Você está na página 1de 37

“Direito da União Europeia”

Capítulo I
História da Integração Europeia

• A génese da União Europeia

• A ideia de Europa

A União Europeia é o resultado de um processo de junção de


vontades livres de países destruídos por duas guerras mundiais no
sentido de construir um espaço político de paz, coesão social e
prosperidade económica.

É no séc. XIV, que se afirma a ideia de uma Europa centrada na


liberdade, na cristandade e na civilização ocidental.

Desde o séc. XX, a identidade europeia face ao resto do mundo


manifesta-se de forma clara no plano político e no plano
económico-social.

Esta identidade europeia vai-se consolidando num autêntico


património comum que é o resultado de semelhanças, valores e
princípios comuns aos vários povos europeus. Aliás, esses valores
estão presente no art. 2.º do TUE.

• A busca da paz duradoura

Durante séculos, a Europa viveu em constantes conflitos de


poder, devido a alianças instáveis entre Estados nacionais e numa
hierarquia de potências que originaram 2 guerras mundiais.

Após a I Guerra Mundial, foram vários os projetos avançados no


sentido de unir os povos europeus numa Europa também ela
unida. Contudo, os conflitos de interesses alimentaram os
nacionalismos, adiando assim o processo de integração europeia.

Com o fim da II Guerra Mundial e o desejo de uma paz duradoura


acabaria por ressurgir a ideia de união europeia. Houve a
necessidade de reestabelecer a paz e organizar de forma diferente
a geografia política da Europa.
Os principais fatores que levaram ao processo de cooperação
entre os Estados nacionais e de integração europeia foram:

1. Assegurar uma paz duradoura entre os países da Europa


Ocidental
2. Estabelecer laços de unidade e coesão entre os países da
Europa Ocidental
3. Prosseguir a recuperação da Europa em ambiente de
cooperação e assegurar o crescimento económico

• Antecedentes da integração europeia

• O plano Marshall

A 5 de Junho de 1947, foi proposto pelos EUA, um plano de


ajuda económica à Europa designado por “Plano Marshall”, uma
vez que com o fim da II Guerra Mundial houve uma quebra total
das economias e das estruturas europeias existindo a necessidade
de investimento financeiro por forma a reconstruir essas
economias, sobretudo, da Europa Ocidental.

O objetivo do plano era recuperar e reorganizar a economia dos


países europeus e aumentar as relações comerciais com os EUA.

Por forma a coordenar o plano Marshall, foi assinado em Paris, a


16 de Abril de 1948, a Convenção que cria a Organização de
Cooperação Económica Europeia (OECE) que tinha como
principais objetivos:

1. Relançamento económico da Europa


2. Eliminação das restrições quantitativas ao comércio
intraeuropeu
3. Criação de uma UE de pagamentos, capaz de assegurar a
conversão das moedas europeias e facilitar o
desenvolvimento do comércio entre os Países membros

Os objetivos da OECE foram cumpridos de forma rápida


acabando por desaparecer. Com o desaparecimento da OECE, em
30 de Setembro de 1961, com objetivos mais amplos e alargados
aos EUA e ao Canadá.

• O discurso de Churchill e o Congresso de Haia

Winston Churchill, apelou à reconciliação entre a França e a


Alemanha e defendeu a criação dos “Estados Unidos da Europa”
através de um discurso feito a dia 19 de Setembro de 1946.
Este discurso constitui um dos principais fatores de mobilização
dos europeus que na época integravam movimentos pró-europeus
em vários Estados.
Em Maio de 1948, em Haia, Países Baixos, deu-se o Congresso
Europeu, que reuniu mais de mil participantes para discutir a
questão da unidade da Europa.
Neste congresso, surgiram 2 correntes:

1. Federalista: propunha a criação imediata de uma federação,


em que os Estados membros continuavam a ser soberanos,
exigindo-se a regra da unanimidade nas decisões
2. Unionista ou pragmática: defendia uma Europa unida com
base na cooperação entre os Estados soberanos, através de
contactos intergovernamentais

As conclusões do Congresso de Haia foram muito importantes,


uma vez que anteciparam a via pela qual se iria realizar a futura
unificação da Europa, a qual se fez através de um método mais
pragmático (prático) de feição unionista, assente na cooperação
intergovernamental.

• O processo de integração europeia

A UE é hoje uma parceria económica e política com


características únicas, constituída por 28 países europeus e que
brevemente será abrangida por mais países, construção feita em
pequenos passos na base do consenso na negociação permanente
e da democracia na codecisão.

A ideia de que a unificação da Europa deveria começar no terreno


económico, determinou uma opção que foi desenvolvida em 2
modelos diferentes de integração que se seguem em 2 fases
distintas:

1. Através de uma simples zona de comércio livre


2. Através de um mercado comum

• A declaração de Schumann

A integração europeia em curso, só se iniciou depois da II Grande


Guerra e baseou-se em 2 acontecimentos marcantes:

1. O discurso de Winston Churchill


2. A criação da OECE com o intuito de gerir o plano Marshall
que havia sido proposto, para possbilitar a recuperação
económica da Europa devastada pela guerra

No dia 9 de Maio de 1950, Robert Schumann, proferiu uma


declaração em que convida a Alemanha a constituir com a França
uma organização com poderes para gerir politicamente os
interesses comuns respeitantes às duas principais matérias-primas
usadas no esforço da guerra (carvão e aço).-

O plano Shumann, elaborado pelo federalista Jean MONNET,


tem sido considerado como a verdadeira “carta fundadora” da
Europa que marcou o modelo funcionalista da integração
sectorial, de construção europeia, nos planos económico e
político.

Esta proposta da França foi bem recebida pelos governos da


Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, países que
viriam a criar a primeira comunidade europeia, assinando o
Tratado CECA a 18 de Abril de 1951.

• O Tratado CECA

O processo de integração europeia inicia-se com a assinatura do


tratado de Paris, criando a CECA (Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço), tratado este que entrou em vigor no dia 25 de
Junho de 1952.

A CECA é a primeira pedra na construção da Comunidade


Europeia e resulta da proposta constante da Declaração
Schumann.

Este tratado, implicou desde logo uma clara limitação da


soberania dos Estados em favor de uma entidade comum em
setores da economia vitais para a época.

Aravés do Tratado CECA, os Estados acordaram no


estabelecimento de um mercado comum, traçando como objetivos
comuns, a expansão económica, o aumento do emprego e a
melhoria do nível de vida nos Estados membros (art, 2.º do
TCECA).

Para a continuação dos objetivos comuns, o Tratado CECA


instituía os seguintes órgãos:

1. A Alta Autoridade
2. A Assembleia
3. O Conselho
4. O Tribunal

Segundo o Tratado, a Comunidade tinha personalidade jurídica


própria e possuía capacidade jurídica nas relações internacionais
(art. 6.º do TCECA).
• Os Tratados CEE e CEEA

Os objetivos explícitos no Tratado CEE traduzem-se em concreto


na criação de um mercado comum, de uma união aduaneira e no
desenvolvimento de políticas comuns.

O Tratado prevê formalmente a política agrícola comum, a


política comercial comum e a política dos transportes, e deixa a
porta aberta ao lançamento de outras políticas em função das
necessidades.

O processo de integração haveria de prosseguir com a criação de


mais duas comunidades europeias. Da cooperação económica
iniciada no âmbito da CECA pelos seis países fundadores
(Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos),
resultou a criação da Comunidade Económica Europeia (CEE) e
da Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA ou
EURATOM), pelos tratados de Roma.

O Tratado de Roma, por forma a dar continuidade aos seus


objetivos dotou a comunidade de uma estrutura institucional, em
que se destacam os seguintes órgãos:

1. O Conselho
2. A Comissão
3. O Parlamento Europeu
4. O Tribunal de Justiça

• O Ato único Europeu

Com a entrada do Tratado de Roma, a 1 de Janeiro de 1958, o


processo de integração europeia avança e a Europa conhece
durante a década de 1960, um período de profunda e complexa
produção normativa com a adoção de múltiplos atos jurídicos
(regulamentos, diretivas e decisões).

Depois de ter recusado a adesão do Reino Unido em Janeiro de


1963, a França do general De Gaulle veta pela segunda vez a
entrada daquele país em Maio de 1967, instalando-se uma cise
que só seria ultrapassada com a cimeira de Haia em 1969.

