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QUESTIONÁRIO PARA REVISÃO DE MATÉRIA

I - A partir da leitura lacaniana da obra de Freud, o diagnóstico que orienta o trabalho


do psicanalista é estrutural e se baseia no registro simbólico do complexo de Édipo e
da castração, que envolvem as questões relacionadas com a morte, com o sexo, a
procriação, a paternidade etc. Para Lacan, a travessia do Édipo é o processo da
inscrição do significante Nome-do-Pai no Outro da linguagem (Outro – lugar do
inconsciente).

Com base no conteúdo dos slides sobre “As Funções das Entrevistas Preliminares”,
cuja referência bibliográfica é encontrada no livro “As 4 +1 Condições de Análise”
(pps. 15 a 38) de Antonio Quinet, e nos slides sobre “A Função do pai na psicanálise”
e sobre os “Três tempos do Édipo”, cuja referência bibliográfica é encontrada no
texto de Teresinha Costa “O Édipo no ensino de Lacan”, incluído no livro Édipo (pps.
49 a 70), responda as seguintes questões:
1) Qual a importância a função do pai no contexto do Édipo, segundo Lacan?
A importância da função do pai no Édipo se dá na função simbólica de colocar
um limite na relação primária entre a criança e a mãe, separando a criança do
lugar de falo da mãe para ocupar outros lugares e desejar outros objetos
significantes.

2) O estudo do período pré-edipiano, caracterizado por uma relação dual da


criança com a mãe, conduziu Lacan a conceber o Édipo como um processo que
se desenvolve em três tempos. Conforme a teoria lacaniana, o que ocorre no
primeiro tempo do Édipo?
No primeiro tempo ocorre a alienação ao desejo do outro (mãe) e identificação
imaginário, como sendo o falo da mãe, objeto de desejo. A criança encontra-se
sujeitada ao desejo da mãe, identificando-se como sendo o seu objeto de
desejo.
“Ser ou não ser o falo”.

3) E no segundo tempo do Édipo, o que ocorre? Como o pai aparece nesse


momento na vida da criança e quais as suas consequências na sua relação
com a mãe e com o falo?
O segundo tempo do Édipo se caracteriza pela intervenção do pai imaginário na
relação mãe-criança-falo, onde o pai é visto como objeto rival, tirano que priva
a mãe de ter o filho como falo e a criança de ser o falo da mãe. Através do
discurso da mãe, o pai transforma-se em interditor; aquele que tem a Lei de
ordenar o desejo da mãe. “Ter ou não ter o falo”
4) No terceiro tempo do Édipo se dá que tipo de experiência na vida da criança?
Qual a função do pai neste momento e sua relação com a castração? Que
efeitos a metáfora paterna produz na vida da criança?
No terceiro tempo ocorre o declínio do Édipo onde o falo é um significante,
representado pelo Nome do Pai, que tem o dom de transmitir a lei da
castração, a lei do desejo e a substituição do objeto. No momento da metáfora
paterna o desejo da mãe é substituído pelo “Nome do Pai” e o pai permite ao
filho o poder algo além da mãe. “Ter ou não ter o dom”

II - Segundo a leitura lacaniana da obra de Freud, a forma como cada sujeito vai lidar
com o real da castração e com a angústia que o atravessamento dessa experiência no
Édipo lhe provoca é o que vai determinar as três formas de estruturação clínica
baseadas nas três formas do sujeito negar a castração ou a inscrição do significante
do Nome-do-pai no inconsciente. Essas três formas de estruturação clínica são as que
Freud nomeou como: a neurose, a perversão e a psicose.
Com base no conteúdo dos slides sobre o “Édipo e as estruturas clínicas”, cuja a
referência bibliográfica encontra-se no capítulo sobre “As Funções das Entrevistas
Preliminares, do livro de Antonio Quinet “As 4+1 Condições de Análise” (pps. 23-
30), responda as seguintes questões:
1) Qual a forma de negar ou de se defender do real da castração operada na
neurose? E em qual registro da estruturação psíquica, segundo a teoria
lacaniana, a manifestação desse tipo de negação retorna: real, simbólico ou
imaginário? E qual o tipo de manifestação subjetiva que caracteriza esse tipo
de retorno?
Na neurose a forma de negar a castração ocorre através do recalque,
retornando no registro simbólico, se manifestando através do sintoma.
2) Além dos aspectos da neurose já considerados, quais ainda podem
caracterizá-la?
A neurose também se caracteriza pela amnésia histérica. O neurótico não se
recorda do que aconteceu em sua infância e o sintoma constitui-se como uma
metáfora, ou seja, como uma substituição de um significante recalcado por um
novo significante, que mantém uma ligação de similaridade com o significante
anterior.

