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Psicopatologia – Parte I

Psicopatologia (Divisão da palavra e significado da mesma)

Psyche – Mente
Pathos – Sofrimento, remete para os afetos e a intensidade
Logos - ciência da psicologia patológica, ou ciência que estuda o
comportamento doente e a mente que sofre ou que está em sofrimento

Abordagem dos 3 conceitos presentes em psicopatologia

Etiologia - causas
Patogenia - o que conduz às doenças
Patoplastia - o que leva à evolução das patologias mentais, ou seja, fatores
externos e prévios ao processo patológico base (antes do individuo adoecer
já existiam).
Estes 3 conceitos são da definição de Psicopatologia de Campbell (1986) :
“Ciência que trata da natureza essencial da doença mental, das suas causas,
das mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e das suas formas de
se manifestar”.

Doença mental

Existe uma dificuldade em definir o conceito de doença mental


a) por um lado vivências, estados mentais, comportamentos que têm uma
especificidade própria, não sendo apenas um “exagero do normal”
b) fenómenos que têm conexões/ ligações com psicologia do “normal”,
pode considerar-se que há alguma continuidade entre normal e patológico

Divisão de duas tradições em Psicopatologia


Tradição médica - A psicopatologia está inteiramente ligada à história da
medicina, uma visão biológica da psicopatologia
Tradição humanista (da filosofia, psicanálise, literatura e artes) – que
perceciona o sofrimento mental como uma possibilidade rica de
compreensão de dimensões humanas que na ausência da patologia
permaneceriam desconhecidas.
Psicopatologia Geral e “Psicopatologia Especial”
Psicopatologia Geral: Semiologia Psicopatológica – à descrição dos sinais e
sintomas produzidos pelas perturbações mentais (sinais e sintomas como
unidades fundamentais de estudo em psicopatologia)
“Psicopatologia Especial”: Nosologia – Estudo dos grandes quadros
psicopatológicos; Área que trata da classificação das doenças.

Duas formas de pensar em relação à Psicopatologia e a Psicologia


Patologia Psicológica – Visão descontinuista; entende a psicopatologia como
uma ciência independente
Psicologia Patológica – Visão continuista; entende como um ramo da
Psicologia que descreve comportamentos anormais

Os conceitos de normalidade e doença mental


Há extremos que são fáceis de identificar ou distinguir o normal do
patológico, mas nem sempre isso acontece (casos intermédios); A definição
de doença mental também surge de critérios subjetivos, quem sou eu para
dizer que alguém está doente ou tem x doença mental?
Porque é que existem estas dificuldades ? Porque as normas sociais variam
com a evolução histórica ao longo do tempo e dos contextos culturais e
essas normas influenciam a noção de doença mental; Porque a grande
maioria das doenças mentais não foi até hoje delimitada / isolada enquanto
entidade anátomo-clínica [e fisiopatológica] bem definida; Porque para a
maioria das perturbações mentais a etiologia não é bem definida e é
multifatorial; Porque a definição de normalidade e anormalidade tem
também a ver com critérios subjetivos, para além de critérios clínicos e
sociais.
Assim surgem vários critérios possíveis de normalidade que podem ser
considerados no campo de estudo da Psicopatologia:
1. Critério biomédico: Normal seria o indivíduo que não seria portador
de qualquer patologia definida. Este critério é bastante simplista
porque se define normalidade pela negativa. Normalidade seria
sinónimo de saúde, o que é, só por si, bastante discutível, e saúde
seria entendida como ausência de sintomas de doença. Mas a
verdade é, a pessoa pode não ter diagnóstico e, ainda assim, não ter
uma boa saúde mental.
2. Critério de normalidade como bem-estar: OMS definiu saúde como o
“completo bem-estar físico, mental e social e não apenas como
ausência de doença”. A saúde mental tem a ver com bem-estar ou
felicidade?
3. Critério de normalidade como processo: Têm-se em conta os aspetos
dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, as crises e as mudanças
típicas dos vários estádios de desenvolvimento > útil para

distinguir psicopatologia, porque há comportamento que podem

existir numa criança, mas não quando o indivíduo cresce (vida adulta);
pensar na normalidade como algo que não é estático.
4. Critério de normalidade como liberdade: ponto de vista do
existencialismo, doença mental é uma perda de liberdade existencial;
tem a ver com a capacidade de relativizar, por exemplo um trauma,
um trauma não tem possibilidade de se relativizar. O trauma instala-se
no interno presente e só o tempo o permite colocar novamente no
passado.
5. Critério psicológico (remete para a questão do desenvolvimento e da
saúde mental): normalidade liga-se a atributos psicológicos e
desenvolvimento pessoal > equilíbrio interno, capacidade de
autorrealização, autonomia e resistência ao stress e frustração,
capacidade de relacionamento;
6. Critério de normalidade estatística: Normal é aquilo que é a média, o
frequente. Mas nem tudo o que é frequente é saudável e nem tudo o
que não é frequente é patológico. A meditação não é frequente e, no
entanto, tem benefícios para a saúde mental.
Normal não significa são. Normal refere-se a norma, é o comportamento da
maioria das pessoas de um dado grupo, num dado meio sociocultural. Considera-se
o
que lhes é comum no que respeita a determinados aspetos do comportamento.
Anormal não significa doente. Considera-se um comportamento que se
desvia da norma de um determinado grupo. O termo anormal não é
propriamente considerado uma doença, e pode considerar-se compatível
com uma vida saudável.
No termo anormal, podem encontrar-se anomalias negativas, como:
comportamentos desviantes num sentido negativo, perturbador, em relação
à norma do grupo e que causariam algum sofrimento.
Pode até ser patológico querer ser sempre normal, comportar-se sempre de
acordo com as normas; pode ser normal, sadio, estar ou ficar doente em
algumas situações.

Conceitos de Patologia e Saúde Mental

Perturbação Mental como associada à disfuncionalidade? A mente não tem


uma função > Se o coração tem um problema, tem uma disfunção, mas a
mente não tem uma função.
Perturbação como algo que provoca distress e disability! Distress – mal-estar
e sofrimento psicológico; Disability – Incapacidade e inadaptação. Mas uma
pessoa quando deixa de ter distress ou disability não fica necessariamente
com saúde mental.
Um foco na abordagem de saúde mental no paciente predispõe : Menos
discriminação (e pobreza); Menos institucionalização; Menor medicalização.

De acordo com a OMS a Saúde mental é: Experimenta bem-estar; tem consciência


das suas capacidades; consegue enfrentar o stress do dia-a-dia; pode trabalhar
produtivamente; A contribuição para a sociedade só pode acontecer se o individuo
for reconhecido, se tiver o sentimento de pertença. Qual é a diferença para a
doença? É que é algo momentâneo e não contínuo.

Psicopatologia descritiva Vs. Psicopatologia dinâmica


A forma do sintoma (a sua estrutura básica) vs. Conteúdo do sintoma (o que
preenche a alteração estrutural) – Exemplo: Existe um homem que tem
sempre uma alucinação auditiva (quando estava à noite no quarto ouvia
sempre o som da água de um rio), o conteúdo do sintoma é o que constitui a
história do paciente, ou seja, alucinação enquanto forma do sintoma e
enquanto abrangente de vários pacientes, mas o conteúdo da mesma
enquanto compreensão. O que é classificável é a estrutura dos sintomas, o
conteúdo dos sintomas depende do mundo interno dos indivíduos.
Abordagem fenomenológica /descritiva versus abordagem compreensiva /
explicativa > Boa prática – combinação de ambas as abordagens.

Psicopatologia biológica vs. Psicopatologia sociocultural

Aspetos neuroquímicos e neurofisiológicos…


Fatores socioculturais, como a exclusão, o stress, desemprego, etc…
Exemplo: Num país pobre os partos ocorrem em situações mais precárias,
assim, os futuros bebés correm mais riscos, podendo criar traumas futuros.

Psicopatologia categorial vs. Psicopatologia dinâmica

Diferentes entidades nosológicas, individualizadas com fronteiras bem


definidas…
Diferentes dimensões ou espectros que permitiriam enquadrar qualquer
apresentação clínica…
Perspetiva intermédia / complementar – Ex: Schneider  as variações
anormais do modo de ser psíquico e as alterações psicopatológicas francas
Nós conseguimos categorizar as os diagnósticos mentais vs. Situar a
apresentação clínica em espectros (O HiTOP como modelo dimensional),
onde eu posso cotar onde o individuo se situa.

Classificação e diagnóstico em Psicopatologia

Existem essencialmente 3 unidades de classificação em psicopatologia.

Sinais - manifestações comportamentais objetivas verificáveis pela observação


direta do paciente.
Sintomas - vivências subjetivas relatadas pelo paciente, as suas queixas, aquilo que
ele experimenta e comunica.

