Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
5 LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................... 33
6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 38
1
1 PSICOLOGIA JURÍDICA
Fonte: psicologianova.com.br
2
Popolo (1996, p. 21) entende ser Psicologia Jurídica
3
Essas ponderações de Popolo (1996), são importantes para compreendermos
que o conhecimento resultante da perícia não representa a compreensão do indivíduo
como um todo. Por esse motivo, esse conhecimento refere-se a um recorte parcial da
realidade (do indivíduo). No entanto, por vezes, esses conhecimentos produzidos
pelas perícias são tratados como a verdade sobre o indivíduo. Por exemplo, o que a
perícia produz sobre o comportamento do indivíduo criminoso estende-se a todo o
indivíduo em sua integridade e essa marca determinará a sua existência.
Fonte: www.psicologiamsn.com
5
Retomando a Psicologia Jurídica, a mesma deve ir além do estudo de uma das
manifestações da subjetividade, ou seja, o estudo do comportamento. Devem ser seu
objeto de estudo as consequências das ações jurídicas sobre o indivíduo.
Fonte: www.vaniaanchieta.com.br
6
Ainda ressalta o autor que para a Psicologia Jurídica não há nenhum problema
em responder as perguntas e as demandas do jurídico. Entretanto, o que não pode
ocorrer é a sua estagnação neste tipo de relação. Como já foi mencionado, a
Psicologia Jurídica deve transcender as solicitações do mundo jurídico. Deve repensar
se é possível responder, sob o ponto de vista psicológico, a todas as perguntas que
lhe são lançadas. Nesses termos, a questão a ser considerada diz respeito à
correspondência entre prática submetida e conhecimento submetido. Um se traduz no
outro.
A outra forma de relação entre Psicologia Jurídica e Direito, de acordo com
Popolo (1996), é a complementaridade. A Psicologia Jurídica como ciência autônoma,
produz conhecimento que se relaciona com o conhecimento produzido pelo Direito,
incorrendo numa interseção. Portanto há um diálogo, uma interação, bem como
haverá diálogo com outros saberes como da Sociologia, Criminologia, entre outros.
7
Fonte: www.psicologosantacoloma.es
8
Psicologia Policial e das Forças Armadas: o psicólogo jurídico atua na seleção
e formação geral ou específica de pessoal das polícias civil, militar e do
exército.
9
Psicologia Criminal: fenômeno delinquencial, relações entre Direito e
Psicologia Jurídica, intervenção em Juizados Especiais Criminais, perícia,
insanidade mental e crime, estudo sobre o crime.
Fonte: aminoapps.com
10
Psicologia Jurídica: investigação, formação e ética: formação do psicólogo
jurídico, supervisão, estágio, questões sociais e legais, relação entre direito e
Psicologia Jurídica, pesquisa em Psicologia Jurídica, Psicologia Jurídica e
Ética.
11
Dano psíquico: dano psicológico em perícias acidentárias, perícias no âmbito
cível.
Fonte: www.taopsi.com.br
12
Os setores denominados como não tradicionais ou mais recentes, como a
proteção de testemunhas, a Psicologia Jurídica e os magistrados, a Psicologia
Jurídica e os direitos humanos, a autópsia psíquica, entre outros, também necessitam
de maior desenvolvimento.
Essas reflexões, embora sejam fundamentadas num levantamento dos
trabalhos brasileiros apresentados no III Congresso Ibero-Americano de Psicologia
Jurídica e não em pesquisa, nos permitem vislumbrar o quanto a Psicologia Jurídica
Brasileira pode e necessita crescer, não só na quantidade de profissionais atuantes,
na qualidade do trabalho desenvolvido por eles, mas também na intensificação da
produção e publicação do conhecimento. O registro da prática e os trabalhos teóricos
fomentam e enriquecem o caráter científico da Psicologia Jurídica, o que, em tese,
possibilitaria maior eficiência da prática.
Este é um dos desafios da Psicologia Jurídica brasileira. Contudo, existem
outros em níveis metodológicos, epistemológicos e de compromisso social. Não
podemos ignorar problemas sociais da magnitude dos nossos, os quais muitos
permeiam ou são permeados pelo jurídico. Um exemplo significativo e pouco estudado
pela Psicologia Jurídica, presente no cotidiano do mundo jurídico, é a questão racial.
