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VISÃO PSICANALÍTICA
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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................ 3
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NOSSA HISTÓRIA
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Introdução
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Tanto Freud como Luria sempre insistiram que para descobrir a
organização neurológica do aparelho mental humano como compreendemos na
psicanálise é necessário, em primeiro lugar, dissecar a estrutura interna
psicológica das várias mudanças na personalidade, na motivação e na emoção
complexa. Assim, os múltiplos fatores subjacentes produzindo esses sintomas e
síndromes podem ser identificados, e cada um correlacionado com sua "cena de
ação" neuro-anatômica.
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Psicose e neurose: visão Psicanalítica
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meninas não têm pênis porque este órgão lhe foi arrancado (complexo de
castração). As meninas veem-se incompletas (por causa da ausência e
consequente inveja do pênis).
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A patologia neurótica se caracteriza pelo recalque do desejo durante o
Complexo de Édipo. A somatização de conversão histérica, por exemplo, se
fundamenta na presença de um desejo sexual que não foi satisfeito pelas vias
normais.
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sexuais que deveriam ser chamadas de perversas, se pudessem encontrar uma
expressão em atos imaginários ou reais.
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antissocial surge também entre pessoas com grande oferta de recursos
financeiros e sociais.
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Na patologia psicótica há uma rejeição da realidade e do Complexo de
Édipo. Os delírios, alucinações e depressões são uma tentativa frustrada de dar
sentido e lógica a uma visão de mundo particular, ocupando o lugar da fissura
na relação do eu com o mundo. O sujeito cria uma nova realidade que é
constituída de acordo com os impulsos desejosos do id.
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Durante a estruturação da personalidade, a criança inicialmente não está
inserida no simbólico e seu contato com o mundo ocorre por intermédio da mãe,
que identifica o filho como objeto de seu desejo e o sujeita às suas escolhas.
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possui o objeto de desejo de sua mãe, o falo. Essa é a fase das identificações,
que acontecem de maneira diferente de acordo com a escolha de objeto da
criança.
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A elaboração do objeto fetiche é uma formação de compromisso entre
duas correntes psíquicas conflitantes: uma sinaliza a ausência do pênis na mãe,
a outra lhe atribui imaginariamente o pênis que supostamente falta na formação
do objeto fetiche.
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complexo de Édipo e à sexualidade os eixos básicos da vida psíquica e, como
consequência, dá ao pai um lugar central na estruturação da personalidade, nas
formas e contornos do adoecer psíquico, além de estar na base da moral e da
própria vida cultural.
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No caso da exclusão o sujeito não chegou a ser inscrito no significante. O
autista seria o sujeito que, por motivos variados, estaria impossibilitado de ser
introduzido no campo da linguagem.
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Segundo Sieiro (2013), a psicanalista Marie-Christine Laznik considera
que o autismo resulta de uma falha de estruturação do aparelho psíquico por
conta do fracasso do circuito pulsional, sobretudo no terceiro tempo, podendo
levar à constituição de patologias diversas com déficits gravíssimos que fazem
lembrar a oligofrenia.
Por esta razão, alguns autores afirmam que o autismo é uma quarta
estrutura psíquica, elaborada sem a vivência do Complexo do Édipo; enquanto
outros autores afirmam que sem a entrada na linguagem não existe a formação
de uma estrutura, sendo o quadro autista uma patologia instalada antes da
estruturação psíquica.
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Nesta perspectiva, a manifestação da síndrome autística está relacionada
à não instauração das estruturas psíquicas, trazendo como consequência
déficits no desenvolvimento do bebê (Sieiro, 2013).
Laznik identificou dois sinais clínicos que podem ser percebidos ainda no
primeiro ano de vida da criança e permitem um diagnóstico precoce
(Vasconcelos, 2009):
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Nesse sentido, o trabalho de prevenção em saúde mental seria facilitado
pelos médicos que, ao detectar os sinais precoces de problemas graves com os
bebês, poderiam encaminhá-los para as consultas psicológicas especializadas.
Laznik ensina que o bebê com risco de autismo é capaz de olhar para a
mãe ou para a qual a mãe fala ao seu bebê, com seus picos prosódicos
acentuados e prolongamento das vogais (Vasconcelos, 2009).
