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DEPRESSÃO

EM IDOSOS

Emylucy M.P. Paradela

RESUMO INTRODUÇÃO

Os transtornos do humor são as No Brasil, o crescimento da po-


desordens psiquiátricas mais comuns entre pulação idosa é rápido e inexorável. Os
indivíduos com 60 anos ou mais. Dentre idosos são hoje 14,5 milhões de pessoas,
esses, estão a depressão maior, a distimia e 8,6% da população total do País, segundo
os sintomas depressivos clinicamente sig- o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
nificativos (SDCS). tística (IBGE), com base no Censo 2000.
A síndrome depressiva é caracte- São consideradas idosas as pessoas com
rizada pela presença de humor predomi- 60 anos ou mais nos países em desenvol-
nantemente depressivo e/ou irritável e ane- vimento. A longevidade, porém, não sig-
donia (diminuição da capacidade de sentir nifica necessariamente velhice sadia nem
prazer ou alegria). Existe uma sensação avanço simultâneo e eficiente da qualidade
subjetiva de diminuição de energia (cansa- de vida e da autonomia para boa parcela
ço, fadiga), desinteresse, lentificação, pen- das pessoas idosas1.
samentos pessimistas e ideias de ruína. Em Os transtornos do humor são as
geral, esses sintomas são acompanhados desordens psiquiátricas mais comuns en-
de modificações no sono e apetite, preju- tre indivíduos idosos. Dentre estes, estão
ízo cognitivo, alterações comportamentais o Transtorno Depressivo Maior, o Trans-
e sintomas físicos. Podem ocorrer delírios torno Distímico e os sintomas depressivos
ou alucinações congruentes com o humor clinicamente significativos (SDCS). Nes-
como delírios de culpabilidade excessiva ta faixa etária, estes transtornos tendem à
ou de saúde muito ruim, delírios de po- cronicidade, são subdiagnosticados e sub-
breza ou persecutórios; as alucinações são tratados, causam grande sofrimento psí-
menos comuns, mas podem aparecer e ten- quico, aumento da dependência funcional,
dem a ser visuais ou olfatórias. Os profis- isolamento social, risco de suicídio, piora
sionais da saúde que lidam com este grupo da qualidade de vida e aumentam a morta-
etário devem ficar atentos aos sintomas lidade dos indivíduos acometidos2.
depressivos mascarados, como dores ines- Habitualmente, as queixas dos
pecíficas, adinamia, insônia, perda de peso idosos não são apenas de ordem física, mas
e queixas subjetivas de perda da memória, também psíquica e social. Por isto, a ava-
evitando imputar estas queixas ao envelhe- liação destes indivíduos deve ser abran-
cimento pois os tratamentos disponíveis gente o bastante para ser capaz de detectar
melhoram muito os sintomas e a qualidade as alterações existentes e, até mesmo os
de vida dos indivíduos acometidos. sinais de risco iminente de alguma perda
funcional, com consequente perda da auto-
PALAVRAS-CHAVE: Depressão; Sinto- nomia.
mas depressivos; Idosos.

