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SUMÁRIO

1 PSICOLOGIA JURÍDICA ............................................................................ 2

1.1 Subdivisões da psicologia jurídica ........................................................ 7

2 PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL ........................................................ 9

3 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO .................................................. 13

3.1 Psicologias aplicadas e psicologia jurídica ......................................... 15

3.2 Direito e Contexto jurídico .................................................................. 18

3.3 Prática da Psicologia com Enfoque Jurídico ...................................... 21

3.4 Provas ................................................................................................ 24

3.5 Perícia ................................................................................................ 26

4 PSICOLOGIA: INTENÇÃO E EXTENSÃO................................................ 28

4.1 A psicologia institucional de Bleger: uma intervenção psicanalítica ... 29

4.2 A análise institucional de Lapassade: uma intervenção política ......... 31

5 LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................... 33

5.1 Artigo - A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO INSTITUCIONAL ................. 33

6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 38

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1 PSICOLOGIA JURÍDICA

Psicologia Jurídica é uma das denominações para nomear essa área da


Psicologia que se relaciona com o sistema de justiça. Na Argentina, denomina-se
Psicologia Forense, embora haja muitos profissionais argentinos filiados à Associação
Ibero-Americana de Psicologia Jurídica, o que permite inferir a adoção do termo
Psicologia Jurídica. De acordo com publicação do Colégio Oficial de Psicólogos de
España Oficial de Espanha, o termo adotado naquele país é Psicologia Jurídica, no
entanto, a Associação Europeia de Psicologia e Ley atribui a designação de Psicologia
e Ley.

Fonte: psicologianova.com.br

No Brasil, o termo Psicologia Jurídica é o mais adotado. Entretanto há


profissionais que preferem a denominação Psicologia Forense. Para o autor
do Dicionário Prático de Língua Portuguesa, o termo forense é relativo ao foro judicial.
Relativo aos tribunais. De acordo com o mesmo dicionário, a palavra jurídico é
concernente ao Direito, conforme às ciências do Direito e aos seus preceitos. Assim,
a palavra jurídica torna-se mais abrangente por referir-se aos procedimentos ocorridos
nos tribunais, bem como àqueles que são fruto da decisão judicial ou ainda àqueles
que são de interesse do jurídico ou do Direito.

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Popolo (1996, p. 21) entende ser Psicologia Jurídica

"El estudio desde la perspectiva psicológica de conductas complejas y


significativas en forma actual o potencial para o jurídico, a los efectos de su
descripción, análisis, comprensión, crítica y eventual actuación sobre ellas,
en función de lo jurídico".

Segundo o autor, a Psicologia Jurídica é uma área de especialidade da


Psicologia e, por essa razão, o estudo desenvolvido nessa área deve possuir uma
perspectiva psicológica que resultará num conhecimento específico. No entanto,
pode-se valer de todo o conhecimento produzido pela ciência psicológica. Para ele, o
objeto de estudo da Psicologia Jurídica são os comportamentos complexos
(conductas complejas) que ocorrem ou podem vir a ocorrer. Para Popolo (1996),
esses comportamentos devem ser de interesse do jurídico. Este recorte delimita e
qualifica a ação da Psicologia como Jurídica, pois estudar comportamentos é uma das
tarefas da Psicologia. Por jurídico, o autor compreende as atividades realizadas por
psicólogos nos tribunais e fora dele, as quais dariam aporte ao mundo do direito.
Portanto, a especificidade da Psicologia Jurídica ocorre nesse campo de interseção
com o jurídico.
A complexidade dos comportamentos se dá pela multiplicidade de fatores que
o determinam. Assim afirma:

"Desde la misma perspectiva psicológica puede ser examinada a partir de


distintos horizontes, como lo veremos en la pericia, al adoptar una pespectiva
pericial multifatirial. Podemos analizar la conducta desde distintos fatores: a)
desde el contexto mínimo donde el hecho a estudiar há tenido lugar, b) desde
su contexto grupal, da familia de origem o familia atual, c) desde la conducta
vista en un contexto más amplio como el de la comunidad donde la misma há
tenido lugar, y a partir de determinados constructos individuales" (POPOLO,
1996, p. 22).

Popolo (1996) ressalta a importância de os profissionais, que são peritos,


reconhecerem o limite de sua perícia, pois se trata de conhecimento produzido a partir
de um recorte da realidade. Assim, deve-se reconhecer a limitação do conhecimento
da conduta por meio da perícia. Neste contexto, torna-se necessário verificar a
confiabilidade e a validez dos instrumentos e do modelo teórico utilizados, a fim de
verificar se os mesmos respondem ao objetivo do procedimento. Em virtude dessa
limitação do conhecimento produzido, torna-se imperativa a compreensão
interdisciplinar do fenômeno estudado para melhor abordá-lo em sua complexidade.

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Essas ponderações de Popolo (1996), são importantes para compreendermos
que o conhecimento resultante da perícia não representa a compreensão do indivíduo
como um todo. Por esse motivo, esse conhecimento refere-se a um recorte parcial da
realidade (do indivíduo). No entanto, por vezes, esses conhecimentos produzidos
pelas perícias são tratados como a verdade sobre o indivíduo. Por exemplo, o que a
perícia produz sobre o comportamento do indivíduo criminoso estende-se a todo o
indivíduo em sua integridade e essa marca determinará a sua existência.

Fonte: www.psicologiamsn.com

Esse fenômeno é resultado da própria expectativa do jurídico, cujo caráter é


positivo, e visa à compreensão do todo (indivíduo) por meio do estudo do particular
(comportamento). Por outro lado, há teorias psicológicas positivas que buscam
compreender o indivíduo pelo estudo do particular, isolando-o do contexto no qual
está inserido. Nessa perspectiva, Direito e Psicologia possuem uma concepção de
homem positivista. Todavia, é importante considerar que a Psicologia Jurídica deva
adotar outra concepção de homem. É um grande desafio para os psicólogos jurídicos
peritos: serem produtores de conhecimento levando em consideração os aspectos
sócio-históricos, de personalidade e biológicos que constituem o indivíduo.
As avaliações psicológicas, como as perícias, são importantes, contudo há a
necessidade de repensá-las. Justifica-se tal postura porque realizar perícia é uma das
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possibilidades de atuação do psicólogo jurídico, mas não a única. O psicólogo jurídico
pode atuar fazendo orientações e acompanhamentos, contribuir para políticas
preventivas, estudar os efeitos do jurídico sobre a subjetividade do indivíduo, entre
outras atividades e enfoques de atuação.
Até aqui abordamos a definição de Psicologia Jurídica defendida por Popolo
(1996), no entanto há outras definições, como a do Colégio Oficial de Psicólogos de
España: La psicologia Jurídica es un área de trabajo e investigación psicológica
especializada cuyo objeto es el estudio del comportamento de los actores jurídicos en
el ámbito del Derecho, la Ley e la Justicia (1998, p. 109).
Ambas as definições estabelecem como objeto de estudo da Psicologia
Jurídica o comportamento humano no âmbito do mundo jurídico. Ficam os
questionamentos: A Psicologia Jurídica estuda apenas comportamento? Será que ela
deve apenas dedicar-se ao estudo do comportamento?
Para responder tais perguntas, é necessário fazer algumas considerações
sobre a Psicologia.
Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 21) afirmam que a Psicologia, por ser uma
ciência nova, não teve tempo ainda de apresentar teorias acabadas e definitivas, que
permitam determinar com maior precisão seu objeto de estudo. Disso resulta a
diversidade de objetos da Psicologia: o comportamento, o inconsciente, a
personalidade, a identidade, entre outros. Os autores ainda destacam as diferentes
concepções de homem adotadas pelas teorias psicológicas outro contributo para o
surgimento da diversidade de objeto da Psicologia. Neste contexto, uma questão se
impõe: como determinar um objeto de estudo que agregue toda a diversidade da
abordagem psicológica para que a psicologia possa assumir-se como ciência
independente?
A definição encontrada para unificar os diversos objetos de estudo da
Psicologia baseou-se na subjetividade.

"A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai


construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as
experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um
lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os
elementos que a constituem são experienciados no campo comum da
objetividade social. Esta síntese – a subjetividade – é o mundo de ideias,
significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas
relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é,
também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais" (BOCK;
FURTADO e TEIXEIRA, 1999, p. 23).

