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Universidade Estácio De Sá

Graduação: Psicologia
Campus Campos dos Goytacazes
Disciplina: Gestalt-Terapia
Professor Ivan Vilela da Silva Junior – CRP 05/41198
AULA 2 – Unidade 1 – Contextualização Histórica – 1.1 - Surgimento da Gestalt-terapia: A
trajetória de Fritz Perls; 1.2 - Influências Filosóficas: Fenomenologia, Existencialismo,
Humanismo.

GESTALT-TERAPIA

1 – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
1.1 - A TRAJETÓRIA DE FRITZ PERLS.

“A meta da terapia é assegurar que o paciente chegue a um


ponto em que experimenta a si mesmo, percebe seu mundo e
faz uso de seu intelecto”.

Fritz Perls

FRIEDRICH SALOMON PERLS

Conhecido como Fritz Perls, médico psiquiatra e psicanalista, nasceu em Berlim, no dia
8 de julho de 1893, em um gueto judeu.
É considerado o fundador da Gestalt Terapia. Teve duas irmãs mais velhas, Else e
Grete. Seu pai, Nathan, era comerciante de vinhos e frequentemente estava ausente de
casa. Sua mãe, Amalia, vinha de uma família da baixa burguesia e influenciou o
interesse de Fritz pela arte, que acompanhou toda sua vida.
Criança difícil, ainda que um bom estudante. Estudou no Mommsen-Gymnasiumde
Berlim, um centro educativo bastante severo, o qual respirava antissemitismo por todos
os corredores. Perls foi expulso quando tinha 13 anos de idade. Como castigo, seu pai o
obrigou a trabalhar como aprendiz em uma loja de doces.
A relação de Perls com seu pai sempre foi bastante conflituosa. Essa rejeição chegou tão
longe que Perls se negou a ir ao funeral de seu pai.
Por iniciativa própria, Fritz Perls retomou seus estudos em um colégio de orientação
humanista, o Askaniches Gymnasium. Naquela época conheceu Max Reinhardt, um
diretor de teatro que cultivou nele um grande interesse por essa arte, o qual perdurou até
a sua morte.
Mais adiante em sua vida, iniciou seus estudos em medicina. Pouco depois teve início a
Primeira Guerra Mundial e Perls se alistou como voluntário da Cruz Vermelha. Essa
experiência o marcou profundamente, ainda que só tenha vindo a falar dela muitos anos
depois em sua biografia “A vida na agonia das trincheiras: horror de viver e horror de
morrer”.
Em 1920 Fritz Perls recebeu seu diploma de médico da Universidade Frederick
Wilhelm de Berlim. Logo em seguida se especializou em neuropsiquiatria. Depois,
conheceu o filósofo Friedlander, cuja influência viria a ser determinante em sua obra.
Em 1923 decidiu viajar para Nova York, mas voltou frustrado porque não obteve
permissão para validar seu diploma, já que não sabia falar inglês. Seu mal-estar o levou
para a psicanálise com Karen Horney. E esse fato mudou sua vida.
Perls ficou fascinado pela psicanálise e então decidiu tornar-se psicanalista. Teve, no
entanto, que se mudar para Frankfurt para ocupar uma vaga de assistente junto a um
psiquiatra chamado Kurt Goldstein, que trabalhava com a teoria da psicologia da
Gestalt. Lá conheceu Laura Possner, uma estudante que anos mais tarde viria a ser sua
esposa, ainda que sua família e sua analista da época, Clara Happel, não concordassem
com a relação. Perls tinha 36 anos e Laura somente 24.
Um ano depois começou a trabalhar como analista em Viena, e em 1928 tornou-
se terapeuta em tempo integral em Berlim. Entre essa data e 1930, Perls teve contato
com a psicanálise de Eugen Harnick e logo depois de Wilheim Reich. Este último havia
sido discípulo do próprio Freud, mas havia se distanciado de seus postulados. Boa parte
da teoria que depois desenvolveu Perls se inspirou no enfoque de Reich.
O nascimento da Gestalt Terapia
Uma vez que Hitler subiu ao poder, Fritz Perls foi para a Holanda, onde não obteve
permissão para trabalhar. Depois de passar grandes dificuldades com sua esposa e sua
filha recém-nascida, Ernst Jones o ajudou a conseguir um trabalho como professor de
psicanálise em Johannesburgo, na África do Sul. Junto com sua esposa Laura, fundaram
lá o Instituto Sul Africano de Psicanálise. Em 1936 foi convidado para um congresso e
Praga, e lá expôs algumas de suas ideias, que causaram grande revolta. Isso o afetou de
tal maneira que ele acabou se distanciando da psicanálise tradicional.
Com a ajuda de sua esposa, Perls começou a dar forma a sua própria teoria. Em 1942
mudou-se para Nova York e publicou seu primeiro livro: “Eu, fome e agressão. Uma
revisão da teoria e do método de Freud”. Quatro anos mais tarde fundou “O grupo dos
sete” com outros intelectuais. Em 1951 foi lançada o que muitos consideram a bíblia
dessa nova teoria, no título original: “Gestalt Terapia: excitação e crescimento da
personalidade humana” .
A nova obra nasceu graças à ajuda do poeta Paul Goodman, que deu forma literária a
várias de suas páginas. Trata-se de um texto completo que faz uso da teoria da
Psicologia da Gestalt, da psicanálise, da fenomenologia, do existencialismo e do
pragmatismo americano. Mais adiante Perls também adicionaria alguns postulados do
budismo, após uma viagem ao Japão.
A Gestalt Terapia a partir daí teve um futuro contraditório. Em 1956 Perls se separou de
Laura, e os dois levaram a teoria adiante para caminhos diferentes. Enquanto Laura e
Paul Goodman se mantiveram totalmente fiéis aos princípios iniciais, Perls se afastou
desse ponto de vista e acabou incorporando princípios do Zen, assim como
ensinamentos dos kibbutz israelenses. Em seus últimos dias, Fritz se comportava mais
como um guru do que como um terapeuta. Morreu de um infarte, depois de uma longa
viagem, Data de falecimento: 14 de março de 1970, Local de falecimento: Chicago,
Illinois, EUA, Causa do falecimento: Insuficiência cardíaca.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.
Biografía de Fritz Perls. (2017). Fritzgestalt.com.
Biografía de Friedrich Salomon Perls. (2017). Psicomundo.org.
Chicón, M. (2017). Fritz Perls: Biografía y Teorías Principales – Lifeder. Lifeder.
Sarrió, C. (2017). Fritz Perls: Inicios de la Terapia Gestalt – Parte 1. Terapia Gestalt
Valencia Clotilde Sarrió.
1.2 - Influências Filosóficas: Fenomenologia, Existencialismo, Humanismo.

