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1. Introdução
No entanto, enquanto que os Estados estão apenas vinculados, em tese, aos princípios
gerais da ordem jurídica internacional e às vinculações voluntárias por cada um
assumidas, as OI’s e mesmo a EU veem a sua capacidade funcionalizada pelo princípio
da atribuição (artigo 5.º/1 TUE). De acordo com este princípio, a União só pode agir no
quadro das atribuições, na terminologia do Tratado, das competências que para ela
forem definidas pelos Estados membros no respetivo tratado institutivo (artigos 4.º/1 e
5.º/1/2 TUE) e, fora desse quadro, apenas podem atuar os EM.
b) Mas, além disso, a organização é internacional, quer dizer, tem a sua fonte
genética num instrumento de direito internacional público – no caso da EU, o
Tratado de Roma e Maastricht.
à Quanto à sua base geográfica, podem ser: gerais (universais) – como exemplo
paradigmático temos a ONU -, regionais - EU - ou locais.
As OI’s podem distinguir-se pela sua estrutura ou modelo jurídicos. Aqui, é clássica
a distinção entre organizações intergovernamentais (ou de cooperação) e organizações
de integração ou supranacionais.
sim na atribuição direta e prevalente aos particulares dos direitos resultantes da norma
internacional. São criadas por um instrumento de direito internacional público que
constitui o seu direito originário, outorgado pelos Estados ou outra organização
internacional. Mas, partindo deste direito, elaboram o seu próprio direito interno,
conjuntamente com as normas internas (constitucionais) dos Estados membros.
Já ao século VI a.C. se pode atribuir o surgimento de cidade (civitas) aos Gregos, aos
quais ainda associamos o primeiro prelúdio do racionalismo, da democracia e da
cidade-estado. Ora, Roma e a sua civilização oferecem uma série de elementos que
transitaram para o património comum de parte significativa da Europa (sobretudo a
ocidental). Entre estes destacam-se a língua, a paz romana e o elemento cristão, que
se veio assumir como principal elemento agregador e constituinte da tradição europeia
do continente. A influência da civilização romano-cristã (a unidade de língua, religião
e sistema jurídico) permitiu que o continente europeu beneficiasse de condições
únicas de união.
Já o século XIX ficou marcado por uma experiência de integração que alguns
consideram poder ser tomada como inspiração para a atual União, a união aduaneira
alemã. É o triunfo do modelo económico do “capitalismo liberal” oitocentista.
✓ Por um lado, o Conselho, órgão de representação dos governos dos EM, passa a
ser o principal órgão de decisão, enquanto a Alta Autoridade da CECA se
transmutou aqui numa Comissão com funções importantes, mas qualitativamente
diversas.
✓ Por outro lado, os poderes do Tribunal de Justiça não são formalmente definidos
com a mesma extensão.
Na evolução das Comunidades e/ou União Europeias, desde a sua fundação até ao
momento atual, podemos descrever três grandes fases, embora não haja unanimidade
relativamente à delimitação temporal/substancial.
Na vida dos órgãos principais (e, como tal, das Comunidades) também se operam
então acontecimentos significativos. A França desencadeia a conhecida “crise da
cadeira vazia” (1965), manifestação que foi da convicção gaulista no papel dos EM nas
Comunidades Europeias. Esta crise acabou por resolver-se diplomaticamente, à
margem das Comunidades, com a assinatura do “compromisso” ou “acordo de
Luxemburgo”, que continha um “agreement to disagree”, com importantes
implicações no processo comunitário de decisão. Este acordo foi causa de uma
importante torção dos procedimentos decisórios previstos nos tratados, por um lado
atenuando a dimensão integradora e supranacional que resulta da aceitação do
princípio maioritário e constituindo, por outro lado, um documento de difícil
qualificação jurídica, não existindo certezas quanto ao seu peso normativo específico
– para uns é costume (R. Moura Ramos), para outros trata-se de um acordo de
cavalheiros (J. Mota de Campos) ou, por fim, um ato sem qualquer relevância jurídica.
Por outro lado, a cimeira de Haia de 1969 concretizou uma significativa mudança dos
sentidos prevalecentes da história comunitária. Dá-se o lançamento de três objetivos
Nos seus objetivos, o AUE quer dar resposta aos desafios da cooperação política
encetados de forma mais instante a partir de meados dos anos 70, mas que
culminaram no projeto Spinelli de 1984. Não tendo sido possível obter, na Conferência
Intergovernamental que o preparou, o consenso necessário à criação da EU, introduz-
se essa ideia na própria base do QUE, como realidade em vias de construção. Esta
indicação é extraordinariamente importante, não só por revelar pistas fundamentais
para a compreensão do passo seguinte que a integração europeia formalmente dará,
como por oferecer já o modelo de inserção e relação dessa União Europeia a criar as
Comunidades.
Por conseguinte:
1) O AUE procede à institucionalização do Conselho Europeu, sendo este órgão
concebido como instância de cooperação política, não sujeita aos
procedimentos e constrangimentos dos órgãos das Comunidades.
4) Prevê-se a criação de uma nova instância jurisdicional que pudesse colaborar com
o Tribunal de Justiça no controlo da aplicação e, mais geralmente, do respeito
pelo direito comunitário: o futuro Tribunal de Primeira Instância (atual Tribunal
Geral).
No final dos anos 80 do século XX, assistiu-se a uma série de alterações políticas que
redefiniram a geopolítica europeia e mundial.
O Tratado de Maastricht tem como uma primeira grande novidade a criação da União
Europeia e que, na expressão de Rui Moura Ramos, elevou o processo de integração
“ao patamar superior do político”. No entanto, esta novidade não implicou uma
mutação essencial da natureza da Europa criada pelos tratados comunitários uma vez
que não há uma rutura total com o passado. A União não substitui as Comunidades
Europeias, antes coexistindo com elas numa posição dúbia.