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Retomando a Psicologia Jurídica, a mesma deve ir além do estudo de uma das
manifestações da subjetividade, ou seja, o estudo do comportamento. Devem ser seu
objeto de estudo as consequências das ações jurídicas sobre o indivíduo.

Fonte: www.vaniaanchieta.com.br

Segundo Foucault (1974), tanto as práticas jurídicas quanto as judiciárias são


as mais importantes na determinação de subjetividades, pois por meio delas é
possível estabelecer formas de relações entre os indivíduos. Tais práticas, submissas
ao Estado, passam a interferir e a determinar as relações humanas e,
consequentemente, determinam a subjetividade dos indivíduos.
Sob essa perspectiva, a Psicologia Jurídica enfocaria também as
determinações das práticas jurídicas sobre a subjetividade, não mais enfocaria
apenas o comportamento do indivíduo para explicá-lo de acordo com a necessidade
jurídica. Esta é uma forma de ir além da expectativa que o jurídico possui em relação
à Psicologia Jurídica.
A Psicologia Jurídica procura tão-somente atender a demanda jurídica como
uma psicologia aplicada cujo objetivo é contribuir para o melhor exercício do Direito.
Esse tipo de relação de subordinação ocorre entre psicologia e psiquiatria forense, na
qual o saber psicológico está a serviço da psiquiatria como assessor. O psicólogo
torna-se auxiliar do médico e contribui na elaboração do diagnóstico clínico, que é de
responsabilidade do médico, e não do psicólogo (POPOLO, 1996, p. 15).

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Ainda ressalta o autor que para a Psicologia Jurídica não há nenhum problema
em responder as perguntas e as demandas do jurídico. Entretanto, o que não pode
ocorrer é a sua estagnação neste tipo de relação. Como já foi mencionado, a
Psicologia Jurídica deve transcender as solicitações do mundo jurídico. Deve repensar
se é possível responder, sob o ponto de vista psicológico, a todas as perguntas que
lhe são lançadas. Nesses termos, a questão a ser considerada diz respeito à
correspondência entre prática submetida e conhecimento submetido. Um se traduz no
outro.
A outra forma de relação entre Psicologia Jurídica e Direito, de acordo com
Popolo (1996), é a complementaridade. A Psicologia Jurídica como ciência autônoma,
produz conhecimento que se relaciona com o conhecimento produzido pelo Direito,
incorrendo numa interseção. Portanto há um diálogo, uma interação, bem como
haverá diálogo com outros saberes como da Sociologia, Criminologia, entre outros.

1.1 Subdivisões da psicologia jurídica

A Psicologia Jurídica está subdividida da seguinte forma:

 Psicologia Jurídica e o Menor. No Brasil, por causa do Estatuto da Criança e


do Adolescente – ECA, a criança passa a ser considerada sujeito de direitos.
Muda-se o enfoque da criança estigmatizada por toda a significação
representada pelo termo menor. Este termo menor forjou-se no período da
Ditadura para se referir à criança em situação de abandono, risco, abuso,
enfim, à criança vista como carente. Denominá-la como menor era uma forma
de segregá-la e negar-lhe a condição de sujeito de direitos. Em virtude disso,
no Brasil, denominamos assim este setor da Psicologia Jurídica e as questões
da Infância e Juventude.

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Fonte: www.psicologosantacoloma.es

 Psicologia Jurídica e o Direito de Família: separação, disputa de guarda,


regulamentação de visitas, destituição do pátrio poder. Neste setor, o psicólogo
atua, designado pelo juiz, como perito oficial. Entretanto, pode surgir a figura
do assistente técnico, psicólogo perito contratado por uma das partes, cuja
principal função é acompanhar o trabalho do perito oficial.

 Psicologia Jurídica e Direito Cível: casos de interdição, indenizações, entre


outras ocorrências cíveis.

 Psicologia Jurídica do Trabalho: acidentes de trabalho, indenizações.

 Psicologia Jurídica e o Direito Penal (fase processual): exames de corpo de


delito, de esperma, de insanidade mental, entre outros procedimentos.

 Psicologia Judicial ou do Testemunho, Jurado: é o estudo dos testemunhos nos


processos criminais, de acidentes ou acontecimentos cotidianos.

 Psicologia Penitenciária (fase de execução): execução das penas restritivas de


liberdade e restritivas de direito.

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 Psicologia Policial e das Forças Armadas: o psicólogo jurídico atua na seleção
e formação geral ou específica de pessoal das polícias civil, militar e do
exército.

 Vitimologia: busca-se a atenção à vítima. Existem no Brasil programas de


atendimentos a vítimas de violência doméstica. Busca-se o estudo, a
intervenção no processo de vitimização, a criação de medidas preventivas e a
atenção integral centrada nos âmbitos psico-socio-jurídicos (Colegio de
Psicólogos de España, 1998, p. 117).

 Mediação: trata-se de uma forma inovadora de fazer justiça. As partes são as


responsáveis pela solução do conflito com ajuda de um terceiro imparcial que
atuará como mediador. De acordo com Colegio Oficial de Psicólogos de
España la base de esta nueva técnica está en una manera de entender las
relaciones individuo-sociedad distinta, sustentada por la autodeterminación y la
responsabilidad que conducen a un comportamiento cooprativo e pacífico
(1998, p. 117). A mediação pode ser utilizada tanto no âmbito Cível como no
Criminal.

 Formação e atendimento aos juízes e promotores.

Feitas essas considerações, discorremos sobre o panorama da Psicologia


Jurídica no Brasil.

2 PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL

Os trabalhos de autores brasileiros apresentados no III Congresso Ibero-


Americano de Psicologia Jurídica enquadram-se nos seguintes setores de atuação:

I – Setores mais tradicionais da Psicologia Jurídica. A cada setor, seguem


os temas dos trabalhos apresentados.

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 Psicologia Criminal: fenômeno delinquencial, relações entre Direito e
Psicologia Jurídica, intervenção em Juizados Especiais Criminais, perícia,
insanidade mental e crime, estudo sobre o crime.

Fonte: aminoapps.com

 Psicologia Penitenciária ou Carcerária: estudos sobre reeducandos,


intervenção junto ao recluso, prevenção de DST/AIDS em população
carcerária, atuação do psicólogo, trabalho com agentes de segurança, stress
em agentes de segurança penitenciária, trabalho com egressos, penas
alternativas (penas de prestação de serviço à comunidade).

 Psicologia Jurídica e as questões da infância e juventude: avaliação psicológica


na Vara da Infância e Juventude, violência contra criança e adolescente,
atuação do psicólogo, proteção do filho nos cuidados com a mãe, infância,
adolescência e conselho tutelar, supervisão dos casos atendidos na Vara,
adoção, crianças e adolescentes desaparecidos, intervenção junto a crianças
abrigadas, trabalho com pais, adolescentes com prática infratora, infração e
medidas sócio-educativas, prevenção e atendimento terapêutico, atuação na
Vara Especial e estudos sobre adolescentes com prática infratora.

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 Psicologia Jurídica: investigação, formação e ética: formação do psicólogo
jurídico, supervisão, estágio, questões sociais e legais, relação entre direito e
Psicologia Jurídica, pesquisa em Psicologia Jurídica, Psicologia Jurídica e
Ética.

 Psicologia Jurídica e Direito de Família: separação, atuação do psicólogo na


Vara de Família, relação entre Psicologia Jurídica e Direito, paternidade,
legislação, acompanhamento de visitas, perícia, disputa de guarda, atuação do
assistente técnico.

 Psicologia do Testemunho: falsas memórias em depoimentos de testemunhas,


avanços e aplicações em falsas memórias.

 Psicologia Jurídica e Direito Civil: acidentes de trabalho, psicologia e judiciário.

 Psicologia Policial/Militar: treinamento e formação básica em Psicologia


Policial, avaliação pericial em instituição militar, implantação do curso de
direitos humanos para policiais civis e militares.

II – Setores mais recentes da Psicologia Jurídica e seus temas:

 Avaliação retrospectiva mediante informações de terceiros (autópsia


psicológica).

 Mediação: no âmbito do direito de família e no direito penal.

 Psicologia Jurídica e Ministério Público: o trabalho do psicólogo, assassinatos


de adolescentes.

 Psicologia Jurídica e Direitos Humanos: psicologia e direitos humanos na área


jurídica.

