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Apontamentos de psicopatologia

A Depressão e as Perturbações depressivas

Epidemiologia da depressão

De acordo com a OMS, mais de 300 milhões de pessoas têm atualmente


depressão no mundo inteiro;
A depressão é classificada pela OMS como o maior contribuinte da
incapacidade para a atividade produtiva;
De acordo com o Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, cerca
18% dos adultos portugueses já teve uma depressão num dado momento da
sua vida;
Um terço dos portugueses com depressão não recebe qualquer forma de
tratamento;
Em 2019 foram vendidas em Portugal mais de 8 milhões de embalagens de
antidepressivos.

O que significa o termo “Depressão”?

Fenómeno multicausal e complexo, tem múltiplos significados (polissémicos,


devem ser lidos de acordo com a condição atual do individuo);

A depressão pode ser conceptualizada de acordo com diferentes


perspetivas/escolas de pensamento;

O termo depressão pode significar:

1. Humor / sintoma (humor depressivo)

2. Afeto / estado afetivo (presente em todos nós, em determinados


momentos e circunstâncias da vida)

3. Temperamento (temperamento depressivo)

4. Estilo de carácter (personalidade depressiva, composta por diferentes


traços que podem predispor os indivíduos a estados depressivos mais ou
menos graves)
5. Síndroma – conjunto de sintomas (conjunto de sintomas ou
manifestações somáticas)

6. Conjunto de perturbações psicopatológicas (descritas em manuais de


classificação)

Síndroma depressiva “típica”

Humor depressivo (tristeza, abatimento, vazio) – não é necessariamente


uma tristeza anímica que caracteriza este humor;
Anedonia (perda de interesse e gosto pelo que antes se tinha prazer em
fazer);
Pessimismo e desespero;
Sintomas somáticos (por exemplo, perda de peso, cansaço ou fadiga)
Insónia / hipersónia – sintoma psicopatológico muito específico
Diminuição da energia
Dificuldades cognitivas (de concentração, de raciocínio, etc.)
Dificuldade em tomar decisões
Sentimentos de desvalorização / fracasso / insucesso
Sentimentos de culpabilidade / de que se é merecedor de castigo
Irritabilidade
Isolamento e dificuldades relacionais
Sentimentos de perda
Suicidalidade (Ideação, desejo, plano e/ou tentativa de suicídio)

Algumas notas sobre a depressão

Existe a importância do sintoma, mas também a do seu significado > É muito


importante perceber como o individuo vivencia a sua própria depressão;
A depressão pode ser entendida como um contínuo / uma dimensão; num
espectro de gravidade – desde as formas ligeiras e passageiras no tempo até
às condições mais graves e duradouras;
No limite não é o diagnóstico descritivo (descrição dos sinais e sintomas) o
que mais importa para a intervenção terapêutica: Devemos ter em conta a
sua história prévia, os recursos que as pessoas usam perante esses sinais e
sintomas, as suas condições atuais > Só assim se pode entender a depressão
Por vezes as depressões não se expressam de uma forma “típica”: A
fenomenologia (a forma como o individuo experiencia a sua depressão) e a
patoplastia (a forma como o a doença se manifesta) da depressão variam em
função do género, idade, nível desenvolvimental e personalidade prévia.
a. Formas atípicas de depressão, depressões mascaradas (uma depressão
que se expressa exclusivamente por sintomas somáticos - Dificuldades
em mentalizar e elaborar o sofrimento, que se exprime através do corpo,
numa linguagem somática e às vezes simbólica – Ex.: dor de costas),
equivalentes depressivos > não são exatamente todos a mesma coisa,
mas todos expressam a ideia de que a depressão está lá, mas não se
expressa de forma típica
b. Perturbações de comportamento / agitação e hiperatividade – em
crianças e adolescentes - escondem muitas vezes sofrimento interno, que
não está contido e compreendido e é mal elaborado

Fenomenologia da depressão

“…inibição ou lentificação de uma ou várias funções psicofisiológicas, como


por exemplo a função alimentar..., por perda ou abaixamento da iniciativa e
da capacidade vital”;
Coimbra de matos - “baixa de pressão anímica”, pelo que o sintoma
patognomónico na depressão seria o abatimento;
Estagnação vazia e dolosa no tempo presente - não é por acaso que alguns
indivíduos relatam uma experiência psicopatológica de diferença no tempo,
a ideia muitas das vezes que o tempo parou. Existe uma fixação no passado
que se torna internamente o presente e que prende o individuo do futuro,
sem possibilidade dele perspetivar este;
O sintoma central na depressão é o abatimento / adinamia / diminuição da
energia (esfera vital) > Abulia (perda da motivação e vontade, baixa
vitalidade). NÃO É A TRISTEZA
A tristeza caracteriza o luto, não a depressão! A ideia de “sinto me em
baixo” é que caracteriza a depressão (Abulia!).

Sintomas frequentes na depressão

Alterações nos hábitos de sono


Alterações no apetite
Perda de energia
Perda de interesse pelo sexo
Indecisão
Inutilidade
Tristeza

Risco associado: A Suicidalidade

A OMS estima que mais de 700.000 pessoas se suicidem anualmente no


mundo inteiro;
Estima-se que as tentativas de suicídio possam atingir valores até 20 a 25
vezes superiores aos do suicídio consumado, ratio que varia bastante em
função de diversos fatores;
Em Portugal morrem cerca de 1000 pessoas por ano por suicídio;
O Alentejo litoral e o Alentejo são ainda as regiões do País com a maior taxa
de prevalência de suicídio;
Uma em cada seis mortes de pessoas entre os 10 e os 29 anos em Portugal é
por suicídio;
Na Europa há uma morte por suicídio a cada 40 segundos;
Quem já tentou 1x suicídio tem mais probabilidades de voltar a tentar
consumar o ato;
Depressão como importantíssimo fator de risco de suicídio.

Perturbações afetivas no DSM

Aspetos históricos - DSM-I e DSM-II;


A partir do DSM-III – uma secção para as perturbações do humor ou da
afetividade;
O DSM-IV – perturbações do humor;
No DSM-5 é proposta uma divisão da secção das perturbações do humor em
perturbações depressivas e perturbações bipolares: O que distingue é que
nas perturbações depressivas não ocorrem episódios maníacos ou
hipomaníacos;
Todas as perturbações afetivas no DSM e todas têm uma alteração de
humor: o humor distímico.

Perturbações depressivas – A característica comum a todas as perturbações: humor


depressivo (que se pode expressar como tristeza, abatimento, irritabilidade).

1. Perturbação de desregulação do humor disruptivo


Manifestações disruptivas explosivas graves e recorrentes, verbais ou
de comportamento contra pessoas ou contra a propriedade;
Desproporcionados em relação à idade (nível de desenvolvimento do
indivíduo);
As manifestações ocorrem pelo menos 3 vezes por semana
O humor predominante entre os episódios é disfórico ou irritável
A perturbação tem uma duração de pelo menos 1 ano
O diagnóstico só deve ser feito depois dos 6 anos e antes dos 18 anos
O inicio tem de ser na infância, embora possa ser diagnosticado na
adolescência
2. Perturbação depressiva major
Caracteriza-se por um período mínimo de 2 semanas, mas podem
durar até 4 meses;
Estiveram presentes pelo menos 5 de 9 sintomas, sendo pelo menos
um deles, necessariamente o humor depressivo ou a perda de prazer
ou de interesse (anedonia), representando uma alteração em relação
ao funcionamento prévio;
Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou
perturbação em áreas importantes como a social ou a ocupacional;
Pode-se fazer um diagnóstico com apenas 1 episódio.
a. Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os
dias (em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável)
verificável pelo relato subjetivo do paciente (diz que se sente
triste, vazio ou sem esperança) ou pela observação de outros (por
exemplo, chora)
b. Diminuição clara do interesse ou prazer (anedonia) quase todos os
dias
c. Perda de peso ou aumento de peso significativo, ou diminuição ou
amento do apetite
d. Insónia (não consegue dormir) ou hipersónia (dorme em excesso)
quase todos os dias
e. Agitação ou lentificação psicomotora observável pelos outros
f. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
g. Sentimentos de desvalorização ou de culpa excessiva ou
inapropriada quase todos os dias
h. Dificuldades cognitivas no pensamento, na concentração ou
indecisão quase todos os dias
i. Ideação, plano ou tentativa de suicídio – são frequentes na
depressão, mas são uma consequência da perturbação
depressiva, não propriamente um sintoma
O “problema do luto”: A resposta ao luto pode assemelhar-se a um
episódio depressivo major. Algumas pessoas que estão no processo de
luto podem estar verdadeiramente deprimidas, no entanto, num
ponto de vista académico o processo de luto é muito distinto da
depressão. No luto a pessoa consegue vivenciar alguns afetos
positivos, contrariamente a uma pessoa em depressão major. Os lutos
com depressão são os lutos patológicos;
Especificadores da depressão (características que podem ou não estar
presentes):
a. Mal-estar ansioso (podem ter sintomas de ansiedade) – Aplica-se
quando em conjunto com os sintomas depressivos surgem pelo
menos dois sintomas de ansiedade (nervosismo ou tensão,
dificuldades de concentração devido a preocupações, medo que
alguma desgraça possa ocorrer);
b. Características mistas (algumas depressões o individuo pode
apresentar sintomas menores de síndrome maníaca) – Aplica-se
quando em conjunto com os sintomas depressivos surgem pelo
menos 3 sintomas maníacos /hipomaníacos (Se os critérios para
episódio maníaco ou hipomaníaco forem preenchidos o
diagnóstico será de perturbação bipolar)
c. Características melancólicas – Surgem características como: perda
de prazer marcado; falta de reatividade aos estímulos
habitualmente agradáveis; qualidade distinta do humor
depressivo - "humor vazio" – (podemos incluir aqui a tristeza vital,
às vezes as pessoas dizem mesmo “sinto-me vazia”); depressão
regularmente pior de manhã; acordar cedo de manhã (pelo
menos duas horas antes do habitual); agitação ou lentificação
psicomotora marcada; anorexia ou perda de peso significativa;
culpa excessiva ou inapropriada (a principal característica da
melancolia).
d. Características atípicas – Surgem características como: reatividade
do humor (a pessoa fica momentaneamente muito alegre por
acontecimentos específicos); aumento significativo de peso ou
apetite; hipersónia (a pessoa dorme muito); imobilidade (isto é,
sensação de peso ou inércia nos braços ou nas pernas); padrão de
longa duração de sensibilidade à rejeição interpessoal (não
limitado aos episódios de alteração do humor) que provoca um
défice social ou profissional significativo; sentimento de rejeição
(normalmente a pessoa sente-se desvalorizada).
e. Características psicóticas congruentes com o humor
f. Características psicóticas incongruentes com o humor
g. Catatonia
h. Padrão sazonal (são episódios que ocorrem tipicamente numa
determinada estação do ano por vários anos seguidos)
i. Com início no peri-parto
3. Perturbação disfórica pré-menstrual
4. Perturbação depressiva persistente (Distímia)
Humor depressivo durante a maior parte do dia, mais de metade dos
dias, durante pelo menos 2 anos, que poderá ser irritável nas crianças
e adolescentes e apenas durante pelo menos 1 ano;
É uma perturbação crónica, em que na maior parte do tempo e do dia
a pessoa apresenta humor depressivo e 2 ou mais dos outros
sintomas. A pessoa nunca pode estar mais de 2 meses sem os
sintomas.
Os critérios de diagnóstico para uma Perturbação Depressiva Major
podem estar continuamente presentes durante dois anos, a pessoa
pode ter um período em que vai tendo uma depressão mais grave ou a
pessoa pode estar durante os 2 anos com uma depressão grave,
existem várias especificações.
a. Depressão dupla: A pessoa faz episódios depressivos mais graves
sobrepostos à Distímia.
A distimia antes do DSM-V não comtemplava esta existência de
episódios major sobrepostos.
A presença enquanto deprimido de 2 ou mais dos seguintes sintomas:
a. Apetite diminuído ou aumentado
b. Insónia ou hipersónia
c. Fadiga ou baixa de energia
d. Baixa autoestima
e. Dificuldades de concentração ou em tomar decisões
f. Sentimentos de desesperança
5. Perturbação depressiva induzida por substância / medicamento
6. Perturbação depressiva devida a outra condição médica (ex.:
hipotireoidismo, é uma alteração endócrina que muitas das vezes origina
depressão)
7. Categorias residuais
Críticas ao DSM no diagnóstico da depressão

