplexidade,
dificuldade para se concentrar, ansiedade em graus variáveis. Ainda inclui fala incongruente com

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conteúdos absurdos e sem articulação lógica, etc. O delirium está presente em pacientes com distúrbios
cerebrais agudos. Não confundir com o delírio (ideia delirante, alteração do juízo de realidade)
encontrado em pacientes psicóticos esquizofrênicos.
O quadro do delirium oscila muito ao longo do dia, podendo o paciente apresentar um sensório
claro pela manhã e no final da tarde e à noite seu nível de consciência “afunda”, ocasionando as
alucinações visuais, a desorientação e a confusão do pensamento e no discurso. Dentre os quadros
clínicos mais comuns, o delirium está presente:
 Epilepsia;
 Pneumonia;
 Ingestão de drogas ou abstinência,
 sedativos, etc.

Desorientação por redução do nível de consciência.


Também é chamada de confusa ou torporosa. O indivíduo apresenta um rebaixamento do nível de
consciência que produz alteração da atenção, da concentração, da capacidade de percepção e da

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retenção dos estímulos ambientais. Isso impede que o indivíduo apreenda a realidade de forma clara
e integre cronologicamente os fatos.
Desorientação por déficit de memória imediata e recente.
O indivíduo não consegue fixar ou reter as informações. A pessoa perde a noção do fluir do tempo, do
deslocamento do espaço, passando a ficar desorientado temporoespacialmente. Essa desorientação é
típica da síndrome de Korsakoff. A síndrome de Korsakoff está relacionada à carência de vitamina B1
(tiamina), frequentemente causada por consumo excessivo de álcool ou por má alimentação.
Desorientação delirante.
Ocorre em indivíduos que se encontram mergulhados em profundo estado delirante, vivenciando ideias
delirantes muito intensas, que possuem a convicção plena de seus delírios (verdade absoluta).
Desorientação por dissociação.
Acontece nos quadros histéricos graves, que são acompanhados de alterações da identidade pessoal
(fenômeno da possessão histérica ou desdobramento da personalidade).
Desorientação por desagregação.
Ocorre com pacientes esquizofrênicos em estado crônico e avançado da doença. O paciente apresenta
uma desagregação profunda do pensamento, não conseguindo mais organizar coerentemente suas
ideias. Essa condição o impede de se orientar de forma adequada quanto ao ambiente e a si próprio.
Desorientação apática ou abúlica.
O indivíduo apresenta uma apatia ou um desinteresse profundo. Geralmente ocorre em quadros de
depressão. O indivíduo não investe sua energia no mundo, não se atém aos estímulos ambientais e,
portanto, torna-se desorientado.

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Hipoprosexia é a perda da capacidade de concentração com fatigabilidade (cansaço)
aumentada, dificultando a percepção dos estímulos ambientais e compreensão.
Ocorre o comprometimento em todas as atividades psíquicas complexas, como o pensamento,
raciocínio, na integração das informações, etc.
As causas mais frequentes são o cansaço mental e dormir mal (sono não reparador), mas
também pode estar incluída em alguns transtornos, do tipo:
 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); Confusão mental (delirium);
 Depressão,
 Sedantes como álcool, soníferos e maconha, etc.
Hiperprosexia é o estado de atenção exagerada, acontecendo uma tendência irrefreável, uma
obstinação sobre certos objetos.
Hiperprosexia pode ser útil durante um trabalho, atividade ou durante um situação de ameaça
a vida.
A hiperprosexia se torna um sintoma psiquiátrico quando é frequente e causa prejuízos
importantes quando afeta o indivíduo, por exemplo, nos estudos, no trabalho (queda de produtividade
e demissão), nas relações interpessoais, etc.
A hiperprosexia geralmente é um sintoma associado a ansiedade, como:

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 No transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo, em um germofóbico que tem fobia de
ambiente sujo;
 Nas adicções: pode ser por causa de drogas, sexo, jogos de azar... se torna mais intensa
durante a fase de abstinência,
 e no transtorno de ansiedade generalizada, quando ocorre a preocupação constante de
que algo vai dar errado, etc.
Distraibilidade é a instabilidade ou mobilidade acentuada da atenção voluntária. É a
incapacidade para fixar-se ou deter-se em qualquer coisa que implique em um esforço produtivo. A
atenção é facilmente desviada de um objeto para outro. A distraibilidade está presente em quadros
como a mania e déficit de atenção e imperatividade. Já a aprosexia, é a total abolição da capacidade
de atenção, por mais fortes e variado que sejam os estímulos. A aprosexia ocorre em quadros de
demência, como o Alzheimer, oligofrenias profundas (retardo profundo no desenvolvimento mental do
indivíduo).

É a nossa memória que nos permite reconhecer os familiares, falar nossa língua, encontrar o
caminho de casa, da faculdade e trabalho, etc. É a nossa memória que nos permite vivenciar uma
experiência prazerosa e depois reproduzi-la mentalmente, renovando o prazer que foi sentido atrás.
Sem a memória não conseguiríamos realizar nossas atividades diárias como calçar um sapato, vestir
uma roupa, escovar os dentes, mastigar um alimento, etc.