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Acompanhamos aqui tanto os estudos de Ramos (2008), que sugere que
a histeria no início da pesquisa freudiana era um paradigma diagnóstico muito
mais vasto do que aquilo que hoje chamamos de histeria, quanto os argumentos
de Van Haute e Geyskens (2010) de que a edipianização do diagnóstico
freudiano deu-se muito mais tarde do que se pensa. Ou seja, a confiança na
solidez de oposições diagnósticas de primeira ordem, como entre neurose e
psicose, ou de segunda ordem, como entre histeria e neurose obsessiva, deve-
se muito mais à psiquiatrização da psicanálise, notadamente até os anos 1960,
do que à realidade clínica e textual de sua psicopatologia.
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É segundo este paradigma da histeria tomada como discurso, e não por
outro qualquer, que o real, neste caso o real de pathos, pode se transmitir ao
modo aparentado à ciência. Isso significa admitir que a psicopatologia
psicanalítica é uma psicopatologia histérica, ou seja, neurótico-cêntrica. E um
bom exemplo disso se dá quando identificamos a histeria simultaneamente como
um tipo e como uma estrutura clínica. Ela é simultaneamente um tipo de neurose,
dividida entre histeria de retenção ou de defesa, e a língua e o caso fundamental
da neurose, do qual se deduz o funcionamento da fobia ou da neurose
obsessiva.
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representação para com a realidade (vesânias). Isso foi frequentemente
atribuído à herança do trabalho de separação entre histeria e epilepsia, levado a
cabo pelos desenvolvimentos semiológicos de Charcot (1887/2003), contudo
isso deixa de lado que o próprio Charcot seguia o esquema diagnóstico de
Cullen. Ou seja, a categoria de neurose antecede a partição entre neurologia e
psiquiatria (Costa Pereira, 2010).
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identificação e escolha de objeto, quanto o caráter traumático da sexualidade
incestuosa, endogâmica e parricida.
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uma espécie de perda ou anomia da Lei, que confere unidade ao aparelho
psíquico, esta nova narrativa não exprime apenas o sofrimento decorrente da
ameaça contra a identidade, apresentando soluções de recomposição pela
extrusão ou ab-reação do objeto patógeno, nem pela simbolização da diferença
negada, ou ainda pelo reconhecimento do caráter simbólico, vale dizer universal
da lei edipiana. Agora é a própria identidade, do desejo ou do Outro, que aparece
como um sintoma, como uma solução precária a ser defendida inutilmente. Esta
experiência de autodissolução ou de não-identidade a si é o que Lacan chamou
de gozo, e que exprimia, nos termos da diagnóstica freudiana o fato quantitativo
capaz de determinar tanto as expectativas de cura quanto a força gerativa dos
sintomas (Dunker, 2002).
Ora esta primeira narrativa pensa a histeria como uma questão sobre a
feminilidade, e pensa a feminilidade como uma questão sobre a confluência
improvável entre o corpo e a reprodução. Neste momento, Lacan (1951/1988)
recorre a Hegel para apresentar a histeria como a bela alma, que não consegue
reconhecer-se na desordem de sua própria feminilidade. A histeria é então uma
alienação redobrada, uma alienação em estado crítico.
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Percebe-se que já em 1958 a descrição da histeria se altera um pouco.
Ela passa a ser definida por um desejo, o desejo insatisfeito (Lacan, 1958/1988).
Neste caso, a alienação passa a ser presumida como um atributo do sujeito em
geral, sendo específico da histeria a relação privilegiada ao falo. Ser o falo,
identificar-se ao falo, fazendo assim que a falta recaia sobre o Outro, assim como
a divisão localize-se no sujeito, redefine a histeria como um tipo de desejo e não
mais um estado paradigmático e excessivo de alienação do desejo. O falo, como
lugar de identificação do sujeito, conduz à hipótese de que a castração paterna
é uma condição inarredável para a sustentação do desejo histérico. Ele é,
portanto, um desejo estruturado como uma negação, um desejo que se
apresenta como sintomático em sua estrutura de condensação ou de metáfora.
