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Estilos clin. v.10 n.19 São Paulo dez.

2005

ARTIGOS

O que é um pai para uma criança? considerações sobre o caso Hans

What is a father for a child? considerations on Hans case

Michele Roman FariaI

Rede de Pesquisa de Psicanálise e Infância do Fórum do Campo Lacaniano - SP

RESUMO

O artigo trata da concepção de Lacan sobre a função paterna presente em seu comentário sobre o caso
Hans, no Seminário 4, de 1956-57. Pretendemos mostrar que, paralelamente à leitura de um ideal da
função interditora do pai, da qual decorre a argumentação de Lacan em favor da inoperância do pai de
Hans, é possível encontrar, já nessa época, a presença de alguns elementos que anunciam a virada
conceitual que levará Lacan a concluir que a função do pai não é a de proferir a interdição em si, mas
de fazer a ordenação de um ponto de hiância, já presente na estrutura.O que é um pai?

Palavras-chave: Psicanálise, Pai, Função paterna, Criança, Lacan, Freud.

ABSTRACT

This article discusses Lacan's conception of paternal function in his comment on Hans case, in Seminar
4, of 1956-57. We intend to show that, at the same time he presents an ideal function of the father, of
which elapses his argumentation in favor of the idleness of Hans' father, it is possible to find the presence
of elements that announce the conceptual turning that will lead Lacan to conclude that father's function
is not pronouncing the interdiction itself, it is related to an ordination of a specific point, already present
in the structure.

Keywords: Psychoanalysis, Father, Paternal function, Child, Lacan, Freud.

O pai é, com efeito, o pivô, o centro fictício e concreto da manutenção da ordem genealógica, que permite
à criança se imiscuir de maneira satisfatória num mundo que, de qualquer maneira que se avalie,
cultural, natural ou sobrenaturalmente, é aquele onde ela nasce. É num mundo organizado por essa
ordem simbólica que ela faz sua aparição, e é isso que ela tem que enfrentar.(Lacan, 1956-57, p. 410)

A pergunta sobre "o que é um pai?" encontra, na obra de Lacan, respostas nos três registros: imaginário,
simbólico e real. Desde suas primeiras considerações sobre a imago paterna, passando pela concepção
da função paterna como função simbólica, e até chegar à articulação do Nome-do-Pai como operador
lógico, é possível notar como as teorizações de Lacan sobre o pai acompanham o desenvolvimento de
sua obra.

É na década de 50, mais especificamente no Seminário 5, que Lacan articula a função do pai ao complexo
de castração e lhe dá, enquanto função simbólica, o lugar central no complexo de Édipo. Ao fazê-lo, nos
instiga a pensar sobre as possíveis relações entre essa função simbólica e aquele que concretamente
ocupa o lugar de pai no ternário edipiano.

Em princípio, Lacan faz notar que a presença do pai no ambiente familiar não garante, necessariamente,
uma função operante, assim como a carência simbólica do pai não tem, necessariamente, relação com
sua ausência na família. É nesse sentido que, no Seminário 5, ele afirma que "mesmo nos casos em que
o pai não está presente, em que a criança é deixada sozinha com a mãe, complexos de Édipo
inteiramente normais (...) se estabelecem de maneira exatamente homóloga à dos outros casos" (Lacan,
1957-58, p. 173). Para Lacan, "a questão de sua posição na família não se confunde com uma definição
exata de seu papel normatizador. Falar de sua carência na família não é falar de sua carência no
complexo" (p. 174).

Opondo-se, assim, a toda concepção que ele denomina "ambientalista" da função paterna, Lacan procura
uma resposta à pergunta sobre o que dá ao pai sua função simbólica. Sua resposta, ao longo
dos Seminários 4 e 5, remete ao desejo materno, na medida em que é o elemento que revela o
assujeitamento da mãe, suporte do Outro para a criança, a uma exterioridade, a uma lei que não é a
sua, que está mais-além de seu próprio capricho.

Nessa época, Lacan dá especial destaque, para situar esse assujeitamento materno, ao lugar que a
palavra do pai tem para a mãe. "O que constitui seu caráter decisivo deve ser isolado como relação não
com o pai, mas com a palavra do pai" (p. 199). Esta é uma marca bastante evidente no comentário de
Lacan sobre o pequeno Hans, no Seminário 4. É possível notá-lo, por exemplo, na página 227, onde ele
apresenta um breve resumo do caso:

"O pequeno Hans, a partir dos quatro anos e meio, faz o que se chama uma fobia, isto é, uma neurose".