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Codificação: a entrada da informação

Como codificamos?

Para reter uma informação nova é preciso prestar atenção, esforçar-se e se for o caso repetir reiteradas
vezes a informação, e se quisermos armazenar a informação é preciso consultar a informação ao longo
do tempo (efeito de espaçamento).

Tipos de Codificação

Processamento Automático

O cérebro pode processar muitas informações ao mesmo tempo sem que a nossa atenção consciente
esteja voltada para esse ou aquele estímulo.

O processamento automático pode ocorrer durante o dia da pessoa, sem que ela se dê conta seu
cérebro está registrando a sequência dos acontecimentos ou a frequência de quantas vezes alguma
coisa aconteceu, etc.

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A memória sensorial é um tipo de memória de pouquíssima duração que dura menos de meio minuto.
As memórias sensoriais mais estudas são a visual ou icônica, a auditiva ou ecoica e haptic, apesar de
qualquer um dos nossos sentidos produzir suas respectivas memórias sensoriais. Duas características
marcam esse tipo de memória: a curtíssima duração de tempo, e seu aspecto pré-categorial,
acontecendo antes do processamento cognitivo da informação. Alheio ao controle consciente. Memória
Sensorial Visual ou Icônica dura apenas um quarto de segundos (250 milissegundos), tendo a
capacidade de reter simultaneamente 4 ou 5 itens depois de fixar os olhos por um momento em um
conjunto variado de estímulos.
A memória sensorial auditiva ou Ecoica dura um pouco mais chegando no máximo a 20 segundos. Ela
permite discriminar sons de todos os tipos, inclusive relacionados a fala. Ela é fundamental para o
entendimento da linguagem.
A memória haptic está relacionada as informações sensoriais de dor, calor, coceira, formigamento,
pressão ou vibração. A memória haptic detecta estímulos provenientes da pele (sentido cutâneo) e dos
músculos, tendões e articulações (sentido proprioceptivo ou cinestésico).
A memória de curto prazo é aquela que pode guardar informações entre alguns poucos segundos a
poucas horas e de reter pequena quantidade de informação.
A memória de longo prazo (MLP) é aquela que retém as informações de forma definitiva, durante toda
a vida do indivíduo, permitindo sua recuperação ou evocação a qualquer momento. Nela estão contidos
todos os nossos dados autobiográficos e todo nosso conhecimento. Sua capacidade é praticamente
ilimitada.
Memória declarativa explícita: é o tipo de memória que nos permite depois de pensar expor a lembrança
em palavras. Pode ser uma história, um conhecimento, etc.
Memória episódica: é o tipo de memória de longo prazo que permite a lembrança de uma situação
específica. Por exemplo, contar como ocorreu a festa de aniversário do ano passado.
Memória semântica: está associada aos significados das palavras e dos conceitos. De todo o
conhecimento adquirido ao longo da vida.
Memória emocional: está relacionada a vivências carregadas de afetividade.
Memória implícita: é o tipo de memória de longo prazo que a retenção pode ter ocorrido
independentemente de nossa atenção consciente ou que precisou, incialmente, certo esforço
consciente para a aprendizagem, mas que agora não requer um resgate intencional da experiência
consciente. Esta memória é adquirida por meio de nossa percepção ou de nossa motricidade, não
precisando declarar verbalmente.

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Amnésia retroanterógrada: essa amnésia ocorre geralmente após um trauma cranioencefálico, ou seja,
após uma lesão física sofrida no tecido cerebral.
O trauma cranioencefálico pode ser temporária ou permanentemente e pode ser provocado por queda,
agressões, acidentes com veículos automotores, bicicleta, atropelamentos, etc.
Nessa modalidade de amnésia, o indivíduo fica com déficits de fixação para o que ocorreu dias,
semanas ou meses antes e depois do evento patógeno.
Amnésia psicogênica: há perda de elementos mnêmicos focais, que possuem valor psicológicos
específicos (simbólico e afetivo), por exemplo, o indivíduo esquece um acontecimento violento que
sofreu e que gerou um trauma.

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Alterações da linguagem

Afasia. Perda da linguagem falada e escrita por incapacidade de compreender e utilizar os símbolos
verbais. Em geral está relacionada a uma lesão neurológica. Existem 3 tipos de afasia, a saber:
 afasia de expressão (ou de Broca);
 afasia de Wernicke (ou de compreensão),
 E afasia global.

Na afasia de expressão o órgão fonador está preservado, mas o indivíduo não consegue falar ou fala
com dificuldade, de forma monótona, sem fluidez. São pronunciamentos curtos e com intervalos.
Na afasia de Wernicke (ou de compreensão) o indivíduo consegue falar, mas sua fala é muito
defeituosa. A pessoa não consegue compreender a linguagem (nem falada e nem escrita).
Na afasia global (a mais grave) o indivíduo está consegue nem falar e nem compreender a linguagem
(oral e escrita).