Resolvendo a velha disputa quanto ao modelo de criação da EU, o tratado veio seguir
a linha começada com o AUE, apresentando o tratado semelhanças com aquele outro
instrumento. Por conseguinte, o tratado acolheu o mesmo esquema, criando a União
Assim, a razão desta modificação nomológica deve procurar-se noutros pontos, como
a abertura aos domínios da cidadania e dos direitos a este estatuto inerentes, a
previsão de políticas de dimensão económica desprezível ou o próprio reforço do
sistema orgânico comunitário.
2) A reforma institucional
8. Tratado de Amsterdão
9. TRATADO DE NICE
Esta declaração foi ainda mais ambiciosa lançando outras questões e apontando para
“a prazo aprovação na União de um texto constitucional”.
O texto do tratado que estabelece a Constituição para a União foi objeto de acordo
político no Conselho Europeu de Bruxelas e assinado pelos então 25 cinco Estados
membros. A Constituição Europeia representava uma revolução no enquadramento
jurídico e político da integração europeia, com reflexos nos próprios ordenamentos
jurídico-constitucionais nacionais.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da União era também uma figura nova,
superando em muito o então existente Alto Representante.
A total revolução do quadro das fontes de direito interno da União, em relação à União
Europeia e Comunidade Europeia, era outro fator a assinalar.
Ademais, eram previstas Leis e Leis-quadro e, pela primeira vez, era desenhada
formalmente uma hierarquia de atos comunitários, pela separação clara entre atos
com a natureza legislativa e atos com natureza administrativa.
PARTE II) A parte II da Constituição Europeia era integralmente ocupada com a Carta
dos Direitos Fundamentais da União.
PARTE IV) A parte quatro continha as disposições gerais e finais, revogando os tratados
da Comunidade Europeia e da União Europeia, bem como, salvo ressalva expressa,
todos os tratados que os alteraram ou completaram.
Por seu turno, o artigo IV-438 assegurava que é a nova União Europeia sucedia
simultaneamente à União Europeia e à Comunidade Europeia, determinando a
continuidade das instituições e dos atos por estas adotados.
A Constituição soçobrou por não ter sido possível completar o processo de ratificação
por todos os Estados membros signatários.
O sucesso da CIG/2007 radica tanto no modo como foi preparada pela presidência
alemã e conduzida pela presidência portuguesa como no consenso latente entre
Estados membros, reforçado durante o período de reflexão, sobre a necessidade de
recuperar, na medida do democraticamente sustentável, o defunto tratado
Constitucional.
Mas, apesar das diferenças, não deixa de ser verdade que o processo de revisão
conducente ao Tratado de Lisboa constitui um sucedâneo do projeto anterior - o da
Constituição Europeia.
Esta mudança não pode, no entanto, ser considerada apenas na perspetiva formal,
antes tem importantes implicações, quer na estrutura dos tratados, quero materiais.
É, portanto, neste contexto o da medida exata da ambição e do desafio que representa
o tratado Lisboa: unificar, sobre o chapéu da UE, duas organizações que, na forma e
prática, foram construídas pelos mesmos sujeitos para funcionarem com objetivos e
atribuições diversas e de acordo com modelos organizacionais que, se formalmente
unificados, se revelam claramente diferenciados: A Comunidade, como instância de
integração económica e social; a União, como instância de cooperação e coordenação
políticas.
E, do ponto vista jurídico, como se fez esta modificação? Não é apenas a óbvia
supressão da palavra Comunidade que simboliza essa absorção, assim como também
o não é expressa afirmação de que a União substitui-se e sucede a Comunidade
Europeia. É também, por exemplo, a circunstância de normas consideradas
fundamentais para a Conceição e arquitetura da União Europeia terem (A) passado do
Tratado da Comunidade Europeia para o Tratado da União e (B) serem introduzidas de
novo no tratado da União Europeia, em forma próxima que tinham na Constituição
Europeia.
Questão diversa é a de saber se, do ponto de vista do direito e dos objetivos que se
assinalam à nova União Europeia, se pode extrair a conclusão de que a lógica
comunitária prevaleceu sobre a da União. A resposta a esta questão depende de uma
análise sobre o impacto do Tratado de Lisboa nos domínios que, até 30 novembro
2009, eram atribuição específica da União Europeia: política externa e de segurança
comum e cooperação policial e cooperação judiciária em matéria penal.
Comecemos pela ação externa da União. A definição de interesses e objetivos
estratégicos da União continua a pertencer ao Conselho Europeu, deliberando por
unanimidade, revelando que não é aqui que os Estados membros cederam ao modelo
comunitário. E o mesmo se acentua no quadro específico da PESC, que se apresenta
agora como cobrindo todos os domínios da política externa, numa cisão clara entre a
política externa e as questões de segurança. Aqui, a definição e execução compete ao
Conselho Europeu e ao Conselho, deliberam segundo o modelo unanimitário.
Assim, numa primeira conclusão, dir-se-ia que a fusão entre União e a Comunidade,
com a incorporação desta naquela, é complementada com alguns passos no sentido
absorção das áreas materiais de intervenção da União pela lógica de funcionamento até
há pouco característica da Comunidade Europeia. Importaria por isso ir agora mais longe
e analisar a distribuição do poder subjacente ao novo edifício da União Europeia, para
verificar se, na repartição ou limitação de atribuições entre Estados membros e a União,
se assinala um reforço dos poderes desta em detrimento dos Estados.
dos direitos dos particulares. Esse impacto é ainda acrescido pela circunstância de o
Tratado da União Europeia incorporar a jurisprudência comunitária segundo a qual os
Estados membros estabelecem as vias de recurso necessárias para assegurar uma tutela
jurisdicional efetiva nos domínios abrangidos pelo direito da União. É neste domínio,
aliás, que o Tratado de Lisboa também introduz alterações com impacto significativo,
nomeadamente: a previsão do controlo da legalidade de medidas restritivas aplicadas a
particulares no âmbito da PESC, o processo simplificado de ação por incumprimento por
não comunicação das medidas de transposição de uma diretiva nos casos de inexecução
de um acórdão como condenatório e, por fim, a extensão da legitimidade dos
particulares no contencioso de anulação. Relativamente a este último ponto, releva o
Acórdão Union de Pequeños Agricultores.
