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Esta publicação é direcionada para profissionais em treinamento ou em atividade no campo da Saúde Mental e não para o
público em geral. As opiniões expressas são as dos autores e não necessariamente representam o ponto de vista do Editor ou
da IACAPAP. Esta publicação busca descrever os melhores tratamentos e condutas baseados nas evidências científicas
disponíveis e avaliadas pelos autores no momento da escrita da mesma e esses podem mudar de acordo com o resultado de
novas pesquisas. Os leitores devem aplicar tal conhecimento em pacientes em concordância com as diretrizes e leis do
respectivo país de atuação. Algumas medicações podem não estar disponíveis em alguns países e os leitores devem consultar
as informações específicas das drogas, pois nem todas as dosagens e efeitos adversos são mencionados. Organizações,
publicações e websites são citados e linkados para ilustrar problemas ou como fonte de mais informações. Isso não significa
que os autores, o Editor ou a IACAPAP endossam seus conteúdos ou recomendações, os quais devem ser criticamente
avaliados pelo leitor. Websites também podem mudar ou deixar de existir. ©IACAPAP 2012. Essa é uma publicação de livre
acesso sob a Licença Creative Commons Attribution Non-commercial License. Uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio são permitidos sem permissão prévia desde que o trabalho original seja devidamente citado e o uso seja não comercial.
Citação sugerida: Rey JM, Bella-Awusah TT, Jing L. Depression in Children and Adolescents. In Rey JM (ed), IACAPAP e-
Textbook of Child and Adolescent Mental Health (edição em Português; Dias Silva F, ed). Genebra: International Association
for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions 2018.
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D
epressão maior é um transtorno episódico e recorrente, caracterizado por Conflito de interesses:
tristeza e infelicidade persistentes e penetrantes, perda do prazer em nenhum declarado.
Agradecimentos: nossa
atividades cotidianas, irritabilidade, e sintomas associados, como pensamento
gratidão aos doutores
pessimista, perda de energia, dificuldade em atenção e concentração, Olga Rusakovskaya
inapetência e perturbação do sono. As manifestações podem variar de acordo (Rússia) e Jenifer Bergen
(Austrália) e pelos seus
com a idade, gênero, contexto cultural ou educacional. Os muitos subtipos de comentários
depressão são identificados baseados na gravidade, penetrância, prejuízo funcional, ou pela
presença de episódio maníaco ou psicótico.
EPIDEMIOLOGIA
A prevalência varia, dependendo da população (por exemplo, pelo país), do período
considerado (p.ex. último trimestre, último ano, ao longo da vida), do informante
(cuidadores, pacientes) e dos critérios usados para o diagnóstico. A maioria dos estudos
mostra entre 1% e 2% de prevalência para pré-púberes e cerca de 5% para adolescentes,
para um quadro depressivo clinicamente significativo em qualquer período. A prevalência
acumulada (acúmulo de casos novos em indivíduos sem histórico ao longo da vida, ou
prevalência ao longo da vida) é maior. Por exemplo, por volta dos 16 anos, 12% das moças
e 7% dos rapazes teriam sofrido algum episódio depressivo ao longo da vida (Costello et
al. 2003). A prevalência de transtorno distímico é menos conhecida, mas estudos sugerem
uma taxa de 1% a 2% em crianças e 2% a 8% nos adolescentes. Posteriormente, foram
estimados 5 a 10% de jovens com sintomas subsindrômicos de depressão (ou “depressão
menor”). Depressão menor na juventude traz algum prejuízo funcional, aumento no risco
de suicídio e de desenvolver depressão maior.
Gênero e Cultura
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Depressão E.1 3
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Curso
Semelhante ao que acontece com adultos, a depressão na juventude apresenta-se
Reatividade do afeto
com um padrão de recorrência. Um episódio depressivo em pacientes clínicos dura, em em adolescentes
média, de 7 a 9 meses, mas pode ser mais curto em amostras comunitárias não-clínicas. deprimidos.