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 Dano psíquico: dano psicológico em perícias acidentárias, perícias no âmbito
cível.

 Psicologia Jurídica e Magistrados: modelos mentais, variação de penalidade,


tomada de decisão dos juízes, seleção de magistrados.

 Proteção a testemunhas: o trabalho multidisciplinar num programa de Apoio e


Proteção a Testemunhas, Vítimas da Violência e seus Familiares.

 Vitimologia: violência doméstica contra a mulher, atendimento a famílias


vitimizadas.

Este levantamento possibilita constatarmos que a Psicologia Jurídica brasileira


atinge quase a totalidade de seus setores. Porém, ainda temos uma concentração de
psicólogos jurídicos atuantes nos setores mais tradicionais, como na psicologia
penitenciária, na Psicologia Jurídica e as questões da infância e juventude, na
Psicologia Jurídica e as questões da família. Por outro lado, permite verificar outras
áreas tradicionais pouco desenvolvidas no Brasil, como a psicologia do testemunho,
a psicologia policial/militar e a Psicologia Jurídica e o direito cível.

Fonte: www.taopsi.com.br

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Os setores denominados como não tradicionais ou mais recentes, como a
proteção de testemunhas, a Psicologia Jurídica e os magistrados, a Psicologia
Jurídica e os direitos humanos, a autópsia psíquica, entre outros, também necessitam
de maior desenvolvimento.
Essas reflexões, embora sejam fundamentadas num levantamento dos
trabalhos brasileiros apresentados no III Congresso Ibero-Americano de Psicologia
Jurídica e não em pesquisa, nos permitem vislumbrar o quanto a Psicologia Jurídica
Brasileira pode e necessita crescer, não só na quantidade de profissionais atuantes,
na qualidade do trabalho desenvolvido por eles, mas também na intensificação da
produção e publicação do conhecimento. O registro da prática e os trabalhos teóricos
fomentam e enriquecem o caráter científico da Psicologia Jurídica, o que, em tese,
possibilitaria maior eficiência da prática.
Este é um dos desafios da Psicologia Jurídica brasileira. Contudo, existem
outros em níveis metodológicos, epistemológicos e de compromisso social. Não
podemos ignorar problemas sociais da magnitude dos nossos, os quais muitos
permeiam ou são permeados pelo jurídico. Um exemplo significativo e pouco estudado
pela Psicologia Jurídica, presente no cotidiano do mundo jurídico, é a questão racial.

3 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO

No Brasil e no mundo, observa-se uma efetiva participação do profissional da


psicologia no contexto do judiciário. Este profissional é reconhecido como Psicólogo
Jurídico. Diferenciando-se na categoria não só pelo contexto em que está inserido,
mas pela sua técnica especializada, a qual exige capacitação e conhecimento da
ciência jurídica, conquista profissional que o qualifica e o restringe. A questão é como
atua, na prática, esse profissional?
Afinal, o encontro prático das ciências humanas e jurídicas pode constituir um
grande problema. No âmbito do judiciário e diante da ótica de cada ciência, os conflitos
humanos são uma realidade que produz enormes e diferentes questionamentos. Onde
a visão do todo pode ficar comprometida, se camuflando por um discurso social e uma
incompreensão semântica, em que a verdade dos fatos, juridicamente relevantes, se
perde. E assim, falando línguas diferentes, erros inferenciais podem ser produzidos e

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a informação distorcida, acarretando falhas interpretativas da qual ninguém se dá
conta, a não ser, claro, a vítima, o autor e o grupo social em que se inserem.
Para tanto é necessário discutir as questões entre o Direito e a Psicologia,
compreendendo que essas questões estão em seus fundamentos, princípios e
matrizes teóricas, e para sua aplicação prática é necessário compreender as
diferenças. Um breve estudo axiológico permite demonstrar a diferença do Direito
finalista e da Psicologia causalista, um pertencendo ao mundo do dever ser (mundo
ideal), e a outra do ser (realidade social). Mundos aparentemente estranhos, em que
o homem é o ator principal.

Fonte: www.ufjf.br

Primeiramente, há de se considerar que a intervenção psicológica e a


intervenção judicial são diferenciadas. Ao se inserir em um contexto jurídico, não
terapêutico, o psicólogo pode enfrentar um problema de identidade, tornando sua
atuação inadequada. Observa-se, por outro lado, que o Direito não opera com
conjecturas, não pode o juiz proferir decisão por mera presunção. A certeza da autoria
dos fatos e da culpabilidade do agente é necessária, tanto na área cível como na
criminal as responsabilidades dependem de provas, as quais precisam ser firmes e
seguras a ponto de ensejar a decisão. O problema então é: o que são provas, para a
Psicologia e para o Direito? E, como o profissional da psicologia pode auferir valor a
prova jurídica? Qual o espaço ocupado por esse profissional e como considerar sua

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participação no sistema jurídico, considerando que a psicologia jurídica só existe a
partir de um sistema jurídico?

3.1 Psicologias aplicadas e psicologia jurídica

A psicologia, como ciência e profissão, vem trabalhando a questão da


subjetividade e da complexidade. Entretanto, pouco tem produzido sobre a questão
da subjetividade dos próprios psicólogos e os processos que envolvem as identidades
sociais dos mesmos. Fatores sociais vêm contribuindo para isso, e a psicologia vem
se apresentando como uma ciência fragmentada que possui linhas de conhecimento
diferentes e divergentes (NASCIMENTO, MANZINI e BOCCO,2006).
Trindade (2009) sustenta que a Psicologia tem um longo passado e uma curta
história. Afirma que é muito jovem e que fala muitas línguas. Thá (2006) traduz o
drama contemporâneo dos profissionais da psicologia, que se inicia na academia
quando se questionam sobre as diversas teorias apresentadas. Como se identificar?
Qual das teorias corresponde à descrição da realidade profissional? Afinal, o que se
espera é aprender uma profissão, exercê-la e, com esta, se sustentar.
No Brasil, a profissão de Psicólogo foi regulamentada somente em 1962, pela
lei 4.119. Diferentemente do que era quando surgiu como ciência independente (final
do século XIX), o foco atual é compreender o sujeito biopsicossocial e sua rede
complexa que envolve áreas diferentes, transdisciplinares. Observa-se, então, o
surgimento de “projetos que tomam a própria prática do psicólogo como questão”
(NASCIMENTO, MANZINI e BOCCO, 2006 p. 15). Em 2001 a APA apresentou uma
lista de 53 divisões da psicologia aplicada: Clinica, Educacional, Saúde, Social,
Hospitalar, Jurídica e outras (TRINDADE, 2009).
Autores como Sabaté (1980, apud Trindade, 2009), consideram que a
psicologia jurídica na prática é um campo a ser explorado e construído. Para Jesus
(2010 p.52) a psicologia jurídica constitui-se de um “campo especializado de
investigação psicológica, que estuda o comportamento dos atores jurídicos no âmbito
do direito, da lei e da justiça. ” Sabaté (1980, apud Trindade, 2009 p. 24), estabelece
três grandes caminhos para o que chamou de método psicojurídico, são eles:
A psicologia do direito, cujo objetivo seria explicar a essência do fenômeno
jurídico, isto é, a fundamentação psicológica do direito uma vez que todo o direito está

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repleto de conteúdos psicológicos. Essa tarefa de investigação psicológica do direito
recebeu a denominação de psicologismo jurídico. A psicologia no direito, que
estudaria a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulos vetores das condutas
humanas e nesse aspecto, a psicologia no direito é uma disciplina aplicada e prática.
A psicologia para o direito, a psicologia jurídica como ciência auxiliar do direito, tal
como a medicina legal, a engenharia legal, a economia, a contabilidade, a
antropologia, a sociologia e a filosofia, entre outras. (TRINDADE, 2009)
No dizer de J. Selosse apud Doron & Parot (2006, p.629) a atuação da
Psicologia na justiça se subdivide em três possiblidades:
Psicologia judiciária que trata dos atores dos processos: acusado, vitima,
acusador, testemunha; e pelos métodos de informação de instrução e confissão, e
ainda busca entender a lógica de atuação dos juízes e seus auxiliares. A psicologia
criminal que se apropria da investigação e análise do indivíduo delinquente, sua
conduta e os processos criminógenos, e por último a psicologia legal que, estuda as
significações e conceitos jurídicos penais e civis nos quais se baseiam os processos,
compreendendo os princípios jurídicos que orientam a tomada de decisão, como:
responsabilidade, culpa, periculosidade, interesse das partes, autoridade legal
(DORON & PAROT, 2006)

