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Texto publicado no site do Kátharsis.

Tradução por Bruno Bianchi.

Publicado originalmente em:


Isurina G. L., Karpova E. B., Zhuravlev A. L. Psikhologicheskaya kontseptsiya otnosheniy
V. N. Myasishcheva: ucheniye o nevrozakh i psikhoterapiya. Psikhologicheskii zhurnal, V.
42. Nº 2, 2021, pp. 36–44.

O conceito psicológico de relação de V. N. Miasischev: teoria


da neurose e psicoterapia

G. L. Isurina
E. B. Karpova
A. L. Zhuravlev

Um artigo que tente sistematizar o conceito psicológico de relação de V. N. Miasischev,


e mostre seu alto potencial para a teoria e prática psicológica foi publicado no Psikhologicheskiy
zhurnal [Jornal Psicológico] em 2020 [11]. A forma mais explícita e finalizada das ideias
colocadas na teoria das relações foi traduzida para a realidade pelo seu autor, seus estudantes e
seguidores da psicologia clínica e da medicina.

A teoria da personalidade de V. N. Miasischev como um sistema de relações foi a base


metodológica para a formação do conceito psicológico da origem dos transtornos neuróticos e
do sistema psicoterapêutico (o conceito de neurose patogenética e a psicoterapia). Todos os três
conceitos formam uma unidade teórica que é uma característica distintiva das direções principais
da psicoterapia, que tiveram sua eficácia confirmada na aplicação prática e empírica [3; 4; 6;
10].

O problema da validade teórica das intervenções psicoterapêuticas é extremamente


relevante, visto que os métodos psicoterapêuticos amplamente usados na prática nem sempre
possuem em sua base ideias teóricas de distinção da norma e da patologia, a presença da qual é

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uma condição necessária para a formação de qualquer sistema terapêutico. A validade teórica de
diversas direções da psicoterapia consiste em sua interrelação com teorias psicológicas,
primeiramente, os conceitos de personalidade que, em conjunto com as ideias sobre estrutura,
motivação e desenvolvimento da personalidade, contém as ideias sobre o bem-estar psicológico
e saúde mental, os transtornos de personalidade e sua causa, as possibilidades de mudança no
processo de psicoterapia. As teorias psicológicas fornecem possibilidades de elucidação das
especificidades do conteúdo de determinado sistema psicoterapêutico dos conceitos de
“normalidade” e “patologia”, tal como aplicado à personalidade. O conceito de norma dentro do
conceito de personalidade, que define as determinações básicas do desenvolvimento e
funcionamento da pessoa. O conceito de patologia é a “etiologia” (as causas e condições do
surgimento e desenvolvimento) dos transtornos neuróticos , que são vistos no contexto das
concepções correspondentes de normalidade. Concepções teóricas que revelam o conteúdo
psicológico dos conceitos de “norma” e “patologia” definem as orientações gerais das
intervenções psicoterapêuticas, suas tarefas, as estratégias e táticas do psicoterapeuta, seus
métodos, duração e intensidade da influência.

Na psicologia russa, há certos conceitos psicológicos que servem como uma base para
o desenvolvimento do insight sobre a natureza psicológica dos transtornos neuróticos, e a criação
de um sistema psicoterapêutico correspondente. A psicologia da atividade de A. N. Leontiev
merece uma menção aqui. No entanto, a escola psicológica de Moscou foi tradicionalmente
vinculada às clínicas psiquiátricas e neurocirúrgicas, que contribuíram para a criação de
ramificação muito fortes da psicologia clínica local, como a patopsicologia e a neuropsicologia.
Anteriormente aos anos 1970, o problema dos transtornos neuróticos não era o foco da atenção
da escola de psiquiatria e psicologia clínica de Moscou. A escola de psicologia clínica de
Leningrado, cujo fundador V. N. Miasischev foi aluno dos grandes cientistas russos V. M.
Bechterev e A. F. Lazurski, pelo contrário, esteve mais intimamente vinculado com a
neurosologia, que criou possibilidades para o desenvolvimento tanto de noções teóricas sobre a
natureza dos transtornos neuróticos quanto seu uso prático e psicoterapêutico, assim como a
testagem empírica, de um sistema psicoterapêutico desenvolvido.