Com a demissão do general, a França de Pompidou revela maior


abertura e colaboração com as comunidades com progressos
visíveis ao nível da cooperação política europeia,
nomeadamentte, com a abertura das negociações e a assinatura do
tratado de adesão a 22 Janeiro 1972 com o Reino Unido, Irlanda,
Dinamarca e Noruega.
Neste momento, estava feito o primeiro alargamento, pelo que a
partir de 1973, passaram a ser 9 os membros das comunidades. A
1 de Janeiro de 1981, dá-se o segundo alargamento com a adesão
da Grécia e, em 12 de Junho de 1985 é assinado o tratado de
adesão de Portugal e Espanha que entra em vigor em 1 de Janeiro
de 1986, passando as comunidades a ter 12 membros.

O ato Único Europeu (AUE) é assinado em Fevereiro de 1986, no


Luxemburgo, e entra em vigor a 1 Julho de 1987.

As principais alterações introduzidas nos tratados pelo AUE


foram:

1. A consagração do Conselho Europeu ao nível formal dos


tratados, composto pelos Chefes de Estado ou de Governo
dos 12 Estados Membros e pelo Presidente da Comissão
(art. 2.º do AUE)
2. O reforço dos poderes do Parlamento Europeu ao nível do
procedimento de decisão que passa a abranger os acordos de
adesão e de associação
3. O reconhecimento formal do poder executivo da Comissão
que, assim, não fica dependente da atribuição da
competência casuística pelo Conselho
4. A reposição da regra da maioria nas votações do Conselho
5. Ao nível económico, o AUE consagra como objetivo
comunitário a construção do mercado interno, definido
como espaço sem fronteiras, na qual é assegurada a livre
circulação das mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos
capitais

• O Tratado de Maastricht

Este tratado constitui um novo marco no processo da união


política europeia com a criação da União Económica e Monetária
(UEM).

O tratado de Maastricht cria a UE assente em 3 comunidades


(CECA, CEE e CEEA) e completa por 2 pilares de cooperação
intergovernamental, o primeiro no dominío da política de defesa e
segurança comum (PESC) e o segundo pilar no dominío da
cooperação em matéria de justiça e assuntos internos (CJAI).

Basicamente, este tratado cria a união económica e monetária e


define os requisitos para a adoção de uma moeda comum.
Com esse objetivo, foram assinados os protocoloes referente ao
Sistema Europeu e Bancos Centrais (SEBC), ao Instituto
Monetário Europeu (IME) e o Banco Central Europeu (BCE).
• A União Económica e Monetária

O processo de integração económica na Europa svsnçou para a


União Económica e Monetária.
Esta fase apresenta como principal característica a instituição
entre os Estados membros de uma política monetária comum
conduzida através do Banco Central Europeu.

Este modelo de integração europeia vai até 1993, ano em que se


inicia uma segunda fase do processo com a entrada em vigor, em
1 de Novembro de 1993, do Tratado de Maastricht e a passagem
para uma integração mais profunda com a instituição da União
Económica e Monetária.

A União Monetária não implica a existência de uma moeda única,


mas no caso europeu a união monetária vai acompanhada da
criação do euro como moeda única cuja emissão é da
responsabilidade do Banco Central Europeu.

No âmbito da Comunidade Europeia, a realização da União


Monetária conheceu 3 fases:

1. A primeira fase decorreu até finais de 1993 com a garantia


da livre circulação de capitais
2. A segunda fase teve inicio no dia 1 Janeiro de 1994 e
terminou em Dezembro de 1998. Nesta fase foi criado o
Instituto Monetário Europeu e os Estados Membros levaram
a cabo um esforço de convergência real das suas economias
através do cumprimento dos critérios de convergência
nominal.

Tais critérios visam garantir: a estabilidade monetária; a


disciplina das Finanças Públicas e a estabilidade cambial.

3. A terceira fase teve início no dia 1 Janeiro de 1990 com a


adoção de uma moeda única, o Euro, por onze os quinze
Estados membros

Até finais do ano 2001, o Euro foi apenas utilizado nas transações
bancárias, na qualidade de moeda escritual, continuando a
circular as respetivas moedas nacionais, começando a crcular sob
a forma de moeda metálica e de papel-moeda a partir de 1 de
Janeiro de 2002.

• O Tratado de Amesterdão
O Tratado de Amesterdão foi assinado a 2 de Outubro de 1997 e
entrou em vigor a 1 de Meio de 1999, uma vez concluídos os
processos de aprovação nos Estados membros.

Deste tratado resulta uma nova estrutura, a União Europeia,


assente em 3 pilares:

1. As Comunidade Europeias, focadas na concretização da


União Económica e Monetária (pilar económico)
2. A política Externa e de Segurança Comum (pilar político)
3. A cooperação judiciária e policial entre os Estados
membros, nos domínios da justiça e dos assuntos internos
(pilar administrativo)

O Tratado de Amesterdão introduz uma cláusula de flexibilidade,


o que permite uma colaboração mais estreita entre os Estados
membros, mediante determinadas condições. Através das
instituições, dos procedimentos e dos mecanismos previstos pelos
tratados comunitários.

No plano da política social, o tratado estabelece o compromisso


de promover um “elevado nível de emprego e proteção social”,
devendo os Estados membros atuar na salvaguarda dos direitos
sociais fundamentais.

Pode-se referir que o tratado em questão constituiu uma solução


de transição em que se procurou e conseguiu o compromisso de
desenvolver Maastricht e preparar a reforma institucional de
Nice.

• O Tratado de Nice

O Tratado de Nice foi assinado a 26 Fevereiro de 2001 e entrou


em vigor a 01 Fevereiro 2003.

O mesmo racionalizou o sistema institucional da União Europeia


por forma a permitir o seu funcionamento eficaz a seguir ao
grande alargamento de 2004.

O foco deste tratado esteve na resolução das questões


institucionais que ficaram pendentes de Amesterdão, sobretudo,
no que diz respeito:

1. À ponderação de votos de cada Estado membro;


2. À definição da maioria qualificada no Conselho;
3. À repartição de lugares no Parlamento Europeu;
4. À composição da Comissão Europeia.
Objetivo: Realização da reforma institucional da União Europeia,
antes do alargamento previsto aos países do centro e leste da
Europa.

• O Tratado de Lisboa

Foi através deste tratado que se deu a última alteração aos


tratados, tendo este sido assinado a 13 Dezembro de 2007 e
entrado em vigor a 01 Dezembro 2009.

O Tratado de Lisboa:

1. Simplificou os métodos de trabalho e as regras;


2. Criou a figura do presidente do Conselho Europeu
3. Introdução de novas estruturas destinadas a conferir à União
Europeia um papel crucial na cena mundial

A evolução do processo de integração apresenta 3 fases distintas:

1. Das comunidades que vai até ao Tratado de Maastricht


2. Da transformação inicia-se com a criação da UE
3. Inicia-se com o Tratado de Lisboa (designada também por
fase de União)

O Tratado de Lisboa consagra a unificação da UE com a


Comunidade Europeia, desaparece a ideia de comunidade e
consolida-se o conceito de UE.

Com o Tratado de Lisboa deixa de fazer sentido falar em 2


organizações, passando a falar de uma organização apenas e essa
passa a ser a UE.

• As adesões e o alargamento da União Europeia

Desde o início da UE em 1957, o número de países que dela


fazem parte passou de 6 para 28.

Os 6 países fundadores da CEE foram: Bélgica, Alemanha,


França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos (Holanda).

1 Janeiro 1973: 1º Alargamento com a entrada do Reino Unido,


Dinamarca e a Irlanda na comunidade

A partir de 1973: Restantes países da Europa Ocidental foram


entrando gradualmente aderindo à UE.

1 Janeiro 1981: 2º Alargamento com a entrada da Grécia


1 Janeiro 1986: 3º Alargamento com a entrada de Portugal e
Espanha

1 Janeiro 1995: 4º Alargamento com a entrada da Áustria,


Finlândia e Suécia

Em 2004: Alargamento com a entrada de 10 países (Eslováquia,


Eslovénia, Estónia, Hungria, Polonia, República Checa, Letónia,
Lituânia, Malta e Chipre)

Em 2007: Entrada da Bulgária e Roménia

Em 2013: Entrada do último país (Croácia)

Para aderirem à UE, qualquer país tem de respeitar os princípios


inerentes à liberdade de circulação de pessoas, capitais,
mercadorias e serviços.