Portanto, episódios depressivos são, na sua média, condições de remissão espontânea. “Hoje eu vou levantar
Contrariamente, há 40% de probabilidade de recorrência dentro de 2 anos. Recorrência é da cama. Hoje eu vou
alta mesmo após tratamento. Por exemplo, os participantes de um seguimento de 5 anos do para a escola. Hoje farei
“Treatment of Adolescent Depression Study (TADS)” mostraram que, apesar de a imensa minhas provas de
matemática. Hoje vou
maioria (96%) recuperarem do primeiro episódio, quase metade (46%) apresentou dar conta do meu
recorrência após 5 anos (Curry et al, 2010). projeto de Inglês na
hora do almoço e vou
A chance de novos episódios na idade adulta é de até 60% (Birmaher et al, 1996). socializar com meus
Logo, a doença depressiva deveria ser conceitualizada como um transtorno com remissões amigos. Eu vou rir, zoar
e conversar com meus
e recorrências. Isso promove implicações importantes no manejo, cujo objetivo deve ser
amigos. Vou contar
não apenas reduzir a duração do episódio recorrente e diminuir consequências, mas também estórias engraçadas do
prevenir tais recorrências. Preditores de recorrência incluem: pouca resposta ao tratamento, meu fim de semana e
maior gravidade, cronicidade, episódios prévios, presença de comorbidades, desesperança, sem perceber, já vai ter
acabado a escola e
estilo cognitivo negativo, problemas familiares, pior condição socioeconômica, e
ninguém vai saber
exposição a abuso ou a conflito familiar (Curry et al, 2010). como me sinto por
dentro. Então, quando
SUBTIPOS DE DEPRESSÃO eu chegar em casa, vou
poder voltar para a
Tipificar a doença depressiva é relevante porque o tipo de depressão pode cama e terei que fingir
influenciar o tratamento e o prognóstico. Por exemplo, transtorno de humor sazonal pode para mais ninguém.“ As
especificamente responder com fototerapia, e o tratamento da depressão bipolar é diferente palavras acima são de
uma chamada de um
da depressão unipolar. Com a exceção da distinção de unipolar / bipolar, muitos outros jornal para o qual
subtipos (p. ex., primário e secundário, endógeno e reativo, neurótico e psicótico) foram escrevi em Abril de
propostos ao longo dos anos, geralmente sem dados empíricos convincentes ou evidência 2000. Na época, eu
tinha 14 anos. Nathan
de valor clínico. Há atualmente divergências de opiniões na utilidade da dicotomia
B. “E Então as Minhas
melancólico vs. não-melancólico. Alguns desses conceitos ainda são populares em alguns Lágrimas Amenizaram”
países ou contextos. Os subtipos de depressão mais usados, independente da validade
http://www.blackdoginstitute.
cientifica, estão resumidos na tabela E.1.2. org.au/docs/
AndThenMyTearsSubsided.
ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO pdf
Depressão E.1 4
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COMORBIDADES
A ocorrência simultânea de duas ou mais doenças distintas no mesmo indivíduo é
um assunto comum e complexo nos dos transtornos mentais em crianças e adolescentes, e
tem implicações teóricas e práticas importantes – por exemplo para tratamento – e ainda
não está bem entendida.
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diagnóstico. A comorbidade é também associada com desfechos piores na vida adulta. Por Depressão
exemplo, depressão na infância comórbida com transtorno de conduta ou uso de “mascarada”:
substâncias está associada a maior probabilidade de cometer crime violento ou severo por Até a segunda metade do
volta dos 24 anos, do que qualquer um deles isolados (Copeland et al, 2007). século 20, acreditava-se
que a depressão na
Transtornos psiquiátricos geralmente comórbidos com depressão incluem infância não existia. Na
década de 50, emergiram
transtornos de ansiedade, problemas de conduta, transtorno de déficit de atenção e novas teorias postulando
hiperatividade (TDAH), transtorno obsessivo compulsivo, e dificuldades de aprendizagem. que depressão nesse
Um estudo epidemiológico (Costello et al, 2003) mostrou que em um período de 3 meses, grupo etário de fato existia,
mas que não se
28% dos jovens diagnosticados com transtorno depressivo também tinham transtorno de expressava como tal,
ansiedade, 7% TDAH, 3% transtorno de conduta, 3% transtorno de oposição e desafio e porém através de
equivalentes depressivos.
1% transtorno por uso de substâncias. A implicação clínica de estabelecer se a criança está Entre eles, problemas de
apresentando sintomas de uma condição (como depressão) é só um primeiro passo na conduta, hiperatividade,
queixas somáticas,
avaliação; clínicos devem questionar sintomas de outras condições também. enurese e problemas
escolares. Sendo assim,
A ligação entre depressão e ansiedade já é bem conhecida porque sintomas de as crianças poderiam estar
ambos geralmente coexistem e os indivíduos frequentemente vivenciam episódios deprimidas e expressar a
depressão diferentemente
depressivos e ansiosos em momentos diferentes ao longo da vida. Passar por um episódio dos adultos – depressão
depressivo não só aumenta as chances de próximos episódios depressivos (continuidade mascarada. Tal conceito
homotípica), mas também de episódios ansiosos (continuidade heterotípica). foi muito criticado e
subsequentemente
abandonado. Na década
Depressão é frequentemente comórbida de transtorno de estresse pós-traumático de 70, pesquisadores
(vide capítulo F.5). Particularmente, adolescentes são vulneráveis a depressão e começaram a mostrar que
a depressão na infância
suicidalidade durante o ano seguinte ao evento traumático. Os mecanismos incluem a
realmente existia e tinha
chamada culpa do sobrevivente (em que os outros vieram a óbito ou sofreram danos muitos sintomas
graves), luto complicado, problemas em gerenciar tarefas cotidianas devido a concentração semelhantes aos adultos.
Uma vez que crianças
prejudicada, memórias intrusivas do trauma, e desconforto causado por sintomas crônicos deprimidas podem
de ansiedade. Outras complicações psiquiátricas do estresse traumático que podem inicialmente apresentar
uma variedade de
interagir com depressão incluem transtorno de pânico, outros transtornos de ansiedade, sintomas que pode
comportamentos disruptivos, transtorno dissociativo, e uso de substâncias. esconder o quadro
depressivo (como birras,
Depressão e perfil de personalidade cefaleia, fadiga,
dificuldades de
Os traços de personalidade tornam-se progressivamente estáveis ao longo da concentração), um clínico
competente de ser apto a
adolescência e início da idade adulta, e os estilos de personalidade podem influenciar na descobrir a depressão
apresentação e manifestação da depressão. Isso já é claro em adultos, mas ocorre também (Carlson & Cantwell, 1980)
na juventude.