Ênfase muito forte nos sintomas de tipo somático e cognitivo da depressão,


o que deixa menos espaço para a dimensão afetiva e para a dimensão
interpessoal:
1. Distímia – 3/6 são somáticos
a. Apetite diminuído ou aumentado
b. Insónia ou hipersónia
c. Fadiga ou baixa de energia
2. Depressão major – 4/9 são somáticos e 2/9 são cognitivos
a. Perda de peso ou aumento de peso significativo, ou diminuição ou
amento do apetite
b. Insónia ou hipersónia quase todos os dias
c. Agitação ou lentificação psicomotora observável pelos outros
d. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
e. Dificuldades no pensamento, na concentração ou indecisão quase
todos os dias
f. Ideação, plano ou tentativa de suicídio
Co-morbilidade elevada com as PPs (perturbações da personalidade) e
elevada sobreposição da depressão com a ansiedade
O problema da depressão crónica: as pessoas que têm sintomas crónicos de
depressão têm uma depressão crónica ou uma personalidade depressiva?
Genericamente, uma visão centrada nos sintomas é sempre redutora
A polimorfia (surge em formas diferentes) dificulta o diagnóstico
nosológico e a polissemia (pode assumir vários significados) dificulta o
diagnóstico etiopatogénico dos sintomas
Outros aspetos importantes para além dos sintomas quando se faz o
diagnóstico, nomeadamente aspetos importantes para um diagnóstico
psicodinâmico (por exemplo, as relações interpessoais ou a autoestima)
A lógica dimensional

O DSM dá demasiada importância ao número de sintomas e não há


gravidade de sintomas: às vezes posso ter muitos sintomas e eles não serem
muito incapacitantes e ter muito poucos e serem muito incapacitantes

Deve-se considerar, numa lógica dimensional:

1. Grau de intensidade dos sintomas

2. Grau de cronicidade dos sintomas

3. Grau em que perturbam o indivíduo (“invasibilidade” dos sintomas),


como são vividos pelo indivíduo e o significado / sentido que têm à luz
da sua história e vivência atual: eu posso ter muitos sintomas e
“continuar” a minha vida, ou seja, depende do modo que os sintomas
perturbam o individuo, a pessoa pode se sentir completamente em
baixo e até ter de ser medicada, porque lá está, perturbaram muito a
pessoa, a pessoa tolera muito mal os sintomas e a dor

O significado dos sintomas: significado que a pessoa atribui aos sintomas e


de que forma vivencia a sua depressão + significado que nós técnicos
atribuímos e para isso temos de conhecer a história do individuo muito bem,
mas acima de tudo a circunstância atual. O que é que se está a passar na vida
atual do individuo?

As perturbações bipolares

Existem 3 principais formas de perturbações bipolares.

Perturbação Bipolar I (Forma mais grave de perturbação bipolar)

É caraterizada pela presença de 1 ou mais episódios maníacos. Podem


ocorrer também episódios depressivos major e hipomaníacos.
Não é a bipolaridade que caracteriza a perturbação, mas sim o facto de
ocorrer pelo menos 1 episódio maníaco. Quanto aos episódios depressivos
major, estes podem ou não ocorrer.

Perturbação Bipolar II (Menos grave do que a I)

É caraterizada pela presença de pelo menos 1 episódio depressivos major e


pelo menos 1 episódio hipomaníaco.
Episódio hipomaníaco: Episódio maníaco com menos gravidade e que gera
menos consequências para a pessoa – é por isso que esta forma de
perturbação é menos grave.

Episódio Maníaco

O episódio maníaco implica um período distinto de humor anormal e


persistentemente elevado, expansivo ou irritável, e um aumento anormal e
persistente da atividade orientada para objetivos ou da energia, com
duração de pelo menos 1 semana (ou qualquer duração se for necessária
hospitalização), presente na maior parte do dia, quase todos os dias.

Durante o período de alteração do humor (elevado, expansivo ou irritável) e


da atividade ou energia, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o
humor for apenas irritável) estiveram presentes num grau significativo,
representando uma alteração notória no comportamento habitual:

1. Autoestima aumentada ou grandiosidade (podem ser delírios de


grandeza, ou haver apenas uma expansividade do eu, ou seja, ideias
megalómanas, mas que não são delírios)

2. Diminuição da necessidade de dormir (por exemplo, o indivíduo sente-


se descansado depois de somente três horas de sono, mas não se
considera como sendo insónia, segundo o DSM)

3. O indivíduo está mais falador do que o habitual ou verifica-se uma


pressão para continuar a falar (pressão do discurso, sendo difícil
interromper a pessoa, ou pelo menos a pessoa fala mais do que é
costume)
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de aceleração do pensamento (a
pessoa muda de tema, sem ter um fio condutor de conversa. Por vezes
a pessoa refere que o seu pensamento está acelerado)

5. Distratibilidade

6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (quer sociais, no emprego ou


na escola, quer sexuais) ou agitação psicomotora (Social: a pessoa tem
mais contactos do que era habitual, fala muito por chamada ou
mensagens; Emprego/escola: envolve-se em muitas atividades; Sexual:
Tem necessidade extrema de ter sexo)

7. Envolvimento excessivo em atividades com potencial elevado para


consequências desagradáveis (por exemplo, o indivíduo envolve-se em
gastos desenfreados, comportamentos sexuais indiscretos ou investe
em negócios insensatos). A pessoa pode envolver-se em
comportamentos que antes não se envolvia e que podem ter
consequências negativas para si (como compras em excesso)

A perturbação do humor é suficientemente intensa para:

1. Provocar uma deficiência marcada no funcionamento ocupacional ou


social

2. Necessitar de hospitalização para prevenir danos para o próprio ou


outros (as pessoas estão tão descompensadas que precisam de ser
mesmo internadas)

3. Ou existir características psicóticas

a. Para além dos sinais e sintomas, tem de haver 1 ou mais destas


três características para ser episódio maníaco.

Especificadores

1. Com ansiedade / mal-estar ansioso

2. Com características mistas


3. Com ciclos rápidos - elevada recorrência, ou seja, a pessoa tem muitos
episódios num curto espaço de tempo e quanto mais episódios, pior o
diagnóstico. 4 ou mais.

4. Com características melancólicas

5. Com características atípicas

6. Com características psicóticas congruentes com o humor (perturbação


afetiva com sintomas psicóticos)

7. Com características psicóticas não congruentes com o humor


(perturbação esquizoafetiva)

8. Com catatonia

9. Com padrão sazonal - a pessoa ter mais depressões major na altura do


outono

10. Com início no período peri-natal - durante toda a gravidez e um mês após
o nascimento do bebé

Episódio Hipomaníaco

Em tudo igual ao episódio maníaco, sendo que a única diferença é que


estamos a falar de um episódio de alteração de humor, em que essa
alteração é evidente.
Período distinto de humor persistentemente elevado, expansivo ou
irritável, acompanhado por um aumento persistente da atividade ou da
energia, com duração de, pelo menos, 4 dias consecutivos, presentes na
maior parte do dia, quase todos os dias.
Três (ou mais) sintomas hipomaníacos (quatro se o humor for apenas
irritável) estão presentes num grau significativo:
1. A lista de sete sintomas característicos do episódio hipomaníaco é
semelhante à do episódio maníaco.
Apesar do episódio ser "apenas" hipomaníaco, o humor é claramente
distinto do humor eutímico.
O episódio está associado a uma mudança inequívoca no funcionamento
que não é característico da pessoa quando não está sintomática (as outras
pessoas conseguem perceber que algo não está bem)

A alteração do humor e a mudança no funcionamento do indivíduo são


observáveis pelos outros (sendo um episódio, tem que haver algum tipo de
alteração, e neste caso existe alteração no funcionamento da pessoa nas
várias áreas da sua vida)

O episódio não é suficientemente grave para:


1. Provocar um défice marcado no funcionamento social ou ocupacional
2. Necessitar de hospitalização
3. Estarem presentes características psicóticas
a. Quando algumas destas três características está presente,
nunca podemos dizer que o episódio é hipomaníaco, mas sim
maníaco. Se houver delírios ou alucinações, também é maníaco
e não hipomaníaco.

Perturbação Ciclotímica

Perturbação crónica
Durante pelo menos 2 anos (pelo menos 1 ano em crianças e adolescentes)
ocorreram inúmeros períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos que
não são suficientes para preencher os critérios de diagnóstico para episódio
hipomaníaco e depressivo major, respetivamente.
Os sintomas estiveram presentes pelo menos metade do tempo e o
indivíduo não esteve sem os sintomas mais do que 2 meses (podem sempre
haver momentos em que os sintomas não estão muito evidentes ou nem
estão presentes, mas esse tempo nunca pode ser superior a 2 meses)
Não ocorreu nenhum episódio de alteração do humor
Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou incapacidade
(tem de haver sempre algum mal-estar, senão não seria uma perturbação,
mas sim um temperamento).

Algumas notas sobre a perturbação bipolar (um pouco menos importante)


Epidemiologia - A prevalência da perturbação bipolar I ronda os 0.6 a 0.9%

Espectro bipolar - Pode considerar-se um espectro bipolar onde se localizam


diferentes formas de doença bipolar.

Etiopatogenia - Os estudos não são conclusivos, mas supõe-se que sejam


centenas de genes que levam à doença, mas pensa-se que partilha alguns
com a depressão e a esquizofrenia, sendo que também se fala dos genes
que estão ligados com os nossos ciclos circadianos.