Capítulo II
A Natureza Jurídica da União Europeia

• A originalidade política da União Europeia entre o


federalismo e a cooperação interestadual

A construção europeia é um processo dinâmico baseado no


princípio da subsidiariedade, o que significa que as decisões
tomadas sejam sempre que possível ao nível mais próximo do
cidadão.

Este processo, tendo em conta a dimensão dos seus objetivos


revela, naturalmente, sobressaltos e enfrenta crises que exigem
um esforço de negociação constante à cooperação leal e solidária
que nem sempre se mostra compatível com os interesses
nacionais, regionais e locais.

A UE resulta dos tais sobressaltos e crises constantes e da


natureza dos compromissos, onde o seu sistema jurídico nem
sempre se mostram de fácil compreensão para o cidadão comum.

A UE diferencia-se das tradicionais associações entre Estados por


um aspeto fulcral:

• Reúne países que renunciaram a uma parte das respetivas


soberanias em favor da União, tendo conferido a esta
poderes próprios e independentes dos Estados membros.

Com o Tratado de Lisboa, o sistema de integração funcional, de


certa forma, parece que abrandou o crescimento em favor do
modelo federalista, uma vez que deixa de se falar em
comunidades europeias sectoriais para se passar a referir sempre a
UE que havia sido criada pelo Tratado de Maastricht.

• A tese internacionalista

A UE é principalmente uma paerceria económica e política com


características únicas, resultante de um processo de integração
progressiva feito de “pequenos passos” e sempre na base do
consenso possível fruto da negociação permanente e da
democracia na decisão conjunta dos Estados membros.

Têm sido avançadas diferentes teses sobre a natureza, primeiro


das CE e depois da UE. A questão pode hoje resumir-se ao
confronto de 2 correntes: corrente federalista e a corrente
internacionalista.

Defensores da teses internacionalista: à luz do direito, tanto as


comunidades como a UE foram criadas por tratados
internacionais e estes são para todos os efeitos a primeira fonte de
direito europeu vigente na UE.

Esta tese está a decrescer tendo vindo a perder terreno uma vez
que não tem tido capacidade de responder e explicar os
fenómenos característicos da UE, sonbretudo, no que diz respeito
à aplicabilidade direta das normas jurídicas europeias e o efeito
direto dos atos jurídicos da União na ordem jurídica dos Estados
membros.

• A tese federalista

Segundo os defensores da teoria federalista, a UE seria um Estado


Federal, não só porque as suas instituições beneficiam de uma
atribuição de competências dos Estados, mas também porque
apresenta uma estrutura orgânica idêntica à estrutura dos Estados
federais.

Os defensores desta tese reforçam a ideia de que os tratados


devem ser comparados às constituições dos Estados federais,
falando-se na existência de uma constituição europeia. Por
“Constituição Europeia” entende-se o direito originário da UE, ou
seja, os tratados europeus.

A federação consiste na reuniãp de estados autónomos,


consagrada no texto escrito de uma constituição federal. Uma vez
constítuida a federação, os Estados membros jamais poderão
tornar-se independentes do estado soberano, Na federação a
soberania é transferida para o estado federal, pelo que, um estado
federado fica impossibilitado de negociar diretamente com um
país terceiro.

Apesar da aproximação à tese federal, a UE não é uma federação.


Não basta a Constituição material. A UE não é um Estado, nem
tem uma Constituição em sentido formal, ainda que tenham
existido esforços desenvolvidos pelo movimento federalista que
levou à aprovação de uma Constituição para a Europa.

Sabendo que a UE não é uma federação, não deixa de ser


importante reforçar que a ordem jurídica da UE apresenta já
algumas características federais relevantes que foram reforçadas
com o Tratado de Lisboa.

Os traços federais são:

1. Existência da moeda única, ainda que seja exclusiva aos


países do eurogrupo
2. Progressiva evolução da Comissão Europeia
3. O poder legislativo atritbuído agora ao Parlamento Europeu,
que passou a ter um papel de decisão comum com o
Conselho, no processo legislativo ordinário
4. A progressiva extensão da maioria qualificada em
substituição da unanimidade nas deliberações do Conselho
5. Incorporação nos Tratados da Carta dos Direitos
Fundamentais da UE, com força obrigatória para a União e
para os Estados Membros, integrando na Constituição
material da UE, um conjunto próprio de direitos
fundamentais

Encontamos uma ordem jurídica europeia autónoma da ordem


jurídica interna dos Estados membros, própria e hierarquizada. As
normas do direito europeu são de aplicação direta e imediata e a
ordem jurídica é caracterizada pelo princípio do primado e pela
força executória das decisões do Tribunal de Justiça.

O Tratado da UE acabou por reforçar esta vertente federal através


de 3 eixos:

• A cidadania europeia
• A Política Externa e Segurança Comum (PESC)
• União Económica e Monetária

• A Natureza Jurídica da União Europeia


Têm sido várias as teses para definir a natureza jurídica da UE e
das Comunidades em que assenta. Com maior ou menor foco, a
“discussão” começou entre “comunitaristas”,
“constitucionalistas” e “internacionalistas”, para continuar hoje
entre “federalistas” e “soberanistas”.

Existe um argumento muito forte para negar a federação, o qual


resulta da circuntância de, após o Tratado de Lisboa, os Estados
membros poderem sair da UE, como está acontecer com o Reino
Unido (Brexit).

• Objetivos da União Europeia

Os principais objetivos do processo de integração europeia


desencadeados pela Declaração de Schuman foram sempre de
cariz político.

Os objetivos iniciais que os fundadores do processo de integração


europeia quiseram atingir quando avançaram para a criação da 1ª
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) eram,
alcançar uma paz duradoura, objetivo este que segundo Schuman
só seria possível com a eliminação da oposião scular entre a
França e a Alemanha e com a criação de uma solidariedade de
fato entre os Estados europeus.

Para alcançar a união entre os Estados europeus, era importante


começar a dar os primeiros passos e esses eram objetivos
imediatos e de natureza económica, nomeadamente, prosseguir
com a criação de um mercado comum.

Para garantir esse objetivo, os Tratados das 3 Comunidades


europeias estabelecem um conjunto de liberdades fundamentais a
que acrescentam as políticas comuns que vão funcionais como
meios de cooperação e interdepêndencia entre os Estados.

Os objetivos principais acabaram por ser assinalados a partir do


Tratado de Maastricht, avançando-se assim para a criação da UE.
A partir deste tratado, para além dos objetivos económicos que
foram alcançados através das Comunidades, este tratado
estabeleceu também objetivos de natureza social, cultural e
política da União.

Com o Tratado de Maastricht, o objetivo económico inicial de


realização de um mercado comum foi claramente ultrapassado e
adquiriu uma dimensão política.

Com o Tratado de Maastricht (art. 2.º TUE) passou a ser de maior


importância criar um espaço de liberdade, de segurança e de
justiça, salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos dos
Estados membros e a cidadania europeia. Passou também a
constituir objetivo político a adoção de uma política externa e de
segurança comum e a ambição de prosseguir uma política de
desfesa comum.