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Cerca de 60% dos jovens deprimidos afirmam já terem tido pensamentos suicidas
e 30% de fato tentam suicídio. O risco aumenta se:
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DIAGNÓSTICO
Apesar de o diagnóstico em si não ser normalmente difícil, a depressão em crianças Sintomas de
e adolescentes é frequentemente subdiagnosticada ou não é tratada. Jovens tendem a depressão:
apresentar inicialmente queixas físicas ou comportamentais que podem obscurecer os
Sintomas principais:
sintomas depressivos típicos observados em adultos. Queixas que devem alertar os clínicos • Tristeza ou infelicidade
para possível quadro depressivo incluem: persistentes
• Perda no interesse ou
• Irritabilidade ou humor rancoroso prazer nas atividades
diárias
• Tédio crônico ou perda de interesse em atividades previamente prazerosas (por • Irritabilidade.
exemplo, largar atividades esportivas, dança, aulas de música) Sintomas associados:
• Pensamento negativo
• Retraimento social, ou não querer mais sair com os amigos ou baixa autoestima
• Desesperança
• Ausências na escola • Ideias indesejáveis de
culpa / remorso /
• Queda na performance acadêmica desvalia
• Pensamentos de morte
• Mudança no padrão do sono (por exemplo, mais sonolência diurna e se recusar em ir à e ideações suicidas
escola) • Perda de energia / mais
fadigabilidade
• Queixas frequentes inexplicadas de “estar mal”, cefaleias, epigastralgia • Dificuldade de
concentração
• Problemas comportamentais (conduta desafiadora, fugas de casa, realizar bullying • Alteração do apetite
(mais ou menos)
contra colegas) • Problemas de sono
(insônia ou hipersonia).
• Uso de substâncias psicoativas
É importante ressaltar que os sintomas de conduta devem ser uma mudança no padrão
de funcionamento do adolescente. Por exemplo, depressão deve ser considerada uma
possibilidade para um adolescente de 14 anos com história atual de sintomas opositores e
de conduta, mas com histórico prévio sem queixas de conduta ou oposição. De forma
semelhante, a depressão pode ocorrer em uma jovem de 15 anos com baixo rendimento
escolar atual, mas que antes era uma das melhores da classe.
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• Insônia ou hipersonia
Gravidade
Avaliar a gravidade de um quadro depressivo é importante porque as diretrizes de
tratamento se baseiam na gravidade do quadro para indicar qual o tratamento deve ser feito
primeiro. Todavia, as definições atuais de gravidade estão inadequadas; avaliação de
gravidade é amplamente baseada em julgamento clínico e depende muito da habilidade e
experiência pessoal do clínico. A tabela E.1.4 fornece um guia sobre avaliação de
gravidade. Escalas de depressão também podem auxiliar na avaliação.
Além dos sintomas depressivos e do prejuízo, outros fatores (por exemplo, risco
para si ou para terceiros) influenciam decisões de tratamento, particularmente sobre o
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contexto de tratamento mais apropriado. Por exemplo, um adolescente com alto risco de
suicídio pode requerer hospitalização, enquanto um quadro depressivo tão grave quanto,
mas com baixo risco de suicídio, pode não requerer a internação.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Tristeza e infelicidade são componentes da experiência humana normal,
principalmente quando sucedem perdas ou frustrações. Algumas vezes, no entanto, esses
sentimentos são tão intensos e persistentes que os indivíduos tornam-se incapazes de serem
funcionais em seu nível habitual. É nessas situações que os rótulos de “depressão clínica”,
“depressão maior”, “doença depressiva”, ou “melancolia” são aplicados. As pessoas citam
diariamente se sentirem “deprimidas”, com o significado de se sentirem infelizes, tristes,
ou “para baixo”. A questão é diferenciar a depressão clínica por um lado, dos altos e baixos
normais da vida do adolescente, e por outro lado, de condições que podem mimetizar a
depressão.
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Unipolar ou Bipolar?
Um ponto-chave da avaliação de um quadro depressivo é certificar de se ser uma
depressão unipolar ou bipolar devido a implicações no tratamento. Apesar de a
apresentação clínica poder ser semelhante em ambos, há características mais sugestivas de
se tratar de um episódio de depressão bipolar, como histórico familiar de transtorno bipolar,
e a presença de sintomas psicóticos ou de catatonia. Entretanto, o diagnóstico de transtorno
bipolar não deve ser feito sem pelo menos um episódio de mania, hipomania ou quadro
misto, sem indução por substâncias. A suspeita vai encorajar a conduzir a entrevista em
busca de sintomas hipomaníacos ou maníacos no passado. A distinção é mais difícil porque
o transtorno bipolar geralmente se inicia com quadros depressivos, sem história prévia de
sintomas maníacos.