Tratamento - o mais típico são os estabilizadores de humor, como os sais de


lítio. Usam-se alguns medicamentos que são usados também para a
epilepsia. Por vezes usam-se antipsicóticos. Além dos fármacos, também se
pode recorrer à psicoterapia.

A ciclicidade como elemento central da doença (é a ciclicidade que


caracteriza a doença, e não a bipolaridade em si).

Mania e depressão podem não estar verdadeiramente em polos opostos


(encontramos quadros clínicos, que são estados mistos, em que
características da depressão e da mania podem coexistir na pessoa, ao
mesmo tempo)

Prognóstico da doença - estados mistos têm pior prognóstico e associam-se


como tendo mais risco de suicídio.

A depressão é o episódio inaugural em cerca de 50% dos doentes (metade


das pessoas com a doença bipolar, o primeiro sintoma é a depressão)

A depressão bipolar apresenta características particulares e pode distinguir-


se da depressão unipolar (a depressão que conhecemos). A depressão da
doença bipolar tem mais probabilidade de existirem sintomas psicóticos e
somáticos e mais lentificação psicomotora do que a depressão unipolar). Na
unipolar, a pessoa anda deprimida, mas agitada, o que tem a ver com a
ansiedade que a pessoa sente.

Aspetos psicodinâmicos da perturbação bipolar (um pouco menos importante)


Psicose maníaco-depressiva e por Kraepelin, de loucura maníaco-depressiva,
passando depois a chamar-se psicose maníaco-depressiva.

É de uma forma de "loucura" que se trata.

Do ponto de vista psicodinâmico, a mania é o "oposto" da depressão, mas é


também uma defesa contra a própria depressão

É uma tentativa de negação do sofrimento psíquico depressivo ; porque a


mania implica sempre uma perda do contacto com a realidade e uma
negação (negar o sofrimento é sempre mais patológico do que negligenciá-
lo, por isso a mania é sempre mais grave que a depressão)

Existe uma ideia de controlo sobre o objeto, mas depois despreza a


necessidade que tem do objeto e nega alguma parte da realidade. A mania é
o oposto da depressão, é como que um escudo. Negam a sua própria
independência, acham-se melhores que o outro e têm a ideia “não sou eu
que preciso do outro, mas sim o outro que precisa de mim” e abandonam o
outro para mostrar que não precisam dele, mas na verdade, precisam dele
sim apesar do negarem.

As perturbações da ansiedade

Aspetos históricos

Antes do DSM-III, todas as perturbações da esfera neurótica estavam


incluídas numa só classe: a angústia era a característica central (ex.: neurose
histérica)
A partir do DSM-III inclusive, só nos casos em que a ansiedade é expressa é
que a categoria diagnóstica consta da secção das Perturbações da Ansiedade
Foi de alguma forma para evitar a associação do termo neurose com a escola
psicanalítica que este “cai” no DSM-III. Assim, os casos de neurose histérica,
neurose hipocondríaca e neurose depressiva, deixam de constar na secção
em que a central característica das perturbações é a ansiedade.
Passou a dizer-se a partir do DSM-III que se pretendia uma classificação
ateórica, com base empírica, mas é ingénuo considerar que o DSM é
ateórico…
No DSM-5 a classe das perturbações da ansiedade foi verdadeiramente
desmantelada, ficando bastante mais reduzida.
As categorias de Perturbação da Ansiedade no DSM-IV-IR (5 grandes tipos):

Relacionadas com o pânico - Quando de alguma forma a ansiedade está focalizada


no medo de ter ataques de pânico ou sintomas semelhantes ao pânico

1. A perturbação de pânico com agorafobia


2. A perturbação de pânico sem agorafobia
3. Agorafobia sem história de perturbação de pânico

Relacionada com fobia - Quando o medo, a ansiedade, está focalizada em objetos


ou situações.

4. Fobia específica
5. Fobia social (perturbação de ansiedade social)

Relacionada com as obsessões – Quando a ansiedade está associada a obsessões

6. Perturbação obsessivo-compulsiva

Relacionada a traumas - Quando o foco de ansiedade se relaciona com situações


traumáticas ocorridas no passado (Ex.: uma rapariga que foi violada num elevador e
agora tem “medo” de elevadores, ela não tem medo do elevador em si, ela tem
medo de ser violada no elevador).

7. Perturbação de pós-stress traumático


8. Perturbação aguda de stress

Relacionada ao controlo da ansiedade – As pessoas têm muita dificuldade em


controlar a sua ansiedade

9. Perturbação de ansiedade generalizada


Conjunto de perturbações que se mantêm no DSM-5
1. A Fobia Específica
2. A Perturbação de Ansiedade Social
3. A Perturbação de Pânico
4. A Agorafobia
5. A Perturbação de Ansiedade Generalizada.
a. Vão ser incorporadas duas perturbações: A perturbação da Ansiedade de
Separação e o Mutismo Seletivo. Ambas têm em comum a característica
principal da presença do medo ou ansiedade e consequentes alterações de
comportamento.
b. Dificuldade no diagnóstico diferencial – Ter em conta o tipo de situações
que são temidas ou evitadas, o foco da ansiedade e o conteúdo dos
pensamentos ou crenças associadas. Exemplo: A pessoa tem medo de cães.
A pessoa não tem medo de cães, a pessoa tem medo de ser MORDIDA por
um cão. A pessoa não tem medo de um estímulo em si, mas de uma
caraterística ligada àquele estímulo.
c. Principal característica nas perturbações de ansiedade: O evitamento. As
pessoas tentam ao máximo evitar aquele estímulo.

A Fobia específica

Medo ou ansiedade marcados relativamente a um objeto ou situação


específicos;

O objeto ou a situação fóbica quase sempre provocam medo ou ansiedade


intensos;

A situação ou objeto fóbico são ativamente evitados ou enfrentados com


medo ou ansiedade intensos;

O medo e a ansiedade são desproporcionados relativamente ao perigo real


colocado pelo objeto ou situação específicos e relativamente ao contexto
sociocultural do indivíduo;

A perturbação deve ter uma duração não inferior a 6 meses – há medos


passageiros, não podemos falar sempre de perturbações, isto é muito
comum nas crianças, nós sabemos que as crianças têm medos
desenvolvimentistas, esse medo é passageiro a menos que seja de forma
muito intensa e incapacitante;

O medo, a ansiedade ou o evitamento causam mal-estar clinicamente


significativo ou défice no funcionamento do sujeito – MAS, às vezes um
medo é um medo, mas não é uma fobia/perturbação da ansiedade;

Quando a pessoa tem um medo e é confrontada com a situação pode ter


ataques de pânico, mas isso não significa que a pessoa tem uma perturbação
da ansiedade, embora a pessoa sinta ansiedade que pode atingir o limite do
ataque de pânico. Ou seja, um ataque de pânico não é o restrito a uma
perturbação;

Às vezes o medo é antecipatório, por exemplo, a pessoa sabe que vai estar
em contacto com a situação, então este pensamento pode já causar grande
ansiedade;

As fobias mais comuns na sociedade são as fobias de tipo animal,


nomeadamente de insetos e de ratos.

Especificar (em função do estímulo fóbico):

1. Animal

2. Ambiente - natural

3. Sangue – Injeção - Ferimentos

4. Situacional – muito comuns na clínica (andar de carro, andar de avião,


estar em espaços fechados ou com muita gente)

5. Outro

A perturbação da ansiedade social

Medo ou ansiedade marcados de uma ou mais situações sociais nas quais o


sujeito está exposto ao escrutínio dos outros. São exemplos: interações
sociais, ser observado e situações de desempenho – a pessoa teme a
exposição ao olhar do outro, quando é observada, às vezes teme o seu
desempenho (ex.: uma prova oral); A ansiedade antecipatória é muito
comum aqui!

O indivíduo teme comportar-se ou mostrar sinais de ansiedade que possam


ser negativamente avaliados (teme sentir-te humilhado ou embaraçado, ser
rejeitado ou ofender os outros) – isto é o que a pessoa verdadeiramente
teme > O foco é o embaraço e a vergonha

As situações sociais provocam quase sempre medo ou ansiedade

As situações sociais são evitadas ou enfrentadas com grade medo ou


ansiedade

O medo ou ansiedade são desproporcionados relativamente ao perigo real


que a situação social pressupõe e relativamente ao contexto sociocultural

A perturbação deve ter uma duração não inferior a 6 meses

O medo, a ansiedade ou o evitamento causam mal-estar clinicamente


significativo ou défice no funcionamento do sujeito

A ansiedade funciona por feedback, por heteroavaliação

Existe um medicamento que não é um psicofármaco “Inderal”, é um


medicamento para a tensão arterial, mas que ajuda na ansiedade, porque as
pessoas não sentem os sintomas somáticos da ansiedade.

Especificador: Limitada à performance

Forte influência de aspetos culturais na sua expressão


Mais comum nas mulheres

Habitualmente tem início na adolescência – às vezes sucede-se a uma


história infantil de inibição e timidez, mas nem sempre

Inicio abrupto (por exemplo, a seguir a uma experiência stressante ou


humilhante) ou insidioso
A duração muitas vezes crónica, mas também pode remitir na idade adulta –
às vezes sem grande intervenção a perturbação tende a melhorar bastante

A perturbação de pânico (podem-se ter ataques de pânico em perturbações que


não são da ansiedade, por exemplo, a perturbação depressiva)

Presença de ataques de pânico inesperados e recorrentes – um ataque de


pânico não dura mais do que 10 minutos - a ansiedade é paroxística, isto
porque ela tem um pico que depois diminui em pouco tempo.