Infelizmente, V. N. Miasischev, o autor da Psicologia da Relação, não deixou uma obra


separada em que apresenta em sua totalidade a psicologia da personalidade, o conceito de
neurose e o sistema psicoterapêutico. Neste artigo, foi realizada uma tentativa de examinar o
conteúdo psicológico do conceito patogenético de neurose e de psicoterapia de V. N. Miasischev

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em relação à psicologia da relação, sob o fundamento de uma análise de sua concepção teórica
de personalidade como um sistema de relações, assim como os resultados de muitos anos de
pesquisa realizados no Instituto de Pesquisa de Psiquiatria e Neurologia V. M. Bechterev em
São Petersburgo, sob a supervisão de B. D. Karvasarski, um estudante e seguidor de V. N.
Miasischev, que realizou um enorme contribuição para o desenvolvimento posterior e para a
implementação prática das ideias de seu professor [1; 2; 4-10; 12; 13; 18; 20; 21].

O Conceito patogenético de neurose de V. N. Miasischev

A abordagem para compreender a natureza dos transtornos neuróticos foi


historicamente caracterizada em duas direções: biológica e psicológica [8]. O conceito
patogenético de neurose de V. N. Miasischev é o único na neurosologia russa que parte de uma
origem psicológica para a concepção dos transtornos neuróticos.

As abordagens existentes para compreensão da etiopatogênese dos transtornos


neuróticos, que levam em consideração, junto com outros fatores, o papel do fator psicológico,
como regra, entendem este de forma estreita. A neurose é vista ou como uma disfunção de um
órgão ou do sistema corporal sob a influência de experiências impactantes, ou como
consequência do impedimento de uma necessidade central, ou como resultado da presença de
certos traços de personalidade “neuróticos”. V. N. Miasischev considera a neurose como um
transtorno global da personalidade e o define como uma desordem de origem psicogênica, “que
é baseado em uma resolução sem sucesso, irracional e não produtiva da contradição entre a
personalidade e a realidade significante para ela, que causa uma experiência dolorosamente
opressiva [...]. A inabilidade para encontrar uma saída racional e produtiva acarreta a
desorganização psíquica e fisiológica da personalidade” [14, p. 424].

V. N. Miasischev formulou uma série de disposições que revelam o conteúdo da


categoria de “doença psicogênica” [14]. Em primeiro lugar, a ocorrência da doença psicogênica
está conectada com a personalidade e as relações do paciente, com a situação psicotraumática e
sua intratabilidade subjetiva, isto é, a inabilidade da personalidade, com suas características
determinadas, para resolver essa situação. Em segundo lugar, a ocorrência e o curso da neurose
está vinculado com uma situação patogênica e com as experiências da personalidade; há uma
certa correspondia entre a dinâmica da condição clínica do paciente e as mudanças na situação

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psicotraumática. Em terceiro lugar, a manifestação clínica da neurose são uma fixação patológica
de certas experiências e estão associadas em seu conteúdo com as relações mais significativas e
as necessidades e aspirações mais fortes e profundas da personalidade. Em quarto lugar, os
métodos psicoterapêuticos são mais eficientes que os biológicos.

O conceito patogenético compreende a neurose como “um transtorno neuropsiquiátrico


psicogênico (geralmente conflitogênico) resultante da perturbação de relacionamentos de
significância especial da personalidade e manifestado em certos fenômenos clínicos específicos
na ausência de fenômenos psicóticos”[14, p. 15]. Considerando a neurose como o resultado do
distúrbio do sistema eu-outro, V. N. Miasischev, de fato, não revela em nenhum lugar com
precisão o conteúdo dos conceitos de “perturbação das relações” ou “perturbação do sistema eu-
outro”. Ele apenas indica que “para a neurose como uma doença da personalidade, a perturbação
da relação é inicial e determinante”[14, p. 27]. Apesar da ausência de uma definição clara do
conceito de “perturbação das relações”, nos escritos de V. N. Miasischev encontramos uma
indicação de que ele compreende perturbação das relações como um comprometimento das
características individuais. Neste contexto, parece que ao analisar as categorias de
“relacionamento perturbado” e “perturbação do sistema eu-outro”, devemos nos basear nas
características essenciais da relação identificada por V. N. Miasischev – integridade,
consciência, seletividade, atividade, e também considerar a relação no contexto dos
componentes cognitivos, emocionais e comportamentais e no seu desequilíbrio.

