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culpabilizando Patrick e sua família, a escola reproduz o mito da inferioridade e
marginalidade das classes populares, fortalecendo essa ideologia (COIMBRA, 1986).
Ainda, a relação escola-família ocorre, principalmente, através de “reuniões”
para que a família seja informada das reclamações ou “problemas mentais” da criança.
Segundo Patto (1992), quando se trata de um estudante repetente, a visão das
professoras tende a ser preconceituosa, apoiada em uma ideologia de “meritocracia”, de
que “vencem o mais aptos”, muitas vezes respaldadas em laudos psicológicos com
procedimentos diagnósticos duvidosos, resultando em rótulos que se fixam na criança e
dificultam uma visão crítica geral do contexto. Esse discurso, pelo local social em que é
produzido, tem grande poder de convencimento tanto sobre a família quanto sobre a
criança (PATTO, 1992).
O discurso burguês preconceituoso também adentrou a psicologia, que muitas
vezes reforça esses estereótipos e culpabiliza tanto a criança quanto sua família. De um
lado, o ambiente familiar é deficiente, carente de estímulos, de interações, de
afetividade. De outro, a família é “desorganizada”, “desinteressada”, “violenta”
(PATTO, 1992).
A Psicologia tradicional tem contribuído com a pedagogia da exclusão,
afirmando-se na “[...] ideia de que a responsabilidade pelo fracasso escolar e social
encontra-se no indivíduo, em sua família ou em sua raça” (ASBAHR & LOPES, 2006,
p. 4). Com as contribuições de Vygotsky, baseados na teoria histórico-cultural, a
Psicologia começa a ver o fracasso como um problema histórico e social, resultado das
relações concretas e complexas entre os próprios indivíduos e entre os indivíduos e o
ambiente. Dessa forma, os fenômenos devem ser entendidos levando em consideração a
história e as características culturais da sociedade no tempo analisado. Ou seja, o
contexto social ganha maior relevância (ASBAHR & LOPES, 2006).
Vygotsky enfatiza a importância das interações sociais no desenvolvimento do
indivíduo. Ao tratar da criança enquanto sujeito, afirma que é a partir dessas interações
com as pessoas de seu convívio que esta é inserida na cultura. Logo, a relação da
criança com o mundo ocorre através da mediação - um elemento intermediário, que
pode ser tanto outros membros ou com elementos do meio. Esta mediação tem um papel
fundamental na aprendizagem e no desenvolvimento psicológico do indivíduo. Dessa
forma, docentes, enquanto sujeitos mediadores, têm uma função essencial na construção
da relação escola-estudante. A qualidade de seu trabalho em sala de aula, a sua prática
pedagógica influenciam na construção do conhecimento e na relação do sujeito
(estudante) com o objeto (conteúdo, atividade) a ser conhecido e explorado. Uma
relação assertiva traz resultados positivos (LEITE & TAGLIAFERRO, 2005).
Porém, mais do que apenas discutir e problematizar o documentário proposto,
acredito ser relevante pensarmos sobre o Patrick de hoje. Como ele está? Qual sua
situação atual? Será que superou suas dificuldades ou descobriu novas habilidades?
Terminou o ensino básico? O que pensa ele do mundo? E quantos Patricks ainda
existem atualmente?
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REFERÊNCIAS
ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; LOPES, Juliana Silva. A culpa é sua. Psicologia
USP, v. 17, n. 1, p. 53-73, 2006.
PATTO, Maria Helena Souza. A família pobre e a escola pública: anotações sobre um
desencontro. Psicologia USP, v. 3, n. 1-2, p. 107-121, 1992.
QUE letra é essa? A história de Patrick. Direção: Pedro Rocha. Produção: GEEMPA
(Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia da Pesquisa e Ação). Documentário:
25’, 2004. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NtyL4NEEIEE>.
Acesso em: 08 de abril de 2021.