Pelo menos um dos ataques foi seguido por um mês (ou mais) de uma ou
ambas (têm de existir sempre 2 pelo menos), tem de existir sempre uma
destas consequências na perturbação:

1. Preocupação persistente acerca de ter novos ataques ou sobre as suas


consequências (por exemplo, perder o controlo, ter um ataque cardíaco
ou “enlouquecer", embora a pessoa não vá desmaiar ou morrer, ela acha
muito que sim). – Consequência a nível cognitivo.
2. Alteração significativa e desadaptativa no comportamento relacionada
com os ataques – Consequência a nível comportamental.
No inicio da doença a pessoa experiencia muita ansiedade porque nunca
sabe quando vai ter um ataque de pânico.
Os ataques que preenchem os critérios, mas apresentam menos de 4
sintomas são designados de ataques de sintomas limitados.
No DSM-5 distinguem-se ataques inesperados de ataques esperados. A sua
distinção depende:

1. Julgamento clínico

2. Impressão do próprio sujeito

3. Podem ocorrer ambos os tipos de ataques no mesmo sujeito

A perturbação distingue-se por existir ataques inesperados, o que não quer


dizer que depois não passem a ser esperados, mas no inicio ou numa dada
fase não são porque a pessoa ainda não consegue identificar os sinais
situacionais antes de ocorrerem
Os ataques de pânico podem ocorrer em diversas perturbações mentais:

1. Perturbação de Pânico

2. Outras perturbações da ansiedade

3. Outras perturbações mentais

Ataque de pânico - É um período delimitado de medo ou desconforto intensos que


se desenvolve abruptamente e atinge um pico em poucos minutos, durante o qual
se desenvolvem, pelo menos, 4 dos seguintes sintomas:

1. Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado


2. Sudorese – Produção intensa de suor
3. Estremecimentos ou tremores
4. Dificuldades em respirar
5. Sensação de asfixia
6. Desconforto ou dor no peito – muito comum e por isso pode-se confundir
com ataque cardíaco
7. Náuseas ou mal-estar abdominal
8. Sensação de tontura, desequilíbrio, de cabeça oca ou de desmaio
9. Sensação de frio ou calor
10. Parestesias
11. Desrealização ou despersonalização
12. Medo de perder o controlo ou de enlouquecer
13. Medo de morrer
a. A pessoa num ataque de pânico quer fugir, quer
desaparecer de si própria, mas nós não podemos
fugir de nós próprios. Muitas das vezes a pessoa
quer ir para casa porque sente que vai morrer.
A Agorafobia

Medo ou ansiedade marcados relativamente a 2 ou mais das seguintes


situações:

1. Usar transportes públicos


2. Estar em espaços abertos
3. Estar em espaços fechados
4. Estar numa fila ou no meio de uma multidão
5. Estar fora de casa sozinho

O indivíduo teme ou evita estas situações porque pensa que a fuga pode ser
difícil ou pode não ter ajuda disponível no caso de desenvolver sintomas de
tipo ataque de pânico (panic-like symptoms) ou outros sintomas
incapacitantes ou embaraçosos (por exemplo, medo da incontinência, medo
de cair no caso dos idosos)

As situações agorofóbicas provocam, quase sempre, medo ou ansiedade

As situações agorofóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de


alguém de confiança ou são enfrentadas com grande medo ou ansiedade

O medo ou ansiedade é desproporcionado relativamente ao perigo real


colocado pelas situações agorofóbicas e relativamente ao contexto
sociocultural

A perturbação deve ter uma duração não inferior a 6 meses

O medo, a ansiedade ou o evitamento causam mal-estar clinicamente


significativo ou défice no funcionamento do sujeito

Agorafobia é ter medo de ter ansiedade, enquanto a ansiedade é algo


específico.
Os sintomas associam-se semelhantemente às fobias, mas as diferenças são:
O tipo de medo; mas na agorafobia as pessoas enfrentam o medo com
alguém; Às vezes são pseudo-agorafobias.
A Perturbação da Ansiedade Generalizada

A caraterística essencial é a ansiedade e a preocupação (apreensão


expectante) exageradas que ocorrem em mais de metade dos dias pelo
menos durante 6 meses, acerca de um conjunto de acontecimentos ou
atividades.

O sujeito tem dificuldade em controlar a preocupação.

A ansiedade e a preocupação são acompanhadas, pelo menos, por três


sintomas adicionais (com pelo menos alguns dos sintomas presentes mais
de metade dos dias durante seis meses):

1. Agitação, nervosismo ou tensão interior


2. Fadiga fácil
3. Dificuldades de concentração ou mente vazia
4. Irritabilidade
5. Tensão muscular
6. Perturbações do sono (dificuldade em adormecer ou em permanecer a
dormir, ou sono agitado e insatisfatório)

No caso das crianças, apenas 1 sintoma adicional da lista de seis é necessário


para que se possa realizar o diagnóstico.

As preocupações mais comuns têm a ver com circunstâncias rotineiras da


vida.

As crianças tendem a preocupar-se muito com as suas competências e


desempenho

Podem também preocupar-se com acontecimentos catastróficos e ser


excessivamente conformistas e inseguras

As variações culturais na expressão da perturbação são muito evidentes

O que distingue esta perturbação da ansiedade "normal”?

1. As preocupações presentes nas pessoas são difíceis de controlar e


interferirem significativamente com o seu funcionamento
2. Tendem a ser mais globais e pronunciadas
3. Tendem a ocorrer mais frequentemente sem estar associadas a
acontecimentos precipitantes
4. Tendem a persistir durante mais tempo
5. Têm maior probabilidade de serem acompanhadas de sintomas
somáticos

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva e Outras Perturbações


Relacionadas

Categorias listadas no DSM-5

Perturbação Obsessivo-compulsiva – inicialmente estava nas perturbações


da ansiedade
Perturbação Dismórfica corporal
Perturbação de Acumulação – a pessoa acumula objetos inúteis e que
ocupam tempo e espaço da pessoa
Tricotilomania – comportamentos de arrancar cabelos ou pelos corporais
Perturbação de Escoriação – comportamentos de arrancar “pedacinhos de
pele”

Estas últimas 3 perturbações são comuns, o individuo mostra comportamentos


repetitivos e compulsivos e é por isso que do ponto de vista descritiva faz sentido
estarem aqui.

Os clínicos devem avaliar da eventual presença de outras destas categorias em


indivíduos que apresentem uma delas, e devem ter em conta a sua sobreposição. As
diferentes perturbações incluídas nesta classe têm em comum a existência de
comportamentos repetitivos.

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Critério A - obrigatória a presença de Obsessões e/ou Compulsões


1. Obsessões
a. São pensamentos, imagens (nomeadamente imagens pornográficas
ou de cariz sexual num individuo conservador) ou impulsos
recorrentes (acontece muitas vezes surgir impulsos para agredir,
embora não haja risco disso acontecer, mas o individuo tem muito
medo de ter esse comportamento, então ele tenta evitar situações
que possam desencadear o impulso agressivo ou outro) e
persistentes que são experimentados durante um período da
perturbação como intrusivos ou indesejáveis e que provocam na
maior parte dos indivíduos ansiedade ou mal-estar intensos (são
egodistónicos). A mente do individuo está invadida por conteúdos
agressivos ou sexuais

Exemplos de obsessões: pensamentos sobre contaminação (este individuo pode


lavar várias vezes as mãos para neutralizar esta duvida), dúvidas repetidas,
necessidade de fazer as coisas numa ordem determinada, impulso para agredir e
imagens sexuais

b. Implicam que o indivíduo tente ignorar ou suprimir tais


pensamentos, imagens ou impulsos, ou neutralizá-los com algum
pensamento ou ação, ou seja, executando uma compulsão (a
compulsão serve para neutralizar a obsessão).
2. Compulsões
a. São comportamentos repetitivos ou atos mentais (contar é um ato
mental, posso estar a rezar varias vezes e ninguém notar, mas que
são comportamentos também) que as pessoas se sentem
compelidas a executar em resposta a uma obsessão, ou de acordo
com regras que devem ser aplicadas de modo rígido (Nem todas as
compulsões são respostas a obsessões, há pessoas que não têm
rituais de natureza obsessiva, mas têm rituais compulsivos)

Exemplos de compulsões: lavagens, limpezas, contagens (ir na estrada e ir a contar


os candeeiros da rua), verificações (a pessoa fechou a porta, mas está sempre a
perguntar se o fez, de um modo obsessivo), ordenação de objetos (ordenar os
livros todos por ordem alfabética ou as compras): É A DÚVIDA QUE ALIMENTA A
COMPULSÃO

Estes comportamentos ou atos mentais têm como objetivo prevenir ou


reduzir a ansiedade ou mal-estar ou prevenir algum acontecimento ou
situação temidos; contudo, estes comportamentos ou atos mentais não
estão relacionadas de uma forma realista com aquilo que pretendem
neutralizar ou prevenir, ou são claramente excessivos. A compulsão também
serve para prevenir “danos futuros”, porque na mente da pessoa obsessiva
se a pessoa não fez x então vai haver consequências muito grandes e graves.
As obsessões ou compulsões consomem tempo (mais de uma hora por dia)
causam mal-estar clinicamente significativo ou interferem
significativamente com o funcionamento social, ocupacional ou noutra área
importante. Os antidepressivos são os que resultam melhor na POC, embora
deem imensos efeitos secundários.
1. Especificar o grau de insight do individuo:
 Com bom ou suficiente insight
 Com fraco insight – O indivíduo pensa que as suas crenças são
provavelmente verdadeiras
 Com insight ausente / crenças delirantes – O individuo está
completamente convicto na veracidade das suas crenças
 Com tiques – O individuo tem ou teve uma perturbação de tiques.
Às vezes as pessoas têm um insight outras vezes não, mas se a pessoa nunca
tiver um insight então não é uma obsessão é um delírio, normalmente isto
só acontece quando a POC se insere em natureza psicótica, porque muitas
vezes a POC é um arranjo da mente para o individuo não se desorganizar. O
insight pode ser racional, mas não afetivo, a pessoa compreende que não
vai haver nenhuma consequência, mas ela vai continuar aquele
comportamento. Muitas das vezes as pessoas têm rituais encobertos, ou
seja, mais ninguém sabe sobre aqueles comportamentos e muitas das vezes
quando se faz intervenção clínica já é tarde. O mais característico da POC é
que aparece relativamente cedo, nomeadamente, no adolescente. Nas
crianças ela não percebe o que tem, são egodistónicos.
Não é obrigatório estarem presentes ambas obsessões e compulsões nesta
perturbação, podem estar presentes apenas um deles.
O individuo sabe que estes conteúdos mentais são fruto da sua própria
mente e não são impostos pelo exterior e são experienciados pelo individuo
como intrusivos
O individuo não tem controlo sobre o aparecimento destes impulsos,
medos etc., impõem-se à consciência
Muitas das vezes os indivíduos sentem muita ansiedade

A Perturbação Dismórfica Corporal (Dismorfofobia)

Preocupação com 1 ou mais defeitos ou falhas percebidas excessivamente


na aparência física que não são observados ou parecem ligeiros aos outros
Em algum momento, durante o curso da perturbação, o indivíduo
apresentou comportamentos repetitivos (por exemplo, ver-se ao espelho)
ou atos mentais repetitivos (por exemplo, comparar a sua aparência com a
de outrem) em resposta às suas preocupações com a aparência
A preocupação causa mal-estar significativo ou perturbação no
funcionamento social, ocupacional ou noutra área importante
Não é mais bem explicada por uma preocupação com a gordura corporal ou
com o peso num indivíduo cujos sintomas cumprem critérios de diagnóstico
para uma Perturbação do Comportamento Alimentar.

Estes indivíduos são muitas das vezes os candidatos às cirurgias plásticas e às


vezes a pessoa nem sabe bem explicar ou especificar uma parte do corpo,
ela simplesmente se sente feia. A sua preocupação está centrada no corpo,
na comparação excessiva e repetitiva com os outros, uma distorção do
esquema e imagem corporal.