Fonte: www.pinterest.pt

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Alguns autores buscaram distinguir a psicologia jurídica e a psicologia
forense/judicial, (Sabaté, 1980, Garzón 1990 apud Trindade, 2009) historicamente fez
sentido essa distinção. No entanto, atualmente, segundo Trindade (2009) o termo
psicologia jurídica, engloba qualquer prática aplicada da ciência e da profissão de
psicologia para os problemas e questões legais. Jesus (2010) segue o mesmo
raciocínio, afirmando que essa nomenclatura seria mais abrangente, pois o termo
forense estaria restrito ao fórum. Apesar disso, as psicologias jurídicas, segundo
Clemente (1998, apud Trindade 2009), são citadas de acordo com o tema que
abordam: Psicologia judicial, penitenciária, criminal, civil e família, do testemunho, da
criança e do adolescente infrator, policial, da vítima, e outras.
Caires (2003, p. 30) relata sua experiência de atuação como psicóloga na área
jurídica, ressaltando que:

A dificuldade em perceber que o esforço em me fazer entender, esmiuçando


as correlações clínicas, neurofuncionais e psicodinâmicas, não era nem
louvável e sequer sinal de competência e, pior, gerava entendimentos
confusos e passíveis de distorção por parte dos profissionais solicitantes do
exame. Não pude compreender naquele momento, é que os juristas não eram
da área da saúde e, por isso, não podiam e nem precisavam entender a
clínica do sujeito.

Assim, a autora descreve e reforça a necessidade do conhecimento jurídico


para a prática da psicologia jurídica. Procurando não se esquecer de que a pobreza
das relações interdisciplinares constitui o grande problema das ciências humanas,
sendo relevante destacar as considerações de Trindade (2009 p.23).
A humildade e a modéstia epistemológicas têm sido a noção faltante na ciência
jurídica, mas também a psicologia, na sua adolescência científica, tem se ressentido
da sabedoria histórica. Nesse particular, a psicologia tem claudicado de forma
persistente na medida em que não tem calado onde é incapaz de falar ou, pelo menos,
não tem calado quando ainda é incapaz de falar, de outro lado, tem fraquejado toda
vez que não apresenta a necessária profundidade e consistência filosófica,
sucumbindo ao universo da cultura, da reflexão, e, particularmente, do pensamento
crítico.
Considerando que somente no contexto do direito é que a psicologia jurídica se
realiza, torna-se necessário compreender esse contexto. Não isoladamente, mas
conjuntamente com os operadores do direito, intercambiando. Para tanto, é preciso
conceituar o encontro da Psicologia com o Direito. Encontro que na prática favorece

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o desafio da objetividade científica e da realidade jurídica, capaz de afastar o olhar
terapêutico e lançar um olhar investigativo sobre o fato jurídico.

3.2 Direito e Contexto jurídico

O homem é um ser que pensa, tem consciência e se move num contexto


histórico-cultural. De acordo com Longo (2004 p.25) “O homem constrói o mundo com
sua inteligência, com seus braços, com sua vontade determinante e com seu Deus”.
Nesse contexto, interage com o outro, inicialmente com sua família e posteriormente
com os outros membros da sociedade da qual faz parte. Este convívio com o grupo
social proporciona a construção das identidades e das regras. Onde quer que se
encontre um agrupamento social, onde quer que o homem esteja, por mais rudimentar
que seja o fenômeno jurídico está presente (MONTEIRO, 2003)

Fonte: vitamanifesta.blogspot.com

É sabido que as sociedades humanas se encontram ligadas ao direito, o


homem já nasce sujeito de direitos, é uma necessidade fundamental. Dele recebe
estabilidade e a própria possibilidade de sobrevivência, pois encontra as garantias das
condições necessárias à coexistência social. Estas são definidas e asseguradas pelas
normas, que criam a ordem jurídica dentro da qual o Estado organizado, sociedade e
indivíduo compõem o seu destino. (BRUNO, 1969).

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Pereira (2001, p.4) afirma que “há e sempre houve uma norma, uma regra de
conduta, pautando a atuação do indivíduo, nas suas relações com os outros
indivíduos”. O autor acrescenta que quando “um indivíduo sustenta suas faculdades
e repele agressão, afirma ou defende os seus poderes, diz que defende o seu direito.
E, quando o juiz dirime os conflitos invocando a norma, diz-se que ele aplica o direito”.
Existindo o que se pode chamar de realidade jurídica, reconhecível no comportamento
humano. Monteiro (2003) corrobora dizendo que existem outras normas de
convivência impostas na sociedade, que a rigor não se confundem com as jurídicas,
regras morais. Ambas se constituem como normas de comportamento.
Assim, de acordo com Pereira (2001), o anseio por justiça integra-se na
consciência do indivíduo, e o poder público o reveste de sanção possibilitando a
convivência individual e coletiva. Estabelece o comportamento social, sem o qual não
haveria a possibilidade do jurídico, pois para a vivência individual ninguém poderia
exigir o seu direito sem limitar o direito do outro, sendo, portanto, necessário suportar
restrições à própria conduta. Pode-se, então, afirmar que “o direito é o princípio de
adequação a vida social”, ou seja, somente no meio social haverá o direito. (PEREIRA
2001. p. 5).
Friede, (2002 p.14), define o Direito como objeto da ciência do direito, não é
produto de uma vontade, é um produto do ser humano, um produto cultural. Resulta
“da atuação de forças sociais, ou de uma delas, com poder de dominação sobre as
demais”. É correto afirmar que o Direito se caracteriza como ciência autônoma, que
se funda em princípios basilares, no qual fato, valor e norma não são aspectos simples
de uma realidade, e sim, elementos primordiais dessa ciência (FRIEDE, 2002; REALE,
1981).
De acordo com Montoro (1981), axiologia é a ciência dos valores. Estes
representam os princípios que orientam a conduta do homem e da sociedade. Onde
quer que se manifeste o direito, encontra-se uma ação, ou seja, um fato da natureza
que é ao mesmo tempo um fato de vontade, sendo o direito, portanto, a expressão da
vontade humana, da ação do homem. Como o direito não funciona como um todo
fechado, o conjunto das normas jurídicas é denominado de ordenamento jurídico,
sendo essa a expressão formal do direito. (MONTORO, 1981, REALE, 1981, FRIEDE,
2002).

19
Ao ser aplicado, o direito utiliza critérios de interpretação: gramatical, lógico,
sistemático e axiológico (FRIEDE, 2002). Sauvigny (apud Monteiro, 2003 p.35) diz que
“interpretar é a reconstrução do pensamento contido na lei”. A lei é sempre clara, e
deve ser aplicada como soam as palavras, determinando seu verdadeiro sentido e
procurando o que quis dizer o legislador (FRIEDE, 2002).
É importante saber utilizar a linguagem adequada no momento adequado. A
clareza das ideias está relacionada com a clareza e precisão das palavras. Qualquer
sistema jurídico para atingir plenamente seus fins deve cuidar do valor “nocional” do
seu vocabulário, e estabelecer relações semântico-sintáticas harmônicas e seguras
na organização do pensamento (NARDINI & RAMOS).
Segundo os autores, o pensamento humano evoca ações que expressam
estados ou qualidades, que justificam determinadas condutas. E, para simbolizar o
agir e o sentir, a linguagem é fundamental, pois permite estabelecer as relações
psicológicas e traduzir o significado das palavras e a realidade ali representada. Para
realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona e organiza as
palavras conforme a sua vontade. Todo este trabalho de seleção e organização não
é aleatório, está ligado a intenção do sujeito (NARDINI & RAMOS).

Fonte: migueldelpinopsicologo.com

A realidade jurídica: penal, civil e familiar, tem que partir de ações, e não das
fontes psicológicas. Pois as ações são o objeto de conflito, e não as resoluções. A

20
tipicidade é o ponto de partida e, devem ser traduzidas de forma coerente e concisa,
dentro de um determinado contexto jurídico. Etimologicamente, o termo contexto pode
ser conceituado como “conjunto de circunstâncias que acompanham um
acontecimento, exemplo: julgar um fato em seu contexto histórico”. O adjetivo jurídico
é relativo ao direito, “que está de acordo com as normas do direito: ato jurídico”
(KOOGAN/HOUAISS, 1997).

