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QUESTÕES PARA ESTUDO

1. Quem foi J. Lacan e qual a sua importância para a psicanálise depois de


Freud?

Lacan foi um psicanalista francês discípulo de Freud que ganhou


notoriedade com seus trabalhos baseados na psicanálise e ancorados em
conceitos da linguística. Sua contribuição para a psicanálise se dá pela ideia
de que o inconsciente é estruturado como linguagem, aplicando conceitos
como a metáfora e a metonímia ao que antes era chamado de leis do
inconsciente.

2. Quais as diferenças entre o pensamento freudiano e o pensamento


cartesiano?

No pensamento cartesiano, “penso logo existo” e “não sou senão uma coisa
que pensa”, ou seja, o pensamento é o atributo que me pertence. Para
Descartes, o sujeito é um sujeito da razão, do pensamento racional, da
ciência, no qual a única certeza é o pensamento. Portanto, o sujeito é uma
coisa cuja substância é pensamento. Por isso, o pensamento e a mente são
uno, inteiros, pois o ser está no pensamento. Já para a Freud, o sujeito
também é o sujeito do pensamento, porém da razão inconsciente. Portanto,
no pensamento freudiano “penso logo desejo” e “existo onde não penso”, já
que o sujeito é desejo, e o ser está fora do pensamento.

3. O que é o sujeito para a psicanálise?

O sujeito para a psicanálise não é inteiro, é dividido, é sujeito a identificação,


no qual o ser está fora do pensamento. É o sujeito da razão inconsciente, do
pensamento inconsciente. Para Freud, o sujeito é a lembrança apagada, o
significante que falta, o vazio de representação em que se manifesta o
desejo. Logo, sujeito é desejo. Mas o pensamento não o define, pois o sujeito
não tem substância, é vazio, falta, não-identificável, as quais na análise são
desfolhadas uma a uma. O inconsciente é pensamento sem ser. O sujeito é
dividido, não é o EU.
4. Sobre o desejo – definir o conceito, sua importância clínica.

O desejo é uma pulsão melhor organizada sempre dirigida ao outro, é


inconsciente de forma que só temos acesso aos seus representantes
psíquicos;

Na clínica o desejo pode aparecer na forma de sintoma, visto que o sintoma


é uma manifestação subjetiva do desejo, assim como uma metáfora da
estrutura edipiana (pai, mãe e filho - corte, castração) onde se presentifica a
articulação da lei com o desejo.

5. Entrevistas preliminares como tratamento de ensaio: o que isso quer dizer?

O tratamento de ensaio como praticado por Freud consiste no tratamento


de uma ou duas semanas antes do começo da análise propriamente dita,
com a finalidade de evitar a interrupção da análise após um certo período
de tempo. Os objetivos principais do tratamento de ensaio são ligar um
paciente ao seu tratamento e à pessoa do analista; e o estabelecimento do
diagnóstico.

Lacan chamou este processo de Entrevistas Preliminares, indicando que


existe um limiar entre a porta de entrada da análise e a porta de entrada do
consultório do analista. Há uma divisão das entrevistas preliminares em dois
momentos: de compreensão e conclusão, tendo como desfecho a decisão
por parte do analista se vai acolher a demanda do candidato à análise e
aceitá-lo como seu analisando. Além disso, Lacan colocou 3 funções de
ordem lógica e não cronológica: sintomal (o sintoma que é um significado
pro sujeito precisa readquirir sua função de significante); diagnóstica (o
diagnóstico é buscado no registro simbólico e deve servir de orientação
para condução da análise); transferencial (diz respeito ao sujeito suposto
saber que marca o sinal de entrada na análise. Resolver buscar um analista
está vinculado à hipótese de que há um saber em jogo no sintoma que a
pessoa quer se desvencilhar e que o analista é capaz de solucionar).