Podem ser: Sintomas primários - Quando são característicos ou mais ou


menos específicos de um quadro clínico, ou seja, partem da própria ação exercida
pelo agente patogénico. Sintomas secundários – São reações do próprio doente à
doença, ou seja, são causas de ação indireta.

Embora representem definições diferentes, são ambos: Unidades de análise que


compõem as doenças, indicadores de sofrimento e uma unidade fundamental de
estudo em psicopatologia.

Semiologia ou Semiótica – A unidade de análise da semiologia são os signos. É a


ciência dos signos, ou seja, caracteriza-se pelo estudo dos sinais. Um signo é um
sinal.

Semiologia psicopatológica – Aborda os sinais e os sintomas que decorrem nas


doenças mentais.

Por exemplo: Sabemos que de acordo com a medicina o sinal de febre, ou


seja, para a semiologia médica pode significar a existência de uma infeção. Também
sabemos que na semiologia psicopatológica o sinal de discurso acelerado pode ser
um sinal de uma síndroma maníaca.

Síndroma - Conjunto de sinais e sintomas que aparecem mais ou menos de forma


constante e estável, não aparecendo de forma aleatória; A etiopatogenia é
desconhecida. Eu apenas estou a observar um conjunto de manifestações que
chamamos de sinais ou sintomas.

Entidade nosológica: Na entidade nosológica a etiopatogenia é conhecida.

Surto ou Crise: ataque ou acesso aparecem de forma abrupta e não demora muito,
por exemplo, um ataque de ansiedade > a ansiedade esgota-se.

Quando as crises ou surtos tendem a prolongar-se no tempo são chamados


de episódios.
As fases são manifestações clínicas de natureza reversível, por exemplo, as
alterações de humor na bipolaridade. As características sintomatológicas
podem ser opostas às de um surto anterior.
Diz-se defeito quando após uma série de surtos, acessos ou fases existe uma
alteração da personalidade prévia do doente. Diz-se que o doente teve um
surto que cessou com defeito, ou seja, deixou uma marca na personalidade.

Causas em Psicopatologia – A etiologia das perturbações mentais

Uma mesma causa pode originar efeitos diferentes em indivíduos diferentes


ou no mesmo indivíduo em momentos diferentes, de acordo com: a idade, as
suas características prévias e seu estado momentâneo.
Multifinalidade - uma mesma causa, trajetórias de vida distintas = situações
clínicas distintas.
Equifinalidade – causas diferentes e trajetórias de vida diferentes = mesma
situação clínica.
Importância da suscetibilidade individual e do meio ambiente.

1. Fatores predisponentes, precipitantes ou desencadeantes e fatores


perpetuantes
2. Fatores endógenos - Constitucionais ou endógenos propriamente ditos,
somáticos (Fatores de natureza médica, endócrinos) e orgânicos (Inerentes
ao sistema nervoso central, por exemplo, um traumatismo craniano)
3. Fatores exógenos - Externos ou exógenos propriamente ditos e Psicogéneos
(Um trauma é um fator exógeno).

Classificação

Porquê classificar? – Porque se fazem diagnósticos? Há vantagens em se


fazer diagnósticos. Os diagnósticos têm valor pragmático, científico e clínico.
As medidas terapêuticas a adotar só são conseguidas a partir do diagnóstico.
1. Informar a prática clínica (fundamento de uma atividade) : As medidas
terapêuticas a adotar só são conseguidas a partir do diagnóstico).
2. Comunicação entre profissionais: sem diagnóstico não há comunicação
nem entendimento entre profissionais; é necessário para a descrição
clínica dos pacientes.
3. Planeamento de serviços: os serviços de atendimento à comunidade
devem ter em conta a prevalência das doenças na sociedade.
Problemas - Não há classificações perfeitas; problemas conceptuais e
práticos do diagnóstico:
1. Há sintomas que os doentes têm que não se encaixam nos diagnósticos
e, portanto, sem diagnóstico não existem ajudas no tratamento.
2. Cuidados baseados nos problemas em vez de cuidados baseados nas
doenças > o foco deve ser nas queixas das pessoas e não na realização do
diagnóstico.
3. Abordagem centrada na pessoa / abordagem centrada nos sintomas > A
abordagem afinal deve ser na pessoa ou nos sintomas? NA PESSOA.

Neurose, psicose e perturbação da personalidade – Uma forma de classificação


clássica e importante em Psicopatologia.

Neurose vs. Psicose

Neurose:
1. Menos grave;
2. Sintomas homólogos, como por exemplo a ansiedade;
3. O individuo mantém o contacto com a realidade;
4. Existe continuidade histórico-biográfica.
Psicose:
1. Mais grave;
2. Sintomas heterólogos, como por exemplo o delírio, sendo
estruturalmente distinto;
3. Alteração profunda do sentido de vida psíquico;
4. Perda do contacto com a realidade;
5. Existem falhas no contacto com a realidade;
6. Rutura histórico biográfica – há uma transformação profunda na
pessoa e advém um processo patogénico;
7. Inimputabilidade - Um individuo que comete um crime e não está em
condições de ser julgado.

Perturbação da personalidade - É um padrão de personalidade inflexível, não


adaptativo e que causa sofrimento e (ou) dificuldades de funcionamento – Não são
apenas um padrão, são uma perturbação, por exemplo, a perturbação narcísica da
personalidade ou a perturbação Borderline.

Sistemas de classificação

Sistemas dimensionais: os casos são considerados em escalas contínuas.

Sistemas categoriais: são atribuídas uma ou mais etiquetas diagnósticas de forma


discreta, se o indivíduo preencher mais do que um determinado número de
atributos.

O DSM é uma classificação de tipo categorial que agrupa as perturbações mentais


em classes, baseadas em critérios > É o tipo de classificação que tem sido
privilegiado…

1. Sobreposição conceptual (apresenta características de mais do que uma


doença, sobrepondo-se, ou seja, temos duas perturbações que partilham
traços, sinais ou sintomas em comum, assim, é ao nível da perturbação) e co-
morbilidade (as pessoas podem apresentar mais do que um diagnóstico, é ao
nível do diagnostico);

2. Os indivíduos que apresentam a mesma perturbação não são “semelhantes”


em todos os aspetos importantes… (isto em sistemas de classificação
categoriais);

3. Por isso são propostos conjuntos de critérios politéticos… (o individuo não


tem de ter todas as características da perturbação para que lhe seja atribuído
o diagnóstico, só tem de ter 5 critérios para lhe ser atribuído o mesmo
diagnóstico);

4. Alguns autores têm sugerido que se passe a usar um sistema dimensional, ou


pelo menos que se coloque uma ênfase maior numa perspetiva dimensional
do diagnóstico… (mas o problema é que não há um consenso absoluto
sobre quais as dimensões psicopatológicas mais relevantes)

Críticas aos sistemas categoriais - DSM


1. Focalização no número de sintomas manifestos;
2. Arbitrariedade dos pontos de corte para atribuição de um dado
diagnóstico;
3. Melhoria dos sintomas como objetivo implícito para o tratamento;
4. Preocupação com questões de precisão em detrimento da validade;
5. Ausência de uma teoria compreensiva que sustente a proposta
classificatória;
6. Nenhuma importância atribuída ao significado dos sintomas (sendo
que deve ser o mais importante e o foco);
7. Existência de categorias residuais / sem outra especificação (não cabe
em nenhuma categoria, vai para a residual);
8. O “problema” da co-morbilidade  dificuldade do processo de
diagnóstico diferencial… (vai se chegando ao resultado pela exclusão
de diagnósticos).

Sistemas de diagnóstico mais utilizados atualmente – CID-11 (2018) e DSM-5 (2013)

NOTA: Em cada edição do DSM foi aumentado as categorias, parando no DSM-5 que
não teve alteração. A sua primeira edição foi em 1952 e, atualmente, tem uma
perspetiva dimensional.

Avaliação em Psicopatologia

O exame do Estado Mental: Passo importante na avaliação de pessoas com


perturbação mental (o exame é feito num dado momento, não é definitivo).
Baseia-se na observação do comportamento manifesto e verbal do paciente
e no questionamento sobre as suas experiências subjetivas. Quanto mais
perturbado o paciente mais aprofundado será o exame… (vamos observar o
paciente e questionar, há itens que podem ser observados diretamente).
Raízes numa conceptualização médica das perturbações mentais,
importância de uma familiarização com a terminologia do exame por parte
dos psis.
O exame do estado mental aparece dividido em duas partes : Aspetos
cognitivos e aspetos comportamentais.

Aspetos comportamentais (podem ser observados ao longo da entrevista).