Essa fobia é assumida por seu pai, que por acaso é um dos discípulos de Freud. É um homem muito
bom, o que pode haver de melhor como pai real, e o pequeno Hans tem realmente por ele todos os bons
sentimentos, ele gosta muito de seu pai, e está longe de temer por parte deste um tratamento tão
abusivo quanto o da castração.

Por outro lado, não se pode dizer que o pequeno Hans seja frustrado de qualquer coisa. Tal como o
veremos no início da observação. O pequeno Hans, filho único, nada em felicidade. É objeto de uma
atenção que o pai, certamente, não esperou a aparição da fobia para lhe manifestar, e é também objeto
dos cuidados mais ternos da mãe, inclusive tão ternos que tudo lhe é permitido. É preciso, na verdade,
a sublime serenidade de Freud para ratificar a ação da mãe, quando hoje em dia todos os anátemas
cairiam sobre ela, que admite todas as manhãs o pequeno Hans como terceiro no leito conjugal, e isso
"contra as reservas expressas do pai e marido". Não apenas este se mostra, neste ponto, de uma
tolerância bem particular, mas podemos julgar que ele esteja completamente sem controle da situação
pois, "diga ele o que disser, as coisas continuam a ocorrer da maneira mais decidida, sem que a mãe
em questão tenha por um só minuto a menor consideração pelas observações que lhe são
respeitosamente sugeridas pelo personagem do pai" (1956-57, p. 227).

No seminário do ano seguinte, Lacan voltará a nos lembrar da falta de valor da palavra do pai de Hans
para a mãe. "Lembre-se do pequeno Hans do ano passado. O pai é tudo o que há de mais agradável, é
tudo o que há de mais presente, é tudo o que há de mais inteligente, é tudo o que há de mais amistoso
para Hans, não parece nem um pouco imbecil e leva o pequeno Hans a Freud _ o que, afinal, na época,
era dar mostras de um espírito esclarecido; mas, com tudo isso, ele é totalmente `inoperante', na medida
em que aquilo que diz é precisamente sem efeito junto à mãe, quero dizer" (p. 199).

Neste momento de seu ensino, a falta de valor da palavra do pai para a mãe leva Lacan a falar em
"carência", em "inoperância" do pai. Trata-se de um termo intimamente associado à Verwerfung da
psicose (tema de seu seminário do ano anterior) mas que, no Seminário 4, leva Lacan a aproximar e
comparar freqüentemente a fobia e a perversão. Afinal, é na perversão que encontramos uma mãe que
dita a lei a um pai cuja palavra não tem valor, uma mãe "que mostra ter sido a lei para o pai num
momento decisivo" (p. 215). Para Lacan, na perversão, há a proibição paterna, "mas vê-se também que
essa proibição fracassou, ou, em outras palavras, que foi a mãe quem acabou ditando a lei" (p. 216).
Lacan, entretanto, encontra na repulsa de Hans diante das calças da mãe o elemento que lhe permite
afirmar que "o pequeno Hans jamais será um fetichista".
Assim, a expressão "inoperância paterna" ou "carência paterna" tem, nesse momento do ensino de
Lacan, um sentido bastante específico, que se esclarece no próprio Seminário 4. Para Lacan, nessa
época, é evidente que "se houvesse existido [para Hans] um Vatti1 de quem realmente se pudesse ter
medo, teríamos ficado nas regras do jogo, teríamos podido fazer um verdadeiro Édipo, um Édipo que
ajuda a sair das saias da mãe" (p. 354). Lacan aposta portanto, nesse momento de seu ensino, no
verdadeiro Édipo, aquele que depende de um pai de quem realmente se possa ter medo para dar conta
da situação.

