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G. L. Isurina
E. B. Karpova
A. L. Zhuravlev
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uma condição necessária para a formação de qualquer sistema terapêutico. A validade teórica de
diversas direções da psicoterapia consiste em sua interrelação com teorias psicológicas,
primeiramente, os conceitos de personalidade que, em conjunto com as ideias sobre estrutura,
motivação e desenvolvimento da personalidade, contém as ideias sobre o bem-estar psicológico
e saúde mental, os transtornos de personalidade e sua causa, as possibilidades de mudança no
processo de psicoterapia. As teorias psicológicas fornecem possibilidades de elucidação das
especificidades do conteúdo de determinado sistema psicoterapêutico dos conceitos de
“normalidade” e “patologia”, tal como aplicado à personalidade. O conceito de norma dentro do
conceito de personalidade, que define as determinações básicas do desenvolvimento e
funcionamento da pessoa. O conceito de patologia é a “etiologia” (as causas e condições do
surgimento e desenvolvimento) dos transtornos neuróticos , que são vistos no contexto das
concepções correspondentes de normalidade. Concepções teóricas que revelam o conteúdo
psicológico dos conceitos de “norma” e “patologia” definem as orientações gerais das
intervenções psicoterapêuticas, suas tarefas, as estratégias e táticas do psicoterapeuta, seus
métodos, duração e intensidade da influência.
Na psicologia russa, há certos conceitos psicológicos que servem como uma base para
o desenvolvimento do insight sobre a natureza psicológica dos transtornos neuróticos, e a criação
de um sistema psicoterapêutico correspondente. A psicologia da atividade de A. N. Leontiev
merece uma menção aqui. No entanto, a escola psicológica de Moscou foi tradicionalmente
vinculada às clínicas psiquiátricas e neurocirúrgicas, que contribuíram para a criação de
ramificação muito fortes da psicologia clínica local, como a patopsicologia e a neuropsicologia.
Anteriormente aos anos 1970, o problema dos transtornos neuróticos não era o foco da atenção
da escola de psiquiatria e psicologia clínica de Moscou. A escola de psicologia clínica de
Leningrado, cujo fundador V. N. Miasischev foi aluno dos grandes cientistas russos V. M.
Bechterev e A. F. Lazurski, pelo contrário, esteve mais intimamente vinculado com a
neurosologia, que criou possibilidades para o desenvolvimento tanto de noções teóricas sobre a
natureza dos transtornos neuróticos quanto seu uso prático e psicoterapêutico, assim como a
testagem empírica, de um sistema psicoterapêutico desenvolvido.
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em relação à psicologia da relação, sob o fundamento de uma análise de sua concepção teórica
de personalidade como um sistema de relações, assim como os resultados de muitos anos de
pesquisa realizados no Instituto de Pesquisa de Psiquiatria e Neurologia V. M. Bechterev em
São Petersburgo, sob a supervisão de B. D. Karvasarski, um estudante e seguidor de V. N.
Miasischev, que realizou um enorme contribuição para o desenvolvimento posterior e para a
implementação prática das ideias de seu professor [1; 2; 4-10; 12; 13; 18; 20; 21].
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psicotraumática. Em terceiro lugar, a manifestação clínica da neurose são uma fixação patológica
de certas experiências e estão associadas em seu conteúdo com as relações mais significativas e
as necessidades e aspirações mais fortes e profundas da personalidade. Em quarto lugar, os
métodos psicoterapêuticos são mais eficientes que os biológicos.
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dos componentes cognitivos e emocionais, que levam à formação de vias inadequadas de reação
ao objeto da relação e a estereótipos comportamentais mais gerais.
Parece que quando no contexto descrito o conceito de “transtorno” deve ser considerado
não tanto em relação ao relacionamento individual, mas na totalidade do sistema como um todo.
A alteração consiste, primeiramente, na discordância do sistema vinculado com sua propriedade
principal – hierárquica, e é expressa na desorganização das comunicações hierárquicas dentro
do sistema, na presença nele de igual significado para a pessoa, mas contradizendo as relações
entre si, na ruptura da comunicação entre as relações separadas ou entre blocos de relações.
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transtornos é o lugar da relação na hierarquia do sistema como um todo. Distúrbios de relações
se tornam uma fonte de experiências dolorosas, problemas psicológicos e conflitos no caso de
“ocuparem um lugar central ou ao menos significativo no sistema de relações pessoais. Tal
significação (ênfase nossa) é uma condição de tensão afetiva e de reação afetiva” [14, p. 237].
Assim, a perturbação dos elementos mais significativos do sistema eu-outro implica as
consequências mais “graves” para a personalidade, na medida em que o funcionamento pessoal
é perturbado de forma mais ampla, mais profunda e mais intensa.
