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Curso de Formação Básica em Dinâmica dos Grupos

Curitiba – PR
Coordenação: Constancia M. Alves De Boni, Waldemiro Pedroso Sobrinho

O processo grupal segundo as fases de Schutz:


um estudo de um grupo religioso,
um grupo artístico e um grupo de trabalho

ELIZABETH NERY SINNOTT


MARCELE KARASINSKI
PAULO TADEU GRACIANO
RAINER JUNGES

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 1


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................3
1.1 Objetivos específicos .....................................................................................................3
1.2 Justificativa ....................................................................................................................3
1.3 Hipótese .........................................................................................................................3

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................4
2.1 Relacionamento interpessoal .........................................................................................4
2.2 Funcionamento do grupo ...............................................................................................5
2.3 As fases de inclusão, controle e afeição propostas por Schutz ......................................6
2.3.1 Inclusão .......................................................................................................................7
2.3.1.1 Comportamento de inclusão e os sentimentos de importância e estar vivo.............7
2.3.2 Controle.......................................................................................................................8
2.3.2.1 Comportamento de controle e sentimentos de competência e escolha ....................9
2.3.3 Afeição / Abertura.......................................................................................................9
2.3.3.1 Comportamento de abertura e o sentimento de ser amado ....................................10
2.4 A teoria de funcionamento dos grupos de Bion...........................................................11
2.4.1 Grupo de trabalho .....................................................................................................11
2.4.2 Mentalidade de grupos..............................................................................................11
2.4.3 Pressupostos básicos .................................................................................................12
2.4.3.1 Dependência...........................................................................................................12
2.4.3.2 Acasalamento.........................................................................................................13
2.4.3.3 Luta-fuga................................................................................................................13

3 METODOLOGIA ......................................................................................................13
3.1 Sujeitos.........................................................................................................................14
3.2 Instrumentos.................................................................................................................14
3.3 Procedimentos..............................................................................................................14

4 ANÁLISE DE DADOS .............................................................................................14


4.1 Grupo religioso ............................................................................................................14
4.1.1 Observação da reunião do Grupo de Jovens da Seicho-No-Ie do Bacacheri............16
4.1.2 Pontos relevantes a serem analisados .......................................................................17
4.2 Grupo artístico .............................................................................................................19
4.2.1 Observação do ensaio do Coral de Igreja Batista do Guabirotuba ...........................19
4.2.2 Pontos relevantes a serem analisados .......................................................................20
4.3 Grupo de trabalho ........................................................................................................22
4.3.1 Observação do curso: Construção de Cenários do SEBRAE ...................................23
4.3.2 Pontos relevantes a serem analisados .......................................................................24
4.4 Comparação dos três grupos ........................................................................................25

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................26

REFERÊNCIAS.................................................................................................................28

ANEXOS ...........................................................................................................................29

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1 INTRODUÇÃO

O Processo Grupal fundamentado nas fases de Inclusão, Controle e Afeição de


Schutz. O objetivo desta pesquisa é observar e estudar distintos grupos e identificar como
ocorrem as fases de Inclusão, Controle e Afeição de Schutz.

1.1 Objetivos específicos

− Realizar análise do processo grupal;


− Verificar a forma como os membros dos três grupos se relacionam com seus
pares e com o seu Coordenador;
− Observar os comportamentos nos grupos e as fases da teoria de Shutz.

1.2 Justificativa

A presente pesquisa é de extrema relevância no sentido de contribuir para o en-


tendimento acerca dos fenômenos grupais.
Cada vez mais o mercado exige que o profissional, independente da sua área de
atuação, seja capaz de se conhecer e conhecer os aspectos que influenciam os relaciona-
mentos interpessoais.
Nesse sentido, entrar em contato com conteúdos teóricos, vivenciais e práticos do
Funcionamento e Dinâmica dos Grupos torna-se essencial para entender a complexidade
das relações.
A união de conteúdos teóricos e vivenciais a prática de outros grupos (que não o
Grupo 155 da SBDG), possibilita a ampliação da percepção dos pesquisadores e trabalha
competências para futuras intervenções. Além disso, favorece o aprendizado e as trocas
de experiências com outros membros da SBDG.

1.3 Hipótese

Will Schutz (1989), desenvolveu uma abordagem do desenvolvimento do ser hu-


mano considerando três zonas de necessidades interpessoais existentes em todos os gru-
pos: Inclusão, Controle e Afeição, conforme detalhado posteriormente.
Em outro livro Schutz (1975), relata maior acentuação nas relações de Inclusão,
Controle e Afeição de acordo com a característica de cada grupo, conforme o Quadro a
seguir:

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Quadro 1 – Relações entre níveis
INCLUSÃO CONTROLE AFEIÇÃO
Problema Dentro ou fora Topo ou base Próximo ou distante
Interação Encontro Confronto Abraço
Autoconceito Importante Competente Amorável
Nível corporal Energia Centralização Aceitação
Resposta Sexual Potência Orgasmo Sentimento
Fisiologia Sentidos (especialmente Nervoso Muscular Reprodutor
(Sistemas) pele) Respiratório Esquelético Circulatório
Digestivo e Excretório Endócrino Linfático
T. Psicanalítica Jung Adler Freud
“I-nature” Religião Ciência Arte
“I-thou” Organizações fraternais Política Casamento
Fonte: SCHUTZ, 1989, p. 56.

De acordo com o quadro acima, Schutz relaciona maior acentuação de Inclusão


em Grupos Religiosos, maior controle em Grupos voltados à Ciência e maior relação de
afeição em grupos voltados à arte.
De acordo com o descrito acima, a presente pesquisa pretende averiguar as fases
de inclusão, controle e afeto manifestas em diversos grupos, e também se propõem a veri-
ficar se os exemplos, mencionados por Schutz, de relação mais acentuada de inclusão em
Grupos de cunho religioso, maior controle em Grupos voltados à ciência e maior relação
de afeição em grupos voltados à arte, se manifestam desta forma descrita.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Relacionamento interpessoal

Ao longo da história da humanidade, a convivência humana sempre despertou a


atenção e o interesse de poetas, estudiosos e pessoas em geral. As pessoas convivem e
trabalham com pessoas, influenciam e são influenciadas por elas. Comunicam-se,
simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se,
entram em conflito, competem, colaboram e desenvolvem afeição.
Essas interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não-
intencionais, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa na presen-
ça de outra não fica indiferente a essa situação de presença estimuladora (MOSCO-
VICCI, 2001).
O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre as
pessoas, sob forma de comportamentos manifestos e não-manifestos, verbais e não-
verbais, pensamentos, sentimentos, reações psicológicas e/ou físico-corporais (MOSCO-
VICCI, 2001).
Desse modo, olhares, sorrisos, gestos, posturas corporais, deslocamentos físicos
de aproximação ou afastamento constituem formas não-verbais de interação. A forma de
interação mais frequente e usual, contudo, é representada pelo processo amplo de
comunicação, seja verbal ou não-verbal (MOSCOVICCI, 2001).
Quando se fala em relacionamento interpessoal não existem processos unilaterais
de interação. Tudo que acontece é resultado de ambas as partes (o eu e o outro) (MOS-
COVICCI, 2001).

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Em situações de trabalho, compartilhadas por duas ou mais pessoas, há atividades
predeterminadas a serem executadas, bem como interações e sentimentos recomendados,
tais como: comunicação, cooperação, respeito e amizade. À medida que as atividades e
interações prosseguem, os sentimentos despertados podem ir se modificando e
influenciarão as atividades subsequentes (MOSCOVICCI, 2001).
Sentimentos positivos de simpatia e atração provocarão aumento da interação e
cooperação, repercutindo favoravelmente nas atividades e possibilitando aumento da
produtividade. Já sentimentos negativos de antipatia e rejeição tenderão à diminuição das
interações, ao afastamento, à menor comunicação, desfavorecendo as atividades e os
resultados decorrentes desta (MOSCOVICCI, 2001).
Quando uma pessoa inicia sua participação em um grupo, há uma base interna de
diferenças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes,
experiências anteriores, gostos, crenças, valores e estilo comportamental, que acarreta
inevitáveis diferenças de percepções, opiniões e sentimentos em relação a cada situação
compartilhada (MOSCOVICCI, 2001).
Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa dentro
daquele grupo. A maneira como essas diferenças são encaradas e tratadas determina a
modalidade de relacionamento entre membros do grupo, colegas de trabalho, subordi-
nados e superiores (MOSCOVICCI, 2001).
A maneira com que o grupo lida com as diferenças individuais favorece um clima
entre as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principalmente no que
se refere aos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal, no
comportamento organizacional e na produtividade (MOSCOVICCI, 2001).
Se as diferenças são aceitas e tratadas em aberto, a comunicação flui com facili-
dade e em dupla direção. Neste caso as pessoas ouvem as outras, falam o que pensam e
sentem, e tem possibilidades de dar e receber feedback. Se as diferenças são negadas e
suprimidas, a comunicação torna-se falha, incompleta, insuficiente, com bloqueios,
barreiras e distorções (MOSCOVICCI, 2001).
O relacionamento interpessoal pode tornar-se e manter-se harmonioso e praze-
roso, permitindo o trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, união de
energias, conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou
seja, a tão buscada sinergia. Caso contrário, tende a tornar-se muito tenso, conflitivo,
levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e à crescente deterioração do
desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo
(MOSCOVICCI, 2001).
As relações interpessoais e o clima de grupo influenciam-se mutuamente e
circularmente, caracterizando um ambiente agradável e estimulante, ou desagradável e
averso, ou neutro e monótono (MOSCOVICCI, 2001).