6. Por que a necessidade de transformar o sintoma em enigma?

O sintoma transformado em enigma é um momento de histerização, já que o


sintoma representa a divisão do sujeito ($). Enquanto o sintoma faz parte da
vida do sujeito — vida com a qual ele se acostumou antes do encontro com
o analista — pode ser considerado como um signo (ou sinal): aquilo que
representa alguma coisa para alguém. Quando esse sintoma é transformado
em questão, ele aparece como a própria expressão da divisão do sujeito. A
partir da transformação do sintoma em enigma, o sintoma que é um
significado pro sujeito vai buscar readquirir sua função de significante,
possibilitando de ser trabalhado em análise.

7. Quais as diferenças entre as entrevistas preliminares e a análise.

O tempo de diagnóstico faz com que se distinga entrevistas preliminares da


análise. Do ponto de vista do analista, as entrevistas preliminares podem ser
divididas em dois tempos: um tempo de compreender e um momento de
concluir, no qual ele toma sua decisão. É nesse momento de concluir que se
coloca o ato psicanalítico, assumido pelo analista, de transformar o
tratamento de ensaio em análise propriamente dita.

8. O que é o sintoma para a psicanálise (e diferenciá-lo de outras


concepções).

O sintoma nos indica que o passado é atual e o desejo eterno dói. O sintoma
neurótico, assim como o sonho, é uma formação do inconsciente e,
enquanto tal, é a expressão metafórica do desejo para o sujeito. O sintoma é
portanto uma metáfora da estrutura edipiana onde se presentifica a
articulação da lei com o desejo - desejo que aí se manifesta em suas
impossibilidades. Então, o sintoma seria uma manifestação subjetiva do
desejo.

Uma diferença de outras concepções é que o sintoma para a psicanálise se


diferencia do sintoma para a medicina por sua estrutura de linguagem.

9. Diferencie NEUROSE, PSICOSE E PERVERSÃO; como o diagnóstico aparece na


clínica?

A neurose tem como forma de negação o recalque, o local de retorno é o


simbólico e o elemento negado no simbólico retorna no próprio simbólico
em forma de sintoma.
Já na perversão, a forma de negação é o desmentido. O local de retorno é
o simbólico e o elemento negado é ao mesmo tempo reafirmado,
retornando no simbólico sob a forma de fetiche.

Na psicose, a forma de negação é a forclusão. O local de retorno é o real e


o elemento negado não deixa traço ou vestígio, ele arrasa (destrói) e o
retorno é no real, sob a forma de automatismo mental, geralmente
alucinação.

10. Qual a importância do diagnóstico para a clínica psicanalítica?

A condução da análise é orientada pelo diagnóstico diferencial estrutural,


isso é importante para, por exemplo, em casos da análise de um psicótico
que não pode ser guiada pelo Nome-do-pai e a castração.

11. O que seria o “Inconsciente estruturado como uma linguagem”?

A estrutura do inconsciente funciona semelhante à linguagem. É porque a


linguagem tem estrutura que há inconsciente e não ao contrário. O
inconsciente estruturado como linguagem de Lacan não é um poço escuro
e encoberto, algo que está por baixo da consciência; o inconsciente está na
linguagem, ele aparece na fala, na importância que damos a certas
palavras, em conceitos, ideias, lapsos, atos falhos e chistes. O ICS se situa na
superfície da fala, a partir daquilo que escapa ao controle da consciência.

12. Fale sobre as duas formas de articulação do significante ou “leis do ICS”.

A metáfora, referida por Freud como condensação, corresponde a


substituição de um significante por outro. Relaciona-se ao sintoma, pois ele
substitui uma pulsão ICS. Dessa forma, diz-se que o sintoma é uma metáfora
do ICS. Já a metonímia, que Freud chamou de deslocamento, é o
deslocamento de um elemento dentro de uma cadeia de significantes, se
dá pelo uso de uma palavra fora de seu contexto normal para expressar um
significante de contiguidade (semelhante).

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