Você está na página 1de 61

Direito da União Europeia

Introdução1
Noção e Natureza do Direito da União Europeia

- Para Maria Luísa Duarte, o Direito da União Europeia é o conjunto de regras e


princípios que regulam a existência e o funcionamento da União Europeia.

- O Direito da União Europeia não é um ramo de Direito, como o Direito Civil ou o


Direito Administrativo – é uma árvore, é uma ordem jurídica per se, sendo a expressão
do ordenamento jurídico europeu.

- Um ordenamento jurídico pleno (para Maria Luísa Duarte) tem de preencher os


seguintes pressupostos:

- Sistema de fontes

- Autonomia

- Hierarquia

- Unidade

- Plenitude

- A União Europeia tem um sistema próprio de fontes, como as directrizes, os


regulamentos, etc.

- Autonomia – o Direito da União Europeia tem autonomia face aos ordenamentos


jurídicos com que se relaciona

- No entanto, a sua relação com outros ordenamentos (nomeadamente o Direito


Interno) não é inexistente – os ordenamentos jurídicos podem ser autónomos mas não
estanques, funcionando em rede – a chamada internormatividade

- Hierarquia – no seio da União Europeia verificam-se, de facto, relações de


subordinação e, especialmente, de supraordenação

- Exemplo: princípio do primado do Direito da União Europeia, princípio da


prioridade aplicativa

- Unidade – a União Europeia gira em torno de valores comuns – integração, livre-


mercado, democracia e respeito pelos direitos humanos; a existência do Tribunal de
Justiça confere alguma unidade e coerência ao Direito da União, através da sua
jurisprduência uniformizadora.

1
Maria Luísa Duarte, União Europeia: Estática e Dinâmica da Ordem Jurídica Eurocomunitária, pp 17-23,
1ª Edição, Almedina, 2011

1
- Plenitude - exaustividade reguladora e capacidade de manter o funcionamento da
ordem jurídica

- Apesar do princípio da competência por atribuição, tem-se verificado uma


expansão do número de competências da União Europeia

- Tribunal de Justiça interpreta os tratados sempre extensivamente, através de um


critério “in dubio, pro U.E.”

- Hoje em dia a União Europeia tem quase todas as competências e o Direito da


União Europeia é um vírus que contamina o direito interno, mas sempre com respeito
do princípio da subsidariedade.

Conclusão

- Direito da União Europeia é a expressão de um ordenamento jurídico próprio, não


sendo, portanto, um ramo de Direito. Contudo, existem ramos de Direito da União
Europeia, como o Direito Europeu da Concorrência, Direito do Mercado Único, etc.,
sendo o Direito da União Europeia a “árvore”.

Os Fundamentos Históricos do Desígnio Europeu2 3 4

- Pode-se dizer que o começo da integração europeia deu-se em 1950, com a famosa
Declaração Schuman. Contudo, existem uma série de antecedentes que convém ver.

Até à 1ª Guerra Mundial

- Maria Luísa Duarte chama a esta fase “pré-história da integração europeia”

- É difícil definir Europa. Geograficamente não é nada mais do que uma península
asiática – mas desde a Idade Média que se foi perdendo a noção puramente geográfica
de Europa, e com o humanismo renascentista, já se caracteriza a Europa como
“entidade histórico-cultural e política”.

- Desde a Antiguidade Clássica que tem havido um desejo de uma Europa unida,
Europa unida essa que tem sido tentada pela força das armas e pela força das palavras.
Depois de uma Idade Média onde houve uma certa unidade sob a autoridade do Papa,
a chamada Res Publica Christiana, a Idade Moderna das soberanias nacionais absolutas
e das guerras religiosas fratricidas cria uma nostalgia de unidade europeia.

2
Maria Luísa Duarte, Direito da União Europeia e das Comunidades Europeias, pp 25- 80, 1ª Edição, Lex
3
João Mota de Campos, Manual de Direito Europeu, pp 19-65 , 6ª Edição, Coimbra Editora
4
Maria Luísa Duarte, União Europeia…, pp 23-80

2
- Pela força das armas, já vários impérios tentaram unir a Europa – o Império Romano,
Império Carolíngio, Sacro-Império Romano-Germânico, França Napoleónica, III Reich,
etc.

- Pela força das palavras, a ideia de unidade europeia já há algum tempo que vinha a
ser proposta, havendo muitos filósofos e pensadores a apresentarem projectos de
congregação europeia variados, numa era em que os Estados eram deixados aos seus
impulsos beligerantes.

- Ainda numa base muito precoce, pensadores como Antoine Marini, o Duque de
Sully, William Penn, o Abade Saint-Pierre, entre outros, foram os prmeiros a propor
proto-projectos de uma Europa Unida.

- No século XVIII vários pensadores, como Jean-Jacques Rousseau, Jeremy Bentham


e Immanuel Kant, fazem passar pela unidade de Estados europeus a possibilidade de
uma paz perpétua.

- No século XIX, essas ieias são divulgadas, através de autores como Saint-Simon,
Benjamim Constant, Ernest Renan, e até se realizaram “Congressos da Paz”, em 1849 e
1850. No primeiro, o escritor francês Victor Hugo propôs uma “união europeia” com
capital em Paris, o que mostra que, apesar das intenções, havia muita dificuldade em
conseguir erguer o europeísmo no meio de nacionalismos. No entanto, todos estes
pensadores pensaram a integração política europeia em torno dos seguintes valores –
consentimento dos cidadãos no seio dos seus Estados, consentimento dos Estados, de
todos os Estados, em relação ao acto fundador da Federação, etc.

No Período Entre as Guerras Mundiais

- A Prof. Maria Luísa Duarte designa também esta era por “proto-história da integração
europeia”

- A 1ª Guerra Mundial derrota completamente o pensamento pacifista, e o europeísmo


sofre um grande revés.

- Depois de tal devastadora guerra, gera-se um certo pessimismo, com autores como
Oswald Spengler e Albert Demangeon a publicarem obras que falam sobre o declínio
do ocidente, mais precisamente, da Europa. Entretanto, a Europa ia ficando para trás
na corrida do desenvolvimento, com uns Estados Unidos cada vez mais fortes.

- Contudo, em 1923 um diplomata, o Conde Coudenhove-Kalergi, publica o livro “Pan-


Europa”, desenhando uma estrutura concreta para uma Federação Europeia, o que faz
nascer mais movimentos europeístas – é daqui que sai a ideia que mais tarde inspirará
Schuman, a ideia de que a construção europeia é feita de confiança.

- A estrutura proposta por Coudenhove-Kalergi é profeticamente próxima da U.E.


actual: cidadania europeia ligada à cidadania nacional, bicameralismo, tribunal
federal.

3
Depois da 2ª Guerra Mundial

- A 2ª Guerra Mundial resultou em danos incalculáveis para a Europa – humanos e


materiais. A Europa estava em ruínas, endividada e dividida, tendo o seu aparelho
destruído.

- Perante essa situação era preciso reconstruir a economia europeia, era preciso
acabar com as clássicas inimizades e era preciso criar uma estrutura de contra-peso
contra a influência soviética.

Antecedentes

- BENELUX – união aduaneira entre a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo criada em


1948, que mostra que a integração económica e política é possível.

- Discurso de Churchill em Zurique em 1946: “É preciso criar uns Estados Uidos da


Europa... uma estrutura que permita a Europa viver e crescer em paz, segurança e
liberdade... Para isso acontecer, é preciso haver reconciliação entre a França e a
Alemanha.”

- No entanto, com o falhanço da Comunidade Europeia de Defesa, o Reino Unido


afasta-se cada vez mais da integração europeia, e mesmo como membro da U.E. desde
1973, a sua posição sempre mais afastada é resumida na expressão: “we are with
them, but we are not one of them.”

- Congresso da Europa em Haia – 1947, do qual saíram duas correntes: a corrente


federalista, que advogava uma entidade supranacional, com relações de
supraordenação, citando casos de sucesso como a Zollverein alemã, a Confederação
Germânica e os Estados Unidos; e uma corrente unionista, que advogava uma
cooperação inter-governamental na onda de uma clássica organização internacional.

- Pouco depois, a criação do Conselho da Europa em 1948 concretizou as aspirações


dos unionistas e a criação da CECA em 1951 as aspirações dos federalistas, agora
menos idealistas e convertidos ao método dos pequenos passos.

- OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico) e Plano Marshall


de 1948 – inicialmente designada em OECE (Organização Europeia de Cooperação
Europeia), tornando-se OCDE. Era originalmente uma organização ‘anexa’ ao Plano
Marshal, mas posteriormente autonomizou-se como organização de cooperação
económica.

- Comunidade Europeia de Defesa – foi para ser criada entre a França e a Alemanha,
mas a rejeição da Assembleia Nacional francesa deitou por terra esforços de tão
grande integração política, dando mais ânimo ao método dos pequenos passos.

A Criação das Três Comunidades Europeias

A Declaração Schuman

4
- Diz-se que a integração europeia propriamente dita se iniciou com a Declaração
Schuman

- A Declaração Schuman é proferida por Robert Schuman, Ministro dos Negócios


Estrangeiros francês, a 9 de Maio de 1950, sendo ela um convite aberto a todos os
países europeus, mas principalmente dirigida à Alemanha

- Ela define o modelo de integração europeia, o modelo dos pequenos passos: “A


Europa não se fará num só golpe”

- Lido por Schuman, ela é, no entanto, idealizada por Jean Monnet, com a ajuda
técnica do jusinternacionalista Paul Reuter.

- É uma ideia audaz e um discurso jurídico-político perfeito marcando o início do


sucesso europeu.

- Qual a sua ideia? Nos últimos séculos a Europa conheceu guerras devastadoras.
Sendo assim, a alternativa só pode ser a solidariedade, quebrando antagonismos
tradicionais (como o antagonismo franco-alemão) – o Europeísmo está intimamente
ligado ao pacifismo, pois a ideia de Europa nasceu para garantir a paz duradoura e a
prosperidade.

- E os seus objectivos?

- Objectivo Imediato – criação de uma Alta Autoridade que gerisse a


comercialização e fabrico do carvão e do aço francês e alemão, como matérias primas
de guerra que são, sendo essa cooperação uma prova de confiança entre velhos
inimigos.

- Objectivo Mediato – proposta, a prazo, lançará as bases de uma Federação


Europeia – a CECA seria só o início, seria só o fermento.

- A declaração Schuman apresenta também a ideia nova de supranacionalidade,


falando da Alta Autoridade como órgão supranacional e não inter-governamental.

As Etapas do Processo de Integração Europeia

Etapa de Transição (1951-1968)

(os tratados estão enunciados com a data da sua assinatura e a data da sua entrada
em vigor)

Tratado de Paris – 1951-1952

- A 1951 é celebrado o Tratado de Paris, concretizando a Declaração Schuman e


criando a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. O tratado vigorou entre 1952 e
2002, sendo a primeira realização do projecto europeu e contou com a participação de
Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

5
- O falhanço da Comunidade Europeia de Defesa, criada por medo da ameaça
soviética, levou aos países do BENELUX a proporem um “relançamento europeu” e, em
1955 foi convocada uma conferência dos Seis para Messina.