2.2 Funcionamento do grupo

Para estudar um grupo e compreender seu funcionamento, a sequência de eventos,


as modalidades de interação e suas consequências, faz-se necessário identificar os
componentes relevantes dos processos de grupo (MOSCOVICCI, 2001).
Um grupo pode ser analisado através de sua composição, estrutura e seu ambiente.
Neste caso, estudam-se as pessoas que compõem o grupo, as posições relativas que

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ocupam no grupo, suas relações entre si, o espaço físico e psicossocial do grupo
(MOSCOVICCI, 2001).
Pode-se também estudar um grupo considerando sua dinâmica, os componentes
que constituem forças em ação e que determinam os processos de grupo.
Como componentes principais de um grupo podem-se citar: objetivos, motivação,
comunicação, processo decisório, relacionamento, liderança e inovação. Todos esses
componentes influenciam decisivamente para a definição de normas de funcionamento e
concomitantemente estabelecimento do clima do grupo (MOSCOVICCI, 2001).
Um grupo começa, funciona durante algum tempo, modifica-se (em sua estrutura
e dinâmica) e continua modificando-se gradativamente, em maior ou menor grau e
velocidade, ou fragmenta-se, terminando como grupo original ou dando origem a outros
grupos (MOSCOVICCI, 2001).
Várias tentativas de descrever e explicar o desenvolvimento de grupos foram
feitas, embora nenhuma possa ser considerada abrangente e conclusiva.

2.3 As fases de inclusão, controle e afeição propostas por Schutz

Schutz (1989) também considera as dimensões de Dependência e Interdependên-


cia como fatores centrais em sua teoria de compatibilidade de grupo. Indica ainda que o
fator determinante para a compatibilidade do grupo é a dosagem específica de orientações
para a autoridade com orientações para a intimidade pessoal (MOSCOVICCI, 2001).
Sobre a dependência e interdependência Bennis e Shepard (1961), estudando
grupos de treinamento, observaram duas áreas majoritárias de incerteza interna que
determinam o fluxo de atividades grupais: a dependência expressa nas relações de
autoridade, e a interdependência expressa nas relações pessoais (MOSCOVICCI, 2001).
As maiores dificuldades ou obstáculos na comunicação efetiva seriam as
orientações para a autoridade ou para a intimidade que os membros já trazem para o
grupo. Comportamentos de rebeldia, submissão ou evasão representariam respostas
típicas à figura de autoridade. Comportamentos de competição destrutiva, exploração
emocional ou evasão, como respostas características aos companheiros, impediriam a
validação consensual da experiência vivida em conjunto (MOSCOVICCI, 2001).
O conceito de compatibilidade de grupo é importante quando se fala da constitui-
ção de equipes de trabalho que têm metas bem definidas a alcançar e que poderiam, ou
deveriam, funcionar adequadamente pela competência técnica de seus integrantes, mas
que, por vezes, não rendem o esperado, justamente pelas dificuldades interpessoais no
trabalho grupal (MOSCOVICCI, 2001).
No desenvolvimento do grupo, portanto, precisam também ser considerados os
aspectos de personalidade de seus membros com relação às dimensões de dependência
(autoridade) e interdependência (intimidade), além da dimensão tempo e outros fatores
que compõem o grupo (MOSCOVICCI, 2001).
Will Schutz (1989), desenvolveu uma abordagem do desenvolvimento do ser hu-
mano considerando três zonas de necessidades interpessoais existentes em todos os gru-
pos: Inclusão, Controle e Afeição.

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2.3.1 Inclusão

Segundo Schutz (1989) relaciona-se com associação, ou melhor, pessoas estarem


cercadas de pessoas. É a necessidade de ter a atenção dos outros, interagir, de pertencer,
de ser único. Ser único significa que o outro está interessado ‘em mim’ o suficiente para
descobrir quem sou eu. Inclusão tem a ver com a preocupação em ser proeminente (estar
acima no sentido de ser importante, mais do que dominação).
De um lado existem pessoas do tipo animado, do tipo que gostam de festas, de fa-
zer atividades em grupo, de iniciar conversas com estranhos. Por outro lado existem pes-
soas que preferem ficar sozinhas, são mais reservadas, raramente começam conversas e
evitam festas.
Inclusão envolve a quantidade de interação que duas pessoas querem ter, assim
como a decisão em relação a querer continuar a se encontrar ou não. Em relação ao gru-
po, a fase de inclusão começa com a formação do grupo.
A primeira decisão é se a pessoa quer fazer parte, se quer estar fora ou dentro,
sentir se estão prestando atenção nela ou se ela esta fora e sendo ignorada (Quem me in-
clui, me chama para estar no grupo?). E se a pessoa é importante neste grupo.
Convém ressaltar que se ela se sentir muito ansiosa a respeito disso, pode começar
a falar demais, se omitir ou se exibir.
O comportamento em relação à inclusão é função de dois aspectos: o racional e o
defensivo.
O racional representa a preferência para ter contato com pessoas. O defensivo re-
presenta a ansiedade em relação à inclusão. O racional é flexível e pode se adaptar à si-
tuação – evento. O defensivo é rígido – isto é, ele não varia conforme situação / evento e
resulta em comportamentos inadequados.
Cada um é uma mistura do racional e do defensivo, dependendo de como se sente
em relação a si mesmo, isto é, quanto maior a auto-estima e o auto-conhecimento, o lado
racional pode assumir.
Partindo, então desses pressupostos, pode-se apresentar três tipos de ‘pessoas’:
a) Pessoa Subsocial – tem medo de ser ignorada, não se arrisca a ser
ignorada. Prefere ficar só. Tem baixa inclusão;
b) Pessoa Supersocial – também tem medo de ser ignorada, porém adota um
comportamento oposto ao subsocial – apesar de ninguém estar interessado
nela vai forçar os outros a prestarem atenção nela;
c) Pessoa Social – é a pessoa que se sente bem em grupo, assim como
quando está sozinha.

2.3.1.1 Comportamento de inclusão e os sentimentos de importância e estar vivo

Os sentimentos que a pessoa tem em relação a si, os sentimentos que tem em rela-
ção aos outros e seus comportamento estão todos conectados. Se a pessoa sente que é
importante, fica mais independente em relação aos outros. Se não, tende a pensar que os
outros não vão achá-la importante, adota comportamentos que levam as pessoas a consi-
derá-la sem importância. Quando as pessoas a incluem, se interessam em saber quem ela
é, o seu sentimento de importância cresce, assim como a sua auto-estima. Contrariamen-
te, se a pessoa não é incluída, os outros não demonstram interesse por ela, tende a se iso-
lar, dificultando a comunicação e o desenvolvimento de uma maior sinergia do grupo.

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2.3.2 Controle

Controle refere-se à relação de poder, influência, autoridade entre as pessoas. Tem


a ver com a obtenção da quantidade de controle que a pessoa exerce. Há pessoas que gos-
tam de liderar, de dar ordens e de tomar decisões. Outros não gostam, e procuram, no
grupo, assumir posições em que não tenham responsabilidades.
Em um debate, se a pessoa busca controle, quer dominar, quer ser a vencedora ou
pelo menos estar do lado vencedor.
Se a pessoa é forçada a escolher, aquele que busca inclusão prefere ser um parti-
cipante que perde ou fica com quem perdeu, aquele que busca controle prefere ser um
vencedor solitário.
Dessa maneira, pode-se dizer que comportamentos de controle não requerem pro-
eminência, e comportamentos de inclusão não requerem dominância.
Comportamentos de controle podem ser manifestados por meio de uma resistência
da pessoa em ser controlada. Expressões de independência e rebelião (revolta) indicam
resistência. Complacência, submissão e facilidade em obedecer indicam aceitação quanto
a ser controlado.
Qualquer um pode controlar e ser controlado. Pode-se preferir controlar a ser con-
trolado. Pode-se preferir uma estrutura de poder na qual ninguém dá ordem a ninguém.
Pode-se preferir seguir ordens e ser relutante em dar ordens.
As questões de controle estão relacionadas com o grau de confrontação na rela-
ção. As típicas interações no contexto de controle envolvem confrontação ou evitação do
confronto.
Algumas vezes, um subordinado prefere ser o “poder por trás do trono” satisfa-
zendo simultaneamente a necessidade de controle e baixa inclusão, outra situação é o do
“bobo da corte”, que satisfaz sua necessidade de alta inclusão e baixo controle.
Pode-se notar que problemas de controle surgem após o grupo compor-se e as afi-
nidades começarem a se desenvolver. Nesta etapa as principais demandas no grupo pas-
sam a ser luta pelo poder, competição (pela liderança, métodos do processo de tomadas
de decisão, a distribuição do poder), busca ou assunção de diferentes papéis (líder, ajuda-
dor, brincalhão, conciliador, opositor).
As preocupações são em relação a ter muita ou pouca responsabilidade. O objeti-
vo de cada membro é ter tanto poder e influência até atingir o seu nível de conforto. A
pessoa procura situar-se entre um estado de impotência e de estar sobrecarregado de res-
ponsabilidade.
Levando em conta o controle pode-se agrupar as pessoas em:
a) Pessoa Abdicrata – (rígido em baixo controle) a pessoa abdica do seu
poder. Adota uma posição subordinada, na qual os outros não esperam que
ela assuma responsabilidades, tome decisões; ao contrário ela quer que os
outros a aliviem das suas obrigações, não controla os outros, nem quando
isto é apropriado. Quando ela é o chefe, não faz o que é necessário para
corrigir aquilo que não está funcionando bem. Ela atrasa, procrastina. Ela
nunca toma uma decisão que a faça subir, e a responsabilidade nunca fica
com ela;
b) Pessoa Autocrata – (rígido em alto controle) é a pessoa que domina nos
extremos. Seu método direto é buscar poder e competir. Tem medo que os
outros a dominem e não sejam influenciados por ela. Seu sentimento
básico é o mesmo do abdicrata: Não ser capaz. Para compensar este

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sentimento fica tentando provar que é capaz, o que resulta em assumir
muitas responsabilidades e frequentemente se desgastar. Seu método
indireto para obter controle é: ser astuto, manhoso, sedutor;
c) Pessoa Democrata – quando na infância a pessoa resolveu com sucesso
as questões relacionadas com controle ela se sente confortável dando ou
não comandos, recebendo ou não comandos. Ela não tem medos sobre a
sua estupidez ou incompetência. Sente-se competente e confia em que os
outros sentem que ela pode tomar decisões.