13
a informação distorcida, acarretando falhas interpretativas da qual ninguém se dá
conta, a não ser, claro, a vítima, o autor e o grupo social em que se inserem.
Para tanto é necessário discutir as questões entre o Direito e a Psicologia,
compreendendo que essas questões estão em seus fundamentos, princípios e
matrizes teóricas, e para sua aplicação prática é necessário compreender as
diferenças. Um breve estudo axiológico permite demonstrar a diferença do Direito
finalista e da Psicologia causalista, um pertencendo ao mundo do dever ser (mundo
ideal), e a outra do ser (realidade social). Mundos aparentemente estranhos, em que
o homem é o ator principal.
Fonte: www.ufjf.br
14
participação no sistema jurídico, considerando que a psicologia jurídica só existe a
partir de um sistema jurídico?
15
repleto de conteúdos psicológicos. Essa tarefa de investigação psicológica do direito
recebeu a denominação de psicologismo jurídico. A psicologia no direito, que
estudaria a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulos vetores das condutas
humanas e nesse aspecto, a psicologia no direito é uma disciplina aplicada e prática.
A psicologia para o direito, a psicologia jurídica como ciência auxiliar do direito, tal
como a medicina legal, a engenharia legal, a economia, a contabilidade, a
antropologia, a sociologia e a filosofia, entre outras. (TRINDADE, 2009)
No dizer de J. Selosse apud Doron & Parot (2006, p.629) a atuação da
Psicologia na justiça se subdivide em três possiblidades:
Psicologia judiciária que trata dos atores dos processos: acusado, vitima,
acusador, testemunha; e pelos métodos de informação de instrução e confissão, e
ainda busca entender a lógica de atuação dos juízes e seus auxiliares. A psicologia
criminal que se apropria da investigação e análise do indivíduo delinquente, sua
conduta e os processos criminógenos, e por último a psicologia legal que, estuda as
significações e conceitos jurídicos penais e civis nos quais se baseiam os processos,
compreendendo os princípios jurídicos que orientam a tomada de decisão, como:
responsabilidade, culpa, periculosidade, interesse das partes, autoridade legal
(DORON & PAROT, 2006)
Fonte: www.pinterest.pt
16
Alguns autores buscaram distinguir a psicologia jurídica e a psicologia
forense/judicial, (Sabaté, 1980, Garzón 1990 apud Trindade, 2009) historicamente fez
sentido essa distinção. No entanto, atualmente, segundo Trindade (2009) o termo
psicologia jurídica, engloba qualquer prática aplicada da ciência e da profissão de
psicologia para os problemas e questões legais. Jesus (2010) segue o mesmo
raciocínio, afirmando que essa nomenclatura seria mais abrangente, pois o termo
forense estaria restrito ao fórum. Apesar disso, as psicologias jurídicas, segundo
Clemente (1998, apud Trindade 2009), são citadas de acordo com o tema que
abordam: Psicologia judicial, penitenciária, criminal, civil e família, do testemunho, da
criança e do adolescente infrator, policial, da vítima, e outras.
Caires (2003, p. 30) relata sua experiência de atuação como psicóloga na área
jurídica, ressaltando que:
17
o desafio da objetividade científica e da realidade jurídica, capaz de afastar o olhar
terapêutico e lançar um olhar investigativo sobre o fato jurídico.
Fonte: vitamanifesta.blogspot.com
18
Pereira (2001, p.4) afirma que “há e sempre houve uma norma, uma regra de
conduta, pautando a atuação do indivíduo, nas suas relações com os outros
indivíduos”. O autor acrescenta que quando “um indivíduo sustenta suas faculdades
e repele agressão, afirma ou defende os seus poderes, diz que defende o seu direito.
E, quando o juiz dirime os conflitos invocando a norma, diz-se que ele aplica o direito”.
Existindo o que se pode chamar de realidade jurídica, reconhecível no comportamento
humano. Monteiro (2003) corrobora dizendo que existem outras normas de
convivência impostas na sociedade, que a rigor não se confundem com as jurídicas,
regras morais. Ambas se constituem como normas de comportamento.