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Agrafia: perda, por lesão orgânica, da linguagem escrita, sem que haja qualquer déficit motor ou perda
cognitiva global.
Logorréia, taquifasia e loquacidade: Logorreia é linguagem verbal aumentada e acelerada (taquifasia),
pode perder a lógica (falar sem parar - quadros maníacos). Loquacidade é aumento da fluência verbal
sem perder a lógica.

As emoções primárias podem ser adaptativas ou desadaptativas. As emoções adaptativas são aquelas
que surgem rapidamente diante de uma excitação, desaparecendo assim que o estado que provocou
a excitação passe. Já as emoções desadaptativas são consideradas exageradas que extrapolam os
limites do bom senso e pode levar a pessoa a se arrepender de seu comportamento.

As emoções secundárias são aquelas influenciadas pelo convívio social (família, religião, cultura, etc.)
e que incluem o ciúmes, orgulho, vaidade, vergonha, culpa, nojo, entre outras.

Características das emoções:

 Período de tempo limitado com intensidade variada.


 Desencadeia manifestações corporais (aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão
arterial, sudorese, etc.) e psicológicas (tensão, ansiedade, impulsividade, etc.)
 Pode provocar alterações cognitivas (concentração, memória, raciocínio, etc.).
 Possui dois pólos: positivo (emoções agradáveis) e negativo (emoções desagradáveis).

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O estresse, atualmente, é o maior causador de doenças psicossomáticas. O estímulo
estressor quando contínuo provoca um aumento da tensão psíquica alterando a química cerebral
(dando vazão ao aumento dos neurotransmissores excitatórios), como a adrenalina e o cortisol. O
aumento da tensão psíquica pode se apresentar em forma de uma ansiedade extrema, irritabilidade,
instabilidade de humor, entre outras condições. Toda essa pressão exercida no aparelho psíquico ou
na psique caso não seja posta para fora será direcionada para o somático, para o corpo físico.
A excitação psíquica faz com que seja liberado uma maior dose de cortisol e de forma
contínua, afetando seriamente os órgãos internos do indivíduo. Para a psicanálise, ocorreria um
deslocamento do quantum de afeto ou do somatório da excitação psíquica para o corpo, podendo gerar
gastrites, úlceras gástrica, enfartos, etc.

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O estresse que é vivenciado por um maior período de tempo o cortisol continua sendo
secretado no sangue, podendo gerar uma série de adoecimentos no corpo (Doenças psicossomáticas).
Quando falamos de Doenças psicossomáticas chamamos a atenção para um conjunto de doenças
causadas pelo sofrimento emocional e que pode chegar ao ponto de lesionar algum órgão interno da
pessoa, afetando o seu funcionamento. O cortisol secretado prolongadamente no sangue pode
provocar, dentre outras coisas, hipertensão arterial, aumento de ataques cardíacos, diabetes, doenças
hepática, asma e pode aumentar em 40% o risco de morte por corona vírus.
Os órgãos internos só são atingidos pelos estados emocionais alterados porque o Sistema
Nervoso Autônomo é regulado pelo Sistema Límbico, área do cérebro envolvida no processo das
emoções e dos comportamentos sociais. É por isso que quando uma pessoa é tomada por uma forte
emoção os seus batimentos cardíacos e a respiração ficam acelerados. A pessoa também pode ter
diarreia, fadiga muscular, dor de cabeça, manchas pelo corpo, etc.

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O hipotálamo é descrito como um centro de recompensa que está associado ao prazer e a
satisfação. Segundo alguns cientistas os transtornos ligados a dependência química, como alcoolismo,
abuso de drogas e compulsão alimentar, poderiam derivar de alguma deficiência no hipotálamo.

Faz parte do encéfalo, o cérebro, que corresponde a porção mais desenvolvida do encéfalo, o
cerebelo e o tronco encefálico. O encéfalo controla:

 Percepção;
 Consciência;
 Pensamento;
 Linguagem;
 Memória;
 Emoções;
 os impulsos básicos.

Enfim, o encéfalo processa todas as informações mentais. Ele é envolvido por membranas
chamadas meninges, cuja função é proteger o encéfalo e a medula contra choques mecânicos.

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Os nervosos espinhais se originam da medula e são os responsáveis pela comunicação entre
a cabeça e o resto do corpo. Toda informação sensorial para se chegar ao cérebro passa pela medula
espinhal.

Os Nervosos Espinhais (ou aferentes ou sensoriais) têm o papel de


transmitir os impulsos nervosos do órgão receptor até ao SNC.

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Por exemplo, a atividade anormal do neurotransmissor serotonina é frequentemente descrita
como causadora de depressão, e as anormalidades do neurotransmissor dopamina têm sido
relacionadas à esquizofrenia. É importante salientar, no entanto, que distúrbios gerais em nosso
funcionamento são quase sempre associados a interações de vários neurotransmissores, e não apenas
a alterações na atividade de um sistema qualquer.

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