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Transtorno Afetivo Bipolar

Incluído em 25/04/2005

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), também conhecido como


Transtorno Bipolar do Humor (TBH) ou, antigamente, Psicose
Maníaco Depressiva (PMD), é uma doença relacionada ao
humor ou afeto, classificada junto com a Depressão e Distimia.
O TAB se caracteriza por alterações do humor, com episódios
depressivos e maníacos ao longo da vida. É uma doença crônica,
grave e de distribuição universal, acometendo cerca de 1,5% das
pessoas em todo o mundo.

O TAB é considerado uma doença psiquiátrica muito bem


definida e, embora tenha um quadro clínico variado, é um dos
transtornos com sintomatologia mais consistente na história da
psiquiatria. Sua forma típica (euforia-depressão) é bem
caracterizada e reconhecível, permitindo o diagnóstico precoce e
confiável. 

Normalmente sentimos alegria, tristeza, medo, ousadia, energia,


desânimo, eloqüência, apatia, desinteresse, enfim, em diversos
momentos de nossa vida, com maior ou menor intensidade uma
grande variedade de sentimentos são experimentados. De modo
geral, é normal a pessoa ficar alegre com uma promoção no
emprego, com uma conquista amorosa, nascimento de um filho e
outras situações agradáveis. Assim como se espera, também, que
a pessoa normal experimente tristeza e sofrimento depois de um
rompimento amoroso, com doença ou morte de pessoa querida,
com a perda do emprego, dificuldades financeiras, etc.

Resumindo, em situações normais o estado de humor ou de


ânimo deve variar ao sabor dos acontecimentos da vida e de
acordo com a tonalidade afetiva de cada um (veja Tonalidade
Afetiva na página Alterações da Afetividade, na seção
Psicopatologia). Essas respostas emocionais podem ser
adequadas e proporcionais aos estímulos externos, que são as
vivências, ou desproporcionais e inadequadas. Neste caso, em
resposta aos estímulos internos, que são as oscilações do humor
ou alterações afetivas.

No DSM.IV são classificados 2 tipos de TBH. O Tipo I, onde a


maioria dos episódios de alteração do humor são do tipo euforia
e o Tipo II, ao contrário, ou seja, a maiora dos episódios são
depressivos (Figura)

Pelo DSM.IV, a característica essencial do Transtorno Bipolar I


é um curso clínico caracterizado pela ocorrência de um ou mais
Episódios Maníacos ou Episódios Mistos. Com freqüência, os
indivíduos também tiveram um ou mais Episódios Depressivos
Maiores. Por outro lado, a característica essencial do Transtorno
Bipolar II é um curso clínico marcado pela ocorrência de um ou
mais Episódios Depressivos Maiores, acompanhados por pelo
menos um Episódio Hipomaníaco.

Hoje em dia o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar está


sendo repensado e deslocado para um grupo de estados
psicopatológicos afins; os Transtornos do Espectro Bipolar
(Akiskal e cols., Montgomery e Keck, 2000.

EPISÓDIO DEPRESSIVO

A Depressão é caracterizada principalmente por alterações do


humor, da psicomotricidade, da cognição e das funções
vegetativas. O quadro clínico do paciente deprimido é bastante
complexo, cheio de sinais e sintomas. Geralmente o paciente
apresenta humor depressivo, alterações de apetite e do sono,
dificuldades de concentração e pensamentos de cunho negativo,
incapacidade de sentir alegria ou prazer, redução da energia,
agitação psicomotora ou, ao contrário, lentificação, podendo
ocorrer ideação suicida e/ou sintomas psicóticos.

Profissionais com atividades acadêmicas ou intelectuais não


conseguem mais executar suas tarefas quando deprimidos, as
crianças diminuem o rendimento escolar por causa das
dificuldades de raciocínio e concentração. Essa variedade de
sinais e sintomas faz pensar em uma verdadeira síndrome
depressiva, cujas unidades de manifestação são o Episódio de
Maníaco e o Episódio Depressivo. Aqui discorremos sobre o
Episódio Depressivo.

Alterações de humor e afetividade

Obviamente, o paciente deprimido manifesta o humor


depressivo. Os reflexos mais típicos desse tipo de humor são os
sintomas de angústia, tristeza, vazio, desesperança, desânimo,
enfim, a sensação popularmente conhecida como "baixo astral".

Entretanto, para surpresa do público leigo, nem sempre a tristeza


clássica está presente no Episódio Depressivo. Algumas vezes,
de acordo com determinados traços de personalidade, o paciente
pode não experimentar sentimento de tristeza e concentrar suas
queixas em somatizações, em dores e outras queixas físicas, tais
como cefaléia, dor de estômago, dor no peito, tonturas, etc.

Apesar disso, a atitude da pessoa com humor depressivo, ainda


que sem queixas de tristeza, pode ser percebido indiretamente
por sua expressão facial, pelo olhar triste, fixo e sem brilho,
pelos ombros caídos e por uma notável tendência ao choro e
hipersensibilidade sentimental (Bleuler, 1985). Antigamente
falava-se em Depressão Mascarada, para se referir a esses casos
de depressão sem tristeza.

O humor de pacientes deprimidos pode ser irritável, manifestado


como tendência a sentir-se facilmente incomodado com tudo,
mal-humorado, com baixo limiar de tolerância para frustração.
Esse quadro de irritabilidade e explosividade no humor
depressivo é uma das manifestações depressivas mais comuns
em crianças e adolescentes.

Os deprimidos podem perder a capacidade de sentir prazer, o


que os leva ao abandono de atividades anteriormente prazerosas
e ao desinteresse por amigos e familiares. Em casos mais graves
pode haver incapacidade de experimentar qualquer tipo de
emoção, dando a impressão que nada mais interessa ou vale a
pena. Nas alterações da afetividade chamei esse estado de
“egoísmo afetivo”, colocado entre aspas para sugerir o aspecto
involuntário desse egoísmo.

Cognição e percepção

A avaliação e juízo crítico da realidade à sua volta, que é a


cognição propriamente dita, pode estar seriamente prejudicada
na pessoa deprimida. A consciência da realidade pode estar
desde ligeiramente alterada até psicoticamente alterada com
pensamentos deliróides.
A avaliação que a pessoa deprimida faz de si mesma, que nada
mais é do que a autoestima, pode sugerir uma idéia muito
negativa. Essas idéias auto-pejorativas orbitam em torno do
fracasso, da ruína, pessimismo, inferioridade, inutilidade, culpa,
auto-recriminação, pecado e mesmo uma série de ruminações
que tomam conta totalmente do pensamento. Medo do presente e
do futuro, sofrimento retroativo pelas mazelas do passado,
ausência de planos e perspectivas (Moreno & Moreno, 1994).