Assim, de acordo com Pereira (2001), o anseio por justiça integra-se na
consciência do indivíduo, e o poder público o reveste de sanção possibilitando a
convivência individual e coletiva. Estabelece o comportamento social, sem o qual não
haveria a possibilidade do jurídico, pois para a vivência individual ninguém poderia
exigir o seu direito sem limitar o direito do outro, sendo, portanto, necessário suportar
restrições à própria conduta. Pode-se, então, afirmar que “o direito é o princípio de
adequação a vida social”, ou seja, somente no meio social haverá o direito. (PEREIRA
2001. p. 5).
Friede, (2002 p.14), define o Direito como objeto da ciência do direito, não é
produto de uma vontade, é um produto do ser humano, um produto cultural. Resulta
“da atuação de forças sociais, ou de uma delas, com poder de dominação sobre as
demais”. É correto afirmar que o Direito se caracteriza como ciência autônoma, que
se funda em princípios basilares, no qual fato, valor e norma não são aspectos simples
de uma realidade, e sim, elementos primordiais dessa ciência (FRIEDE, 2002; REALE,
1981).
De acordo com Montoro (1981), axiologia é a ciência dos valores. Estes
representam os princípios que orientam a conduta do homem e da sociedade. Onde
quer que se manifeste o direito, encontra-se uma ação, ou seja, um fato da natureza
que é ao mesmo tempo um fato de vontade, sendo o direito, portanto, a expressão da
vontade humana, da ação do homem. Como o direito não funciona como um todo
fechado, o conjunto das normas jurídicas é denominado de ordenamento jurídico,
sendo essa a expressão formal do direito. (MONTORO, 1981, REALE, 1981, FRIEDE,
2002).
19
Ao ser aplicado, o direito utiliza critérios de interpretação: gramatical, lógico,
sistemático e axiológico (FRIEDE, 2002). Sauvigny (apud Monteiro, 2003 p.35) diz que
“interpretar é a reconstrução do pensamento contido na lei”. A lei é sempre clara, e
deve ser aplicada como soam as palavras, determinando seu verdadeiro sentido e
procurando o que quis dizer o legislador (FRIEDE, 2002).
É importante saber utilizar a linguagem adequada no momento adequado. A
clareza das ideias está relacionada com a clareza e precisão das palavras. Qualquer
sistema jurídico para atingir plenamente seus fins deve cuidar do valor “nocional” do
seu vocabulário, e estabelecer relações semântico-sintáticas harmônicas e seguras
na organização do pensamento (NARDINI & RAMOS).
Segundo os autores, o pensamento humano evoca ações que expressam
estados ou qualidades, que justificam determinadas condutas. E, para simbolizar o
agir e o sentir, a linguagem é fundamental, pois permite estabelecer as relações
psicológicas e traduzir o significado das palavras e a realidade ali representada. Para
realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona e organiza as
palavras conforme a sua vontade. Todo este trabalho de seleção e organização não
é aleatório, está ligado a intenção do sujeito (NARDINI & RAMOS).
Fonte: migueldelpinopsicologo.com
A realidade jurídica: penal, civil e familiar, tem que partir de ações, e não das
fontes psicológicas. Pois as ações são o objeto de conflito, e não as resoluções. A
20
tipicidade é o ponto de partida e, devem ser traduzidas de forma coerente e concisa,
dentro de um determinado contexto jurídico. Etimologicamente, o termo contexto pode
ser conceituado como “conjunto de circunstâncias que acompanham um
acontecimento, exemplo: julgar um fato em seu contexto histórico”. O adjetivo jurídico
é relativo ao direito, “que está de acordo com as normas do direito: ato jurídico”
(KOOGAN/HOUAISS, 1997).
21
transcende através de técnicas mensuráveis conhecidas até hoje como testes
psicológicos.
Fonte: super.abril.com.br
22
Carvalho (2001) discute a tarefa difícil do juiz: “a experiência cotidiana revela que a
valoração da personalidade do acusado, nas sentenças criminais, é quase sempre
precária, imprecisa, incompleta e superficial”.