As principais correntes intelectuais que influenciaram a formação da Gestalt-Terapia


foram à psicanálise, a psicologia da Gestalt, o existencialismo, a fenomenologia, o
humanismo, o holismo e algumas idéias de Moreno, principalmente a importância do
desempenho de papéis em psicoterapia.

1.2.1 - FENOMENOLOGIA

O método fenomenológico não é uma invenção dos existencialistas. Ele foi


elaborado pela primeira vez na segunda metade do séc. XIX por Franz Brentano, sendo
retomado e aprofundado no séc. XX por Edmund Husserl.
O método fenomenológico consiste num esforço de esclarecimento da
experiência, esforço conduzido à luz da própria experiência em plena disponibilidade
para acolher toda a mensagem que a experiência transmite e comunica. Este método se
chama fenomenológico porque, no momento no qual se dá início à pesquisa, o campo
da experiência não pode ser identificado com o da realidade, da coisa em si: o campo da
experiência é o campo dos fenômenos, isto é, daquilo que aparece, enquanto nos
aparece e como nos aparece. A fenomenologia quer estudar o objeto como ele se
manifesta na sua rigorosa realidade, absolutamente pura, livre de qualquer mistura.
Sair de uma posição prévia de visão, de uma rede referencial, para buscar uma
nova concepção (...). Suspensão do senso comum, das estruturas prévias de
interpretação e da tradição sedimentada (palavra).
A Expressão do fenômeno “que se mostra no que aparece”. Fenomenologia
como a reflexão sobre a reflexão daquilo que se mostra e como se mostra. Na
compreensão evitam-se interpretações, encurtamentos.
De inspiração fenomenológica, a Gestalt se interessa mais pelo “como” do que
pelo “porque” das coisas e dos comportamentos, procurando observar e descrever os
fenômenos com uma visão sem preconceitos, antes de tentar entendê-los ou interpretá-
los.
Algumas noções fundamentais que a Gestalt-terapia emprestou da
fenomenologia:
 É mais importante descrever do que explicar: o como precede o porquê;
 O essencial é a vivência imediata, tal como é percebida ou sentida corporalmente
– até imaginada – assim como o processo que está se desenvolvendo aqui e
agora;
 Nossa percepção do mundo e do que nos rodeia é dominada por fatores
subjetivos irracionais, que lhe conferem um sentido, diferente para cada um;
 Isso conduz, particularmente, à importância de uma tomada de consciência do
corpo e do tempo vivido, como experiência única de cada ser humano, estranha a
qualquer teorização pré-estabelecida.
1.2.2 - EXISTENCIALISMO
A 1ª Guerra Mundial mostrou o vazio de todos os sistemas filosóficos, pondo em
perigo todos os valores por eles exaltados e fez sentir a urgência de uma renovação.
A derrota da Alemanha em 1918, a derrota da França em 1940 e, finalmente, a
derrota alemã em 1945 influenciaram na difusão da filosofia da Existência. Heidegger
elaborou sua filosofia nos anos que se seguiram ao término da 1ª Guerra Mundial e a
Filosofia Existencial alemã atingiu seu apogeu por volta de 1930. Sartre publicou o Ser
e o Nada em 1943.
Interprete da necessidade de uma urgente renovação e, ao mesmo tempo,
testemunha da situação de angústia na qual a guerra lançara a humanidade, o
existencialismo ganha força como corrente de pensamento que concebe a especulação
filosófica como uma análise minuciosa da experiência cotidiana em todos os seus
aspectos.
O homem é concebido como um ser livre e responsável por construir sua própria
existência.
“A existência precede a essência” (Sartre). O homem surge no mundo como um
ser particular, sem a possibilidade prévia, e somente depois poderá vir a ser. Ele é
abertura para o mundo e só se constitui como homem enquanto está em conexão com o
mundo dando-lhe um sentido.
O homem é livre, e a liberdade é condição promotora da angústia. O homem
vive num mundo de possibilidades, sem qualquer garantia de realização, sucesso ou
segurança. O homem é um ser para a morte. A angústia é o sentimento conectado ao
reconhecimento dessa condição – a finitude.
Algumas noções fundamentais que a Gestalt-terapia emprestou do
existencialismo:
 O primado da vivência concreta em relação aos princípios abstratos. Pode ser
considerado “existencial” tudo que diz respeito à forma como o homem
experimenta sua existência, a assume, a orienta, a dirige. A auto-compreensão
para viver, para existir, sem se colocar questões de filosofia teórica, é
existencial, é espontânea, vivida, não erudita (refletir, mas só para agir);
 A singularidade de cada existência humana, a originalidade irredutível da
experiência individual, objetiva e subjetiva;
 A noção de responsabilidade de cada pessoa que participa ativamente da
construção de seu projeto existencial e confere um sentido original ao que
acontece e ao mundo que a rodeia, criando, a cada dia, sua relativa liberdade.
1.2.3 - HUMANISMO