2.3.2.1 Comportamento de controle e sentimentos de competência e escolha

Subjacente ao comportamento de controle está a experiência que acompanha o


sentimento de sentir-se ou não competente. Competência tem a ver com a habilidade de
tomar decisões e resolver problemas. A pessoa se sente competente se tem capacidade de
enfrentar o mundo, satisfazer os seus desejos, evitar catástrofes, manter um trabalho, ser
auto suficiente e adquirir bens materiais.
Quando o indivíduo se sente competente, se sente inteligente, forte, harmonioso é
capaz de enfrentar as questões relacionadas com o viver. Quando se sente incompetente,
é o oposto: sente-se fraco, impotente e incapaz de enfrentar a vida. Ele precisa de uma
grande ajuda e orientação dos outros para enfrentar a vida e assim mesmo se sente inse-
gura.

2.3.3 Afeição / Abertura

A terceira dimensão do comportamento humano é a ‘abertura’, isto é, o quanto a


pessoa está disposta a ser ‘aberta’ com o outro. A abertura varia ao longo do tempo, entre
os indivíduos e nos relacionamentos.
Algumas vezes, as pessoas gostam de uma relação em que possam dividir seus
sentimentos, seus segredos e pensamentos íntimos e por isso tem alguém para ser seu
confidente. Outros evitam abrir-se com os outros. Preferem manter relações mais impes-
soais, preferem ter conhecidos em vez de amigos próximos, ou seja, as pessoas manifes-
tam tanto desejos de relacionamentos mais abertos como de privacidade.
A abertura é construída com base em vínculos mais profundos, portanto, usual-
mente é a última fase a emergir em um relacionamento entre as pessoas ou em um grupo.
Com a evolução da relação, a abertura terá a ver com o quanto as pessoas vão se abraçar.
Assim como na Inclusão e Controle, a Abertura tem dois aspectos: o racional e o
defensivo. O racional resulta da preferência de uma certa quantidade de abertura que a
pessoa quer ter. O defensivo resulta do medo de ser muito aberto e ficar vulnerável a ser
rejeitado ou não amado. Quando a pessoa é flexível e racional, pode adaptar-se a diferen-
tes situações, quando ela é rígida e defensiva, reage sempre da mesma maneira em qual-
quer circunstância. Cada pessoa é uma mistura do racional e do defensivo, dependendo
de como ela se sente em relação a si. Quanto pior ela se vê em relação a si mesmo mais
defensiva ela é.
Também neste caso pode-se destacar três tipos de pessoas:
a) Pessoa Impessoal – é quando a pessoa se relaciona de forma impessoal
(rígida em baixa abertura, defendendo-se), ela evita revelar-se para os

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outros. Mantém relações superficiais, distantes e fica mais confortável
quando as pessoas fazem o mesmo, mantém uma distância emocional e
não se envolve emocionalmente. Tem medo de que ninguém goste dela, e
se antecipa. Ela tem grande dificuldade de gostar genuinamente das
pessoas e não acredita nos sentimentos que elas têm em relação a sua
pessoa. A atitude inconsciente é: como a abertura em sua vida levou-a a
ter experiências muito dolorosas, procura evitar esta dor, não se ‘abrindo’.
A técnica direta é evitar proximidade, sendo antagônico, e rejeitando, se
necessário. A técnica sutil é ser superficialmente amigável com todos,
procurando ter popularidade que funcione como uma proteção contra ser
aberto;
b) Pessoa Super Pessoal – é quando se relaciona de forma excessivamente
pessoal (rígida em alta abertura, pela defensividade) ela conta para todos
seus sentimentos, e quer que todos sejam abertos com ela. O sentimento
inconsciente é: a primeira experiência com ‘abertura’ foi muito dolorida,
mas se tentar muitas vezes ela poderá se tornar melhor. Ser gostado é
essencial, portanto a sua técnica direta é tentar obter aprovação sendo
extremamente pessoal, insinuante e confidente. A técnica sutil é
manipulativa, possessiva e punitiva, caso seus amigos tentem estabelecer
novas amizades;
c) Pessoal – quando se relaciona de forma pessoal (utiliza a abertura de
forma adequada) e tem suas questões relacionadas com abertura bem
resolvidas na infância, o seu nível de abertura com os outros é flexível. A
pessoa fica confortável em uma relação próxima e também em situações
que requeiram distância. A pessoa sente-se confortável dando ou
recebendo afeição, gosta de ser gostada, mas se não o é, pode aceitar isso
como significando simplesmente que alguém não gosta dela, não
generaliza e não conclui que não é amada por ninguém.

Nestas três dimensões cada pessoa tem uma posição de conforto, isto é, escolhe
um comportamento entre dois extremos: baixo ou alto / pouco ou muito. De acordo como
a pessoa se comporta, se sente em relação a si mesma, essa posição de conforto tem sua
fonte:
- Na auto-inclusão (estar vivo), autodeterminação e autoconsciência. Na forma
como a pessoa se comporta em relação a si mesmo;
- Na auto-importância (auto-relevância), autocompetência e amor próprio.
Como a pessoa se sente em relação a si mesma;
- No comportamento das pessoas, que impactam nas experiências, memórias,
pensamentos, valores, crenças gerando medos de ser ignorado, humilhado e
rejeitado.

2.3.3.1 Comportamento de abertura e o sentimento de ser amado

Quando a pessoa gosta de si mesma, tem prazer na própria companhia. Sente-se bem
em relação ao que é, e se os outros souberem tudo a seu respeito, vão gostar de quem é.
Quando a pessoa não gosta de si, não tem prazer em saber quem é. Tem vergonha
de si ou de como se comporta e como se sente. Seus impulsos e desejos são inaceitáveis,

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e ela acredita que qualquer pessoa que soubesse tudo a seu respeito ficaria revoltada e
poderia insultá-la. Em função do quanto ela sente que não é gostada, amada é que expe-
rimenta maior ou menor receio e medo em relação à rejeição. Dessa forma, receia que
quanto mais as pessoas a conheçam, menos vão gostar dela. Mantendo uma maior distân-
cia pessoal e mantendo segredo ela se sente segura, ao menos temporariamente.

O grupo passa pelas fases de inclusão, controle e afeição, nas quais são criadas
oportunidades para os membros satisfazerem suas necessidades interpessoais (SCHUTZ,
1989).
Ou seja, os comportamentos em relação à inclusão, controle e abertura que adota-
dos estão diretamente vinculados ao nosso autoconceito e auto-estima.
O ciclo das fases – inclusão, controle e afeição – pode repetir-se várias vezes du-
rante a vida de um grupo, independentemente de sua duração. Em grupos de treinamento,
observa-se uma inversão do ciclo nas últimas sessões, passando de afeição, para controle,
e inclusão como etapa final de despedida.
Schutz elaborou posteriormente um sumário das várias expressões de inclusão,
controle e afeição, em contextos diversos e mais amplos do que nos grupos de
treinamento (MOSCOVICCI, 2001).

2.4 A teoria de funcionamento dos grupos de Bion

A teoria dos grupos proposta por Bion pode ser dividida em dois tipos de grupos:
o grupo de trabalho ou grupo refinado e os grupos de base, ou mentalidade grupal ou ain-
da grupos de pressupostos básicos (SAMPAIO, 2002).

2.4.1 Grupo de trabalho

Por grupo de trabalho entende-se a reunião de pessoas para a realização de uma


tarefa específica, na qual se consegue manter um nível refinado de comportamentos dis-
tinguido pela cooperação. Cada um dos membros contribui com o grupo de acordo com
suas capacidades individuais, e neste caso, consegue-se um bom espírito de grupo. Por
espírito de grupo, Bion (1975, p. 18) entende que se trata de:
− a existência de um propósito comum;
− reconhecimento comum dos limites de cada membro, sua posição e sua função
em relação às unidades e grupos maiores;
− distinção entre os subgrupos internos;
− valorização dos membros individuais por suas contribuições ao grupo;
− liberdade de locomoção dos membros individuais dentro do grupo;
− capacidade do grupo de enfrentar descontentamentos dentro de si e de ter
meios de lidar com ele.

2.4.2 Mentalidade de Grupos

A mentalidade de grupos é “a expressão unânime da vontade do grupo, à qual o


indivíduo contribui por maneiras das quais ele não se dá conta, influenciando-o desagra-

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davelmente sempre que ele pensa ou se comporta de um modo que varie de acordo com
os pressupostos básicos” (BION, 1975, p. 57). Ela funcionaria de forma semelhante ao
inconsciente para o indivíduo.
Ela seria responsável pelo “fracasso dos grupos” que Bion remonta à “expressão
num grupo de impulsos que os indivíduos desejam satisfazer anonimamente e a frustra-
ção produzida no indivíduo pelas consequências que para si mesmo decorrem desta satis-
fação” (BION, 1975, p. 46).
Bion destaca diversas situações onde o grupo parece estar mobilizado pela menta-
lidade de grupo. Conversas fúteis, ausência de juízo crítico, situações “sobrecarregadas
de emoções” a exercerem influências sobre o indivíduo, estímulo às emoções indepen-
dentemente do julgamento, em suma: “perturbações do comportamento racional do gru-
po” (BION, 1975, p. 31).
Baseado nessa visão, os grupos seriam como uma moeda, que possui duas faces,
uma voltada à consecução dos seus objetivos e uma outra regida por impulsos dos seus
membros, impulsos estes que se manifestariam quando se está reunido em um grupo de
pessoas (SAMPAIO, 2002).
Bion distingue três padrões distintos, mas intercambiáveis, que seriam uma cons-
tante na mentalidade de grupos. Ele os denominou pressupostos básicos.