Especificar o grau de insight do individuo

Perturbações relacionadas com o Stress e o Trauma


Categorias listadas no DSM-5

Perturbação Reativa da Vinculação

Perturbação da Relação Social Desinibida

Estas duas primeiras são relacionadas com a vinculação, o individuo apresenta um


padrão de vinculação não seguro e por isso há acontecimentos de natureza
traumática que justificam estes comportamentos > São reações ao trauma

Perturbação de stress pós-traumático

Perturbação Aguda de Stress

Estas duas perturbações constavam nas perturbações da ansiedade

Perturbações do ajustamento – perturbação reativa, a pessoa reage a um


stressor com mal-estar, fim do stressor a perturbação remite

Perturbação de Stress Pós-Traumático (Reexperiência de um acontecimento


traumático acompanhada pelo evitamento dos estímulos associados ao trauma, por
sintomas de ativação e por alterações na cognição e no humor associadas com o
acontecimento traumático).

A pessoa foi exposta a uma morte real, ameaça de morte, ferimento grave
ou violência sexual de 1 ou mais das seguintes formas:
1. Experienciar diretamente o(s) acontecimento(s) traumático(s) - a
pessoa que esteve na guerra, a pessoa que foi agredida violentamente, a
pessoa que foi agredida sexualmente.
2. Testemunhar o(s) acontecimento(s) ocorrendo a outrem – a pessoa vai
na rua e vê um carro a atropelar outra pessoa que, consequentemente,
morre
3. Tomar conhecimento de que o(s) acontecimento(s) ocorreu(ram) a um
familiar ou amigo próximo. No caso de uma ameaça de morte ou morte
real de um familiar ou amigo, o acontecimento deve ter sido violento ou
acidental – uma pessoa que recebe um telefonema a dizer que o seu filho
acabou de se suicidar, é uma morte traumática > A resposta do individuo
à noticia pode ser pior se a noticia não for dada sensivelmente
4. Experienciar uma exposição repetida ou extrema a detalhes aversivos
do(s) acontecimento(s) traumático(s) – um acidente na estrada em que a
pessoa vê partes do corpo dos outros

Nota: Nas crianças mesmo que a criança não seja agredida sexualmente, qualquer
prática sexual é traumática

O acontecimento traumático é reexperienciado (não significa que a pessoa


tenha vários traumas ao longo da vida, significa que a pessoa vai revivendo o
trauma que teve) através de 1 ou mais dos seguintes sintomas de intrusão:

1. Lembranças perturbadoras intrusivas, involuntárias e recorrentes do(s)


acontecimento(s) traumático(s). Nota: em crianças, podem ocorrer
brincadeiras repetidas em que temas ou aspetos do(s) acontecimento(s)
traumático(s) são expressos.
2. Sonhos perturbadores recorrentes em que os conteúdos e/ou emoções
do sonho se relacionam com o(s) acontecimento(s) traumáticos. Nota:
em crianças podem existir sonhos perturbadores sem conteúdo
reconhecível.
3. Reações dissociativas – “flashback dissociativo” é quando a pessoa se
comporta num estado alterado de consciência como se estivesse a passar
pelo trauma de novo, pode demorar pouco tempo ou várias horas
4. Mal-estar psicológico intenso ou prolongado perante a exposição a
estímulos internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a
aspetos do(s) acontecimento(s) traumático(s) – a pessoa que foi
abusada no elevador, se tiver de entrar de novo num elevador pode ter
efeitos de mal-estar psicológico ou sintomas de reatividade. Pode ser
uma característica comum das perturbações da ansiedade
5. Reatividade fisiológica marcada perante a exposição a estímulos
internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a aspetos do(s)
acontecimento(s) traumático(s)
Evitamento persistente de estímulos associados ao(s) acontecimento(s)
traumático(s) (ausente antes do trauma), indicado por um ou ambos
(manobra de evitamento, é uma defesa):

1. Evitamento ou esforços para evitar memórias, pensamentos ou


emoções que causam mal-estar, associados ao(s) acontecimento(s)
traumático(s)

2. Evitamento ou esforços para evitar estímulos externos (atividades,


lugares, conversas, objetos, atividades ou pessoas) que desencadeiam
memórias, pensamentos ou emoções que causam mal-estar, associados
ao(s) acontecimento(s) traumático(s)

 O trauma não é para esquecer, é para elaborar, ele tem de ser memorado
 “O trauma é para ser lembrado tantas vezes, até ser lembrado sem dor”, não
é algo rápido, é para lembrar quando a pessoa quiser, não quando eu quiser
Alterações na cognição e no humor associadas com o(s) acontecimento(s)
traumático(s), começando ou piorando a seguir ao(s) acontecimento(s),
evidenciadas por 2 ou mais dos seguintes:
1. Incapacidade para lembrar aspetos importantes do(s)
acontecimento(s) traumático(s) – quando o individuo tenta lembrar o
trauma muitas das vezes só lembra pedaços do trauma/algumas
memórias; muitas das vezes a pessoa lembra-se do acontecimento, mas
não se lembra do que sentiu lá, a pessoa não consegue ligar o trauma à
afetividade
2. Crenças negativas persistentes e exageradas sobre si, os outros ou o
mundo
3. Cognições distorcidas e persistentes sobre as causas ou consequências
do(s) acontecimento(s) traumático(s), que levam o indivíduo a culpar-
se a si ou aos outros (culpabilizar a policia por “não fazer nada” ou ter a
visão da sociedade muitas vezes de culpabilização da vítima)
4. Estado emocional negativo persistente (medo, horror, raiva, culpa,
vergonha)
5. Interesse ou participação em atividades significativas fortemente
diminuído
6. Sentimentos de desligamento ou estranheza em relação aos outros
7. Incapacidade persistente para experienciar emoções positivas

Sintomas que revelam um aumento da ativação e reatividade associados


com o(s) acontecimento(s) traumáticos(s), começando ou piorando após
o(s) acontecimento(s), evidenciados por 2 ou mais dos seguintes:

1. Comportamento irritável e acessos de raiva (perante pouca ou


nenhuma provocação)
2. Comportamento imprudente ou autodestrutivo
3. Hipervigilância
4. Resposta de alarme exagerada
5. Dificuldades de concentração
6. Perturbações do sono (por exemplo, dificuldade em adormecer ou
em permanecer a dormir ou sono agitado) – muito típico os
pesadelos e as insónias, têm um sono muito leve, estão sempre a
achar que algo pode acontecer

A duração da perturbação é superior a 1 mês. Caso passem 6 meses e a


perturbação se manifeste então é de expressão dilatada.

Especificadores:

1. Com sintomas dissociativos: Reações dissociativas


2. Com expressão dilatada: se o início dos sintomas ocorrer pelo menos
6 meses depois do acontecimento traumático – as pessoas não
reagem muitas das vezes logo no imediato, as pessoas reagem como
podem e como são.
Critérios de diagnóstico diferentes para crianças com menos de 6 anos

A Perturbação Aguda de Stress

A pessoa foi exposta a uma morte real, ameaça de morte, ferimento grave
ou violência sexual de uma das seguintes formas:
1. Experienciar diretamente o(s) acontecimento(s) traumático(s)
2. Testemunhar o(s) acontecimento(s) ocorrendo a outrem
3. Tomar conhecimento de que o(s) acontecimento(s) ocorreu(ram) a
um familiar ou amigo próximo. No caso de uma ameaça de morte ou
morte real de um familiar ou amigo, o acontecimento deve ter sido
violento ou acidental
4. Experienciar uma exposição repetida ou extrema a detalhes aversivos
do(s) acontecimento(s) traumático(s)

Nota: É a duração da perturbação que se distingue da outra perturbação (aqui são


sintomas que surgem imediatamente após o acontecimento traumático e dura
menos de 1 mês)

Para se atribuir o diagnóstico de Perturbação Aguda de Stress é necessário


que estejam presentes, pelo menos, 9 sintomas de qualquer das 5
categorias que se seguem, e que apresentam um total de 14 sintomas:
1. Sintomas de intrusão
2. Humor negativo
3. Sintomas dissociativos
4. Sintomas de evitamento
5. Sintomas de ativação
A perturbação tem uma duração mínima de três dias e máxima de um mês,
e ocorre a seguir ao acontecimento traumático.

As Perturbações de Sintomas Somáticos

A somatização (Conceito, não perturbação)

Na somatização o conflito e o sofrimento, são expressos pelo corpo


Centração excessiva no corpo e no seu funcionamento – um corpo que é
imprevisível, o individuo nunca sabe o que há de encontrar no seu próprio
corpo, um corpo hipervalorizado
O sujeito não é capaz de elaborar o conflito – somatiza
Comum na criança – utiliza a linguagem do corpo para expressar a ansiedade
e a dor mental; A criança hiperativa na incapacidade de expressar sofrimento
expressa no comportamento, na atividade
Somatizar é tornar somática uma perturbação psíquica, aquilo que é
psíquico
Dificuldade de elaboração psíquica e a natureza caracterial da perturbação
(estilo).
Depressões mascaradas expressas por equivalentes – queixas físicas como
dores, mal-estar abdominal, cefaleias (dores de cabeça), etc.
Perturbação de somatização (não pressupõe a existência de uma doença
física, o individuo tem queixas que não podem ser justificadas pelo estado
físico) e perturbação psicossomática (pensa-se que os fatores psicológicos
podem contribuir para a ocorrência de uma lesão real, uma lesão de um
órgão (ex.: ulcera no estomago, doenças dermatológicas)
Fatores Psicológicos que Afetam Outras Condições Médicas – é como
aparece no DSM, é a ideia de que os fatores psicológicos podem contribuir
A psicopatologia expressa-se pelo corpo, através de queixas físicas

Perturbação Somatoforme

Os sintomas apresentam-se como sendo a manifestação de um estado físico


geral, mas não podem ser completamente explicados pela existência de um
estado físico geral ou pelos efeitos de uma substância

As Perturbações de Sintomas Somáticos no DSM-5

Perturbação de Sintomas Somáticos

Perturbação da Ansiedade de Doença (Hipocondria)

Perturbação de Conversão

Fatores Psicológicos que Afetam Outras Condições Médicas

Perturbação Factícia – a pessoa apresenta queixas físicas e faz se apresentar


como “doente” quando não o está, não é propriamente uma perturbação de
sintomas somáticos. A pessoa forja sintomas físicos ou mentais. No DSM-5,
foi incluída a Perturbação Factícia, que não é “somática", porque implica a
falsificação de sinais ou sintomas, que tanto podem ser físicos, como
psicológicos, com o objetivo do indivíduo se apresentar aos outros como
doente, incapacitado ou lesionado.

Sintomas somáticos associados a mal-estar e disfuncionalidade significativos é a


característica comum a todas as perturbações.

Perturbação de Sintomas Somáticos

Presença de 1 ou mais sintomas somáticos que causam mal-estar ou que


resultam em perturbação da vida quotidiana.