Da mesma forma, responda as três perguntas formuladas na questão anterior


referindo-se à perversão.
Na perversão a forma de negar a castração ocorre através do desmentido,
retornando no simbólico sob forma de fetiche (manifestação subjetiva) do
perverso.
3) Além dos aspectos da perversão já considerados, quais ainda podem
caracaterizá-la?
Na perversão, há admissão da castração no simbólico e concomitantemente
uma recusa, um desmentido. Ocorre em função do sexo feminino: por um lado,
há a inscrição da ausência de pênis na mulher, portanto, da diferença sexual;
por outro, essa inscrição é desmentida. O retorno desse tipo de negação
particular do perverso é cristalizada no fetiche, cuja determinação simbólica
pode ser apreendida através de sua estrutura de linguagem.
4) Em relação à psicose, proceda respondendo as mesmas questões formuladas
anteriormente.
Na psicose a forma de negação ocorre pela foraclusão e retorna no real,
apontando uma relação de exterioridade do sujeito com o significante. Além
das alucinações, o sujeito apresenta intuições delirantes atribuindo uma
significação enigmática a um determinado evento sem conseguir explicitá-la;
ecos de pensamento, onde o sujeito ouve seus pensamentos repetidos,
podendo atribuir a alguém essa ressonância; pensamentos impostos, nos quais
o sujeito não reconhece como sua a cadeia de significantes, que adquire uma
“autonomia” que ele refere como obra do outro.
5) Além dos aspectos da psicose já considerados, que ainda podem caracterizá-
la? O que Lacan nomeou como foraclusão do Nome-do-Pai e quais os seus
efeitos?
Na psicose, a certeza delirante já aponta um distúrbio de linguagem. A
foraclusão do Nome-do-pai é um termo francês extraído da terminologia
jurídica, através do qual Lacan designo sua abolição simbólica de um direito
que não foi exercido no prazo prescrito; no sujeito psicótico o que é abolido é o
direito deles em utilizar do significante do Nome-do-Pai. Aanula o significante
fálico, impossibilitando o sujeito de se situar na partilha dos sexos como
homem ou mulher – manifestando diversos fenômenos, da castração à
transformação em mulher.

III - Seguindo ainda os passos de Freud, Lacan assinala que, nas entrevistas
preliminares, é importante, no que diz respeito à direção da análise, ultrapassar o
plano da estrutura clínica para se chegar ao plano dos tipos clínicos, mesmo que haja
“hesitação”, para que assim o analista possa estabelecer a estratégia da direção da
análise. No caso da neurose, os tipos clínicos são: a histeria e a neurose obsessiva.
(Quinet, 2005, p. 27).

Com base nos slides sobre “Os Tipos Clínicos da Neurose” e no texto de Antonio
Quinet sobre “As Funções das Entrevistas Preliminares”, responda:

1) Como se dá a relação do sujeito com o Outro na neurose obsessiva? E como


se dá a sua relação com o próprio desejo? Qual a questão subjetiva que,
inconscientemente, o sujeito com neurose obsessiva se faz?
Se dá com o neurótico obsessivo sempre sujeito ao tempo do Outro, desejo de
estar suspenso ao desejo do Outro, o neurótico deseja enquanto Outro, O
Outro é o Senhor, o Mestre; o sujeito é o seu escravo. A demanda do Outro
toma a função de objeto em sua fantasia, para não deixar emergir o gozo do
Outro, o sujeito anula o seu desejo com ações significantes: pensar, duvidar,
calcular.