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
O Tratado de Lisboa superou esta situação, conquanto não possa deixar de se referir a
circunstância de o quadro institucional deixar de ser qualificado com único.
Questão diversa, uma vez descoberto o elenco dos órgãos de base (vulgo,
“instituições”) da EU, era a de determinar o critério da sua organização e da repartição
de poderes/competências entre eles.
das competências de cada órgão definir o seu papel na realização dos objetivos e
atribuições comunitárias. Assim, partia-se da distinção fundamental entre órgãos de
direção e execução e órgãos de controlo.
2. CONSELHO EUROPEU
2.1. Composição: A composição do Conselho Europeu é fixa, embora não tenha sido
sempre a mesma. É esta rigidez constitutiva que, aliás, permite distingui-lo mais
claramente de uma próxima formação do Conselho. Hoje, o Conselho Europeu é
composto por Chefes de Estado ou de Governo dos Estados membros, bem como pelo
seu Presidente e pelo Presidente da Comissão. Apenas o Alto Representante participa
nos seus trabalhos sem ser membro de pleno direito, parecendo caber individualmente
aos membros do Conselho Europeu decidir se, em razão da ordem de trabalhos,
pretendem ser assistidos por um ministro ou por um comissário.
2.2. Sede: Desde 1 de maio de 2004, o Conselho Europeu tem a sua sede em
Bruxelas.
2.3. Reuniões: o TL vem definir a regra quanto às reuniões do Conselho Europeu. Assim
sendo, reúne-se pelo menos duas vezes por semestre.
O Conselho Europeu não exerce função legislativa (art. 15.º/1 TUE), mas também não
pode dizer-se que apenas afirma posições políticas. O TL reconhece ao Conselho
Europeu competência para a adoção de atos jurídicos.
3. PARLAMENTO EUROPEU
3.5. Deliberação: o PE delibera por maioria absoluta dos votos expressos (231.º TFUE),
salvo disposição em contrário dos Tratados. Contudo, este regra nada nos diz em
definitivo, porquanto o quórum constitutivo (um terço dos seus membros) é fixado no
respetivo regulamento interno (198.º e 149.º Regimento). Em casos especiais, os
Tratados preveem maiorias deliberativas diversas. Assim:
✓ É necessária uma dupla maioria (de dois terços dos votos expressos e a maioria
dos deputados eleitos) para a aprovação de uma moção de censura à Comissão
Europeia (234.º TFUE) ou de sanções aos EM por violação do art. 7.º TUE (354.º
TFUE).
✓ Uma dupla maioria, mais exigente (maioria dos deputados e três quintos dos
votos expressos) pode confirmar alterações apresentadas ao projeto de
orçamento do Conselho e que por este tenham sido antes rejeitadas (314.º/7
al. c) TFUE).
O art. 14.º TUE enuncia as suas principais competências. Fala-se, em primeiro lugar,
da função legislativa, distinguindo-a da função orçamental e das funções de controlo
político e consultivas.
Comissão, fiscalizando o modo com esta exercia as suas funções e, em casos limite,
demitindo-a (que nunca o fez).
4. CONSELHO
4.5. Competências: Podemos, desde já, concluir, então, que antes do TL a questão das
competências do Conselho não podia ser descrita e analisada de modo unitário, dado
que o seu enquadramento variava de forma significativa em cada uma das
organizações europeias. Contudo, o Conselho sempre foi o órgão legislativo por
excelência na Comunidade Europeia e na União Europeia. E se é certo que assim
continua a ser na atual EU, mesmo depois do TL, não é menos apropriado chamar a
atenção para a crescente partilha do poder legislativo com o PE, mormente no
processo legislativo ordinário (remissão para as matérias partilhadas entre os dois
referidas na secção relativa ao PE).
O Conselho exerce ainda o poder de execução dos seus atos legislativos. Nos termos
do artigo 290.º TFUE, o legislador (seja o Conselho e o PE ou apenas um destes órgãos)
pode atribuir à Comissão competência para adotar atos delegados, definidos como
“atos não legislativos de alcance geral que completem ou alterem certos elementos
não essenciais do ato legislativo”, que “delimitem explicitamente os objetivos, o
conteúdo, o âmbito de aplicação e o período de vigência da delegação de poderes. Os
elementos essenciais de cada domínio são reservados ao ato legislativo e não podem,
portanto, ser objeto de delegação de poderes”.
5. COMISSÃO EUROPEIA
Tal como resulta dos Tratados (17.º TUE e 250.º TFUE), a Comissão Europeia é
habitualmente apresentada como um órgão de indivíduos, de funcionamento colegial
e que representa o interesse geral da EU. Órgão de pessoas, pois os seus membros
devem ser escolhidos segundo critérios de independência, empenhamento europeu
(critério introduzido no TL) e competência, qualidades que se deverão manter intactas
quer durante o exercício de funções, quer mesmo depois da sua cessação, sob pena de
perda de benefícios previstos no tratado (245.º TFUE). É também um órgão de
funcionamento colegial pois as suas deliberações são adotadas com independência e
por maioria dos seus membros (250.º TFUE).