3.3 Prática da Psicologia com Enfoque Jurídico

Em um contexto judicial, o objetivo é verificar e determinar se os fatos realmente


ocorreram. Possibilitando a responsabilização, a proteção da sociedade e garantindo
os direitos. Em um contexto clínico, o psicólogo deve observar os sintomas com o
intuito principal de intervir e auxiliar o sujeito a lidar com esses sintomas. No âmbito
social o psicólogo ajuda o sujeito a lidar com o ocorrido, orienta e auxilia na utilização
dos recursos e meios necessários a esse fim, atuando na segurança pública, inclui,
também, o sistema jurídico.
De acordo com Friede (2002), é necessário considerar os dados subjetivos no
campo dos valores: sentimentos e opiniões que fogem a disciplina das leis, elevando
o grau de responsabilidade dos profissionais e diminuindo os riscos de injustiças e
abstrações por parte dos operadores do direito. Portanto, o conhecimento dos
aspectos legais orientará o psicólogo jurídico na compreensão da influência que seus
relatórios, pareceres e laudos ocupam no contexto jurídico. Pois os aspectos
individuais observados e descritos tecnicamente serão acolhidos a rigor como matéria
probante, dirimindo as dúvidas judiciais existentes.
Caires (2003) destaca a importância de se conhecerem os aspectos
criminógenos, sociais e psíquico-psicológicos que abrangem o sistema de justiça.
Através de ponderações históricas, a autora busca resgatar aspectos relevantes do
trabalho do psicólogo no judiciário: as questões sobre a doença mental e sua proteção;
o reconhecimento da psiquiatria forense no Brasil, ocorrido na década de 20, em um
caso de clamor público, onde coube o primeiro diagnóstico médico legal de
inimputável. A autora descreve suscintamente, o caminho percorrido pela psicologia,
que se inicia com o estudo da alma, e vai se modificando para o estudo do
comportamento. Firma-se através de métodos científicos ao lado da Psiquiatria, e a

21
transcende através de técnicas mensuráveis conhecidas até hoje como testes
psicológicos.

Fonte: super.abril.com.br

Nota-se que a inserção do psicólogo no sistema judiciário se fortalece na


necessidade de que os fatos revelados sejam relevantes ao mundo jurídico e que a
busca destes fatos ocorram de forma técnica e confiável. De acordo com Caires
(2003), todos os caminhos levam a um único tema: a perícia.
É importante perceber que em matéria penal, tanto na fase de execução como
na fase processual, as informações fornecidas terão sempre valor probante (Caires,
2003 e Trindade, 2006), servindo a critério do Juiz. E, dentro dos parâmetros legais,
atenuar ou agravar a situação do agressor (réu), revelar circunstâncias e possíveis
consequências do crime.
Art. 59 do CP - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Na prática o juiz atribui ao agente, quase que aleatoriamente, as expressões
“personalidade desajustada”, “personalidade não informada nos autos”,
“personalidade com inclinação para o crime”, e ainda, “personalidade desregrada”.
Tais expressões nada contribuem para a demonstração da personalidade do agente.

22
Carvalho (2001) discute a tarefa difícil do juiz: “a experiência cotidiana revela que a
valoração da personalidade do acusado, nas sentenças criminais, é quase sempre
precária, imprecisa, incompleta e superficial”.
Em casos que envolvem estupro, maus tratos e atentado violento ao pudor,
contra vulneráveis, a inserção do psicólogo torna-se cada vez mais importante. Nessa
linha de entendimento, pontífica a doutrina e a jurisprudência que as declarações da
vítima constituem um meio de prova. Em princípio, o conteúdo das declarações deve
ser aceito com reservas. No entanto, por se tratar de um delito às ocultas, é necessário
que as declarações sejam seguras, estáveis, coerentes, plausíveis, uniformes,
perdendo sua credibilidade quando o depoimento se revela reticente e contraditório a
outros elementos probatórios.
As demandas judiciais das Varas de Família é outro domínio em que a
psicologia se faz presente e exerce forte influência na proteção judicial dos menores.
Levando o magistrado a buscar, junto à Psicologia, um trabalho técnico, seguro, capaz
de embasar as decisões, resguardando os direitos das crianças e adolescentes em
questões de regulamentação de visitas e guarda familiar (TRINDADE, 2002). Em
matéria civil, a comprovação dos fatos alegados é pressuposto da ação, e a partir dele
é que se pode apurar responsabilidades, que no caso independe de culpa. (Artigo
333, 342, 348, 400 e seguintes)
Visando punir e prevenir a violência doméstica contra a mulher, surge a lei
11.340/06 (Lei Maria da Penha). E, no mesmo ano, a Lei 11343/06, que prevê projetos
educacionais para redução do dano ao usuário de drogas ilícitas. Essas duas leis
proporcionam um espaço terapêutico ao psicólogo jurídico. Espaço que não afasta a
especialização, nem o enfoque legal, mas possibilita um espaço diferenciado de
atuação no sistema judiciário.
O psicólogo atua na busca da prova. Pois a prova, como observado, é comum
a todo sistema jurídico. Acrescentando que o sistema inclui, de acordo com Código
de Processo Penal (CPP), o processo de investigação policial:
Inquérito - o inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal,
de caráter administrativo, conduzido pela polícia judiciária (art. 144 da CF– Polícia
Federal e as Policiais Civis) é voltado à colheita preliminar de provas para apurar a
prática de uma infração penal e sua autoria. Sua finalidade é, portanto, a investigação
do crime e a descoberta do autor, chamado também de instrução prévia. Período pré-

23
processual. Tendo como objetivo formar a convicção do MP, e colheita de provas
urgentes, apontar com relativa firmeza a ocorrência e autoria de um delito. Inquisitivo
e sigiloso. Antes da denúncia. (Código de Processo Penal, art. 5º a 23.)

3.4 Provas

Prova conceitualmente significa: “aquela que demonstra a veracidade de uma


proposição ou realidade de um fato”. Segundo Manzano (2011), prova vem do latim
probatio, que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, aprovação, confirmação,
deriva do verbo probare. No direito, é usada para identificar realidades diversas .

Fonte: pixabay.com

Manzano (2011 p. 1) diz que a finalidade da prova é convencer o julgador “sobre


a exatidão das afirmações formuladas pelas partes no processo”, possibilitando “a
certeza suficiente à formação do convencimento necessário de que foi atingida a
verdade possível e de legitimar a sentença”. Acrescenta que não se pode confundir a
finalidade da prova com o fim do processo. Esta seria a verdade objetiva, alcançável
e sujeita a sanção.
Hungria (1959), afirma que “prova é a verificação de algo, com a finalidade de
demonstrar a exatidão ou a verdade real da alegação feita pela parte ao juiz. Diante

24
desse olhar eleva-se o direito do indivíduo em face da coletividade, pois, ao menor
sinal de dúvida sobre o fato delituoso, homenageia-se o princípio conhecido por ‘in
dubio pro reo’”.
Em matéria penal, não é possível fundamentar uma decisão condenatória
apoiada exclusivamente em indícios remotos ou suposições. Para o direito, a
culpabilidade não se presume ou pode ser extraída de subjetivismos, exigindo para
sua definição prova segura do cometimento e da autoria delituosa. (MANZANO, 2011.)
Notadamente a prova produzida quer oral, quer pericial, somente será
suficiente para a formação de um juízo de certeza se bem fundamentada. Pode ser
utilizada em três sentidos: a) ação de provar; b) meio ou instrumento para a
demonstração da verdade; c) resultado da ação. As espécies de provas são:
Exame de corpo e delito, onde se procede a verificação da materialidade do
crime; perícia técnica direta ou indireta; interrogatório; confissão; oitiva da vítima
(art.201 do CP); testemunha; reconhecimentos de pessoas e coisas; acareação;
documentação; indícios (prova indireta) que se valem do raciocínio indutivo para,
utilizando de dados isolados e conhecidos, chegar à conclusão da existência do fato
e de outros fatos mais abrangentes, se guiando por vestígios, e nesse caso a prova é
indireta (art. 239 do CP)
No processo penal a prova pode ser: material, real, substancial, sendo
produzida na fase de instrução que se encerra na audiência de instrução e julgamento
(art. 402, 534, 411 parágrafo 3º, do CPP). Segundo Manzano (2011 p. 239):

(...) tanto no processo penal quanto no processo civil se busca a verdade


processual, concebida como a melhor verdade, verdade aproximativa,
verdade humana e eticamente possível de ser atingida, sem atropelamento
de direitos individuais, em busca da pacificação social, revelada pela
permanente preocupação com efetividade da jurisdição penal, para que se
alcance o desejado equilíbrio entre o garantismo e a eficiência.