A perturbação das características essenciais das relações é mostrada na reflexão


inadequada de seu objeto em toda sua completude, na desintegração de seus vários aspectos e
características, e também no desequilíbrio das características do objeto e do sujeito apresentado
na relação (integridade), no nível insuficiente de ciência [awareness] (consciência), na avaliação
inadequada da real importância da relação concreta (seletividade), na inabilidade de realizar a
função de regulação do comportamento (atividade).

A perturbação do componente cognitivo é causada tanto pelo conhecimento insuficiente


sobre o objeto do relacionamento quanto pela insuficiente clareza e compreensão de sua essência
e sentido. O comprometimento do componente emocional da relação consiste, em primeiro
lugar, em sua inconsistência (presença de componentes positivos e negativos pronunciados),
hipertrofia, que, por sua vez, quebra a seletividade da relação e reduz sua atividade. Perturbações
do componente comportamental podem ser vistos como secundários, vinculados com distorção

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dos componentes cognitivos e emocionais, que levam à formação de vias inadequadas de reação
ao objeto da relação e a estereótipos comportamentais mais gerais.

Perturbações da relação, surgindo ou no processo de sua formação, ou como resultado


de sua rigidez, inabilidade de mudar flexivelmente diante de mudanças do objeto ou da situação
real podem, em particular, ser expressas na prevalência de características do sujeito sobre
características do objeto, e serem consideradas como resultado do desequilíbrio entre as
características cognitivas e emocionais da relação, ou de sua inadequação.

Portanto, o termo “transtorno relacional” deve ser compreendido como um transtorno


de suas características de diferentes níveis, que levam à inabilidade da relação de exercer suas
duas principais funções – adequar a reflexão da realidade e regular efetivamente o
comportamento. Deve ser enfatizado que imprecisões na reflexão da realidade não estão
relacionados com déficits cognitivos, mas são o resultado de um desequilíbrio entre as
características objetivas e subjetivas do relacionamento. A predominância das características
subjetivas na relação significam, de fato, a predominância do componente emocional da relação
que, quando hipertrofiado (tanto na modalidade positiva quanto negativa) podem distorcer
significativamente a percepção da realidade.

Parece que quando no contexto descrito o conceito de “transtorno” deve ser considerado
não tanto em relação ao relacionamento individual, mas na totalidade do sistema como um todo.
A alteração consiste, primeiramente, na discordância do sistema vinculado com sua propriedade
principal – hierárquica, e é expressa na desorganização das comunicações hierárquicas dentro
do sistema, na presença nele de igual significado para a pessoa, mas contradizendo as relações
entre si, na ruptura da comunicação entre as relações separadas ou entre blocos de relações.

Perturbações do sistema eu-outro são formadas no curso do desenvolvimento individual


sob influência de vários fatores. As influências microssociais, em primeiro lugar, as
características do desenvolvimento, as influências emocionais e psicológicas da infância e ao
longo da vida da pessoa, possuem o maior valor tanto para a compreensão do conteúdo de uma
relação particular e as razões para sua inadequação. O sistema eu-outro formado como resultado
de influências psicológicas adversas é caracterizado pela presença de relações inadequadas ou
comprometimento de sua coerência estrutural (hierárquica), como resultado do qual o sistema
eu-outro se torna incapaz de proporcionar um funcionamento pleno e um maior desenvolvimento
da personalidade. V. N. Miasischev enfatizou que o fator principal no desenvolvimento desses

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transtornos é o lugar da relação na hierarquia do sistema como um todo. Distúrbios de relações
se tornam uma fonte de experiências dolorosas, problemas psicológicos e conflitos no caso de
“ocuparem um lugar central ou ao menos significativo no sistema de relações pessoais. Tal
significação (ênfase nossa) é uma condição de tensão afetiva e de reação afetiva” [14, p. 237].
Assim, a perturbação dos elementos mais significativos do sistema eu-outro implica as
consequências mais “graves” para a personalidade, na medida em que o funcionamento pessoal
é perturbado de forma mais ampla, mais profunda e mais intensa.