Em casos que envolvem estupro, maus tratos e atentado violento ao pudor,
contra vulneráveis, a inserção do psicólogo torna-se cada vez mais importante. Nessa
linha de entendimento, pontífica a doutrina e a jurisprudência que as declarações da
vítima constituem um meio de prova. Em princípio, o conteúdo das declarações deve
ser aceito com reservas. No entanto, por se tratar de um delito às ocultas, é necessário
que as declarações sejam seguras, estáveis, coerentes, plausíveis, uniformes,
perdendo sua credibilidade quando o depoimento se revela reticente e contraditório a
outros elementos probatórios.
As demandas judiciais das Varas de Família é outro domínio em que a
psicologia se faz presente e exerce forte influência na proteção judicial dos menores.
Levando o magistrado a buscar, junto à Psicologia, um trabalho técnico, seguro, capaz
de embasar as decisões, resguardando os direitos das crianças e adolescentes em
questões de regulamentação de visitas e guarda familiar (TRINDADE, 2002). Em
matéria civil, a comprovação dos fatos alegados é pressuposto da ação, e a partir dele
é que se pode apurar responsabilidades, que no caso independe de culpa. (Artigo
333, 342, 348, 400 e seguintes)
Visando punir e prevenir a violência doméstica contra a mulher, surge a lei
11.340/06 (Lei Maria da Penha). E, no mesmo ano, a Lei 11343/06, que prevê projetos
educacionais para redução do dano ao usuário de drogas ilícitas. Essas duas leis
proporcionam um espaço terapêutico ao psicólogo jurídico. Espaço que não afasta a
especialização, nem o enfoque legal, mas possibilita um espaço diferenciado de
atuação no sistema judiciário.
O psicólogo atua na busca da prova. Pois a prova, como observado, é comum
a todo sistema jurídico. Acrescentando que o sistema inclui, de acordo com Código
de Processo Penal (CPP), o processo de investigação policial:
Inquérito - o inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal,
de caráter administrativo, conduzido pela polícia judiciária (art. 144 da CF– Polícia
Federal e as Policiais Civis) é voltado à colheita preliminar de provas para apurar a
prática de uma infração penal e sua autoria. Sua finalidade é, portanto, a investigação
do crime e a descoberta do autor, chamado também de instrução prévia. Período pré-
23
processual. Tendo como objetivo formar a convicção do MP, e colheita de provas
urgentes, apontar com relativa firmeza a ocorrência e autoria de um delito. Inquisitivo
e sigiloso. Antes da denúncia. (Código de Processo Penal, art. 5º a 23.)
3.4 Provas
Fonte: pixabay.com
24
desse olhar eleva-se o direito do indivíduo em face da coletividade, pois, ao menor
sinal de dúvida sobre o fato delituoso, homenageia-se o princípio conhecido por ‘in
dubio pro reo’”.
Em matéria penal, não é possível fundamentar uma decisão condenatória
apoiada exclusivamente em indícios remotos ou suposições. Para o direito, a
culpabilidade não se presume ou pode ser extraída de subjetivismos, exigindo para
sua definição prova segura do cometimento e da autoria delituosa. (MANZANO, 2011.)
Notadamente a prova produzida quer oral, quer pericial, somente será
suficiente para a formação de um juízo de certeza se bem fundamentada. Pode ser
utilizada em três sentidos: a) ação de provar; b) meio ou instrumento para a
demonstração da verdade; c) resultado da ação. As espécies de provas são:
Exame de corpo e delito, onde se procede a verificação da materialidade do
crime; perícia técnica direta ou indireta; interrogatório; confissão; oitiva da vítima
(art.201 do CP); testemunha; reconhecimentos de pessoas e coisas; acareação;
documentação; indícios (prova indireta) que se valem do raciocínio indutivo para,
utilizando de dados isolados e conhecidos, chegar à conclusão da existência do fato
e de outros fatos mais abrangentes, se guiando por vestígios, e nesse caso a prova é
indireta (art. 239 do CP)
No processo penal a prova pode ser: material, real, substancial, sendo
produzida na fase de instrução que se encerra na audiência de instrução e julgamento
(art. 402, 534, 411 parágrafo 3º, do CPP). Segundo Manzano (2011 p. 239):
25
Para tanto, o art. 156, II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008,
faculta ao juiz de ofício determinar, no curso da instrução, ou antes, de proferir
sentença, a realização de diligências para ‘dirimir dúvida sobre ponto relevante’. Ao
magistrado é facultado buscar a verdade, persegui-la.
