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Clínica Psicanalítica
Clínica Psicanalítica
Os restos do ser
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Curso: Lacan - Estruturas e
Clínica Psicanalítica
A mulher histérica
“(…) a histérica é o juiz mais tirânico desta ascensão pelo lado do ideal da
perfeição. Nada será belo o bastante para neutralizar o rastro das imperfeições,
para apagar os vestígios dos defeitos. Esta exigência despótica, inevitavelmente,
chama as manifestações sintomáticas, onde a mais impressionante é a indecisão
permanente da histérica em relação a qualquer coisa” (p. 77)
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música “Eclipse oculto”: “mas na hora da cama nada pintou direito, é minha cara
falar, não sou proveito sou pura fama”.
Essa dúvida poderia ser resumida na clássica pergunta: “o que é uma mulher?”,
que pode inclusive levar a um suposto movimento homossexual de uma mulher
em relação a outra, onde na verdade existe uma aproximação para saber como é
ser mulher, o que é ser uma mulher, ou ainda: o que há nessa mulher que
consegue atrair o desejo dos Outro? (dos homens inclusive). Claramente
percebido na aproximação e interesse de Dora pela Senhora K, detentora do
desejo de seu pai (de Dora) e do Sr K. Sra K mostrava ser aquilo que a mãe de
Dora não era, uma mulher que nem o pai de Dora se interessava, fechada ali na
sua “psicose da dona de casa” (Freud, O caso Dora). Seria algo como “vampirizar
esta outra” (Dor, p. 80).
Ainda considerando o duplo movimento, esse interesse pela mulher marca o lugar
da histérica dentro de relações triangulares, muitas vezes entrando no meio de um
casal, identificada com a mulher ideal do homem, baseado no que existe na
parceira, somado ao que falta nela, e claro, obviamente não sustentando esse
lugar. Aqui está a marca do desafio contudo sem levá-lo até o final, o que
caracterizaria a transgressão.
Esse desafio pode aparecer em relações em que a mãe coloca o filho nesse lugar
de “homem"e pede que ele decida entre ela e a esposa, “quem corresponde ao
seu desejo?” (Veja o exemplo no texto de Fiorini).
A histeria masculina
Freud foi ridicularizado quando apontou que a histeria poderia ocorrer não só nas
mulheres, mas também nos homens, e mesmo nos tempos atuais, parece haver
essa dificuldade (alias, dentro de algumas abordagens “psi"sequer a histeria é
considerada existente.
“Do ponto de vista da sintomatologia clínica, a histeria masculina não consegue se
distinguir da histeria feminina” (Dor, p. 86). Por exemplo, no “dar a ver” da mulher
histérica aparece no homem como “dar a ver o corpo inteiro” (p. 87), como uma
forma de “desejo de aparecer, de agradar”, levando a inevitável tendência de
seduzir o Outro:
“(…) a sedução se constitui como o suporte privilegiado de uma negociação de
amor. Para certificar-se de ser amado por todos, o histérico oferece seu próprio
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assumir o gozo feminino, quer dizer, dominá-lo (…) do mesmo modo, ele
inconscientemente identifica-se com a parceira feminina e goza por ejaculação
precoce, como imagina gozar uma mulher, sucumbindo ao pode fálico”(Dor, p.
93). Essa virilidade pode aparecer em corpos atléticos que se tornam verdadeiros
substitutos do falo, o corpo inteiro como um grande falo (confira em Dor p. 92).
Mas mais uma vez o encontro é impossível, inconscientemente ainda se encontra
preso à mãe, e seus fracassos revelam que nenhum mulher pode mobilizar seu
desejo.
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