Afirmar a verdade é possível deste de que se compreenda o que é verdade


real. Quando se fala em processo penal, a afirmação do princípio da verdade real é
necessário. Distingue-se do princípio da verdade formal, que regula o processo civil
onde a prova é trazida pelas partes ao processo, e o juiz decide conforme as provas
apresentadas. No penal, o magistrado tem o dever de investigar como os fatos se
passaram na realidade, não se conformando com a verdade formal constante dos
autos.

25
Para tanto, o art. 156, II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008,
faculta ao juiz de ofício determinar, no curso da instrução, ou antes, de proferir
sentença, a realização de diligências para ‘dirimir dúvida sobre ponto relevante’. Ao
magistrado é facultado buscar a verdade, persegui-la.

3.5 Perícia

Segundo Tornaghi apud Manzano (2011 p. 8): “Perícia nada mais é do que uma
pesquisa que exige conhecimentos técnicos científicos e artísticos”. Segundo o
dicionário Aurélio, perícia é habilidade, destreza, conhecimento, ciência, como
também vistoria ou exame de caráter técnico especializado. O termo deriva do latim,
peritia, que significa destreza e habilidade ou peritus, indivíduo erudito, capaz.
(CAIRES, 2003.)

Fonte: wagner.adv.br

A perícia é uma prova técnica, realizada por um perito, que se utiliza da


experiência para auxiliar o juiz. Constatando, explicando, elucidando, revelando e
assim apontando um elemento de prova. Demanda a realização de um procedimento
técnico, o qual se desdobra em vários atos: preservação, coleta, remessa,
armazenamento, guarda, adoção do princípio cientifico, aplicação de técnica
26
especifica, e outros. Importante é a confiabilidade de sua análise e conclusão.
(MANZANO, 2011, p. 235).
A lei 4112/62 estabelece em seu art. 4º, inciso 5, que: “Cabe ao Psicólogo
realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia”. Caires (2003)
defende a diferença entre a entrevista psicológica pericial, em que o indivíduo não tem
uma queixa, e sim, um fato jurídico e está sob o domínio legal, e entre a entrevista
clínica. Justificando a diferenciação da técnica de psicodiagnóstico, pois o psicólogo
está a serviço da justiça, o indivíduo o vê como aquele que investiga e julga como se
fosse uma extensão do juiz.
Para tanto, a autora sugere procedimentos e técnicas baseados em sua
experiência, como: estudo psicológico do processo, mapeamento do caso,
mapeamento do desenvolvimento sócio afetivo, histórico médico, antecedentes
pessoais e aplicação de testes. Na construção do laudo ou parecer, deve-se utilizar
uma linguagem concisa. Sabendo que o judiciário necessita de respostas que
embasem medidas legais, sem expor o sujeito além do necessário.
No Direito Brasileiro, existe a figura do perito oficial e do assistente técnico,
podendo ser chamados tanto na fase do inquérito policial como durante a instrução
criminal. Em juízo, o perito e o assistente podem ser ouvidos mediante o requerimento
das partes ou de ofício pelo Juiz para esclarecer os laudos e pareceres apresentados
(art. 159 e seguintes do CPP). O perito é um auxiliar do Juiz sujeito a impedimentos.
O assistente técnico, indicado pela vítima e pelo acusado, é perito não oficial
(MANZANO, 2011).
Segundo Manzano (2011), a perícia realizada na fase do inquérito policial é
investigativa, prova antecipada, se justifica se tiver natureza cautelar e quando é
realizada deve ter assegurado o contraditório. A prova é colocada à prova, ressaltando
que o juiz não está obrigado a aceitar o laudo ou parecer do perito. No Brasil, o
princípio do liberatório está, no CPP e no CPC e defende o livre convencimento do
juiz, sendo esse apenas mais um elemento de prova (MANZANO, 2011).

27
4 PSICOLOGIA: INTENÇÃO E EXTENSÃO

Há aproximadamente três décadas, começou a se tornar visível, a preocupação


de estender a psicologia para além das áreas em que habitualmente se exercia:
pesquisas de laboratório, psicodiagnóstico, psicoterapias, treinamento e seleção
profissional, predominantemente. Por currículo e por lei, ora mais e ora menos
contraditoriamente1, o ensino e a atuação profissional vão produzindo o desenho de
uma psicologia que não parece querer ficar à margem das reflexões filosóficas e
sociológicas, feitas nas salas de aula, ou à margem de ações políticas das
agremiações estudantis e dos movimentos sociais e comunitários em geral.

Fonte: modelargestionyestrategia.com

Nesse desenho da profissão, ganhou espaço o trabalho junto a instituições


(aqui entendidas como organizações), sobretudo as de saúde, educação e promoção
social. Em 1982, o governo do estado de São Paulo abriu vagas para psicólogos, nos
serviços públicos, contribuindo para a extensão dos limites institucionais da profissão.
Vários egressos das faculdades dirigiram-se para esses atendimentos que tomaram
um caráter multiprofissional, dada a abertura feita, também em outras áreas. Os
mestres universitários e profissionais mais experientes (entre eles, estavam
psicólogos e psicanalistas que migraram da Argentina para o Brasil) dedicavam-se à
supervisão desses trabalhos. Não tardou a aparecer uma disciplina na Universidade
28
de São Paulo, ainda optativa: Psicologia Institucional. Com o passar do tempo, os
currículos de outras faculdades foram incorporando o mesmo título.
É assim que, cada vez mais, psicologia e instituição vai se tornando um binômio
conhecido e reconhecido. Tal efeito, no entanto, não resolve as questões oriundas de
um trabalho que, apesar de tudo, ainda não tinha um respaldo suficiente na formação
e no currículo. E, sendo as práticas concretas o carro-chefe, multiplicaram-se, quase
às raias da dispersão, os modos de compreensão e intervenção. Estamos falando
agora do estado das coisas no final da década de 1980 e início da de 1990. Isto de tal
forma que parecia haver tantos modelos de trabalho quantos fossem os mestres e
supervisores em campo. Uns se diziam sociopsicanalistas, outros psicólogos
institucionais, outros ainda, analistas institucionais (e aqui, agrupava-se a maior
variedade de posições, desde os adeptos de Lapassade até os de seu parceiro
intelectual, Lourau; ou, desde os que assinavam uma autoria pessoal até os que se
filiavam à orientação de Delleuze e Guattari; e assim por diante).
Apesar da liberalidade na nomeação daquilo que faziam, profissionais e autores
sobre o tema produziam trabalhos até certo ponto diferentes sob a insígnia
institucional. Em parte, deriva dessa diversidade, no limite da indiferenciação, uma
vantagem para o exercício da psicologia: multiplicaram-se (e se multiplicam) iniciativas
e tentativas de alargar os horizontes do pensamento e do fazer concreto, extrapolando
os já distantes limites legais e provocando os psicólogos a abandonar determinadas
certezas cristalizadas em suas modalidades de atuação, para abraçar desafios ainda
muito tensos e informes. O que está longe de ser algo negativo.
Gradativamente, permanecem dois títulos a significar os trabalhos “junto às
instituições”, como se costuma dizer: Psicologia Institucional e Análise Institucional.