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EPIDEMIOLOGIA DIAGNÓSTICO

Em recente meta-análise de 17 ar- Os sintomas clássicos da depres-


tigos envolvendo 15.491 idosos, Barcelos- são afetam três domínios: (1) Afeto: choro,
Ferreira e colaboradores avaliaram a pre- tristeza, apatia; (2) Cognição: desesperan-
valência dos transtornos do humor entre ça, culpa, sentimentos de inutilidade e me-
idosos brasileiros que vivem na comunida- nos valia, ideias de morte e (3) Somáticos:
de e encontraram uma prevalência de 7% falta de energia, dores difusas, alterações
para Transtorno Depressivo Maior, 3,3% no sono, apetite e hábito intestinal e dimi-
para a distimia e 26% para os SDCS2. Xa- nuição da libido.
vier e colaboradores, em um estudo feito Com o envelhecimento, ocorrem
para determinar a prevalência de depressão várias alterações que podem dificultar o
em uma população de idosos acima de 80 diagnóstico da depressão em idosos como
anos residentes na comunidade em um mu- a presença de patologias crônicas doloro-
nicípio semirrural no sul do Brasil, encon- sas, a diminuição da libido, o retardo psi-
traram 7,5% de episódio depressivo maior, comotor, os sintomas subjetivos de perda
12,1% de episódio depressivo menor e da concentração e da memória e diversas
4,5% de distimia, segundo os critérios de alterações do sono.
DSM-IV3. O diagnóstico da depressão é clí-
Em indivíduos portadores de do- nico baseado na anamnese, por isto é fun-
enças clínicas, as taxas são ainda mais damental a busca ativa pelos sintomas,
elevadas. Por exemplo, 20% dos pacientes uma investigação de episódios depressi-
com doença coronariana apresentam trans- vos anteriores, a pesquisa por sintomas
tornos depressivos4. Taxas semelhantes são de mania ou hipomania, uma revisão dos
descritas em uma série de doenças clínicas medicamentos em uso, além da aborda-
típicas dos idosos, como doença de Parkin- gem cuidadosa das questões acerca de luto
son5, doença cerebrovascular6 e doença de e suicídio.
Alzheimer7. A síndrome depressiva é carac-
terizada pela presença de humor predo-
minantemente depressivo e/ou irritável e
FATORES DE RISCO anedonia (diminuição da capacidade de
sentir prazer ou alegria). Existe uma sen-
Alguns fatores de risco para os sação subjetiva de diminuição de energia
transtornos depressivos já estão bem es- (cansaço, fadiga), desinteresse, lentifica-
tabelecidos como idade avançada, patolo- ção, pensamentos pessimistas e ideias de
gias crônicas, ansiedade, falta de vínculos ruína. Podem ocorrer delírios ou alucina-
e de suporte social. Os eventos estressantes ções congruentes com o humor. Em geral,
da vida como uma viuvez recente ou outras esses sintomas são acompanhados de mo-
perdas importantes, dores crônicas e estar dificações na qualidade do sono, alterações
vivendo sozinho são, também, fatores que no apetite, prejuízo cognitivo, alterações
aumentam o risco de sintomas depressi- comportamentais e sintomas somáticos9.
vos8. Para o diagnóstico formal de de-
pressão em ambientes de pesquisa, as ava-
liações mais utilizadas são as entrevistas
estruturadas baseadas nos critérios do CID
10 (CIDI) e do DSM-4 (SCID).

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O diagnóstico de Transtorno De- do dia, na maioria dos dias, indicado por