Os problemas existenciais reais, que existem de fato e todos


temos, assumem proporções insuportáveis na depressão, surgem
medos irracionais e preocupações excessivas. As avaliações
negativas de si, do mundo e do futuro, dominam o pensamento
do paciente deprimido e podem alterar a sua percepção da
realidade a ponto de cogitar em suicídio (que pode se manifestar
em até 15% das depressões maiores ou graves sem tratamento).

O médico clínico, diante de um paciente deprimido, deve


investigar e avaliar o risco de suicídio, uma vez que a morte por
suicídio é tão letal quanto por infarto do miocárdio. Na
Depressão Grave com Sintomas Psicóticos, classificada no
CID.10 sob o código F33.2, podem aparecer delírios congruentes
com o humor (veja Idéias Deliróides na seção Psicopatologia).
Esses delírios secundários ao humor deprimido podem servir
para maquiar um mundo temerário, ameaçador e sofrível no qual
a cognição do deprimido crê. Alucinações, principalmente
auditivas, podem aparecer nas depressões graves.

Karla Mathias de Almeida e Doris Moreno (2002) listam alguns


critérios ou características dessas Idéias Deliróides ou Delírios
Humor Congruente:

a) são de tonalidade afetiva penosa;


b) são monótonas e repetitivas;
c) são pobres, isto é, a idéia delirante não se desenvolve em
construções intelectuais: são mais ricas em emoção do que em
conteúdo ideativo;
d) são passivas e o paciente aceita todas suas infelicidades
placidamente;
e) são divergentes e centrífugas, isto é, estendem-se
progressivamente para a pessoa próxima e para o ambiente;
f) são delírios do passado (lamentações, remorsos) ou do futuro
(ansiedade, temores).

São comuns queixas de dificuldades de raciocínio, concentração


e tomada de decisões. De fato, a mais prejudicada talvez seja a
atenção e não a memória, propriamente dita. E a dificuldade em
fixar a atenção, associada à falta de interesse, pode simular
severos problemas de memória.

Com a lentificação do pensamento as idéias podem ficar


confusas. Ey e cols (1978) descrevem a "paralisia psíquica".
Nesse estado a ideação fica lenta, as associações são difíceis, a
evocação é penosa, a síntese mental é impossível, o esforço
mental sustentado também é impossível e a atenção concentra-se
nos temas melancólicos sem poder separar-se deles. Em idosos,
as alterações das funções cognitivas na depressão podem ser
confundidas com demência.

Comportamento e psicomotricidade

Alguns autores consideram o retardo psicomotor a principal


alteração no Transtorno do Humor (Akiskal, 2000). O paciente
com lentificação psicomotora exibe importante restrição de
movimentos espontâneos, postura de abatimento, discurso
lentificado, frases raras e monossilábicas, com aumento do
tempo de latência de resposta, baixo tom de voz, dificuldade de
raciocínio, diminuição da energia e cansaço excessivo. Não é
raro alguns pacientes reclamarem de fadiga extrema ao realizar
tarefas simples, tais como escovar os dentes. Há uma tendência a
ficar deitado e ao isolamento. Em casos graves, a lentificação
psicomotora pode evoluir para o estupor depressivo.
Funções vegetativas

Funções vegetativas são aquelas reguladas pelo Sistema Nervoso


Autônomo (ou Vegetativo). No paciente deprimido estão
alterados o sono, o apetite, a função sexual e o ritmo circadiano
do humor. A alteração do apetite e/ou do peso é um dos
indicadores confiáveis do comprometimento somático da
Depressão. As alterações do sono na Depressão envolvem
insônia, mais freqüentemente intermediária, quando então a
pessoa desperta no meio da noite e tem dificuldade para voltar a
dormir, ou acorda muito cedo (insônia terminal).

Alguns pacientes podem dormir demais, como uma espécie de


fuga de uma realidade hostil para eles ou como sinal de
escasseamento da “energia” necessária para a disposição geral.
Dentro dessas funções vegetativas prejudicadas está a função
sexual, onde ocorre invariavelmente uma expressiva diminuição
da libido, tanto nos em homens e como nas mulheres. E não
apenas a libido costuma estar comprometida mas, inclusive,
também a função erétil.

Subtipos depressivos

A nomenclatura psiquiátrica é demasiadamente complexa,


apesar de inteligível. Há vários tipos de manifestações
depressivas, classificadas tanto de acordo com a origem, quanto
através da apresentação clínica. A todos esses subtipos
acrescento ainda a sintomatologia depressiva da atualidade, a
qual decorre mais dos sentimentos de frustração do que da
depressão, propriamente dita.

Depressão Bipolar

É a Depressão que se apresenta em portadores do Transtorno


Afetivo Bipolar. Aqui há uma alternância de episódios
depressivos e eufóricos (maníacos), não necessariamente um
depois do outro (podem surgir vários episódios depressivos e um
eufórico ou vice-versa). Trata-se de um quadro de origem
constitucional, ou seja, biológica. Normalmente essas crises
surgem sem que se possa associar à alguma razão vivencial.

Depressão endógena

Antigamente essa denominação caracterizava a Depressão que


se manifestava por episódios agudos, recorrentes e sem a
existência de episódios eufóricos. Hoje se fala em Transtorno
Depressivo Recorrente, graduado em Leve, Moderado e Grave
pela CID.10 ou Maior, pelo DSM.IV. Entretanto, o nome
endógeno deveria ser mantido como conceito com objetivo de
facilitar a idéia do fator constitucional desse tipo de Depressão.

Na Depressão Endógena os sintomas são mais exuberantes,


focando predominantemente o prejuízo da capacidade para sentir
prazer (anedonia), na apatia significativa, nos sentimentos de
culpa, piora matutina, diminuição de apetite e perda de peso.

Depressão Atípica

As Depressões Atípicas são aquelas que se manifestam,


predominantemente, através de sintomas ansiosos (Pânico, Fobia
...) e somáticos. Nos quadros de Depressão Atípica encontramos
os sintomas vegetativos incaracterísticos (aumento do apetite, do
sono, ganho de peso), humor não totalmente rebaixado
(capacidade de se alegrar diante de eventos positivos) e grande
sensibilidade emocional.

Alguns deprimidos podem manifestar apenas sintomas somáticos


(físicos) ao invés de sentimentos de tristeza, como por exemplo,
dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, etc. Para
estes, talvez, seja mais fácil comunicar sua aflição e desespero
através dos órgãos que do discurso. Também em crianças e
adolescentes a depressão pode dissimular-se sob a forma de um
humor irritável ou rabugento, ao invés de triste e abatido.