O teor do artigo 2.º do TUE, na versão consolidada de


Amesterdão, estabelece que a União Europeia atribui os
seguintes objetivos:

• Promoção do progresso económico e social e de um elevado


nível de emprego e a realização de um desenvolvimento
equilibrado e sustentável (espaço sem fronteiras internas,
reforço da coesão económica e social e o estabelecimento de
uma união económica e moentária, que incluirá a adoção de
uma moeda única;
• A afirmação da sua identidade na cena internacional, através
de uma política externa e de segurança comum, que inclua a
definição gradual de uma política de defesa comum, que
poderá levar a uma defesa comum
• Reforço da defesa dos direitos e dos interesses dos nacionais
dos seus Estados membros
• Manutenção e desenvolvimento da União enquanto espaço de
liberdade, de segurança e de justiça em que seja assegurada
a circulação de pessoas, bem como o combate à
criminalidade

Com o Tratado de Lisboa, os objetivos políticos, sociais e


culturais da UE ficaram explícitos no artigo 3.º do TUE como
sendo 3:

1. Paz
2. Os valores universais do artigo 2.º sendo eles os valores de
respeito pela dignidade humana, da liberdade, da
democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito
pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas
que pertenciam às minorias, o pluralismo, a não
discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a
igualdade entre homens e mulheres
3. o bem-estar dos seus povos

A partir do Tratado de Lisboa, podemos resumir os objetivos


da UE em 5 pontos:

1. Promoção da paz, dos valores da União e do bem-estar dos


seus povos

2. Proporcionar aos seus cidadãos um espaço de liberdade, de


segurança e de justiça em que garanta a livre circulação das
pessoas, adotando as medidas necessárias e adequadas no
domínio do controlo de fronteiras externas, de asilo e de
imigração, bem como de prevenção e combate à
criminalidade

3. Visa estabelecer o mercado interno, procurando dar


respostas a um conjunto de objetivos sociais, ambientais e
culturais. O objetivo do mercado interno é assegurar o
mercado comum. O objetivo do mercado internoé assegurar
o desenvolvimento sustentável da Europa, assente num
crescimento económico equilibrado e na estabilidade dos
preços, numa economia social de marcado altamente
competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o
progresso social e a melhoria da qualidade do ambiente e
ainda fomentar o progresso científico e tecnológico. O
objetivo é também combater a exclusão social e as
discriminações, promover a justiça e a proteção sociais, a
igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre as
gerações e a proteção dos direitos da criança. Com estas
respostas promover a coesão social, económica e territorial
e a solidariedade entre os Estados membros

4. Estabelecimento de uma união económica e monetária cuja


moeda é o euro

5. Afirmação da UE no plano internacional

Capítulo III
O Mercado Interno e as Liberdades Fundamentais

• O mercado interno

Para que a UE possa concretizar os objetivos anteriormente


referidos, esta estabelece um mercado interno e uma união
económica e monetária cuja moeda é o euro.

O mercado interno compreendo um espaço sem fronteiras


internas no qual a livre circulação das mercadorias, das pessoas,
dos serviços e dos capitais é assegurada de acordo com as
disposições dos Tratados.

Este objetivo de um mercado interno é assumido pela 1ªvez no


Ato Único Europeu (AUE), no sentido de um mercado único
resultante da “fusão de mercados nacionais” e que “funcione
como se fosse um mercado interno”.

As 4 liberdades faladas anteriormente são então:


• Liberdade de circulação dos fatores de produção

O objetivo do mercado interno só pode ser alcançado se os fatores


de produção (bens e serviços, trabalho, capitais) puderem
deslocar-se livremente nesse espaço económico único, da mesma
forma que o fazem no interior de um único Estado.

Importante reforçar que o sucesso do processo de integração


europeia inicialmente desenhado pelo Tratado de Roma deve-se,
sobretudo, ao progresso alcançado no desenvolvimento das
liberdades fundamentais que deram corpo ao mercado interno e
que são as seguintes:

1. Liberdade de circulação de mercadorias (art. 45.º do TFUE)


2. Liberdade de estabelecimento (art. 49.º do TFUE) e de
prestação de serviços (art. 56º do TFUE)
3. Liberdade de circulação de capitais (art. 63.º do TFUE)

• Liberdade de circulação de mercadorias

Esta é a primeira das liberdades, aparecendo definida como


primeira condição para se alcançar o objetivo da instituição de um
mercado comum.

O funcionamento do Mercado Comum, implica uma união


aduaneira, assegurando que todas as mercadorias,
independentemente de serem originárias ou não desse território,
circulem nesse espaço económico sem quaisquer entraves, sejam
elas de natureza fical ou de contingentes.

A noção de “livre circulação de mercadorias” surge no Tratado da


Comunidade Europeia e resulta da junção dos art. 23.º, 28.º e 29.º
do TCE.

• Obstáculos à livre circulação de mercadorias

Direitos aduaneiros e encargos de efeito equivalente

1. Procura regular os direitos aduaneiros e os encargos de


efeito equivalente
2. Proíbe as restrições quantitativas e medidas de efeito
equivalente

A união aduaneira implica a proibição entre os Estados membros


dos direitos aduaneiros, logo implica o fim das pautas e tarifas
aduaneiras nacionais.
Os direitos aduaneiros são imposições fiscais, constantes da pauta
aduaneira de um Estado, de natureza pecuniária, que incidem
sobre os produtos importados no momento da declaração
apresentada pelo importador tendo em vista colocar os produtos
em regime de livre prática ou a sua comercialização noutro
Estado.

Através da imposição destes impostos, o Estado tem como


objetivo obter receitas fiscais, bem como obter proteão da
produção nacional.

• Restrições quantitativas e medidas de efeito equivalente

Para garantir a efetiva liberdade de circulação das mercadorias é


necessário abolir todas as restrições quantitativas à importação e à
exportação, bem como todas as medidas de efeito equivalente.

Por restrições quantitativas entende-se todas e quaisquer medidas


que imponha limites às quantidades ou definam quotas nas
importações que sejam obstáculo à entrada ou saíde de uma
mercadoria de um Estado membro, quer sejam mercadorias
produzidas num Estado membro, quer sejam mercadorias que se
encontrem em regime de livre prática.

Estamos perante um caso de medidas de efeito equivalente


sempre que um Estado membro coloca obstáculos à livre
circulação da mercadoria. Adotando medidas relacionadas com
fatores estranhos à própria mercadoria em si.

• Liberdade de circulação de pessoas

Hoje em dia a livre circulação de pessoas é um direito


fundamental e individual que decorre da cidadania europeia.

Na realidade, a livre circulação de pessoas só existe


verdadeiramente com a instituição da cidadania europeia e
quando as pessoas deixaram de ser vistas somente como
trabalhadores.

O art.20.º, n.º1 do TFUE institui a cidadania da UE,


estabelecendo que é cidadão da união qualquer pessoa que tenha a
nacionalidade de um Estado membro. A cidadania europeia
acresce à cidadania nacional e não a substitui. No n.º2 refere que
os cidadãos da união gozam dos direitos e estão sujeitos aos
deveres previstos nos Tratados, nomeadamente:

• O direito de circular e permanecer no território dos Estados


membros de forma livre
• O direito de eleger e ser eleitos nas eleições do Parlamente
Europeu

• O direito, de no território de países terceiros em que o Estado


membro de que são nacionais não se encontre representado,
beneficiar da proteção das autoridades diplomáticas e
consulares de qualquer Estado membro

• O direito de dirigir petições ao Parlamento Europeu, o direito


de recorrer ao Provedor de Justiça Europeu

A livre circulação de trabalhadores

O n.º2 do artigo.º do TFUE, indica que “A livre circulação dos


trabalhadores implica a abolição de toda e qualquer discriminação
em razão da nacionalidade, entre os trabalhadores dos Estados
membros, no que diz respeito ao emprego, à remuneração e
demais condições de trabalho”.

Os familiares dos trabalhadores nacionais de Estados membros


beneficiam do direito à livre circulação, em nome do princípio da
igualdade e da não discriminação de trabalhadores. Por terem
membros da família nacionais de países terceiros, esses
trabalhadores veriam a sua mobilidade profissional diminuída
caso não pudessem ter consigo a família, ficando numa situação
de discriminação proibida pelo direito da União.

• O direito de estabelecimento e a liberdade de prestação de


serviços

Quando falamos em direito de estabelecimento, falamos na


liberdade de desenvolver uma atividade económica no âmbitos
dos serviços, de forma organizada e estruturada em termos
empresariais através de um estabelecimento estável.

O TFUE, define os serviços em termos amplos, de tal forma que


enumera de forma exemplificativa as atividades que podem
constituir serviços e que, nos termos do artigo 57.º do TFUE,
compreendem as seguintes atividades:

• Atividades de natureza industrial


• Atividades de natureza comercial
• Atividades artesanais
• Atividades das profissões liberais

Segundo o tratado, a diferença entre o direito de estabelecimento


e a livre prestação de serviços baseia-se no carácter permanente
ou temporário da atividade desenvolvida no Estado membro de
acolhimento.