Podendo ser:

1. Aparência geral e comportamento


a. Características físicas: Cor da pele – O paciente está amarelado ou
pálido?
b. Estado de alerta: Sonolência; o paciente olha o observador?
c. Roupa e higiene: O paciente tem a higiene cuidada? Usa roupa
adequada à situação e contexto, adequada à idade e adequada ao
clima? (por exemplo uma pessoa que tenta esconder os braços com
roupa mais coberta no verão, por exemplo devido a comportamentos
auto-lesivos);
d. Atividade motora: O paciente mostra-se agitado? os movimentos são
coordenados? está rígido ou mais relaxado? Tem tremores?
e. Expressão facial: O paciente mantém ou desvia o olhar? Tem tiques
nervosos? Apresenta ausência de expressão? > pode significar
embotamento afetivo.
f. Voz: Tom de voz, o timbre (voz mais estridente ou mais grossa), o
paciente gagueja?
g. Atitude face ao examinador: Existem vários contínuos possíveis para
descrever a relação do paciente com o clínico - a paciente presta
atenção ao examinador? está fixo a olhar ou nunca olha para o
examinador?
2. Humor e afeto
a. Tipo: Humor elevado elacivo (excessivamente eufórico), depressivo,
pueril (humor infantil)
b. Labilidade: Relaciona-se com as mudanças muitas das vezes não
adequadas do humor ou as suas alterações bruscas – continência
afetiva (a pessoa deixa de controlar os afetos e a sua reação aos
mesmos).
c. Apropriação: Por exemplo um paciente que diz que o pai morreu e ri-
se após falar da morte do pai, isto é um comportamento
incongruente.
d. Intensidade
3. Processo, curso ou forma do pensamento – Linguagem, nós não observamos
o pensamento, observamos a linguagem e a partir disso intuímos.
a. Ritmo do discurso
b. Velocidade do discurso
c. Riqueza do discurso
d. É espontâneo ou só resulta das questões?

Aspetos cognitivos - Em alguns casos não fará sentido avaliar alguns dos tópicos
mencionados; ou podem ser avaliados através de testes psicológicos  avaliação
psicológica formal; os “nossos” testes proporcionam uma validade que questões
simples colocadas em entrevista não terão; há um conjunto de situações em que se
pode abreviar a parte cognitiva do exame…

1. Conteúdo do pensamento (≠ Forma de pensamento)


a. Ideação suicida e pensamentos homicidas
b. Delírios
c. Ansiedade e fobias
d. Obsessões e compulsões
2. Perceção
a. Distorções percetivas e alucinações
3. Consciência e cognição (esta parte pode ser bastante avaliada na psicologia)
a. Atenção e concentração
b. Orientação
c. Linguagem
d. Memória
e. Informação cultural
f. Pensamento abstrato
4. Insight e juízo crítico
a. Insight: saber não é ter insight, ou seja, a pessoa pode saber que tem
x perturbação e não ter ainda assim noções e consciência do mesmo
b. Juízo crítico: se a pessoa tem algum grau de crítica sobre a sua
situação, sobre as suas dificuldades

Nós vamos colhendo durante a entrevista as informações sobre as pessoas, não


vamos perguntar a um paciente “Você tem obsessões?”.

Avaliação em Psicopatologia

Entrevista clínica – É um método clínico

Anamnese (procedimento de recolha da história clínica)


Observação / exame do estado mental (observo HOJE, é um corte no tempo)
Escrita da história clínica e proposta de um diagnóstico
Exames ou procedimentos complementares de diagnóstico…
1. Entrevista com uma terceira pessoa (um esquizofrénico se perde o
contacto da realidade pode não ser capaz de nos dar informação
fidedigna; situações com crianças)
2. Relatório da assistente social
3. Exame psicológico (caraterização global da personalidade que ajuda a
responder as dúvidas sobre o funcionamento do paciente e ajuda na
formulação do diagnóstico) e(ou) neuropsicológico (caraterização das
funções cognitivas que apresentam défice, contribui para diagnóstico de
quadros orgânicos (p.e., demências))
4. Entrevistas estruturadas de diagnóstico (usam-se mais na investigação
para fazer estudos empíricos)
5. Exames laboratoriais (semiotécnica armada, contribui para a deteção de
patologia neurológica ou sistemática que contribui para a ocorrência de
síndromas psiquiátricas)
6. Exames neurológicos - neurofisiologia e neuroimagem (semiotécnica
armada)

Método experimental – Em investigação


Os estudos epidemiológicos (um caso particular…)

Na clínica espera-se que o caso venha ter connosco para ser avaliado e
tratado, em epidemiologia é o oposto  vai procurar avaliar-se a
percentagem de casos existentes na população
Existem várias fontes de informação:
1. Questionários e entrevistas à população
2. Registos de consultas médicas e estatísticas hospitalares
3. Registos oficiais de casos
Taxa de prevalência: (pontual e cumulativa: por exemplo, ao longo da vida,
no último ano) é a frequência de casos, por exemplo, a taxa de prevalência
da esquizofrenia aponta para cerca de 1% de população
Taxa de incidência: (o número de novos casos, como é o caso de uma
epidemia)

Semiologia Psicopatológica

Alterações da consciência

Alterações quantitativas da consciência (não é comum os psicólogos verem isso,


mas pode acontecer algum paciente se distinguir dessa forma):

Diminuição da vigilidade:
1. Obnubilação (a pessoa não consegue reagir a certos estímulos (ex.:
alteração da luz))
2. Sonolência
3. Torpor
4. pré-coma
5. coma

Uma pessoa quando está a dormir apresenta uma alteração da consciência, mas isso
é normal e não patológico;

Delirium (quadro clínico temporário e reversível onde ocorrem


frequentemente alterações da consciência) versus Delírio (sintoma das
alterações do pensamento)
Delirium = Alteração da consciência e Delírio = Alteração do pensamento!

Delirium tremens (por exemplo um individuo viciado em álcool e que está em


abstinência)

Alterações qualitativas da consciência

Expansão da consciência - ocorre tipicamente na intoxicação por


canabinoides
Estreitamento da consciência - ocorre na epilepsia e pode levar a atos
automáticos (estados crepusculares, ser violenta sem se lembrar)
Dissociação da consciência - estado de transe onde as pessoas parecem
“possuídas”, há um aumento da motricidade
Outros estados alterados de consciência

Alterações da orientação - capacidade de nos situarmos corretamente

No tempo - a pessoa pode não saber onde está


No espaço
Relativa à situação
Relativa ao próprio - a pessoa não consegue se situar nos elementos consigo
mesmo

Alterações da atenção - As alterações da atenção são muito comuns nas síndromes


afetivas, por exemplo, a síndroma maníaca e depressão

Distratibilidade (perturbação na focalização da atenção) – o foco atencional


vai “saltitando”, é muito comum numa fase maníaca ou síndroma maníaca;
os dispositivos eletrónicos têm a capacidade de aumentar a distratibilidade
Perturbação da concentração (perturbação na manutenção do foco da
atenção) – manter a atenção continuada numa tarefa sem haver
interrupções
Atenção voluntária (- atenção voluntária = pessoa não se consegue manter
atenta) versus atenção espontânea (+ atenção espontânea = a pessoa tem
tendência a “saltitar” entre focos de atenção)

Alterações da memória
Alterações quantitativas da memória

Classificação das amnésias quanto à causa:


1. Amnésia psicogénica (associada às perturbações psicológicas, como
num trauma);
2. Amnésia orgânica (associada às perturbações neurocognitivas)

Classificação das amnésias quanto à natureza:


1. Amnésia anterógrada - perda de memórias associada a
acontecimentos que ocorrem depois da doença, nomeadamente
acontecimentos recentes, como num trauma cerebral);
2. Amnésia retrógrada - a pessoa perde os acontecimentos anteriores
ao trauma acontecido, ou seja, perde os fatos passados, só
conseguindo
3. Amnésia antero-retrógrada - a pessoa tem dificuldade em criar
memórias após o evento que causou a perda de memória)
Classificação das amnésias quanto à extensão:
1. Amnésia massiva – Há uma perda massiva dos conteúdos mnésicos
2. Amnésia lacunar – A amnésia incide sobre um período muito breve,
por exemplo, sob o evento de um ataque epilético
3. Amnésia episódica – A amnésia incide num determinado período
4. Amnésia seletiva – A pessoa perde a memória relativa a uma dada
categoria, por exemplo numa amnésia psicogénica em que ocorreu
um trauma e agora a pessoa não se consegue lembrar da família

Alterações qualitativas ou paramnésias

Ilusão mnésica - Há um elemento verdadeiro de memória (a pessoa esteve na


tropa 2 meses e em vez de dizer 2 meses, diz que esteve 2 anos) > há uma
distorção do núcleo verdadeiro de memória
Falsificação retrospetiva - Típico na depressão, em que as pessoas distorcem
a sua história e memórias por causas afetivas (ex.: a pessoa está deprimida
então recorda tudo o que já aconteceu de negativo)
Criptomnesia - Ocorre tipicamente nas demências, as lembranças aparecem
no individuo como factos novos e a pessoa fica surpreendida
Confabulação - Uma falsa memória, mas que serve de preenchimento de um
buraco amnésico porque a mente não admite um vazio, o individuo é incapaz
de dizer que não sabe, tem de preencher as falhas de memória. Síndrome de
Korsakov - caraterística dos dependentes do álcool (mas não só), onde há de
facto uma amnésia orgânica em que a pessoa cria as falsas memórias para
preencher as falhas de memórias que ela não consegue recordar.
Falsa memória - deformação do processo evocativo, a pessoa evoca
qualquer coisa que na verdade não ocorreu, embora a pessoa esteja
convencida disso.
Fabulação não delirante ou mitomania - Falsa memória onde a pessoa cria
histórias falsas, e ao fim de um tempo a pessoa começa a acreditar nas suas
próprias histórias, mas não há um delírio
Fabulação delirante / alucinação mnésica - Falsa memória e o individuo está a
evocar uma memória que não aconteceu, no âmbito do delírio

Alterações na forma do pensamento - não é o próprio conteúdo do pensamento,


mas sim a forma, ou seja, nós não observamos o pensamento, observamos a
linguagem e é a partir daí que vamos inferir o pensamento.

