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Clínica Psicanalítica
“E o ser do homem, não somente não pode ser compreendido sem a loucura, como não
seria o ser do homem, se não trouxesse em si a loucura, como o limite de sua liberdade”.
(Jacques Lacan: Propos sur la causalité Psychique, in “Écrits”, Paris, Seuil, 66, p. 176).
A ideia de “incluída de fora” fica muito claro quando retomamos o texto do caso Aimeé,
que em primeiro lugar ela aparentemente ataca a atriz, que figura como seu duplo, sua
rival ideal no espelho, e no segundo momento, em que Lacan monstra que a
identificação que ela busca com o Outro da lei, momento em que é presa.
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Ou ainda, também chamado de “corte no espelho”. Mas esse pontos retomaremos nas
aulas futuras, o que nos interessa aqui está nesse lugar de alienação, que Lacan nos
explica com o exemplo do “A bolsa ou a vida”: num assalto o assaltante apresenta duas
alternativas:
A) Entregue a bolsa - e com isso terá perdido uma parte de seu objeto de gozo/usufruto
B) Te mato - e na sequência levo sua bolsa e com isso tudo será perdido.
Moral da história: quem não topa perder nada no futuro perderá tudo! Pensando dentro
de nosso curso:
Quem “topa" perder uma parte do seu gozo, ou seja quem “topa" ser castrado (que em
Freud pensamos na castração do pênis/falo e em Lacan pensamos em castração do gozo)
poderá entrar para o “Clube dos Castrados”, dos faltando, DAQUELES QUE UTILIZAM A
LINGUAGEM PARA FALAR DE SUAS FALTAS. E falar do que falta, uma coisa no lugar de
outra, é uma forma metafórica de falar. Diferente daqueles que não toparam a castração
e falam de maneira concreta, ao pé da letra, que inclusive nem aparece como pergunta
em análise.
Os faltantes/falantes dentro de um conjunto, em que fazem laço social, e aqueles que
não fazem parte, incluídos do lado de fora; a linguagem concreta que não faz sentido
para os faltantes - papo de louco?
No extremo podemos pensar no crime das irmãs Papin, que para evitarem
“observações"arrancam os olhos das patroas - um crime REAL, ou como Ed Gein que
literalmente arrancou a pele do rosto da mãe para fazer dele ela, o que nos leva às
discussões do começo do curso, ao falar de estrutura, em que na Psicose, a criança É o
Falo e sequer questiona esse lugar, nem de ser e muito menos de ter; esses dois últimos
deixamos para a perversão e a neurose, respectivamente.
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Mais uma vez a compreensão das estruturas não pode se limitar aos sintomas clássicos
para fechar um diagnostico, e sim nossa escuta sobre o posicionamento do sujeito diante
do Outro e o uso da linguagem. Na Psicose, o Nome-do-Pai está excluído, ou em
francês, aproveitando a sonoridade que a língua permite, o Nom-du-Pere: o Não-do-Pai.
Mais uma vez, não estamos falando do pai de carne e osso, o pai real, e sim do pai
imaginário e, principalmente o pai simbólico, pai como metáfora, a metáfora que
substitui o desejo da mãe. A metáfora paterna como ponto de amarração de todos os
significantes que vem para tentar dizer o que escapa, e diferentemente de cada palavra
isolada, sem amarração em uma “pedra única da metáfora”, mantendo cada palavra em
um nível de significado, palavra que não alcança a outra e quando alça não gruda, ou se
gruda é a partir de parâmetros completamente alheios ao grupo dos sujeito faltantes, a
escrita muitas vezes sem sentido, ou a concatenação das ideias feitas por Schreber.
Essa estrutura metafórica, possibilitada pela amarração de todos os significantes a uma
mesma “pedra fundamental” o nome do pai, possibilita ao neurótico tentar domar a
linguagem, usá-la, enquanto na Psicose o sujeito que é usado por ela, de acordo com
Lacan: “Se o neurótico habita a linguagem, o psicótico é habitado, possuído pela
linguagem” - (Lacan, Seminário 3).
Essa ideia ainda pode ser explorada na fuga para a sanidade e normalidade de alguns
sujeito psicóticos “não desencadeados” que utilizam a linguagem de forma imaginária e
não simbólica, e o rigor e formalidade é uma forma de não deixar o aparecimento do
sentido antitético que é inerente a qualquer palavra.
Ainda sobre essa dimensão imaginaria da linguagem, podemos pensar que “o
importante é que o imaginário continua a predominar na psicose, e que o simbólico, na
medida em que chega a ser assimilado, é imaginarizado: é assimilado não como uma
ordem radicalmente diferente, que reestrutura a primeira, mas assimilado simplesmente
por imitação de outras pessoas” (Fink, p. 102) e ainda “graças à imitação, o psicótico
pode aprender a falar como outras pessoas falam mas a estrutura essencial da linguagem
não é integrada da mesma maneira” (p. 103)
Alucinação
Muitas vezes atribui-se o fenômeno da alucinação à estrutura psicótica, mas Fink (2018)
afirma que no sentido mais lato, a alucinação não é decorrente do fracasso da função
paterna, afinal esta é a primeira via de satisfação para o bebê (confira na Interpretação
dos Sonhos, Cap. 7 parte C - por exemplo). Assim a alucinação se configura como uma
forma típica de pensamento do processo primário e que este presente nas três estruturas:
neurose, psicose e perversão. E completando com uma afirmação de Miller: “… quando
se encontra um elemento como alucinação, ainda é preciso fazer perguntas mais exatas
para distinguir as diferentes categorias estruturais”. (Fink, p. 95).
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Para nos ajudar nesse sentido, Fink (idem) demonstra uma forma de alucinação mais
específica, “alucinações psicóticas - o que chamarei de alucinações autênticas - das vozes
e visões corriqueiras relatadas por tantos não psicóticos” (p. 95) - como um paciente que
viu sua ex-mulher no corredor e “acreditou na visão -, mas não confiou nela” (p. 96)
Retomem o artigo de Freud, A perda da realidade na neurose e na psicose…
Os "tipos" de psicose
Assim como a neurose tem seus tipos clínicos (histeria e neurose obsessiva) a psicose
também pode ser pensada dentro de três tipos, paranoia, esquizofrenia e melancolia; e é
mais fácil pensar nesses modelos dentro de uma proposta feita por Freud em Introdução
ao Narcisismo:
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