Depressão Psicótica ou Maior

Trata-se de Depressão Grave, na qual ocorrem sintomas


psicóticos, tais como os delírios e/ou as alucinações. Geralmente
esses delírios são congruentes com o humor, chamados então,
Delírios Humor-Congruentes. Podemos chamá-los também de
Delírios Secundários ou Idéias Deliróides. Na esquizofrenia os
delírios são primários e aqui são secundários (secundários à
depressão).

Quando existem delírios esses são, geralmente, de ruína, de


grave prejuízo moral, de doença grave, culpa, morte, castigo.
Quando existem alucinações, geralmente são auditivas.

EUFORIA (Mania)

Assim como a depressão, a euforia ou mania também se


caracterizada por alterações no humor, na cognição, na
psicomotricidade e nas funções vegetativas, porém com
características opostas àquelas alterações observadas na
depressão, ou seja, o paciente apresenta elevação do humor,
aceleração da psicomotricidade, aumento de energia e idéias de
grandeza, as quais podem ser até delirantes.

As formas clínicas da euforia variam de acordo com a


intensidade e o predomínio dos sintomas afetivos, das alterações
psicomotoras e da presença de sintomas psicóticos. Em sua
forma clássica a mania se caracterizada por humor
exageradamente expansivo (chamado de elação), aceleração no
ritmo do pensamento, agitação psicomotora e pensamentos
delirantes de grandiosidade. Dependendo da gravidade do
Episódio Eufórico as idéias deliróides podem fazer confundir o
quadro com um surto esquizofrênico.
Humor e Afetividade

O humor na euforia é muito expansivo, geralmente irritável,


desinibido. Sentimentos de exagerada alegria, júbilo e excitação
são comuns. Essa alegria percebe-se patológica e o riso é
exagerado, desproporcional ou à toa, há um desmedido
entusiasmo e incomum interesse sexual, profissional e social.

Cognição e Percepção

O pensamento na euforia costuma ser repleto de idéias de


grandeza, autoconfiança incomodamente elevada, otimismo
exagerado, falta de juízo crítico e da inibição social normal. A
impulsividade pode levar a conseqüências desastrosas.

Podem existir idéias deliróides de grandeza, de poder, riqueza e


de irreal inteligência. No tipo Grave com Sintomas Psicóticos a
euforia é acompanhada de alucinações, sentimentos de influência
e de inspiração profética, caracterizando assim o verdadeiro
Estado de Elação (Ey e cols., 1978).

A aceleração do pensamento produz um dos sintomas mais


clássicos da euforia que e a Fuga de Idéias, onde o paciente
começa um assunto novo sem terminar o anterior. Há também
uma hipermnésia, com lembrança fácil de eventos passados,
porém, prejudicado por excesso da distraibilidade.

Comportamento e Psicomotricidade

A pessoa com euforia sente-se sempre muito bem disposto e


capaz de alcançar qualquer objetivo, cheio de energia e sem
necessidade de repouso ou sono. Normalmente ela  gargalha,
canta, dança, se mexe, corre, faz sexo, trabalha... tudo
exageradamente e incansavelmente. Desse jeito é difícil
convencê-lo estar doente, já que o bem estar (patológico) é
muito contundente.
Durante a fase de euforia do Transtorno Bipolar do Humor, a
auto-estima, o vigor e a energia física aumentam e a pessoa
passa a agir em ritmo acelerado, fica inquieta e agitada, a
necessidade de sono diminui. Começa a ter sentimentos de
grandeza, considera-se especial e se sente como se não tivesse
limites. Os planos grandiosos e mirabolantes se multiplicam, as
idéias fluem rapidamente e não consegue concluir as idéias,
pulando rapidamente para outros assuntos.

Quando o paciente já é conhecido, percebe-se claramente estar


entrando em euforia até pelo colorido exuberante das roupas, o
volume com que ouve músicas, a profusão do discurso,
eloqüência com que defende seus pontos de vista. Por outro lado,
a aceleração exagerada do pensamento pode dificultar a
compreensão do discurso.

Por causa da impulsividade, da desinibição, do aumento de


energia e da ausência de crítica, a pessoa em mania acaba se
envolvendo em atividades perigosas e insensatas, tais como
dirigir em alta velocidade, praticar sexo inseguro, gastar além
das possibilidades.

Funções Vegetativas
A diminuição da necessidade de descanso e de sono é o sintoma
físico mais freqüente. O paciente necessita de poucas horas e,
mesmo assim sente-se bem disposto e cheio de energia (Moreno
e Moreno, 1994).

Costuma haver, na euforia, aumento do apetite, do consumo de


cigarro, álcool e drogas. Como tudo está acelerado é comum o
aumento do apetite sexual, associados à desinibição e à
impulsividade.

Outro sintoma bastante característico da euforia é a perda da


inibição social natural. Isso produz atitudes inadequadas ou
extravagantes, como por exemplo, fazer compras
desenfreadamente ou vestir-se de forma
exuberante, agressividade, inadequação e outros
comportamentos inconvenientes que, inclusive, podem ocasionar
envolvimentos policiais.

De modo geral, as crises de euforia podem ser caracterizadas


pelos seguintes sintomas:

1.- auto-estima inflada, grandiosidade, sensação de ser mais e


melhor que os outros e, algumas vezes quando tem delírio,
reconhecendo ser predestinado a alguma coisa muito
importante.
2.- necessidade de sono diminuída, sentindo-se bem e repousado
com apenas 3 horas de sono.
3.- mais eloqüente e loquaz do que o habitual, pressão por falar,
interrompendo os outros.
4.- perda da inibição social, falta de crítica para com as
situações ridículas e vexatórias
5.- fuga de idéias (mudança de assunto rápido sem conclusão do
anterior) ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão
correndo mais do que as palavras podem pronunciar.
6.- distratibilidade, a atenção é desviada com excessiva
facilidade para estímulos externos insignificantes ou
irrelevantes, dispersão da atenção.
7.- aumento da atividade dirigida a objetivos sociais, no
trabalho, na escola ou sexualmente.
8.- agitação psicomotora, excesso de movimentos
9.- envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um
alto potencial para insensatez, perigo, inconseqüência, como
por exemplo, envolvimento em compulsão para compras,
indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos.

HIPOMANIA

A hipomania é um estado semelhante à mania, em grau mais


leve, que aparece em pacientes com TAB, no início dos episódios
de mania ou, se não for no TAB, no Transtorno Ciclotímico da
Personalidade. Observa-se mudança no humor habitual para
euforia ou irritabilidade, reconhecida pelas pessoas mais íntimas
do paciente. 