Lentificação do pensamento (Pensamento lentificado) – a latência entre a


pergunta e a resposta, por exemplo a pessoa pensa muito devagar e não
num ritmo normal, pode também mexer-se lentamente > ocorre tipicamente
na síndrome depressiva;

Bloqueio ou interceção do pensamento (pensamento bloqueado,


intercetado ou interrompido) – ocorre muito na esquizofrenia (não é a
mesma coisa que ter uma “branca” / falha de memória), o individuo para de
falar e depois volta de onde parou; o individuo não tem crítica ou consciência
sobre isto!

Aceleração do pensamento / taquifasia ou discurso acelerado – se for


observado é um sinal de aceleração do discurso; se for um sintoma relatado
pelo paciente é uma aceleração do pensamento porque não é observável; as
pessoas podem falar muito rápido e ainda assim não falar muito

Pobreza do pensamento (num grau extremo, perseveração ideativa) - a


pessoa fala sempre das mesmas coisas, sempre a falar do mesmo tema, têm
uma grande limitação nos conteúdos ideativos

Pensamento circunstanciado – a pessoa perde-se em pormenores, é um


pensamento prolixo, é muito difícil para estes indivíduos chegarem a uma
conclusão sobre o tema que estão a tratar, se não após muito esforço

Pensamento digressivo – a pessoa tem uma linha de raciocínio, mas vai-se


perdendo, embora depois retome essa linha

Fuga de ideias – a pessoa não mantém o fio condutor do pensamento, mas


nós conseguimos acompanhar o fluxo de ideias

Pensamento incoerente – não conseguimos acompanhar o fluxo de ideias

Pensamento desagregado – forma extrema de pensamento incoerente, em


que a própria estrutura frásica aparece alterada, observada em casos
extremos de doentes esquizofrénicos

Num contínuo de gravidade da perturbação formal do pensamento na


esquizofrenia:

1. Afrouxamento das associações (as pessoas começam a perder-se um


pouco nas ideias)

2. Descarrilamento do pensamento (nós temos dificuldades em


acompanhar já o pensamento)

3. Incoerência / desagregação do pensamento

Alterações do juízo de realidade – O delírio - Não é uma alteração formal do


pensamento, mas sim do conteúdo do pensamento. O delírio por si só mostra a
psicopatologia.
O delírio pode definir-se como um "erro no juízo do real, com origem na
doença mental” (são falsas crenças sendo que advém da forma como a
pessoa olha para o real)
Características do delírio - quando temos dúvidas provavelmente não é
delírio, são apenas falsas crenças, porque quando é delírio a pessoa percebe
que é; quando é delírio nunca há dúvidas
1. O sujeito tem uma convicção extrema na realidade do delírio , a
pessoa tem mesmo convicção das suas crenças (Ex.: o individuo
acredita ter cancro)
2. Resiste aos argumentos lógicos e à experiência objetiva (o médico
mostra ao individuo que ele não tem cancro, o individuo continua sem
acreditar mesmo tendo as provas)
3. É um juízo falso sobre a realidade
4. É “associal”, idiossincrático: “é uma experiência de um só humano”,
quer dizer que o delírio não é partilhável com os outros, ao contrário
das crenças religiosas, constitui-se como a linha central de vida do
individuo e é sempre uma experiência única.

Os delírios podem ser classificados relativamente a um conjunto de critérios…

Quanto à compreensibilidade:
1. Delírio primário - não são compreensíveis, marcam uma rutura histórico-
biográfica, são resultado de experiências primárias, vêm “do nada”
2. Delírio secundário - é compreensível, é a alteração afetiva que produz o
delírio

Experiências delirantes primárias:

a. Humor delirante: antecede o delírio, é muitas vezes verbalizado pelo


individuo muitas das vezes com frases como “sei que algo vai acontecer,
estou a sentir”, há uma alteração de humor que cria ansiedade, mas a
pessoa não sabe o que vai acontecer
b. Perceção delirante: a perceção é real, a interpretação é que é errónea ou
delirante, o que está alterado é o pensamento ou juízo do real, NÃO É A
PERCEÇÃO.
c. Intuição delirante: também denominada convicção ou ocorrência
delirante, a pessoa do nada diz algo delirante, mas não teve nenhum
comportamento antecedente, a pessoa tem uma espécie de “insight”.
Quanto aos fatores causais….
Quanto ao carácter formal; sistematizados ou incoerentes

As temáticas do delírio

Erotómano / erotomania – quando a pessoa tem a crença que outra pessoa


(uma pessoa de maior poder, classe social ou reputação) está
amorosamente interessada neles
De grandiosidade – “Deus enviou-me”, “Deus fala comigo”, “tenho de
passar a palavra de Deus, eu sou um mensageiro de Deus”
De ciúme – “Todos os homens olham para a minha mulher, ela anda-me a
trair com todas as pessoas”
Persecutório – “Os colegas do meu trabalho querem-me matar, as pessoas
querem-me matar, estão atrás de mim”
Somático – crença de que se tem uma doença ou condição médica, “Eu
tenho cancro”
Misto – quando se reporta a mais do que uma temática, não tem um só tema
1. Exemplo: “Eles estão atrás de mim porque querem os meus poderes,
sabem que tenho muito conhecimento então querem-me matar” = Delírio
persecutório + Delírio de grandiosidade.
Outras temáticas – Exemplo: Influência – “As vozes na minha cabeça dão-me
ordens. Elas dão-me ordens, dizem para me matar”.

Alterações da Vivência do Eu / Alterações do Eu

Desrealização – o individuo sente que algo na realidade mudou


Despersonalização – o individuo sente que perdeu a ligação consigo mesmo

Nota: Ambas podem ocorrer num ataque de pânico, e não é incomum.

Difusão do pensamento / leitura do pensamento / publicação do pensamento


- a pessoa sente que os outros podem conhecer os seus pensamentos,
porque como ela os ouve, pensa que todos ouvem
Eco e(ou) sonorização do pensamento - a pessoa ouve os seus pensamentos,
mas eles não têm som, portanto ela imagina que os ouve
Roubo do pensamento - a pessoa pensa x e pensa que outra pessoa lhe
roubou pensamentos
Imposição do pensamento - a pessoa pensa x pensa que isso é devido a
outra pessoa que impôs nela esses pensamentos
Outras experiências de influenciamento - é quando o indivíduo acha que não
tem controlo sobre si ou do seu comportamento (comum na esquizofrenia)
Alterações do esquema corporal / Eu corporal
1. Alteração que a pessoa tem de si (como na anorexia, em que a pessoa se
vê gorda quando ela está magríssima)

Alterações da Perceção / Sensoperceção

Alterações quantitativas
1. Hiperestesia: Acontece em estados maníacos e é o aumento exagerado
das perceções (sabores mais intensos e cores mais escuras)
2. Hipoestesia: Acontece em estados depressivos e é diminuição das
perceções (sabores menos intensos e cores menos escuras)
Alterações qualitativas
1. Ilusões – É a perceção deformada daquilo que é um estímulo real.

