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COLEÇÃO NOVO SABER


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Titulo

Compilação de
Felix J Lescinskiene

Publicação desenhada para ser lida


também em dispositivos móveis.

2014

Créditos na ultima pagina

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A ilusão religiosa

O que mais frequentemente se conhece de


Freud, quando se trata de sua interpretaçã o
do fenô meno religioso, é que, para ele, a
religiã o é uma ilusã o. Vejamos em que se
apó ia esta sua convicçã o.

Todo bebê, ao nascer, vive as primeiras fases


de sua vida em um estado fusional com a
mã e. Chega, porém, um momento em que a
uniã o fusional com a mã e é interrompida pela
entrada, em cena, da figura do pai, como
Portador da Lei simbó lica.

Para continuar a se desenvolver, a criança


precisa aceitar esta Lei e assumir sua
castraçã o simbó lica, ou seja, renunciar à s
ambiçõ es fá licas do seu narcisismo infantil.
Surge, entã o, um grande conflito que a Lei do
pai impõ e à criança, ou seja, o sentimento de
amor e de ó dio que ela nutre pela figura deste
pai.

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Ela o odeia por tê-la separado de sua mã e,


rompendo a relaçã o fusional em que se
encontrava; mas, ao mesmo tempo, ela o ama
e anseia por sua proteçã o. Para Freud, esse
sentimento infantil perdura por toda a idade
adulta.

Assim, Deus nada mais é do que a imagem


idealizada do pai, no qual a criança procura
proteçã o para superar o seu desamparo.

Esta imagem idealizada de um pai protetor


onipotente é uma criaçã o imaginá ria da
criança, que só tem sentido enquanto ela vive
sob a égide do princípio do prazer, sem ainda
nã o se confrontar com a realidade. Fixar-se,
porém, nesta imagem, mesmo depois que a
criança deixou de ser criança e se tornou uma
pessoa adulta, é o que, para Freud, se
caracteriza como ilusã o. Para ele, "a religiã o
se originou do desamparo da criança
prolongada na idade adulta. No lugar do pai
protetor da infâ ncia, o homem adulto põ e o
Deus, Pai, Todo-Poderoso, a quem se deveria

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louvar e dar graças em todo o tempo e lugar"


(David, 2003, p.14).

A articulaçã o da religiã o com o complexo de


É dipo, especificamente a relaçã o do
sentimento religioso com o desamparo
infantil, já vinha sendo elaborada por Freud
desde o livro, escrito em 1910, sobre
Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua
infâ ncia. Nele, ele faz uma aná lise da
produçã o artística e científica de Leonardo da
Vinci, de suas pesquisas avançadas para a
época, como também dos poucos registros de
suas recordaçõ es de infâ ncia. A presença de
elementos ligados à religiã o, especialmente
ao cristianismo, é marcante na obra de Da
Vinci. Assim, ao analisar sua vida e obra,
Freud também tece importantes
consideraçõ es sobre a temá tica religiosa. A
mais importante, dessas consideraçõ es, é a
concepçã o de que a crença religiosa nutre-se
na relaçã o com a figura idealizada do pai.

A psicaná lise tornou conhecida a íntima


conexã o existente entre o complexo do pai e

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a crença em Deus. Fez ver que um Deus


pessoal nada mais é, psicologicamente, do
que uma exaltaçã o do pai, e diariamente
podemos observar jovens que abandonam
suas crenças religiosas logo que a autoridade
paterna se desmorona (Freud, 1910/1976j,
p.112).

Pelo visto, Freud, ao longo de sua obra,


insiste na idéia de Deus enquanto um
protó tipo do pai da primeira infâ ncia. No
livro O Futuro de uma Ilusã o, Freud articula
esta figura do pai idealizado e divinizado com
a temá tica da ilusã o. Esta, nos diz Freud, nã o
é o mesmo que um erro nem um engano. Mas,
sim, uma produçã o psíquica motivada pelo
desejo. Portanto, é a força do desejo,
consciente ou inconsciente, que motiva a
produçã o da ilusã o, a qual, por sua vez, gera e
alimenta a crença na existência de um Deus
Pai.

Seguindo esta mesma linha de reflexã o, no


artigo Uma neurose demoníaca do século XVll
(1923/1976k), Freud analisa alguns quadros

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e relatos do artista Christoph Haizmann, o


qual declarava ter feito um pacto com o
diabo. No referido artigo, a figura diabó lica é
interpretada, à luz da psicaná lise, como um
substituto da figura paterna. Sendo assim, do
mesmo modo que Deus é uma representaçã o
idealizada da figura do pai, o diabo seria a
representaçã o do ó dio infantil por esse
mesmo pai.

Se o Deus benevolente e justo é um substituto


do pai, nã o é de admirar que também sua
atitude hostil para com o pai, que é uma
atitude de odiá -lo, temê-lo e fazer queixas
contra ele, ganhe expressã o na criaçã o de
Satã . Assim, o pai, segundo parece, é o
protó tipo individual tanto de Deus quanto do
Demô nio (Freud, 1923[1922]/1976k, p.110).

Dessa maneira, Deus é a idealizaçã o da


imagem do pai que um dia muito amou e
protegeu a criança, sendo por ela também
amado; enquanto o diabo é o lado paterno
que a criança odiou e que, ao mesmo tempo,
imaginou que a odiava, por nã o permitir que

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ficasse com seu objeto amado. Daí o fato de


encontrarmos, na maioria das religiõ es, uma
figura que representa o mal, por quem os
fiéis nutrem ó dio e repulsa.

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