Há também na hipomania, hiperatividade, tagarelice, diminuição


da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade
física, iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo, e
impaciência. A hipomania não se apresenta com sintomas
psicóticos, não precisa de internação e o prejuízo ao paciente não
é tão intenso quanto no episódio de mania. 

Como dissemos, em uma sociedade que valoriza demais a


extroversão e eloqüência, pacientes e familiares podem
considerar a hipomania como se fosse uma atitude normal e até
desejável. Assim, a hipomania pode ser confundida com estados
de alegria desencadeada por eventos positivos, não percebidos
pelos outros como exagerados, comparados com o padrão
habitual de humor da pessoa. Já a irritabilidade da hipomania
pode ser confundida, também, com reações normais aos eventos
negativos, como por exemplo, uma má notícia. 

Mas a hipomania pode ou não ter fatores desencadeantes, sejam


positivos ou negativos. Se esses pacientes não forem tratados,
podem apresentar ausência do juízo crítico e proporcionar para si
ou para seus familiares, severos prejuízos morais e materiais.

Incidência

Em nosso meio, segundo dados do Sistema Único de Saúde de


São Paulo,  mais de 10 mil internações por ano são devidas ao
TAB, predominantemente entre as mulheres, pois, em homens,
prevalecem os diagnósticos de alcoolismo e esquizofrenia.
As estimativas acerca da prevalência de TAB na população são
bastante acanhadas, devido à rigidez dos critérios de diagnóstico
propostos pelas classificações atuais. Assim, a prevalência para o
Transtorno Bipolar do Humor do tipo 1, que é o tipo com mais
episódios de euforia do que depressão, ao longo da vida, nos
EUA, alcança 1%.

Na cidade de São Paulo essa prevalência é de 1% (Andrade,


2002). Estudos que consideram critérios mais flexíveis de
diagnóstico já apresentam  uma prevalência de 4% a 8% durante
a vida. Apesar do interesse nestes quadros ter aumentado nos
últimos anos, os portadores de TAB continua sendo tardiamente
diagnosticados e, conseqüentemente, inadequadamente tratado.

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Causas do TAB

Em relação às causas do TAB, tem sido muito relevante a


sugestão de hereditariedade. Segundo Cardno (1999), a
concordância de TAB entre gêmeos idênticos (monozigóticos)
varia de 60% a 80%, e o risco de desenvolver TAB em parentes
de primeiro grau de um portador de TAB situa-se entre 2% e
15%. A quantidade de gêmeos monozigóticos onde não há
concordância de TAB reflete a importância dos fatores
ambientais. 

A genética considera a TAB como tendo de um “modo


complexo” de transmissão, cuja manifestação dependeria da
presença de um conjunto de genes que interagem entre si, até o
momento de conhecimento pouco definido (veja abaixo).
Resumindo, compreende-se que o aparecimento dessas doenças
de transmissão complexa dependa da presença de um conjunto
de genes de suscetibilidade, os quais, ao sofrerem influência do
meio, manifestam-se precipitando as alterações necessárias para
a eclosão da doença em questão.
Sobre os fatores ambientais associados ao Transtorno Bipolar do
Humor, Leandro Michelon e Homero Vallada (2005) citam
Tsuchiya e colaboradores, que investigaram a possível
associação entre TAB e fatores variados, tais como,
demográficos (sexo, etnia), relacionados à complicações da
gestação ou do parto, estação do ano no nascimento, nascimento
em área urbana ou rural, antecedentes de lateralidade,
ajustamento pré-mórbido, padrão socioeconômico, eventos
estressantes de vida, disfunção familiar, perda de parente e
história de epilepsia, trauma craniencefálico, esclerose múltipla. 

De relevante ocorreu, nessa revisão da literatura, uma associação


entre o TAB e a condição socioeconômica desfavorável, bem
como com o desemprego, baixa renda e estado civil solteiro.
Também houve associação da TAB com mulheres nos três
primeiros meses do pós-parto. O restante dos fatores avaliados
não mostrou nenhuma associação com ocorrência de TAB. 

De modo geral, os estudos foram inconclusivos, exceto para a


significante associação do desenvolvimento de TAB com história
familiar positiva, em vários estudos. Volta aqui a questão dos
fatores genéticos, porém, a despeito de todos os fatos que
sugerem uma fortíssima participação genética no
desenvolvimento do TAB, até o momento não foi possível
identificar genes ou regiões cromossômicas envolvidos
diretamente no aparecimento desta doença. Embora algumas
regiões dos cromossomos se mostrem mais significativamente
ligadas ao problema, ainda se aguarda a confirmação científica
por meio de novas pesquisas e novas técnicas de investigação. 

Inúmeras alterações na função cerebral têm sido descritas em


pacientes apresentando quadros de depressão e mania. Pesquisas
utilizando modelos genéticos, neuroanatômicos, neuroquímicos
e de neuroimagem no TAB têm trazido importantes hipóteses
teóricas e conceituais para o melhor entendimento de como
certos mecanismos biológicos podem afetar a manifestação
clínica da doença, seu curso e sua resposta aos tratamentos. 

As classificações mais utilizadas em psiquiatria enfatizam o


quadro clássico da mania. O diagnóstico pelo DSM-IV requer
humor persistente e anormalmente elevado, expansivo ou
irritável durando pelo menos uma semana. 

Estudos genético-epidemio1ógicos (com famílias)

Alguns estudos apontam para um sólido componente familiar no


Afetivo Bipolar. Nesses estudos de família, Angst, em 1966, na
Suíça, e Perris, no mesmo ano, na Suécia, apresentaram os
primeiros resultados. Ambos demonstraram concordância
familiar para essas alterações do humor. A maioria dos estudos
que se seguiram concorda com esses autores, tanto na agregação
familiar quanto na subdivisão. O Quadro 1 apresenta alguns dos
principais estudos com famílias de pacientes bipolares realizados
nos últimos trinta anos.