Tratado de Roma – 1957-1958

- Assinado o Tratado de Paris, em 1957 assiste-se a outro marco histórico para a


integração Europeia. A 25 de Março de 1957, os seis países fundadores da CECA
(França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo) assinam dois tratados,
criando a Comunidade Económica Europeia e a Agência Europeia para a Energia
Europeia (EURATOM), entrando em vigor a 1958. O Tratado de Roma iniciou a
existência de três comunidades – a a CECA, a CEE e a EURATOM

- Com a criação da CEE e a entrada em vigor do Tratado de Roma, inicia-se o caminho


até ao Mercado Comum. Esse caminho faz-se, como se preconizava na Declaração
Schuman, através do chamado método funcionalista, ou método dos pequenos passos,
método esse que ganhou força após o fracasso da Comunidade Europeia de Defesa em
1954.

- Assim, da zona de comércio livre passa-se para a união aduaneira, depois para o
mercado comum e, por fim, para a união económica e monetária e, quem sabe no
futuro, o governo económico.

- O Mercado Comum pressupunha ainda uma série de políticas comuns: Política


Agrícola Comum, Política Comum das Pescas e Política Comercial Comum.

- Esta etapa conheceu dois momentos críticos, com a França como protagonista: em
1963 com a recusa francesa ao pedido de adesão do Reino Unido e em 1965 com a
política da ‘cadeira vazia’ (o nacionalismo de De Gaulle e a sua ‘Europa das Pátrias’
levou a uma certa reserva da França em dar mais poderes à CEE)

Etapa da Consolidação (1969-1992)

- Com a saída de De Gaulle do poder, e a ascensão de Georges Pompidou, o projecto


europeu pôde avançar, com as políticas de acabamento (concluir realização do
Mercado Comum), aprofundamento de políticas e alargamento (73 – Reino Unido,
Irlanda e Dinamarca; 81- Grécia; 86 – Espanha e Portugal)

- Passou-se a eleger o Parlamento Europeu por sufrágio universal em 1979,


institucionalização, em 1974, do Conselho Europeu e o Acto Único Europeu em 1987

Acto Único Europeu - 1987

- O Acto Único Europeu consagrou no texto dos tratados a existência do Conselho


Europeu, alargou os poderes do Parlamento, clarificou a função executiva da Comissão
e criou o Tribunal de 1ª Instância associado ao Tribunal de Justiça.

6
Etapa da ‘Idade Futura’ e da União Europeia5

Tratado de Maastricht – 1992-1993

- Todo o processo foi impulsionado por Jacques Delors, Presidente da Comissão


Europeia, e motivado pelas transformações políticas da Europa de Leste.

- Com o Tratado de Maastricht, as comunidades europeias juntam-se na Comunidade


Europeia.

- É também, em Maastricht, assinado o Tratado da União Europeia, alargando-se as


competências e a cooperação para lá da vertente económica, criando-se
paralelamente a União Europeia.

- Consagra-se a chamada estutura pilarizada, havendo três pilares que suportam o


Quadro Institucional Comum – a Comunidade Europeia, Política Externa e Segurança
Comuns e Justiça e a Assuntos Internos – com cada um a seguir uma metodologia
diferente:

- No seio da Comunidade Europeia segue-se o modelo comunitário, delibera-se por


maioria e o seu principal protagonista é a Comissão Europeia

- No âmbito da Política Externa e Segurança e Comum e da Justiça e Assuntos


Internos segue-se o método da cooperação inter-governamental, através da acção
concertada dos Estados-Membros no seio do Conselho Europeu, que emite soft law e
segue a regra da unanimidade.

- Começa-se a pensar na União Económica e Monetária, o chamado Plano Delors.

- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Maastricht foi a mais importante e alargada
reforma dos tratados.

Tratado de Amsterdão – 1997

- Limitou-se a aprofundar pressupostos de um funcionamento mais eficaz da União,


alargando o âmbito de limitação da soberania dos Estados às matérias de asilo,
imigração, vistos – comunitarizou parte do pilar da JAI

- Dá mais poderes ao Parlamento Europeu

Tratado de Nice – 2001-2003

- O principal propósito do Tratado de Nice foi adaptar as instituições ao alargamento


que iria ocorrer em 2004.

A Constituição Europeia e o Seu Fracasso6

- Com a chamada Declaração Laeken em Dezembro de 2001 (Declaração nº23 anexa ao


Tratado de Nice), inicia-se o projecto para uma Constituição Europeia, baseada num
objectivo de clarificar e simplificar os Tratados e de democratizar a União e criar maior

5
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty: A Legal and Political Analysis, pp 9-25, 1ª Edição, Cambridge
6
Maria Luísa Duarte, Estudos de Direito da União Europeia e das Comunidades Europeias Vol. II, pp 393

7
transparência, convocando uma convenção para discutir esse projecto. A Declaração
Laeken reflecte uma percepção que os líderes europeus iam tendo: que os cidadãos
estavam cada vez menos entusiasmados com a construção europeia.

- Na altura perguntava-se: seria a Constituição um tratado ou uma verdadeira


constituição?

- Maria Luís Duarte – temos que ver qual a definição prévia de Constituição. Se
lidarmos como uma acepção material, de Constituição como estatuto jurídico do poder
político, podemos falar de ‘Constituição Europeia’, porque de facto, é o que ela era,
respondendo às exigências de uma Constituição material: tutela dos direitos
fundamentais, formas de limitação jurídica do poder político e previsão de um quadro
institucional de órgãos.

- Mas seria uma Constituição na acepção formal da palavra? Maria Luísa Duarte define
três critérios: critério genético, critério ontológico e critério supraordenacional. Na
origem do Tratado para a Constituição Europeia (genético) esteve a vontade soberana
dos Estados-Membros, reunidos numa conferência inter-governamental, não havendo
um poder constituinte europeu e autónomo, nem sendo possível haver, pois não
existe um ‘povo europeu’ autónomo; critério ontológico remete para uma Constituição
a existência como fundamento do poder político autónomo e auto-referencial – na
U.E. não foi assim que funcionou, sendo ela uma ‘criatura’ moldada e accionada pelos
Estados-Membros, seus criadores (por exemplo, a UE não tem base territorial própria,
o seu território é o território dos Estados-Membros), já para não falar do princípio das
competências por atribuição. Quanto ao último critério, ele implica que essa
Constituição gozaria de uma força jurídica especifica que envolve, por um lado, a
primazia da norma constitucional em situação de litígio e a garantia do processo de
revisão – só nesse é que a Constituição Europeia assumiria, em parte, as características
de uma Constituição. Sendo assim, ela era uma ficção, sendo, do ponto de vista
jurídico-formal, um tratado internacional negociado pelos Estados que integram a UE
na sua qualidade de sujeitos de DIP.

- A Constituição Europeia tinha muitas referências a símbolos, criava um Ministro dos


Negócios Estrangeiros, associação dos parlamentos nacionais ao processo de decisão,
codificação do primado, etc.

- Com a rejeição da Constituição em dois referendos, entra-se num período de


reflexão, até à génese do Tratado de Lisboa.

O Tratado de Lisboa e a Afirmação da Identidade da União Europeia Como Espaço de


Integração Política7 8

- Com o falhanço do projecto constitucional europeu, era precisa uma nova solução –
começa-se então a falar do “Tratado Reformador”, durante a presidência alemã.

7
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty: A Legal and Political Analysis, pp 36-111, 1ª Edição, Cambridge
8
Maria Luísa Duarte, Estudos Sobre o Tratado de Lisboa, pp 9-45, 1ª Edição, Almedina

8
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Lisboa herdou a forma jurídica dos tratados
clássicos – Roma, Nice, etc. e foi importar o conteúdo à Constituição Europeia, num
“esquema laborioso de engenharia juridica ou (...) um trabalho paciente de cerzidura
normativa” – basicamente, as diferenças em relação à Constituição não são assim tão
grandes, apenas havendo modificações em questões ideológicas, neutralizando esse
sentido do texto.

- Em nome do compromisso político teve de se sacrificar o objectivo postulado na


Declaração de Laeken de maior transparência e simplificação do estatuto jurídico da
União, continuando o modelo ‘Dois Tratados, Uma União’.

- Com o Tratado de Lisboa:

- Abolem-se quaisquer referências constitucionais

- Quanto ao princípio do primado do Direito da União, ele já não está codificado,


apesar de continuar jurisprudencialmente consagrado.

- Art. 4º e 5º/2 TUE – competência da União Europeia é uma competência por


atribuição e sublinha-se que a segurança nacional é da exclusiva responsabilidade dos
Estados

- Não inclusão da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Contudo, o


art. 6º/1 TUE dá-lhe valor jurídico igual ao dos tratados.

- Art. 12º TUE – dá-se maior papel aos parlamentos nacionais

- Competência – regulada no art. 2º TFUE

- O método de cooperação inter-governamental manifesta-se em muitos aspectos,


nomeadamente o abandono de ideias e termos constitucionais, a possibilidade de
saída de um Estado-Membro da União Europeia, o facto de algumas das funções dos
Estados permanecerem na sua competência ou sujeitos à regra da unanimidade
(nomeadamente a PESC e algumas questões de cooperação judiciária e policial em
matéria penal – art. 31º TUE) e a consagração do princípio da subsidariedade

- Mas o método comunitário também ganha pontos, nomeadamente com a criação do


Presidente do Conselho Europeu e da Alta Representante para Negócios Estrangeiros e
Política de Segurança, maior possibilidade de cooperação em matéria de Política
Externa e Segurança Comum e mais assuntos decididos por maioria qualificada, já para
não falar da dispilarização – “desaparecem as Comunidades para sair fortalecido o
método comunitário.”

Sendo assim:

- Por um lado, o novo enquadramento jurídico consagra muitas das reformas


substanciais da Constituição Europeia, dotando a União de mecanismos que lhe
permitirão crescer no futuro – dá a possibilidade de, se houver vontade polítiva, fazer
crescer a influência e visibilidade da União.

9
- Por outro lado, é a primeira vez que os ‘federalistas’ foram obrigados a recuar,
fazendo desaparecer referência a símbolos que aproximariam a União de um Estado –
a ideia de uma Federação Europeia sai derrotada.

- Diferentemente da Constituição Europeia, o Tratado de Lisboa não revoga os outros


tratados, modifica-os, como tem sido sempre feito.

- O Tratado de Lisboa, nas palavras de Piris, é um “tratado muito complexo, seguindo o


padrão dos tratados anteriores, não revogando nem substituindo nenhum, apenas
emendando-os. Sendo assim, abandona-se o propósito simplificador da Constituição
Europeia” dando muita complexidade, parece-me, à ‘constituição material da U.E.’,
i.e., o TUE e o TFUE. Contudo, simplifica uma série de assuntos:

Personalidade Jurídica Única

- Antes havia duas pessoas jurídicas – a Comunidade Europeia e a União Europeia, que
só o era através de um ius tractum limitado.