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O luto pode ter apresentação clínica muito similar ao quadro depressivo, mas a
depressão não pode ser diagnosticada se os sintomas não forem severos, persistentes e
incapacitantes (culpa persistente e inapropriada, sentimento de desvalia, perda funcional
significativa). Sintomas de luto tendem a diminuir com o passar dos dias ou semanas, e
geralmente estão vinculados a pensamentos saudosistas do ente falecido, não têm a
penetrância de um quadro depressivo, podem apresentar períodos de sentimentos mais
Virada Maníaca
positivos e leve melhora do humor e, diferente do sentimento persistente de desvalia da
depressão, a autoestima geralmente está intacta. A taxa de viradas para
hipomania ou mania
ESCALAS DE QUANTIFICAÇÃO em jovens com
depressão é maior que
em adultos, com alguns
Existem inúmeras escalas de depressão para crianças e adolescentes. A Escala de pesquisadores
Depressão de Hamilton, apesar de amplamente usada em adultos, não tem uso extenso na referindo taxas de
população pediátrica. A Children’s Depression Rating Scale (CDRS) (Poznanski & cerca de 40%.
Entretanto, no
Mokros, 1996) também é uma escala aplicada pelo clínico e foi desenvolvida especialmente seguimento do estudo
para os jovens. Essa escala tem sido usada em ensaios mais extensos, como o TADS (Curry TADS, apenas cerca
de 6% desenvolveram
et al, 2010). Há também instrumentos diagnósticos baseados em entrevistas, como o Child
Transtorno Bipolar
and Adolescent Psychiatric Assessment (CAPA) (Agnold & Costello, 2000) que são mais dentro de 5 anos (Curry
usados em pesquisas. et al, 2010). Pode-se
concluir, a partir deste
As escalas mais usadas são autopreenchidas, a maioria possuindo versões para e de outros estudos,
que o Transtorno
jovem, dos pais e professores. Uma vez que as escalas não têm validade diagnóstica – pois Bipolar ocorrerá em
o diagnóstico depende da entrevista clínica realizada por profissional competente, de cerca de 10% dos
adolescentes
preferência entrevistando informantes-chave – tais instrumentos são mais usados para
deprimidos. As taxas
rastreamento (por exemplo, em indivíduos considerados de risco em escolas) ou para podem ser maiores se
acompanhar a resposta clínica a um tratamento ao longo do tempo (desfecho). Além disso, há histórico familiar de
Transtorno bipolar e
elas vêm sendo modificadas para serem preenchidas pelos jovens através de outras em crianças que
plataformas, como computadores, smartphones, e tablets (Stevens et al, 2008). sofrem viradas
maníacas quando
tratadas com
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antidepressivos.
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TRATAMENTO
Deve-se almejar sempre a remissão total dos sintomas e o retorno ao nível de
funcionamento pré-mórbido (recuperação). Qualquer resultado abaixo da remissão total é
considerado subótimo, pois a persistência de sintomas residuais aumenta a chance de piores
desfechos psicossociais, suicídio e outros problemas (como uso de substâncias), assim
como recaída e recorrência.
TABELA E.1.6. Escalas selecionadas para medir sintomas depressivos que são de domínio
público ou disponíveis gratuitamente para uso clínico.
Escala Fonte Comentários
Paciente, familiares • Há questionamentos sobre a especificidade da
CES-DC: (criança, adolescente) • aferição de sintomas depressivos
Center for Epidemiologic
Studies-Depression Scale
(Faulstich et al, 1986)
MFQ: Paciente, familiares, • Livre para uso clínico ou pesquisa, com permissão
Mood and Feelings professores (criança,
Questionnaire (Agnold et al, adolescente)
1995)
DSRS: Paciente (criança, • Disponível em diversas línguas
Depression Self-Rating Scale adolescente) • Poucos estudos
(Birleson, 1981)
Paciente (adolescente) • Duas versões com 6 e 11 itens, respectivamente.
• O KADS de 6 itens é feito para uso em ambientes institucionais
• (como escolas ou na atenção primária), onde pode ser usado como
KADS: • ferramenta de rastreamento para identificar jovens em risco de depressão
Kutcher Adolescent Depression • por profissionais de saúde treinados (profissionais de Atenção Primária)
Scale (Brooks et al, 2003) • ou por educadores (como conselheiros de classe) para ajudar a avaliar
• jovens que estejam sob estresse ou que tenham sido identificados como
possivelmente tendo problemas de saúde mental. Está atualmente
• disponível em inglês, francês, chinês, alemão, espanhol, português,
• coreano e polonês.
• O KADS de 11 itens está disponível em inglês, português e turco.
PHQ-A: Paciente (adolescente) • Um breve questionário desenvolvido como parte do pacote PRIME-MD,
Patient Health Questionnaire- • fundado pela Pfizer
Adolescent (Johnson et al,
2002)
SDQ: Paciente (adolescente), • Afere psicopatologia geral, mas uma subescala pode ser usada para
Strengths and Difficulties familiares, professores • rastrear o risco de depressão
Questionnaire (Goodman et al., • Razoavelmente sensível e específico para rastrear doença depressiva
2000) • “provável”
• Pode ser completado pelo jovem on-line e recebe feedback
• imediato no: site
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Na maioria dos casos, é de bom tom envolver os cuidadores na avaliação do processo de Os alvos do
tratamento (por exemplo, em discussões sobre opções disponíveis e possíveis riscos e tratamento são:
benefícios), mas o grau de envolvimento dependerá da idade do paciente, estágio de
• Reduzir os sintomas e
desenvolvimento, seus desejos pessoais e circunstâncias, e do contexto sociocultural. prejuízos funcionais ao
Reservar um tempo para isso fortalecerá a relação terapêutica, melhorará a adesão ao mínimo
• Encurtar o episódio
tratamento e o próprio desfecho. Recomenda-se que sempre se monitore a gravidade dos
depressivo
sintomas com uma escala quantitativa (vide tabela E.1.6). O risco de suicídio deve também • Prevenir recorrências.
ser avaliado regularmente e apenas na entrevista inicial porque esse risco tende a ser
flutuante.