5.2. Mandato: o mandato da Comissão Europeia tem a duração de cinco anos (17.º/3
TUE), terminando após o início de cada legislatura do Parlamento Europeu. Trata-se de
mais um signo da responsabilidade política da Comissão perante cada formação do PE,
poiso processo de designação e nomeação ocorre já perante a formação parlamentar
que acompanhará – quase até ao fim – o ciclo normal de vida de cada Comissão. O
mandato de cada comissário pode ainda terminar por várias razões. O artigo 246.º
TFUE enumera-as.
ampla autonomia, que tende a ser mesmo orgânica, com a preeminência que o tratado
lhe reconhece em várias disposições (prima supra partes), nomeadamente: na forma
da sua escolha separada e eleição pelo PE, na sua qualidade de membro do Conselho
Europeu, entre outras nuances.
O Presidente da Comissão Europeia dispõe por isso de uma legitimidade própria face
à da Comissão Europeia enquanto órgão. A seguir estão os vice-presidentes, hoje
nomeados pelo Presidente, exceto quanto ao VicePresidente responsável pela ação
externa, que é o Alto Representante. Seguem-se os restantes membros da Comissão.
Compete ainda ao Presidente determinar a organização interna da Comissão (incluindo
a possível criação de grupos de membros da Comissão), estruturar e distribuir os
diversos portfolios pelos seus membros, conferindo-lhe ainda o artigo 248.º TFUE o
poder de “alterar a distribuição dessas responsabilidades no decurso do mandato”. Em
particular, cumpre notar que a responsabilidade política da própria atuação dos
comissários recai sobre o Presidente (248.º, último período, TFUE).
6. TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Resulta assim deste Tratado, embora com alguma imperfeição técnica, que a
designação Tribunal de Justiça da União Europeia tende a identificar o conjunto de
tribunais da União, sendo que referências específicas a tribunais concretos são feitas
individualmente.
Sendo garante do respeito pelo direito (19.º/1 TUE), desempenha uma parte
substancial das funções de jurisdictio no sistema jurídico da União, intervindo a
diversos títulos e em variadas vestes, consoante a matéria, o tipo de litigiosidade e
mesmo o papel não contencioso que os sistema lhe reconhece. Salienta a doutrina que
pode exercer funções próprias de uma jurisdição ordinária, jurisdição internacional,
jurisdição administrativa e mesmo jurisdição constitucional.
O TJ é composto de um juiz por cada EM (19.º/2 1.º período TUE), respeitando-se neste
tribunal o princípio da estrita igualdade entre EM, sendo por isso composto, neste
momento, por vinte e oito juízes. Porém, nem, sempre assim foi, a título de exemplo
aquando da adesão da Grécia.
O mandato dos juízes do TJ tema duração de seis anos, sendo que, de três em três
anos, se procede á substituição parcial de catorze e treze juízes, respetivamente, nas
condições reguladas. O mandato pode ser renovado, sem qualquer limitação e, nessa
renovação, não cabe qualquer papel ao Comité do artigo 255.º TFUE.
O Presidente do TJ (39.º do Estatuto, 8.º RPTJ) é eleito pelos seus pares por um período
de três anos (253.º TFUE), podendo ser reeleito. Intervém no processo de designação
e organização do Comité referido no artigo 255.º TFUE. Ademais, as renúncias aos
mandatos dos juízes são a ele dirigidas (5.º Estatuto TJ), competindo-lhe um conjunto
importante de tarefas e competências no funcionamento do Tribunal.
Entre as razões habitualmente indicadas para a sua criação estava a opção de não
aumentar de modo significativo o número de juízes do Tribunal de Justiça, conjugada
com a necessária resposta aos crescentes problemas colocados pelo excesso de
volume de trabalho do TJ. A sua criação permitiu ainda garantir um princípio de dupla
jurisdição no contencioso direto dos particulares, reforçando o princípio da proteção
jurisdicional efetiva e, por outro lado, possibilitando ao TJ concentrar-se ainda mais na
sua função essencial de intérprete e garante da uniformidade e eficácia do
ordenamento jurídico da União.
A designação dos juízes não depende apenas da escolha dos EM, já que o TL introduziu
no processo o chamado Comité do artigo 255.º TFUE, composto por 7 personalidades
e que dá parecer sobre a adequação dos nomes indicados pelos EM que, a final, os
nomeiam por acordo comum. Os juízes são escolhidos segundo critérios de
O Presidente do TG também é eleito pelos seus pares para um mandato de três anos
(254.º TFUE e 9.º RPTJ) e dispõe igualmente de poderes de direção e organização (10.º
RPTJ, entre outros). Contrariamente ao que sucede com o TJ, os juízes do TG podem
ser chamados a desempenhar o papel de advogados-gerias perante o próprio tribunal
(49.º Estatuto e 3.º/3 e 30.º e 31.º RPTJ).
Composição:
O Conselho do BCE é composto pelos membros da comissão executiva do BCE e
pelos governadores dos bancos centrais nacionais dos países cuja moeda seja o euro
(283º/1 TFUE). Dada a sua composição, o conselho do BCE não tem um mandato
definido, nem uma composição fixa do ponto de vista individual. Dispõe de poder de
auto-organização.
O Presidente do Conselho do BCE pode participar nas reuniões do Conselho da
União Europeia quando este deliberar sobre questões relativas aos objetivos e
atribuições do SEBC. Contudo, parece que tal direito de participação depende de
convite do Conselho.
✓ Fixa as taxas de juro dos empréstimos que concede aos bancos comerciais na
zona euro, controlando, desta forma, a oferta monetária e a inflação
Como funciona? O BCE trabalha com os bancos centrais de todos os países da UE.