- Agora só há uma pessoa jurídica – a União Europeia – com a União a absorver a


Comunidade Europeia. Contudo, a EURATOM continua com personalidade jurídica
própria – art. 47º TUE

- Já tendo a ex-Comunidade Europeia personalidade jurídica, e sendo a União sua


sucessora, era natural este passo, pelo que facilitará a eficácia da actuação da União.

- O art. 216º TFUE codifica a doutrina jurisprudencial sobre a habilitação da União


na política externa.

Despilarização

- Maria Luísa Duarte – a dispilarização está incompleta: os pilares agora são invisíveis,
deixando marcas de uma forma subreptícia:

- Em relação à PESC, ao olharmos para os arts. 21ºss TUE, vemos que nestas matérias o
Conselho Europeu decide por unanimidade (art. 31º TUE) e actos legislativos ficam
excluídos, que o Parlamento Europeu não co-decide, que a Comissão não tem iniciativa
e que o Tribunal de Justiça não tem jurisdição (arts. 275º e 276º TFUE)

- Aliás, se firmos o segundo sub-parágrafo do art. 24º/1 TUE, adicionado


expressamente pelos Estados-Membros na CIG de Junho de 2007, vemos: “A política
externa e de segurança comum está sujeita a regras e procedimentos específicos. É
definida e executada pelo Conselho Europeu e pelo Conselho, que deliberam por
unanimidade, salvo disposição em contrário dos Tratados. Fica excluída a adopção de
actos legislativos. (...) O Tribunal de Justiça da UE não dispõe de competência no que
diz respeito a estas disposições, com excepção do art. 40º TUE” – a inclusão da
referência ao art. 40º (permitindo ao TJUE pronunciar-se sobre poucos casos de PESC)
leva-nos a pensar se um julgamento audaz será possível.

- Em matérias de Justiça e Assuntos Internos, os arts. 82º ss do TFUE abrem a


possibilidade de cooperação reforçada (basicamente, andar a ritmos diferentes)

10
- Jean-Claude Piris acha que o terceiro pilar desaparece efectivamente, pois os
actos adoptados em matéria de JAI são agora regulamentos, directivas e decisões,
adoptadas em co-decisão pelo Parlamento e pelo Conselho, sob iniciativa da Comissão.

- Sendo assim, temos uma União, mas que pode andar a velocidades diferentes
consoante a matéria, e os princípios que regulam as relações entre instituições, entre
Estados-Membros e União aplicam-se agora a todas as matérias

Importância Dada aos Direitos Humanos

- Art. 6º TUE - atribui à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia “o mesmo
valor jurídicos dos tratados.” – agora, a União Europeia dispõe, finalmente, de um
catálogo próprio de tratados.

- O art. 6º/2 TUE prevê a adesão da União à Convenção Europeia dos Direitos do
Homem (não confundir com a Carta) – acordo internacional de adesão requer
deliberação unânime do Conselho, seguido de aprovação de todos os Estados-
Membros (art. 218º TFUE). Isso, curiosamente, colocaria o TJUE sujeito ao Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem.

Delimitação de Competências – art. 2º TFUE

- Os Estados-Membros, titulares originários das competências, aceitam delegar na


União novos e mais alargados poderes, mas reconhecem-se o direito de definir
limites, jurídicos e políticos, mais exigentes no que toca ao exercício dos poderes pelo
decisor da União e, por conseguinte, mais restritivos em relação à expansibilidade da
esfera de actuação da União em detrimento da área de decisão própria dos Estados-
Membros.

- V. art. 4º/1 e 5º/2 TUE que repetem a ideia da competência por atribuição.

- O art. 5º sujeita as competências ao chamado teste da competência, fazendo três


perguntas: quem tem a competência? (princípio da competência por atribuição) quem
deve exercer a competência (princípio da subsidariedade) e como deve ser exercida?
(princípio da proporcionalidade)

- Exclusivas – matérias sobre as quais só a União pode legislar e vincular. Os Estados-


Membros só o fazem com autorização ou para executar no seu próprio território o que
foi estatuído pela União. Exemplos: união aduaneira, mercado interno, união
económica e monetária, etc.

- Partilhadas – tanto a União Europeia como os Estados-Membros podem emitir


actos vinculativos; se a União já tiver legislado, os Estados-Membros só legislam no
que ela não legislou ou decidiu não legislar. Exemplos: ambiente, energia, transportes,
etc.

- Complementares – União Europeia não legisla, mas pode cooperar e ajudar Estados-
Membros. Exemplos: turismo, cultura, protecção civil, política industrial.

- Alargamento ou redução das competências?

11
- Em relação às competências exclusivas, verifica-se um retraimento do âmbito
que, tradicionalmente, doutrina e jurisprudência admitiam como matérias de
monopólio comunitário. Exemplo: política agrícola comum (com excepção de
conservação de recursos) e política comum de transportes agora estão nas
competências partilhadas.

- Em relação às competências partilhadas, há um alargamento nas áreas de


política de energia (194º TFUE), cooperação judiciária e policial em matéria penal (82º
TFUE), problemas comuns de segurança em matéria de saúde pública (168º TFUE),
política espacial europeia (189º TFUE), ajuda humanitária (214º TFUE), etc.

- O alargamento mais significativo verifica-se no âmbito das competências


complementares: novo título relativo ao turismo (art. 195 TFUE), desporto (art.
165º/2º TFUE), protecção civil (197º TFUE)

- Maria Luísa Duarte frisa o facto da passagem da PESC da esfera intergovernamental


para a esfera comunitária e a protecção de direitos fundamentais passar a estar
vinculada a um ‘bloco de fundamentalidade’, de fonte nacional e internacional.

- Quanto às competências partilhadas, é preciso enunciar três coisas.

- Declaração nº 18 – a CIG sublinha que a União pode decidir de deixar de exercer


uma competência partilhada revogando um acto legislativo, para melhor respeitar o
princípio da subsidariedade. Aliás, os Estados-Membros até podem pedir ao Conselho
para pedir à Comissão, de acordo com o art. 241º do TFUE, para submeter uma
proposta de revogação a um acto legislativo já em vigor, exigindo maior rigor na
aplicação do princípio da subsidariedade – apenas mostra um grau de desconfiança
política por parte dos Estados-Membros. Para Piris, juridicamente, não traz nada de
novo, pois isso sempre se pôde fazer.

- Princípio da Subsidariedade – o art. 5º/3 impõe o princípio da subsidariedade. O


Protocolo 2º desenvolve melhor esta matéria, especialmente no que toca à
participação dos Parlamentos Nacionais, que podem controlar a aplicação, ou não, do
princípio da subsidariedade.

- Princípio da Proporcionalidade – o art. 5º/4 dispõe que o conteúdo e a forma dos


actos da União não excederá o que é necessário para atingir os objectivos dos
tratados. Também é desenvolvido no Protocolo nº2.

Princípio do Primado

- Ele é confirmado, mas não formalmente consagrado no Tratado de Lisboa, ao


contrário da Constituição. No entanto, a jurisprudência uniformizadora do Tribunal de
Justiça reafirma o princípio, especialmente através do famoso acórdão Costa v. ENEL:
“A força executiva do Direito Comunitário não pode variar de um Estado para outro
devido a leis domésticas posteriores sem prejudicar a concretização dos objectivos do
Tratado.”

12
- A razão da remoção do princípio do primado do Tratado foi principalmente política,
depois dos referendos falhados em França e na Holanda.

A Estrutura Decisória da União Europeia


Instituições, Órgãos e Organismos9 10 11 12
Características Comuns da Arquitectura Institucional

O Quadro Institucional Único

- Segundo o art. 13º TUE, são sete as instituições da União Europeia: Conselho
Europeu, Conselho, Parlamento Europeu, Comissão Europeia, Tribunal de Justiça,
Tribunal de Contas e Banco Central Europeu.

Instituições, Órgãos e Organismos

- Há que lembrar que, desde a declaração de Laeken que um dos objectivos da reforma
da União era a maior democratização. No que toca à estrutura institucional, o Tratado
de Lisboa preocupou-se mais com questões de eficácia do que propriamente com o
reforço da componente democrática. Contudo, a componente democrática saiu
reforçada do Tratado no que toca aos procedimentos de decisão.

- Verifica-se que o Tratado de Lisboa alimenta uma certa ambição de reformulação do


quadro institucional. O traçado que dele emerge é mais conservador no que toca à
existência das instituições e órgãos e mais inovador no que toca as relações entre eles.

- O art. 13º TUE define as características gerais do quadro institucional:

- Identifica a sua função

- Enumera as suas instituições

- Subordina a actuação das instituições à observância do princípio da competência,


da separação de poderes e da cooperação leal.

- Define o Comité Económico e Social e o Comité das Regiões como órgãos


consultivos.

- O art. 13º deveria conter alguma referência ao sentido da nova distinção entre
instituições, órgãos e organismos, inovação do Tratado.

9
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 204-238
10
Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 50-69
11
João Mota de Campos, MDE, pp 65-202
12
Maria Luísa Duarte, União Europeia…, pp 156-292

13
- Desde sempre, as instituições designaram os órgãos mais importantes da União,
nem sempre sendo claro o critério, mais político que jurídico.

- O art. 13º adiciona à lista das instituições o Conselho Europeu e o Banco Central
Europeu, ficando mais coerente o quadro institucional da União, que agora integra os
órgãos verdadeiramente mais relevantes.

- Quanto ao conceito de organismos, encontramos nele variadas entidades jurídicas e


funcionais, com duas características, pelo menos: não estão previstas no texto dos
tratados e são criados por decisão das instituições competentes da União. Existem
cada vez em maior número e aparecem sob os mais diversos nomes: agência, instituto,
observatório, etc.

- Art. 263º TFUE – permite impugnação dos actos dos organismos por iniciativa dos
particulares.

Estrutura Institucional e Fontes de Legitimidade

- Legitimidade judicial – aplicação Direito União Europeia

- Legitimidade Democrática

- Legitimidade Inter-Governamental

- Legitimidade Integrativa – defesa dos interesses da União

Regime Comum de Funcionamento das Instituições, Órgãos e Organismos

- Autonomia – as instituições europeias têm autonomia externa e interna. A primeira


resulta do grau de independência da própria União em relação aos Estados-Membros e
às suas instituições jurídicas, mercê da personalidade jurídica que lhe é expressamente
reconhecida pelo art. 47º TUE; a autonomia interna envolve o poder de auto-
organização, que implica aprovação dos próprios estatutos internos.