3.5 Perícia
Segundo Tornaghi apud Manzano (2011 p. 8): “Perícia nada mais é do que uma
pesquisa que exige conhecimentos técnicos científicos e artísticos”. Segundo o
dicionário Aurélio, perícia é habilidade, destreza, conhecimento, ciência, como
também vistoria ou exame de caráter técnico especializado. O termo deriva do latim,
peritia, que significa destreza e habilidade ou peritus, indivíduo erudito, capaz.
(CAIRES, 2003.)
Fonte: wagner.adv.br
27
4 PSICOLOGIA: INTENÇÃO E EXTENSÃO
Fonte: modelargestionyestrategia.com
29
da repressão política que forçava os mais inquietos a “falarem de lado e olharem para
o chão”.
Trabalhar com psicologia institucional, portanto, é trabalhar com uma
determinada abordagem psicanalítica específica. E, como Bleger o define, com essa
abordagem, toma-se a instituição como um todo, como alvo da intervenção. Em seu
livro Psicohigiene e Psicologia Institucional (Bleger, 1973/1984), fica claro que o
psicólogo opera com os grupos, desde os de contato direto com a clientela até a
direção, por meio de um enquadre que preserva os princípios básicos do trabalho
clínico psicanalítico, bem como suas justificativas. Ainda: a compreensão que tem das
relações interpessoais guarda uma formulação muito interessante: a da simbiose e
ambiguidade nos vínculos e ele mesmo aproxima essa compreensão às ideias de M.
Klein a respeito de posições nas relações de objeto; mais do que ao conceito de
narcisismo em Freud (Bleger, 1977/1987).
Fonte: www.emaze.com
Tudo isto implica que se alguém se diz trabalhando com psicologia institucional,
estará, ao mesmo tempo, tomando, tanto a instituição e suas relações quanto a
intervenção do psicólogo, a partir de uma perspectiva psicanalítica; ou da perspectiva
de uma psicanálise. Interpretações ou assinalamentos, informados por esta
compreensão das relações institucionais, definem sua inserção nos grupos, seu fazer.
30
4.2 A análise institucional de Lapassade: uma intervenção política
Análise Institucional, por sua vez, é o nome dado a um movimento que supõe
um modo específico de compreender as relações sociais, um conceito de instituição
e um modo de inserção do profissional psicólogo que é de natureza imediatamente
política. Desalojado do lugar de intérprete dos movimentos grupais ou interpessoais,
ele não se delega a tarefa diferenciada da interpretação ou de assinalamentos; ele é,
acima de tudo, um instigador da autogestão dos grupos nas organizações, um
favorecedor da revelação dos níveis institucionais, desconhecidos e determinantes do
que se passa nesses grupos. É um provocador de rachaduras e rupturas na burocracia
das relações instituídas. Está do lado do instituinte, ainda que se questione sempre
esse lugar e a própria análise como facilitadores da “liberação da palavra social dos
grupos” (Lapassade, 1974/1977).
O idealizador da Análise Institucional é Georges Lapassade, psicólogo de
formação, que passou a trabalhar com psicossociologia e prosseguiu com um
intrigante caminho intelectual e político, o qual desembocou nesse movimento
autodenominado Análise Institucional.
Por que “movimento”? Porque, num tom acalorado e ruidosamente polêmico,
em princípio pelo estilo de sua escritura, praticamente, convoca adeptos a uma causa.
Propõe uma forma de agir e pensar que deveria mobilizar todos os níveis institucionais
ao mesmo tempo; e isto seria justificável por finalidades políticas (supostamente)
óbvias (e) que todo leitor deveria ter! Funciona quase como uma convocação à
militância. E o leitor se sente nessa condição de chamado aos brios: “Mexa-se! O que
você está fazendo aí sentado? Venha engrossar as fileiras dos que rompem com a
burocracia, liberam a palavra social e fazem a revolução permanente! ”.