4.1 A psicologia institucional de Bleger: uma intervenção psicanalítica

Psicologia Institucional é um termo cunhado por J. Bleger, psiquiatra argentino


de orientação psicanalítica inglesa, que a um certo momento, buscou aliar psicanálise
e marxismo para pensar a atuação do profissional em psicologia, para além das
práticas terapêuticas e consultorias. Em nome dele e por meio de seus escritos, nos
idos de 1970, a Psicologia Institucional cruzou fronteiras e, assim, apesar dos efeitos

29
da repressão política que forçava os mais inquietos a “falarem de lado e olharem para
o chão”.
Trabalhar com psicologia institucional, portanto, é trabalhar com uma
determinada abordagem psicanalítica específica. E, como Bleger o define, com essa
abordagem, toma-se a instituição como um todo, como alvo da intervenção. Em seu
livro Psicohigiene e Psicologia Institucional (Bleger, 1973/1984), fica claro que o
psicólogo opera com os grupos, desde os de contato direto com a clientela até a
direção, por meio de um enquadre que preserva os princípios básicos do trabalho
clínico psicanalítico, bem como suas justificativas. Ainda: a compreensão que tem das
relações interpessoais guarda uma formulação muito interessante: a da simbiose e
ambiguidade nos vínculos e ele mesmo aproxima essa compreensão às ideias de M.
Klein a respeito de posições nas relações de objeto; mais do que ao conceito de
narcisismo em Freud (Bleger, 1977/1987).

Fonte: www.emaze.com

Tudo isto implica que se alguém se diz trabalhando com psicologia institucional,
estará, ao mesmo tempo, tomando, tanto a instituição e suas relações quanto a
intervenção do psicólogo, a partir de uma perspectiva psicanalítica; ou da perspectiva
de uma psicanálise. Interpretações ou assinalamentos, informados por esta
compreensão das relações institucionais, definem sua inserção nos grupos, seu fazer.

30
4.2 A análise institucional de Lapassade: uma intervenção política

Análise Institucional, por sua vez, é o nome dado a um movimento que supõe
um modo específico de compreender as relações sociais, um conceito de instituição
e um modo de inserção do profissional psicólogo que é de natureza imediatamente
política. Desalojado do lugar de intérprete dos movimentos grupais ou interpessoais,
ele não se delega a tarefa diferenciada da interpretação ou de assinalamentos; ele é,
acima de tudo, um instigador da autogestão dos grupos nas organizações, um
favorecedor da revelação dos níveis institucionais, desconhecidos e determinantes do
que se passa nesses grupos. É um provocador de rachaduras e rupturas na burocracia
das relações instituídas. Está do lado do instituinte, ainda que se questione sempre
esse lugar e a própria análise como facilitadores da “liberação da palavra social dos
grupos” (Lapassade, 1974/1977).
O idealizador da Análise Institucional é Georges Lapassade, psicólogo de
formação, que passou a trabalhar com psicossociologia e prosseguiu com um
intrigante caminho intelectual e político, o qual desembocou nesse movimento
autodenominado Análise Institucional.
Por que “movimento”? Porque, num tom acalorado e ruidosamente polêmico,
em princípio pelo estilo de sua escritura, praticamente, convoca adeptos a uma causa.
Propõe uma forma de agir e pensar que deveria mobilizar todos os níveis institucionais
ao mesmo tempo; e isto seria justificável por finalidades políticas (supostamente)
óbvias (e) que todo leitor deveria ter! Funciona quase como uma convocação à
militância. E o leitor se sente nessa condição de chamado aos brios: “Mexa-se! O que
você está fazendo aí sentado? Venha engrossar as fileiras dos que rompem com a
burocracia, liberam a palavra social e fazem a revolução permanente! ”.
Tal chamado, porém, como uma segunda voz nos escritos de seu livro mais
conhecido (Lapassade, 1974/1977), traz já a ambiguidade, assumida por ele, de
apresentar e criticar radicalmente a Análise Institucional que ele mesmo propõe. No
“Prólogo à Segunda Edição” dessa obra, acaba por dizer, enfaticamente, sobre a
ineficácia da Análise Institucional, na medida em que conta com a ação de técnicos
como coordenadores e preceptores de mudança; a menos que se queira considerar,
por um artifício, que a análise se dá no nível da palavra e, portanto, não tem relação
automática com uma mudança na ação concreta. Por isso, não menos enfaticamente,
afirma que o que se deve fazer é a Ação Direta (análise em ato), por aqueles mesmos
31
que constituem os grupos de uma determinada instituição e/ou organização, com as
lideranças nascidas de seu interior. Segundo ele, essa é a verdadeira revolução
permanente que “decapita o rei”, as instituições sociais dominantes. Tudo, por
inspiração dos momentos históricos da revolução de 1968, na França, e ainda visando
à liberação da palavra social. Ora, poucos anos mais tarde, registra-se em um
“Prólogo à Terceira Edição”, que a liberação a ser feita é a do corpo e que o que,
então, se sustenta como ação de um profissional da psicossociologia e da psicologia
é Crise Análise.

Georges Lapassade / Fonte: blogdoacra.blogspot.com

São de Lapassade distinções conceituais importantes que parecem frequentar


o discurso de institucionalistas e de psicólogos afeitos a essa perspectiva de trabalho.
Nem sempre citada a fonte, alguns desses termos parecem ter ganhado um sentido
muito próximo ao de sua origem nesses outros discursos.
A primeira delas é a distinção instituinte/instituído. O instituinte é uma dimensão
ou momento do processo de institucionalização em que os sentidos, as ações ainda
estão em movimento e constituição; é o caráter mais produtivo da instituição. O
instituído é a cristalização disso tudo; é o que, na verdade, se confunde com a própria
instituição.
A segunda é a distinção entre dois outros termos: organização e instituição.
Organização é um nível da realidade social em que as relações são regidas por

32
estatutos e acontecem no interior de estabelecimentos, espaços físicos determinados.
A instituição é o nível da lei ou da Constituição que rege todo o tecido de uma formação
social; está acima dos estatutos das organizações. Ainda, segundo Lapassade, a
instituição pode ser considerada o brique-braque das determinações daquilo que
atravessa os grupos de relação face a face numa organização social. A sala de aula
é exemplar nesse sentido: a relação entre as pessoas é regida por normas que, em
última instância, estão apoiadas no que prevê a lei maior para o ensino; nesse
contexto, o professor poderá ser considerado um representante do Estado frente a
seus alunos.
Menos conhecida é a concepção de burocracia que anima essa proposta. Em
poucas palavras, a novidade que esse autor nos apresenta é a de que burocracia é,
em princípio, uma questão de poder. Uma questão de divisão no poder, entre grupos
de decisão e grupos de execução do fazer institucional, sendo que os primeiros
decidem não apenas o que, mas também, o como fazer. A normatização e a
comunicação vêm de cima para baixo, e não há previsão de canais legais ou legítimos
para que essa relação se inverta. A regra de ouro é a obediência e a organização
acaba sendo um fim em si mesma. Indivíduos e grupos acabam se munindo de um
radar que possa sondar as necessidades e interesses que não os próprios. É a
heteronomia de grupos e sujeitos, que corre em sentido oposto ao da autonomia.
Sobretudo com essa concepção de burocracia, Lapassade faz um mapeamento
das relações institucionais, trazendo para elas a organização da separação, pelo
poder de decisão, e a produção de sujeitos sem autonomia, alienados e alienadores
da palavra social. As relações de poder e a ideologia têm, assim, seu contexto
constituinte.

5 LEITURA COMPLEMENTAR

5.1 Artigo - A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO INSTITUCIONAL

Jeferson Douglas de Lima

33
Leidiane Kava da Silva
Ronaldo Adriano Alves dos Santos

O presente trabalho visa promover uma breve análise sobre a atuação do


psicólogo no campo institucional. Tal estudo se fez necessário para que haja uma
visão de diferentes autores e pontos de vista acerca da psicologia no campo
institucional e o trabalho desenvolvido pelo psicólogo dentro desse campo. No
decorrer do artigo, apresenta-se uma visão acerca da instituição, do indivíduo no
grupo e o perfil do psicólogo institucional. A construção se deteve em análise
bibliográfica de autores que fundamentam a atuação do psicólogo nas instituições.
Tem como objetivos debater o campo institucional e o papel do psicólogo dentro das
instituições. Para esta discussão utilizaremos os pressupostos apresentados por
Bleger (1984), Pinheiro e Gula (2007) e também as proposições teóricas de Guirado
(2009) que faz menção aos autores: Albuquerque e Lapassade.
Para Albuquerque a instituição se caracteriza a partir do momento em que
encontra um objeto institucional, esse objeto deve ser algo imaterial para que possa
haver uma desapropriação quando necessária, desenvolvendo o luto no termino do
grupo, o objeto institucional estrutura a prática institucional, onde é aquilo cuja
propriedade a instituição reivindica o monopólio de legitimidade, esse objeto deve ser
o único para a instituição, não pode ser algo material, pois, deve ser algo transicional
(GUIRADO, 2009).
A ação institucional se caracteriza nas relações sociais e não no local material
que faz a instituição, pois ela se dá na interação dos membros do grupo e não apenas
no ambiente físico onde ocorrem tais interações sociais (GUIRADO, 2009).
Para Bleger (1984) a psicologia institucional se caracteriza como uma forma de
intervenção psicológica com significado social, onde o psicólogo irá voltar seu trabalho
para as instituições com o objetivo de promover a saúde de seus integrantes da
mesma, em sua totalidade, a partir das relações pessoais e grupais.
Ao referir-se ao termo Psico-Higiene, Bleger (1984) afirma que este se
configura na possibilidade de se constituir uma organização dinâmica visando
promover condições que tendem a causar saúde e bem-estar dos que ali se
encontram. Sendo assim o conceito de Psico-Higiene baseia-se no contexto de que o
psicólogo deve fazer mais do que uma atividade psicoterápica, deve-se ater ao todo