pressivo Maior é feito em presença de relato subjetivo ou observação feita por
cinco ou mais dos seguintes sintomas pre- outros por, pelo menos, dois anos. Presen-
sentes durante o período de duas semanas ça, enquanto deprimido, de duas (ou mais)
que representem uma alteração a partir das seguintes características: (1) apetite
do funcionamento anterior; pelo menos diminuído ou hiperfagia; (2) insônia ou
um dos sintomas necessariamente deve hipersonia; (3) baixa energia ou fadiga;
ser (1) humor deprimido na maior parte (4) baixa autoestima; (5) fraca concentra-
do dia, quase todos os dias, indicado por ção ou dificuldade em tomar decisões. Os
relato subjetivo (por ex: sente-se triste ou sintomas causam sofrimento clinicamente
vazio) ou observação feita por outros (por significativo ou prejuízo no funcionamen-
ex., chora muito); (2) interesse ou prazer to social ou ocupacional ou em outras áreas
acentuadamente diminuídos por todas ou importantes da vida do indivíduo. Usual-
quase todas as atividades na maior parte mente, o individuo com distimia sofre com
do dia, quase todos os dias (indicado por a presença desses sintomas mas, provavel-
relato subjetivo ou observação feita por mente, será capaz de desempenhar a maior
outros); (3) perda ou ganho significativo parte das suas atividades cotidianas9,10.
de peso sem estar em dieta (por exemplo, O Transtorno Distímico e o Trans-
mais de 5% do peso corporal em um mês), torno Depressivo Maior são diferencia-
ou diminuição ou aumento do apetite qua- dos com base na gravidade, cronicidade e
se todos os dias; (4) insônia ou hipersonia persistência dos sintomas. No Transtorno
quase todos os dias; (5) agitação ou retardo Depressivo Maior, os sintomas devem es-
psicomotor quase todos os dias (observá- tar presentes na maior parte do dia, quase
veis por outros, não meramente sensações todos os dias, por um período mínimo de
subjetivas de inquietação ou de estar mais duas semanas, ao passo que no Transtorno
lento); (6) fadiga ou perda de energia qua- Distímico devem estar presentes na maior
se todos os dias; (7) sentimento de inuti- parte dos dias por um período mínimo de
lidade ou culpa excessiva ou inadequada 2 anos, mas sem atingir o número total de
(que pode ser delirante), quase todos os sintomas nem a gravidade exigidos para
dias (não meramente autorrecriminação o diagnóstico de Transtorno Depressivo
ou culpa por estar doente); (8) capacidade Maior.
diminuída de pensar ou concentrar-se, ou Os sintomas depressivos no Trans-
indecisão, quase todos os dias (por relato torno Distímico tendem a menor gravida-
subjetivo ou observação feita por outros); de, porém maior cronicidade e persistência
(9) pensamentos de morte recorrentes (não que no Transtorno Depressivo Maior.
apenas medo de morrer) ideação suicida Uma peculiaridade da depres-
recorrente sem um plano específico, ten- são entre idosos é a interferência em sua
tativa de suicídio ou plano específico para capacidade funcional principalmente na
cometer suicídio. Os sintomas devem cau- mobilidade, podendo gerar uma síndro-
sar um sofrimento clinicamente significati- me conhecida como “medo de cair”. Em
vo ou prejuízo no funcionamento social ou um estudo transversal muito interessante,
ocupacional ou em outras áreas importan- Kempen et al. investigaram sintomas de-
tes da vida do indivíduo. pressivos entre idosos que evitavam sair
O diagnóstico do Transtorno Dis- de casa ou realizar algumas atividades por
tímico ou distimia baseia-se nos seguintes causa do medo de cair; os autores avalia-
critérios: Humor deprimido na maior parte ram 540 idosos de 70 anos ou mais que

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viviam na comunidade; dos que relatavam depressão. Não foram identificados acha-
medo de cair, 28,2% e 26,1% referiram, dos laboratoriais diagnósticos de um epi-
respectivamente, sintomas de ansiedade e sódio depressivo maior ou da distimia,
depressão11. entretanto, diversos achados laboratoriais
anormais foram encontrados em indivídu-
os com depressão, em comparação com os
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL não deprimidos.
A avaliação geral do idoso depri-
O diagnóstico diferencial mais mido em busca de alterações endócrinas,
importante deve ser feito entre os trans- doenças metabólicas ou outras patologias
tornos depressivos e as demências. Estas é fundamental. Orienta-se uma rotina bá-
duas patologias são muito prevalentes na sica de sangue que inclua: hemograma,
população idosa, podendo estar superpos- íons, escórias, glicemia, hormônios tireoi-
tas, dificultando o diagnóstico, tratamento dianos, ácido fólico, vitamina B12, função
e piorando o prognóstico. hepática, sorologia para sífilis, urinálise,
A “Pseudodemência depressiva” é radiografia de tórax e eletrocardiograma9.
uma entidade clínica que atribui os sinto- Anormalidades no eletroencefalo-
mas cognitivos à depressão que, se tratada grama podem aparecer de 40% a 60% em
adequadamente, reverteria o quadro cog- pacientes ambulatoriais e em até 90% dos
nitivo. Há evidências de que a depressão internados com transtornos depressivos.
poderia ser o início de um quadro demen- Achados na polissonografia tam-
cial10. O estado pré-mórbido pode ajudar a bém são comuns e incluem: 1) perturba-
diferenciar entre um episódio depressivo ções na continuidade do sono, tais como
e um processo demencial. Nesse, existe latência de sono prolongada, despertares
geralmente uma história anterior de declí- intermitentes aumentados e despertar nas
nio das funções cognitivas, ao passo que primeiras horas da manhã; 2) redução dos
indivíduos deprimidos estão muito mais estágios 3 e 4 (sono de ondas lentas) do
propensos a ter um estado pré-mórbido re- sono de movimentos oculares não rápidos
lativamente normal e um abrupto declínio (NREM), com um deslocamento da ativi-
cognitivo associado aos sintomas depres- dade de ondas lentas para longe do primei-
sivos. Diferenciar a depressão de tristeza ro período NREM; 3) latência REM dimi-
também é fundamental, pois períodos de nuída (isto é, menor duração do primeiro
tristeza são aspectos inerentes à experi- período NREM); 4) maior atividade REM
ência humana. Esses não devem ser con- fásica (isto é, o número de movimentos
fundidos com um transtorno depressivo, oculares presentes durante o sono REM);
a menos que sejam satisfeitos os critérios 5) maior duração do sono REM no início
diagnósticos previamente descritos. da noite12.
Os neurotransmissores implica-
dos na fisiopatologia da depressão incluem
EXAMES COMPLEMENTARES norepinefrina, serotonina, acetilcolina, do-
pamina e ácido gama-aminobutírico. As
Apesar do grande avanço na área evidências implicando esses neurotrans-
da propedêutica médica, até o momento missores incluem medições de seus níveis
no sangue, líquor ou urina e funcionamen-
nenhum marcador biológico laboratorial to dos receptores plaquetários. Estes exa-
ou exame de imagem pode ser utilizado mes são pouco utilizados no dia a dia da
como patognomônico no diagnóstico da prática clínica.