Juntos, constituem o Sistema Europeu de Bancos Centrais. O BCE dirige a cooperação
entre os bancos centrais na zona euro, constituindo o Eurosistema.
O Tribunal de Contas enquanto tal foi criado pelo Tratado de Bruxelas de 1975,
tendo assumido a veste de instituição com o TM.
Competências:
Além disso, publica pareceres sobre propostas legislativas que têm incidência na
gestão financeira da UE, assim como documentos de opinião e análise e outras
publicações sobre finanças públicas da UE.
• Como controla;
Funcionamento:
Responsabilidades:
O Serviço Europeu para a Ação Externa, criado no 27º/3 TL, funciona sobre
autoridade do Alto Representante. Este é considerado um órgão da União Europeia
funcionalmente autónomo (1º/2 da decisão 2010/427/UE de 26/07), sob autoridade
do AR e separado do Secretariado-Geral do Conselho e da Comissão, com a capacidade
jurídica necessária para desempenhar as suas atribuições e alcançar os seus objetivos,
que visam a salvaguarda do interesse da União e não dos EM.
Através do Comité das Regiões Europeu as regiões e as cidades têm voz ativa no
processo legislativo europeu, garantindo esta instância que os interesses e as
necessidades das autoridades regionais e locais são devidamente considerados.
• Se tal não acontecer, o Comité das Regiões Europeu pode interpor uma ação
junto do Tribunal de Justiça.
O Comité das Regiões Europeu designa um relator (de entre os seus membros)
encarregado de consultar as partes interessadas e de elaborar um parecer. O texto é
discutido e aprovado pela comissão do Comité das Regiões Europeu responsável pela
área política em causa. O parecer é então apresentado a todos os membros em sessão
plenária, onde é submetido a votação com vista à respetiva alteração e adoção. Uma
vez aprovado, o parecer é divulgado e enviado a às instituições europeias.
6. EUROPOL
A EUROPOL tem por missão apoiar e reforçar a ação das autoridades policiais e dos
outros serviços responsáveis pela aplicação da lei nos Estados-membros, bem como a
cooperação entre essas autoridades na prevenção das formas graves de criminalidade
lesivas de um interesse comum (art. 88º TFUE).
7. EUROJUST
A EUROJUST tem por missão apoiar e reforçar a coordenação e a cooperação entre
as autoridades nacionais competentes para a investigação e o exercício da ação penal
em matéria de criminalidade grave que afete dois ou mais Estados-membros (art. 85º
TFUE).
A EUROJUST é um organismo da União Europeia criado em 2002 para estimular e
melhorar a coordenação entre as autoridades judiciárias dos Estados-Membros da
União Europeia competentes para a investigação e o exercício da ação penal
relacionados com a criminalidade grave organizada de natureza transnacional.
Constitui-se pelo Banco Central Europeu e pelos Bancos Centrais Nacionais, sendo
gerido pelos órgãos decisórios do BCE – 282º/1 e 107º/3 TFUE. Encontramos no 127º
TFUE os seus objetivos e atribuições.
1. Considerações Gerais
2. Processos legislativos
Considerações Gerais
A reforma que o Tratado de Lisboa introduziu nos processos decisórios da União
Europeia não se reconduz a uma implementação do efeito de fusão entre União e
Comunidade, mas tem como elementos fundamentais a supressão de um conjunto
variado de procedimentos tradicionais de decisão na Comunidade. O Tratado de Lisboa
à A iniciativa da Comissão (artigo 289º, nº1 + artigos 294º, nº2 – ambos do TFUE; artigo
17º, n2º TUE – Lisboa);
à A adoção conjunta pelo Parlamento Europeu e Conselho (artigo 289º, nº1; artigo
294º, nºs 4 e 6 a 12; artigos 15º, nº1, e 16º, nº1 TUE – Lisboa);
Este leque de elementos pode não estar sempre presente. Pode suceder, em
primeiro lugar, que o processo legislativo ordinário se aplique sem precedência
obrigatória de proposta da Comissão. O artigo 17º, nº2 TUE – Lisboa ressalva a existência
de “disposição em contrário dos Tratados” e o artigo 294º TFUE contêm disposições
específicas” aplicáveis aos casos em que um acto legislativo seja submetido ao processo
legislativo ordinário “por iniciativa de um grupo de Estados membros, por
recomendação do Banco Central Europeu ou a pedido do Tribunal de Justiça”. Em
segundo lugar, o Tratado também prevê que o processo legislativo ordinário seja
utilizado para a adoção de “orientações”, “ações” ou “projetos comuns” (v. artigo 172º
TFUE), “programas gerais” (artigo 192º, nº3 TFUE) ou até medidas que excluam
“harmonização das disposições legislativas e regulamentares do Estado membro”
(artigo 195º, nº2 TFUE). Noutras hipóteses ainda, o tratado impõe que o processo
legislativo ordinário utilize um tipo específico de ato, como regulamento. Noutros casos,
ainda, o processo legislativo ordinário sofre alguns desvios no seu próprio
funcionamento.
A aplicação do processo legislativo ordinário pode também ser decidida (i) pelo
Conselho Europeu, nos casos em que originalmente os tratados prevejam a aplicação
de um processo legislativo especial, após a decisão do Conselho Europeu, segundo o
procedimento de revisão simplificado previsto no artigo 48º, nº7 TUE – Lisboa; ou (ii)
pelo próprio Conselho, por unanimidade, em relação a certas disposições de política
social (artigo 153º, nº2 TFUE) ou de política de ambiente (artigo 192º, nº2 TFUE), no
quadro das cooperações reforçadas (artigo 333º, nº2 TFUE) ou para a definição do
Estatuto dos Funcionários (artigo 336º TFUE). Os actos adoptados segundo o processo
legislativo ordinário só estão perfeitos quando forem assinados pelos presidentes do
Parlamento Europeu e do Conselho (artigo 297º, nº1 TFUE), sendo igualmente condição
da sua validade a publicação no Jornal Oficial da União Europeia (artigo 297º, nº4 TFUE).