Quadro 1 -Estudos com famílias de probandos com transtorno afetivo bipolar*

Autor/ano Parentes c/ TB Rel. Bipolar/Unipolar (%)

Angst, 1966 161 4,3/13

Perfis, 1966 627 10,2/0,5

Gershon e cols., 1975 341 3,8/8,7

Smeraldi e cols.,1977 172 5,8/7,1

Taylor e cols., 1980 601 4,8/4,2

Gershon e cols., 1982 598 8,0/14,9

Coryel e cols., 1984 389 5,4/22,7

Fieve e cols., 1984 1.309 6,6/9,0

Weissman e cols., 1984 508 9,3/14,3

Tsuang e cols., 1985 218 2,8/7,8

Andreasen e cols., 1987 569 8,1/22,8

Maier e cols., 1993 166 3,6/16,3


*Fonte: Ricardo Alberto Moreno e Doris Hupfeld Moreno,
Transtorno Bipolar do Humor, Lemos Editorial, S.Paulo, 2002
Os resultados de estudos em famílias de pacientes com
Transtorno Bipolar podem ser assim sumarizados:

1) - o risco de parentes em primeiro grau de


indivíduos não-afetados, representativos da
população geral é de quase 1% para Transtorno
Bipolar e cerca de 4% para Depressão Uni polar;

2) - quando comparados o grupo de familiares de


indivíduos da população geral e o grupo de
parentes em primeiro grau de portadores de
transtorno bipolar, observa-se que o risco para a
Depressão Unipolar é três vezes maior, enquanto
o risco para Transtorno Bipolar nesses parentes
está aumentado cerca de sete vezes.
Além da maior probabilidade para o Transtorno
Bipolar e Depressão em familiares de pacientes
bipolares, tem-se observado também um aumento
do risco para o Transtorno Esquizoafetivo,
Distimia e Ciclotimia (Goodwin e Jamison,
1990).

3) - A demonstração do caráter familial é


necessária, mas não suficiente, para comprovar a
transmissão genética, haja vista que essa
agregação na família pode ser decorrência da
mesma exposição ambiental. Assim, estudos com
gêmeos e com adotados são necessários para
identificar a fonte dessa concentração familiar
(Moreno e Moreno, 2002).

Estudos com gêmeos

Uma segunda estratégia para demonstrar o componente genético


do Transtorno Bipolar é o clássico estudo com gêmeos, no qual
se compara a concordância para a doença entre gêmeos
monozigóticos (MZ) com a concordância entre gêmeos
dizigóticos (DZ). Sabendo que os MZ tem semelhança
cromossômica e os DZ não, se a doença tiver componente
genético tende a ter uma concordância muito maior nos MZ. Não
se pode deixar de considerar que os gêmeos, tanto MZ como DZ,
sofrem influência ambiental semelhante.
 
Nas doenças determinadas pelo ambiente a concordância entre
MZ e DZ seria quase a mesma, ao passo que nas doenças
genéticas, a concordância nos MZ será significativamente maior,
tendendo a se aproximar de 100%.
 
Um dos estudos mais importantes com gêmeos no Transtorno
Afetivo Bipolar é de Bertelsen e cols. (1977), que investigaram
um total de 123 pares de gêmeos em que um dos irmãos já
apresentava Transtorno do Humor. Esses autores observaram
uma concordância de 79% de Transtorno Afetivo Bipolar para
MZ e de apenas 19% para DZ.
 
Torgersen (1986) encontrou um taxa de concordância de 51 %
para MZ e de 20% em DZ. Números semelhantes foram
encontrado por McGuffin e Katz (1991), os quais observaram
uma concordância entre MZ de 53% e em DZ de 28%. Em 1993
Kendler e cols. verificaram uma concordância para transtornos
do humor de 75% em MZ e de 29,6% em DZ.

Quadro 2 -Estudos de concordância entre gêmeos com Transtornos do Humor*

Autor - ano MZ MZ (%) de DZ DZ (%) de


concordância concordância

Gershon e cols., 1975 91 69 226 13

Berrelsen cols., 1977 69 79 54 19

Torgersen, 1986 37 51 65 20

Mcguffin e cols., 1991 62 53 79 28

Kendler e cols., 1993 12 75 27 29


*Fonte: Ricardo Alberto Moreno e Doris Hupfeld Moreno,
Transtorno Bipolar do Humor, Lemos Editorial, S.Paulo, 2002
 
Podemos concluir com base nos dados apresentados
anteriormente que a taxa de concordância para o transtorno do
humor é de duas a quatro vezes maior em gêmeos MZ do que
nos DZ, reforçando a hipótese de um componente genético nessa
enfermidade. Mas, deduz-se que o componente genético não é o
único determinante desse transtorno. Se assim fosse a
concordância entre os gêmeos MZ seria de 100%. Estima-se que
o potencial hereditário para o Transtorno Bipolar seja em tomo
de 75% (Baron, 1991).

Estudos com adotados

Com o propósito de separar a influência ambiental do fator


genético, costuma-se pesquisar em adotados. Segundo Moreno e
Moreno (2002), o primeiro estudo desse tipo foi conduzido na
Bélgica por Mendlewicz e Rainer (1977), que verificaram 29
adotados com a antiga doença maníaco-depressiva (hoje
Transtorno Afetivo Bipolar). Esses autores observaram uma
prevalência de distúrbios afetivos em 31 % dos pais biológicos
dessas pessoas, comparado a uma prevalência de 12% nos pais
adotivos.
 
Outro estudo foi de Cadoret (1978), que em uma amostra de
mães com o Transtorno Afetivo (bipolar e unipolar) evidenciou
uma freqüência seis vezes maior de Depressão em seus filhos
biológicos adotados ao nascimento, comparados aos filhos de
mães sem o transtorno, também adotados no nascimento.
 
Wender e cols. (1986) pesquisaram, na Dinamarca, 71 pessoas
adotadas portadoras de Transtornos do Humor e relataram uma
prevalência oito vezes maior em casos de Depressão Unipolar e
quinze vezes maior em casos de suicídio nos pais biológicos
dessas pessoas quando comparadas com seus pais adotivos.
Outras Classificações

Durante muito tempo o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) foi


considerado apenas ao que se considera hoje a sua forma mais
grave. A classificação DSM.IV, já com mais de 10 anos,
reconhece somente os tipos I e II, entretanto, os pesquisadores
estão ampliando os conceitos e os tipos da bipolaridade.

Já se fala em Transtornos do Espectro Bipolar e, de acordo com


abordagem mais recente, existem quatro tipos de transtorno
bipolar, que se caracterizam basicamente pela intensidade i em
que ocorre a alteração do humor.

Tipo I:

Afeta apenas 1 % da população, é a forma mais intensa, com


forte alteração do humor, por apresentar fases de mania plena.
Apresenta toda a amplitude de variação do humor, do pico mais
alto (mania plena), que pode durar várias semanas, até
depressões graves. Em geral, inicia-se entre 15 e 30 anos, mas
há casos de início mais tardio. É comum apresentar sintomas
psicóticos, como delírios (pensamentos fora da realidade) ou
alucinações (ouvir vozes que não existem, por exemplo). Se não
for tratado, em geral prejudica enormemente o curso da vida do
paciente.