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ESTUDOS DE NEUROIMAGEM através de uma revisão sistemática de 52


publicações e concluíram que as doenças
A utilização da neuroimagem vem degenerativas, a dependência funcional
ganhando terreno nas patologias psiquiá- e os transtornos mentais, principalmen-
tricas. A tomografia computadorizada e a te a depressão grave, estavam fortemente
ressonância nuclear magnética são úteis associados à tentativa de suicídio; outros
no diagnóstico diferencial dos tumores, fatores associados foram: perdas de entes
doenças degenerativas e das hemorragias queridos, abandono, solidão e conflitos fa-
intracranianas. Os exames de imagem para miliares13.
avaliação de função como o PET e SPECT
scan não são recomendados nessa rotina,
embora pesquisadores os tenham utilizado ESCALAS UTILIZADAS PARA
no diagnóstico diferencial com diversos ti- RASTREAMENTO DE SINTOMAS
pos de demência. DEPRESSIVOS
Vários grupos de pesquisa estão
usando a ressonância nuclear magnética Para o auxílio no diagnóstico das
cerebral funcional (RNMf) para avaliar a síndromes depressivas na população idosa,
função cerebral de idosos com diagnóstico o uso sistemático de instrumentos padroni-
de depressão e a associação entre humor zados pode facilitar sua detecção tanto em
e cognição. Idosos deprimidos apresentam estudos populacionais quanto na prática
diminuição da atividade do córtex pré- clínica. Atualmente, muitas escalas estão
frontal dorsolateral (CPDL) e da conecti- disponíveis para a avaliação de sintomas
vidade entre o CPDL e o córtex dorsal an- depressivos, algumas já foram validadas e
terior do cíngulo. são confiáveis. Abaixo, apresentaremos as
Para o estudo da depressão vascu- mais citadas na literatura para estudos em
lar, a RNM tem sido amplamente utilizada idosos.
e pesquisadores têm encontrado alterações
na substância branca particularmente nas a)Inventário de Depressão de Beck: foi
regiões pré-frontais de idosos deprimidos descrito em 1961. São 21 itens divididos
quando os comparam com idosos sem de- em categorias, cada uma delas descreve
pressão. uma manifestação comportamental especí-
fica dos indivíduos deprimidos observados
(Beck et al.,1961)14;
SUICÍDIO
b)Escala de depressão de Zung: desenvol-
Suicídio é um final trágico para vida em 1965. Tem 20 itens, cada um deles
a existência humana. No Brasil, a taxa de com 4 possíveis respostas, a saber: nunca
suicídio oscila entre 3,5 e 4,0 por 100.000 ou poucas vezes, algumas vezes, boa parte
habitantes, enquanto em alguns países da do tempo e a maioria do tempo. É autoa-
Europa esta taxa está em 29 por 100.000. plicável ou por um entrevistador, simples
Entre idosos, a relação entre os que tentam e breve, como no caso do inventário de
o suicídio e os que conseguem êxito é de Beck, apoia-se em sintomas somáticos15;
2:1 revelando que a intenção do autoexter-
mínio é real e consistente13. c)Inventário de depressão de Hamilton:
Minayo & Cavalcante analisaram foi desenvolvido em 1967, consiste em 17
os fatores associados ao suicídio em idosos itens, a saber: humor deprimido, sentimen-