Os resultados da pesquisa conduzida sob a supervisão de B. D. Karvasarski nos


permitiu definir de forma mais clara o caráter dos transtornos do sistema de relações [1; 5; 20;
21]. Dados empíricos indicam que as perturbações do sistema eu-outro na neurose são mais
pronunciados que em perturbações das relações individuais mais significativas de uma
personalidade, e consistem na desintegração do sistema como um todo devido à perturbações de
praticamente todas as relações significativas [1; 2; 4; 5; 20]. No cerne desse transtorno global
estão o autoconceito inadequado e a autoestima a ele ligado que, sendo formadora do sistema,
envolve praticamente todas as relações significativas da personalidade nesse processo. Por
transtorno do autoconceito, entendemos tanto a realização insuficiente ou distorção dos muitos
aspectos do próprio “eu” (componente cognitivo) quanto uma avaliação emocionalmente
desfavorável de si mesmo (componente emocional).

Os resultados da pesquisa atestam o fato de que uma baixa autoestima é característico


de pacientes neuróticos, independentemente da forma de neurose. Sendo o resultado do
desenvolvimento individual sob a influência de um número de fatores desfavoráveis, em
primeiro lugar, características da educação, desempenha um papel central na formação,
amplificação e fixação de violações de todo o sistema de relações. O autoconceito
emocionalmente desfavorável encontra expressão não apenas em uma baixa autoestima, mas
também em atitudes em relação aos objetos ou fenômenos que podem ser vistos como resultados
de suas próprias realizações. A ciência [awareness] insuficiente dessas atitudes em combinação
com sua coloração emocionalmente desfavorável leva a uma perturbação das funções
reguladoras, como resultado da qual as relações individuais e o sistema de relações como um
todo não pode atuar como um regulador adequado do comportamento, mas desempenham uma
função protetora, limitando a atividade da personalidade a áreas que não ameaçam a autoestima.
A formação de comportamentos restritivos provoca uma diminuição objetiva no nível real de
realizações, que tem um impacto negativo secundário no autoconceito e na autoestima.

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A inadequação do sistema eu-outro leva à incapacidade da pessoa de resolver seus
próprios conflitos intrapsíquicos e interpessoais de uma forma construtiva. No entanto, os
conflitos intrapsíquicos não são neuróticos em si mesmos, mas podem ser vistos como fatores
essenciais no desenvolvimento da personalidade humana. Deve-se enfatizar que na própria
natureza do sistema eu-outro há uma atividade latente, uma escola entre a dominância em um
dado momento desta ou daquela relação, a escola da relação que em determinado ponto no tempo
vai regular o comportamento e a atividade do sujeito. A ciência [awareness], análise, resolução
e superação de tais conflitos pressupõe uma atividade intensa da personalidade, o
desenvolvimento de suas habilidades mais variadas, a formação de um nível superior de
desenvolvimento e uma hierarquização das necessidades. O resultado dessa atividade é o
aumento das capacidades funcionais da pessoa, a melhoria do seu sistema de relações, isto é, a
ativação do processo de desenvolvimento pessoal. No entanto, o sistema eu-outro perturbado
(especialmente se as relações rompidas ou inadequadas são mais significativas para a
personalidade, antes de tudo o autoconceito) não permite que a pessoa resolva o conflito
psicológico interno de uma forma construtiva, é caracterizado pela insolubilidade individual e
relativa. Isso leva ao crescimento da tensão nervosa-psíquica (ansiedade), “cujo aspecto mais
brilhante e perceptível é a tensão afetiva; ela, por sua vez, agrava a contradição, dificulta a
decisão racional, criando conflitos, aumentando a instabilidade e a excitabilidade da pessoa,
aprofundando e fixando experiências dolorosas” [14, p. 239]. O surgimento de novos conflitos
na esfera da interação interpessoal, já secundários, intensifica o conflito interno, agravando e
gerando novas dificuldades e contradições, o que, por sua vez, leva a um novo ciclo de
crescimento da tensão neuropsicológica. A escalada da ansiedade acarreta a desorganização
funcional da personalidade, que se manifesta tanto no nível pessoal quanto no nível das
mudanças fisiológicas. A ativação de mecanismos de defesa psicológicos pode levar a uma certa
diminuição da ansiedade apenas por um curto período de tempo. Como um todo, sua ação em
uma situação de conflito interno crônico causado por perturbações no sistema eu-outro não é
eficaz, uma vez que não conduz à resolução construtiva do conflito, mas, pelo contrário, à sua
cronicidade.