A criação do processo legislativo ordinário é uma modificação extremamente, relevante
da ordem jurídica da União.
São também actos legislativos aqueles que são aprovados através de processo
legislativo especial. A expressão “processo legislativo especial”, segundo o artigo 289º,
nº2 TFUE, representa aquelas situações em que um acto vinculativo da União (um
regulamento, uma diretiva ou uma decisão) é adotado por apenas um órgão
(Parlamento Europeu ou o Conselho) mas com a participação do outro (o Conselho ou
o Parlamento Europeu). Essa participação pode ser diversa, consistindo na aprovação
ou na consulta do outro órgão, normalmente o Parlamento Europeu. Em muitas
hipóteses, a intervenção do Conselho ou, sobretudo, do Parlamento Europeu é
meramente consultiva.
sejam assinados pelo “Presidente da instituição que os adotou” (artigo 297º, nº1 TFUE),
aplicando-se-lhe as demais disposições previstas em geral para os actos legislativos.
à As alterações são ratificadas por todos os Estados membros, “em conformidade com
as respetivas normas constitucionais”, após o que podem entrar em vigor;
competências que lhes foram conferidas pelos Estados nos tratados, tal poderia a levar
a pensar-se o sistema jurídico da União como um sistema fechado, em que as lacunas
seriam insuscetíveis de integração. Apesar de a União Europeia não poder criar a sua
própria competência, desde cedo que se admite que a falta de previsão de competência
ou dos mecanismos de ação não foi voluntária, permitindo-se a integração de lacunas
do próprio direito originário.
Questão diversa e mais antiga, é a questão: poderão os tratados ser revistos sem
respeitar o procedimento comum previsto no artigo 48º TUE – Lisboa? O problema
engloba dois tipos de situações. A primeira, saber se existem nos tratados outros
mecanismos de revisão, mais específicos, que derroguem o artigo 48º UE. A segunda, a
determinação sobre se é possível e juridicamente legítima a revisão no quadro
intergovernamental, sem o recurso à fase institucional do processo. É inegável que,
tanto antes como agora, os tratados prevêem procedimentos específicos que permitem
a revisão do Tratado em termos diversos daqueles que resultam do artigo 48º TUE.
Outra questão era a de saber se os Estados membros podem optar por uma
revisão puramente intergovernamental, recusando a aplicação do procedimento do
artigo 48º TUE – Lisboa. Se esta hipótese é plausível, diverso é o entendimento quanto
ao interesse dos Estados membros nessa hipótese. Primeiro, representaria uma violação
clara dos tratados e do princípio pacta sunt servanda, que poderia ter como
consequências, o desencadear de ações por incumprimento contra os Estados
membros, mas também a própria consequência auto-fágica da anulação do ato de
revisão, por força das competências do Tribunal de Justiça. Em segundo, dado o peso
dos órgãos da União na atual configuração do dito processo, não se vê qual o interesse
nessa solução.
É, ainda, de salientar a criação de uma tipologia mais clara, distinguindo entre “actos
legislativos”, “actos não legislativos”, “actos delegados” e “actos de execução”. Tal
deveu-se quer a uma intenção de simplificação, como a motivações ligadas ao reforço
da legitimidade democrática da legislação europeia.
O artigo 296º TFUE prevê um conjunto de disposições práticas relativas aos actos
jurídicos da União, (i) enunciando o critério geral da escolha da forma do acto, (ii)
estabelecendo a obrigação de fundamentação e (iii) o princípio da precedência do
processo.
Como tem sido afirmado pela doutrina, o que distingue um acto legislativo de
um acto não legislativo é uma circunstância que é externa ao acto: o seu processo de
formação. Não é apenas o nome (acto legislativo) ou o processo de formação (processo
legislativo) que os distingue. Os actos legislativos devem ser assinados pelo legislador e
publicados no Jornal Oficial da União Europeia (artigo 297º, nº1 TFUE) para se poder
considerar o seu processo legislativo, não só eficaz, mas como válido.
A categoria dos actos não legislativos começa por ter um carácter residual e
heterogéneo. Residual porque abrange todos os actos que não são adotados por um
processo legislativo (artigo 289º, nº3 TFUE). Heterogéneo porque numa tal classificação
tanto caem todos os actos de alcance geral, incluindo “atos regulamentares” – que
podem assumir a forma de actos delegados, de execução ou outros – como os actos
individuais. Particularmente, não são legislativos os regulamentos, diretivas ou decisões
que não são adotados de acordo com um processo legislativo.
De acordo com a Comissão Europeia, a aplicação do artigo 290º TFUE não carece
de regulamentação legislativa genérica pelo legislador (Conselho e Parlamento
Europeu), sendo imediatamente aplicável, conquanto, na linha das conclusões adotadas
pelo Parlamento Europeu, na sua resolução de 7 de maio de 2009, a Comissão tenha
aderido à conveniência de ser definida uma “fórmula-tipo” para as delegações de
poderes. O âmbito de aplicação do artigo 290º implica a consideração das relações com
os procedimentos previstos na Decisão 1999/468/CE e com o artigo 291º TFUE, pois,
seguindo ainda a Comissão, “é em torno dos artigos 290º e 291º que deve ser
estabelecido o quadro jurídico que substituirá o chamado sistema de “comitologia”.
Impõe-se referir, por último, que a adoção de actos delegados está sujeita a um
princípio de tipicidade formal: todos os atos delegados devem ter inserido, no título, o
adjetivo “delegado” ou “delegada” (artigo 290º, nº4 TFUE).