Medidas de suporte
Muitos pacientes buscam auxílio após uma crise (por exemplo, uma tentativa de
suicídio); nessas circunstâncias com alta carga emocional, os sintomas tendem a ser
exacerbados. Lidar com a própria crise pode ser o suficiente para lidar com a própria
depressão particularmente no contexto de atenção primária. Como parte do manejo de Clique na imagem
apoio, avaliar o adolescente – e os pais, se apropriado – em duas ou três ocasiões permite para acessar o
uma avaliação mais profunda da doença e dos fatores mantenedores, bem como discutir parâmetro de práticas
em transtornos
opções de tratamento, riscos e efeitos colaterais com mais detalhes. Portanto, manejo de
depressivos da
apoio e uma conduta expectante são estratégias úteis quando risco de suicídio é baixo e o American Academy of
quadro em geral não é grave. Child & Adolescent
Psychiatry (2007).
Intervenções Psicossociais
As intervenções psicossociais (vide tabela E.1.7), em particular a Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC) e Psicoterapia Interpessoal (TIP) aparentam ser efetivas
no tratamento de quadros leves a moderados, apesar do número e qualidade limitados de
estudos avaliando especificamente as terapias. O número ideal de sessões em TCC ou TIP
é desconhecido, mas a maioria dos estudos reportam sessões semanais de uma hora, com
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A TIP tem muitas semelhanças com TCC. Por exemplo, as metas são ligar o humor
com eventos interpessoais acontecendo no momento, para promover psicoeducação sobre
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• Motivos da prescrição
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A boa prática recomenda retornos semanais (pessoalmente ou, quando não possível,
pelo telefone) no primeiro mês de prescrição. Esses retornos permitem um manejo no apoio
e monitorização dos efeitos adversos e resposta (pela aplicação de uma escala de sintomas
a cada consulta).
Tratamento subótimo – baixa dose ou por tempo abaixo do necessário – é uma falha Uma sessão típica de
comum na prática clínica. Apesar de ser importante iniciar o tratamento com doses TCC começa pelo
estabelecimento
reduzidas, a quantidade de medicação deve ser aumentada progressivamente até que os
colaborativo de uma
sintomas diminuam ou apareçam os efeitos colaterais, tendo em mente que há uma grande agenda para a sessão,
variação individual na dose necessária do medicamento. revisando tarefas de
casa da semana
Efeitos colaterais da medicação anterior, ensinando e
praticando a técnica
cognitivo-
Uma vez que outros depressivos não ISRSs são raramente usados na juventude,
comportamental do dia,
somente os efeitos colaterais destes são discutidos a fundo. No caso dos tricíclicos, efeitos abordando crises e
colaterais anticolinérgicos e cardiotoxicidade são os principais, enquanto crises assuntos relacionado a
vivências do jovem ao
hipertensivas são o principal risco dos IMAOs. longo da semana,
auxiliando o jovem a
Suicidalidade resumir as habilidade
aprendidas durante a
Tem sido sugerido que, paradoxalmente, os ISRSs podem induzir comportamento sessão, e definindo a
suicida nos jovens. Comprovar a veracidade disso é difícil porque a depressão também próxima tarefa de casa”
(Langer et al, 2009).
aumenta o risco de suicídio. Por hora, os dados são conflitantes. Por um lado, estudos com
fármacos e estudos ecológicos têm mostrado que o uso de ISRSs podem ter resultado não
em aumento, mas em redução do suicídio na juventude. Por outro lado, uma revisão do
FDA de ensaios controlados com mais de 4400 crianças e adolescentes mostrou um
pequeno, porém robusto, aumento de 2% na suicidalidade (ideação suicida e tentativas de
suicídio), majoritariamente com ISRSs, em comparação com placebo. Não houve suicídios.
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Tal fato resultou em um aviso do FDA e de outras agências reguladoras sobre o Resposta ao placebo
risco. Os mecanismos subjacentes ao fenômeno não são claros. ISRSs podem induzir e gravidade da
depressão
acatisia, agitação, irritabilidade e desinibição. Como os outros antidepressivos, os ISRSs Um dos aspectos mais
também podem induzir virada maníaca. intrigantes do tratamento
da depressão é a alta
As implicações desses achados são que os pacientes precisam ser avisados desse resposta ao placebo,
estimada entre 50 e 60% e
risco e os clínicos para fazer uso de estratégias de manejá-los, tal como com retornos ECRs que examinaram a
resposta ao tratamento
semanais no primeiro mês, e educar o paciente e a família sobre como detectar mudanças farmacológico da
no comportamento (agitação, pensamentos de automutilação) uma vez que iniciado o depressão clínica nos
jovens. Uma revisão de
medicamento. ECRs descobriu que a
resposta ao placebo era
Outros efeitos colaterais maior em crianças que em
adolescentes, entre
ISRSs também estão associados com taxas maiores de agitação, acatisia, pesadelos aqueles com quadros mais
leves, e aumentou com o
e perturbação do sono, problemas gastrointestinais, ganho ponderal, disfunção sexual número de centros
(redução da libido, anorgasmia, impotência sexual) e aumento do risco de sangramentos. participando do estudo
(Bridge et al, 2009).