A situação patogênica (psicotraumática) que provoca a manifestação de um transtorno


neurótico, como regra, não é objetivamente altamente traumática. V. N. Miasischev enfatizara
que “o conceito de situação patogênica é amplamente usado, mas é comumente incorretamente
identificado com o conceito de condições externas. Uma situação patogênica representa a

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situação em que uma pessoa se encontra, com suas qualidades (vantagens e desvantagens), uma
combinação de condições, pessoas com quem ela interage, com um conjunto de circunstâncias
que criam um conjunto sem solução de dificuldades internas e externas. Nesta situação, surge
um número de experiências subjetivas de natureza contraditória” [14, p. 238].

Consequentemente, uma situação patogênica é caracterizada pela intratabilidade


subjetiva, isto é, pela inabilidade de um sujeito específico, com suas especificidades para
solucionar a situação. A situação psicotraumática desempenha apenas um papel de mecanismo
desencadeador que atualiza a inadequação pré-existente do sistema eu-outro. Em conclusão, é
necessário enfatizar novamente que a neurose, tal como é compreendida nos limites do conceito
patogenético, é baseada não em uma inadequação secundária do sistema eu-outro, que aparece
sob a influência de uma situação psicotraumática externa, e não em si mesmo um conflito
psicológico interno, mas na inadequação do sistema eu-outro, que surge no processo de
desenvolvimento da personalidade, condicionado por toda a sua história e provocando conflitos
intrapsíquicos e interpessoais subjetivamente insolúveis.

A Psicoterapia patogenética de V. N. Miasischev

O principal objetivo da psicoterapia patogenética era definido pelo seu autor como a
restauração e reorganização do sistema eu-outro perturbado do paciente [9; 14; 15; 17; 19].

V. N. Miasischev formulou as tarefas específicas para a psicoterapia, refletindo a


natureza gradual do processo psicoterapêutico: do estudo da personalidade do paciente, inclusive
pelo paciente, passando pelos vários estágios de realização até a mudança (reconstrução) do
sistema eu-outro perturbado.

V. N. Miasischev define a primeira tarefa como um estudo compreensivo da


personalidade do paciente com neurose, as características de sua formação, desenvolvimento e
transtornos do seu sistema eu-outro. O exame detalhado da personalidade do paciente recebe
aqui atenção especial. V. N. Miasischev enfatizou repetidamente que transtornos do sistema eu-
outro possuem uma característica individual vinculada com a importância das relações. Relações
significativas ocupam um lugar central na hierarquia das relações e podem ser consideradas
como dominantes e, consequentemente, como as mais expressas no comportamento. Por essa
razão, um dos aspectos mais importantes do estudo e análise da personalidade do paciente é a

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identificação das relações mais significativas e a formação de ideias pelo psicoterapeuta (e
consequentemente pelo paciente) acerca da hierarquia do sistema de relações e as conexões
hierárquicas entre as relações que foram formadas.

O foco no estudo mais completo possível da personalidade é também condicionado


pelo fato de que o conflito psicológico interno, considerado por praticamente todos os autores
como um fator etiopatogenético importante, é caracterizado em cada caso específico não apenas
pela sua intratabilidade individual, mas também pela sua singularidade, e não pode ser reduzido
a um conteúdo geral enfatizado por vários conceitos como universal.

A segunda tarefa da psicoterapia patogenética é formulada como a elucidação e o estudo


dos mecanismos patogenéticos da condição neurótica. Não é apenas sobre a informação que o
psicoterapêutica recebe, mas também sobre a realização parcial por parte do paciente dos
mecanismos psicológicos de seu adoecimento já nos primeiros estágios da psicoterapia. Em um
número de sistemas psicoterapêuticos, não é dado muita importância a esse processo, ou é
mesmo negado como necessário. Na realidade, tal realização não possui valor terapêutico
propriamente, mas promove a compreensão pelo paciente da orientação da psicoterapia e cria a
motivação necessária para sua participação ativa. É necessário notar que a atividade desejável
do paciente no curso da psicoterapia possui várias características. O terapeuta pode induzir o
paciente a produzir associações livres, memórias do passado, fixação da atenção nos
pensamentos precedentes à manifestação dos sintomas, experiências recentes, etc. Da mesma
forma, a ciência do paciente dos mecanismos psicológicos de seu adoecimento direcionam a
atividade do paciente em uma certa direção, correspondendo à orientação do processo
psicoterapêutico dentro dos marcos de uma orientação teórica particular. Em estágios
subsequentes, o paciente e o psicoterapeuta abordam novamente os mecanismos
etiopatogenéticos do adoecimento neurótico, mas já em um novo patamar e usando um material
pessoal mais profundo.