O que a histeria não consegue elaborar é justamente sua condição de objeto
para o desejo do Outro. Este desejo é então significado como intrusivo e
indefinidamente metaforizado, ou seja, negado. É neste momento que Lacan
insiste na importância do sonho da bela açougueira como exemplo
paradigmático de que o que define a histeria é a identificação com o desejo do
Outro.
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desejo, mas impossível, ou real, do ponto de vista de sua realização empírica. A
cura passa a ser a cura ou a travessia desta identificação histérica (Lacan,
1964/1988).
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estar vem de si enquanto a narrativa do objeto intrusivo afirma que o mal vem do
Outro.
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Vejamos agora como certas variações narrativas afetaram os modelos
metapsicológicos de Freud e de como estes alteraram sensivelmente a
diagnóstica das neuroses ao longo do tempo.
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tomada aqui por seu sintoma mais significativo, a obsessão, e não como
estrutura que agrega todos os sintomas sob uma causa comum.
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situação ou cena que é lembrada posteriormente como um encontro prematuro,
em um momento em que o aparelho psíquico ainda não se encontrava
"preparado" para tramitar ou simbolizar tamanho montante de intensidade
libidinal. Esta sobrecarga, gerada pelo despreparo ou inadvertência do
psiquismo histérico, sempre colhe o sujeito em posição passiva, ao contrário da
neurose obsessiva, no qual este aparece em posição ativa.
As neuroses são um caso ampliado desta intrusão, por isso elas são
definidas pela defesa contra ideias inconciliáveis (Unverträglich), que ocasionam
uma divisão psíquica (Spaltung), que separa afetos de suas representações,
gerando um recalcamento (Verdrängung), cujo retorno deformado, quer no
corpo, quer em ideias substitutivas ou objetos, forma sintomas. Acresce este
modelo o caso de uma: "modalidade defensiva muito mais enérgica e bem
sucedida que consiste na foraclusão (verwerfen) da representação insuportável
junto com o afeto e se comporta como se a representação nunca houvera
acontecido" (Freud, 1894/1988, p. 69).
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Na apresentação do caso do Homem dos Ratos encontramos um uso raro
da noção de estrutura por Freud:
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Alteram-se então as oposições diagnósticas. As neuroses de
transferência (histeria de conversão, neurose obsessiva e histeria de angústia),
opõem-se às neuroses narcísicas (parafrenia, paranoia, esquizofrenia,
melancolia). A primeira acepção enfatiza a neurose como narrativa de alienação,
identificação, transferência e repetição ao outro. Já a segunda definição salienta
a gênese do eu, suas regressões e fixações, ao modo de defesas evolutivas ou
involutivas. Registremos que a primeira acepção ressalta a linguagem e a
memória, e a segunda, o tempo e suas modulações. Articulando ambas as
versões de neurose encontramos a noção de fantasia. É por isso que uma das
definições mais amplas e recorrentes de neurose, neste período, afirmará que:
"as neuroses são, pode-se dizer, o negativo das perversões" (Freud & Breuer,
1905/1988, p. 165)
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derrogada pela hostilidade produzida pelo drama infantil. Em Análise da Fobia
de uma Criança de Cinco Anos, o caso do Pequeno Hans, (Freud, 1909/1988) a
função do pai passa a ser decisiva. A teoria de Édipo e seu complexo nuclear de
castração nos remete ao conflito cruzado envolvendo atos de escolha de objeto
e de reformulação de identificações. Seu referente é a angústia como articulador
da falta entre o objeto e identificação, entre imaginário e simbólico. As oposições
entre narcisismo e amor de objeto são tematizadas no âmbito da noção de lei
simbólica (ofensa corporal, perda de amor, diferença entre os sexos).