Tal chamado, porém, como uma segunda voz nos escritos de seu livro mais
conhecido (Lapassade, 1974/1977), traz já a ambiguidade, assumida por ele, de
apresentar e criticar radicalmente a Análise Institucional que ele mesmo propõe. No
“Prólogo à Segunda Edição” dessa obra, acaba por dizer, enfaticamente, sobre a
ineficácia da Análise Institucional, na medida em que conta com a ação de técnicos
como coordenadores e preceptores de mudança; a menos que se queira considerar,
por um artifício, que a análise se dá no nível da palavra e, portanto, não tem relação
automática com uma mudança na ação concreta. Por isso, não menos enfaticamente,
afirma que o que se deve fazer é a Ação Direta (análise em ato), por aqueles mesmos
31
que constituem os grupos de uma determinada instituição e/ou organização, com as
lideranças nascidas de seu interior. Segundo ele, essa é a verdadeira revolução
permanente que “decapita o rei”, as instituições sociais dominantes. Tudo, por
inspiração dos momentos históricos da revolução de 1968, na França, e ainda visando
à liberação da palavra social. Ora, poucos anos mais tarde, registra-se em um
“Prólogo à Terceira Edição”, que a liberação a ser feita é a do corpo e que o que,
então, se sustenta como ação de um profissional da psicossociologia e da psicologia
é Crise Análise.
32
estatutos e acontecem no interior de estabelecimentos, espaços físicos determinados.
A instituição é o nível da lei ou da Constituição que rege todo o tecido de uma formação
social; está acima dos estatutos das organizações. Ainda, segundo Lapassade, a
instituição pode ser considerada o brique-braque das determinações daquilo que
atravessa os grupos de relação face a face numa organização social. A sala de aula
é exemplar nesse sentido: a relação entre as pessoas é regida por normas que, em
última instância, estão apoiadas no que prevê a lei maior para o ensino; nesse
contexto, o professor poderá ser considerado um representante do Estado frente a
seus alunos.
Menos conhecida é a concepção de burocracia que anima essa proposta. Em
poucas palavras, a novidade que esse autor nos apresenta é a de que burocracia é,
em princípio, uma questão de poder. Uma questão de divisão no poder, entre grupos
de decisão e grupos de execução do fazer institucional, sendo que os primeiros
decidem não apenas o que, mas também, o como fazer. A normatização e a
comunicação vêm de cima para baixo, e não há previsão de canais legais ou legítimos
para que essa relação se inverta. A regra de ouro é a obediência e a organização
acaba sendo um fim em si mesma. Indivíduos e grupos acabam se munindo de um
radar que possa sondar as necessidades e interesses que não os próprios. É a
heteronomia de grupos e sujeitos, que corre em sentido oposto ao da autonomia.
Sobretudo com essa concepção de burocracia, Lapassade faz um mapeamento
das relações institucionais, trazendo para elas a organização da separação, pelo
poder de decisão, e a produção de sujeitos sem autonomia, alienados e alienadores
da palavra social. As relações de poder e a ideologia têm, assim, seu contexto
constituinte.
5 LEITURA COMPLEMENTAR
33
Leidiane Kava da Silva
Ronaldo Adriano Alves dos Santos
34
praticando o seu exercício nas ocorrências multifatoriais, visando sempre à promoção
de saúde da população e não somente o doente (Pinheiro & Gula, 2007).
A psicologia em toda a sua completude cientifica embasará a atuação do
psicólogo dentro da instituição. Cabe ao psicólogo, no espaço social, analisar todos
os fenômenos humanos na sua relação com a instituição nos seus variados aspectos
objetivos, dinâmicos e na sua estrutura enquanto ambiente de atuação, onde o
trabalho psicológico na prática tem um maior espaço de significação social (Bleger,
1984).
Nos primeiros contatos do psicólogo com a instituição será levantado hipóteses
sobre os possíveis problemas da instituição, que poderão ser confirmadas ou não no
desenrolar do trabalho do psicólogo, visto que este processo é que abre novos
caminhos na ação do psicólogo institucional (Bleger, 1984).
Para atuar na instituição o psicólogo deve estar ciente que seu principal método
de estudo será a observação, pois é a partir dela que ele vai verificar se as hipóteses
se constituem em realidade. Neste sentido, deve ser estudada a dinâmica psicológica
que se desenvolve na instituição, pois, por um lado, o indivíduo tem sua personalidade
afetada pela dinâmica institucional e, por outro, é parte integrante da mesma e
deposita uma parcela de sua personalidade nas redes institucionais, pois são os
indivíduos que fazem a instituição e qualquer mudança provocada na instituição
poderá afetar a personalidade de seus integrantes (BLEGER, 1984).