O carácter temporário do exercício de uma atividade no Estado


membro de acolhimento deve ser apreciada não apenas em função
da duração da prestação, mas também em função da sua
frequência, periodicidade ou continuidade, e a noção de
“estabelecimento” implica a possibilidade de um nacional
comunitário participar, de modo estável e contínuo, na vida
económica de um Estado membro diferente do seu Estado de
origem.

Entende-se por “prestador de serviço” qualquer pessoa singular


nacional de um Estado membro ou pessoa coletiva estabelecida
num território nacional ou noutro Estado membro que ofereça ou
que preste um serviço. Entende-se por “serviço” qualquer
atividade económica não assalariada, prestada normalmente
mediante remuneração, tal como referida no artigo 57.º do TFUE.

• Liberdade de circulação de capitais

Todos os Estados membros ficam obrigados adotar políticas que


ajudem a alcançar o objetivo da livre circulação de capitais entre
Estados membros e países terceiros.

A competência legislativa nesta matéria cabe ao Parlamento


Europeu e ao Conselho, os quais deliberam de acordo com o
processo legislativo ordinário e adota medidas relativas à
circulação de capitais provenientes ou com destino a países
terceiros que envolva investimento direto, incluindo o
investimento imobiliário, estabelecimento, prestação de serviços
financeiros ou admissão de valores mobiliários em mercados de
capitais.

Os Estados membros poderão, sempre que justifique, aplicar


restrições ao direito de estabelecimento, desde que sejam
compatíveis com os Tratados, o que implica que as medidas e
procedimentos que forem adotados não podem constituir um meio
de discriminação arbitrária, nem uma restrição à livre circulação
de capitais e pagamentos.

• O direito da Concorrência

Para que exista um mercado comum, é indispensável que esteja


assegurado um regime legal que garanta que a concorrência não
seja falseada no mercado interno, proibindo assim os
comportamentos das empresas que possam afetar o comércio
entre os Estados membros, seja através de acordos entre
empresas, seja através de decisões de associações de empresas ou
por meio de práticas concertadas ou de abusos de posição
dominante, mas proibindo também as ações dos Estados que,
através de aucílios a empresas, ou a setores da economia, acabam
por criar situações de privilégio face aos concorrentes dos outros
Estados membros.

A liberdade de concorrência tinha sido criada numa fase inicial


como instrumento de realização da livre circulação de
mercadorias e dos restantes fatores de produção, mas acabaria por
ser vista como condição necessária à definição e promoção de
toda a política económica da UE, com o reforço entretanto
alcançado no processo de integração pela corrente neoliberal.

A política de concorrência teria de ser capaz de impedir as


coligações e práticas concertadas entre empresas, os abusos de
posição dominante, os auxílios de Estado às empresas que
dificultavam o acesso às empresas de outros Estados membros.

Em Portugal, é criada a Autoridade da Concorrência, pela Lei n.º


18/2003, de 11 Junho, diploma entretanto revogado pela Lei n.º
19/2012, de 8 de Maio, que aprova o novo regime jurídico da
concorrência.

• Noção de empresa para efeitos da lei da concorrência

Considera-se empresa qualquer entidade que exerça uma


atividade económica que consista na oferta de bens e serviços
num determinado mercado, independentemente do seu estatuto
jurídico e do seu modo de financiamento (art. 3.º da Lei n.º
19/2012)

• Coligações anticoncorrenciais entre empresas

Existe coligação anticoncorrencial sempre que se verifiquem os


seguintes requisitos:

1. Duas ou mais empresas celebrem entre elas uma qualquer


coligação, seja na forma de acordo, de associação ou de
prática concertada de que resulte a adoção de políticas
comuns no mercado em que atuam

2. Que dos comportamentos adotados pelas empresas


coligadas resulte a afetação do comércio entre os Estados
membros, no sentido de prejudicar a realização do mercado
único

3. Que as práticas das empresas coligadas ocasionem uma


concreta restrição da concorrência

• Abuso de posição dominante

Importante ressalvar deste já que uma posição dominante, à


partida nada tem de negativo para o funcionamento do mercado.
Uma empresa pode ter como objetivo alcançar uma posição
dominante num mercado e, nesse sentido, investe em inovação e
conhecimento, melhorando os níveis de eficiência económica e o
bem-estar dos consumidores.

Essa posição dominante da empresa resulta da detenção de uma


quota de mercado significativa (igual ou superior a 50%) ou da
influência predominante que exerce no mercado.

A identificação da existência de uma posição dominante pode


ser feita da seguinte forma:

• Progresso tecnológico alcançado pela empresa


• Dependência em que ficam os clientes no pós-venda
• Uma situação de monopólio legal
• Uma situação de monopólio natural ou de fato
• A atribuição legal de um direito exclusivo a uma empresa em
que se procura garantir o fornecimento de um serviço de
interesse económico geral

A proibição do abuso de posição dominante constante do


artigo 102.º do TFUE visa impedir todas as práticas abusivas
restritivas da concorrência e que podem consistir em:

• Impor, de forma direta ou indireta, preços de compra ou


venda ou outras condições de transação não equitativas
• Limitar a produção, a distribuição ou o desenvolvimento
técnico em prejuízo dos consumidores
• Aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condições
desiguais no caso de prestações equivalentes colocando-os,
por esse fato, em desvantagem na concorrência

• Concentrações de empresas

O fenómeno da concentração empresarial é uma expressão da


livre iniciativa económica, parte integrante da liberdade dos seres
humanos, o que pressupõe a liberdade de concorrência, como
valor fundamental em sociedades politicamente organizadas.

Entende-se que existe uma concentração de empresas quando se


verifica uma mudança duradoura de controlo sobre a totalidade
ou parte de uma ou mais empresas, o que implica a possibilidade
de exercer uma influência determinante sobre a atividade de uma
empresa.

De acordo com o art. 3.º do Regulamento das Concentrações, a


concentração de empresas vê-se através de uma das seguintes
operações:

1. Fusão de 2 ou mais empresas numa só pessoa jurídica


2. Aquisição do controlo da empresa
3. Criação de uma empresa comum

Concentração por fusão

A fusão é a forma mais comum de concentração empresarial. Esta


fusão pode-se processar segundo 2 modalidades:

1. Fusão simples – duas ou mais empresas extinguem-se e dão


origem a uma nova empresa para a qual se transferem os
patrimónios das empresas fundidas. Esta determina a
extinção de todas as empresas preexistentes
2. Fusão por incorporação – pela qual uma empresa absorve
outra ou outras, que se extinguem, permanecendo a empresa
incorporante, para a qual se transferem os patrimónios das
empresas incorporadas. Nesta, todas as empresas se
extinguem à exceção da incorporante

Pode ocorrer, por vezes, fusão de fato, casos estes em que duas
ou mais empreasa juridicamente independentes acordam em
conjugar as susas atividades, de tal forma, que resulta numa
verdadeira unidade económica.

Nestes casos, as empresas acabam por perder a independência


económica que tinham antes, pois as empresas celebram um
contrato em que acertam a exitência de uma gestão económica
comum, definem os termos de partilha de riscos e da
compensação mútua dos lucros ou perdas num modelo de
concentração empresarial complexo, que coloca dificuldades às
autoridades da concorrência.

Concentração por aquisição de controlo

Esta é a forma de concentração mais comum. Através de um


negócio jurídico de aquisição dá-se uma alteração da estrutura de
controlo da empresa adquirida.

O controlo decorre de qualquer ato que implique a possibilidade


de exercer, com carácter duradouro, isoladamente ou em
conjunto, e tendo em conta as circunstância de fato ou de direito,
uma influência determinante sobre a atividade de uma empresa.

Para que tal aconteça é preciso a aquisição da maioria do capital


social, pois o mesmo objetivo do controlo pode ser alcançado
através da constituição de uma “minoria qualificada”.

Concentração por criação de uma empresa comum

Tal acontece, sempre que duas ou mais empresas criem uma nova
empresa que controlam em conjunto, desde que esta empresa
passe atuar no mercado, de forma duradoura, como entidade
económica autónoma.