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castração (cena primária) e as vicissitudes da fixação e da regressão ao erotismo
anal. O tema do pacto edipiano e de sua violação domina toda a apresentação
narrativa do caso. Aqui se multiplicam as imagens sobre as vassalagens do eu
(entre realidade, supereu e id), das múltiplas procedências da angústia (perda
de amor, ameaça real, castração), das várias procedências da resistência e do
compromisso entre exigências múltiplas:
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Isso altera substancialmente a economia das oposições diagnósticas. As
neuroses de defesa (histeria, neurose obsessiva, fobia) opõem-se externamente
às neuroses narcísicas e internamente aos subtipos de neuroses definidas como
grupo de sintomas (neurose traumática, neurose de guerra, neurose de destino,
neurose de caráter). Aqui as relações comparativas parecem se estabilizar, mas
talvez isso ocorra justamente porque Freud procura elementos conceituais que
explicam a multiplicação de suas oposições clínicas. Para além das oposições
inicialmente descritas entre regressão e fixação ou entre negação-aceitação,
agora se incluem as oposições entre masculinidade e feminilidade, atividade e
passividade, realidade e fantasia, fálico e castrado, sadismo e masoquismo: "Só
se pode apreciar retamente a significatividade do complexo de Édipo [na
determinação da neurose], se por sua vez levamos em conta sua gênese da fase
do primado do falo" (Freud, 1923/1988, p. 147).
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Esta relação, estudada no artigo acima, é mediada por um pacto. Um
contrato no qual o demônio recebe a alma do contratante e em troca lhe oferece
serviços para seu desejo. Ganha nova importância a noção de séries
complementares, por meio da qual um fator etiológico é compensado pela
emergência proporcional de outros. Portanto a narrativa do pacto não se dá
apenas intersubjetivamente, mas também intrassubjetivamente. A articulação
entre conflitos postos em uma espécie de hierarquia, centralizada pelo Édipo,
dentro deste pelo falo e ainda em seu interior pelo complexo de castração explica
a profunda afinidade deste momento narrativo com a sedimentação das
oposições diagnósticas, principalmente entre neurose e psicose. "A neurose é o
resultado de um conflito entre o eu e seu id, enquanto que a psicose é o
desenlace análogo de uma similar perturbação nos vínculos entre o eu e o
mundo exterior" (Freud, 1924/1988a, p. 125).
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Lembremos que a partir de Mal-estar na Civilização é a força e severidade
do supereu que determinam quantitativamente a força e intensidade dos
sintomas e da culpa. Depois do Édipo, a autoridade internalizada forma o
supereu, este transforma em consciência ou sentimento de culpa, que surge
como uma "permanente infelicidade interna". Culpa e angústia são resultado de
uma renúncia (Versagung) pulsional, a mais originária em consequência do
medo da agressão externa e posteriormente em virtude do medo da autoridade
interna representada pelo supereu.
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Trata-se, portanto, de outra narrativa de sofrimento, ou seja, aquela que
se organiza em torno da perda da relação entre as partes e a unidade, dissolução
da identidade pela diferença, corrupção do espírito e de suas funções. Neste
ponto a neurose como estrutura (histeria, neurose obsessiva e fobia) é oposta
às psicoses (esquizofrenia, paranoia, melancolia). Contudo, a ênfase é colocada
em processos inicialmente descritos para a perversão (Verleugnung) que
permitem explicar tanto fenômenos psicóticos (alucinação negativa) quanto
sintomas neuróticos (clivagem do eu).
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infância, quando ele ainda se acha na dependência de outros; o perigo de
castração, até a fase fálica; e o medo do seu superego, até o período de latência.
Não obstante, todas essas situações de perigo e determinantes de ansiedade
podem resistir lado a lado e fazer com que o ego a elas reaja com ansiedade
num período ulterior ao apropriado; ou, além disso, várias delas podem entrar
em ação ao mesmo tempo. É possível, além disto, que haja uma relação
razoavelmente estreita entre a situação de perigo que seja operativa e a forma
assumida pela neurose resultante. Quando, numa parte anterior desta
apreciação, verificamos que o perigo da castração era de importância em mais
de uma doença, ficamos alerta contra uma superestimativa desse fator, visto que
ele poderia não ser decisivo para o sexo feminino, que indubitavelmente está
mais sujeito a neuroses do que os homens. (Freud, 1926/1988, p. 107)
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Portanto, a cada deslocamento da ênfase clínica de fato se correlaciona
com uma reformulação da diagnóstica freudiana da neurose. As alterações do
tipo de narrativa de sofrimento que Freud adota em cada momento produzem
transformações metapsicológicas e ao mesmo tempo são produzidas por estas.
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Adaptação, normatividade e fases do atendimento
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elementos estáticos do sistema nervoso (não podendo ser localizado em regiões
anatômicas restritas). Com isso, Freud aderia a uma linhagem neurológica
diversa daquela na qual fora educado adesão que lhe permitiu inventar a
Psicanálise.