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tos de culpa, ideação suicida, atividades, tem 30 itens e a versão reduzida tem 15
insight, retardo ou agitação, insônia, ansie- itens (EDG-15)20. Suas vantagens incluem
dade, sintomas gastrointestinais, sintomas a pequena variação das respostas: sim/
gerais, perda da libido, hipocondria e per- não, diferente de outras que comportam
da de peso. É amplamente usada e inclui múltiplas opções, é de simples aplicação,
componentes cognitivos e comportamen- não necessita de um profissional da área
tais da depressão, também avalia queixas da saúde mental para sua aplicação, pode
somáticas como as anteriores. É útil para ser autoaplicada ou por um entrevistador
avaliar a gravidade dos quadros depressi- treinado. Paradela et al. estudaram a vali-
vos, é aplicada por um entrevistador16; dade concorrente da versão em português
da EDG com 15 itens em uma amostra de
d)Escala de depressão do centro de estu- 217 idosos atendidos em um ambulatório
dos epidemiológicos: foi desenvolvida em geral, de acordo com os critérios do DSM-
1977 por Radloff et al. São 20 itens com IV para o episódio de depressão maior ou
uma ampla variedade de questões sobre o distimia. Os casos de sintomas depressivos
humor, é autoaplicável, não distingue entre detectados pela escala, após sua categori-
os efeitos emocionais de uma doença e a zação no ponto de corte 5/6, foram de 82
depressão17; (37,8%). Os casos de episódio depressivo
maior e/ou distimia diagnosticados na con-
e)Escala para depressão em dementes de sulta médica foram de 17%. Para o ponto
Cornell: esta escala foi desenvolvida por de corte 4/5, a sensibilidade encontrada
Alexopoulos et al. em 1988, avalia altera- foi de 86,5% e especificidade de 63,3%. O
ções de humor, comportamento e distúr- ponto de corte 5/6 obteve uma sensibilida-
bios físicos e de ideação em pessoas com de de 81,08% e especificidade de 71,1%21.
prejuízo cognitivo. Tem 19 itens, é aplica-
da pelo entrevistador ao paciente e ao cui-
dador, requer duas entrevistas7; TRATAMENTO

f)Montgomery & Åsberg (MDRS): tem Todos os indivíduos com diag-


sido largamente utilizada em pesquisa, nóstico de Transtorno Depressivo Maior,
particularmente em ensaios com medi- distimia ou SDCS devem receber trata-
camentos antidepressivos, como critério mento; este poderá ser medicamentoso,
clínico de inclusão, ou medidas de evo- psicoterápico ou ambos. A associação das
lução ou de recuperação de um episódio duas intervenções aumenta a eficácia do
depressivo. Não inclui sintomas somáticos tratamento e reduz o risco de recaídas. A
ou psicomotores, entretanto, avalia alguns duração mínima do tratamento com doses
dos principais sintomas do transtorno de- terapêuticas de antidepressivos deve ser
pressivo, tais como tristeza, redução do entre seis e nove meses para os casos de
sono, lassidão, pessimismo e pensamentos primeiro episódio, dois a quatro anos para
suicidas. Seus itens incluem aspectos bio- o segundo e considerar o tratamento conti-
lógicos, cognitivos, afetivos e comporta- nuado para os casos de segundo episódio
mentais18; grave ou para os casos de terceira ou mais
recorrência ou recaída22-24.
g)A escala de depressão geriátrica (EDG): Dentre os antidepressivos mais
foi descrita na língua inglesa por Yesa- estudados em idosos estão os tricíclicos
vage et al., em 198319. A escala original (ADT) como a nortriptilina, imipramina