A maioria desses efeitos são dose-dependentes e podem ser controlados com redução da A efetividade dos
antidepressivos não
dose. Dependendo da meia-vida do ISRS, a interrupção abrupta do tratamento pode causar parece aumentar em
sintomas de retirada, incluindo: náuseas, cefaleia, tontura e síndromes gripais (infrequente quadros mais graves, mas
a efetividade do placebo
com fluoxetina, comuns com paroxetina). Cessação abrupta pode aumentar também o risco diminui. Sendo assim, A
de recaídas e recorrência. resposta ao placebo é
similar à dos
Uso de antidepressivos na gravidez antidepressivos em quadro
leves de depressão,
enquanto a resposta é
O uso de ISRSs (os demais não são geralmente recomendados na juventude) claramente inferior à
durante a gravidez é um assunto importante devido aos relatos de os ISRSs estarem medicação na depressão
grave. No TADS por
associados a teratogênese, abortamento espontâneo e parto prematuro, baixo peso ao exemplo, onde os
nascer, e hipertensão pulmonar. As evidências são conflitantes, mas tendem a sugerir participantes estavam
gravemente deprimidos,
segurança para os ISRSs. Por conta disso, a maioria das diretrizes de tratamento ressaltam em 12 semanas, 35% dos
que tomavam placebo
que tais preocupações não devem contraindicar a prescrição de ISRSs (exceto a paroxetina) apresentaram resposta,
para o tratamento de Depressão Maior na gravidez, uma vez que os benefícios potenciais em comparação com 61%
dos tratados com
superam os riscos, levando em consideração que a depressão na gravidez tem seus próprios fluoxetina. Resultados
perigos. A paroxetina não deve ser usada devido à associação tanto com malformações similares foram
observados em adultos.
maiores e quanto específicas cardíacas (Bellantuono et al, 2007). Essa é uma das razões
pelas quais
Tratamentos Físicos antidepressivos não são
geralmente recomendados
Os tratamentos físicos estão resumidos na tabela E.1.9. Além da medicação, alguns como primeira linha no
tratamento de depressão
tratamentos físicos são usados no manejo da depressão em crianças e adolescentes. Entre leve.
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• Lítio e valproato devem ser evitados em jovens em idade fértil (risco de teratogênese).
Qual antidepressivo?
• A escolha do antidepressivo deve se guiar por 2 considerações: efetividade e segurança.
Enquanto grupo, ISRSs são os mais seguros antidepressivos; entre estes, a fluoxetina
tem a melhor evidência de efetividade nessa faixa etária
• Começar com 10mg de fluoxetina. Se bem tolerada, aumentar dose para 20mg depois
de 01 semana; 20mg geralmente é suficiente para pré-púberes. Em adolescentes, a dose
pode ser aumentada para 30 ou 40mg se não responderem adequadamente e se os 20mg
forem bem tolerados, apesar de tal dose ser geralmente suficiente na maioria dos casos.
• Se a fluoxetina não for bem tolerada ou se há outros motivos para não usá-la, tentar
outro ISRS (como sertralina ou escitalopram).
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Duração do tratamento
É amplamente aceito que interromper o tratamento prematuramente (após 8 a 12
semanas), quando o paciente está melhorando, geralmente leva a recaídas. O conhecimento
clínico sugere que o tratamento deve continuar por pelo menos 6 meses após a recuperação.
Para retirada da medicação, a mesma deve ser gradualmente reduzida, e não suspensa
abruptamente, para evitar fenômenos de retirada, comum a todos os antidepressivos, mas
particularmente a ISRSs de meia-vida curta.
Resistência ao tratamento
Apesar da importância do assunto, há poucos dados empíricos em depressão
resistente ao tratamento na juventude e não há definição consensual. Birmaher e
colaboradores (2009) propuseram essa definição de resistência de tratamento: jovem cujos
sintomas depressivos e perdas funcionais persistem após 8-12 semanas de tratamento
farmacológico otimizado ou 8-16 sessões de TIP ou TCC e, além disso, mais 8-12 semanas
de um antidepressivo alternativo ou terapêutica potencializante com outras medicações ou
psicoterapia baseada em evidência. Assim sendo, resistência ao tratamento deve ser
diagnosticada apenas após 2 tentativas com tratamento baseado em evidência em dosagem
e tempo adequados (p. ex., 12 semanas).
Há poucos dados empíricos para nos guiar em relação às vantagens de troca versus
aumento de dose, apesar de a troca de fluoxetina por outros ISRS ou por venlafaxina
Depressão E.1 25
Tratado de Saúde Mental de Infância e Adolescência da IACAPAP
resultar em melhora em cerca de um terço dos pacientes, o que é consistente com os dados
em adultos (Brent et al, 2008). Entretanto, aqueles tratados com venlafaxina apresentaram
mais efeitos colaterais. Isso sugere que a troca seria a opção a escolher, e que inicialmente
seria por outro ISRS ou por venlafaxina.