 
Tipo II:

A alteração do humor  não é tão intensa quanto no Tipo I, mas


apresenta fases de hipomania (pequena mania) e depressão.
Assim sendo, nesse tipo a fase maníaca é mais branda e curta,
chamada de hipomania. Os sintomas são semelhantes, mas não
prejudicam a pessoa de modo tão significativo. As depressões,
por outro lado, podem ser profundas. Também pode iniciar na
adolescência, com oscilação de humor, mas uma parte dos
pacientes só expressa a fase depressiva ao redor dos 40 anos.
Com freqüência, os sintomas de humor deixam de ser
marcadamente de um pólo para ter características mistas,
turbulentas. 

Tipo III:  

O Tipo III é semelhante ao tipo II, porém o quadro de


hipomania é desencadeado pelo uso de antidepressivos ou
psicoestimulantes.  É uma classificação usada apenas quando a
fase maníaca ou hipomaníaca é induzida por um antidepressivo
ou psicoestimulante, ou seja, os pacientes fazem parte do
espectro bipolar, mas o pólo positivo só é descoberto pelo uso
destas drogas. Sem o antidepressivo, em geral manifestam
características do temperamento hipertímico ou ciclotímico.
Como regra, devem ser tratados como bipolares, mesmo que
saiam do quadro maníaco com a retirada do antidepressivo.  

Tipo IV:

No tipo IV a oscilação de humor é mais leve e o paciente é,


geralmente, uma pessoa com temperamento mais determinado,
dinâmico, empreendedor, extrovertido e expansivo, e que,
esporadicamente, passa a ter o humor mais turbulento e
depressivo na meia-idade. Esses pacientes nunca tiveram mania
ou hipomania, mas têm uma história de humor um pouco mais
vibrante, na faixa hipertímica, que freqüentemente gera
vantagens. A fase depressiva pode só ocorrer em torno ou
depois dos 50 anos e às vezes é de característica mista e
oscilatória.

Além desses quatro tipos, há a ciclotimia, que se caracteriza por


um traço de personalidade cujo humor é oscilante e desregulado,
e cujas fases não chegam a ser configuradas como mania ou
depressão.

Curso

O Transtorno Bipolar I é um transtorno recorrente, ou seja, mais


de 90% das pessoas que tiveram um Episódio Maníaco terão
futuros episódios. Aproximadamente 60 a 70% dos Episódios
Maníacos freqüentemente precedem ou se seguem a Episódios
Depressivos mas o padrão de alternância é característico para
cada pessoa.

O número de episódios durante a vida (tanto Depressivos quanto


Maníacos) tende a ser superior para Transtorno Bipolar I, em
comparação com Transtorno Depressivo Recorrente. Estudos do
curso do Transtorno Bipolar I, antes do tratamento de
manutenção com lítio, sugerem que ocorremquatro episódios em
média a cada 10 anos. O intervalo entre os episódios tende a
diminuir com a idade.

Aproximadamente 5 a 15% das pessoas com Transtorno Bipolar


têm quatro ou mais episódios de alterações severas do humor,
tais como, Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco,
Episódio Misto ou Episódio Hipomaníaco, que ocorrem dentro
de um determinado ano. Embora a maioria das pessoas com
Transtorno Bipolar retorne a um nível plenamente normal de
funcionamento entre os episódios, alguns deles, entre 20 e 30%,
continuam apresentando instabilidade do humor e dificuldades
interpessoais ou ocupacionais.

Quando um indivíduo tem Episódios Maníacos com aspectos


psicóticos, os episódios subseqüentes têm maior probabilidade
de ter aspectos psicóticos. A recuperação incompleta entre os
episódios é mais comum quando o episódio atual é
acompanhado por aspectos psicóticos incongruentes com o
humor.

Bibliografia:
Andrade L, Walters EE, Gentil V e cols. – Prevalence of ICD-
10 Mental Disorders in a Catchment a Área in the city of São
Paulo, Brazil. Soc Psych Epidemiol 37(7): 316-325, 2002
Cardno AG, Marshall EJ e cols. – Heritability Estimates for
Psychotic Disorders. Arch Gen Psychiatry 56:162-168, 1999
Michelon L, Vallada H – Fatores Genéticos e Ambientais na
Manifestação do Transtorno Bipolar. Rev Psiq Clínica 32(Sup.
Esp.) 1;21-27, 2005.

para referir:

Ballone GJ - Transtorno Afetivo Bipolar, in. PsiqWeb, internet,


disponível em www.psiqweb.med.br, 2005.
Literatura complementar
Epidemiologia do Transtorno Afetivo Bipolar*

O trabalho publicado de Maurício Silva de Lima, Juliana Liana


Tassi, Ingrid Parra Novo e Jair de Jesus Mari na Revista
Brasileira de Psiquiatria Clínica conclui dados interessantes
sobre o TAB. Veja:

"Com base nos grandes estudos populacionais de amostra


aleatória, as estimativas de prevalência de TAB são
consistentemente baixas, ao redor de 1%, para Transtorno
Bipolar tipo I e II. A partir da introdução do conceito de
espectro bipolar, ampliando o limiar para TAB, as estimativas
são mais altas, ao redor de 5% a 8%, porém esse conceito ainda
não está adequadamente validado por estudos epidemiológicos
de base populacional, sendo as principais evidências obtidas em
amostras clínicas e em análises retrospectivas dos dados do
ECA.

É possível que muitos casos de TB atualmente ainda deixem de


ser diagnosticados. Neste sentido, o conceito de espectro é
importante, e não somente intervenções terapêuticas como
também profiláticas podem ser empregadas na medida em que o
reconhecimento do transtorno é mais apurado. No entanto, a
questão do espectro ainda precisa ser melhor definida
considerando-se não somente sua validade interna, mas também
a questão do limiar de tratamento. Os pacientes com síndromes
menos graves e incapacitantes também devem ser tratados.

Apesar de a prevalência do TB tipo I (em especial) e II ser


melhor conhecida, mais estudos são necessários para avaliar a
relevância clínica dos quadros menos graves. Finalmente, mais
estudos longitudinais são necessários para que se possa
conhecer melhor características do TB como idade de início,
resposta a tratamentos e prognóstico."
* Silva de Lima M, Tassi JL, Novo IP e Mari JJ - Revista
de Psiquiatria Clínica, Vol. 32, Jan. 2005

___________

Alterações na Estrutura Cerebral  e Transtorno Bipolar

A Revista de Psiquiatria Clínica, em suplemento 1, volume 32 de


2005, através de artigo de Rodrigo Machado-Vieira, Rodrigo A.
Bressan, Benício Frey e Jair C. Soares mostra que o TAB pode
ser acompanhado de alterações na estrutura cerebral. Veja:

"Alterações na estrutura cerebral também têm sido descritas no


THB, por meio de estudos de neuroimagem (Soares e Mann,
1997). A maioria dos estudos que avaliaram o volume cerebral
total e o grau de atrofia cortical não demonstrou diferenças
significativas entre indivíduos bipolares e controles, enquanto
um estudo encontrou a relação inversa entre a idade e o volume
da substância cinzenta cerebral em indivíduos com THB,
sugerindo uma possível perda neuronal induzida pelo
transtorno. Além disso, o mesmo grupo encontrou aumento
significativo da substância cinzenta cerebral em bipolares em
uso de lítio, em comparação com controles normais e bipolares
sem uso do fármaco.