2.4.3 Pressupostos básicos

A teoria dos pressupostos básicos possui suas raízes na teoria freudiana, que tenta
explicar os fenômenos grupais a partir da libido (instinto sexual). Bion sustenta a hipótese
psicanalítica de que os fenômenos grupais possuem como origem um investimento afeti-
vo sobre um objeto que não pode ser obtido, seguido pela identificação com os supostos
“rivais” (SAMPAIO, 2002).
Para Bion (1975), existem três tipos de “padrões de comportamento” próprios dos
fenômenos de mentalidade de grupo. Ele denominou-os como dependência, acasalamento
e luta-fuga.

2.4.3.1 Dependência

Um dos primeiros fenômenos observados por Bion (1975) foi a Dependência, ou


seja, a demanda que seus grupos apresentavam por um líder, capaz de satisfazer aos seus
membros. “O grupo é bastante incapaz de enfrentar as emoções dentro dele, sem acreditar
que possui alguma espécie de Deus que é inteiramente responsável por tudo o que acon-
tece” (BION, 1975, p. 30).
Este pressuposto básico é o de que “existe um objeto externo cuja função é forne-
cer segurança para o organismo imaturo”. Este objeto pode ser uma pessoa, uma ideia ou
a história do grupo (SAMPAIO, 2002).
O líder que age segundo este pressuposto básico se comporta como se fosse “oni-
potente” ou “onisciente”, características próprias de uma divindade, favorece a depen-
dência dos membros. Qualquer pessoa que queira ocupar o lugar de líder, uma vez já
ocupado (ou pelo menos atribuído pelos membros do grupo), pode ser rechaçada, desde-
nhada ou menosprezada. Quando o suposto líder recusa-se a agir segundo o papel que se

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 12


espera dele, cria-se um mal estar no grupo, que pode recorrer a explicações fantasiosas
para manter-se coeso (SAMPAIO, 2002).
Os membros do grupo, agindo segundo este padrão de comportamento, disputam
à atenção do líder e podem sentir “culpa pela voracidade” com que o fazem. Eles fre-
quentemente consideram suas experiências insatisfatórias e insuficientes para lidar com a
realidade, desconfiam da sua capacidade em aprender pela experiência. Seus sentimentos
mais frequentes são os de inadaptação (à vida, às suas experiências etc., e não apenas ao
grupo) e de frustração (SAMPAIO, 2002).
Bion (1975, p. 72) acredita que as pessoas aceitam estar em um grupo de depen-
dência para “evitar experiências emocionais peculiares aos grupos de acasalamento e de
luta-fuga”.

2.4.3.2 Acasalamento

O segundo pressuposto básico identificado por Bion é o Acasalamento (algumas


vezes chamado de “esperança messiânica”). Segundo este pressuposto “está por vir um
novo grupo melhorado”, o grupo futuramente atenderá às necessidades pessoais de seus
membros (SAMPAIO, 2002).
O grupo de acasalamento foi inicialmente observado em pares que conversavam
assuntos diversos, à parte, sem que o grupo se incomodasse com eles ou chamasse a sua
atenção, aceitando-os. Eles tinham semelhança com casais de namorados, embora não
tratassem de nenhum assunto de conteúdo sexual (SAMPAIO, 2002).
Os membros de um grupo que estão agindo sob a influência deste pressuposto bá-
sico, de forma geral, não estabelecem conversas com o “líder formal” ou chefe do grupo
(SAMPAIO, 2002).
A emoção mais presente no grupo de acasalamento é a esperança, que faz com
que a atenção de seus membros volte-se para o futuro (SAMPAIO, 2002).

2.4.3.3 Luta-fuga

O terceiro pressuposto básico é o de luta-fuga e pode ser exposto da seguinte for-


ma: “estamos reunidos para lutar com alguma coisa ou dela fugir” (SAMPAIO, 2002).
Os membros do grupo discutem sobre pessoas ausentes (que são um perigo para a
coerência do grupo), estão tomados pela sensação de que a adesão do grupo é um fim em
si mesmo. Os membros ignoram outras atividades que não sejam este debate infrutífero,
fogem delas. Acreditam, ou agem como se acreditassem, que o bem estar individual é
menos importante que a continuidade do grupo (SAMPAIO, 2002).
O líder reconhecido como tal por este grupo é o que concede oportunidades para a
fuga (que é a mesma coisa que a luta das discussões infrutíferas em torno da conservação
do grupo). É ignorado quando não atua desta forma (SAMPAIO, 2002).

3 METODOLOGIA

O trabalho foi realizado através de pesquisa qualitativa e observações de campo.

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 13


A pesquisa qualitativa se fez através de um questionário de vinte e três perguntas
elaborado pelos pesquisadores para ser aplicado nos grupos estudados.
Os pesquisadores fizeram as observações em todos os grupos. Com as informa-
ções coletadas nas observações e transcreveram para realizar a devida análise.

3.1 Sujeitos

Membros participantes do Grupo de Jovens da Seicho-no-ie Bacacheri, Membros


do Coral da Igreja Batista do Guabirotuba e Membros do Curso Portas Abertas oferecido
pelo Sebrae.

3.2 Instrumentos

Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de Observação, e um questionário


adaptado pelos pesquisadores (Anexo 01).

3.3 Procedimentos

Primeiramente, os pesquisadores entraram em contato com as pessoas responsá-


veis pelos 3 grupos, explicando os objetivos da pesquisa e solicitando a autorização para
a observação e a aplicação do questionário. Após o consentimento, os pesquisadores
agendaram as datas e horários das observações.
No dia 04/07/2009, foi realizada a Observação da Reunião do Grupo de Jovens da
Seicho-no-ie do Bacacheri. A observação ocorreu das 16h45min às 18h00min.
No dia 05/07/2009, foi feita a Observação do Ensaio do Coral de Igreja Batista do
Guabirotuba (das 16h00minh às 18h00min).
No dia 07/07/2009 das 08h30min às 10h30min ocorreu a Observação do Curso:
Construção de Cenários do Sebrae (quarto encontro do grupo).
Em todas as observações, havia dois observadores da equipe. O procedimento de
aplicação e recolhimento do questionário também seguiu o mesmo padrão nos três gru-
pos.

4 ANÁLISE DE DADOS

4.1 Grupo religioso

Grupo do Sheicho-No-Ie
Seicho-No-Ie (Lar do Progredir Infinito, numa tradução livre) é uma fi-
losofia/religião de origem japonesa. Monoteísta, enfatiza o não secta-
rismo religioso, as práticas de gratidão à família e a Deus, e o poder da
palavra positiva que influencia na formação de um destino feliz.
Surgiu em 1º de março de 1930 e cresceu no pós-guerra no Japão,
quando a sociedade japonesa viu desmoronar a religião oficial do Esta-
do, baseada na crença na divindade do imperador e uma das bases da

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 14


ideologia militarista. Nesse vácuo ideológico e espiritual surgiram ou
cresceram inúmeras seitas e religiões, entre elas a Perfect Liberty, a
Igreja Messiânica Mundial (Johrei), Seicho-No-Ie, etc.
A Seicho-No-Ie foi fundada por Masaharu Taniguchi (1893-1985) e se
mundializa a partir da II Guerra Mundial. Seu conjunto doutrinário in-
corpora elementos da ciência, do cristianismo, do budismo e do xinto-
ísmo.
A Seicho-No-Ie em particular conseguiu grande número de adeptos. En-
tre os instrumentos de disseminação de sua crença, a revista Acendedor
e o Preceitos Diários (calendário com mensagens) se tornaram bastantes
populares nas grandes cidades brasileiras, principalmente nas décadas
de 60 e 70 do século XX. Nota-se o papel da religião como meio de ne-
gociação da cultura religiosa japonesa e a cultura brasileira. O periódico
Acendedor, em suas primeiras edições (1960), enfatiza a necessidade de
cooperar com o progresso nacional (ideologia do progresso do Estado
Militar), o que implicava respeitar a hierarquia e se abster de ideologias
que representassem alguma ameaça à ordem nacional, nesse caso o pen-
samento de esquerda (SILVEIRA, 2008, p.102).A doutrina da Seicho-
no-Ie, portanto, enfatiza o respeito às hierarquias não só como simples
meio de acomodação à situação política e cultural do Brasil, mas tam-
bém devido a utensilagem religiosa da doutrina que, como dito antes,
foi fortemente marcada pela ideologia do Xintoísmo de Estado Atual-
mente (2006), a Seicho-No-Ie conta com divulgação através de publica-
ções tais como as revistas Fonte de Luz, Pomba Branca, Mundo Ideal e
Querubim; Jornal Círculo de Harmonia; Preceitos Diários e Programas
de TV, rádio e website.
Sua origem cerimonial é ligada principalmente ao Xintoísmo, sendo
também seus rituais como batismo e casamento, do qual é talvez o me-
lhor representante fora do Japão. Entretanto, na Seicho-No-Ie é prevista
a liberdade e adaptação de cerimoniais à cultura local (WIKIPÉDIA,
2009).

Seguem abaixo as Normas Fundamentais dos Praticantes da Seicho-No-Ie:

1ª) Agradecer a todas as coisas do Universo;


2ª) conservar sempre o sentimento natural;
3ª) manifestar o amor em todos os atos;
4ª) ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos;
5ª) ver sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as
suas partes negativas;
6ª) anular totalmente o ego;
7ª) fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na
vitória infalível;
8ª) iluminar a mente, praticando a Meditação Shinsokan todos os dias
sem falta (Wikipédia, 2009).

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 15


4.1.1 Observação da reunião do Grupo de Jovens da Seicho-No-Ie
do Bacacheri

Data: 04.07.2009
Horário: 16h45min às 18h00min.

Descrição do ambiente: sala com cadeiras coloridas, mesa na frente do palestran-


te com dois vasos, um tablado como se fosse um altar, com uma mesa encostada na pare-
de, toalha de renda e dois vasos. Em frente à mesa fica um quadro com escritos em japo-
nês que significa “Imagem Verdadeira de Deus”. Há duas salas, sendo uma ao lado direi-
to do Tablado e outra ao lado esquerdo. A sala da direita é destinada a Orientação pes-
soal, tendo um aviso sobre a disponibilidade dos horários desse serviço. No lado contrá-
rio do tablado, ao fundo, há um desenho da imagem do “Mestre Massaharo Taniguchi”,
com uma poesia. Há 2 mesas com livros da Seicho-No-Ie à venda e fotos de membros em
encontros e festas do Grupo.