Ocorrem pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos


relacionados com os sintomas somáticos ou com preocupações com a
saúde, que se manifestam pelo menos por um dos seguintes:

1. Pensamentos persistentes e desproporcionados sobre a gravidade


dos sintomas
2. Nível de ansiedade elevado e persistente relacionado com a saúde ou
com os sintomas
3. Consumo de tempo e energia excessivos, gastos com os sintomas ou
com as preocupações com a saúde

Nota: Embora um dado sintoma somático possa não estar continuamente presente,
o estado de estar sintomático é persistente (tipicamente mais de seis meses)

A queixa mais predominante é a dor, pode ser duradoura ou não, pode ser
evidenciada pela excessiva fadiga não justificável por uma doença física real

As queixas são reais e causam mal-estar à pessoa, tem um nível de


ansiedade muito marcado face aos sintomas, tem de existir esta
preocupação com os sintomas

Às vezes são queixas muito especificas, outras vezes são mais vagas, as
vezes as queixas vão sendo diferenciadas outras vezes é sempre a mesma
(dores gástricas, por exemplo)
Especificar:

1. Predominantemente com dor

2. Persistente - graves, incapacidade marcada e longa duração (mais de


seis meses)
3. Gravidade: Ligeiro, moderado ou grave

A Hipocondria
Preocupação em ter ou vir a ter uma doença grave (o exemplo mais comum
é o cancro)

A diferença para a perturbação de sintomas somáticos é que contrariamente


a esta o que caracteriza a hipocondria NÃO é a presença de sintomas físicos,
aqui a pessoa perceciona ligeiras queixas e interpreta como tendo uma
doença grave, o foco não é no mal-estar associado à queixa, mas sim no
significado dado pela pessoa à queixa.

Os sintomas somáticos não estão presentes, ou se presentes, são apenas


ligeiros em intensidade. Se está presente uma condição médica, ou se há o
risco do indivíduo poder vir a desenvolver uma condição médica, a
preocupação é ainda assim claramente excessiva ou desproporcionada.

Um nível elevado de ansiedade relacionada com a saúde, sendo o indivíduo


facilmente alarmado com a sua condição de saúde – não são facilmente
tranquilizáveis pelos médicos.

O indivíduo apresenta comportamentos excessivos relacionados com a


saúde (por exemplo, observa repetidamente o seu corpo em busca de sinais
de doença) ou um evitamento desadaptativo (por exemplo, evita hospitais
ou consultas médicas)

A preocupação com a doença está presente pelo menos durante 6 meses,


mas a doença específica que é temida pode mudar ao longo do tempo > a
pessoa pode ir saltitando nestas queixas, sensações e interpretações
A pessoa duvida dos médicos, mas põe em causa, não está convictamente
convencido que tem cancro só porque tem uma azia no estômago.

Um corpo falível, imprevisível, o individuo não pode confiar no seu próprio


corpo, ele está sempre à procura de sensações que podem significar algo,
ele está hiperatento às sensações, mas não é preciso na leitura que faz
destas sensações.

A Perturbação de Conversão (Perturbação de Sintomas Neurológicos Funcionais)

1 ou mais sintomas que afetam a função motora voluntária ou sensorial

Evidências clínicas revelam uma incompatibilidade entre os sintomas e as


doenças neurológicas e médicas conhecidas

O sintoma ou défice não é mais bem explicado por outra perturbação mental
ou médica

O sintoma ou défice causam de mal-estar clinicamente significativo ou


défice numa área importante do funcionamento ou requer avaliação médica

Pode especificar-se se se trata de um episódio agudo ou persistente, e se há


um stressor psicológico envolvido ou não.
Deve considerar-se a atribuição de um especificador, que descreve o tipo de
sintomas presentes:
1. Com fraqueza ou paralisia de 1 ou mais membros
2. Com movimentos anormais (tremores, movimentos distónicos e
alterações da marcha) – alterações psicomotoras
3. Com sintomas de dificuldade de deglutição (bola esofágica, o
individuo tem dificuldades em engolir líquidos e sólidos, mas não há
nada lá que explique esta dificuldade)
4. Com sintomas de alteração da fala (fala arrastada ou disfonia) – no
limite pode existir mutismo ou afonia
5. Com crises ou convulsões – “crises epiléticas”, mas que não são
6. Com anestesia ou perda sensorial
7. Com um sintoma sensorial especial (cegueira e alucinações)
8. Com sintomas mistos

A Perturbação Factícia (Imposta no próprio)

A - Falsificação de sinais ou sintomas físicos ou psicológicos, ou indução de


lesão ou doença, associada a engano identificado

B - O indivíduo apresenta-se perante os outros como doente, incapacitado


ou lesionado

C - O comportamento de engano é evidente, mesmo na ausência de ganhos


evidentes óbvios

D - O comportamento não é mais bem explicado por outra perturbação


mental, tal como perturbação delirante ou outra perturbação psicótica

A pessoa pode induzir em si dano físico ou pode exacerbar queixas pré-


existentes (a pessoa é operada e manipula no bloco operatório com os
dedos as costuras da ferida de modo a infetar)

Síndrome de Munchausen > variante extrema da perturbação factícia

Costumam inventar histórias exageradamente dramáticas, muitas vezes


enganam os técnicos de saúde porque podem saber medicina, as vezes
fazem até ser operados quando não o necessitam

Isto é levado à exaustão, podem até chegar a mudar de país quando são
“apanhados”; eles aprenderam que conseguiam manipular o outro através
das suas queixas.

A Perturbação Factícia (Imposta no outro)

A - Falsificação de sinais ou sintomas físicos ou psicológicos, ou indução de


lesão ou doença noutra pessoa, associada a engano identificado

B - O indivíduo apresenta o outro individuo (vítima) perante os outros como


doente, incapacitado ou lesionado

C - O comportamento de engano é evidente, mesmo na ausência de ganhos


evidentes óbvios
D - O comportamento não é mais bem explicado por outra perturbação
mental, tal como perturbação delirante ou outra perturbação psicótica

Exemplo: A mãe que quer que o filho receba tratamento médico quando ele não
tem nenhuma doença ou problema.

Perturbações da Personalidade

É um padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta


marcadamente do esperado para um indivíduo de uma dada cultura. É
invasivo e inflexível, global. Manifesta-se numa gama variada de situações e
tem início o mais tardar na adolescência ou no início da idade adulta. É
estável ao longo do tempo e origina mal-estar clinicamente significativo ou
incapacidade.

Perturbação Mental Vs. Perturbação da Personalidade: Num sentido apto do termo,


a perturbação da personalidade é uma perturbação mental, mas na verdade não é,
porque numa perturbação mental encontramos sinais e sintomas, e aqui a
perturbação da personalidade não se expressa por sinais e sintomas, mas sim por
traços de personalidade patológicos.

Eixo I e Eixo II: O Eixo I corresponde ao diagnóstico de transtornos mentais clínicos,


e o Eixo II corresponde a transtornos da personalidade. Algumas perturbações
podem apresentar paralelos entre os eixos.

Noção de Traço: Padrão de comportamento e experiência interna e marca o


funcionamento típico do individuo, a sua forma de ser habitual.

Sintoma Vs. Traço: Nós encontramos traços que parecem sintomas e sintomas que
são crónicos, então fica difícil distinguir ambos.

“Contra-pontos” nas perturbações sindromáticas – Por exemplo, a fobia social e a


perturbação evitante da personalidade, são contra-pontos. Parece haver
perturbações que parecem ter algum paralelo do eixo I relativamente ao eixo II.

Perturbação da personalidade e padrão de personalidade

O padrão disfuncional da perturbação da personalidade expressa-se na:


1. Cognição
2. Afetividade
3. Funcionamento interpessoal
4. Controlo dos impulsos
Quando é Perturbação da Personalidade? – Quando os traços são
patológicos, ou seja, são inflexíveis e desadaptativos, causam sofrimento
clinicamente significativo ou incapacidade funcional.
O DSM-5 organiza as perturbações da personalidade em 3 Clusters (de
acordo com as semelhanças descritivas de cada uma):
1. A - Perturbações paranóide, esquizóide e esquizotípica
2. B - Perturbações antissocial, borderline, histriónica e narcísica
3. C - Perturbações evitante, dependente e obsessivo-compulsiva
a. Crítica: Constelações de traços que podem corresponder a protótipos – As
pessoas não apresentam normalmente todas as características de uma
perturbação, às vezes preenchem critérios para várias perturbações da
personalidade em simultâneo. As pessoas que tendem a ter perturbação da
personalidade tendem a ter mais do que uma perturbação.

Cluster A – A Perturbação Paranóide da Personalidade

Um padrão global de desconfiança e suspeição globais em relação aos


outros, de forma que os seus motivos são interpretados como malévolos –
a pessoa tende a interpretar contra si o comportamento do outro e a
intenção do outro;
O padrão desconfiado, segundo T. Millon – a desconfiança, a suspeitação;
Implica do ponto de vista intrapsíquico um mecanismo de projeção – o
individuo projeta no outro e atribui más intenções ao outro por razões
internas, por exemplo, não gosta do outro e por isso significa que o outro o
persegue; O MECANISMO DE DEFESA CENTRAL É A PROJEÇÃO!
Patologia da linha interjetiva – o individuo tende a construir o seu self em
contra-ponto dos outros, ou seja, é um mecanismo de excelência, a
construção de um self por oposição ao outro
No DSM implica 4 ou mais das seguintes características:
1. Suspeita sem bases suficientes que os outros tiram partido deles, os
prejudicam ou enganam
2. Preocupações com dúvidas injustificadas acerca da lealdade ou
confiança de amigos ou associados
3. Relutância em confiar nos outros por medo injustificado de que a
informação possa ser maliciosamente usada contra si
4. Encontram humilhações ou ameaças em observações ou
acontecimentos inocentes
5. Persistência em manter rancor, isto é, incapacidade para esquecer
ofensas, injúrias ou indelicadezas
6. Perceção de ataques ao seu carácter e reputação não aparentes aos
outros, aos quais reagem rapidamente com raiva ou contra-atacando,
ou seja, reagem muito mal às ações percebidas incorretamente.
7. Suspeição recorrente, sem justificação, em relação à fidelidade do
cônjuge ou parceiro sexual

Cluster A – A Perturbação Esquizóide da Personalidade

Padrão global de afastamento das relações sociais e uma gama restrita de


expressão emocional em situações interpessoais;

É uma preferência caracterial por se afastar do outro;

O padrão de personalidade associal;

Não há sintomas psicóticos – não há delírios, alucinações, nada, trata-se de


uma alteração do caráter;

Esquizoidia – retirada relacional, ou seja, desinvestimento, desinteresse e


afastamento da relação objetal.