Para Bleger (1984), grupo e indivíduo apresentam uma edificação que
proporcionam uma identidade, onde indivíduo é instituição e vice-versa. Nessa relação
adaptada com a realidade, há um significado e certo grau de organização que torna a
existência possível. Sendo assim, cabe ao psicólogo trabalhar os aspectos
indiferenciados, naqueles sujeitos em crise, ou seja, o psicólogo deve explicitar o
implícito.
Sendo assim, no âmbito institucional se altera tanto a instituição e suas
relações, quanto a intervenção do psicólogo. Com isso, o fazer psicológico, na
anexação dos grupos se dará através das interpretações, informado pela
compreensão das relações institucionais (GUIRADO, 2009).
Cabe aos psicólogos que atuam em instituições encontrar a necessidade de
averiguar as demandas de orientação e também ampliar os conhecimentos sobre as
instituições promovendo, dessa forma, interrogações sobre o seu papel e sua posição
35
diante da problemática de oscilações, incerteza e necessidade de rápidos resultados
(BLEGER, 1984).
Como afirma Bleger (1984) o ser humano é um ser que precisa projetar-se para
o futuro, cabendo ao psicólogo, na sua atuação, a intervenção nas situações de
conflitos, trabalhando os aspectos indiferenciados, não verbais, ou seja, o psicólogo
deve explicitar o que o sujeito, por estarrecimento e sofrimento, deixa implícito na
instituição. Sendo assim, quando o paciente se encontra estagnado no tempo, o
atendimento só será concluído mediante a concepção de uma projeção para o futuro,
um projeto para o amanhã.
Acrescenta-se também que o psicólogo, quando insere-se meio institucional,
deve realizar o levantamento dos objetivos específicos da instituição e os meios pelos
qual ela pretende alcançá-los, deve analisar também os motivos que a instituição a
solicitar a intervenção do profissional, neste trabalho deve buscar, através de um
manejo específico, amenizar a ansiedade e ultrapassar as resistências causadas pela
sua presença, haja vista, que “o psicólogo é um agente de mudança e um catalisador
ou depositário de conflitos, e, por isso, as forças operantes na instituição irão agir no
sentido de anular ou amortizar suas funções e sua ação" (PINHEIRO & GULA, 2007).
A proposito a análise institucional, idealizada por Georges Lapassade, é o
modo específico de compreender as relações sociais, nas instituições e um modo de
inserção do profissional psicólogo que é de natureza política, ela se dá como um
método de análise da realidade social e como um método de intervenção para com a
sociedade, para ele essa análise acontece através das contradições sociais,
revelando a dimensão oculta do que se passa nos grupos (GUIRAO, 2009).
Segundo o mesmo autor deve-se lembrar da distinção entre instituição e
organização, para que quando for fazer uma análise esteja ciente de estar fazendo
uma análise institucional e não organizacional, na análise institucional deve-se
analisar muito além da organização, por exemplo, as relações sociais apresentadas
por seus integrantes, já na análise organizacional deve ser analisado são os recursos
materiais, o espaço físico e os equipamentos (GUIRADO, 2009).
A análise, no ponto de vista de Lapassade é uma ação do grupo e o analista é
um “provocador” de um processo, mas toda a intervenção se dá pelo grupo. O
psicólogo sempre levará a subjetividade para sua atuação, como os sujeitos se fazem
36
através das relações essa subjetividade será o objeto de estudo e análise para o
trabalho do psicólogo (GUIRADO, 2009).
De acordo com o exposto acima, verifica-se a existência de visões distintas
sobre a atuação do psicólogo no campo institucional, onde Bleger pontua entre outras
afirmações que cabe ao psicólogo trabalhar os aspectos indiferenciados, naqueles
sujeitos em crise, ou seja, o psicólogo deve explicitar o implícito. Já segundo Guirado,
o fazer psicológico, na anexação dos grupos se dará através das interpretações,
informados por esta compreensão das relações institucionais. Albuquerque relata que
os indivíduos são responsáveis por fazer a instituição, sendo assim o psicólogo deve
trabalhar com todos em sua subjetividade. Para Lapassade, o analista é um
“provocador” de um processo, mas toda a intervenção se dá pelo grupo.