Descrição do Grupo: encontram-se na sala dois membros, sendo um deles a Pre-


sidente do Grupo de Jovens. Às 16h50min chegam ao local quatro pessoas (membros da
mesma família), sendo um casal, uma filha e um filho (ambos adolescentes).
Antes de iniciar a reunião, o homem anda pela sala e a mulher conversa com uma
participante.
Com exceção do filho, todos os membros se sentam na primeira fila de cadeiras.

Total de participantes: seis.

Início da Reunião: 17h02min.


A Presidente do Grupo se dirige a todos com entusiasmo e dizendo em voz alta:
“Boa tarde e Muito Obrigada”.
Pede que todos se levantam e cantam um Hino. A presidente do grupo canta e bo-
ceja no inicio da reunião
Após o Hino, a Presidente do Grupo convida a Preletora (palestrante do dia) para
conduzir a reunião.
A Preletora fala: “Muito obrigada” e se dirige ao altar. De costas para o público,
faz 2 referências, bate 2 palmas, senta na cadeira, junta as mãos, coloca os polegares no
nariz e inicia a oração para a Manifestação da Imagem Verdadeira de Deus. O ritual dura
3 minutos
Todos os membros fazem o mesmo que a Preletora.
Após a oração, uma observadora é chamada pela Presidente e fala brevemente so-
bre a observação realizada e o preenchimento do questionário.
Uma pessoa que ficou 4 anos sem participar das reuniões estava regressando neste
dia. Muitos risos e conversa entre ela e a Preletora antes e depois da reunião.

O tema da palestra era: Como mudar o seu destino através da Mente


Tema extraído do livro de Massaharo Taniguchi.
Primeiro cantam e dançam uma música que tem uma coreografia e que pede para
as pessoas se abraçarem. Os membros formam duplas e se abraçam, até todos os mem-
bros abraçarem a todos.

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 16


Durante a palestra fala dos atributos de Deus, grande oceano, dedicação, compar-
tilhando com o grupo a teoria. Conta piadas no meio de assuntos sérios e risos sem senti-
do. Olha muito e tenta incluir os observadores na discussão.
O adolescente fica disperso como se não estivesse na reunião.
As pessoas da primeira fileira aparentam estar atentas à Preletora, mais do que ao
conteúdo que ela traz ao grupo. A palestrante se referia muito a um participante de forma
pessoal e próxima, não separando o papel de membro do grupo e marido.
Fala novamente de assuntos sérios rindo.
Citando uma reportagem de revista, faz a relação de que 5 minutos de gargalhada
equivale a 45 minutos de esteira.
Fala que para as pessoas serem incluídas, basta mostrar os dentes (sorrir) e mani-
festar a Imagem Verdadeira de Deus.
A Preletora fala sobre a responsabilidade das pessoas com a sua vida e com as
suas escolhas. “Se eu não acreditar que posso eu não faço”. Primeiro tem que crer para
depois fazer, mudar os pensamentos para depois mudar os sentimentos”.
Após isso, segue-se a contagem de algumas piadas ao grupo.
Música, lê uma mensagem para finalizar, fala “MUITO OBRIGADO’” duas vezes,
vai até o altar de costas para todos faz uma oração, solicita a reverência de todos duas
vezes.
Fala da cegueira, medo e da alguns exemplos pessoais. Pergunta – por que uma
pessoa sofre.
Relata que acorda e pensa – a partir deste momento hoje é o melhor dia da minha
vida!
Se considera uma pessoa feliz, alegre e saudável.
Fala de um exemplo – “O Roberto Carlos fez o show para mim no dia do meu
aniversário!!!! Sim ele estava na minha sala!!!
“Acordarmos-nos já e motivo de alegria!”
O marido dá risada das piadas, como se não entendesse a moral da história (não
aprofunda)
A Preletora lê uma mensagem para o grupo (de 4 minutos).
Finalizam o encontro com a oração inicial (para Manifestação da Imagem Verda-
deira de Deus).
Cantam o hino em pé todos juntos.
Feito isso, foi solicitado o preenchimento do questionário, explicando como deve-
ria ser feito.
Ao final, os questionários foram recolhidos e as observadoras agradeceram e se
despediram do grupo.

4.1.2 Pontos relevantes a serem analisados

− A Preletora segura o livro na mão durante toda a sua fala, como se precisasse
de apoio teórico para se sentir segura ou “no controle”. Além disso, faz algumas
perguntas à plateia, mas não espera as respostas do público, respondendo-as logo em
seguida;
− A Preletora fala de forma rápida, sem pausas e sem organizar suas ideias de
forma sequencial e lógica. Ao longo de sua fala conta piadas, faz referência a si mesma,

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 17


dá exemplos de coisas que aconteceram com ela, fala de outros assuntos e dá risada
mesmo que o conteúdo abordado no momento não desperte esse sentimento;
− Há pouca participação verbal dos membros ao longo da palestra;
− Diante dos fatos acima citados pode-se hipotetizar que a Preletora tinha pouca
fundamentação teórica sobre o assunto da sua palestra (mesmo sendo a 3ª vez que
apresentada o assunto), ou seja, estava pouco preparada e demonstrava insegurança para
realizar a atividade. (A Preletora tem baixo nível de escolaridade);
− A Preletora fala várias vezes sobre o que as pessoas devem fazer, por
exemplo: “Tem que ser alegre”, “Tem que sorrir”, “Pra ser feliz tem que dar 10 abraços
por dia”, “Você tem que saber essa resposta fulana”, “Precisamos manifestar a alegria de
Deus”, “É assim que nós temos que ser!”, “A gente tem que agradecer e prestar atenção”,
“Precisamos começar a reconhecer nossas conquistas”;
− Ambos os fatos, podem estar relacionados à necessidade de controle do
coordenador e a sua assunção do papel de autoridade diante do grupo. Dado confirmado
pelo questionário aplicado.
− Além disso, retrata os objetivos da filosofia Seicho-no-ie no sentido de condu-
zir o comportamento de seus membros para ações socialmente aceitas e valorizadas;
− Com base no que foi proposto por Schutz (1989), pode-se pensar que a
Preletora deste grupo se assemelha ao perfil da Pessoa Autocrata – (Rígido em alto
controle). É a pessoa que domina nos extremos. Seu método direto é buscar poder e
competir. Tem medo que os outros a dominem e não sejam influenciados por ela, pois se
sente incapaz. Para compensar este sentimento fica tentando provar que é capaz o que
resulta em assumir muitas responsabilidades e frequentemente se desgastar;
− Logo após falar da responsabilidade dos indivíduos sobre os seus atos, a Prele-
tora conta uma piada sem relação nenhuma com o conteúdo abordado anteriormente;
− A Preletora ri enquanto fala de situações difíceis ou que possam levar a
sentimentos “negativos”. “Manter a mente triste é pecado”;
− Os comportamentos de evasão do filho (balança os pés, olha para o chão,
boceja, dispersão, pouco entusiasmo).Estes comportamentos podem ser entendidos como
comportamentos de fuga do grupo, pois ocorreram em momentos em que se falava sobre
situações difíceis ou a responsabilidade do indivíduo sobre si.

Segundo Bion, o processo se fuga em um grupo se manifesta quando membros do


grupo discutem sobre pessoas ausentes, ignoram outras atividades e/ou fazem debates
sem relação com o objetivo ou momento do grupo. Nesse contexto, o líder tem um papel
fundamental de permitir ou não a fuga do grupo (SAMPAIO, 2002).
Ocorreram episódios de união. As pessoas se aproximaram, concordaram com o
conteúdo da palestra, demonstrando entrosamento e afeição. Ocorreram também compor-
tamentos de dependência ao se verificar que os membros ficaram quietos e atentos a tudo
que o coordenador dizia, colocando-o no lugar de detentor do saber da doutrina. A Prele-
tora representava o líder espiritual naquele momento.
Observa-se em alguns momentos que as pessoas buscam numa escolha espiritual
uma dita “salvação”. O que diferencia é a sua “área problemática” presente, pois com a
permanência nestes grupos ele se isenta da responsabilidade para a sua cura ou seu “lugar
no céu”. Apresentando igualmente o desejo de ser controlado. Controlado pelo poder
superior que é representado pela Preletora.
Percebe-se que em muitos momentos a Preletora como foi citado na observação
estava numa posição de controle do grupo não os deixando responderem e manifestarem-

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 18


se. Hipótese é que ela não tinha fundamentação teórica suficiente para favorecer o
questionamento do grupo assim se mantendo no poder e controle da crença, das
referências conforme seu conjunto doutrinário que incorpora elementos da ciência, do
cristianismo, do budismo e do xintoísmo.
Os participantes em alguns momentos demonstraram necessidades de inclusão e
isso foi feito pela Preletora na recepção do encontro o que corresponde à hipótese deles
estarem assumindo um papel de inferioridade em relação às decisões e referencias da sua
própria vida. Temos o exemplo da repetição do discurso da Preletora do “tem que”
muitas vezes. Como também o seguimento das normas do praticante que se refere a: “Ver
sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as suas partes negativas”. “Ser
atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos”.
Shutz fala que durante o estágio do controle, o comportamento grupal caracte-
rístico inclui a luta pela liderança e também pela competição. [...] Tento me estabelecer
no grupo de tal modo que venha a ter a quantidade de poder e de dependência que me for
mais conveniente.
Percebe-se que quanto maior o poder dos Preletores desta doutrina neste grupo
maior o poder e a valorização no grupo.
Na observação, conclui-se que a relação mais acentuada neste grupo é a de
controle, apesar de apresentar características de inclusão em suas relações.