Lacan segue aqui os passos de Freud, no sentido de buscar, em Hans, aquilo que não estaria bem situado
no complexo de Édipo. Se Freud busca-o na dificuldade dos pais em esclarecer Hans sobre a distinção
entre os sexos, o que para ele significa uma dificuldade de instauração do complexo de castração, Lacan
ressalta que essa dificuldade decorre da incapacidade do pai em suportar a função paterna. Para Lacan,
o sintoma de Hans toma seu lugar devido à ineficácia do pai em cumprir "adequadamente" essa função.
Segundo ele, se as coisas tomaram o contorno que tomaram para Hans, é porque "o pai, ao mesmo
tempo em que está ali, não é um absoluto capaz de suportar a função estabelecida que responde às
necessidades da formação mítica correta, ao mito do Édipo em seu alcance universal." (p. 355)

Para Lacan, "talvez nem todos os complexos de Édipo precisem passar por uma tal construção mítica,
mas é certo que eles necessitam "realizar a mesma plenitude na transposição simbólica". Isso pode ser
sob uma outra forma mais eficaz, pode ser em ação. A presença do pai pode, com efeito, ter simbolizado
a situação, por seu ser ou seu não-ser" (p. 273). Há, portanto, por ocasião destes seminários, a aposta
de Lacan em sua função "eficaz" do pai, em uma função que poderia dar conta integralmente de algo
que, no caso Hans, teria ficado em aberto. É o que leva à afirmação de uma "carência paterna", no caso
Hans. Se tentássemos responder, até esse ponto do ensino de Lacan, à pergunta sobre o "que é um pai
para uma criança?", a resposta seria: é o pai proibidor, que interdita o acesso da criança à mãe (não a
uma mãe qualquer, mas à mãe que dá à palavra do pai seu devido valor), simbolizando plenamente a
castração para a criança e, consequentemente, livrando-a da neurose e da necessidade do sintoma.

Entretanto, sabemos que esse ideal da função do pai não se sustenta ao longo do ensino de Lacan, na
medida em que seus avanços teóricos conduzem à evidência da impossibilidade do simbólico em recobrir
completamente o real _ que é exatamente o que a presença do objeto a, como resto, revela. Nesse
ponto de virada de seu ensino, Lacan irá, gradativamente, deslocar seu interesse da linguística em favor
da lógica, o que lhe permitirá reformular a concepção de uma função metafórica do pai, para a do Nome-
do-Pai como operador lógico. O que interessa, entretanto, mostrar neste trabalho, não é a virada
conceitual em si, mas a presença de alguns pontos de sua leitura do caso Hans que, já nessa época,
anunciam tal virada conceitual.

Na leitura que Lacan propõe para o caso Hans no Seminário 4, é possível notar duas formas distintas de
abordagem da função do pai. Na primeira, já mencionada, encontramos o pai que deveria intervir na
relação da mãe com a criança, o pai que interdita, que ameaça, que proíbe _ enfim, o pai do qual se
espera que faça o que o pai de Hans não teria conseguido fazer.

Há, entretanto, uma segunda abordagem da função do pai neste mesmo seminário, na qual Lacan
ressalta o valor da palavra do pai para a mãe. É especialmente desta segunda abordagem que se pode
concluir pela ineficácia do pai de Hans que, diga o que disser, as coisas continuam a ocorrer sem que a
mãe pareça ter muita consideração pelas observações feitas pelo pai. A importância atribuída por Lacan
ao valor da palavra do pai para a mãe, tem o efeito de nos deslocar da tradicional leitura da função do
pai no complexo de Édipo como proibidor, um pai de quem a criança tem medo, que interdita o acesso
da criança à mãe2, para uma concepção da posição paterna como um envio, um apelo, um
endereçamento. Quando a palavra do pai tem, para a mãe, um valor, isso faz com que o desejo materno
não seja, simplesmente, como sugere Lacan, uma "lei não controlada" (1957-58), pois o desejo da mãe
passa a ser "dependente de alguma coisa" para além dela mesma. É em relação a esse para-além da
mãe que encontramos essa segunda forma de abordagem da função do pai por Lacan, presente
nos Seminário 4 e 5. Vejamos como isso se articula no caso Hans.

No Seminário 4, Lacan afirma que "a questão que nos é proposta pelos fatos é a de saber como a criança
apreende o que ela é para a mãe." (1956-57, p. 229) Para Lacan, a posição fálica da criança não diz
respeito somente à relação com seu pênis e a dos outros seres à sua volta (embora este seja um
elemento de valor simbólico significativo para a criança numa determinada fase), ela remete à posição
que a criança ocupa para esse Outro materno e ao que lhe é possível apreender dessa posição. Nesse
sentido, a pergunta que Lacan nos leva a formular é: o que é Hans para a mãe? Sua resposta é a de que
ele é o falo _ o que é constatável, segundo ele, pela relação excessivamente terna que lhe dedica a mãe.
É também essa a constatação de Freud, mas por outro viés, o da primazia fálica: se Hans imagina que
todos os seres vivos têm pênis, é porque está, segundo Freud, um passo aquém do complexo de
castração.