Nestas situações de concentração verificam-se os seguintes


pressupostos:

1. A empresa comum é controlada por 2 ou mais empresas


(chamadas de empresas-mãe) em conjunto
2. A empresa comum é constituída de forma duradoura
3. A empresa comum atua diretamente no mercado como
entidade económica autónoma

• Auxílios de Estado

São proíbidas as ajudas de Estado às empresas, na exta medida


em que tais auxílios concedidos pelo Estado ou derivados de
recursos estatais possam falsear a concorrência.

Trata-se de uma matéria sensível, uma vez que os apoios por


parte do Estado ou por quaisquer entidades públicas podem
assumir formas distintas, desde subvenções diretas às empresas,
bonificações de juros, concessão de isenção ou reduções fiscais,
passando ainda pela participação no capital social das empresas.

O artigo 107.º e 108.º do TFUE proibiem os auxílios públicos às


empresas na medida em que. Privilegiando certos operadores ou
certas produções, violam o princípio da equidade económica e
falseiam ou ameaçam falsear a concorrência.

No entanto, quando estão em causa razões de ordem económica e


social que aconselham a intervenção do Estado, é permitido
auxílios públicos, compatíveis com o mercado interno, como por
exemplo:

• Auxílios de natureza social atríbuidos a consumidores


individuais
• Auxílios destinados a remediar danos causados por
calamidades naturais
• Auxílios atribuídos de certas regiões em que o nível de vida
seja baixo ou exista grave situação de subemprego
• Auxílios destinados a fomentar a realização de um projeto
importante de interesse europeu comum, ou a sanar uma
perturbação grave da economia de um Estado membro
• Auxílios destinados a promover a cultura e a conservação do
património

O conceito de auxílio público implica um sacrifício financeiro


para o Estado, ainda que ppotencial, traduzido num aumento de
despesa ou numa diminuição ou perda de receita.

Por último, é matéria presente na jurisprudência do Tribunal de


Justiça que a proibição dos auxílios do Estado tem de reunir
cumulativamente os 2 requisitos relativos ao mercado interno e
que são:

1. Afetar as trocas comerciais entre os Estados membros


2. Distorcer a concorrência

Capítulo IV
As Fontes de Direito da União Europeia

As principais fontes imediatas de Direito da UE são:

• O Direito Originário (Tratados)


• Os princípios gerais do Direito
• O Direito Derivado
• O Direito Internacional

O Direito Originário é constítuido pelos Tratados institutivos,


primeiro das comunidades europeias e depois da UE e ainda por
todos os Tratados que se lhe seguiram e modificaram,
completaram ou adaptaram os Tratados iniciais, onde sobressai,
pela amplitude das alterações introduzidas ao TUE, o Tratado de
Lisboa.

Faz parte integrante do direito originário a Carta dos Direitos


Fundamentais da União Europeia, que é hoje uma das mais
importantes fontes de direito da UE, uma vez que tem o mesmo
valor jurídico dos Tratados.
• As fontes de direito privado

O Direito deverivado constitui um autêntico direito produzido de


forma autónoma, pelas diversas instituições, no exercício das
competências normativas atribuídas pelos Tratados.

Anaalisando os 3 tratados instituidores das Comunidades .


Tratado de Paris (CECA) e os 2 tratados de Roma (CEE e
CEEA), verifica-se que existe uma diferença na nomenclatura dos
atos das instituições.

No Tratado CECA, estão previstos os seguintes atos jurídicos:

1. Decisões (gerais e individuais)


2. Recomendações
3. Pareceres

No Tratado de Roma, estão previstos os seguintes atos jurídicos:

1. Regulamentos
2. Diretiva
3. Decisões
4. Recomendações
5. Pareceres

Todos estes ator jurídicos têm uma natureza diferente, ou seja,


apresentam um conteúdo diverso. É precisamente pela
diversidade de conteúdo estabelecida, independentemente da
designação ou do nomen juris (nome do Direito) que lhes tenha
sido atribuído pelos Tratados.

• Os regulamentos Europeus

Na definição dada pelos Tratados estão presentes 3 elementos


essenciais:

1. generalidade
2. obrigatoriedade
3. aplicabilidade direta

• Carácter geral do regulamento

Os regulamentos da União são comparáveis às leis nacionais, pois


tal como estas, os regulamentos estabelecem regras, impõem
obrigações ou conferem direitos a todos os que se incluam na
categoria de destinatários que o regulamento define em abstrato e
segundo critérios objetivos.

• Obrigatoriedade do regulamento em todos os seus


elementos

O regulamento diferencia-se da diretiva pelo facto de ser


obrigatório em todos os seus elementos enquanto a diretiva só
obriga no elemento respeitante ao resultado.
A diretiva prescreve sem questionar, o resultado a atingir, mas
não determina os meios que os Estados devem usar para alcançar
esse resultado.

• Aplicabilidade direta do regulamento

Outro traço característico dos regulamentos da UE diz respeito à


aplicabilidade direta na ordem jurídica interna dos Estados
membros.

Ser diretamente aplicável significa que, depois de aprovado em


conformidade com os Tratados, o regulmento entra em vigor em
todo o espaço da UE, logo é diretamente aplicável no território
dos Estados membros (art. 288.º TFUE), sem necessidade de um
qualquer ato de receção na ordem jurídica nacional por parte dos
Estados membros.

• As diretivas europeias

A diretiva é um instrumento de harmonização legislativa, obriga à


transposição para o ordenamento jurídico nacional por parte dos
Estados, sendo que o objetivo que se pretende alcançar é que haja
uma certa compatibilidade entre todos os ordenamentos jurídicos,
isto é, que o regime jurídico em causa se apresente com um
enquadramento semelhante em todos os ordenamentos jurídicos
dos Estados membros.

O órgão competente para emanar diretivas, regra geral é o


Conselho.

A diretiva possui uma generalidade indireta, ou seja, depois de


transposta para o direito nacional, passa aplicar-se a um número
indeterminado de pessoas.

• As decisões europeias

A decisão tem por objetivo promover, a aplicação prática das


regras constantes dos tratados aos casos individuais, pelo que
importa destacar os seguintes elementos:

• A limitação dos destinatários da decisão

Os destinatários tanto podem ser Estados (um, vários ou todos),


como pessoas coletivas de direito público ou de direito privado e
mesmo simples particulares.

A finalidade de decisão é aplicar as regras de direito europeu a


casos particulares e, nesse caso, a decisão deve ser equiparada a
um ato administrativo.

A decisão também pode ser utilizada para preescrever a um


Estado ou grupo de Estados membros um objetivo cuja realização
exige a adoção de medidas nacionais de alcance geral. Neste caso,
a decisão apresenta-se como um instrumento de legislação
indireta próximo da diretiva, com a diferença de que a decisão é
obrigatória em todos os seus elementos (art. 291.º, n.º1 do
TFEU).

• A obrigatoriedade da decisão

A decisão é obrigatória em todos os seus elementos, tal como o


regulamento.

Tal como acontece com a diretiva, a decisão impõe o resultado a


atingir, mas, contrariamente à diretiva, a dcisão obriga igualmente
quanto às modalidades de execução.

• A aplicabilidade direta da decisão

Importa diferenciar as decisões dirigidas pelo órgão da União a


particulares (indíviduos ou empresas) e as decisões dirigidas aos
Estados.

As primeiras originam direta e imediatamente, direitos e


obrigações para os respetivos destinatários e, eventualmente, para
terceiros, situações jurídicas cuja titularidade os tribunais
nacionais, na sua qualidade de tribunais comuns de direito
europeu, podem ser solicitados a reconhecer de declarar.

As decisões dirigidas aos Estados não podem, ter um efeito direto


e imediato na esfera jurídica dos particulares, mas tão só um
efeito meramente mediato, o qual fica assegurado pela
observância do disposto no artigo 291.º, n.º1 do TFUE.
• As recomendações e os pareceres

Por não ter natureza obrigatória, estes exercem uma influência


indireta, na maior parte dos casos limitada à formulação de uma
linha de orientação para as legislações dos Estados membros.

Em relação aos pareceres, a sua noção é de sentido amplo e


engloba diversas modalidades de atos que têm em comum a
ausência de força vinculativa, pelo que não constituem só por si
os respetivo destinatários em qualquer obrigação jurídica.