4.2 Grupo artístico

O coro ou canto coral remonta aos primórdios da história da humanidade e tem


suas origens nos antigos ritos religiosos da Grécia Antiga e do Egito Antigo. O coral pro-
testante tinha por objetivo a divulgação da doutrina e da língua dos grupos cristãos da
época principalmente alemães.
O coral tem permeado as principais culturas na trajetória da humanidade, passan-
do pelas culturas pré-cristãs, pelos egípcios, romanos e até os dias de hoje quando muitas
escolas adotam sua pratica como atividade curricular ou extra-curricular. Dentro deste
contexto o coral observado está completando seu jubileu de ouro em setembro deste ano,
quando completará 50 anos de existência. O Coral Ebenézer, objeto de observação tem
cumprido em sua trajetória o papel de arauto da mensagem da Igreja Evangélica Batista
do Guabirotuba em Curitiba. O coral conta atualmente com 20 coristas e é dirigido pelo
Pastor da igreja, Sergio Guimarães.

4.2.1 Observação do Ensaio do Coral de Igreja Batista do Guabirotuba

Caracterização: Coral existe há 50 anos; Reúnem-se todos os domingos às 16 ho-


ras para ensaios; Apresentam-se todos os domingos e em datas comemorativas. Formado
por 17 pessoas.
Data: 04/07
Duração: 16h00min às 18h00min.
Comparecerem 10 pessoas ao ensaio.
Às 16h12min iniciam as atividades e são finalizadas às 17h10min.
Grupo divide-se por vozes (Soprano, contralto, tenor e baixo).

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 19


Um dos observadores se apresentou ao grupo, informando os objetivos da pesqui-
sa e solicitou o preenchimento do questionário. Após o término do preenchimento, os
questionários foram recolhidos e iniciou-se o ensaio.
O regente inicia as atividades saudando os presentes. Conta uma “anedota” para
quebrar o gelo e ainda uma história com assuntos do dia a dia para motivar o grupo, bus-
ca incluir todos os presentes de forma a deixá-los à vontade.
O grupo se organiza para iniciar o ensaio e é convidado pelo regente a escolher as
músicas que serão ensaiadas, porém deixa isso a cargo do regente.
O regente sinaliza o início para o pianista e rege o grupo olhando para o hinário.
Alguns membros olham para o regente e outros para o seu hinário.
Quando alguns membros desafinam, outros membros do mesmo grupo de vozes
cantam mais alto para destacar-se.
Alguns membros possuem hinários com notas e outros somente com o texto das
músicas.
Ao final do ensaio o regente agradece a presença e participação dos membros, e
encerra o ensaio com uma oração de agradecimento.
Após o ensaio, alguns membros do grupo se reúnem, se abraçam, compartilham
fatos pessoais e buscam ajudar-se mutuamente.
Outro pequeno grupo se reúne em torno do piano e ficam cantando musicas esco-
lhidas por eles.

4.2.2 Pontos Relevantes a Serem Analisados

1. Coral desafina – Regente age com ironia: “A voz está pesada”;


2. Grupo de soprano apresenta dificuldade em cantar – Regente agem com
ironia: “É bem Fácil”;
3. Regente e pianista não se entendem no tempo da música – Regente estala os
dedos e repete diversas vezes: “é mais cadenciado”. Pianista balança a cabeça em sinal de
não concordância;
4. As vozes “Soprano” erram – Grupo para de cantar em sinal de reprovação ao
erro. Regente ensaia as vozes a parte e estala os dedos com vitalidade para ditar o ritmo
da música.
Diante destes fatos, percebe-se a existência da necessidade de manter a serenidade
do grupo, evitando-se confrontos e direcionamentos de palavras utilizando-se de subter-
fúgios e referências indiretas. Diante disto a hipótese é de que o grupo apresenta necessi-
dade de inclusão evitando confrontos e conflitos devido à ansiedade de ser excluído do
grupo.
Outra hipótese é de que houve fuga dos membros e do líder no momento em que
não relataram os fatos de forma direta e objetiva, fugindo do confronto que esta aborda-
gem poderia causar.
Segundo Moscovicci (2001), o pressuposto de luta/fuga refere-se à forma de con-
tato com o mundo externo, e baseia-se na oposição atacar ou evadir-se como possíveis
alternativas para lidar com pessoas e situações.

− Líder fala ao grupo – Pianista toca sem respeitar a sua fala;


− Grupo não acompanha a música – Alguns simplesmente param de cantar;
− Um membro olha algumas fotos e não canta;

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 20


− Quanto regente pede para repetir uma parte do hino – Alguns não gostam e
não cantam;
− Grupo ignora o piano e canta no seu tempo;
− Regente fica inseguro, um dos membros levanta o tom de voz e conduz o
grupo;
− Pianista toca enquanto regente fala.

Os comportamentos acima podem ser entendidos como comportamentos de contra


dependência dos membros, no sentido de irem contra àquilo que o regente solicita. Os
membros não manifestam essa “oposição” explicitamente e isto pode estar relacionado à
necessidade dos mesmos de se manterem aceitos e inclusos.
Os comportamentos de contra dependência surgem em resposta à figura de autori-
dade e são identificados quando membros do grupo se comportam com rebeldia, submis-
são ou evasão (MOSCOVICCI, 2001).
− Durante a oração se abraçam;
− Um membro se perde durante a música – o membro ao seu lado o ajuda a se
encontrar;
− Em uma das pastas não existe a música – prontamente o membro ao lado
divide com ele a sua pasta (hinário).

Diante desses comportamentos o grupo demonstra o fortalecimento do seu vínculo


e manifesta abertura e união entre os membros.
Com a evolução da relação, a abertura terá a ver com o quanto as pessoas vão se
abraçar A abertura é construída com base em vínculos mais profundos, portanto, usual-
mente é a última fase a emergir em um relacionamento entre as pessoas ou em um grupo
(SCHUTZ, 1989).

− Escolha da Música – O Grupo deixou para o líder escolher;


− Grupo aguarda orientação do regente;
− Aguardam o regente dar o direcionamento;
− Quando alguns desafinam os outros olham para o líder aguardando a sua
intervenção;
− Necessidade do regente “ditar” o tempo da música;
− Um membro ao errar, olha para o regente.

Os fatos acima citados podem significar comportamentos de dependência do gru-


po para com o regente. O pressuposto de dependência envolve a relação com a autorida-
de, e dá origem a afirmações e ações baseadas na aceitação dos opostos ser dirigido ver-
sus dirigir, impotência versus onipotência, como alternativas únicas de relacionamento
(MOSCOVICCI, 2001).

− Durante o canto percebe-se competição entre as vozes sendo demonstrada pela


diferenciação em tons altos e longos;
− Os grupos de vozes competem entre si.

Por se tratar de um grupo focado na realização de tarefas, são exigidas competên-


cias técnicas e de precisão de cada um dos membros. Isto pode fazer com que os mem-

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 21


bros entrem em processo de competição ou luta. Porém, esta acontece de forma velada e
implícita. Isto pode não ser explicitado pela necessidade de inclusão.
Pode-se observar que após o encerramento da tarefa, comportamentos de abertura
se manifestaram de forma clara e visível. Após a sinalização de encerramento do “ensaio”
por parte do Líder três grupos ser formaram demonstrando relação de afeição entre os
membros do grupo:
− Grupo com 5 integrantes forma-se ao redor do pianista e cantam musicas sem
necessidade de uma organização formal, simplesmente escolhem a musica e começam a
cantá-la de maneira leve e descontraída, mostrando forte satisfação em realizar isto,
podendo perceber-se a relação de satisfação e contentamento ao simplesmente cantar e
buscar abertura para manifestações de sentimentos;
− 3 integrantes, agrupam-se e começam a compartilhar dificuldades vividas em
relação a familiares na última semana. Este comportamento demonstra haver relação no
grupo, na qual podem dividir seus sentimentos, seus segredos mantendo relações de
vinculo mais profundo. Comportamentos descritos por Schutz (1989) relacionados a
Afeição;
− 2 integrantes, compartilham a história do Coral com um dos observadores,
neste relato percebe-se profundo conhecimento dos membros do grupo, em detalhes que
somente relações de cunho mais pessoal poderiam ter conhecimento. Em decorrência
deste relato percebe-se que o grupo busca diversas formas de contato, fora do horário de
ensaio, desde encontros em suas residências a almoços e viagens em conjunto.

Segundo Schutz (1989) as pessoas gostam de uma relação em que possam dividir
seus sentimentos, seus segredos e pensamentos íntimos e por isso tem alguém para ser
seu confidente. A abertura é construída com base em vínculos mais profundos, portanto,
usualmente é a última fase a emergir em um relacionamento entre as pessoas ou em um
grupo
Estes fatos comprovam a hipótese deste trabalho, que existe grande relação de
afeição entre os membros do grupo Coral. Devido à tarefa e tempo restrito durante o en-
saio, os sentimentos de afeição encontram maior espaço em momentos no qual o grupo se
encontra de forma menos estruturada.

4.3 Grupo de trabalho

Formação de Empreendedores
O Curso “Construção de Cenários” faz parte do programa do Sebrae de formação
de empreendedores, “Programa Próprio” o qual é dividido em seis módulos abaixo des-
critos:
− Portas Abertas;
− Perfil Empreendedor;
− Busca de Informações;
− Construção de Cenários;
− Gestão Básica;
− Consultoria de Viabilidade.

Todo programa tem uma carga horária de 20 horas e tem como objetivo levar o
nascente empresário a planejar a sua futura empresa, passando por todas as etapas do

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 22


planejamento do futuro negócio. O Sebrae aplica esta metodologia deste o ano de 1990
formando desde então aproximadamente 50.000 empreendedores e com isso aumentando
a taxa de sobrevivência das empresas nascentes, pois a mortalidade destes pequenos ne-
gócios que era de em torno de 70 % hoje está em aproximadamente 50 % segundo a últi-
ma pesquisa divulgada pelo Sebrae.