Exemplo: ilusões catatímicas ou ilusões de afeto (o estado afetivo distorce a


perceção, ex.: ao final do dia a criança vê uma sombra e imagina um monstro > a
fadiga severa pode causar também este tipo de ilusões)

2. Distorções percetivas - perceber os objetos como sendo maiores ou mais


pequenos do que são, ou como estando mais longe ou mais perto do que
estão
3. Ilusões + distorções = erros percetivos (classe que engloba ilusões e
distorções)
4. Alucinações - Não há nenhum estímulo externo. É a pessoa que tem uma
perceção tomada como real, mas de um estímulo que não existe. É uma
falsa perceção. Qualquer modalidade sensorial é suscetível de alucinações,
sendo que as visuais e as auditivas são as mais comuns.
a. Visuais - Estas alucinações não são apenas ocorrentes na
esquizofrenia. Também não são a mais comum na doença.
 Elementares (luzes, pequenos estímulos)
 De figuras
 Cénicas

Exemplo de alucinação visual: Zoopsia - A pessoa tem uma alucinação com a


perceção de figuras animais. É comum no Delirium.

b. Auditivas
 Elementares (ocorrem também em perturbações do sono >
há um estado alterado de consciência, e a pessoa está a
acordar ou adormecer e a pessoa pode ouvir barulhos
quando não há barulho algum, isto é frequente, incluindo
com crianças):

Alucinações hipnagógicas – Relacionado com as alucinações auditivas elementares,


é quando a pessoa está a adormecer

Alucinações hipnopômpicas - Relacionado com as alucinações auditivas


elementares, é quando a pessoa está a acordar

c. Acústico-verbais ou áudio-verbais – São a mais comum e caraterísticas


da esquizofrenia, mas pode haver pessoas que ouçam estas vozes,
mas não tenham esquizofrenia, nesse caso as vozes são mais como
“Mata-te” apenas e etc. Na esquizofrenia as vozes são mais
complexas e podem dirigir-se à pessoa ou podem falar entre si.
 Vozes de comando (Dão ordem e são perigosas, como
mandarem matar a própria pessoa ou mandarem matar
alguém. As vozes também podem ser agradáveis, mas não é
frequente).
d. Olfativas e gustativas
e. Corporais – A pessoa sente coisas no corpo
 Tácteis (sente-se espetada, tocada, sente pequenos animais
a percorrerem o corpo, como insetos ou repteis)
 Cenestésicas (sensações internas corporais, como a pessoa
sentir o sangue a ferver, sentir uma cobra no intestino, sentir
que não tem um órgão. São bastante incomuns)
 Vestibulares / cinestésicas / de movimento (sentir que há
coisas a moverem-se)
f. Alucinação combinada – A que combina mais do que uma modalidade
sensorial de alucinações
g. Pseudo-alucinação - Ocorre no interior da cabeça, ou seja, a pessoa
descreve a alucinação como estando dentro da cabeça. A pessoa diz
que ouve vozes e que é lá que elas estão. Tem em comum com as
alucinações a frescura sensorial, ou seja, a intensidade e nitidez do
fenómeno. Outro aspeto em comum é que o indivíduo não consegue
deixar de alucinar. O que a distingue das alucinações e a coloca perto
da representação mental é o facto de ocorrer no interior da pessoa e
de ser subjetivo à pessoa. Estas ocorrem em situações muito diversas,
e não apenas nas psicoses.
h. Alucinose - alucinações de origem orgânica, por danos no sistema
nervoso central. É periférica ao eu, ou seja, a pessoa tem crítica
acerca da sua alucinação.

Alterações da Afetividade

Alterações do humor

Humor eutímico – Humor normal

Humor distímico – Humor alterado


1. Humor depressivo - pode não ser a tristeza que melhor o define, mas sim o
abatimento, o “estou em baixo/sinto-me em baixo”, uma espécie de
inércia. A intensidade varia num espectro e a qualidade da tristeza também
pode variar.
a. Tristeza anímica - Está relacionada com acontecimentos externos e
perturbadores e é compreensiva, é quase como uma “tristeza
normal”
b. Tristeza vital – É como um aperto no peito e não se encontra uma
relação com acontecimentos externos e nem a pessoa consegue
explicar a tristeza, mas sente-a no corpo > Tristeza corporalizada.
 Angústia - É uma experiência psíquica que é vivida
relacionada com o corpo, e está interligada com a
perda
2. Humor eufórico / elevado
3. Humor elacivo / expansivo
a. No humor elacivo existe uma expansão do eu, uma sensação
subjetiva de grandeza e poder – humor expansivo.
b. Alteração da sociabilidade
 Sociabilidade exagerada (aumento dos contactos
sociais ou alteração da sua qualidade em relação ao
habitual, por vezes de forma desadequada)
 Diminuição da sociabilidade (isolamento social),
típica das depressões

Em ambos (humor eufórico e elacivo) existe um sentimento excessivo de bem-


estar, alegria, prazer, que geralmente se associa a um aumento da atividade e
iniciativa (energia vital), e são característicos da mania.

4. Ansiedade / humor ansioso


a. Manifestações psíquicas - é uma inquietação interna que a pessoa
sente
b. Manifestações somáticas – é uma inquietação que a pessoa
demonstra.
Ambas as manifestações podem ser vistas num ataque de pânico. A ansiedade tem
a ver com o futuro, ao contrário da depressão que tem a ver com o passado e é
sempre uma reação à perda, sabendo a pessoa o que perdeu ou não sabendo.

c. Fobia - está relacionado com a ansiedade, porque ela pode ser um


traço de que existe uma fobia (Imaginemos que tenho medo de cães
e vejo um cão, vou ficar logo com ansiedade).
d. Traço de ansiedade / reação ansiosa – Ser uma pessoa ansiosa. Reagir
com ansiedade às situações é ter a reação ansiosa. (Posso ter traço e
não reagir com ansiedade em algumas situações)
5. Humor disfórico / Irritabilidade - Quando a irritabilidade é muito marcada,
pode haver agressividade.
6. Humor pueril - O humor é infantil. A pessoa parece infantilizada, podendo
rir e chorar por quase nada.
Alterações das emoções e dos sentimentos
1. Anestesia afetiva ou apatia - Perda da capacidade de reagir
emocionalmente. Não devemos confundir com humor depressivo, porque
nesse a pessoa sente, e sente muito e sofre com isso. Esta apatia é um
sintoma, porque a pessoa o descreve e diz “não sou capaz de sentir”
2. Indiferença afetiva ou embotamento afetivo - Não é a pessoa que a
descreve, sendo que esta indiferença afetiva é um sinal, e deve ser
observado pelo observador. Expressa-se através do olhar e da mímica da
pessoa. Embotamento é a pessoa que não reage, quer nós digamos coisas
boas ou más ou uma coisa qualquer.
3. “La belle indifférence” (Dissociação afetiva) - Aparente indiferença face a
sintomas conversivos (sintomas que afetam a função motora), como a
pessoa ficar paraplégica, mas a causa disso ser funcional e não orgânica,
porque se fosse orgânico, a pessoa reagia com ansiedade, mas ela não o
faz, ela fica indiferente afetivamente.
4. Discordância afetiva ou paratimia - Discordância entre conteúdo afetivo e
ideativo, como falar da morte do pai, mas rir às gargalhadas.
5. Labilidade afetiva - Humor que muda de forma constante. A pessoa tanto
está a rir como a chorar e do nada tem medo e depois chora de novo.
6. Ambivalência - Só é patológico se for extremo, caso contrário toda a gente
vê de várias formas a mesma coisa. É uma coexistência de estados
emocionais contrários (positivos e negativos) em relação a pessoas, ideias,
comportamentos, objetos ou situações. Por exemplo, a pessoa sente amor
e ódio simultaneamente, em relação a outra pessoa.
7. Anedonia - Incapacidade de experienciar prazer e é típico das depressões,
a pessoa perde o prazer por atividades que antes lhe davam prazer (um
senhor que adorava os seus peixes e disse “já nem dos peixes cuido”).
8. Sentimentos de: pessimismo, culpabilidade, desvalorização,
grandiosidade, vazio, falta de esperança, etc… - Comum nas pessoas
todas. O que distingue uma pessoa normal de uma pessoa com um
problema é a intensidade, o grau em que isto me perturba e a duração
destas perturbações.

Alterações da vontade e das pulsões / Vida instintiva

Abulia / avolição - é uma alteração da vontade, é uma diminuição ou perda


completa da atividade volitiva (atos que começamos de forma voluntária)
Apetite / comportamento alimentar
1. Alterações quantitativas
a. Hiperfagia (aumento do apetite)
b. Anorexia (estamos a falar de um sintoma. Aqui é a diminuição ou
ausência de apetite)
2. Alterações qualitativas
a. Pica (vontade de comer coisas que não são comestíveis, muitas das
vezes são substâncias parecidas com a textura dos alimentos, como
serem coisas crocantes)

Exemplos: coprofagia (comer fezes) e necrofagia (comer cadáveres ou


partes de cadáveres).