2) Do mesmo modo, responda as perguntas formuladas na questão anterior em


relação à neurose histérica.
É o sujeito histérico quem seduz para — quando é chegada a “hora da verdade”
— furtar-se como objeto e manter seu desejo sustentado pela insatisfação, O
sujeito finge ser o falo do Outro, ser o objeto da sedução do Outro. Ele não
deve nada ao Outro é o Outro que lhe deve. A histérica procurará provocar a
falta no Outro com seus atrasos e suas faltas e insatisfações.
IV – Foi através do fracasso de Breuer no tratamento de “Anna O.” que Freud
desvendou os segredos da transferência e abandonou o método catártico. Ele então
recuperou o fenômeno do amor transferencial e o transformou no mais forte
instrumento do método psicanalítico. No texto de 1912, A Dinâmica da
Transferência, Freud nos diz: “Cada indivído, através da ação combinada de sua
disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um
método específico próprio de conduzir-se na vida erótica – isto é, nas precondições
para enamorar-se que estabelece, nas pulsões que satisfaz e nos objetivos que
determina a si mesmo no decurso daquela.”

Com base no conteúdo dos slides sobre “A transferência” na teoria de Freud e no


texto “A Dinâmica da Transferência”, que se encontra no livro “Fundamentos da
clínica psicanalítica”, das Obras Incompletas de Freud, Editora Autêntica, (pps.76-86),
responda as seguintes questões:

1) Segundo a teoria freudiana, como pode ser definida a transferência?


A relação entre a presença do analista e a interrupção do discurso do
analisante onde se faz sentir a resistência.
2) Porque ao mesmo tempo que a transferência facilita o processo de análise,
ela pode servir como um obstáculo a esse processo?
A transferência pode se misturar de maneira imperceptível às associações do
paciente isolando a transferência.
3) Como Freud definiu a transferência positiva e a transferência negativa?
Transferência positiva caracterizada por sentimentos amistosos e afetuosos
que são admissíveis à consciência, e sentimentos eróticos, que tornaram-se
inconscientes; e a transferência negativa por sentimentos hostis.
4) Que tipos de transferência pode servir como resistência ao processo de
análise?
Resistência ao deciframento e resistência do sujeito a abandonar o seu
sintoma, o gozo do sintoma. Para Freud, a transferência positiva de
sentimentos eróticos ou a transferência negativa de sentimentos agressivos
surgem como resistência à análise.

IV - Segundo Lacan, “No começo da psicanálise é a transferência, e seu pivô é o


sujeito suposto saber.” (Quinet, 1991, p. 30).

Com base no conteúdo dos slides sobre “A transferência” na teoria de Lacan e no


texto sobre “As Funções das Entrevistas Preliminares”, do livro de Antonio Quinet,
(pps. 30 a 38), responda as seguintes questões:
1) Como Lacan define o Sujeito suposto saber?
O sujeito suposto saber é definido por Lacan, no início de seu ensino, como
“aquele que é constituído pelo analisante na figura de seu analista”. O sujeito
suposto saber trata-se então de uma ilusão na qual o sujeito acredita que a
verdade sobre o seu sintoma pode ser encontrada no analista.

2) Lacan diz que o Sujeito suposto saber não é a pessoa da analista. Então que
lugar o Sujeito suposto saber ocupa para o sujeito da análise?
O lugar do sujeito suposto saber não é a pessoa do analista, mas um efeito do
discurso do analisando, um lugar inconsciente – o Outro inconsciente - ao qual
o analista é chamado a ocupar.

3) E qual o efeito do estabelecimento desse Sujeito suposto saber, segundo a


teoria lacaniana?
Segundo Lacan, o efeito do estabelecimento do sujeito suposto saber é o amor.
Com o surgimento do amor se dá a transformação da demanda em livrar-se do
sintoma, para a demanda de amor que o analisando faz ao analista.

4) Segundo Lacan, a transferência do analisante para o analista é o amor que


se dirige ao saber. Porém, sua finalidade, como a de todo amor, não é o
saber. Desse modo, qual é a finalidade da transferência no processo de
análise?
Sua finalidade, como a de todo amor, não é o saber, e sim o objeto causa do
desejo. Esse objeto (o objeto a) é o que confere à transferência seu aspecto
real: de real do sexo. Trata-se aqui da vertente da transferência como
colocação em ato da realidade sexual do inconsciente.
Caso Shereber:

No caso Schreber, não havendo a identificação simbólica ao Nome-do-Pai-que


diria ao jurista o que é ser um pai ou o que é ser um homem, na realidade de
seu delírio, Schreber se identifica imaginariamente como sendo o objeto do
desejo do Outro. Na construção delirante de Schreber, o Outro não é castrado
e é representado por Deus que lhe confiou a missão de se transformar em uma
mulher e gerar uma nova raça, já que o fim do mundo chegava e ele era o único
sobrevivente.

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