A “psicologia humanista” nasceu, informalmente, nos anos 50, em torno de


Abrahan Maslow (1908-1970), Rollo May, Carl Rogers (1902-1987) e alguns outros, a
maioria fortemente influenciada pela corrente existencialista européia – sobretudo
alemã e francesa (Heidegger, Martin Buber, Binswanger, Sartre, Merleau-Ponty,
Gabriel Marcel, etc.).

Para eles tratava-se de “recolocar o homem no centro da psicologia”, que se


tornara cada vez mais “científica”, fria e “desumanizada”.

Visão Holística do homem – ser inteiro.

O objetivo era criar uma “terceira força”, que permitisse delimitar, ao mesmo
tempo, as duas correntes de pensamento: a psicanálise e o comportamentalismo
(behaviorismo), ambas acusadas de tratar o homem como produto de sua bioquímica
celular e de seu meio familiar e social e de tê-lo reduzido a um objeto de estudo, em vez
de conferir-lhe um estatuto de individuo, responsável por suas escolhas e crenças.

A psicologia humanista nunca foi objeto de uma definição rigorosa. Pelo


contrário, é apenas uma orientação, uma tendência geral, que – por princípio – se
mantém “aberta”, para poder adaptar-se à evolução dos valores e se nega a se fixar em
qualquer doutrina precisa demais, que acabaria caindo – como várias outras – num
dogmatismo escolástico.
É uma forma de devolver ao homem toda sua dignidade, seu direito ao respeito
em todas as suas dimensões:
 Direito de valorizar seu corpo e suas sensações, satisfazer suas necessidades
vitais fundamentais, expressar suas emoções;
 Direito de construir sua unicidade, respeitando a especificidade de cada um
(direito à diferença);
 Direito de se desenvolver e se realizar, sem limitar-se ao “ter” e ao “fazer”, de
criar seus próprios fins, de ultrapassar sem cessar seus próprios limites, de
elaborar seus próprios valores individuais, sociais e espirituais.
Após superar a idéia sujeito/objeto da ciência tradicional e a idéia
normal/patológico do modelo médico, a psicologia humanista renunciaria também a
idéia de causa/conseqüência, para adotar um ponto de vista sistêmico, em que todos os
fenômenos são considerados em interdependência circular: o homem é um sistema
global aberto que inclui subsistemas (órgãos, células, moléculas, etc.) e está, ele mesmo,
incluído em sistemas mais amplos (família, sociedade, humanidade, cosmos).
1.2.4 - HOLISMO
A abordagem holística é um enfoque global, interdisciplinar, em que tudo é
considerado: os métodos experimentais e experiências, racionais e intuitivas, descritivas
e especulativas, havendo uma interrelação e interdependência de fenômenos físicos,
biológicos, psicológicos, sociais, culturais e espirituais.

A visão holística da Gestalt se insere numa perspectiva de mundo em que nunca


interessa ao terapeuta um sinal isolado, um gesto ou uma palavra, até um
comportamento complexo mais elaborado, mas antes a interconexão permanente do
individuo global com seu meio geral, social e cósmico, o todo num fluxo incessante que
só podemos apreender por uma vigilância constante no aqui e agora, com seu processo
ininterrupto de gestalts que se formam, se realizam, se dissolvem numa eterna
turbulência.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FRAZÃO, Lilian Meyer; FUKUMITSU, Karina Okajuma. Gestalt-terapia:
fundamentos epistemológicos e influências filosóficas. [S.l: s.n.], 2013.

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