Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2o — A função diagnóstica.
3o — A função transferencial.
“sintoma analítico”. O que está em questão nessas entrevistas preliminares não é se o sujeito é
analisável, se tem um eu forte ou fraco para
ou qualificativo deste, como algo que lhe seria próprio: ela deve ser
— pode ser considerado como um signo (ou sinal): aquilo que representa
alguma coisa para alguém. Quando esse sintoma é transformado em
Nas
“Acontece de aceitarmos pré-psicóticos em análise, e sabemos no que isso vai dar — vai dar
em
psicótico.”
(histeria — obsessão), ainda que “não sem hesitação”, para que o analista
desgovernada
Obsessivo
Para o obsessivo, o Outro goza, como ilustra no caso do Homem dos Ratos a figura do capitão
cruel que traz à cena, com seu relato do suplício dos ratos, um gozo terrível e mortificador.
Esse Outro do obsessivo é patente no personagem do Pai da horda primitiva do mito de Totem
e Tabu, que é, como diz Lacan, um mito de obsessivo. Trata-se de um Outro detentor de gozo,
que impede seu acesso ao sujeito. É um Outro a quem nada falta e que não deve, portanto,
desejar — o obsessivo anula o desejo do Outro. É nesse lugar do Outro que ele se instala,
marcando seu desejo pela impossibilidade. Trata-se de um Outro que comanda, legifera e o
vigia constantemente. A fantasia do obsessivo traz a marca do impossível desvanecimento do
sujeito para escapar do Outro. O obsessivo sempre preenche a demanda e a falta do outro,
ele não deve desejar e não falta?
lacunas com significantes para barrar esse gozo: ele não pára de pensar,
“seu trabalho que lhe deva dar o acesso ao gozo”16. O mito do senhor
Histeria
Para a histérica, o Outro é o Outro do desejo, marcado pela falta e pela impotência em
alcançar o gozo, tal como demonstra o pai de Dora, cujo desejo ela vai sustentar com o seu
sintoma da afonia (determinado pela fantasia de felação): $ a s(A). A histérica confere ao
Outro o lugar dominante: na cena de sedução de sua fantasia, em que figura o encontro com o
sexo, ela não está presente como sujeito, mas como objeto: “não fui eu, foi o Outro”. Isso
aparece na clínica como uma reivindicação ao Outro, a quem, diferentemente do obsessivo,
ela não deve nada: é o Outro que lhe deve. Se o obsessivo escamoteia a inconsistência do
Outro supondo-lhe o gozo, para a histérica o Outro não tem o falo. Se tampouco ela o possui,
deve assumir, no entanto, a função de faz-de-conta de ser o falo. A histérica não é escrava; ela
desmascara a função do senhor fazendo greve. No entanto, está sempre à procura de um
senhor, de um mestre: inventa um mestre, não para se submeter a ele, mas para reinar,
apontando as falhas de sua dominação e mestria.18 A histérica estimula o desejo do Outro e
dele se furta como objeto — é o que confere a marca de insatisfação a seu desejo.1 ??
Os tipos clínicos também se situam distintamente quanto ao desejo. Este é estruturado, não
como uma resposta e sim como uma questão 24 As 4+1 condições da análise inconsciente que
se situa no nível de “Quem sou eu?”. Para o obsessivo, trata-se de uma questão sobre a
existência (estou vivo ou estou morto?); para a histérica, sobre o sexo (sou homem ou
mulher?) que é subsumida pela questão — tanto para o homem quanto para a mulher
histérica — “o que é ser mulher?”20 Esta interrogação será feita a partir da outra mulher,
como é o caso da Sra. K para Dora e da vizinha da bela açougueira. Freud baseia o seu
diagnóstico de Dora na conotação de desprazer (no caso, a repugnância) conferida ao gozo
sexual. “Sem dúvida, eu consideraria histérica uma pessoa em quem uma ocasião para
excitação sexual despertasse sensações que fossem preponderante ou exclusivamente
desagradáveis, fosse ou não a pessoa capaz de produzir sintomas somáticos.”
Essa conotação do gozo sexual, de menos prazer da histérica e de mais prazer do obsessivo,
apontada por Freud, se encontra desde o rascunho K de sua correspondência com Fliess, onde,
no intuito de estabelecer a etiologia das neuroses, procura diferenciar histeria, neurose
obsessiva e paranóia a partir da modalidade de gozo vivenciado no primeiro encontro com o
sexo e da vicissitude da representação vinculada a essa experiência. 22 Essa modalização do
gozo sexual nos tipos clínicos é um critério diagnóstico determinado pela fantasia fundamental
que não deve ser desconsiderado nas entrevistas preliminares.
Qual o efeito do estabelecimento desse sujeito suposto saber? É o amor. Com o surgimento do
amor se dá a transformação da demanda, uma demanda transitiva (demanda de algo, como
por exemplo, livrar-se de seu sintoma) torna-se uma demanda intransitiva (demanda de amor,
de presença, já que o amor demanda amor).
O comentário de Freud nessa retificação, de que “os resultados de uma doença dessa natureza
nunca são involuntários”, promove ainda a responsabilização do sujeito na escolha da neurose.
Na retificação subjetiva há, portanto, a introdução da dimensão ética — da ética da
psicanálise, que é a ética do desejo — como resposta à patologia do ato que a neurose tenta
solucionar escamoteando-a