Pode-se destacar que os mesmos se deram de forma satisfatória, onde foi
possível averiguar vários autores e diferentes contribuições no trabalho do psicólogo
no campo institucional, podendo verificar várias visões do trabalho do psicólogo onde
cada autor tem uma maneira diferente de dizer qual deve ser a postura desse
profissional nesse campo de atuação, atendendo aos objetivos propostos na
pesquisa, onde fica claro o campo institucional e como o psicólogo pode intervir,
mostrando que a observação é participante, onde o psicólogo altera a instituição e
deve fazer intervenção dinâmica e grupal, atendendo a demanda institucional por sua
totalidade.
O papel do psicólogo no campo institucional é de suma importância para a
instituição em sua totalidade. Tal trabalho deve ser realizado de forma dinâmica, pois
o psicólogo altera a instituição, e cada indivíduo, sendo parte da instituição, deve se
sentir à vontade para falar, permitindo assim, que o psicólogo consiga desempenhar
o seu papel com êxito. De acordo com a pesquisa realiza, pode se inferir que todos
os autores pesquisados concordam entre si em relação a atuação do profissional
quando destacam a observação participante como método principal do trabalho em
campo.
Toda a instituição em sua particularidade possuiu objetivos, e cabe ao
profissional psicólogo ter ciência de tais objetivos e das motivações de tal instituição
e do seu trabalho acerca da realidade institucional. O ideal é que todo o psicólogo
tenha também, muito claro seus próprios objetivos, pois são estes que o direcionam
em seu agir. Desse modo, a missão do psicólogo institucional caracteriza-se por fazer
37
com que a instituição sirva de meio de enriquecimento e desenvolvimento da
personalidade de seus integrantes.
Referências Bibliográficas
6 BIBLIOGRAFIA
38
Bleger, J. (1981). Temas da psicologia (R. M. M. Moraes & L. L. Rivera, Trad.). São
Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1979)
Bleger, J. (1984). Psicohigiene e psicologia institucional (E. Diehl & M. Flag, Trad.).
Porto Alegre: Artes Médicas. (Original publicado em 1973)
BRASIL, Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanisco de para coibir a violencia
doméstica e familiar contra a mulher. Organização Vade Mecum Acadêmico de Direito
por Anne Joyce Angher, 11. Ed. São Paulo: Rideel, 2010.
BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral: Introdução, Norma Penal, Fato Punível.
Rio de Janeiro: Forense, 1967.
39
CAIRES, Maria Adelaide de Freitas. Psicologia Jurídica, implicações conceituais e
aplicações práticas. São Paulo: Vetor, 2003.
Freud, S. (1981b). A psicologia das massas e análise do ego (J. Salomão. Trad.). Em
J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 89-179). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em
1921)
Guirado, M. (2004). Psicologia institucional (2ª ed.). São Paulo: EPU. (Original
publicado em 1987)
40
Guirado, M. (2006). Psicanálise e análise do discurso: Matrizes institucionais do
sujeito psíquico. São Paulo: EPU. (Original publicado em 1986)
Guirado, M., & Lerner, R. (2007). Psicologia, pesquisa e clínica: Por uma análise do
discurso. São Paulo: FAPESP-Annablume.
LONGO, Adão. O Direito de Ser Humano. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
MANZANO, Luis Fernado de Moraes. Prova Pericial. São Paulo: Atlas S.A, 2011.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil parte geral. São Paulo:
Saraiva, atualizado por Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto, 2003
MONTORO, Franco. Estudos de Filosofia do Direito. São Paulo: Rev. dos Tribunais,
1981.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense,
2001
POPOLO, Juan H. del. Psicologia judicial. Mendonza: Ediciones Juridicas Cuyo, 1996.
475p.
REALE, Miquel. Lições preliminares do direito. São Paulo: 8ª edição revista, Saraiva,
1981
41
SOUZA, Cristiana Jobim. PSICOLOGIA JURÍDICA: ENCONTROS E
DESENCONTROS EM SUA PRÁTICA. Artigo publicado na edição do dia 18/7/2014
no site Jus Navigandi - Destaques.
42