Esta matéria constitui uma antiga, ampla e complexa temática em que joga um
papel especial a questão da atribuição da União, dos limites do exercício do poder
administrativo diretamente pela Comissão Europeia, por instâncias por si controladas,
como as agências, pelas administrações nacionais, bem como a interdependência entre
ambos os níveis.
Convêm salientar que a vigência interna de uma Diretiva não está totalmente
dependente da sua transposição, podendo os cidadãos e empresas invocar certos
direitos e obrigações delas emanados, mesmo na falta de um tal acto, ainda que apenas
contra o Estado. A razão disto é, simplesmente, o facto de a Diretiva haver gerado, para
o Estado, uma vinculação imediata, a partir do momento em que, também em relação
a ela, se cumpriram os requisitos acima mencionados para os regulamentos – adoção
pelo órgão competente (artigo 288º TFUE, £ 1), fundamentação (artigo 296º TFUE),
publicação ou notificação (artigo 297º TFUE) e entrada em vigor (artigo 297º TFUE).
Se o Estado membro estava obrigado a transpor a Diretiva e não o faz (no prazo
por esta fixado), coloca-se numa situação de incumprimento, sancionável
contenciosamente (artigo 258º TFUE) e não pode, no entendimento constante do
Tribunal de Justiça, prevalecer-se perante os particulares do seu próprio
incumprimento. A jurisprudência constante do Tribunal de Justiça é clara, sendo a
seguinte: caso um Estado membro não tenha tomado as medidas de execução
necessárias ou tenha adotado medidas não conformes com uma diretiva, o Tribunal
reconheceu, ..., o direito de os particulares invocarem em juízo uma diretiva contra um
Estado membro faltoso. Embora esta garantia mínima não possa servir de justificação
a um Estado membro para não tomar, ela pode, contudo, ter como efeito habilitar os
particulares a invocar, contra um Estado membro, as disposições materiais da Diretiva.
Ponto diverso é o de saber se, não transposta a Diretiva pelo Estado membro
no praxo fixado, o efeito direto poderá ser invocado pelo Estado contra um particular?
A resposta é negativa. De acordo com a jurisprudência constante do Tribunal de Justiça
da União Europeia, uma diretiva não transposta “não pode, só por si, criar obrigações
para um particular”, não podendo contra estes (particulares) ser invocada, dada que o
efeito direto apenas “existe a favor dos particulares e relativamente aos Estados
membros destinatários”.
Por último, mas não menos importante, deve-se fazer referência ao modo de
incorporação das Diretivas na ordem jurídico-constitucional portuguesa. Num
primeiro momento, é pacífico que as Diretivas vigoram na ordem internacional a partir
da sua adoção, nos termos previstos nos Tratados, pelos órgãos competentes da União
Europeia. À luz do artigo 8º, nº4, da CRP, tal poderia, até, constituir fundamento
suficiente para a sua vigência interna. Contudo, pode-se também considerar que o
fundamento normativo-constitucional para a sua incorporação e vigência interna reside
também no próprio artigo 8º, nº3, da Constituição. Sendo assim, o legislador nacional
Dito isto, importa realçar que o valor jurídico de um acto não depende da sua
designação, mas do seu conteúdo, pelo que o facto de um acto ter uma denominação
que inculque estar desprovido de vinculatividade jurídica não exclui que a sua análise
revele a produção de efeitos jurídicos, com as consequências inerentes.
1. Princípio da Autonomia
2. Princípio da Atribuição
Nos tratados, o TUE – Lisboa, o artigo 5º, onde se lê que “a delimitação das
competências da União rege-se pelo princípio da atribuição” (nº1) e que, “em
virtude do princípio da atribuição, a União atua unicamente dentro dos limites das
competências que os Estados membros lhe tenham atribuído nos Tratados para
alcançar os objetivos fixados por estes últimos. As competências que não sejam
atribuídas à União dos Tratados pertencem aos Estados membros” (nº2).
Se vimos ser praticamente pacífico o princípio, o certo é que não falta quem
chame a atenção para o facto de, através de diversos mecanismos, a União
Europeia, historicamente, ir além, do que seria permitido por este princípio. Não
cumpre analisá-los aqui, mas, de todo o modo, é possível referir aqueles a que a
doutrina presta especial atenção:
à Mecanismo do artigo 352º TFUE (anteriores artigos 235º CEE e 308º CE);
Mas apesar da sua afirmação explícita ser algo tardia, o que é certo é já o
podemos entrever em actos políticos anteriores adoptados pelos órgãos da União e
pelos Estados membros, e também está subjacente a toda a problemática da
proteção dos direitos fundamentais pela ordem jurídica da União. Além disso,
transpareceu depois – numa designação mais ampla – no artigo 2º do TUE – Lisboa,
ao afirmar como valor fundamental da União o princípio do Estado de Direito, bem
como, em certo sentido ligado ao princípio da tutela jurisdicional efetiva, no artigo
19º do TUE – Lisboa, ao estabelecer que “o Tribunal de Justiça garante o respeito do
direito na interpretação e aplicação dos tratados” e que “os Estados membros
estabelecem as vias de recurso necessárias para assegurar uma tutela jurisdicional
efetiva nos domínios abrangidos pelo Direito da União”.
O que se deve sumariamente entender por este princípio? Antes de mais, que
funciona como garantia dos direitos individuais e como limite à ação dos órgãos da
União. Mas também é uma afirmação a subordinação ao Direito de toda a ação da
União e dos seus órgãos, ou seja, a ideia da rule of law característica essencial e
indeclinável das sociedades democráticas.
Com o Tratado de Lisboa são dados novos passos no sentido do reforço, numa
perspetiva ampla, do princípio da “subordinação ao Direito” (rule of law) de todos
os actos adotados por instituições, órgãos e organismos da nova União Europeia.
