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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia
Disciplina: Intervenções Clinicas Breves – Atendimento Clinico na Abordagem
Fenomenológica-Existencial
Professor: Lia Spadini da Silva
Aluno: Aline dos Santos Medeiros – RA: T910765

EVANGELISTA, Paulo. A Daseinsanalyse de Medard Boss: medicina e psicanálise mais


correspondentes ao existir humano. In: EVANGELISTA, Paulo. Psicologia fenomenológico-
existencial: Possibilidades da atitude clínica fenomenológica. Rio de Janeiro: Viaverita, 2015, p. 141-
159.

"Sendo fundamentada numa compreensão fenomenológica da existência


umana, isto é, atenta aos pressupostos que obscurecem e aprisionam a existência, a
Daseinsanalyse de Boss se apresenta como uma "terapia amparada numa
fundamentação mais humana e mais correspondente ao Dasein (Daseinsgemäss) da
medicina. Terapia aqui é um termo empregado em sentido lato, significando todo
tratamento que vise a cura, isto é, a libertação daquilo que aprisona [...] "Assim, Boss
assume como tarefa a elaboração de uma disciplina terapêutica fundamentada numa
compreensão mais correspondente ao modo de ser humano. A seu ver, a Medicina e
a Psicologia falham nessa missão, pois, embora assumam o homem como tema de
suas pesquisas e tratamentos, seus estudos científico-naturais passam ao largo de
compreender a experiência humana cotidiana (p. 144)
"Boss, como todos os psicanalistas de sua época, é médico e escreve para
médicos. Mas, como médico, descobre que os mecanismos fisiológicos não são os
únicos modos de adoecimento humano... Inicia-se aí a sua crítica em relação à
medicina tradicional [...] Para Boss, compreender o funcionamento de algo não
significa compreender a sua essência. Portanto, explicar o funcionamento do corpo
do homem não significa que se sabe o que é o homem [...] para compreender o
sofrimento de alguém que adoece, não basta entender os mecanismos fisiológicos
desse adoecimento." (p. 146)
“Sendo histórico-temporais, algumas possibilidades existenciais podem ficar
para trás e nunca mais serem resgatadas, quando o paciente com câncer começa a
aceitar sem resistências nem preocupações novos tratamentos, frequentemente
deixando de sentir dor. Isso se deve à compreensão de que o câncer não é apenas
um adoecimento biológico, corpóreo, mas existencial, que interrompe possibilidades,
limita projetos. (p.147)
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"Propondo a Daseinsanalyse como uma medicina mais correspondente à
existência humana, Boss critica a medicina científico-natural por não compreender o
sentido do adoecer humano, focalizando apenas os mecanismos que explicam o
processo biológico. Crítica-a também por cindir a existência humana em aspectos
biológicos e psicológicos, relegando os psicológicos a outro profissional." (p. 147-148)
“A proposta de fundar uma ciência da existência chamada Daseinsanalyse não
é apenas uma crítica da medicina. Num primeiro momento, parece que a tentativa de
compreender o significado do adoecimento corpóreo na sua relação com o psicólogo
já fora empreendida pela psicanálise.” (p.148)
"Medard Boss entra nesse debate na busca de uma nova compreensão do
adoecer humano. A Psicossomática metapsicológica não fornece a compreensão
buscada, pois mantém a divisão entre corpo e psiquismo e, fiel ao modelo mecanicista
científico-natural, propõe explicações sobre o funcionamento do adoecer. Boss em
todos os seus livros e artigos mostra que o corpo é um existencial do Dasein, isto é,
um de seus aspectos ontológicos, sendo, portanto, um modo de ser-no-mundo."
(p. 149)
“Desde seu primeiro livro, Boss debate com a metapsicologia freudiana. Ele
reconhece a importância da compreensão do sentido do sofrimento humano para o
processo de tratamento, sendo admirador da técnica psicanalítica desenvolvida pro
Freud. [Refere-se com isso ao enorme respeito pelo paciente, pelo reconhecimento
da importância da relação que se estabelece entre este e o médico (psicanalista) no
processo de cura e pela profunda crença na liberdade existencial que sentiu quando
tratado por Freud.” (p.149- 150)
“A ficção do inconsciente é usada para explicar o processo psicoterapêutico,
que, do ponto de vista empírico, é de libertação. Mas explica-o recorrendo ao modelo
determinista cientifico-natural, impedindo a compreensão do que possibilita a
libertação através da relação terapêutica” (p. 150)
“Um exemplo do falar por falar, que remete ao falatório descrito por Heidegger
em ser e tempo, é a conversa de elevador. Falamos sobre o tempo ou coisas assim
sem uma preocupação com o sentido do que é dito; a fala apenas preenche o vazio
[...] Na psicoterapia, a fala é reveladora dos modos de ser-no-mundo e dos
pressupostos de “como se deve ser”, a fim de recuperar a liberdade de ser [...] é um

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processo de desocultação desses imperativos aprisionantes, que frequentemente
impedem a apropriação de possibilidades existenciais.” (p.151)
“A origem da nossa culpa é o nosso deixar-nos necessitar pelo mundo, e a
dívida que o ser humano tem sempre terá com o mundo, até a sua marte, é a de deixar
sua essência se realizar, o que só acontece depois de ele próprio ter realizado suas
possibilidades de exploração provenientes do futuro e ter deixado as coisas do mundo
se manifestarem sob a luz de sua existência.” (p.151/152)”
"Fiel ao modelo psicoterapêutico descrito por Freud, Boss propõe como regra
fundamental da psicoterapia a associação livre, que possibilita ao processo de
autodescobrimento psicoterapêutico chegar a um estar-aberto ao próprio ser e às
possibilidades singulares que se desvelam na clareira que somos [...] quanto mais
alguém compartilha comigo uma experiência, mais aquilo que foi desvelado vigora
como algo que é.” (p.153)
"O processo daensanalítico é, portanto, a libertação da existência para seu
poder-ser fundamentado no encontro entre duas pessoas: paciente e daseinsanalista.
" (p. 154)
"No processo terapêutico daseinsanalítico, os sonhos têm espaço privilegiado.
Nãosão realizações de desejos ou manifestações de arquétipos, como sugerem Freud
e Jung, mas são reveladores das possibilidades existenciais que uma existência
singular está incapaz de se apropriar em sua vida desperta." (p. 155)
“Assim, o adoecimento existencial é compreendido pela Daseinsanalyse de Boss
como uma restrição nas possibilidades de ser e na capacidade de superar essa
restrição. Pois, ser no mundo é a abertura na qual os fenômenos se dão. A existência
humana é livre e necessária para o poder ser das coisas e dos outros. A liberdade
essencial do Daisen é a liberdade de perceber e responder ao que se manifesta na
abertura.” (P.157)
"Assim, o processo psicoterapêutico é um processo de libertação, que tem
como objetivo resgatar a liberdade essencial do dasein, que se encontra limitada.
Funda-se sobre a compreensão da existência humana livre de pressupostos iniciada
por Heidegger em Ser e tempo, permitindo uma compreensão mais clara dos
fenômenos saudáveis e patológicos e abrindo perspectivas para novas possibilidades
terapêuticas." (p. 158)

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