- Função Pública – o regime está mais próximo do regime do funcionalismo público de


um Estado do que de uma organização internacional clássica

- Privilégios e Imunidades – art. 343º TFUE e Protocolo nº7

- Regime Linguístico – art. 342º TFUE; o Jornal Oficial da União Europeia é publicado
nas 23 línguas oficiais

- Sedes – 341º TFUE:

- Bruxelas – serviços da Comissão, do Conselho e do CES, reuniões do Conselho de


Ministros

14
- Luxemburgo – Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, Serviço de publicações,
alguns serviços da Comissão, secretariado geral do Parlamento, Banco Europeu de
Investimento

- Estrasburgo – sessões plenárias do Parlamento

As Instituições, Órgãos e Organismos

O Parlamento Europeu13

Composição

- É a única instituição dotada de plena legitimidade democrática.

- Eleito por sufrágio universal, ele é o representante de todos os cidadãos europeus,


tendo no máximo 751 membros, incluindo o Presidente.

- Alteração significativa – o número de deputados já não está nos Tratados, apenas


se enunciando critérios, como o limite acima exposto e o facto de a representação dos
cidadãos ser degressivamente proporcional e com limite mínimo por Estado-Membro
de 6 deputados e máximo de 96, para garantir um maior equilíbrio entre Estados mais
e menos populosos (Ex: um deputado luxemburguês representa 71.000 pessoas,
enquanto que um alemão representa 826.000)

- De frisar que, de acordo com os critérios acima expostos, o Conselho Europeu


adopta por unanimidade a composição do Parlamento, com o seu consentimento –
14º/2 TUE

- Uma dúvida não foi resolvida pelo Tratado de Lisboa – que critério usar:
nacionalidade ou residência? (primeiro favorceria países de emigração, como Itália ou
Portugal; e segundo favoreceria países de imigração, como a França e a Alemanha)

Funções e Procedimento de Decisão

- Desde as primeiras eleições europeias em 1979, os sucessivos pedidos de


alargamento de competências começam a fazer sentido devido à sua democratização
(faz sentido que, se se quiser democratizar a União, se dê mais poderes ao
Parlamento) e a sua estratégia passou sempre por condicionar o Conselho, aliando-se
à Comissão.

- Agora, no plano geral, o Parlamento logrou avantajar a sua expressão, destacando-se


a generalização do procedimento de co-decisão no que respeita à função normativa.

- Segundo o art. 14º TUE, o Parlamento exerce, juntamente com o Conselho, a


função legislativa e a função orçamental, aplicando-se-lhe o procedimento legislativo
ordinário através de decisão conjunta sua e do Conselho – 289º e 294º TFUE

13
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 114-122

15
- O domínio da co-decisão foi agora alargado mais trinta casos de importância
variável, estatuído em quatorze novas bases legais, sendo o sector mais significativo
aquele da Liberdade, Segurança e Justiça, coordenação em matéria de segurança
social, especialmente no que toca a trabalhadores migrantes, cultura, matérias de
Euro, fundos de coesão, propriedade intelectual, etc.

- Isto ignifica que o Parlamento e o Conselho, para poderem ser eficientes têm de
cooperar mais, tentando entender-se à primeira leitura dos actos. Isso faz-se através
de encontros informais entre a Presdiência do Conselho, representantes da Comissão e
do Parlamento.

- Agora, a sua Comissão está sujeita ao Parlamento Europeu e o Parlamento pode


nomear comissões de inquérito, receber petições, eleger o Provedor de Justiça,
questionar a Comissão e o Conselho, etc.

- É de frisar que, quanto à Comissão, os poderes do Parlamento aumentam: agora,


ele é competente para eleger o candidato proposto pelo Conselho Europeu – art.
17º/7 TUE

- Parlamento pode interpor uma moção de censura sobre as actividades da


Comissão – art. 234º TFUE

- Direito de petição e inquérito – art. 226-227º TFUE – qualquer cidadão da União


(v. art. 24º TFUE) pode dirigir petições ao Parlamento Europeu; o Parlamento pode
constituir, por iniciativa própria, comissões de inquérito temporárias para averiguar,
com respeito das competências cometidas a outras instituições ou órgãos, alegações
de infracções ou má administração na aplicação do Direito da União.

- Tem alguns poderes adicionais:

- 289º TFUE – estende-se o escopo da co-decisão, como já vimos

- 314º TFUE – o novo procedimento aumenta os poderes orçamentais do


Parlamento, que agora co-decide com o Conselho todas as despesas.

- 17º/7 TUE – Presidente da Comissão é eleito em função do resultado das eleições

- 218º/6 TFUE – aprovação de um grande número de tratados internacionais

- 48º/7 TUE – aprovação de alterações aos tratados por processo simplificado

- 50º/2 TUE – aprovação do acordo de retira de um Estado-membro

- 352º/1 TFUE – aprovação do exercício de poderes novos pela União

- 290º TFUE – Parlamento ganhou papel de controlo de poderes delegados e co-


decisão para a adopção da nova ‘comitologia’ da União, ver também art. 291º TFUE

- Para Jean-Claude Piris, a principal razão para o aumento dos poderes do Parlamento
é o facto de na Convenção que preparou a Constituição Europeia (cujas propostas em
relação ao Parlamento não foram muito modificadas) estavam membros do
parlamento muito ‘espertos e activos’; e porque os líderes dos Estados-Membros

16
precisavam de convencer os cidadãos de que a União Europeia é uma instituição
verdadeiramente democrática.

O Conselho Europeu

Composição

- Tem uma legitimidade inter-governamental, de forma a preservar o equilíbrio de


poderes dentro da União.

- Reúne Chefes de Estado e de Governo, representando os Estados-Membros a mais


alto nível – art. 15º/2 TUE

- Maria Luísa Duarte acha que o Conselho é a instituição que mais beneficia com o
regime instituído no Tratado de Lisboa.

- Jean-Claude Piris concorda, afirmando que o Tratado de Lisboa consagra o papel do


Conselho Europeu como única instituição que tem liderança política geral da União
Europeia.

- Mesmo assim, o Tratado de Lisboa tornou-o uma instituição, o que também


significa que os seus actos jurídicos podem ser fiscalizados pelo Tribunal de Justiça –
art. 263º e 265º TFUE

Funções e Procedimento de Decisão

- Art. 15º TUE define principal função do Conselho Europeu: dar impulso político e
estabelecer as orientações gerais e prioridades da União

- O Conselho Europeu conserva a sua tradicional função de instância superior de


impulsão política da União, reforçada pela atribuição de poderes efectivos de
conformação de outras instituições, que antes não tinha. Assim, deixa de ser só uma
instituição de impulso político.

- Define a composição do Parlamento Europeu – art. 14º/2

- Define as formações do Conselho e o sistema de presidências rotativas– art. 236º


TFUE

- No que toca à Comissão, define o sistema de rotação de Comissários – art. 244º


TFUE, e, além disso, nomeia e põe termo ao mandato do Alto Representante (18º/1
TUE) e propõe o cargo de Presidente da Comissão (17º/7 TUE). Além disso, nomeia a
Comissão Executiva do BCE (art. 283º/2 TFUE)

- De frisar também as chamadas cláusulas de passerelle, em que o Conselho


Europeu tem competência para alargar os domínios de decisão por maioria qualificada
no Conselho (31º/3 TUE), bem como no processo de revisão simplificada (48º/2 e 6
TUE)

17
- Art. 15º/2 – não exerce funções legislativas – art . 15º/2 e só emite actos
vinculativos em certos casos

- No domínio da PESC (art. 21º ss TUE) ainda muitas competências, cabendo-lhe, nos
termos dos arts. 21º ss identificar os interesses estratégicos, estabelecer os objectivos
e definir as orientações gerais da política externa e de segurança comum, adoptando
por unanimidade as decisões necessária.

- No que toca à revisão dos tratados, o art. 48º/2 TUE prevê que os projectos de
revisão sejam enviados ao Conselho Europeu, nos termos aí estabelecidos. Mas, no
âmbito da revisão simplificada (48º/6), o Conselho Europeu pode, deliberando por
unanimidade, adoptar uma decisão que altere todas ou parte das disposições da Parte
III TFUE – Políticas da União.

- No tocante à adesão de novos membros ou abandono, cabe ao Conselho, após


consulta à Comissão e aprovação do Parlamento Europeu, pronunciar-se por
unanimidade sobre os pedidos de adesão à União, mas tendo sempre em conta os
critérios de elegibilidade aprovados pelo Conselho Europeu – art. 49º TUE. Quanto ao
abandono, ver art. 50º TUE

- Quanto ao espaço de liberdade, segurança e justiça, o Conselho Europeu define as


orientações estratégicas – art. 68º TFUE e 61º ss TFUE

- O seu processo de deliberação continua a ser o consenso – art. 15º/4 TUE. O


consenso adequa-se melhor a uma demanda de compromissos políticos.

- Nos casos tipificados nos Tratados de votação por maioria simples – art. 235º/3 TFUE
– por maior qualificada – 236º TFUE ou por unanimidade – 244º TFUE – não participam
na deliberação nem o Presidente, nem o Presidente da Comissão, apenas vontando os
Chefes de Estado e de Governo, em nome do princípio inter-governamental.

Presidente do Conselho Europeu

- Aparece o Presidente do Conselho Europeu, que tal como o Presidente da Comissão,


que também compõe o Conselho Europeu, não tem poder de voto – 15º/2 TUE

- O Presidente do Conselho Europeu é eleito por maioria qualificada, por mandato


de 2 anos e meio, renovável uma vez – 15º/5 TUE

- O Presidente do Conselho Europeu tem um papel de acentuado relevo político,


seja no plano interno da dinamização das políticas da União, em articulação com o
Presidente da Comissão (15º/6 TUE) seja na representação externa, sem prejuízo do
Alto Representante.

- 15º/5 TUE in fine: “incompatível com qualquer mandato nacional” – e regional e


europeu? É preciso maior clarificação.

- As competências do Presidente do Conselho Europeu estão delineadas no art. 15º/6

O Conselho (de Ministros ou da União Europeia)

18
Composição

- É também dotado de legitimidade inter-governamental

- Composto por Ministros (dependendo da configuração) dos Estados-Membros


representando os mesmos. Eles actuam como representantes dos Estados-Membros,
como acontece nas organizações internacionais clássicas.

- O Tratado de Lisboa vem enfraquecer o Conselho, restringindo a sua autonomia


estatutária. Antes, o Conselho, através da aprovação de regulamento interno, podia
decidir sobre a respectiva organização interna e a presidência rotativa decidia quem
presidia a cada configuração.

- Agora, está nas mãos do Conselho Europeu a lista de formações do Conselho – art.
236º a) TFUE. Só há duas formações que têm existência garantida pelos tratados – o
Conselho dos Assuntos Gerais e o Conselho dos Negócios Estrangeiros (16º/6 TUE e
art. 236º a) TFUE)

- Reuniões em que Conselho vote e delibere sobre actos legislativos são públicas –
art. 16º/8 TUE

- Alto Representante preside o Conselho dos Negócios Estrangeiros – 18º/3 TUE; com
essa excepção, a Presidência das diferentes formações do Conselho é definida pelo
Conselho Europeu – art. 236º b) TFUE, adoptando um sistema de rotação igualitária –
16º/9 TUE.