• Os princípios gerais de direito e a jurisprudência do


TJUE

O Tribunal da Justiça Europeia (TJUE) é o que mais tem feito


pela integração, tendo ganho uma grande protagonismo e
importância no seio da União desde o início das comunidades
europeias.

O Tribunal começou por fazer a intepretação das regras


constantes dos Tratados, mas foi mais além, declarando um
conjunto de princípios gerais, nomeadamente, o princípio do
primado e o princípio do efeito imediato ou mesmo
desenvolvendo outros princípios, em especial, o princípio da
aplicabilidade direta do direito europeu.

É possível agrupar os princípios gerais em 4:

1. Princípio da Segurança Jurídica


2. Princípio do Direito à Defesa
3. Princípio da Proporcionalidade
4. Princípio da igualdade

• Princípio da Segurança Jurídica

Como manifestações deste princípio, o Tribunal de Justiça, tem


sustentado a existência de duas situações bem distintas, mas que
constituem verdadeiras consequências da segurança jurídica e que
são:

1. O princípio da estabilidade das situações jurídicas


2. O princípio da confiança legítima dos cidadãos na atividade
da administração

Estes 2 princípios acabam por estar sempre presentes quando é


chamado a pronunciar-se e a decidir sobre situações que
envolvem algum dos seguintes fatos jurídicos:

• Prescrição
• Não retroatividade
• Publicidade
• Clareza na relação dos diferentes atos jurídicos

• O Princípio do direito à defesa

Sempre que está em causa apreciar os termos do procedimento


administrativo em que foi tomada uma certa decisão desfavorável
ao particular, o Tribunal da Jutiça tem vindo a sublinhas 2
consequências, das quais resulta a compreensão do conteúdo,
significado e alcance do princípio do direito à defesa e que são:

1. O princípio do contraditório
2. O princípio da audiência prévia, em que salienta o direito do
destinatário de uma decisão individual de ser ouvido pelo
órgão decisor antes da tomada da decisão

• O princípio da proporcionalidade

Constitui um dos princípios que desde o início do processo de


integração o Tribunal de Justiça começou por afirmar como fonte
de direito europeu.

O Tribunal afirmava sempre sem reservas nos seus acórdãos que


o princípio da proporcionalidade se impõe às instituições
europeias e aos Estados membros e faz parte da ordem jurídica da
UE:

• O princípio da igualdade

O Tratado de Roma que institui a Comunidade Europeia


consagrou a proibição de toda e qualquer discriminação em razão
da nacionalidade.

De uma forma tímida, o Tratado atribuiu ao Conselho a


competência para adotar ações adequadas para lutar contra a
discriminação baseada no sexo, raça, etnia, religião, ou
convicções, incapacidade, idade ou orientação sexual (art. 13.º
TCE).

Com o Tratado de Lisboa, avança-se definitivamente para a


afirmação do princípio da igualdade na sua plenitude,
consagrando-se a igualdade entre homens e mulheres.
Estes princípios gerais de direito têm como denominador comum
a proteção dos direitos fundamentais.

Numa fase inicial de cariz essencialmente económico a afirmação


destas liberdades fundamentais eram suficientes.

Numa fase mais avançada da integração, começa a fazer-se sentir


necessidade de ir mais além e assegurar o respeito dos direitos
fundamentais.

Mais tarde, com a Carta dos Direitos Fundamentais da União


Europeia, a 7 de Dezembro de 2000, avançou-se para a definição
de um catálogo próprio de direitos fundamentais, tal como hoje
surgem configurados no Tratado de Lisboa e que integram
verdadeiros direitos de natureza social, económica, cultural e
política.

Capítulo V
Os Princípios Fundamentais da União Europeia

• Os princípios e valores da UE

Com o Tratado de Nice resulta a vontade de criar “uma união


cada vez mais estreita entre os povos da Europa”.

Com o Tratado de Lisboa, os objetivos da União Europeia


ficaram definitivamente assinalados, como sendo a construção de
uma União assente nos valores universais que são os direitos
invioláveis e inalienáveis da pessoa humana, bem como a
liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito.

Nas suas relações com o resto do mundo, a União afirma e


promove os seus valores e interesses e contribui para a proteção
dos seus cidadãos.

Contribui para a paz, a segurança, o desenvolvimento sustentável


do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o
comércio livre e equitativo, a eliminação da probreza e a proteção
dos direitos do Homem, em especial os da criança, bem como
para a rigorosa observância e o desenvolvimento do direito
internacional, incluindo o respeito dos princípios da Carta das
Nações Unidas.

Defende-se a natureza estruturante de alguns princípios na


medida em que eles ocupam um lugar central no ordenamento
jurídico da UE.
A importância destes princípios é vital para a União Europeia
enquanto produto histórico com um património cultural e
humanista e assumem uma natureza imperativa para os Estados
membros, pelo que qualquer violação grave pode resultar em
sanção para o Estado membro.

• O princípio da identidade nacional

No plano jurídico, este princípio exige que a UE salvaguarde a


especificidade do Direito nacional de cada Estado membro, o
respeito pelo ordenamento jurídico-constitucional nacional.

O respeito pela identidade cultural de cada Estado membro


implica o respeito pela língua, a histórias, as religiões, as
diversidades culturais, nomeadamente das minorias étnicas, o que
ganha importãncia acrescida com os alargamentos da UE a leste
em 2004 e em 2007 e com as futuras adesões atuais candidatos.

• Os princípio da liberdade e da democracia

O valor da liberdade abrange a liberdade política em todas as suas


dimensões, a liberdade de expressão e de reunião e de
organização, a liberdade de consciência e de pensamento, de
religião e de culto, de criação cultural.

A ideia da liberdade implica o respeito pela liberdade física da


pessoa, o que determina a liberdade de movimentação dentro de
um espaço territorial determinado. Esta liberdade é valorizada nas
chamadas 4 liberdades de circulação (pessoas, bens e serviços,
capitais, empresas) no espaço da UE, configurado como mercado
interno, como espaço sem fronteiras, cuja efetividade se garante
através da concorrência.

A ideia de liberdade política surge associada à ideia de


democracia, o que implica um sistema de governo que resulte do
livre exercício do direito de votar e de ser eleito, capaz de
assegurar uma relação aberta e plural entre governantes e
governados, organizada com base no direito.

A democracia deve ser entendida como democracia política,


económica e social. A ideia de democracia não se limita à
garantia formal da representatividade legitimadora e a assegurar
que a tomada das decisões se processa segundo regras da maioria.

A democracia exige que o bem-estar das populações e o progesso


social constituam objetivos da UE, que se alcança através do
modelo europeu da economia social de mercado, promovendo a
igualdade de oportunidades, eliminand toda e qualquer
discriminação, como condição de justiça social.

Esta forma de encarar a democracia completa-se e concretiza-se


no respeito e proteção dos direitos fundamentais do cidadão,
constantes da Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia.

• O princípio do Estado de Direito

Este princípio exige uma “União de Direito”, no sentido em que


toda a atuação da UE, dos seus órgãos dos Estados membros deve
decorrer no respeito pela legalidade, ou seja, no respeito pelo
conjunto de princípios fundamentais que formam o
chamada bloco da legalidade, o qual se cumpre plenamente
quando o ordenamento jurídico assegura a tutela judicial
efetiva dos direitos fundamentais.

O princípio democrático impõe a ideia de Estado de Direito, no


que significa a construção e o funcionamento de uma União com
base no primado do Direito e da legalidade, da segurança jurídica
e da proteção da confiança legítima. Significa ainda que toda a
ação da UE e dos seus órgãos está subordinada ao Direito.

Para assegurar o Direito da UE e a coerência do ordenamento


jurídico, Portugal procedeu a sucessivas revisões da Constituição
de 1976 de forma a introduzir as alterações que permitiram
compatibilizar o texto constitucional com os Tratados.

Assim, a primeira revisão constitucional de 1982, teve em vista


preparar o texto da Constituição para a adesão de Portugal às
comunidades Europeias, a que se seguiram a revisão
constitucional de 1992, de adaptação ao Tratado de Maastricht e
depois a revisão constitucional de 2001 de adaptação sod tratados
de Amesterdão e de Nice , por último, a revisão constitucional de
2004 que se levou em conta o TCE que, entretanto, não chegaria a
entrar em vigor.