No DSM implica 4 ou mais das seguintes características:


1. Nenhum desejo ou prazer em relações próximas, incluindo relações
familiares
2. Quase sempre escolhe atividades solitárias
3. Pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com outra
pessoa
4. Tem prazer em poucas, se algumas atividades
5. Sem amigos ou confidentes, para além dos familiares em primeiro grau
6. Indiferença aparente relativamente ao elogio ou crítica dos outros –
eles não se preocupam com os feedbacks dos outros
7. Frieza emocional, desprendimento ou embotamento afetivo – são
pessoas que normalmente não falam sobre as suas emoções, nem
mesmo têm a capacidade de as ler, e as poucas vezes que o conseguem
fazer aquilo que transmitem é dor profunda > “eu prefiro estar só a ser
maltratado pelos outros” – pensamento do ponto de vista
psicodinâmico

Cluster A – A Perturbação Esquizotípica

Padrão global de défices sociais e interpessoais marcados por desconforto


agudo e reduzida capacidade para relações de proximidade (aqui não há
muita diferença para a perturbação esquizoide), bem como por distorções
percetivas e cognitivas e excentricidade do comportamento

Excentricidade e bizarria e as distorções percetivas – o padrão excêntrico de


T. Millon – duas características que distinguem do padrão esquizoide.

É verdadeiramente uma perturbação da personalidade? – a literatura


considera que pode mesmo estar relacionada com o espectro
psicopatológico, mas menos grave, da esquizofrenia.

No DSM implica 5 ou mais das seguintes características:


1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência) – o que difere
dos delírios são o facto de nas ideias de referencia o individuo encontrar
aspetos que estão ligados a ele, por exemplo, ir a uma loja e acreditar
que aquele artigo exposto foi feito para ele
2. Crenças bizarras ou pensamento mágico que influencia o
comportamento, e que são inconsistentes com as normas culturais
(por exemplo, crença na clarividência) – não chegam para se cotar um
delírio, são superstições
3. Experiências percetivas pouco habituais, incluindo ilusões corporais –
ou sensações estranhas, por exemplo, a pessoa que sente que sai do
próprio corpo e que faz uma experiência “astral”, ou por exemplo
quando estão numa sala e acreditam que está uma presença com a
pessoa, ela não alucina, mas sente algo
4. Pensamento e discurso bizarros (por exemplo, vago, metafórico ou
estereotipado) – não há discurso desorganizado, mas ainda assim é um
discurso que não é completamente “normal”, são pensamentos muito
metafóricos
5. Desconfiança ou ideação paranóide – os indivíduos desconfiam muito
das intenções dos outros para consigo
6. Inadequação ou restrição afetivas – não são capazes de ler emoções,
não entendem as entre linhas da vida social e afetiva, não se riem de
uma piada
7. Comportamento e aparência bizarra, excêntrica ou peculiar – vestem-
se com roupas fora de época ou clima, ou roupas que não lhes assentam
bem, não é um estilo de moda diferente ou variação de interesses
8. Ausência de amigos íntimos ou confidentes para além de familiares de
primeiro grau – são pessoas que tendem a apresentar aquela
característica esquizoide de distanciamento
9. Ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e
tende a associar-se com receios paranóides e não com juízos negativos
acerca de si próprio – não é o mesmo que a fobia social, mas ao
contrario da fobia social que a pessoa teme a humilhação ou a crítica,
aqui o individuo apenas não desejam o contacto

Diagnóstico diferencial

Perturbação esquizotípica (excentricidade e distorções percetivas) Vs.


perturbações esquizoide e paranóide
Perturbações esquizoide (não há desconfiança, não há ideação paranoide)
Vs. perturbação paranoide

Perturbações esquizoide e esquizotípica (desinteresse no contacto com o


outro) Vs. perturbação evitante (há desejo de entrar em contacto com o
outro, mas o individuo tem o medo da rejeição)

Cluster B – A perturbação anti-social da personalidade

Padrão global de desrespeito e violação dos direitos dos outros ocorrendo a


partir dos 15 anos

A definição apresenta um foco no comportamento - O foco está no


comportamento e nas consequências sociais do comportamento

Psicopatia Vs. Perturbação anti-social da personalidade - Não preenche


critérios suficientes da personalidade psicopática clássica

Ter uma personalidade psicopática não equivale a ter comportamentos


antissociais; algumas características da psicopatia estão na perturbação anti-
social, mas também noutras perturbações da personalidade.

Agrandizing pattern (“padrão de autoengrandecimento” – sentimento de


grandiosidade, o individuo não tem mágoa, a personalidade pura da
psicopatia é o egocentrismo e este sentimento.

A “versão adulta” da perturbação do comportamento – vem na sua


continuidade da infância ou adolescência

1. O indivíduo tem uma idade mínima de 18 anos

2. Há evidência de perturbação do comportamento antes dos 15 anos

A tríada negra – breve referência – psicopatia, narcisismo e maquiavelismo


(traços socialmente indesejáveis/aversivos).

A ocorrência de comportamento anti-social não ocorre exclusivamente


durante o curso de esquizofrenia ou de perturbação bipolar.

No DSM implica 3 ou mais das seguintes características:


1. Incapacidade para se conformarem a normas sociais no que diz
respeito a comportamentos legais, demonstrada por atos repetidos
que são motivo de detenção – desrespeito pelos outros, são indivíduos
que acabam presos por este mesmo motivo

2. Falsidade, demonstrada por mentiras repetidas, usar nomes falsos, ou


enganar os outros para obter lucro – manipulam, mentem e enganam
os outros, contrariamente à psicopatia estes indivíduos não têm prazer
em fazer mal ao outro, mas usam-no em seu beneficio

3. Impulsividade ou incapacidade para planear antecipadamente

4. Irritabilidade e agressividade, demonstrada por repetidos conflitos e


lutas físicas

5. Desrespeito temerário pela segurança de si próprio e dos outros –


comportamentos de risco

6. Irresponsabilidade consistente, demonstrada pela incapacidade


repetida para manter um comportamento laboral consistente ou honrar
obrigações financeiras

7. Ausência de remorso, demonstrada por racionalização ou indiferença


com que reagem após terem magoado, maltratado ou roubado alguém
– o individuo diz coisas do género “ficou mal, paciência”, “o mundo não
é para os fracos”, magoar os outros sem tomar consciência do seu
comportamento embora haja a sua racionalização > A culpa quando é
excessiva é um veneno, mas quando não existe é preocupante porque
impede o individuo de ter consciência do risco e seus comportamentos

Psicopatias de Kurt Schneider

“Personalidade Psicopática” – alterações do caráter que não eram


suficientes para se poder falar de psicopatologia.

Schneider distinguia os seguintes tipos:

1. Hipertímicos
2. Depressivos

3. Inseguros

4. Fanáticos

5. Carentes de atenção

6. Emocionalmente lábeis

7. Explosivos

8. Desalmados - aproximam-se da psicopatia clássica, da noção de


psicopatia restrita

9. Abúlicos

10. Asténicos

Qual é o funcionamento mental do psicopata?

a. Coimbra de Matos refere que a psicopatia é o inverso da psicose


b. Defeito do super-ego – um super-ego “esburacado” que contem mal os
impulsos agressivos
c. A força da coesão do self é a agressividade
 Quando a tensão agressiva baixa podem desorganizar-se
d. Mecanismos de defesa centrais são a clivagem, a projeção e a negação
e. O psicopata nega e cliva as partes boas do objeto – vê o outro como
predominantemente mau, só vê as suas próprias partes boas (ele vê-se a si
mesmo como sem falhas ou defeitos) e cliva e projeta tudo o que é mau em
si no outro
f. Mecanismo psicopatológico e patogénico complementar
 cliva e projeta as partes más do self
g. O mecanismo central da psicopatia é a omnipotência, embora haja vários e
não consigamos explicar a psicopatia só com um mecanismo de defesa

Cluster B – A Perturbação Borderline da Personalidade


Padrão global de instabilidade no relacionamento interpessoal, auto-
imagem e afetos, impulsividade marcada

Instabilidade como característica estável - em todos os níveis: na identidade,


na afetividade, na relação com os outros

Dificuldades de autorregulação no individuo

Continuidade com a doença bipolar? – é uma variante ligeira ou está no


espectro da doença bipolar? Sim, pode estar. São diferentes, mas existe
muita comorbilidade e se as perturbações coexistem tantas vezes talvez
não sejam assim tão independentes

Organização borderline (encontramos várias perturbações da personalidade,


ou seja, há várias perturbações que estariam incluídas na organização
borderline, incluindo a própria perturbação borderline) Vs. Perturbação
borderline da personalidade

1. Quantos tipos de borderlines?!

A etiopatogenia da organização borderline da personalidade:

1. Normalmente encontramos histórias traumáticas, por exemplo, pais


que abandonaram ou eram alienadores, ou até mesmo pais intrusivos e
dominadores, no sentido de hiper-presença, não deram espaço ao
individuo

No DSM implica 5 ou mais das seguintes características:

1. Esforços frenéticos para evitar o abandono real ou imaginado –


Ansiedade de separação

2. Padrão de relações interpessoais intensas e instáveis, caracterizado por


alternância extrema entre idealização e desvalorização – Instabilidade
relacional

3. Perturbação da identidade - instabilidade persistente e marcada da


auto-imagem ou do sentido do Self - o individuo não sabe bem quem é,
para onde vai ou o que quer; mudanças constantes de objetivos
(mudança de trabalho muito regular e marcada, mudanças nas relações
afetivas (gosta e depois já não gosta))

4. Impulsividade pelo menos em duas áreas que são potencialmente auto-


lesivas - gastos, sexo, abuso de substâncias, condução imprudente,
ingestão alimentar compulsiva

5. Comportamento, gestos ou ameaças recorrentes de suicídio, ou


comportamentos auto-lesivos

6. Instabilidade afetiva devida a uma marcada reatividade de humor -


episódios intensos de disforia, irritabilidade ou ansiedade,
habitualmente durando poucas horas e raramente mais do que alguns
dias

7. Sentimento crónico de vazio - quando verbalizam o que sentem


normalmente falam num “vazio”, relacionado com a fraca constância
do objeto presente, o individuo não consolidou o objeto presente, a
memória evocativa é bastante frustre e ele não consegue se lembrar
das coisas, precisa de estar com elas presentes

8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldades no seu controlo - intensa


irritabilidade e reagem mal à frustração

9. Ideação paranóide transitória reativa ao stress ou sintomas


dissociativos graves

A organização borderline – Otto Kernberg

Teste da realidade – não há falhas contrariamente à psicótica


Operações defensivas – destaque da clivagem, mecanismos de defesa
arcaicos
Difusão Vs. Integração da identidade – identidade tendencionalmente pouco
coesa o que explica as dificuldades relacionais com o outro
O ego é frágil – ansiedade, dificuldade em persistir no trabalho, dificuldade
em aguentar a frustração
Tipos de angustia – angústia de abandono ou ansiedade de separação, ficar sozinho,
angústia de controlo (de ser controlado pelo outro), angústia de poder agredir os
outros com a sua frustração

Diagnóstico diferencial
1. Perturbação borderline (reage ao abandono com sentimentos de
irritação, frustração e exige que o outro volte) Vs. Perturbação
dependente (reage ao abandono na busca frenética para substituir o
objeto ou submissão)
2. Perturbação borderline (manipula os outros para obter afetos porque
não é capaz de ficar sem o outro porque o objeto interno é muito
“frouxo”) Vs. Perturbação antissocial (manipula os outros para atingir
os seus objetivos)