O que Lacan observa, é que há um momento em que ocorre a quebra desse "paraíso do engodo" da
relação imaginária com a mãe, moldado e integrado no amor materno _ dormir em sua cama, ir com ela
ao banheiro, vê-la vestir-se, etc. É o momento em que a pulsão manifesta-se, na atividade masturbatória
de Hans. Segundo Lacan, "(...) a partir do momento em que intervém sua pulsão, seu pênis real, aparece
esse deslocamento de que eu falava há pouco. Ela [a criança] é aprisionada em sua própria armadilha,
confrontada com a hiância imensa que existe entre satisfazer sua imagem e ter algo de real para
apresentar." (p. 232) Haveria aí, portanto, um momento de deslocamento de Hans da imagem _ ideal
materno _ a satisfazer. "Com o que Hans é confrontado? Ele é posto no ponto de encontro entre a pulsão
real e o jogo imaginário do engodo fálico, e isso com relação à mãe." (p. 233)

Para Lacan, esse é o momento que exige uma re-ordenação das relações com o mundo, devido ao
aparecimento de uma hiância entre a posição de Hans e o ideal do desejo materno. Mas por que a
emergência da pulsão sob a forma da masturbação abre essa hiância que o tira do ideal fálico? Porque
é nesse momento que a mãe, que tudo permitia a Hans, mostra que há algo que não é bem recebido,
que a incondicionalidade de seu amor é posta em questão devido à masturbação. Isso fica evidente na
cena em que Hans, depois do banho, percebe na mãe um cuidado para não tocar seu pênis, e lhe
pergunta: "porque é que você não põe seu dedo aí?" A mãe lhe responde: "porque seria porcaria."
(Freud, 1909, p.29) É uma frase que parece indicar que a manifestação da pulsão em Hans é mal
recebida, que essa manifestação é capaz de transformar um amor condicional, na condição pela qual
Hans se vê tomado algum tempo depois, a de não mexer em seu faz-pipi. O fato de que lhe ameacem,
de que as ameaças façam ou não efeito, de que tenha ou não conhecimento da ausência do pênis nos
seres do sexo feminino não teve, para Hans, tanta importância quanto a introdução desse elemento na
relação com a mãe, uma relação na qual, aparentemente, "tudo" lhe é permitido _ desde dormir em sua
cama até freqüentar o banheiro com ela _ e, com a masturbação, fica finalmente marcada uma
interdição.3 Não seria essa uma evidência, no laço da mãe com Hans, de um assujeitamento a uma
exterioridade que condiciona sua relação com a criança? E não é esse assujeitamento da mãe ao pai
como terceiro que define a função paterna para Lacan nos Seminários 4 e 5?

Isso permite pensar a posição paterna enquanto alguém ou algo que é convocado, como significante,
para ordenar um ponto de hiância produzido pela quebra da identidade fálica da criança. Esse envio ao
pai é o que mais tarde Lacan chamará "vetorização" 4 (e podemos articulá-lo também ao tema da
nomeação em Lacan).

Entendo que ao situar esse ponto de hiância na relação de Hans com a mãe, Lacan nos mostra, já nesse
momento de seu ensino, um ponto de abertura para a virada conceitual posterior em relação ao tema
do pai. Hans é confrontado com a castração, pela hiância aberta na relação amorosa com a mãe.
Entretanto, em função do lugar que o pai ocupa no discurso materno _ um lugar no qual, segundo Lacan,
"(...) diga o que ele disser, as coisas continuam a correr da maneira mais decidida, sem que a mãe em
questão tenha por um só minuto a menor consideração pelas observações que lhe são respeitosamente
sugeridas pelo personagem do pai." (1956-57, p. 227) _ Hans não parece encontrar no pai uma
significação ordenadora dessa questão. Assim, nesse momento não há como fazer o envio dessa hiância
aberta na relação com a mãe, ao pai. Surge então o sintoma fóbico, como significante escolhido por
Hans para fazer essa ordenação.