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e amitriptilina e os inibidores seletivos cessitarão de tratamento medicamentoso; a


de recaptação da serotonina (ISRS) como depressão nestes pacientes está associada à
fluoxetina, sertralina, paroxetina, o citalo- progressão rápida dos sintomas motores e
pram e o escitalopram. ao declínio cognitivo. A droga de escolha
Os ADT são muito eficazes no tra- para estes indivíduos são os inibidores da
tamento da depressão em idosos, eles são recaptação da serotonina5.
adequados para indivíduos com depressão Em idosos que sofreram um infar-
e insônia, são analgésicos, aumentam o to agudo do miocárdio, 20% evoluem com
apetite e melhoram a incontinência uriná- depressão maior, isto aumenta a mortalida-
ria de urgência. Alguns cuidados com es- de e a droga de escolha é a serotonina devi-
tas drogas em idosos devem ser tomados, do ao seu papel na regulação plaquetária26.
pois os ADT causam confusão mental, hi- Os antidepressivos tricíclicos devem ser
potensão postural, constipação intestinal, evitados nestes indivíduos, pois aumentam
diminuição do limiar convulsivo, ativida- o risco de morte pós-IAM devido a sua ati-
de pró-arrítmica e a retenção urinária. Não vidade pró-arrítmica e a venlafaxina tam-
devem ser utilizados após o IAM. bém deve ser evitada em cardiopatas pelo
Os inibidores seletivos de recapta- risco de aumento da pressão arterial.
ção da serotonina (ISRS) são, atualmente, Em idosos que sofreram acidentes
os medicamentos de primeira escolha para vasculares encefálicos de 30 a 50% desen-
o tratamento medicamentoso dos transtor- volverão sintomas depressivos conhecidos
nos do humor em idosos devido ao melhor como “Depressão Vascular” e os inibido-
perfil de tolerância e a comprovada efi- res seletivos da recaptação da serotonina
cácia no tratamento da depressão. Dentre também são as drogas de primeira escolha
os ISRS, o citalopram e a sertralina têm para o tratamento destes pacientes, pois
menor potencial de interação medicamen- elas diminuem o risco de morte nestes in-
tosa. Deve-se usar a dose necessária para divíduos6.
a remissão total dos sintomas levando-se Cerca de 20% dos idosos com
em conta a tolerância dos indivíduos aos síndromes demenciais evoluem com sin-
efeitos colaterais e as doses sugeridas pe- tomas depressivos. Estes sintomas podem
los fabricantes. ser confundidos com a apatia causada pela
Os novos antidepressivos conhe- demência, porém outros sinais e sintomas
cidos como inibidores da recaptação da podem sugerir o diagnóstico de depressão
serotonina e noradrenalina (IRSN) como a e um teste terapêutico com antidepressivos
venlafaxina, a mirtazapina e a duloxetina deve ser usado quando há dúvida diagnós-
vem sendo muito utilizados nestes pacien- tica, pois o tratamento medicamentoso me-
tes a despeito do alto custo, porém, estudos lhora o sono, o apetite, a capacidade cogni-
revelam que a eficácia destas novas drogas tiva e funcional destes indivíduos18.
não é maior que os ADT ou ISRS25.

DEPRESSÃO REFRATÁRIA
DEPRESSÃO E OUTRAS DOENÇAS
CRÔNICAS A depressão não responsiva ao uso
de duas drogas de classes diferentes por
Os idosos com a Doença de Parkin- um período de 6 a 12 semanas em doses
son têm 50% de chance de evoluírem com adequadas é chamada de depressão refra-
sintomas depressivos importantes, que ne- tária; nestes casos, devem ser consideradas