Sede
1. Potomania (diferente da polidipsia, onde a pessoa bebe porque tem sede)
- ingestão de grandes quantidades de líquidos, mas isto não tem causa
orgânica, porque a pessoa não tem sede, apenas bebe
Sono
1. Insónia - A insónia é muito comum, podendo ser classificadas pela
intensidade e o momento em que ela ocorre dentro da fase do sono
a. Ligeira, moderada, grave > intensidade
b. Inicial (dificuldade em adormecer), intermédia (despertar a meio da
noite e ter dificuldade em voltar ao sono), matinal / terminal
(despertar de madrugada sem conseguir retomar o sono) > fase do
sono em que ocorre a insónia
2. Diminuição da necessidade de dormir - a pessoa não sente necessidade de
dormir, como acontece nos maníacos
3. Hipersonolência - A pessoa tem muito sono durante o dia se não dormir
muito mesmo durante a noite, ou seja, ou ela dorme mesmo muitas horas
ou passa o dia a adormecer
4. Parassónias – São pesadelos, terrores noturnos (frequente nas crianças),
sonambulismo e outros
Sexualidade
1. Disfunções sexuais
a. Perturbações do desejo
b. Perturbações da excitação
c. Perturbações do orgasmo
d. Perturbações de dor
2. Parafilias - alterações qualitativas da sexualidade, como a zoofilia e a
pedofilia

Alterações da energia (vital) / da atividade base / da atividade

Diminuição da energia – há também uma diminuição da psicomotricidade


1. Grau extremo: estupor – a pessoa não reage ao ambiente, não emite
qualquer verbalização, fica deitada sem nada que fazer, é um grau extremo
de lentificação psicomotora.
Aumento da energia - Quanto mais energia, mais atividade o individuo tem

Alterações da psicomotricidade / comportamento motor

Lentificação psicomotora / Hipocinésia / bradicinesia


1. Inibição psicomotora: Estupor – não há alteração da consciência
Hipercinésia
1. Inquietação motora: agitação psicomotora – varia de intensidade,
acontece em algumas epilepsias e/ou em algumas manias, onde é muito
difícil de conter a pessoa e ela pode apresentar, por vezes,
comportamentos agressivos
2. Furor – Extrema agitação, caracterizado pela violência de ânimo
Paracinésias
1. Movimentos espontâneos não adaptativos
a. Tremores
b. Tiques – movimentos súbitos, rápidos, mas não são rítmicos; nem sempre
o tique tem um valor psicopatológico, a pessoa não tem controlo sobre
eles e estes são mais evidentes quando o individuo está sob tensão,
podem ser, por exemplo, piscar os olhos, palavras que utiliza
excessivamente como “tipo”, “epa”, franzir as sobrancelhas
c. Estereotipias – movimentos repetidos, automáticos, de caráter rítmico
(ex.: autismo, síndrome catatónica), podem ser, por exemplo, morder a si
próprio e/ou colocar os dedos nos orifícios das orelhas
2. Movimentos anormais induzidos
a. Obediência automática – O individuo cumpre TODAS as obrigações e
observações do investigador, se o investigador disser “deita-te no chão e
rebola”, o individuo vai fazer.
b. Negativismo – Oposto à obediência automática, existe a forma passiva e
a forma ativa.
 Forma passiva: O individuo apenas se nega a fazer o que
lhe é proposto/pedido.
 Forma ativa: Se o observador lhe disser “põe o braço para
trás” ele possivelmente vai pôr o braço para a frente, ou
seja, ele recusa-se a fazer o que lhe é pedido e ainda faz o
contrário a isso.
c. Mutismo (relacionado com o negativismo) – A pessoa recusa-se a falar,
pode existir um mutismo seletivo.
d. Sitiofobia (relacionado com o negativismo) – A pessoa recusa o alimento
independentemente de ter fome, é a recusa ativa de se alimentar.
e. Fenómenos em eco:
 Ecolália (repetição em eco das últimas palavras ou frases
ditas pelo investigador/observador)
 Ecomimia (repetição da mimica, da expressão facial)
 Ecopraxia (repetição automática das últimas coisas que
observa no outro, repetição dos últimos movimentos)
3. Alterações da postura e do comportamento geral
a. Bizarrias motoras / comportamento desorganizado – comportamentos
inapropriados e estranhos (a pessoa masturba-se em público, a pessoa
começa a debitar palavrões do nada)
b. Conservação / fixação de atitudes - Catalepsia - manutenção de uma
determinada postura imposta ou voluntária, mantendo o doente na
mesma posição durante um longo período, assim, existe a preservação
da atitude corporal; há uma certa rigidez corporal
c. Flexibilidade cérea – É possível moldar o corpo do doente como se ele
fosse cera, há uma certa resistência
4. Outras alterações da psicomotricidade
a. Conversão – sintomas físicos que afetam a função motora ou sensorial e
não têm uma causa neurológica, são chamados sintomas
pseudoneurológicos ou sintomas sensoriais (ex.: paralisias, perda de
sensibilidade, alucinações, etc.)
b. Apragmatismo – não há origem orgânica, a pessoa é incapaz de realizar
tarefas do dia a dia como tomar banho ou vestir-se, atos da vida
quotidiana
c. Apraxia – quando há uma alteração no sistema nervoso central, perda da
capacidade de realizar movimentos ou gestos voluntários anteriormente
aprendidos, a pessoa não consegue recordar o padrão ou sequência de
realização quando a tarefa assim o exige

Alterações da Linguagem

Afasia – Fenómeno da neuropsicologia, dano do sistema nervoso central,


perda da capacidade linguística

Disartria – alteração neurológica, o individuo tem dificuldade em articular as


palavras

Discurso acelerado / aceleração do discurso / taquifasia

1. Pressão do discurso – paciente maníaco, normalmente também se


associa fuga de ideias, mas nem sempre; o paciente sente uma
pressão irreprimível para falar sem parar

Discurso lentificado / bradifasia

Mutismo – Mais frequente nas crianças, principalmente o mutismo seletivo,


isto devido a conflitos interpessoais, dificuldades no relacionamento familiar,
frustrações, medos ou hostilidade não elaborados

Perseveração verbal – repetição de frases que a pessoa tinha referido antes


e que volta a repetir de forma mecânica e automática sem que o individuo se
aperceba disso

Palilália (palavras) e logoclonia (silabas) – Repetição das últimas palavras ou


sílabas que o próprio individuo acabou de dizer, de forma inconsciente e
involuntária (frequente nas demências). Exemplo de logoclonia: A pessoa
diz “direito” e repete algumas vezes eito, eito, eito

Ecolália – repetição das palavras do investigador (fenómeno em eco)

Tiques verbais ou fonéticos

1. Coprolalia – Necessidade involuntária de repetir excessivamente


palavrões ou obscenidades frequentemente
Verbigeração – forma extrema de perseveração verbal, a pessoa repete
mecanicamente palavras, frases, sons sem sentido e, por vezes, sem
contexto, o que torna bastante difícil acompanhar o raciocínio e diálogo da
pessoa

Mussitação – o individuo fala consigo mesmo, está completamente alheado


da realidade, é um sinal muito comum na esquizofrenia

Para-respostas / respostas ao lado / tangencialidade – genericamente tem a


ver com o individuo responder ao lado do que lhe é perguntado, não
responde à pergunta que lhe foi feita, a pessoa entende a pergunta, mas por
qualquer motivo não consegue responder à pergunta, responde a outra
coisa, o individuo nunca se consegue concentrar no tópico inicial da conversa

Neologismo – a pessoa cria palavras e às vezes dá-lhes um próprio


significado pessoal

1. Paralogismos – a pessoa usa uma palavra conhecida, mas dá-lhe um


significado diferente

2. Esquizofasia – forma da alteração da linguagem profunda que ocorre


em alguns quadros extremos e crónicos de esquizofrenia, onde o
individuo diz palavras sem sentido e coerência, tornando o raciocínio
do paciente confuso, é muito preocupante e improvável de acontecer

Temores, obsessões e impulsos - Não é uma área de funcionamento psicológico!