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A inadequação do sistema eu-outro leva à incapacidade da pessoa de resolver seus
próprios conflitos intrapsíquicos e interpessoais de uma forma construtiva. No entanto, os
conflitos intrapsíquicos não são neuróticos em si mesmos, mas podem ser vistos como fatores
essenciais no desenvolvimento da personalidade humana. Deve-se enfatizar que na própria
natureza do sistema eu-outro há uma atividade latente, uma escola entre a dominância em um
dado momento desta ou daquela relação, a escola da relação que em determinado ponto no tempo
vai regular o comportamento e a atividade do sujeito. A ciência [awareness], análise, resolução
e superação de tais conflitos pressupõe uma atividade intensa da personalidade, o
desenvolvimento de suas habilidades mais variadas, a formação de um nível superior de
desenvolvimento e uma hierarquização das necessidades. O resultado dessa atividade é o
aumento das capacidades funcionais da pessoa, a melhoria do seu sistema de relações, isto é, a
ativação do processo de desenvolvimento pessoal. No entanto, o sistema eu-outro perturbado
(especialmente se as relações rompidas ou inadequadas são mais significativas para a
personalidade, antes de tudo o autoconceito) não permite que a pessoa resolva o conflito
psicológico interno de uma forma construtiva, é caracterizado pela insolubilidade individual e
relativa. Isso leva ao crescimento da tensão nervosa-psíquica (ansiedade), “cujo aspecto mais
brilhante e perceptível é a tensão afetiva; ela, por sua vez, agrava a contradição, dificulta a
decisão racional, criando conflitos, aumentando a instabilidade e a excitabilidade da pessoa,
aprofundando e fixando experiências dolorosas” [14, p. 239]. O surgimento de novos conflitos
na esfera da interação interpessoal, já secundários, intensifica o conflito interno, agravando e
gerando novas dificuldades e contradições, o que, por sua vez, leva a um novo ciclo de
crescimento da tensão neuropsicológica. A escalada da ansiedade acarreta a desorganização
funcional da personalidade, que se manifesta tanto no nível pessoal quanto no nível das
mudanças fisiológicas. A ativação de mecanismos de defesa psicológicos pode levar a uma certa
diminuição da ansiedade apenas por um curto período de tempo. Como um todo, sua ação em
uma situação de conflito interno crônico causado por perturbações no sistema eu-outro não é
eficaz, uma vez que não conduz à resolução construtiva do conflito, mas, pelo contrário, à sua
cronicidade.
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situação em que uma pessoa se encontra, com suas qualidades (vantagens e desvantagens), uma
combinação de condições, pessoas com quem ela interage, com um conjunto de circunstâncias
que criam um conjunto sem solução de dificuldades internas e externas. Nesta situação, surge
um número de experiências subjetivas de natureza contraditória” [14, p. 238].
O principal objetivo da psicoterapia patogenética era definido pelo seu autor como a
restauração e reorganização do sistema eu-outro perturbado do paciente [9; 14; 15; 17; 19].
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identificação das relações mais significativas e a formação de ideias pelo psicoterapeuta (e
consequentemente pelo paciente) acerca da hierarquia do sistema de relações e as conexões
hierárquicas entre as relações que foram formadas.
A terceira e quarta tarefa (3 – realização das relações de causa e efeito entre a situação,
a personalidade e a doença, entre aspectos da perturbação em seu sistema de relações e na
doença; 4 – a realização do caráter da perturbação em seu próprio sistema de relações) são
interconectados e podem ser considerados juntos. A elucidação das relações de causa e efeito
entre a situação, a personalidade e a doença, de fato, representa um diagnóstico positivo (a
revelação do caráter psicogênico da doença) do transtorno neurótico pelo psicoterapeuta e,
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consequentemente, a realização dessas relações pelo paciente. De partida, a maioria dos
pacientes aponta razões orgânicas para seu transtorno, ou fatores psicológicos adversos de ordem
externa, sem dar importância à sua própria contribuição para o que está acontecendo e,
principalmente, à “substância” dessa contribuição. A sequência do processo psicoterapêutico
assume em primeiro lugar a identificação da situação psicológica traumática que originou a
manifestação da sintomatologia neurótica, e então uma análise criteriosa da situação dada com
foco no próprio papel do paciente em sua ocorrência e cronicidade. A partir da análise das
especificidades do comportamento e das reações emocionais em uma situação psicologicamente
traumática, o processo psicoterapêutico se desenvolve no sentido da compreensão pelo paciente
de seu próprio papel em sua ocorrência. O mecanismo básico da psicoterapia patogenética é a
realização pelo paciente de suas próprias relações, suas relações hierárquicas e seu papel na
regulação do comportamento. As relações mais significativas do indivíduo são analisadas
primeiramente do ponto de vista de suas características essenciais – a exatidão de sua
representação em relação com as características do sujeito e do objeto, a verdadeira avaliação de
sua importância e o nível de ciência. Um lugar especial pertence à realização da inconsistência
nas relações significativas, que desempenham um papel central na formação do conflito
intrapsíquico. A psicoterapia patogenética é caracterizada por sua própria abordagem
metodológica para a obtenção da ciência [awareness]. Tradicionalmente, o estabelecimento da
etiopatogênese é um passo intermediário para atingir o objetivo principal, a escola da tática
terapêutica. Na psicoterapia patogenética, o processo de estabelecimento da patogênese serve
como meio terapêutico. De acordo com V. N. Miasischev, o paciente reconhecerá o conflito
intrapessoal como a causa raiz de seu adoecimento se conseguir consistentemente traçar e
compreender a história completa da origem e desenvolvimento da doença. Para fazer isso, é
necessário para ele ou ela estabelecer as conexões claras do surgimento da doença com as várias
relações significativas para si. Para tomar ciência do conflito neurótico, o paciente precisa
estabelecer a etiopatogênese do seu adoecimento psicogênico por si mesmo, uma vez que a
cadeia de cause e efeito a patogênese apresentada ao paciente de forma pronta pelo
psicoterapeuta como o resultado final de sua vida mental, de sua organização psicológica, não
permite ao paciente tomar ciência de seu conflito neurótico. Esta é uma característica
fundamental do mecanismo de ciência como método terapêutico na psicoterapia patogenética.
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descrevem a categoria de “relação” – cognitivo, emocional e motivacional-comportamental. A
imagem interna do paciente sobre o surgimento e desenvolvimento da doença deve se tornar um
novo conhecimento, que tem uma base emocional e motivacional-comportamental
correspondente.
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geralmente ocorrem de forma espontânea sob a influência de eventos e experiências
extraordinárias. A psicoterapia almeja criar condições especiais para tais mudanças.
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Referências Bibliográficas
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