A terceira e quarta tarefa (3 – realização das relações de causa e efeito entre a situação,
a personalidade e a doença, entre aspectos da perturbação em seu sistema de relações e na
doença; 4 – a realização do caráter da perturbação em seu próprio sistema de relações) são
interconectados e podem ser considerados juntos. A elucidação das relações de causa e efeito
entre a situação, a personalidade e a doença, de fato, representa um diagnóstico positivo (a
revelação do caráter psicogênico da doença) do transtorno neurótico pelo psicoterapeuta e,

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consequentemente, a realização dessas relações pelo paciente. De partida, a maioria dos
pacientes aponta razões orgânicas para seu transtorno, ou fatores psicológicos adversos de ordem
externa, sem dar importância à sua própria contribuição para o que está acontecendo e,
principalmente, à “substância” dessa contribuição. A sequência do processo psicoterapêutico
assume em primeiro lugar a identificação da situação psicológica traumática que originou a
manifestação da sintomatologia neurótica, e então uma análise criteriosa da situação dada com
foco no próprio papel do paciente em sua ocorrência e cronicidade. A partir da análise das
especificidades do comportamento e das reações emocionais em uma situação psicologicamente
traumática, o processo psicoterapêutico se desenvolve no sentido da compreensão pelo paciente
de seu próprio papel em sua ocorrência. O mecanismo básico da psicoterapia patogenética é a
realização pelo paciente de suas próprias relações, suas relações hierárquicas e seu papel na
regulação do comportamento. As relações mais significativas do indivíduo são analisadas
primeiramente do ponto de vista de suas características essenciais – a exatidão de sua
representação em relação com as características do sujeito e do objeto, a verdadeira avaliação de
sua importância e o nível de ciência. Um lugar especial pertence à realização da inconsistência
nas relações significativas, que desempenham um papel central na formação do conflito
intrapsíquico. A psicoterapia patogenética é caracterizada por sua própria abordagem
metodológica para a obtenção da ciência [awareness]. Tradicionalmente, o estabelecimento da
etiopatogênese é um passo intermediário para atingir o objetivo principal, a escola da tática
terapêutica. Na psicoterapia patogenética, o processo de estabelecimento da patogênese serve
como meio terapêutico. De acordo com V. N. Miasischev, o paciente reconhecerá o conflito
intrapessoal como a causa raiz de seu adoecimento se conseguir consistentemente traçar e
compreender a história completa da origem e desenvolvimento da doença. Para fazer isso, é
necessário para ele ou ela estabelecer as conexões claras do surgimento da doença com as várias
relações significativas para si. Para tomar ciência do conflito neurótico, o paciente precisa
estabelecer a etiopatogênese do seu adoecimento psicogênico por si mesmo, uma vez que a
cadeia de cause e efeito a patogênese apresentada ao paciente de forma pronta pelo
psicoterapeuta como o resultado final de sua vida mental, de sua organização psicológica, não
permite ao paciente tomar ciência de seu conflito neurótico. Esta é uma característica
fundamental do mecanismo de ciência como método terapêutico na psicoterapia patogenética.

É importante enfatizar que toda a cadeia de causa e efeito da compreensão do paciente


sobre o desenvolvimento de sua doença deve se desdobrar em todos os três componentes que

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descrevem a categoria de “relação” – cognitivo, emocional e motivacional-comportamental. A
imagem interna do paciente sobre o surgimento e desenvolvimento da doença deve se tornar um
novo conhecimento, que tem uma base emocional e motivacional-comportamental
correspondente.

A unidade do novo conhecimento com experiências emocionais ricas tornam esse


conhecimento uma convicção profundamente sentida, subjetivamente necessário para que o
paciente reconstrua seus sistema eu-outro.

A quinta tarefa da psicoterapia patogenética é a restauração, a correção do sistema eu-


outro perturbado. V. N. Miasischev utilizou predominantemente o termo “reajustamento”. No
entanto, devido aos eventos ideológicos do fim dos anos 1980, o termo adquiriu conotações
políticas e foi praticamente abandonado do contexto atual. Do nosso ponto de vista, ao descrever
a dinâmica de uma relação individual, o termo “mudança” é mais apropriado, e ao descrever o
sistema de relações como um todo – “reconstrução”.