É evidente que psicanálise e neurociência cognitiva têm referenciais e
modos de abordagem diversos a serem preservados em suas especificidades.
Se a psicanálise é uma prática centrada na transferência e na causalidade
psíquica inconsciente, a neurociência cognitiva se situa do lado de uma
causalidade apoiada no método experimental.
A clínica com pacientes neurológicos permite a formulação de novas
questões e, consequentemente, o avanço teórico e técnico. Dentre as várias
possíveis, podemos destacar, de saída, a problemática da cognição,
considerando que as disfunções cognitivas atingem o sujeito em sua sensação
de identidade e de existência sustentadas por funções tais como a memória, a
espacialidade, a temporalidade e os processos de reconhecimento de si e do
outro. Noutros termos, a cognição parece ter a função de apoio interno para o
sujeito, permitindo-lhe integrar em seu espaço psíquico as representações de si
e do mundo.
Neste sentido, pode-se supor que danos cognitivos induzam uma
desestabilização do que Dolto (1984) chamou de narcisismo primordial ou
sensação de mesmidade do ser. Numa referência a Winnicott, os distúrbios
cognitivos poriam o self em perigo e exigiriam a construção de falsos selves, uma
vez que o sentimento de integridade se apoia no desenvolvimento de um eu
integrado. Formulando de outro modo, o contato clínico com estes casos exige,
entre outros, a retomada dos conceitos de ego e de self e a problematização do
lugar das funções cognitivas em sua organização e em sua estabilidade. Mas, a
experiência subjetiva do adoecimento neurológico não se limita às questões
envolvendo os golpes na organização egóica. Trabalhos de neuropsicologia,
como os de Antonio Damásio, formulam a hipótese de que certas lesões no
córtex préfrontal poderiam engendrar dificuldades de se conduzir de acordo com
as regras sociais.
Segundo a teoria psicanalítica, não há no sujeito humano primazia da
razão e do pensamento: o pulsional e o Princípio do Prazer são primeiros, sendo
segundos o Princípio de Realidade e a adaptação à mesma. Daí a adaptação ao
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outro, ao grupo e às normas terem de ser construídas com o apoio de
representações conscientes e inconscientes que o sujeito faz de si mesmo e de
sua pertença a um grupo. A adaptação à vida social, às suas regras, ou seja, a
sociabilidade, supõe a atualização contínua tanto da consciência das
semelhanças que nos unem aos outros homens apesar das diferenças, quanto
da consciência de uma reciprocidade possível e necessária.
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Contudo, é identificado 3 fases gerais do atendimento (em verdade, são
faces que surgem de modo simultâneo). A 1ª fase envolve a reestruturação
psíquica inicial: o atendimento deve ajudar o sujeito a sair da experiência
subjetiva da doença, ou seja, a perceber que ela não é um episódio fixo e
insuperável. Aqui, o psicanalista tem uma função de “passador” na medida em
que auxilia o sujeito a atravessar a doença e a usufruir novamente de sua
capacidade normativa. A 2ª fase refere-se à reconstrução do mundo interno do
sujeito: o atendimento deve permitir o reconhecimento pelo paciente de uma
continuidade psíquica profunda, apesar da fragilização da identidade — aqui a
psicoterapia tem uma função de “continente”. Enfim, a 3ª fase envolve a
atualização e o confronto, sem as margens de manobra psíquica anteriores, com
questões pessoais e existenciais que a doença atualizou. Aqui, o analista opera
classicamente e o atendimento não difere das psicanálises tradicionais.
Em todas estas fases, o analista ocupa muitos lugares ao mesmo tempo.
De um lado, ele estimula a elaboração (consciente) da experiência subjetiva do
paciente do ponto de vista fenomenológico. Simultaneamente, a possibilidade de
um trabalho psicanalítico tradicional é aberta em todos os momentos, ou seja,
durante as sessões o sujeito se depara com seus conflitos psíquicos
inconscientes e a interpretação e a elaboração subsequente podem se dar, ainda
que minimamente. O objetivo é sempre auxiliar o sujeito na construção de um
novo lugar para si a partir de uma nova normatividade.
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REFERÊNCIAS
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