Estudos que avaliaram regiões cerebrais específicas de


pacientes com THB demonstraram diminuição do volume
temporal em bipolares masculinos, redução significativa apenas
no córtex temporal esquerdo e aumento significativo do giro
temporal superior anterior, em relação a esquizofrênicos e
controles. No entanto, outros cinco estudos não observaram
alterações volumétricas no córtex temporal entre bipolares e
controles.
Em relação à amígdala, mais especificamente, um estudo
observou diminuição significativa à esquerda, dois estudos
encontraram aumento da amígdala, enquanto um estudo não
encontrou diferenças entre bipolares e controles. Na região do
hipocampo, um estudo demonstrou aumento significativo do
hipocampo direito em pacientes bipolares, e outros quatro
estudos não descreveram diferenças nesta região.

No córtex pré-frontal (CPF), dois estudos demonstraram


diminuição significativa especificamente da região subgenual de
indivíduos bipolares com história familiar positiva para
transtornos de humor, e outros cinco estudos não encontraram
diferenças significativas no volume total ou em outras sub-
regiões do CPF. <

Dessa forma, os achados neuroanatômicos das diversas regiões


corticais cerebrais sugerem, principalmente, alterações da
amígdala e diminuição do CPF subgenual, estruturas que são
intimamente conectadas a regiões subcorticais e estão
relacionadas com o controle da resposta emocional. Estudos
que avaliaram os gânglios basais demonstraram aumento
significativo do estriado, globo pálido e núcleo caudado em
pacientes com THB.

Um estudo demonstrou relação inversa entre a idade e o volume


do putâmen, sobretudo em bipolares do tipo I, sugerindo
alterações neurodegenerativas relacionadas com a idade nesta
região. No entanto, seis estudos não encontraram alterações
volumétricas significativas nos gânglios basais entre bipolares e
controles.

Os resultados observados nas regiões subcorticais e fossa


posterior sugerem comprometimento dos gânglios da base e do
cerebelo, estruturas associadas à modulação do afeto e da
atenção, respectivamente.
Em resumo, diminuição no córtex pré-frontal parece ser o
achado mais consistente no estudo topográfico cerebral de
pacientes bipolares. Também tem sido relatado alargamento de
ventrículos, porém de forma menos consistente que na
esquizofrenia. Ainda, alterações no volume de hipocampo e
amígdala têm sido descritas na doença, porém sem
homogeneidade destes achados específicos.

Estudos realizados nos anos de 1990 descrevem de forma


consistente a presença de hiperintensidades em substância
branca subcortical em bipolares, usualmente associadas a
alterações vasculares, as quais são denominadas de “objetos
brilhantes não-identificados”.

Estima-se que indivíduos com THB possuem um risco três vezes


maior de apresentar lesões hiperintensas em substância branca,
que é a constatação mais prevalente nos estudos em
neuroimagem.

Cabe lembrar que tais achados não foram considerados como


específicos ao THB, já que foi observada associação entre este
achado com idade avançada e alteração vascular em
significativa proporção dos pacientes bipolares que
apresentavam esta alteração."

______________

O que é transtorno bipolar?

O Transtorno Bipolar, conhecido também como ao Transtorno


Maníaco Depressivo (antiga Psicose Maníaco-Depressiva), é um
transtorno psiquiátrico comum e tratável. Esta doença atinge
aproximadamente 1% da população geral e é associada com um
prejuízo significativo da função do indivíduo e um risco
aumentado de suicide.

O Transtorno Bipolar é caracterizado por períodos de elevação


anormal do humor, freqüentemente com episódios de depressão.
Tais episódios afetivos extremos têm, freqüentemente, um
substancial impacto negativo nos pacientes e em seus familiares,
podendo comprometer as finanças da família, os
relacionamentos, a capacidade funcional social e ocupacional e a
qualidade de vida (veja Transtorno Bipolar no DSM. IV e no
CID-10).

O Transtorno Bipolar do Humor (TBH) se manifesta


clinicamente sob a forma denominada Tipo I (com predomínio
de episódios de mania), que corresponde a uma incidência de
cerca de 0,8% da população geral, e a forma Tipo II (predomínio
de episódios depressivos), em cerca de 0,5% da população geral.

O humor elevado é diagnosticado como mania, hipomania, ou


um estado misto, onde os pacientes experimentam mania e
depressão. Um episódio maníaco é caracterizado por humor
elevado que dura uma semana ou por muito mais tempo e,
freqüentemente junto com outros sintomas, tais como sensação
de energia aumentada, pensamentos rápidos, ego inflado,
necessidade diminuída de sono, irritabilidade anormal, euforia, o
juízo crítico deficiente, e comportamento de risco aumentado.

Embora muitos indivíduos experimentem os sintomas iniciais de


mania como prazeroso, um episódio maníaco pode ser perigoso.
O julgamento do indivíduo é severamente prejudicado e as ações
são realizadas sem uma consideração cuidadosa do potencial de
risco, do eventual impacto negativo na saúde, nas finanças, na
carreira ou nos relacionamentos.

Mania severa, freqüentemente pode ser acompanhada de


comportamento psicótico, os indivíduos podem experimentar
alucinações, ilusões, paranóia, ou delírio humor-congruente. A
Hipomania é um grau menor e menos exuberante que a Mania e
se caracteriza por um período do humor anormalmente elevado,
associado à sintomas psicomotores (ansiedade, inquietação,
eloqüência, etc) que podem durar desde alguns dias até muitos
meses. A Mania e a Hipomania são diferenciadas, geralmente,
pelo grau de comprometimento das funções cotidianas do
indivíduo, tais como seus inter-relacionamentos e/ou
desempenho no trabalho (veja Episódio Maníaco no DSM. IV e
no CID-10 ).

A Depressão é, pois, um transtorno médico e psiquiátrico que


dura no mínimo 2 semanas e produz uma combinação de
sintomas físicos e emocionais com prejuízo em múltiplos
domínios do funcionamento da pessoa. O sintoma básico da
depressão costuma ser a perda do prazer nas atividades que
previamente agradáveis, juntamente com sentimentos de tristeza,
de desesperança e pessimismo.