Fobia – Medo irracional, intenso e desproporcional face a um objeto ou


situação ou objetos ou situações; quando a pessoa é confrontada com
esse(s) objeto(s) ou situação(ões), ou ela foge ou tem um ataque de pânico;
geralmente a pessoa evita esses estímulos (ex.: evitar lugares que possam
ter cães porque tenho medo de cães)
 Exemplos:
1. Claustrofobia – medo de ficar enclausurado em espaços fechados
2. Ansiedade social / fobia social
3. Acrofobia – medo de alturas
4. Nosofobia – medo de contrair uma doença
5. Fobofobia – medo doentio de ter fobias
6. Panfobia – medo de tudo
7. Nictofobia – medo da noite
8. Zoofobia – medo de animais
Obsessão – É algo que se passa na mente do individuo, é algo interno
(pensamentos, imagens, impulsos) e são fenómenos repetidos que num
dado momento são sentidos como intrusivos e a pessoa tenta ignorar ou
suprimir; a pessoa esforça-se porque reconhece o caráter invasor destes
fenómenos e tenta que eles desapareçam (ex.: impulsos para atacar, para se
fazer mal a si mesmo, de desejos sexuais) > Não há um ato impulsivo, a
pessoa resiste (é isto que distingue a obsessão da compulsão); isto muitas
vezes é causado pela ansiedade.
Comportamento (ato) compulsivo / compulsão – É um comportamento, é
um ato, mas pode ser um ato mental, a pessoa tenta neutralizar a obsessão
(ex.: uma pessoa que se atormenta com pensamentos blasfemos pode estar
sempre a rezar). As compulsões são atos de resposta pelas obsessões, mas
às vezes podem ser apenas atos que as pessoas fazem como uma espécie de
rituais e não têm sempre de ser respostas a obsessões (lavagens, contagens,
ordenações, rituais de “fecho de portas” onde a pessoa verifica várias vezes
se a porta está fechada porque a pessoa fica agarrada à dúvida e não
consegue largar).
 Rituais obsessivos - são atos compulsivos complexos

1. Acompanhados de uma vivência de desconforto subjetivo;


2. Serem egodistónicos (contra os seus valores, indesejáveis);
3. Existir uma tentativa de lhes resistir ou pelo menos de adiá-los;
4. Haver sensação de alívio ao realizar o ato > substituído por um
retorno do desconforto;
5. Associados a conteúdos obsessivos > representam tentativas de
neutralizar tais conteúdos mentais;
6. Visam diminuir a ansiedade ou evitar um "desastre" futuro.
Ato impulsivo / impulso

Importa distinguir ato compulsivo de ato impulsivo – o ato impulsivo às vezes não
vai contra os valores do individuo e não há sempre mal-estar associado, o individuo
também nem sempre pensa nas consequências dos seus atos.

 Exemplos de atos impulsivos:


1. Piromania – Tacar fogo

2. Cleptomania - o individuo não consegue parar de roubar coisas, às


vezes pequenas coisas, mas está sempre a roubar, normalmente são
mulheres e normalmente são objetos que a pessoa não necessita,
mas sente gratificação por isso (um prazer sexual, podia até mesmo
ser considerado uma parafilia)

Nota: O diagnóstico pressupõe sempre vários sinais e sintomas.

Psicopatologia – Parte II

As perturbações psicóticas

A esquizofrenia e outras perturbações psicóticas

Na psicose verifica-se uma perturbação do juízo da realidade (perspetiva


mais psiquiátrica), uma perda do contacto com a realidade, o psicótico vive
“noutra realidade”, numa realidade diferente da de todos

Vários sintomas: alucinações, delírios; embotamento afetivo, perturbação do


pensamento, comportamento desorganizado…
Subjetividade da perceção – a construção da nossa perceção do mundo é
sempre idiossincrática, é sempre pessoal; A representação da realidade é
sempre subjetiva. Mas apesar de tudo, há elementos comuns na perceção de
mundo: estes decorrem da relação do sujeito com os outros, que decorrem
do social e tornam possível partilhar conhecimento e o que sabemos sobre o
mundo
Na psicose há um afastamento dos outros – Esquizoidia - Elemento central
da psicose, é o desinvestimento / desinteresse / retirada da relação afetiva
A psicose é o desinvestimento/afastamento na relação com o outro (relação
objetal), é uma “profunda solidão” > Não há uma construção de uma
identidade, por isso é que pode assumir diversas formas. Não há uma
delimitação entre interior e exterior.
O termo esquizofrenia foi criado por Bleuler e veio substituir o termo
“demência precoce”, mas na verdade não havia demência, embora o doente
parecesse. Significa “mente dividida”. Verificou que existia uma
fragmentação da mente > os conteúdos mentais não se associavam, estavam
dissociados, o pensamento e os afetos não estavam interligados
Abordagem comunitária no tratamento – o doente sempre que possível
deve estar integrado na comunidade e precisa de acompanhamento médico,
dado que na maioria dos casos é necessária alguma medicação
Fatores associados a um melhor prognóstico – é uma doença que tende a ser
crónica, mas por exemplo, pessoas com histórico esquizofrénico na família,
têm pior prognóstico, o início agudo e súbito da doença é melhor
Implica geralmente um conjunto de alterações: Na perceção, no
pensamento, na linguagem e na comunicação, na vontade, nos impulsos e na
atenção
Indivíduo vivencia experiências de despersonalização e medos intensos de
ser invadido e da intrusão pelo outro (leitura do pensamento ou roubo do
pensamento)
Falhas na autoestima e na construção da identidade e a dependência
são marcadíssimas. Perseguem o psicótico porque ele "é muito importante",
mas a necessidade de se sentir assim tão importante ocorre porque, no

fundo, sente que "nada vale". E como "nada vale", tem de acreditar

absolutamente que é todo-poderoso, que tudo pode e tudo sabe. Psicose


associa-se a uma vivência de omnipotência e de omnisciência.
Angústia – No psicótico é máxima, é persecutória, desorganizadora, de
morte

Critérios da Esquizofrenia de acordo com o DSM-5


A - Presença de dois ou mais sintomas, por uma porção significativa de
tempo, durante um período de um mês, ou menos se tratados com sucesso.
Pelo menos um destes sintomas deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios
2. Alucinações
3. Discurso desorganizado (por exemplo descarrilamento ou incoerência)
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatónico
5. Sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo ou Avolição
 Se está num surto psicótico tem de ter obrigatoriamente
um dos três primeiros critérios. Tem a duração mínima de 1
mês
B - Desde o início da perturbação, e por um período significativo, o nível de
funcionamento em uma ou mais áreas como o trabalho, as relações
interpessoais e o autocuidado está marcadamente abaixo do nível atingido
antes do início da perturbação – se não há incapacidade não há doença; há
uma incapacidade gerada pela doença em todos os níveis de funcionamento
da vida do doente
C - Os sinais contínuos da perturbação persistem pelo menos durante 6
meses. Nesse período deve ocorrer pelo menos um mês de sintomas (ou
menos se tratados com êxito) que preencham o critério A (sintomas da fase
ativa), e podem estar presentes períodos de sintomas prodrómicos ou
residuais. – A duração mínima da doença é a fase ativa, a esquizofrenia é uma
doença crónica e dura pelo menos 6 meses. A fase ativa é uma fase da
doença, mas existem mais 2 fases. Assim:
1. Fase prodrómica – Normalmente está presente, mas não é necessária,
está antes da fase ativa. Encontramos sintomas negativos ou
encontramos sintomas positivos atenuados (formas frustes dos sintomas
do critério A, não encontramos delírios, mas encontramos pensamentos
estranhos, não encontramos discurso desorganizado, mas encontramos
expressões estranhas); Muitas vezes confunde-se esta fase com uma
depressão, a pessoa está abúlica, está fechada no quarto, não reage nem
responde.
2. Fase ativa – Surto psicótico (descrito no critério A)
3. Fase residual – Encontramos o mesmo que na fase prodrómica
4. Fase de manutenção – Não é bem uma fase, a pessoa normalmente está
medicada, está mais ou menos integrada na comunidade e faz atividades
D - Critério de exclusão relativamente à presença de Perturbação
Esquizoafetiva e de Perturbações Bipolar e Depressiva com Características
Psicóticas - chama a atenção para o diagnóstico diferencial, porque a
esquizofrenia partilha características com outras perturbações.
E - A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância
ou a uma condição médica
F - Caso exista história de uma Perturbação do Espectro do Autismo ou de
uma Perturbação da Comunicação, o diagnóstico de Esquizofrenia só é
realizado se estiverem presentes delírios ou alucinações proeminentes por,
pelo menos, um mês – se tem autismo não tem esquizofrenia, por exemplo.
Nota: Surto ≠ Doença – O surto tem a duração mínima de 1 mês; A doença tem a
duração mínima de 6 meses, isto porque 6 meses é o tempo para considerar uma
perturbação crónica, até lá o diagnóstico é temporário.
Sintomas positivos parecem refletir um excesso ou distorção das funções
psicológicas normais, por exemplo, o pensamento
• Os sintomas negativos parecem refletir uma diminuição ou perda das
funções normais, por exemplo, embotamento do afeto e a abolia
• Os sintomas positivos parecem relacionar-se com duas grandes dimensões
distintas a dimensão psicótica e a dimensão desorganizada:
• Delírios: podem ser de várias temáticas: são comuns, a persecutória, a de
grandiosidade e a de autorreferência ou delírio de controlo (o individuo
sente-se controlado por forças externas)
• Alucinações: as mais comuns são as auditivas… acústico-verbais – vozes que
se dirigem ao individuo na 2 pessoa ou que falam com o individuo na 3
pessoa (vozes comentadoras, críticas, geralmente são más, o doente às
vezes até pode fazer distinção de vozes boas e vozes más), existem vozes de
controlo e no extremo podem ordenar que o doente se mate (suicídio é
comum na esquizofrenia)
• Discurso desorganizado: descarrilamento em que a pessoa se perde, existe
dificuldade na comunicação com o outro, um discurso em que não se
percebe as ideias, na maioria dos casos o pensamento não é
necessariamente incoerente
• Comportamento desorganizado - ligeiros – a pessoa usa um casaco de
inverno num dia de 30 graus, a pessoa começar a gritar no meio da rua,
agredir alguém, masturbar-se em público
• Sintomas negativos:
• Embotamento afetivo – a pessoa não verbaliza as dificuldades em sentir, nós
percebemos no olhar, nos gestos e na mímica, a pessoa não reage a nada
nem às coisas que lhe são ditas
• Avolição – o doente esquizofrénico pode ficar a tarde inteira numa cama a
fumar um cigarro, a pessoa “não faz nada”, não tem iniciativa de nada
• Outros: anedonia, alogia e associabilidade
• A própria medicação pode dar origem a embotamento afetivo ou abulia, mas
isto é devido à medicação não devido à esquizofrenia
• Quando os sintomas negativos persistem e não se podem atribuir a causas
secundárias, por exemplo o uso de antipsicóticos (neurolépticos), costumam
designar-se por sintomas deficitários – decorrem mesmo devido à doença