- Agora, o sistema de presidência rotativa funciona numa lógica de troika, ou seja,


prevê-se que a Presidência do Conselho seja assegurada por grupos pré-determinados
de 3 Estados-Membros durante um período de 18 meses.

- Todas as outras configurações continuam a ser presididas pela (passe a redundância)


presidência rotativa – 236º TFUE e 16º/9 TUE, adoptando-se agora o modelo da tri-
presidência.

Funções e Procedimento de Decisão

- Art. 16º/1 TUE – função legislativa e orçamental, definindo políticas

- Tem poderes de coordenação nos domínios económico e social, como estatui o art.
1º/5 e 121º TFUE; tem poderes de decisão, mas que só raramente são autónomos, i.e.,
a maioria das veses só age por proposta da Comissão – 17º/2 TUE

- Tem ainda poderes de execução, mas só excepcionalmente os exerce – 290º ss TFUE

- Para Mota de Campos, acaba por ganhar relevo como centro de concertação de
interesses nacionais

- O Tratado de Lisboa inclui provisões feitas para melhorar a eficácia do funcionamento


do Conselho. A principal medida é o aumento do número de matérias onde o
conselho age por voto por maioria qualificada, em vez de unanimidade – 16º/3 TUE.
Isto, juntamente com um novo sistema de voto por maioria qualificada mais simples,
irá, em princípio facilitar a tomada de decisões.

19
- Agora, estende-se a maioria qualificada para novos 20 casos, nomeadamente na área
da Liberdade, Segurança e Justiça.

- No entanto, existem uma série de áreas onde ainda funciona a regra da unanimidade,
nomeadamente em questões de PESC – v. art. 31º paquê?

- Até Outubro de 2014, nos termos do disposto no art. 16º/5 TUE e do art. 3º/3 do
Protocolo Relativo às Disposições Transitórias, cada Estado-Membro disporá, no seio
do Conselho um certo número de votos num total de 345.

- Se o Conselho deliberar sobre uma proposta da Comissão, a formação da maioria


qualificada exige 255 votos favoráveis provenientes da maioria (14) dos Estados-
Membros

- Caso contrário, o Conselho só pode deliberar validamente se os 255 votos


emanerem pelo menos de 2/3 dos Estados (18).

- Porquê? Presume-se que as propostas da Comissão ou do seu Vice-Presidente (o


Alto Representante) são elaboradas tendo em conta o interesse geral da União,
admitindo-se que os interesses e preocupações dos Estados mais pequenos já tenham
sido ouvidas

- A partir de Outubro de 2014, a maioria qualificada corresponderá a, pelo menos,


55% dos membros do Conselho num mínimo de 15, devendo estes representar
Estados-Membros que reúnam, no mínimo, 65% da população da União – art. 16º/4
TUE

A Comissão Europeia

Composição

- Legitimidade integrativa (defender interesses da União)

- Os comissários são indicados pelos Estados, aprovados pelo Presidente da Comissão e


pelo Parlamento Europeu

- Supostamente o art. 17º/5 TUE mudou o número de comissários (inc. o Presidente e


o Alto Representante) de um por Estado-Membro para 2/3 dos Estados-Membros.
Contudo, após o referendo irlandês, o Conselho Europeu decidiu abandonar essa
decisão.

- Comissários não representam os Estados, mas sim o interesse colectivo da União –


art. 17º/1 – com a excepção da PESC

Funções e Procedimentos de Decisão

- Supostamente, o Tratado de Lisboa dá-lhe mais poderes, com a comunitarização do


ex-terceiro pilar e com o art. 293º TFUE que requer unanimidade do Conselho para
emendar uma proposta da Comissão quando a Comissão não concorda com ela, o que
dá mais relevância à Comissão no procedimento de tomada de decisão.

20
- Tem um poder de iniciativa que, para Mota de Campos, é ‘fundamental’. Só
excepcionalmente é que os Tratados prevêem que o Conselho e o Parlamento tenham
iniciativa – ver art. 289º/1 TFUE e 17º/2 TUE

- Quando os tratados prevejam que o Conselho ou o Conselho e o Parlamento


decidem sobre proposta da Comissão, não lhes é permitido deliberar seja o que for
enquanto a Comissão não lhes tiver submetido uma porposta nesse sentido. Caso
contrário, a adopção do acto será ferida de nulidade, ilegalidade ou inaplicabilidade.

- Ela é vista como a ‘guardiã dos tratados’ (v. art. 17º/1 TUE), tendo poderes de
controlo como o poder de fiscalização (337º TFUE) e o direito de acção. O direito de
acção é composto por acções por incumprimento (258º TFUE), recursos de anulação
(263º e 264º TFUE), recursos de anulação, quando o Conselho, o Parlamento ou o BCE,
em violação dos tratados, se abstenham de agir (265º TFUE).

- Tem ainda poderes para autorizar a adopção de medidas derrogatórias das


disposições dos tratados, como autorizações de medidas de salvaguarda (44º e 347º
TFUE), fiscalização da concessão de ajuda estatal a empresas nacionais (107º TFUE),
derrogação de certas regras de concorrência – 101º/3 TFUE

- Detém ainda poderes de sanção contra operadores do mercado interno, poderes


de gestão e, através do Alto Representante, que é seu Vice-Presidente, participar na
elaboração e aplicação da política externa e de segurança comum da União.

- Teoricamente também, o Tratado de Lisboa dá mais poder ao Presidente:

- Como o Alto Representante é Vice-Presidente da Comissão, o Presidente tem de


aceitar a sua nomeação – 18º/1 TUE

- Pode pedir demissões de qualquer comissário – 17º/6 TUE

- Presidente é eleito pelo Parlamento Europeu – art. 17º/5 – assim, mandato do


Presidente da Comissão depende muito da configuração política em Estrasburgo.

- De sublinhar também que o Tratado dispõe uma regra geral segundo a qual a
Comissão “com excepção da PESC e outros casos previstos nos tratados” assegura a
representação externa da União – art. 17º/1.

- Contudo, pode-se afirmar que a Comissão é a instituição que mais sai prejudicada
do Tratado de Lisboa em termos comparativos, pois não ganha tantos poderes quanto
as outras instituições.

- Quanto ao Alto Representante, Maria Luísa Duarte acha que tem poucas hipóteses de
se afirmar como verdadeiro representante externo da União Europeia, perdido no
labirinto de competências e apanhado na sobreposição de poderes entre o Conselho e
a Comissão.

O Tribunal de Justiça da União Europeia

21
- Divide-se em Tribunal de Justiça, Tribunal Geral e Tribunal da Função Pública – um
regresso à fórmula – uma instituição, vários tribunais. Atenção que é possível que
aumente o número de tribunais especializados – v. art. 19º TUE

- Com a nova redacção do art. 19º/1 TUE recupera-se um princípio basilar de unidade
institucional no sistema comunitário de aplicação judicial do Direito, que se reflecte,
com coerência, no regime definido para os tribunais integrantes do sistema,
especialmente sob a forma de garantia de recurso para tribunal superior – art. 256º/2
e 257º TFUE.

- Para a selecção dos membros do Tribunal de Justiça e do Tribunal Geral intervém um


comité nos termos do art. 255º TFUE, composto por 7 personalidades, tanto ex-
membros do Tribunal ou membros de Supremos Tribunais nacionai ou juristas de
reconhecida competência – sujeita-se os candidatos a um escrutínio prévio de
idoneidade funcional.

- Agora a sua jurisdição cobre toda a área da liberdade, segurança e justiça, sendo
que, antes, esta área encontrava-se excluída da sua competência, o que são boas
notícias para a aplicação uniforme do Direito da União e protecção dos direitos
individuais.

- A única excepção são matérias de cooperação judicial e policial, não podendo o


tribunal rever validade ou proporcionalidade de operações policiais – 276º TFUE

- Apesar da PESC estar fora da jurisdição do Tribunal, ele agora pode rever a legalidade
das decisões que restrinjam direitos pessoais – art. 275º TFUE

- As acções de anulação trazidas por pessoas singulares e colectivas contra


regulamentos da União aumentaram, removendo a condição de que o acto em
questão deveria ser preocupação do indivíduo que interpunha a acção – 263º (também
inclui Conselho Europeu)

O Banco Central Europeu

- Ganha personalidade jurídica

- Com o Tratado de Lisboa, vê-se elevado a instituição, o que faz com alguma
reluctância, com medo de perder a sua independência, estando agora sujeito a todas
as provisões dos tratados relativas às instituições.

- Jean-Claude Piris acha que elevação a instituição não muda muito da sua situação
jurídica e legal, e a friza que a sua independência está garantida – art. 130º e 282º/3
TFUE e art. 7º Protocolo nº4 – independência institucional, operacional, pessoal,
financeira e de gestão interna.

- Tem competência na gestão da política monetária

O Tribunal de Contas

22
- ‘Patinho feio’ da União Europeia. E sim, foi a Marilú que disse isto.

- Composto por 27 membros, um por cada Estado, escolhidos por quem já tenha
exercido funções semelhantes nos Tribunais Constitucionais nacionais – art. 286º/1 ss
TFUE

- Estatuto de independência

- Funções de controlo financeiro – muito amplia, pois abrange a fiscalização da


totalidade das receitas e despesas da União – art. 287º TFUE. Controla tanto a
legalidade como a oportunidade das contas – art. 287º/2 TFUE

- O controlo levado a cabo pelo Tribunal de Contas é externo, competindo o


controlo interno à estrutura competente de cada instituição, órgão ou organismo, e é
feito a posteriori, porque incide sobre as contas.

- Apesar de não ter poderes de natureza decisória ou sancionatória pode defender


as suas prerrogativas através da interposição de recursos de anulação – art. 263º TFUE
e de recursos por omissão – art. 265º

- Funções Consultivas – exercidas a pedido de outras instituições sob a forma de


pareceres. A consulta pode ser obrigatória – art. 322º TFUE por exemplo ou facultativa
– art. 287º TFUE p ex.

Órgãos Complementares

- Comité Económico e Social, composto por representantes das organizações de


empregadores, trabalhadores e de outros sectores da sociedade civil.

- Tem um função consultiva (304º TFUE) e poder de iniciativa relativo à emissão de


pareceres (304º TFUE)

- Comité das Regiões, composto por representantes das autarquias regionais e locais
que sejam quer titulares de um mandato eleitoral a nível regional ou local, quer
politicamente responsáveis perante uma assembleia eleita.

- Função consultiva – 307º TFUE

- Fundo Social Europeu – art. 162º TFUE

- Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

- Ver regras relativas a eses comités – art. 300º TFUE

Organismos

- Aqueles observatórios e agênicas estranhos que só servem pa gastar dinheiro.