Este sintoma básico é acompanhado por uma variedade de


sintomas físicos, tais como, alterações do sono, da concentração
e da memória, baixa energia e mudanças no apetite.

______________

TRANSTORNO BIPOLAR I - DSM.IV

A característica essencial do Transtorno Bipolar I é um curso


clínico caracterizado pela ocorrência de um ou mais Episódios
Maníacos ou Episódios Mistos. Com freqüência, os indivíduos
também tiveram um ou mais Episódios Depressivos Maior.

O Transtorno Bipolar I é subclassificado no quarto dígito de


acordo com o fato de o indivíduo estar experimentando um
primeiro episódio (isto é, Episódio Maníaco Único) ou de o
transtorno ser recorrente.

A recorrência é indicada por uma mudança na polaridade do


episódio ou por um intervalo entre os episódios de pelo menos 2
meses sem sintomas maníacos. Uma mudança na polaridade é
definida como um curso clínico no qual um Episódio Depressivo
Maior evolui para um Episódio Maníaco ou um Episódio Misto
ou no qual um Episódio Maníaco ou um Episódio Misto
evoluem para um Episódio Depressivo Maior.

Em contrapartida, um Episódio Hipomaníaco que evolui para um


Episódio Maníaco ou Episódio Misto, ou um Episódio Maníaco
que evolui para um Episódio Misto (e vice-versa), é considerado
apenas como um episódio único.

Para os Transtornos Bipolares recorrentes, pode-se especificar a


natureza do episódio atual ou mais recente (Episódio Mais
Recente Hipomaníaco, Episódio Mais Recente Maníaco,
Episódio Mais Recente Misto, Episódio Mais Recente
Depressivo, Episódio Mais Recente Inespecificado).

TRANSTORNO BIPOLAR II - DSM.IV

A característica essencial do Transtorno Bipolar II é um curso


clínico marcado pela ocorrência de um ou mais Episódios
Depressivos Maiores, acompanhados por pelo menos um
Episódio Hipomaníaco.

Os Episódios Hipomaníacos não devem ser confundidos com os


vários dias de eutimia que podem seguir-se à remissão de um
Episódio Depressivo Maior. A presença de um Episódio
Maníaco ou Episódio Misto exclui o diagnóstico de Transtorno
Bipolar II.
Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente significativo
ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em
outras áreas importantes da vida do indivíduo. Em alguns casos,
os Episódios Hipomaníacos em si não causam prejuízo; no
entanto, este pode decorrer dos Episódios Depressivos Maiores
ou de um padrão crônico de episódios imprevisíveis de humor e
de um funcionamento interpessoal ou ocupacional flutuante e
inconfiável.

Os indivíduos com Transtorno Bipolar II podem não ver os


Episódios Hipomaníacos como patológicos, embora outras
pessoas possam sentir-se perturbadas pelo comportamento
errático do indivíduo. Muitas vezes, particularmente quando em
meio a um Episódio Depressivo Maior, os indivíduos não se
recordam dos períodos de hipomania se não forem lembrados
por amigos íntimos ou parentes.

Veja tudo

_______________

Tratamento do Transtonor Afetivo Bipolar

O site NeuroPsicoNews traz algumas recomendações adicionais


para o tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB):

1. Se necessário, os estabilizadores do humor e outros


medicamentos usados no tratamento do transtorno
bipolar podem geralmente começar a ser administrados
antes de se conhecerem os resultados dos exames, caso o
paciente apresente bom estado geral de saúde. Se, a
critério do clínico, houve necessidade urgente, a
medicação pode começar a ser administrada antes da
coleta de amostras.
2. Tomografia computadorizada ou ressonância
magnética e eletroencefalograma são opções de segunda
linha na avaliação de pacientes resistentes a tratamento.
Não há necessidade deles de forma rotineira sem razão
clínica específica.

3. Os clínicos deverão julgar conforme seu próprio


critério em duas áreas onde não houve consenso: fazer
ECG em pacientes com menos de 40 anos de idade e
realizar uma consulta médica geral antes do tratamento.

Exames Laboratoriais para a Monitorização dos


Estabilizadores do Humor

Não há consenso claro entre os especialistas sobre a freqüência


recomendável dos exames laboratoriais, dando espaço para os
clínicos de aplicar seu próprio critério clínico.

1. - Nos primeiros 2 meses de tratamento:

1.a - Pedir exames de níveis sanguíneos de Lítio,


Valproato e Carbamazepina a cada 1-2 semanas.

1.b - Hemograma completo e provas de função hepática


mensalmente

2. - Longo prazo

2.a - Pedir exames de níveis sanguíneos de Lítio,


Valproato e Carbamazepina a cada 3-6 meses
2.b - Funções tireóides uma vez por ano (T4 total,
captação de T4, Hormônio estimulador da tireóide)

2.c - Avaliação das funções renais a cada 6-12 meses


(Testes séricos de NUS, creatinina e eletrólitos

2.d - Outros: urina de 24 horas para medição de volume


e função renal apenas se houver indicação específica;
não constitui exame de rotina.

_____________

Segundo o site Saúde Brasil, "O tratamento do TAB pode levar


a pessoa a ter uma vida normal ou, pelo menos, muito próxima
do normal. Isso geralmente só depende da adesão do paciente
aos medicamentos e das mudanças no estilo de vida que ele tiver
de fazer.

O início do tratamento visa estabilizar o humor. Para isso é


indicado lítio ou anticonvulsivantes considerados estabilizadores
de humor. Há também outras substâncias de última geração que
exercem este resultado.

O tratamento deve ser contínuo. Se o paciente parar de tomar os


remédios, os sintomas podem reaparecer. Efeitos colaterais
podem surgir depois de algum tempo de medicação, mas não se
deve interromper o tratamento ou automedicar-se. A primeira
atitude deve ser procurar orientação do médico.

Nas fases agudas em que pode haver agitação psicomotora, são


empregados outros medicamentos para o controle. São usados
tranqüilizantes, para as fases de mania e antidepressivos para as
fases de depressão.
O tratamento psicoterápico é indicado para doentes que não
aderem ao tratamento medicamentoso ou quando os prejuízos na
vida pessoal e social são grandes. Também pode ser indicada a
terapia familiar, pois o apoio da família é fundamental.

A eletroconvulsoterapia somente é indicada para pacientes que


têm outras doenças e que não podem tomar outros
medicamentos. Este é um procedimento que envolve choques,
mas muito bem controlado e com anestesia.

A internação deve ocorrer quando o paciente oferece risco para a


sua integridade física ou a de outros. Em casos graves, os
familiares devem recorrer ao médico disponível para se orientar
a respeito da atitude a ser tomada."

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