34
praticando o seu exercício nas ocorrências multifatoriais, visando sempre à promoção
de saúde da população e não somente o doente (Pinheiro & Gula, 2007).
A psicologia em toda a sua completude cientifica embasará a atuação do
psicólogo dentro da instituição. Cabe ao psicólogo, no espaço social, analisar todos
os fenômenos humanos na sua relação com a instituição nos seus variados aspectos
objetivos, dinâmicos e na sua estrutura enquanto ambiente de atuação, onde o
trabalho psicológico na prática tem um maior espaço de significação social (Bleger,
1984).
Nos primeiros contatos do psicólogo com a instituição será levantado hipóteses
sobre os possíveis problemas da instituição, que poderão ser confirmadas ou não no
desenrolar do trabalho do psicólogo, visto que este processo é que abre novos
caminhos na ação do psicólogo institucional (Bleger, 1984).
Para atuar na instituição o psicólogo deve estar ciente que seu principal método
de estudo será a observação, pois é a partir dela que ele vai verificar se as hipóteses
se constituem em realidade. Neste sentido, deve ser estudada a dinâmica psicológica
que se desenvolve na instituição, pois, por um lado, o indivíduo tem sua personalidade
afetada pela dinâmica institucional e, por outro, é parte integrante da mesma e
deposita uma parcela de sua personalidade nas redes institucionais, pois são os
indivíduos que fazem a instituição e qualquer mudança provocada na instituição
poderá afetar a personalidade de seus integrantes (BLEGER, 1984).
Para Bleger (1984), grupo e indivíduo apresentam uma edificação que
proporcionam uma identidade, onde indivíduo é instituição e vice-versa. Nessa relação
adaptada com a realidade, há um significado e certo grau de organização que torna a
existência possível. Sendo assim, cabe ao psicólogo trabalhar os aspectos
indiferenciados, naqueles sujeitos em crise, ou seja, o psicólogo deve explicitar o
implícito.
Sendo assim, no âmbito institucional se altera tanto a instituição e suas
relações, quanto a intervenção do psicólogo. Com isso, o fazer psicológico, na
anexação dos grupos se dará através das interpretações, informado pela
compreensão das relações institucionais (GUIRADO, 2009).
Cabe aos psicólogos que atuam em instituições encontrar a necessidade de
averiguar as demandas de orientação e também ampliar os conhecimentos sobre as
instituições promovendo, dessa forma, interrogações sobre o seu papel e sua posição

35
diante da problemática de oscilações, incerteza e necessidade de rápidos resultados
(BLEGER, 1984).
Como afirma Bleger (1984) o ser humano é um ser que precisa projetar-se para
o futuro, cabendo ao psicólogo, na sua atuação, a intervenção nas situações de
conflitos, trabalhando os aspectos indiferenciados, não verbais, ou seja, o psicólogo
deve explicitar o que o sujeito, por estarrecimento e sofrimento, deixa implícito na
instituição. Sendo assim, quando o paciente se encontra estagnado no tempo, o
atendimento só será concluído mediante a concepção de uma projeção para o futuro,
um projeto para o amanhã.
Acrescenta-se também que o psicólogo, quando insere-se meio institucional,
deve realizar o levantamento dos objetivos específicos da instituição e os meios pelos
qual ela pretende alcançá-los, deve analisar também os motivos que a instituição a
solicitar a intervenção do profissional, neste trabalho deve buscar, através de um
manejo específico, amenizar a ansiedade e ultrapassar as resistências causadas pela
sua presença, haja vista, que “o psicólogo é um agente de mudança e um catalisador
ou depositário de conflitos, e, por isso, as forças operantes na instituição irão agir no
sentido de anular ou amortizar suas funções e sua ação" (PINHEIRO & GULA, 2007).
A proposito a análise institucional, idealizada por Georges Lapassade, é o
modo específico de compreender as relações sociais, nas instituições e um modo de
inserção do profissional psicólogo que é de natureza política, ela se dá como um
método de análise da realidade social e como um método de intervenção para com a
sociedade, para ele essa análise acontece através das contradições sociais,
revelando a dimensão oculta do que se passa nos grupos (GUIRAO, 2009).
Segundo o mesmo autor deve-se lembrar da distinção entre instituição e
organização, para que quando for fazer uma análise esteja ciente de estar fazendo
uma análise institucional e não organizacional, na análise institucional deve-se
analisar muito além da organização, por exemplo, as relações sociais apresentadas
por seus integrantes, já na análise organizacional deve ser analisado são os recursos
materiais, o espaço físico e os equipamentos (GUIRADO, 2009).
A análise, no ponto de vista de Lapassade é uma ação do grupo e o analista é
um “provocador” de um processo, mas toda a intervenção se dá pelo grupo. O
psicólogo sempre levará a subjetividade para sua atuação, como os sujeitos se fazem

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através das relações essa subjetividade será o objeto de estudo e análise para o
trabalho do psicólogo (GUIRADO, 2009).
De acordo com o exposto acima, verifica-se a existência de visões distintas
sobre a atuação do psicólogo no campo institucional, onde Bleger pontua entre outras
afirmações que cabe ao psicólogo trabalhar os aspectos indiferenciados, naqueles
sujeitos em crise, ou seja, o psicólogo deve explicitar o implícito. Já segundo Guirado,
o fazer psicológico, na anexação dos grupos se dará através das interpretações,
informados por esta compreensão das relações institucionais. Albuquerque relata que
os indivíduos são responsáveis por fazer a instituição, sendo assim o psicólogo deve
trabalhar com todos em sua subjetividade. Para Lapassade, o analista é um
“provocador” de um processo, mas toda a intervenção se dá pelo grupo.
Pode-se destacar que os mesmos se deram de forma satisfatória, onde foi
possível averiguar vários autores e diferentes contribuições no trabalho do psicólogo
no campo institucional, podendo verificar várias visões do trabalho do psicólogo onde
cada autor tem uma maneira diferente de dizer qual deve ser a postura desse
profissional nesse campo de atuação, atendendo aos objetivos propostos na
pesquisa, onde fica claro o campo institucional e como o psicólogo pode intervir,
mostrando que a observação é participante, onde o psicólogo altera a instituição e
deve fazer intervenção dinâmica e grupal, atendendo a demanda institucional por sua
totalidade.
O papel do psicólogo no campo institucional é de suma importância para a
instituição em sua totalidade. Tal trabalho deve ser realizado de forma dinâmica, pois
o psicólogo altera a instituição, e cada indivíduo, sendo parte da instituição, deve se
sentir à vontade para falar, permitindo assim, que o psicólogo consiga desempenhar
o seu papel com êxito. De acordo com a pesquisa realiza, pode se inferir que todos
os autores pesquisados concordam entre si em relação a atuação do profissional
quando destacam a observação participante como método principal do trabalho em
campo.
Toda a instituição em sua particularidade possuiu objetivos, e cabe ao
profissional psicólogo ter ciência de tais objetivos e das motivações de tal instituição
e do seu trabalho acerca da realidade institucional. O ideal é que todo o psicólogo
tenha também, muito claro seus próprios objetivos, pois são estes que o direcionam
em seu agir. Desse modo, a missão do psicólogo institucional caracteriza-se por fazer

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com que a instituição sirva de meio de enriquecimento e desenvolvimento da
personalidade de seus integrantes.

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