Conclusão de Maria Luísa Duarte

23
- Maria Luísa Duarte acha que o Conselho Europeu sai reforçado com o Tratado de
Lisboa, pois tem um Presidente permanente e nomeia o Alto Representante

- Tratado de Lisboa tirou alguns poderes de iniciativa à Comissão que já não tem o
exclusivo da iniciativa, fazendo depender muito do factor personalista a relevância de
cada instituição – debilitação da Comissão é debilitação dos pequenos Estados e
fortalecimento do Directório.

- Do Tratado de Lisboa sai também reforçada a legitimidade democrática e a


legitimidade inter-governamental, em deterimento da legitimidade integrativa.

- Um problema gerado pelo Tratado é a multiplicação e sobreposição de Presidências


– da Comissão, do Conselho Europeu, a presidência rotativa do Conselho, o Alto
Representante, o Presidente do Eurogrupo, etc – ou seja, há 3 individualidades a
disputar o palco europeu, e daí a relevância do factor personalista.

Princípios Gerais de Vinculação Institucional

O Princípio do Equilíbrio Institucional

- Não tem base jurídica expressa, apesar de haver uma referência tácita no art. 13º/2
TUE.

- Tem uma dimensão estática (o que os tratados definem) e uma dimensão dinâmica
(competências em acção)

- Os órgãos devem exercer as suas competências de modo a respeitar as


prerrogativas das outras instituições.

- À luz da jurisprudência comunitária, definida pelo Tribunal de Justiça, o princípio do


equilíbrio institucional funciona como uma garantia das prerrogativas de participação
de cada instituição no processo de decisao.

- Acórdão Meroni do TJUE – Tribunal apelou ao princípio do ‘equilíbrio de poderes’


para excluir a legalidade de um acto de delegação de poderes discricionários em favor
de entidades diferentes das previstas nos Tratados.

- Possibilidade de acordos inter-institucionais – art. 295º TFUE – eles podem,


dependendo da vontade das instituições, revestir carácter vinculativo ou manter a sua
natureza de instrumentos de soft law, de carácter indicativo; o respeito pelo disposto
nos Tratados, maxime as regras aplicáveis à repartição horizontal de competências,
pelo que são contrários aos Trados os acordos que alterem o equilíbrio institucional

- Tem de ser triangular? Sim, para evitar golpes e alianças (do género Parlamento e
Comissão)

24
O Princípio do Respeito pelo Acervo Comunitário

- Princípio histórico. Acervo significa ‘adquirido’.

- Proíbe uma aceitação parcial aquando da adesão de um novo Estado-Membro,


apesar de haver cláusulas de opting out – “aceitam, sem reserva, os tratados e as
finalidades...”

- Estados aderentes têm de aceitar o que já está em vigor. No entanto, isso não
prejudica a existência de uma fase de transição – os chamados tratados de adesão são
essas excepções necessárias.

- O princípio foi consagrado no Tratado de Maastricht, mas já não está no Tratado de


Lisboa, sendo a sua única referência o art. 20º/4 TUE. Mas é precisamente por ser tão
importante é que não é normativamente previsto.

- No entanto, há que atentar ao art. 48º, que com a possibilidade de redução de


atribuições da União assassina qualquer teoria de limites materiais de revisão.

O Princípio da Cooperação Leal

- Tem uma base jurídica – o art. 4º/3 e 13º/2 TUE

- Regula a relação entre a União e os Estados

- No plano da execução do Direito da União Europeia, os Estados devem tomar todas


as medidas necessárias para a plena aplicação do Direito da União Europeia, não
devendo por obstáculos (exemplo: não legislar contra Direito da União Europeia)

- Consequência: Acção por incumprimento

- Art. 47º TUE e 216º e 218º TFUE – celebrar tratados internacionais – quando há
conflito de competências, há um procedimento de acordo misto.

- O Ac. Zwartveld do TJUE definiu que “este princípio obriga não apenas os Estados-
membros a tomar todas as medidas capazes de garantir a eficácia do direito
comunitário, mas impõe igualmente às Instituições deveres recíprocos de cooperação
leal com os Estados membros)

O Princípio da Transparência

- A actuação institucional segundo critérios de transparência é recente. A declaração


nº 17 anexa ao Tratadode Maastricht registava que “a transparência do processo
decisório reforça o carácter democrático das Instituições e a confiança do público na
Administração.”

- Art. 42º CDF, com as devidas excepções.

- Art. 5º/1 TFUE

25
- V. 16º/8

Os Procedimentos de Tomada de Decisão14 15


Procedimentos de Decisão, Função Política e Separação de Poderes na União
Europeia – Considerações Gerais

- O Parlamento, o Conselho Europeu, o Conselho e a Comissão dispõem de poderes


autónomos de decisão, mas de sublinhar que, normalmente, as instituições participam
conjuntamente, para a formação da vontade da União Europeia.

- Para Maria Luísa Duarte, no que respeita aos procedimentos de decisão, o Tratado de
Lisboa adopta decisões que, de forma equilibrada, traduzem o objectivo de Laeken –
maior transparência, mais democracia e mais eficácia.

O Procedimento de Aprovação de Actos Legislativos

- Por força dos arts. 14º/1 e 16º/1 TUE, o Parlamento Europeu exerce a função
legislativa, juntamente com o Conselho.

- O art. 289º TFUE dispõe que o processo legislativo ordinário consiste na adopção de
um regulamento, de uma directiva ou de uma decisão conjuntamente pelo
Parlamento Europeu e pelo Conselho, sob proposta da Comissão.

- A par deste processo legislativo ordinário, vemos também, ao longo dos Tratados,
casos específicos em que os referidos actos legislativos – regulamento, directiva e
decisão – são adoptadas pelo Parlamento com a participação do Conselho segundo
um processo legislativo especial.

- Em qualquer um dos casos, os actos resultantes são actos legislativos – 289º/2 TFUE

O Procedimento Legislativo Ordinário – A ex-co-decisão – art. 294º TFUE

- O processo legislativo ordinário é aplicável em todos os casos que os Tratados


submetem a tomada de decisão à tramitação respectiva.

- Há que sublinhar que, aqui, o Conselho delibera por maioria qualificada. Às 63 bases
jurídicas já subordinadas a esta regra deliberativa, juntam-se mais 39 domínios de

14
Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 70-75
15
João Mota de Campos, MDE, pp 209-226

26
acção comunitária – agora, a unanimidade é a excepção, limitada às matérias
directamente associadas ao cerne da soberania.

- Ela é exigida na revisão dos tratados, definição de sedes, regime linguístico,


harmonização fiscal, PESC, etc.

- O processo, regido pelo art. 294º TFUE, começa com a apresentação de uma
proposta ao Parlamento por parte da Comissão.

- Essa proposta irá dar lugar a um extenso e complexo diálogo, que iremos já analisar,
diálogo que implica uma primeira leitura, eventualmente uma segunda, e até uma
terceira.

Primeira Leitura

- Olhando para a proposta da Comissão, o Parlamento estabelece a sua posição que


transmite ao Conselho.

- Se o Conselho disser que sim, o acto considera-se adoptado com a formulação


correspondente a essa posição – e o processo termina.

- Se o Conselho não aprovar a posição do Parlamento Europeu, vai adoptar a sua


própria posição, transmitindo-a ao Parlamento, devidamente fundamentada.

- De frisar que a Comissão não é alheia a este diálogo, informando as duas


instituições da sua posição.

Segunda Leitura

- No prazo de 3 meses, o Parlamento Europeu pode:

- Aprovar expressamente a posição do Conselho ou não se pronunciar, que vale


como uma aprovação tácita – o acto considerar-se-á adoptado com a formulação dada
pelo Conselho, e o processo termina.

- Mas, o Parlamento pode rejeitar pura e simplesmente a posição do Conselho, o


que implica que o acto proposto pela Comissão não foi adoptado e que, por isso, o
processo terminou.

- Pode também propor emendas à posição do Conselho, transmitindo o texto


alterado ao Conselho e à Comissão (que emite pareceres sobre as emendas propostas
pelo Parlamento).

- Se no prazo de 3 meses o Conselho aprová-las todas, o acto em questão


considera-se adoptado com a formulação decorrente das emendas do Parlamento.

- Se no prazo de 3 meses o Conselho não aprovar todas as emendas, o


Presidente do Conselho, em acordo com Presidente do Parlamento, convoca o Comité
de Conciliação.

Tentativa de Conciliação e Terceira Leitura

27
- O Comité de Conciliação reúne os 27 membros do Conselho ou os seus
representantes e outros tantos membros representando o Parlamento Europeu.

- Tem por missão chegar a acordo sobre um projecto comum de acto com base nas
posições divergentes tomadas pelas duas instituições em segunda leitura. A Comissão
trabalha no Comité e toma todas as iniciativas tendentes à aproximação de posições.

- Tem 6 semanas para tentar a conciliação:

- Se nesse prazo não acontecer, considera-se que o acto proposto pela Comissão
não foi adoptado e o processo chega ao seu termo.

- Se se aprovar um projecto comum, as duas instituições vão aprovar em terceira


leitura.

- A contar da aprovação do projecto comum, o Parlamento e o Conselho têm 6


semanas para adoptar o acto em causa.

- Se nesse prazo uma das instituições não o aprovar, o acto proposto não foi
adoptado – o processo chega ao seu termo.

Os Procedimentos Legislativos Especiais

- 289º/2 TFUE – nos casos específicos previstos pelos Tratados, a adopção de um acto
jurídico da União pelo Parlamento Europeu com a participação do Conselho, ou vice-
versa, exige o recurso a um processo legislativo especial.

- Nesse processo são aplicáveis as disposições dos Tratados sobre o papel da


Comissão. Assim, em todos os casos em que se determine que o Conselho adopta um
acto sob proposta da Comissão, o Conselho só pode deliberar se a Comissão lho tiver
realmente proposto – art. 292º TFUE. Nesses casos, o Conselho só poderá alterar essa
proposta deliberando por unanimidade – 293º/1 TFUE

- Enquanto o Conselho não tiver deliberado, a Comissão pode alterar a proposta as


vezes que quiser e quando quiser – art. 293º/2

- Em qualquer caso, o acto jurídico adoptado constitui um acto legislativo.

- Há inúmeros casos, nomeadamente: deliberação de movimento de capitais, política


comum de vistos, medidas relativas ao direito da família, cooperação judiciária e
penal, etc, em que o Conselho recorre ao procedimento legislativo especial, sendo aí a
regra de deliberação a unanimidade, apesar de haver algumas de maioria qualificada
(concorrência, pex. – 103º/1 TFUE).

- Há dois casos em que o Parlamento Europeu está autorizado a deliberar


autonomamente: definição, por meio de regulamentos, do estatuto e condições gerais
dos seus próprios membros – 223º/2 TFUE e definição, por regulamento, do estatuto
do Provedor de Justiça Europeu – art. 228º/4 TFUE

28
Conclusão

- Com o Tratado de Lisboa, houve um reforço na natureza democrática do


procedimento de decisão, com uma maior participação do Parlamento Europeu na
qualidade de co-decisão, bem como pela possibilidade dos Parlamentos Nacionais
intervirem com fundamento na eventual violação do princípio da subsidariedade.