Potencializar é
aumentar a dose da
medicação (ou da
psicoterapia) ao
máximo, ou prolongar
a duração do
tratamento. Essa é a
primeira estratégia a
considerar quando o
paciente não
apresenta melhora, a
Setting do tratamento não ser que o paciente
apresente efeitos
A maioria dos jovens deprimidos devia otimamente receber tratamento colaterais ou relute
ambulatorial, o qual minimiza ausências na escola, relacionamentos familiares e sociais e em seguir o
o estigma. Tratamento intra-hospitalar pode ser justificado quando a segurança do paciente tratamento.
Combinar o
não pode ser garantida (por exemplo, risco de suicídio), quando a depressão é muito severa tratamento vigente é
(p. ex., com sintomas psicóticos), ou na ausência de resposta. No último caso, a internação adicionar um outro
tipo de medicação
pode permitir uma investigação mais acurada sobre as razões da ausência de resposta, e (por exemplo lítio,
monitorizar a adesão e as mudanças de tratamento de forma mais próxima. outra classe de
antidepressivo) ou, se
DEPRESSÃO RECORRENTE não ainda feito, ao
adicionar TCC ou
Já foi ressaltado que depressão nos jovens é uma doença com tendência à TIP.
Troca significa
recorrência. No seguimento do TADS, por exemplo, quase metade (47%) daqueles que se interromper ou mudar
recuperaram tiveram recorrência em 5 anos. Adolescentes com resposta pobre, gênero gradualmente uma
feminino e aqueles com ansiedade comórbida foram mais prováveis de apresentar novo medicação enquanto
outra e
episódio. Todavia, as taxas de recorrência foram as mesmas, independente do tratamento gradativamente
(p. ex., aqueles que receberam fluoxetina combinada com TCC não pareceram ter benefício introduzida. A troca
pode ser: (a) para
extra) (Curry et al, 2010). O tratamento do quadro recorrente deve ser o mesmo do quadro
outro medicamento da
agudo. Recorrências frequentes podem requerer tratamento continuado com mesma classe (como
antidepressivos. de um ISRS para
outro ISRS), (b) para
uma classe diferente
de antidepressivo (por
exemplo um ISRS por
um ISRN), ou (c) para
psicoterapia.
Depressão E.1 26
Tratado de Saúde Mental de Infância e Adolescência da IACAPAP
• Fazer uma mudança ou aumento de dose por vez, e permitir tempo adequado para
observar resposta e ajuste da dose
• Uma mudança da medicação deve ser feita após 4 a 8 semanas de tratamento, se houve
resposta mínima ou se não a houve com dose adequada. Caso haja resposta adequada,
manter a medicação, com garantia da dose adequada.
• Se o uso de múltiplos medicamentos se faz necessário (p. ex., para tratar comorbidades),
deve-se estar atento ao risco de interações medicamentosas.
Uso de Substâncias
A depressão comórbida com o uso de substâncias traz desafios particulares e fazer
os pais se envolverem construtivamente nesse esforço é crucial. Devido ao maior risco de
danos, implementar um plano de segurança já no início da avaliação do adolescente e maior
vigilância durante o tratamento é muito importante. Pode-se incluir psicoeducação sobre
sexo seguro, DSTs incluindo HIV, contracepção e sobre o impacto adicional da depressão
Depressão E.1 27
Tratado de Saúde Mental de Infância e Adolescência da IACAPAP
e do uso de substâncias nesses riscos. É importante enfatizar que álcool e outras drogas não
Combinando
são tratamentos aceitáveis para depressão; eles podem dar a impressão de aliviarem os medicação
sintomas a curto prazo, mas irão piorar o quadro depressivo em longo prazo. antidepressiva e
TCC
O tratamento deve ser integrado; ou seja, concomitante em vez de sequencial. Por O estudo TADS mostrou
que combinar um ISRS
exemplo, não se deve esperar a abstinência de drogas para iniciar o antidepressivo. (fluoxetina) com TCC
Psicoterapias como terapia familiar, terapias motivacionais e TCC também devem ser era melhor que fluoxetina
ou TCC sozinhos.
iniciadas em conjunto. Resultados em adultos
depressivos também
Manejar um paciente com uso de substâncias concomitante requer coletas sugerem que adicionar
TCC ao medicamento
laboratoriais, como exames regulares de urina. Nesse caso, deve-se já saber – geralmente antidepressivo resulta em
após debater com o adolescente – a quem informar os resultados, sob que circunstâncias, e maiores taxas de
melhora. Como
como usar tais informações (vide capítulos G.1, G.2 e G.3). consequência, muitas
diretrizes de tratamento
Depressão em deficientes intelectuais recomendam o uso de
qualquer ISRS
A depressão é difícil de diagnosticar e é subdiagnosticada em deficientes combinado com TCC
como o tratamento de
intelectuais. Não há dados confiáveis sobre prevalência da depressão em crianças com escolha para casos graves
de depressão em jovens.
deficiência intelectual, mas infere-se que é mais comum que na população geral. Jovens Uma metanálise
portadores de deficiência intelectual, quando deprimidos, apresentam expressão facial triste (Dubicka B et al, 2010)
focou em questionar se
ou miserável, choro e irritabilidade, perda do interesse em atividades cotidianas ou TCC confere benefício
interesses estereotipados, distúrbios do sono e apetite em um contexto de mudança do adicional no tratamento
antidepressivo em
comportamento. Inapetência ou recusa alimentar, bradicinesia, prejuízo do autocuidado e pacientes adolescentes
catatonia são sugestivos de depressão em quadros mais graves de deficiência. Adolescentes com depressão unipolar.