A realização pelo paciente de seus próprios relacionamentos e sua própria


“contribuição” para a formação de problemas e conflitos não é o estágio final da psicoterapia. O
estágio final assume uma análise corretiva das relações perturbadas da pessoa do ponto de vista
de suas características essenciais (integridade, atividade, seletividade, consciência) e também do
ponto de vista da manutenção e equilíbrio dos componentes cognitivos e emocionais da relação.
Como já foi especificado anteriormente [11], a relação não é tanto a atitude direta em relação a
um objeto (evento), quanto ao seu conteúdo, que representa esse objeto (evento) no psiquismo
da pessoa. Uma relação perturbada contém uma precisão insuficiente ou uma representação
inadequada do objeto, que se vincula não tanto com uma reflexão inadequada das características
do objeto, mas com a experiência interna da pessoa e com outras relações. A mudança na
representação do objeto na consciência devido ao processamento do material nos estágios
anteriores da psicoterapia é um dos maiores mecanismos do processo psicoterapêutico. Esse
fator adquire particular importância quando se trata do autoconceito do paciente. O processo
psicoterapêutico é uma experiência extremamente intensa para o paciente, em que a análise toca
as relações, necessidades, conflitos e problemas mais significativos da pessoa, e toca no cerne
do sistema eu-outro – o autoconceito da pessoa. Uma mudança neste conceito acarreta mudanças
significativas em outras relações e no sistema de relações como um todo, particularmente em
sua coerência hierárquica. Na vida real, tais mudanças são também possíveis, mas elas

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geralmente ocorrem de forma espontânea sob a influência de eventos e experiências
extraordinárias. A psicoterapia almeja criar condições especiais para tais mudanças.

Em conclusão, gostaríamos de enfatizar novamente as características específicas da


psicoterapia patogenética de V. N. Miasischev. Primeiro, as tarefas do sistema psicoterapêutico
estão focadas principalmente nos componentes cognitivos. Em segundo lugar, atenção especial
é dada à pesquisa cuidadosa da personalidade do paciente fora dos marcos de quaisquer
problemas teoricamente definidos. Em terceiro lugar, a identificação e o estudo dos mecanismos
etiopatogenéticos da condição neurótica são considerados um passo importante do processo
psicoterapêutico. Quarto, a realização pelo paciente de suas relações e “contribuições” no
desenvolvimento do transtorno não é o estágio final da psicoterapia. São as mudanças, a
reconstrução do sistema eu-outro perturbado – um processo que é realizado com o apoio do
psicoterapeuta.

Desenvolvimentos posteriores das ideias de V. N. Miasischev estão vinculadas à


criação de uma psicoterapia (reconstrutiva) orientada à personalidade [2; 4-6; 9; 19]. Esse
sistema psicoterapêutico reflete um novo estágio no desenvolvimento da psicoterapia
patogenética de V. N. Miasischev, que permitiu o desenvolvimento dos conceitos de meta e
tarefas da psicoterapia patogenética, os mecanismos da ação terapêutica, formas e métodos,
relacionamento paciente-psicoterapêutica, processo psicoterapêutico e seus estágios. O
desenvolvimento do modelo de psicoterapia (reconstrutiva) centrada na pessoa encontrou ampla
aplicação na prática e confirmou sua efetividade [1; 2; 4; 5; 7; 12; 13; 20; 21]. Em conclusão,
gostaríamos de observar que o valor das ideias teóricas é largamente determinado pelo seu
potencial de desenvolvimento e é testado pelo tempo e pela prática. A categoria psicológica
“relação”, introduzida na psicologia na primeira década do século passado por A. F. Lazurski e
seus pupilos e seguidores V. Y. Basov e V. N. Miasischev, certamente atende totalmente a esses
requisitos. A teoria da personalidade de V. N. Miasischev e, posteriormente, as teorias da
neurose e da psicoterapia serviram como confirmação da fecundidade científica de suas ideias
sobre a relação como a unidade da análise psicológica. Como o tempo tem mostrado, esses
conceitos, que possuem uma base teórica básica, contém graus suficientes de liberdade para se
desenvolver, possuindo, portanto, um potencial considerável para sua compreensão posterior e
seu enriquecimento criativo com novos conhecimentos.

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