- O Tratado também reconhece o direito a uma espécie de ‘petição popular’, assinada


por um milhão de cidadãos da União, à Comissão – art. 11º/4 TUE e 24º TFUE

Os Procedimentos de Aprovação de Actos Não Legislativos

O Procedimento Relativo aos Actos Delegados e Executivos – art. 290º e 291º TFUE

- O acto delegado é um acto de desenvolvimento do regime jurídico desenvolvido no


acto. Trata-se de um acto não legislativo de alcance geral que completa ou altera
certos elementos essenciais do acto legislativo – a sua aprovação compete à
Comissão, mediante delegação concedia pelo órgão legislativo, devendo o acto
legislativo de delegação definir os objectivos, o conteúdo, o âmbito de aplicação e o
período de vigência da delegação de poderes em favor da Comissão. 16

- O acto de execução é é um acto normativo, mas de execução. É um acto normativo


da função administrativa. A competência regra de adopção dos actos de execução
pertence aos Estados-Membros – art. 291º/1 TFUE. Numa aplicação do princípio da
subsidariedade, o nº 2 do mesmo artigo limita a competência de execução da
Comissão à adopção de actos “quando sejam necessárias condições uniformes de
execução de actos juridicamente vinculativos da União” – a Comissão perde assim o
seu tradicional estatuto de instância vocacionada para aprovar os actos de execução,
pelo que o exercício comum da função administrativa eurocomunitária passa para o
nível nacional – v. nº 3 do art. 291º TFUE

- Mostra que em primeira linha estão os Estados, que definem as normas de


execução. Contudo podem ser consideradas necessárias normas comuns e é aí que
entra a competência de execução da União. Os actos de execução da União são
aprovados pela Comissão e em alguns casos o Conselho

- Apesar da distinção operada pelo art. 290º e 291º TFUE entre actos delegados e actos
de execução, a sua distinção depende dos procedimentos de comitologia,
devidamente adaptados – o art. 290º tem a vantagem de enunciar o direito de
participação do Parlamento Europeu, enquando co-autor do acto legislativo, no
procedimento de delegação, embora uma tal participação nos suscite reservas do
ponto de vista funcional – como órgão parlamentar não deveria o Parlamento, na
opinião de Maria Luísa Duarte, intreferir no exercício da função executiva, ainda que
de forma difusa de ‘acto delegado’, o que levanta uma série de questões em relação
ao exercício de poderes pelo Parlamento Europeu, pela Comissão e pelos Estados-
Membros.

16
Maria Luísa Duarte, EsTL, p 77-78

29
O Procedimento de Comitologia e os Actos de Execução – art. 291º/3 TFUE

- É o procedimento onde intervêm os comités técnicos (realidades institucionais em


largo número, da realidade jurídica europeia, e são compostos por peritos ou técnicos,
reunindo-se quando convocados, sendo cada um presidido por um representante da
Comissão)

- O Regulamento 182/2011 de 16 de Fevereiro de 2011, substitui a decisão de


comitologia e simplifica os processos. Por força deste regulamento, há basicamente
dois procedimentos: procedimento de exame e consultivos.

- Os pareceres dos comités são importantes, pois, por exemplo, se um comité der um
parecer negativo, num procedimento de exame, esse parecer obriga a Comissão a
refazer a proposta e a atender ao sentido do parecer.

- A comitologia foi uma questão discutida no processo de revisão, porque a Comissão


queria acabar com os comités por ser uma forma indigna de tutela. O regulamento de
Fevereiro, já mencionado, tipifica os procedimentos.

- Jean-Claude Piris fala de duas funções essenciais dos comités técnicos: controlo dos
actos delegados e dos actos de execução.

O Procedimento de Vinculação Internacional da União Europeia

Personalidade Jurídica da União Europeia – art. 47º TUE

- Já tínhamos visto que, com o Tratado de Lisboa, e segundo o disposto no art. 47º
TUE, a União Europeia tem personalidade jurídica e, em função da sua qualidade de
maior bloco comercial do mundo e do papel que desempenha na cena internacional,
precisa de se poder exprimir em acordos.

- Esses acordos podem ser acordos comerciais (207º TFUE), acordos de cooperação
com 3ºs Estados (208º TFUE), acordos de associação (198º TFUE), acordos monetários
(art. 38º TFUE) e tratados de adesão, claro (art. 49º TUE)

Conclusão de Acordos Internacionais – art. 218º TFUE

Fase da Negociação

- Iniciativa da Comissão – ela apresenta uma recomendação ao Conselho no sentido


de que este a autorize a encetar as negociações necessárias – art. 207º/3 e 218º/2
TFUE

- Ela manifesta-se outra vez quando a Comissão, concluídas as negociações,


propõe ao Conselho a celebração do acordo negociado – 218º/2 TFUE

30
- Quando o acordo incida exclusiva ou principalmente sobre PESC, o Alto
Representante apresenta recomendações ao Conselho – art. 218º/3 TFUE

- Apesar da Comissão conduzir as negociações, ela agirá na conformidade das


directrizes que o Conselho lhe fornece ao autorizá-la a abrir as negociações, podendo
revê-las e negociará em consulta permanente com comités especiais designados pelo
Conselho – art. 218º/4

- Pode ainda acontecer o caso dos acordos mistos, em que os Estados-membros


participam nas negociações – v. art. 217º

Fase da Conclusão

- Encerradas as negociações, cabe ao Conselho concluir o acordo alcançado pela


Comissão. Mas, salvo no caso de acordos comerciais, antes de decidir o Conselho ferá
intervir o Parlamento Europeu – 218º/6 a) e b) – para dar parecer ou aprovar o acordo
negociado.

- Cabe ao Conselho concluir o acordo negociado, aprovando-o e comunicando à outra


ou outras partes interessadas essa aprovação. Ele deliberará por maioria qualificada,
mas exigida a unanimidade nos acordos referidos no 218º/8 (adopção de normas
internas).

- Para evitar a conclusão de acordos, o TFUE prevê no art. 218º/11 que qualquer
Estado-Membro, o Parlamento Europeu, o Conselho ou a Comissão podem obter o
parecer do Tribunal de Justiça sobre a compatibilidade de um projecto de acordo com
os Tratados. Em caso de parecer negativo do Tribunal, o acordo não entra em vigor.

- Os tratados concluídos vinculam a União.

A Ordem Jurídica da União Europeia


As Fontes de Direito da União17 18

Direito Primário

Noção

- O Direito Primário (ou originário) é formado pelos tratados e instrumentos afins. E


de que tratados falamos? Todos os tratados que sejam relevantes para a definição da
estrutura jurídica da União Europeia, Tratados de Adesão e Protocolos – art.51º TUE.

17
João Mota de Campos, MDE, pp. 296-351
18
Jean-Claude Piris, The Treaty of Lisbon..., pp 92-104

31
- Ao contrário do direito derivado, que é unilateral, o direito primário é
convencional

- Aqui, os Tratados são convenções internacionais de tipo clássico, produto exclusivo


da vontade soberana dos Estados contratantes, concluídas sob as regras de DIP e
respectivas normas constitucionais.

- Esses Tratados foram completados com diversas declarações, protocolos, anexos,


etc, já para não falar da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que tem o
mesmo valor jurídico dos tratados.

Sobre a Natureza dos Tratados Institutivos: Tratado ou Constituição?

- Uma questão que se discute na doutrina é a questão da natureza dos tratados: saber
se eles são meros tratados ou são constituições?

- Formalmente, não há dúvidas de que os Tratados sejam só isso, tratados. A


questão tem pertinência do ponto de vista material, do ponto de vista do objecto de
regulação – aí, terão os tratados natureza constitucional? Depende do critério que se
considere relevante para que se diga que é constituição. O critério para Maria Luísa
Duarte é quanto ao poder constituinte, o critério genético: só há constituição se
houver poder constituinte. E a União tem poder constituinte? Não, a União não tem,
porque esta é uma entidade política derivada, e o poder constituinte encontra-se nos
Estados-Membros e não num ‘povo’ ou ‘assembleia constituinte’ da União. O estatuto
jurídico resulta num encontro de vontade resultantes dos tratados.

- Por outro lado, Mota de Campos afirma a natureza constitucional dos Tratados,
visto que contêm o enunciado dos objectivos fundamentais da União, a definição da
sua estrutura institucional (constituindo um direito institucional ou mesmo
constitucional), disposições relativas às relações entre a União e os seus Estados-
Membros, bem como às relações internacionais da União, as bases essenciais do
direito económico, financeiro e social da União e as disposições relativas à
salvaguarda da ordem jurídica que os Tratados instituíram.

- Mota de Campos faz a distinção entre Tratado-Lei/Regra (enuncia com bastante


pormenor as regras essenciais de dado assunto, como o tratado da EURATOM) e
Tratado-Quadro (como o Tratado da UE ou o TFUE)

Processo de Revisão – art. 48º TUE

- Os tratados podem ser objecto de revisão: não só pelo estatuído no art. 48º mas
também pelas alterações informais criadas pela prática, daí que Maria Luísa Duarte
fale em mutação.

- Essa revisão informal é feita pela jurisprudência (especialmente o Tribunal de Justiça


cuja jurisprudência é vinculativa e obrigatória), que estabelece novos rumos através da
interpretação, nomeadamente actualista e finalística; e através da pratica política. Este

32
é possível em espaços de “anemia política”, que não fazem revisões, e por isso as
jurisprudência mais importante encontra-se nos anos 80.

- A jurisprudência é importante e é uma fonte material, mas o tribunal tem de


conhecer os seus limites sob pena de pisar o terreno da ilegitimidade e sob perigo da
desautorização. Tem havido legislação “travão” à actividade do Tribunal de Justiça

Processo Ordinário de Revisão

- O art. 48º prevê a revisão através do processo ordinário e a revisão através de


processos simplificados.

- No processo ordinário a revisão começa com uma conferência inter-governamental


que reúne representantes dos Estados, sendo a essa convenção que prepara o
anteprojecto, e sendo o Conselho Europeu que a aprova internamente.

- É um processo mais solene, com mais etapas e que permite a alteração de qualquer
disposição, podendo alargar as competências da União ou restringi-las.

Processos de Revisão Simplificados

- Nos processos simplificados, a decisão de revisão pertence ao Conselho Europeu, só


permitindo alterar disposições da parte terceira e não podendo alargar as
competências da União.

- Exemplo: Conselho Europeu aprovou o ano passado, um protocolo que altera a


proibição constante do art. 123º (proibição de resgate), permitindo que através de um
fundo permanente a União possa, num contexto de grande excepcionalidade, dar
ajuda a um Estado que esteja em dificuldade, tendo sido aprovada com base no art.
146º. A decisão é sujeita a aprovação interna nos Estados.