Nesta perspetiva, assinalam-se vários sinais resultantes de algumas alterações
introduzidas. Por exemplo, em primeiro lugar, na clarificação das funções de
controlo da aplicação e legalidade no espaço da União. O Tratado estabelece que a
“Comissão controla a aplicação do direito da União, sob a fiscalização do Tribunal de
Justiça da União” (artigo 17º, nº1 TUE – Lisboa). Em segundo lugar, a introdução,
indireta, da Carta dos Direitos Fundamentais, pelo artigo 6º, nº1 do TUE – Lisboa: “A
União reconhece os direitos, liberdades e os princípios enunciados na Carta dos
Direitos Fundamentais da União Europeia, ..., e que tem o mesmo valor jurídico que
4. Princípio da Subsidiariedade
5. Princípio da Proporcionalidade
Ainda assim, poderá dizer-se que também a nível da União ele obriga a União a
atuar “... pelo meio que represente um menor sacrífico para as posições jurídicas”
dos Estados membros, a nível central, mas também regional ou local, como o tratado
agora expressamente afirma (artigo 5º, nº4 TUE – Lisboa).
6. Princípio da Preempção
De acordo com o artigo 2º, nº2, TFUE, “quando os Tratados atribuem à União
competência partilhada com os Estados membros em determinado domínio, a União
e os Estados membros podem legislar e adotar atos juridicamente vinculativos nesse
domínio. Os Estados membros exercem a sua competência na medida em que a
União não tenha exercido a sua. Os Estados membros voltam a exercer a sua
competência na medida em que a União tenha decidido deixar de exercer a sua”.
Uma última nota cumpre fornecer porque, habitualmente, entre estes princípios
é costume referir o princípio da aplicabilidade direta. Para nós, contudo, o conceito
de aplicabilidade direta é um conceito técnico preciso, que se reporta a um acto
juridicamente vinculativo e típico da União Europeia. A obrigação de garantir a plena
eficácia do direito da União Europeia tem múltiplas dimensões, podendo envolver a
desaplicação de normas nacionais, qualquer que seja a sua dignidade formal, por um
lado. Mas também, por outro lado, resultará evidentemente que a plena eficácia do
direito da União tem também a virtualidade de interferir, se preciso for, no nível de
autonomia do legislador nacional.
Em suma, o Tribunal de Justiça reconhece que o artigo 30º TFUE, “produz efeitos
imediatos e atribuiu direitos individuais que os órgãos jurisdicionais nacionais devem
tutelar”. Afirmado para reforçar a posição jurídica dos particulares perante os
incumprimentos estaduais, o Tribunal de Justiça acabou por reconhecer que esta
característica do efeito direto tanto pode verificar-se perante normas de direito
originário como face as normas de direito derivado, desde que suficientemente precisas
e incondicionadas. Se todas as normas podem gozar da característica do efeito direto,
desde que confiram direitos ou imponham obrigações de forma clara, precisa e
incondicionada.
No entanto, o que ficou dito não impediu uma rápida intervenção do juiz
comunitário para assegurar a efetividade do direito da União. Não foi por acaso que,
logo em 1964, o Tribunal de Justiça e, na sequência de um conjunto já importante de
arestos anteriores, estugou o passo e declarou a prevalência (na aplicação) do direito
europeu sobre o direito dos Estados membros.
europeu, ainda que tal implique a desaplicação de normas nacionais, como, aliás, resulta
da jurisprudência do Tribunal de Justiça.
Uma vez dada a resposta, o órgão nacional peticionante fica vinculado à resposta
dada pelo Tribunal de Justiça, ao aplicar (ou não) a norma da União ao caso concreto. A
uniformidade é assegurada por duas formas essenciais:
1) Pela força de irradiação ou de precedente de facto que habitualmente resulta
das pronúncias do Tribunal de Justiça e que leva os outros tribunais a
seguirem a apreciação feita pelo Tribunal de Justiça num determinado
processo;
2) Por o próprio sistema das questões prejudiciais prever, como sua
componente central, que, se uma questão de direito da União Europeia
surgir perante um órgão jurisdicional que vai decidir em última instância, este
está obrigado a reenviar, pelo que, em último termo e em todo e qualquer
Se um Estado membro não cumpre o direito da União Europeia, isso não implica
a total desproteção dos direitos dos particulares. Os princípios do efeito direto e da
prevalência na aplicação permitem aos particulares a invocação em juízo das normas da
União dotadas de efeito direto. Esta via nacional de garantia da efetividade do direito
da União Europeia não oferece uma proteção completa da posição jurídica dos
particulares. Por um lado, as normas não cumpridas pelos Estados membros não
podem usufruir do efeito direto (por não reconhecerem aos particulares direitos de
forma precisa e incondicional). Por outro lado, mesmo providas de efeito direto, o seu
reconhecimento judicial pelas jurisdições nacionais não permite uma total reparação
dos prejuízos entretanto sofridos pelos particulares.
Guiado uma vez mais pela intenção de assegurar a plena eficácia do direito da
União Europeia, o Tribunal de Justiça reconheceu aí um direito subjetivo dos particulares
à reparação imposta pela obrigação de cooperação leal dos Estados membros (artigo 4º,
nº3 TUE – Lisboa) considerado “particularmente indispensável” quando as normas não
puderem gozar de efeito direto. O Tribunal de Justiça declara mesmo a inerência do
princípio de responsabilidade do Estado ao sistema do Tratado. Mas o princípio da
responsabilidade não é estritamente funcionalizado aos casos de inexistência de efeito
1) A regra de direito da União Europeia deve ter por objeto conferir direitos
aos particulares; e