4.3.1 Observação do curso: construção de cenários do Sebrae


(terceiro encontro do grupo)

Data: 07.07.2009
Horário: 08h30min às 10h30min.

Descrição do ambiente: Sala ampla com carpete e várias janelas. Televisão,


equipamento multimídia, quadro branco e seis mesas pequenas em forma de hexágono
com 6 cadeiras cada uma.
No início da reunião, havia o instrutor (Senhor de 63 anos) e sete membros. Ao
término, o número de membros era de quatorze pessoas.
08h40minh – Ao iniciar o curso faz alguns comentários as 08h40min como: “não
sei porque cargas d’água faltou tanta gente!..sei lá!”
Abre o material em slides Flash e interage com o grupo perguntando se haviam
feito a tarefa de casa e se tinham pesquisado o ponto comercial para as empresas que de-
sejam abrir.
Escuta de forma paciente e interessada cada um dos participantes. Surgem no gru-
po declarações como: “eu não desisti”, “não vi mais nada”, “tudo certo”.
Conversas paralelas ocorrem.
Um dos membros demonstra ter concluído a tarefa, e ter uma estrutura e conheci-
mento do negócio que nenhum dos demais apresentou.
Paralelamente, alguns participantes receberam suporte de membros do grupo, por
não terem realizado a tarefa por completo.

Às 09h10min chegam mais dois participantes.


O instrutor distribui a apostila para todos do grupo com o conteúdo abordado:
Plano de Negócios.

Às 09h12min entrega a apostila para os observadores.


Passa o conteúdo nos slides, fala de muitos casos como exemplos e pede para eles
fazerem exercícios na apostila.
O instrutor fala ao grupo: “Vocês tem que colocar a cabeça para funcionar dentro
do Plano de Negócios”.
Ao realizar a tarefa solicitada, vários participantes chamam o instrutor, fazendo
perguntas, tirando dúvidas e buscando confirmação do que realizaram.
O Instrutor circula pela sala e senta ao lado de alguns participantes para ouvir me-
lhor a sua necessidade e dar orientação.
Alguns membros conversam em pequenos grupos, mantendo a discrição.
Uma participante fala da sua organização e planejamento para o seu negócio.
O instrutor se aproxima fisicamente de alguns participantes. Faz toque corporal
caracterizando proteção.

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 23


Enquanto o grupo realiza as tarefas de preenchimento da apostila o instrutor se
aproxima das observadoras e comenta: “quando chega no ponto do Planos de Negócios
eles desistem, não vem mais”. Ele fala que considera melhor assim, pois antes de abrir o
próprio negócio nem se frustram e abandonam o projeto.
Os membros são convidados pelo instrutor para tomar café no intervalo.
Antes da saída de todos, uma das observadoras se apresenta ao grupo, explicando
os objetivos da pesquisa e solicitando o preenchimento do questionário. As observadoras
recolhem o questionário e se despedem do grupo.

4.3.2 Pontos relevantes a serem analisados

− A falta de mais de 50% dos membros no 3° encontro do grupo.

Este dado pode estar relacionado ao fato de que o grupo é destinado à uma tarefa
específica não tendo como foco principal a relação entre os membros. Sendo assim, os
membros não fizeram um grau de vinculação suficiente para manter a união e constância
na sua participação. Outra hipótese é que a realização da tarefa (ir a campo e ver a reali-
dade) pode ser aversiva a alguns membros e retratar realidades contrárias às suas expecta-
tivas, causando frustração e promovendo a auto-avaliação de suas próprias competências.

− Somente após 35 minutos do início do curso, é que o instrutor pediu ao grupo


que realizasse a tarefa (preenchimento da apostila). O instrutor utilizou o tempo inicial
para sensibilizar o grupo sobre a importância da realização do Plano de Negócios;
− O instrutor do grupo várias vezes se aproxima fisicamente e faz toque corporal
em alguns participantes. Estes fatos podem estar relacionados à necessidade de Inclusão
por parte do Instrutor. Segundo Schutz (1989), inclusão é a necessidade que uma pessoa
tem de ter a atenção dos outros, interagir, de pertencer, de ser único. Ter o interesse do
outro por mim e sentir-se importante e amado pelo grupo.

Foi possível observar alguns membros manifestando insegurança, buscando apoio,


estruturação e definição do que e de como realmente deveriam fazer. Diante disso e dos
fatos acima citados, criou-se a hipótese de que os membros se colocam como dependen-
tes do instrutor do curso como se este fosse dotado de todo o conhecimento e das respos-
tas às perguntas e inquietações dos membros.
Pode-se observar que o instrutor assume este papel pela sua própria necessidade
de inclusão.
Para Bion (1975), os grupos necessitam de líder que seja capaz de satisfazer aos
seus membros, que os auxilie no enfrentamento de emoções, e que lhe fornece segurança.
Se o líder “aceita” e busca atender essa expectativa do grupo, está favorecendo a manu-
tenção da dependência dos membros (SAMPAIO, 2002).
Bion (1975, p. 72) acredita que as pessoas aceitam estar em um grupo de depen-
dência para “evitar experiências emocionais peculiares aos grupos de acasalamento e de
luta-fuga”.

− Alguns membros conversam com seus pares, fazendo comentários nos


pequenos grupos e não compartilhando com o grande grupo. Isto pode ser considerado
um movimento de acasalamento dos membros, minimizando a interação com o instrutor.

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 24


O fenômeno do acasalamento foi inicialmente observado em pares que conversa-
vam assuntos diversos, à parte, sem que o grupo se incomodasse com eles ou chamasse a
sua atenção, aceitando-os. A emoção mais presente no grupo de acasalamento é a espe-
rança, que faz com que a atenção de seus membros volte-se para o futuro (SAMPAIO,
2002).

− Uma das participantes fala da sua organização e planejamento para o a


realização do seu negócio. Tal fato pode demonstrar a necessidade que esta participante
tem em afirmar sua competência diante do grupo, indicando sua necessidade de controle.
Pode ainda significar o movimento de inclusão, pela necessidade manifestada de ser
aceita e admirada pelo grupo e pelo instrutor.

O comportamento desta participante pode retratar aspectos de uma pessoa super-


social. Este perfil apresenta o medo de ser ignorada, porém mesmo que ninguém esteja
interessado nela, ela se esforça para ter a atenção dos outros (SCHUTZ, 1989).
De forma geral, percebe-se todas as fases referidas por Schutz (1989) manifestas
na observação deste grupo, porém destaca-se a busca por desenvolver competências e a
manifestação das mesmas no grupo de forma a predominar a relação de Controle, con-
forme descrito por Schutz, neste grupo.

4.4 Comparação dos três grupos

Com a finalidade de aprofundar a análise desta pesquisa, aplicou-se ainda um


questionário (Anexo I), nos grupos observados. Este questionário propunha a avaliar a
relação das necessidades individuais de cada integrante em relação à inclusão, controle e
afeição.
Os dados apresentados no Quadro 02 referem-se as médias obtidas por meio dos
questionários. A média é resultado da soma das respostas do grupo, dividida pela quanti-
dade de respondentes, podendo oscilar de 1 a 3 (em ambas as tabelas). Quanto mais pró-
ximo de 3, maior é a intensidade (muito) e quanto mais próximo de 1, menor é a intensi-
dade (pouco).
No Quadro 2, observa-se as médias obtidas nos três grupos em relação às fases do
Schutz.

Quadro 2 – Comparação entre as médias obtidas nos 3 grupos em relação às fases do Schutz
Grupos Observados
Fases do
Schutz Grupo Religioso Grupo Artístico Grupo de Trabalho
(Média) (Média) (Média)
Inclusão 1,7 1,7 1,8
Controle 2,1 1,8 1,9
Afeto 1,9 1,9 1,7

Conforme os dados visualizados no Quadro 02, pode-se perceber que o grupo que
manifesta a maior média de necessidade de Controle é o Grupo Religioso, contrariando a
visão de Schutz e a hipótese inicial traçada pelos pesquisadores.

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 25


No grupo de Trabalho, a necessidade de controle predomina de forma sutil, porém
confirma a hipótese inicial da pesquisa.
De acordo com Schutz, os grupos artísticos manifestam a necessidade de Afeição.
Tal pressuposto foi confirmado conforme o Quadro 02.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para Shutz, o ser humano é um organismo unificado, ou seja, corpo, psique e


espírito, cuja essência está no auto-conceito, o qual se forma mediante o relacionamento
com outras pessoas. O autor acredita que o sujeito somente exercerá melhor suas ações se
estiver consciente de si mesmo. Ainda, centra-se na ideia de cada pessoa é diferente da
outra e, portanto, tem um desenvolvimento individual particular e específico.
O grupo de encontro tem o objetivo de atingir o sujeito como um todo, fazendo o
mesmo se envolver inteiramente e apresenta três zonas de necessidades interpessoais
existentes em todos os grupos, que correspondem ao desenvolvimento grupal, isto é,
inclusão, controle e afeição.
Quando falamos em desenvolvimento de grupos identificamos que todas as fases
estão sempre presentes, porém não são igualmente destacadas. Como também as pessoas,
pois algumas acompanham o processo central do grupo outras não. Ocorre conforme as
suas necessidades individuais que transcenderá o foco do grupo. O seu interesse está
relacionado com a sua área problemática que ao mesmo tempo está sendo tratado pelo
grupo na fase atual.
Assim que o grupo está formado, começa a se diferenciar. Pessoas diferentes
assumem ou buscam papéis diversificados e as lutas pelo poder, a competição e a
influência passam a ter uma importância central. A interação típica para enfrentar tais
questões é o confronto.
Segundo Shutz, as posturas que o grupo apresenta variam, pois em alguns
momentos tem a necessidade de ser autoridade com os outros e em outros momentos tem
o desejo de ser controlado isentando-se de toda responsabilidade.
Conforme a pesquisa realizada, identificamos, através das observações e do
questionário aplicado, relações de inclusão controle e afeto nos grupos pesquisados, não
igualmente intensos, porém, presentes nos 3 grupos avaliados.
A fim de facilitar a condensação das conclusões, dividir-se há de acordo com as
fases relatadas por Shutz:

a) Inclusão
Segundo Schutz (1989) a inclusão relaciona-se com associação, e manifesta em
forma de grupo, a primeira decisão é se a pessoa quer fazer parte, se quer estar fora ou
dentro do grupo, perceber se está “recebendo” atenção ou se esta sendo ignorada pelos
demais integrantes do grupo.
A hipótese desta pesquisa é que a relação de inclusão seria mais acentuada no
grupo religioso, em analise ao grupo Sheicho-No-Ie, conforme descrito no item Analise
de dados, na observação do grupo percebeu-se maior intensidade na relação de Controle.
Sob análise do questionário, pode-se perceber que o grupo que manifesta a maior
média de necessidade de controle é o Grupo Religioso, contrariando a visão de Schutz e a
hipótese inicial traçada pelos pesquisadores.