• O princípio da economia social de mercado

O modelo social europeu caracteriza-se pela promoção do


crescimento económico e da estabilidade de preços, como
condições indispensáveis ao desenvolvimento sustentado, mas
acrescenta-lhe a ambição de eliminar progressivamente a
exclusão social e todas as formas de discriminação.

A buscar constante da realização da justiça e da proteção social, a


igualdade entre homens e mulheres, a proteção dos direitos
fundamentais, a solidariedade intergeracional através da
segurança social, constituem elementos de identificação do
modelo social europeu.

• O princípio da dignidade humana

Nos termos do art. 2.º do TUE, a União deve respeitar a dignidade


humana, como valor da UE, assumindo uma tradição
constitucional comum aos Estados membros.A afirmação deste
princípio inspira-se na Constituição Alemã e tem correspondência
expressa na Constituição Portuguesa que afirma a dignidade da
pessoa humana como valor em que se baseia a soberania da
República Portuguesa (art. 1.º CRP).

Enquanto princípio fundamental, a dignidade humana implica


que, no processo de integração europeia, a pessoa humana seja
colocada antes e acima de tudo, em especial acima de quaisquer
considerações e decisões de política económica e social.

O princípio da dignidade humana é o guia para a leitura dos


direitos fundamentais, nomeadamente, do direito à vida (art 2.º),
do direito à integridade do ser humano (art.3.º), da proibição da
tortura e dos tratos e penas desumanos ou degradantes (art. 4.º),
da proibição da escravatura e do trabalho forçado (art. 5.º).

• O princípio da solidariedade

Desde o início, com a criação das Comunidades Europeias e


depois com o avanço para a UE ficou sempre claro que o
interessa da União se sobrepõe sempre aos interesses de cada
Estado enquanto interesse geral ou comum.

É com base neste princípio que os Estados membros assumem o


dever de prosseguir o interesse geral, de convergir e cooperar
entre si e de nada fazer que possa prejudicar o interesse da
União.
Essa solidariedade é desde logo uma solidariedade política entre
Estados, numa espécie de “contrato social” entre povos, na
realização do objetivo comum da coesão económica, social e
territorial.

Solidariedade significa entreajuda, cooperação leal e


convergência como instrumentos com os quais se faz o caminho
na busca da coesão no espaço político da União Europeia.

• O princípio da subsidiariedade
Este é um princípio de descentralização, na medida em que
atribui aos Estados a preferência no exercício das competências
não exclusivas da União.

De acordo com o princípio em questão, a intervenção dos Estados


é a regra, no sentido em que a decisão deve ser tomada ao nível
mais próximo dos cidadãos.

A consagração expressa neste princípio ocorre, pela primeira vez


no Ato Único Europeu e o princípio da subsidiariedade foi
consagrado pelo Tratado de Maastricht.

O princípio só se aplica nos domínios das competências


concorrentes ou partilhadas entre os Estados membros e a União
Europeia. O Tratado de Lisboa teve a preocupação de sublinhar
expressamente que o princípio da subsidiariedade não deve ser
aplicado nos domínios da competência exclusiva da União.

• O princípio do gradualismo e do adquirido

Este princípio diz que o processo de integração deve fazer-se de


forma gradual, ou seja, de forma progressiva e segura evitando os
riscos de paragens ou de saltos entre fases do processo.

O gradualismo significa integração dinâmica e evolutiva, em que


a passagem à fase seguinte só avança quando se consolidam os
objetivos visados na fase anterior do processo, sendo importante
atingir o amadurecimento adequado de cada uma das várias fases
do processo.

O objetivo político a alcançar com o gradualismo é a “criação de


uma união cada vez mais estreita entre os povos da Europa”.

Por último, é importante fazer referência o princípio do


adquirido da União, em que refere que o processo de integração
sendo gradual, deve a todo o momento ser consolidado, o que
significa que deve ter-se como adquirido e assente o que se
alcançou em cada fase, de tal forma que os objetivos alcançados e
as medidas e atos adotados pela União devem considerar-se
juridicamente definitivos e politicamente irreversíveis.

• Princípio da proporcionalidade

O objetivo essencial está associado à ideia de que sempre que se


justifique a adoção de uma medida, importa assegurar que as
finalidades a alcançar sejam atingidas com base no menor
sacríficio ou encargo possível para os destinatários da medida,
como tem vindo a ser fixado pela jurisprudência do Tribunal de
Justiça.

A plena compreensão do princípio da proporcionalidade implica a


consideração de 3 requisitos essenciais que concorrem na relação
de adequação entre meio e fim em qualquer processo e que são:

1. Adequação da medida a adotar com vista à realização do


fim previsto nos Tratados
2. Proporcionalidade em sentido estrito, o que significa que
a medida é quantitativamente acertada, no sentido em
que não é excessiva em relação ao fim a prosseguir
3. Necessidade de adoção daquela medida restritiva, no
sentido de que, para além de indispensável, tem de ser
demonstrado que outra solução menos onerosa não existe ou
não é praticável perante as circunstâncias concretas do caso

Trata-se de um princípio que tem como ideia a eliminação do


excesso, de modo a que o exercício das competências atríbuidas
não ultrapassem o indispensável à realização dos objetivos a
prosseguir de acordo com os Tratados.

Capítulo VI
Os Direitos Fundamentais da União Europeia

• A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia foi


proclamada pela Comissão, pelo Conselho e pelo Parlamento a 7
de Dezembro de 2000 no Conselho Europeu de Nice e,
posteriormente, reafirmada e alterada na Conferência
Intergovernamental de 2007 e de novo proclamada solenemente a
12 de Dezembro de 2007, pelos Presidentes do Parlamento
Europeu, do Conselho e da Comissão.

Com o Tratado de Lisboa, a Carta dos Direitos Fundamentais


adquiriu um novo estatuto juridicamente vinculativo, passando a
ter o mesmo valor jurídico dos Tratados.

Com a solução consagrada no Tratado de Lisboa (artigo 6.º, n.º1


TUE) é atribuído à Carta o estatuto jurídico de um verdadeiro
catálogo de direitos, liberdades e princípios ao qual é
expressamente reconhecido o mesmo valor jurídico do Tratado. A
Carta adquire a natureza e a força jurídica de um tratado
internacional.

O texto da Carta dá uma resposta adequada às exigências da


transparência e da imparcialidade no funcionamento da
administração europeia, ao consagrar no seu catálogo dos direitos
fundamentais o direito de todo o cidadão europeu à boa
administração e o direito de acesso a documentos administrativos.

A Carta reúne num texto único todos os direitos das pessoas


acentuando uma perspetiva orientada pelo princípio da
indivisibilidade dos direitos fundamentais.

A Carta enumera todos os direitos num catálogo centrado nos


seguintes valores básicos e estruturantes:

• Dignidade humana
• Liberdades fundamentais
• Igualdade
• Solidariedade
• Direitos dos Cidadãos
• Justiça

O objetivo da Carta é simplesmente proteger os direitos


fundamentais individuais no contexto da ação das instituições,
órgãos e organismos da UE, bem como dos Estados membros
quando estes tenham de aplicar o Direito da União no exercício
das respetivas competências, bem como na fiscalização da sua
legalidade.

Capitulo VIII
Órgãos, Instituições e organismos da União Europeia

A União Europeia dispõe de um quadro institucional que visa


promover os seus valores, prosseguir os seus objetivos, servir os
seus interesses, os dos seus cidadãos e os dos Estados membros,
bem como assegurar a coerência, a eficácia e a continuidade das
suas políticas e das suas ações.

Neste sentido, a UE dispõe dos seguintes órgãos:

1. Parlamento Europeu
2. Conselho Europeu
3. Conselho
4. Comissão Europeia
5. Tribunal de Justiça
6. Banco Central Europeu
7. Tribunal de Contas

O n.º2 do artigo 13.º do TUE, refere que cada instituição atua


dentro dos limites das atribuições que lhe são conferidas pelos
Tratados, de acordo com os procedimentos, condições e
finalidades que estes estabelecem. As instituições mantêm entre si
uma cooperação leal.

Você também pode gostar