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as seguintes questões: 10% dos deprimidos CONCLUSÕES


não respondem ao tratamento medicamen-
toso; 30% apresentam resposta parcial ao A depressão é uma condição clí-
tratamento; possibilidade de erro diagnós- nica de grande relevância em idosos pois
tico como, por exemplo: demência com aumenta a morbimortalidade, impacta ne-
apatia, transtorno de personalidade e tu- gativamente a capacidade funcional e a
mores frontais. No caso da confirmação qualidade de vida destes indivíduos. Deve
da síndrome depressiva refratária, existem ser investigada de maneira rotineira, pois é
algumas tentativas medicamentosas como: uma condição muito prevalente e tratável;
associar dois antidepressivos de classes a melhora dos sintomas e a remissão com-
diferentes; associar um estabilizador do pleta do quadro são possíveis e deve ser
humor ao antidepressivo; associar um an- perseguida. Os profissionais da saúde que
tipsicótico atípico ao antidepressivo e, por lidam com este grupo etário devem ficar
último, mas não menos importante, consi- atentos aos sintomas depressivos masca-
derar a eletroconvulsoterapia (ECT)27. rados, como dores inespecíficas, adinamia,
insônia, perda de peso sem causa óbvia e
queixas subjetivas de perda da memória,
ELETROCONVULSOTERAPIA evitando imputar estas queixas ao envelhe-
cimento fisiológico sem doenças associa-
A ECT produz uma crise convul- das.
siva com liberação de neurotransmissores
no tecido cerebral; tem ação mais rápida
que qualquer medicação e é segura tanto REFERÊNCIAS
na fase aguda quanto na prevenção de re-
caídas. Habitualmente, são feitas sessões 1.Veras RP. Envelhecimento populacional contem-
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Depressão em idosos

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to experience pleasure or joy). There is a
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Ano 10, Janeiro a Março de 2011 39


Depressão em idosos

physical symptoms. Delusions or halluci- non-specific pain, adynamia, insomnia, wei-


nations may occur congruent to mood as ght loss and subjective complaints of memory
excessive guilt or of very bad health de- loss, avoiding attributing such complaints
lusions, poverty or persecutory delusions; to aging once the available treatments gre-
hallucinations are less common, althou- atly improve symptoms and quality of life
gh they may appear, but tend to be visu- of affected individuals.
al or olfactory. Health professionals who
deal with this age group should watch for KEYWORDS: Depression; Depressive
symptoms of depression masked such as Symptoms; Elders.

40 Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


TITULAÇÃO DOS AUTORES

Luiz Augusto Brites Villano Lilian Oliveira e Cruz de Aragão


Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas/ Psicóloga do HUPE/UERJ.
UERJ; Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medi-
cina Social da UERJ; Doutor em Psiquiatria e Psicologia Marcos C.F. Baptista
Médica pela Universidade Federal de São Paulo. Médico psiquiatra e psicanalista. Professor colaborador
e Coordenador do Setor de Psicoterapia e Psicanálise da
Abdon L.G. Nanhay UDA de Psiquiatria/FCM/UERJ.
Professor Docente da Secretaria Estadual de Educação do
Rio de Janeiro; Médico pela Faculdade de Ciências Médi- Osvaldo Luiz Saide
cas/UERJ. Livre-Docente e Professor Adjunto de Psiquiatria; Coor-
denador do PROEXA – Programa de Extensão em Alco-
Amaury José da Cruz Junior ologia (UERJ).
Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Perícias Mé-
dicas; Médico da Equipe do Proexa/UERJ; Médico Perito
Sheila Abramovitch
Judicial; Médico do Trabalho.
Professora adjunta de Psiquiatria da Infância e Adolescên-
cia da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ.
André Luiz Carvalho Netto
Médico psiquiatra, com Residência na especialidade no
Silvana A.T. Ferreira
HUPE/UERJ.
Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina
Social da UERJ; Professora da disciplina de Psiquiatria do
Emylucy M P Paradela Departamento de Especialidades Médicas da Faculdade
Professora visitante do Departamento de Medicina Inter- de Medicina da UERJ.
na da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ; Mestre e
Doutora em Saúde Pública pelo Instituto de Medicina So-
Thaís Simões
cial da UERJ; Especialista em Geriatria pela Associação
Médica psiquiatra, com Curso de Especialização na espe-
Medica Brasileira.
cialidade na FCM/UERJ.

Gabriela Serfaty
Médica Residente de Psiquiatria do HUPE/UERJ.

Ano 10, Janeiro a Março de 2011 9

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