Se a função paterna é uma função ordenadora do desejo materno (desejo que se apresenta como uma
hiância que indica a quebra da posição fálica ideal ocupada pela criança), então não há como considerar
que a função paterna está inoperante no caso Hans. Esse ordenamento foi feito, Hans o interpretou
como: "um cavalo pode me morder", e é por isso que estamos diante de uma neurose.

Trata-se, entretanto, de uma ordenação da interdição que não está atrelada à necessidade da "proibição"
do desejo proferida pelo pai, mas que é um efeito da articulação do desejo _ que a teoria do Édipo
mostra ser, em primeiro lugar, o desejo materno _ à lei. É uma ordenação que está de acordo com a
afirmação de Lacan de que "a verdadeira função do pai é unir (e não opor) um desejo à lei." (1960, p.
839).

Assim, há duas maneiras distintas de responder à pergunta sobre o "que é um pai para uma criança?" a
partir das considerações de Lacan sobre o caso Hans que encontramos no Seminário 4.
Na primeira _ a mais evidente _ encontramos esse ideal de eficácia paterna que leva Lacan a propor a
hipótese de "inoperância" ou "carência" do pai, e a considerar a fobia como um elemento que faz o que
ele chama a "suplência" do pai. É nesse sentido que ele afirma que "o objeto fóbico vem desempenhar
o papel que, em razão de alguma carência, em razão de uma carência real, no caso do pequeno Hans
não é preenchido pelo personagem do pai." (1956-57, p. 411) O objeto fóbico seria, por tanto, segundo
Lacan, "o elemento em torno do qual vão girar todos os tipos de significações que formarão, afinal, `um
elemento de suplência que faltou no desenvolvimento do sujeito', isto é, aos desenvolvimentos que lhe
foram fornecidos pela dialética do meio ambiente onde ele está imerso." (1956-57, p. 411)

Na segunda forma de responder à pergunta "o que é um pai para uma criança?" _ não tão evidente
nesse seminário _ é possível notar uma abertura de Lacan para sua concepção sobre a função do pai
que terá lugar somente muitos anos depois, e que decorre, principalmente, do desenvolvimento do
conceito de real como um impossível sempre precariamente ordenado pelo Nome-do-Pai como um
operador lógico que faz um enodamento dos três registros. Com os desenvolvimentos posteriores da
obra de Lacan, ficará cada vez mais claro que não há como sustentar esse ideal da eficácia da função
paterna, porque fica cada vez mais evidente a precariedade do próprio simbólico em fazer uma ordenação
"eficaz" do real. É nesse sentido que o pai será considerado, ele mesmo, um elemento de suplência,
convocado para representar, para nomear, para vetorizar, um ponto de hiância.

Referências bibliográficas

Freud, S. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard brasileira das
obras completas de Sigmund Freud. (Vol.10, pp. 15-154). Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1980. [ Links ]

Lacan, J. (1955-56). Seminário 3: As psicoses. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1985. [ Links ]

_____ (1956-57). Seminário 4: A relação de objeto. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1995. [ Links ]

_____ (1957-58) Seminário 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar,
1999. [ Links ]

_____ (1960). Subversão do sujeito e dialética do desejo. In Escritos (p. 839). Rio de Janeiro, RJ: Jorge
Zahar, 1995. [ Links ]

_____ (1969). Nota sobre a criança. (p.369). In Outros Escritos (p. 839). Rio de Janeiro, RJ: Jorge
Zahar, 2003. [ Links ]

Recebido em agosto/2004
Aceito em dezembro/2004

NOTAS
1
Papai, em alemão.
2
Este é o pai que Lacan definirá como o pai imaginário, "é o pai assustador que conhecemos no fundo
de tantas experiências neuróticas" e ao qual ele se refere como "uma figura ocasionalmente caricata do
pai" (Lacan, 1956-57, p. 225).
3
Um outro elemento a ser considerado nesse sentido é o nascimento da irmã, Hanna.
4
Em Nota sobre a criança (Lacan, 1969, p.369) define a função do pai enquanto aquela na qual "seu
nome é o vetor de uma encarnação da Lei no desejo."
I
Psicanalista, Doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP, membro da Rede de
Pesquisa de Psicanálise e Infância do Fórum do Campo Lacaniano - SP.

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