Outras perturbações psicóticas


Perturbação Esquizofreniforme
É uma perturbação com semelhanças com a Esquizofrenia, diferindo,
fundamentalmente, na duração.
O critério relativo aos sintomas da fase ativa é idêntico. A perturbação tem a
duração mínima de 1 mês e máxima de 6 meses - O que quer dizer é que o
diagnóstico depende do momento em que é feito.
Especificadores
1. Sem Boas características de Prognóstico
2. Com Boas características de Prognóstico
3. Com catatonia

Perturbação esquizoafetiva
Num determinado período da perturbação existe um episódio maníaco,
depressivo, em simultâneo com os sintomas que preenchem o critério A da
esquizofrenia
Tem de haver um período mínimo de 2 semanas em que existem sintomas
psicóticos (delírios ou alucinações) na ausência de sintomas do humor
dominantes (momento em que não coexistem sintomas da esquizofrenia
com sintomas depressivos ou maníacos e é o que mostra que a doença é
psicótica e não maníaca)
Os sintomas de alteração do humor estão presentes durante a maior parte
da duração total da doença
Perturbação psicótica, mas em que há manifestações esquizoafetivas >
coexistem sintomas da esquizofrenia com sintomas depressivos ou maníacos
Especificadores:
1. Tipo bipolar
2. Tipo depressivo
3. Com catatonia
4. Especificadores de evolução

Perturbação delirante
Presença de ideias delirantes com duração NÃO inferior a um mês
O critério A da Esquizofrenia nunca foi preenchido
Se estão presentes alucinações não são proeminentes e estão relacionadas
com o tema delirante – secundárias e pouco relevantes, às vezes podem
existir alucinações ligeiras
O funcionamento do sujeito não está marcadamente alterado e o
comportamento não é obviamente estranho ou bizarro, para além do
impacto dos delírios ou das suas ramificações
Se ocorrerem episódios de alteração do humor, a sua duração foi breve em
relação à duração dos períodos delirantes
Paranoia – é uma perturbação delirante (construção de um delírio em torno
de indícios da realidade)

Especificar o tipo

1. Tipo erotomaníaco
2. Tipo grandeza
3. Tipo ciúme
4. Tipo persecutório
5. Tipo somático
6. Tipo misto
7. Tipo não especificado
8. Com conteúdo bizarro

Perturbação Psicótica Breve


Presença de um ou mais dos seguintes sintomas:
1. Ideias delirantes
2. Alucinações
3. Discurso desorganizado
4. Comportamento marcadamente desorganizado ou catatónico
A duração do episódio é pelo menos de um dia e de menos do que um mês ,
com eventual retorno completo ao nível de funcionamento pré-mórbido
Especificadores
1. Com Fatores de Stress Marcados (psicose reativa breve)
2. Sem fatores de Stress Marcados
3. Com início no pós-parto
4. Com catatonia

A pessoa muitas das vezes tem o surto, mas volta ao normal, fica igual ao que
estava inicialmente, como se nada tivesse acontecido.
Catatonia - a pessoa pode ter esquizofrenia com catatonia ou sem catatonia, não é
exclusivo das psicoses; é uma síndrome porque é um conjunto de sinais e sintomas.
O que está essencialmente alterado é a psicomotricidade.

3 ou mais dos seguintes sintomas:


1. Estupor
2. Catalepsia
3. Flexibilidade cérea
4. Mutismo
5. Negativismo
6. Postura inapropriada
7. Maneirismo
8. Estereotipia
9. Agitação psicomotora
10. Caretas
11. Ecolália
12. Ecopraxia

Anorexia Nervosa (DSM-5) – Critérios

Não existe falta de fome, existe sim a recusa em se alimentar.

A - Restrição na ingestão calórica que conduz a um significativo baixo peso


no contexto do género, idade, trajetória de desenvolvimento e saúde física.
Significativo baixo peso é definido como um peso que é menor do que o
mínimo normal, ou em crianças e adolescentes, menor do que o mínimo
esperado
B - Medo intenso em ganhar peso ou de engordar ou comportamento
persistente que interfere com o ganho de peso
C - Perturbação na perceção do peso ou forma corporal, indevida influência
do peso ou forma corporal na autoavaliação ou um persistente não
reconhecimento da gravidade do baixo peso
1. Algumas pessoas sentem-se globalmente gordas > há uma alteração da
imagem corporal
2. Outras preocupam-se com partes do corpo específicas
3. Apresentam grande variedade nas formas de avaliar o peso e a forma
corporal: medições repetidas, observação ao espelho, frequentes pesagens
4. Autoestima dependente do peso e forma corporal se a pessoa consegue
manter o peso baixo sente uma conquista, se a pessoa aumenta um pouco
sente um fracasso > A perda e o aumento de peso constante
5. Negação do baixo peso e das consequências (a pessoa está magra, sabe que
está magra e mesmo assim continua sem se alimentar)

No DSM-IV-TR era codificada a amenorreia enquanto sintoma

Especificar o tipo:
1. Tipo Restritivo - Não se alimenta, excesso de exercício físico e jejuns
regulares
2. Tipo Ingestão Compulsiva / Purgativo (em que há episódios bulímicos)

Nota: Se a pessoa tem uma anorexia nervosa, não tem uma bulimia nervosa, se a
pessoa tem características bulímicas então a pessoa tem uma anorexia bulímica, ou
seja, uma anorexia com sintomas da Bulimia.

Gravidade: ligeiro, moderado, severo, extremo

Bulimia Nervosa (DSM-5) – Critérios

A - Episódios recorrentes de ingestão compulsiva. Um episódio é


caracterizado pelas duas seguintes características:
1. Come, num período curto de tempo (por exemplo, num período de duas
horas), uma quantidade de alimentos que é claramente superior à que a
maioria das pessoas comeria num período de tempo semelhante e nas
mesmas circunstâncias
2. Uma sensação de perda de controlo sobre o ato de comer durante o
episódio
B - Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para
impedir o ganho ponderal, tais como vomitar, abusar de laxantes, diuréticos
ou outros medicamentos (comportamentos purgativos), jejum ou exercício
físico excessivo (comportamentos restritivos)
C - A ingestão compulsiva e os comportamentos compensatórios
inapropriados ocorrem ambos, em média, pelo menos 1 vez por semana em 3
meses consecutivos (a pessoa perde o controlo sobre o ato de comer)
D - A autoavaliação é indevidamente influenciada pelo peso e forma
corporais (é semelhante à anorexia)

E - A perturbação não ocorre exclusivamente durante os episódios de


Anorexia Nervosa

Gravidade: ligeiro, moderado, severo, extremo

Alguns elementos para uma compreensão psicodinâmica

1. Alteração da imagem corporal

2. Negação de uma parte da realidade

3. Necessidade de controlo – omnipotência face à morte

4. O alimento como “tapa-buracos”

5. Falha precoce – depressão anaclítica > Tendência depressiva

6. Relação perturbada com a alimentação – com aquilo que os alimentos


representam

7. Aceitar / rejeitar o alimento – simboliza um conflito interno: Quem é que


proporcionou os primeiros alimentos?! A mãe. Quando eu aceito ou rejeito
alimento eu estou a trazer a imagem da relação com a minha mãe > Conflito
com a figura materna

8. Idealização da figura materna > imagem da mãe idealizada e inacessível:


Conflito de identificação com a mãe
9. Problemática identitária

10. Tarefas desenvolvimentais comprometidas na adolescência

11. Recusa em crescer / em ser mulher

12. Corpo dessexualizado: Negação da sexualidade e da feminilidade (o corpo


anorético é um corpo assexuado)

13. Amenorreia

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