Cluster B – Perturbação Histriónica da Personalidade

Neurose histérica – vem substituir este termo de neurose histérica e


perturbação histriónica da personalidade – não são sintomas, são traços de
personalidade

Perturbação histriónica como perturbação anaclítica – o individuo está


muito preocupado com a relação com o outro

Diagnóstico diferencial com a perturbação dependente – mantêm pontos


de contacto > dependência marcada, indivíduos visivelmente que necessitam
de muita atenção, a diferença é que os dependentes são passivos nesta
procura de atenção e os histriónicos tendem a ser mais ativos

Padrão gregário de Millon – são pessoas que tentam ser muito simpáticos e
interessantes ao inicio, mas depois isto tende a degradar-se ao longo do
tempo; são muito superficiais

No DSM implica 5 ou mais das seguintes características:


1. Desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções
2. Interação com os outros caracterizada frequentemente por sedução
sexual inapropriada ou comportamento provocador – sexualizam
muito as relações mesmo não tendo interesse > ele abdica do olhar
afetivo que julga não merecer
3. Rápidas alterações e superficialidade na expressão emocional – as
vezes são vistos como fingidos porque são muito superficiais
afetivamente
4. Uso de forma consistente da aparência física para chamar a atenção –
gastam muito dinheiro em roupas e adereços; necessidade de que o
olhem, que o desejem
5. Discurso excessivamente impressionista e com pouco pormenor – não
explicam, podem dizer que adoram alguém sem dizer o porquê ou sem
perceber o porquê de adorarem aquela pessoa
6. Auto-dramatização, teatralidade e exagero na expressão emocional –
as vezes até podem embaraçar os outros (ligado ao ponto 8)
7. Sugestionabilidade (isto é, facilmente influenciáveis pelos outros e
pelas circunstâncias) – confiam total e cegamente em todos, são “maria
vai com as outras”, facilmente manipuláveis as vezes
8. Consideram relações como mais íntimas do que efetivamente são –
para eles todos as relações são amigas e muito próximas quando na
verdade por vezes mal conhecem as pessoas ou só se viram uma vez

Cluster B – A Perturbação Narcísica da Personalidade

Características psicopáticas

Características de grandiosidade e de necessidade de admiração

O padrão egoísta – o foco de investimento é o self; autocentração

Inacessibilidade à intervenção terapêutica da perturbação narcísica da


personalidade – dificuldade dos indivíduos se comprometerem à
psicoterapia, isto porque eles temem ser postos em causa

A ilusão da autossuficiência – na verdade o individuo teme a proximidade


com o outro e por isso gere uma fantasia de autossuficiência de “eu não
preciso do outro”, há um medo dos afetos porque os afetos implica aceitar a
necessidade do objeto e a necessidade de se “depender” com o outro
Narcísico Vs. Borderline – há aspetos comuns; mas os aspetos diferentes são
a intrusividade do objeto > necessidade de se proteger do objeto que sente
que é pouco fiável (autonomia precoce) > ilusão que se basta a si próprio

Não há patologia sem perturbação do narcisismo – tem de existir sempre


uma centração em si próprio, centra-se no que está em falta, mas a questão
está no grau em que fazemos

Narcisismo saudável – permite que o outro transforme a relação sem se


sentir posto em causa, não é patológico

Na perturbação o foco de investimento pode ser o outro, mas a modalidade


do investimento é narcísica, o uso do outro para a sua própria autoestima e
coesão interna

No DSM implica 5 ou mais das seguintes características:


1. Sentimento grandioso de auto-importância - exaltação exagerada de
talentos e realizações, esperando ser reconhecido como superior sem
realizações proporcionais (MAS pode existir uma grande vulnerabilidade
também, mesmo com o espectro narcísico).
2. Preocupação com fantasias de êxito ilimitado - poder, brilhantismo,
beleza ou amor ideal
3. Crença de que é especial e único e que só se pode ser compreendido ou
estar associado a outras pessoas (ou instituições) especiais e de elevado
estatuto
4. Necessidade de admiração excessiva
5. Sentimento de titularidade - expectativas não razoáveis de tratamento
especialmente favorável ou adesão automática às suas expectativas)

Nota: Até aqui são características relativas à grande necessidade de admiração.

6. Explorar os outros - utilizar os outros para atingir os próprios fins


7. Ausência de empatia - incapacidade para reconhecer ou identificar-se
com os sentimentos e necessidades dos outros
8. Frequentemente, inveja os outros ou acredita que os outros o invejam
9. Demonstração de arrogância, comportamentos ou atitudes altivas
Nota: Até aqui são características/traços associados à psicopatia clássica, não
necessariamente traços antissociais

Cluster C – A perturbação evitante da Personalidade

The withdrawn pattern


O medo da crítica e da rejeição, e a vergonha
Auto-conscienciosidade – 1 das facetas do Neuroticismo (medo do ridículo, o
individuo sente-se “pequenino” / “esmagado”); o individuo está sempre a
reparar em si de forma negativa: “o que é que não fiz bem desta vez?”; “o
que é que me vão dizer agora?”.
Sentimento de que “não encaixa”, de desadequação - Este individuo sente
sempre que nunca está bem em nenhum sitio, que está mal vestido etc.
Dificuldades no diagnóstico diferencial com a perturbação de ansiedade
social (situações em que está sujeito à avaliação do outro) – A diferença é
que na perturbação evitante o individuo tem medo sempre.
Ao contrário do esquizóide este individuo não se retira da relação com o
outro devido ao desinteresse, mas sim pelo medo da crítica: deseja o
contacto, mas tem medo
É um padrão global de inibição social, sentimentos de inadequação e
hipersensibilidade à avaliação negativa
No DSM implica 4 ou mais das seguintes características:
1. Evitamento de ocupações que envolvam contactos interpessoais
significativos, por medo de críticas, desaprovação ou rejeição
2. Pouca disponibilidade para o envolvimento com pessoas, a não ser
que com certeza de ser apreciado
3. Reserva nas relações íntimas por medo de ser ridicularizado ou
envergonhado
4. Preocupações em ser criticado ou rejeitado em situações sociais
5. Inibição em novas situações interpessoais devido a sentimentos de
inadequação
6. Visão de si próprio como inapto socialmente, sem encanto pessoal
ou inferior aos outros
7. Relutância em assumir riscos pessoais ou envolver-se em novas
atividades porque podem ser embaraçosas

Cluster C – A Perturbação Dependente da Personalidade

Trata-se de um padrão caracterizado por uma necessidade persistente e


excessiva de cuidados, que leva à submissão, viscosidade e angústia de
separação; o individuo não é capaz de viver sozinho, enquanto no borderline
no medo do abandono o individuo manipula o outro para ficar, aqui o
individuo substitui o objeto

É o padrão submisso de Millon

É a perturbação anaclítica por excelência

Latu sensu a dependência atravessa toda a psicopatologia

Uma proposta conceptual sobre a personalidade dependente de R.


Bornstein:

1. O foco do investimento é no outro, mas a modalidade do investimento


não é necessariamente objetal
2. A função do investimento é narcísica
3. Há uma dimensão da dependência que pode ser consciente e outra
dimensão que pode não ser tão consciente
4. Não há patologia sem dependência
5. Esta perturbação surge se não existiu liberdade na autonomia no sentido
em que era muito controlado e não pôde construir um self; ou então, foi
obrigado a desenvolver autonomia muito cedo e de forma brusca e não
estava preparado para isso
No DSM implica 5 ou mais das seguintes características:
1. Dificuldade em tomar decisões do dia-a-dia sem um excessivo suporte
ou aconselhamento dos outros
2. Necessidade de transferir responsabilidades para os outros na maior
parte das áreas importantes da vida
3. Dificuldade em discordar dos outros por medo de perder suporte ou
aprovação (Nota: Não considerar receios realistas de retaliação)
4. Dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por sua conta (por falta
de confiança nas suas capacidades e julgamento e não por falta de
motivação ou energia)
5. Fazer esforços excessivos para obter cuidados e apoio dos outros, ao
ponto de se oferecerem como voluntários para tarefas desagradáveis
6. Sentimentos de desconforto ou desamparo quando sozinhos, por
medo exagerado de serem incapazes de cuidar de si próprios
7. Procura urgente de outra relação, como fonte de suporte, quando uma
relação íntima termina – diferentemente do borderline
8. Preocupações irrealistas com medos de serem deixados entregues a si
próprios

Cluster C – A Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade (DIFERENTE DA


POC, esta é a vertente TRAÇO, não encontramos sintomas obsessivos)

Um padrão global de preocupação com a organização, perfeccionismo e


controlo mental e interpessoal, à custa da flexibilidade, abertura e eficiência

Diferença descritiva fundamental com a POC

Vertente traço da neurose obsessiva

No DSM implica 5 ou mais das seguintes características:


1. Preocupação com pormenores, regras, listas, ordem, organização ou
horários, a ponto de se perder a finalidade da atividade – Exemplo: o
individuo tem uma lista para fazer coisas, se a perder, ele não consegue
facilmente fazer uma nova ou lembrar se mentalmente do que ali estava
como uma pessoa “normal”
2. Perfecionismo que interfere com o cumprimento de tarefas – Exemplo:
incapacidade de completar projetos por não estarem de acordo com os
padrões estritos do sujeito
3. Devoção excessiva ao trabalho e à produtividade a ponto de excluir
amizades e atividades de lazer (exceto por óbvias razões de necessidade
económica)
4. Hiper-conscienciosidade - ideia de que tudo se rege por princípios.
Exemplo: “empresta-me o telemóvel para fazer uma chamada” > “não,
não se deve emprestar o telemóvel porque é algo individual”,
escrupulosidade e inflexibilidade em assuntos relativos à moral, ética ou
valores (exceto se por razões de identificação cultural ou religiosa);
indivíduos hipercríticos principalmente de si próprios, não se deixam
falhar
5. Incapacidade de descartar objetos gastos ou sem valor, mesmo que não
tenham valor sentimental – não ao ponto de ser uma perturbação, mas
guardam e acumulam tudo
6. Relutância em delegar tarefas (dar tarefa ao outro para fazer) ou em
trabalhar com outros, a menos que estes se sujeitem exatamente ao seu
modo de proceder – só eles é que fazem bem
7. Adoção de um estilo de gastos miserabilista para consigo próprio e para
com os outros; o dinheiro é visto como algo a acumular para catástrofes
futuras – são avarentos e “forretas”
8. Rigidez e teimosia – Remete quase para a fase anal do desenvolvimento
(desenvolvida por Freud), não no sentido literal da fase anal, mas sim
ligado ao controlo e obstinação; O individuo tem muita dificuldade em
olhar outros pontos de vista, ele raramente altera a sua opinião

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