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 26


A Seicho-No-Ie foi fundada em março de 1930 e cresceu no pós-guerra no Japão,
quando a sociedade japonesa viu desmoronar a religião oficial do Estado, baseada na
crença na divindade do imperador e uma das bases da ideologia militarista.
Devido ao contexto histórico quando da sua fundação, pode-se hipotetizar que a
estruturação desta religião de forma mais ritualística fazendo preponderar relações de
controle ao invés de inclusão, que é característica em grupos religiosos, tenha ligação
com o seu contexto histórico e cultural.
Imagina-se que em tempos de pós-guerra e em culturas predominantemente
militaristas e imperialistas, o movimento religioso Seicho-No-Ie para que pudesse se
propagar de forma mais intensa, e incluir novos adeptos, não poderia romper totalmente
com o paradigma vigente que era predominado por relações de controle.
Mesmo a pesquisa contrariando a hipótese e visão de Schutz, e apresentando
relatos de maior relação de controle no grupo religioso, porém se analisadas a origem da
religião e que a maior parte das relações de controle estão na interação do líder com o
grupo e não no grupo em si, pode-se concluir que a necessidade de inclusão, está presente
neste grupo.

b) Controle
A hipótese inicial desta pesquisa propõe relações mais acentuadas de controle nas
interações de grupos orientados à ciência. Apesar de manifestado em todos os grupos de
forma acentuada e apesar do questionário demonstrar maior necessidade de controle nos
membros do grupo religioso, o controle demonstra-se presente em todos os grupos
pesquisados.
Durante a observação, conforme descrito no item Analise de dados, percebe-se a
relação de controle no grupo orientado à ciência de forma a acentuarem as suas relações
em questões de competência, autoridade e influência.
Em questionário, apesar de pequena, a relação se apresenta mais acentuada na
necessidade de controle.
Will Schutz (1989) é incisivo nas suas afirmações quando coloca que a parte ra-
cional tem preferência por certo controle da própria vida, a defensiva tem origem no me-
do de ser fraco (não poder sustentar-se – ajudar a si mesmo) ou de ficar sobrecarregados
com responsabilidades. A parte racional é flexível e pode adaptar-se à situação, a defen-
siva é rígida, quanto maior é o autoconceito e auto-estima mais o comportamento é racio-
nal e não defensivo.
Levando em conta o conceito de controle e a origem do grupo do curso “Constru-
ção de Cenários” o qual faz parte do programa do Sebrae para formação de empreendedo-
res, que tem como objetivo preparar os integrantes para uma competição de mercado, no
qual o anseio é buscar viabilizar as atividades econômicas que os integrantes se propõe a
desenvolver, de forma a acentuar as relações e as necessidade de competição para o seu
futuro sucesso.
No grupo de trabalho, sob ambas as formas de análise, a necessidade de controle
predomina de forma sutil, porém confirma a hipótese inicial da pesquisa.

c) Afeição
A hipótese desta pesquisa é que a relação de afeição se mostre mais intensa e
acentuada no grupo artístico.
Conforme pesquisa realizada, identificou-se através da observação que no grupo
artístico as relações de afeto é que permeiam a jornada do grupo, manifestadas de forma

SBDG – Caderno 119 ™ O processo grupal segundo as fases de Schutz... 27


mais intensa ao final do ensaio, apresentando comportamentos de abertura permitindo
uma relação em que os membros possam dividir seus sentimentos.
Através do questionário, também, percebe-se maior necessidade por afeto nos
membros do grupo, corroborando com a visão de Schutz e hipótese desta pesquisa.
De acordo com Schutz (1989) O afeto é construído com base em vínculos mais
profundos, portanto, usualmente é a última fase a emergir em um relacionamento de gru-
po. Esta prerrogativa de Schutz, também pode justificar o motivo do grupo existir a cin-
quenta anos, permitindo as relações de afeto e vínculos mais profundos acontecerem no
decorrer dos anos.
De acordo com Schutz, os grupos artísticos manifestam a necessidade de Afeição.
Tal pressuposto foi confirmado por esta pesquisa.
De maneira geral, concluí-se que todas as fases estão presentes nos diferentes
grupos observados. Os grupos também têm suas tarefas definidas e cada um com seus
“coordenadores”, seja como preletor ministrando sua palestra da doutrina espiritual,
como um regente orientando qual caminho musical mais harmônico e um instrutor
ensinando o caminho do sucesso como empreendedor.
Diante deste cenário identifica-se que depende de muitas variáveis para um grupo
se desenvolver e chegar à maturidade esperada, ou seja, o auto e hetero-conhecimento vai
favorecer a percepção dos fenômenos grupais presentes.
Assim mencionando Moscovicci (2001) que salienta que a vivência nas fases de
Shutz é necessária para o aprendizado do grupo em crescimento. No desenvolvimento do
grupo, portanto, precisam também ser considerados os aspectos de personalidade de seus
membros, além da dimensão tempo e outros fatores que compõem o grupo.

REFERÊNCIAS

BION, W. R. Experiências com grupos. Trad.: W. I. Oliveira. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago; São Paulo:
EDUSP, 1975.
BOWLBY, John. Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes, 1984-1985. 3. v.
______ . Formação e rompimento dos laços afetivos. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho
em grupo. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
FALCONE, E. M. de O. Grupos. In: RANGÉ, B. (Org.). Psicoterapia comportamental e cognitiva.
São Paulo: Psy, 1995.
GIDDENS, Anthony. Para além da esquerda e da direita. São Paulo: UNESP, 1996.
MOSCOVICI, Fela. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano. Rio de Janeiro: José
Olympio LTDA, 1994.
______ . Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
2001.
SAMPAIO, J. dos R. A “dinâmica de Grupos” de Bion e as organizações de trabalho. Psicol. USP,
São Paulo, v. 13, n. 2, 2002.
SCHUTZ, W. Profunda simplicidade: uma nova consciência do eu interior. São Paulo: Ágora, 1989.
______ . Elements of encouter. New York: Batam Books, 1975.
WIKIPÉDIA – Enciclopédia virtual. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Seicho-No-Ie>.
Acesso em: jul. 2009.

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ANEXOS

ANEXO 01
Modelo de questionário

Somos alunos do curso de Formação em Dinâmica de Grupos pela SBDG e es-


tamos realizando nosso trabalho de conclusão de curso e para isso, necessitamos obser-
var o funcionamento de um grupo. Solicitamos a sua autorização para a realização da
nossa pesquisa. Também pedimos a gentileza de responder o questionário abaixo.

Informamos que os dados serão mantidos sobre SIGILO e que nenhum membro
do grupo será identificado.

Desde já agradecemos,
Elizabeth, Marcele, Rainer e Tadeu.

ASSINATURA DO PARTICIPANTE: _______________________________

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Leia as afirmativas abaixo e assinale com um X o grau de intensidade (muito, sufi-
ciente ou pouco) que experimenta tais sentimentos ou comportamento NESTE
GRUPO.

Sentimentos/Comportamentos Pouco Suficiente Muito


1-Eu me preocupo em ser muito competente;
2-Eu estou sempre preocupado e me esforço para que os
outros gostem de mim;
3-Eu não dou importância suficiente às pessoas;
4-Eu gosto sempre de estar supervisionando muito bem o
trabalho dos outros;
5-Eu sinto que as pessoas não gostam suficientemente de
mim;
6-Eu estou sempre muito preocupado(a) com a inclusão do
outro(a) no grupo;
7-Eu mantenho sempre uma distância afetiva dos outros,
evitando a intimidade;
8-Eu me rebelo, frequentemente, contra o que eu sinto como
autoritarismo;
9-É muito significativo para mim, eu gostar demais de mim.
10-Eu não percebo as pessoas como suficientemente com-
petentes;
11-Eu sou muito retraído e espero que os outros me incluam;
12-Eu evito, sempre que posso, influenciar o trabalho dos
outros;
13-Eu sempre me envolvo emocionalmente demais com as
pessoas;
14-Eu me preocupo muito em ser muito importante;
15-Eu estou sempre atento para não ser rígido;
16-Eu sou capaz de criar uma boa impressão e obter aten-
ção, reconhecimento pessoal e respeito das pessoas;
17-Digo e faço coisas de modo natural, expresso livremente
ideias, opiniões e sentimentos no momento em que ocorrem;
18-Tenho habilidade de percepção e consciência de neces-
sidades, sentimentos e reações dos outros;
19-Tenho habilidade de reconhecer, diagnosticar e lidar com
conflitos e hostilidade dos outros;
20-Experimento fazer coisas diferentes, conhecer novas
pessoas, testar novas ideias e atividades;
21-Procuro relacionamentos mais próximos com as pessoas,
dar e receber afeto no meu grupo;
22-Procuro conhecer as ideias dos outros e tenho disposição
para receber sugestões e influências dos outros;
23-Modifico o meu ponto de vista e comportamento no grupo
em função de feedbacks (“conselhos ou críticas”) dos outros
e dos objetivos a alcançar.

Há quanto tempo você frequenta este grupo? _________________________________

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