Os resultados não
com deficiências mais leves costumam conseguir reportar seu mundo interno e descrever mostraram evidência de
sintomas depressivos, como tristeza, desesperança, e pensamento suicida. As informações uma vantagem do
tratamento combinado
de familiares, cuidadores, professores e cuidadores temporários é importante. em detrimento ao uso
apenas de medicação
Uma vez que não há evidência empírica que se refira especificamente ao tratamento para sintomas
depressivos,
de crianças e adolescentes deprimidos portadores de deficiência intelectual, o manejo suicidalidade e melhora
recomendado é o mesmo do tratamento de jovens sem deficiência com os ajustes global após o tratamento
agudo e durante o
apropriados (por exemplo, aspectos cognitivos são geralmente inapropriados). Consentir seguimento. O
com questões do tratamento, principalmente métodos invasivos (como ECT) é um tratamento combinado de
fato resultou em redução
problema particular para estes pacientes. do prejuízo funcional em
curto prazo (em 12
Depressão comórbida com doenças físicas semanas). Esses
resultados, portanto,
desafiam o conhecimento
A depressão é comum entre jovens com doenças físicas crônicas e seu impacto na vigente, mas necessitam
qualidade de vida deles é considerável. De acordo com Ortiz-Aguayo e Campo (2009) “em ser replicados. Contudo,
alguns subgrupos
vez de ser somente um outro transtorno sofrido por uma criança fisicamente doente, a específicos de jovens
relação entre a doença física e a depressão é geralmente complexa e bidirecional”. Como podem se beneficiar
dessa combinação. Há
resultado, o reconhecimento e diagnóstico da depressão em crianças cronicamente doentes evidência crescente de
é geralmente um desafio, porque há o risco de se atribuir sintomas da própria doença física que a combinação do
antidepressivo com TCC
(por exemplo, fadiga insônia ou inapetência) ao transtorno de humor e vice-versa. A pode ser mais efetiva que
avaliação de mudanças na funcionalidade é essencial. outras intervenções em
adolescentes que
apresentaram falha
Assim como o tratamento descrito para transtornos depressivos em outros jovens, terapêutica ao curso
a medicação é particularmente bem aplicada ao tratamento da depressão em contextos adequado de um
antidepressivo.
clínicos, mas também apresenta malefícios, com maior probabilidade de eventos adversos
Depressão E.1 28
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PERSPECTIVAS CULTURAIS
Será que todos os jovens, independente da cultura, sentem a depressão e os seus
sintomas de forma similar, ou ela varia de acordo com o contexto cultural? Existem muitos
obstáculos para responder essa questão. Uma delas é a bem documentada falta de
evidências epidemiológicas sobre transtornos mentais na infância em países em
desenvolvimento. Além disso, as pesquisas são limitadas, não confiáveis, e compostas por
variações nos métodos diagnósticos. Uma vez que considerações culturais sobre
investigação diagnóstica e tratamento da depressão na infância são necessárias, é difícil
distinguir o que é biológico, cultural, e o que é devido à prestação de serviços. Por exemplo,
tem sido sugerido que o aumento nas taxas de depressão na América do Norte e na Europa
seria apenas um reflexo da redução do limiar para o diagnóstico, enquanto o aumento das
taxas de suicídio entre mulheres jovens chinesas, comparadas com os homens, e a sua fraca
associação com depressão parece se dever amplamente ao acesso fácil a pesticidas, porém
pobre a cuidados médicos de emergência nas comunidades rurais chinesas. Por não serem
especificamente relacionados com sintomas depressivos, mas com sintomas emocionais e
comportamentais em geral, os dados disponíveis sugerem que as diferenças dentro dos
grupos de uma sociedade podem ser maiores que as diferenças entre as próprias sociedades
(Achenbach et al, 2008).
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Tratado de Saúde Mental de Infância e Adolescência da IACAPAP
Depressão E.1 30
Tratado de Saúde Mental de Infância e Adolescência da IACAPAP
PREVENÇÃO
O objetivo da prevenção é diminuir as chances de desenvolvimento de sintomas e
episódios depressivos na população (intervenção universal). Existem outras opções
preventivas, mais específicas, que podem ser mais úteis, por exemplo, a intervenção
precoce em indivíduos com sintomas depressivos em níveis subclínicos, buscando reduzir
tais sintomas e prevenir o desenvolvimento de um episódio depressivo maior: prevenção
seletiva (se os participantes da intervenção tem fatores de riscos significativos), e
prevenção indicada (com indivíduos que já demonstram níveis subclínicos de sintomas
depressivos). A tabela E.1.3 lista os fatores de risco e implicações na prevenção.
Depressão E.1 31
Tratado de Saúde Mental de Infância e Adolescência da IACAPAP
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