- Continuando no exemplo, se a União passa a ter o poder de resgatar os estados


através de um fundo, isso não passa por um aumento das suas competências? Até que
ponte faz sentido esta limitação, quando no artigo sobre os novos poderes (352º) se
permite ao Conselho, desde que o faça por unanimidade, assumir poderes novos, para
prosseguir objectivos que estão nos tratados?

- Maria Luísa Duarte encontra aqui uma contradição, e o sentido é de se ir


“esquecendo” a disposição do art. 48º. O processo simplificado está no nº 7, que é
uma cláusula passarelle, permitindo ao Conselho Europeu, por unanimidade e por
decisão unilateral, modificar o processo decisório com a limitação de que basta um
estado levantar a “cláusula-travão” e opor-se para que a deliberação fique sem efeito.

Direito Derivado

Actos Típicos – 288º TFUE

- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Lisboa fez “uma espécie de milagre”, alterando
e ao mesmo tempo conservando os actos típico, mantendo no art. 288º a
nomenclatura dos actos tradicionais comunitários.

33
- Aliás, ainda afirma, com base dos arts. 289º ss TFUE que a definição de um acto
como legislativo ou não não é feita em função da matéria, nem do órgão que o
aprova, mas sim do procedimento de aprovação. Na opinião de Maria Luísa Duarte,
este critério será claro e fácil de aplicar, mas é curto como critério de definição de acto
legislativo. Sublinhe-se que este formalismo restritivo da noção de acto legislativo tem
implicações práticas, por exemplo, no exercício de poderes de controlo do princípio da
subsidariedade pelos Parlamentos nacionais.

Regulamentos

- Actos gerais e abstractos, obrigatórios e directamente aplicáveis – correspondem a


actos de função normativa

- Impõe obrigações ou estabelece direitos a todos os que se incluam ou possam no


futuro a incluir-se na categoria de destinatários que o regulamento define em
abstracto e objectivamente.

- O regulamento, sem visar quem quer que seja, impõe-se a todos aqueles – UE e
instituições, Estados-Membros e órgãos, pessoas públicas e privadas.

- Note-se que um regulamento não perde o seu carácter regulamentar pelo facto de
num dado momento ser possível identificar as pessoas sujeitas à aplicação das normas
que nele se contêm.

- O carácter geral e obrigatório do regulamento é expressão de um poder normativo


perfeito que permite às Instituições da UE impor autonomamente, prescindindo da
participação das instituições nacionais, a observância das disposições do acto aos
Estados Membros – é essa a grande marca de distinção da directiva.

- Além disso, como o regulamento vigora directamente na ordem interna, o TJE exigiu
que “a sua entrada em vigor e a sua aplicação a favor ou contra quaisquer sujeitos de
direito se realizem sem intervenção de qualquer medida de recepção no Direito
nacional” – Caso Variola, TJUE 10/10/1973, Proc. 34/74

- Podem ser regulamentos do Conselho (art. 290º TFUE), do Parlamento e do Conselho


(289º/1), do Parlamento (223º/2 TFUE), da Comissão (290º/1 – regulamento de
execução) e do BCE (132º TFUE)

- Têm de estar fundamentados – art. 296º - o que implica que a Comissão e o


Conselho são poderão adoptar um regulamento após haverem procedido às consultas
exigidas pelo Tratado – violação implica nulidade, declarada pelo TJUE, pois trata-se
de uma formalidade essencial – 263º

- Assinatura, publicação e entrada em vigor nos termos do art. 297º TFUE

Directiva

- Actos característicos da União Europeia, tendo como destinatários os Estados e sendo


um instrumento de harmonização/aproximação das relações internacionais,
precisando de ser transposta para os Estados por não ser obrigatória.

34
- A directiva não é um acto de alcance geral, pois obriga apenas os destinatários que
ela mesma enuncia, sendo esses destinatários exclusivamente os Estados.

- Para Mota de Campos, a directiva exprime uma forma de ‘federalismo vertical’,


distinguindo dois níveis de regulamentação – a fixação, em termos vinculativos do
resultado a atingir, que é responsabilidade da União; e a determinação e adopção de
medidas destinadas a alcançar tal resultado, que incumbem aos Estados
destinatários.

- Baseia-se um pouco no princípio da subsidariedade

- Quando a directiva é dirigida a todos os Estados-Membros (arts. 113º e 115º TFUE),


opera-se uma modificação geral da situação jurídica no conjunto da União, acabando
por produzir um irrecusável efeito normativo geral.

- O TJUE considera que quando os particulares estejam em condições de invocar uma


directiva contra o Estado podem fazê-lo qualquer que seja a qualidade emque o Estado
tenha agido, autoridade pública, público-patronal, etc – Estado significa Estado e tudo
o que ele coordene, tutele ou supervisione – Ac. Foster, 1990

- A directiva, basicamente, impõe aos Estados uma obrigação de resultado.

- Os Estados têm liberdade de forma no que toca à directiva, podendo-a concretizar


por via legislativa, regulamentar ou simples via administrativa.

- Podem ser directivas do Parlamento e do Conselho, do Conselho e da Comissão – art.


289º e 290º; no que toca à sua natureza jurídica, existem directivas de base e de
execução.

Decisões

- É um acto obrigatório, vinculativo, individual e concreto

- Os destinatários tanto podem ser Estados como pessoas colectivas de direito público
ou simples particulares.

- A decisão tem normalmente por finalidade aplicar as regras do Direito da UE a casos


particulares, sendo comparável a um acto administrativo de carácter individual.

- Mas ela também pode ser utilizada para prescrever a um Estado ou grupo de
Estados-Membros um objectivo cuja realização passa pela adopção de medidas
nacionais de alcance geral, apresentando-se como um instrumento de legislação
indirecta próximo da directiva, com a diferença que a decisão é obrigatória em todos
os seus elementos.

- Podem ser decisões do Conselho (podendo ser sob proposta da Comissão, como no
293º ou por iniciativa do Conselho TFUE); decisões tomadas em conjunto pelo
Parlamento e pelo Conselho (previstas no art. 289º e 294º TFUE); decisões da
Comissão (agrupando-se nas que dependem da competência exclusiva da Comissão e
nas competências delegadas ao abrigo do art. 290º e 291º TFUE); decisões do BCE
(132º TFUE)

35
- Nos termos dos arts. 296º e 297º as decisões devem ser precedidas de consultas,
devendo também ser fundamentadas e deverão ser publicadas no Jornal Oficial.

Recomendações e Pareceres

- A recomendação é adoptada por iniciativa do autor, e é um acto do Conselho


dirigido aos Estados-Membros ou acto da Comissão dirigido quer ao Conselho quer aos
Estados-Membros, apontando-lhes medidas reclamadas pelo interesse da União,
sugerindo ou prescrevendo comportamentos.

- O parecer é solicitado, e engloba diversas modalidades de actos que têm em comum


a ausência de força vinculativa, pelo que não constitutem per se os respectivos
donatários em qualquer obrigação jurídica.

- Os tratados contemplam, nomeadamente, os pareceres da Comissão dados aos


Estados-Membros, da Comissão ao Conselho do Conselho à Comissão, etc.

Actos Atípicos

- São todos os actos da União Europeia que não estão no 288º.

- Há que fazer uma distinção: os actos fora do 288º como aqueles que estão no
295º; e outros que estão fora dos tratados (exemplo: orientações gerais).

- Regulamentos internos, que organizam a vida interna das instituições. Podem


também ser regulamentos financeiros e processuais – não são regulamentos normais
porque não têm alcance geral, não têm aquelas exigências de formae porque
respeitam à organização interna dos órgãos. Cada caso está previsto nos tratados.

- Actos preparatórios nos processos, integrando-se aqui as propostas da


Comissão, projectos que desencadeiam as revisões dos tratados, etc.

- Actos que não estejam previstos: decisões de criação de comités consultivos, por
exemplo.

Actos Legislativos, Actos Delegados e Actos de Execução

- Artigos: 288º, 290º e 291º - hierarquia que se baseia, actos legislativos VS actos não
legislativos (delegados e executivo)

- Um regulamento pode derrogar uma directiva? Ou uma directiva prevalecer sobre


um regulamento? Art. 288º dá a resposta a este problema:

- Do ponto de vista da hierarquia o artigo é neutro mas há já uma solução


hierárquica (distinção implícita entre função normativa primária e secundária – que se
lê também na prática institucional com regulamentos de base e regulamentos de

36
execução, sendo que os últimos tinham de respeitar aquilo que os regulamentos de
base regulavam).

- O artigo 263º apresenta também uma solução. Actualmente, desde a aprovação


do Tratado de Lisboa, o problema foi ultrapassado, com a distinção entre actos
legislativos, delegados e de execução. Veja-se o artigo 289º sobre actos legislativos,
290º sobre actos delegados e 291º. De modo simplificado pode-se distinguir entre
actos legislativos (aprovado de acordo com o processo legislativo – tem uma natureza
vinculativa); e não legislativos, que são passíveis de ser impugnados se atentarem
contra os actos legislativos.

- O acto delegado é adoptado pela Comissão, por delegação dos órgãos decisores
(Conselho e Parlamento Europeu) e pode regular matérias de dignidade legislativa
desde que não sejam elementos essenciais do regime jurídico. Os actos de execução
são aprovados pela Comissão, depois de ter submetido essa proposta aos comités
técnicos. O acto executivo deve sempre respeitar o acto delegado, sob pena de ser
impugnado junto dos tribunais competentes. Um dos objectivos subjacentes nesta
distinção nova (e pouco trabalhada na doutrina), é justamente a de estabelecer um
critério hierárquico entre os actos da União, para saber qual prevalece numa situação
de conflito entre normas.

Regime Jurídico dos Actos Eurocomunitários

- Quanto ao regime jurídico dos actos euro-comunitários (arts. 296º e 297º) - a


adopção dos actos jurídicos obedece a um dado processo (294º) mas mesmo depois de
adoptados, têm de respeitar determinadas características que determinam a sua
eficácia jurídica e que condicionam a sua própria legalidade ou convencionalidade.

- Os actos jurídicos se violarem as regras podem vir a ser declarados nulos – o art.
296º estatui que os actos devem ser adequados, tendo em conta os princípios da
proporcionalidade, princípio que recomenda que, se o objectivo puder ser alcançado
através de uma directiva, não deve ser adoptado um regulamento - no fundo, a ideia
é a “proibição do excesso”, sendo que aqui o excesso é a sobrecarga imposta aos
Estados ou aos particulares.

- O artigo 296º tem uma outra vertente: obrigações de fundamentação – todos os


actos jurídicos da União carecem de fundamentação e têm de remeter para os
pareceres ou propostas que tiveram na origem desse acto. Questão problemática é de
saber se o acto está bem fundamentado. Se não tiver formalidades, é simples, é nulo
por falta de formalidade. A questão mais importante é a da fundamentação
insuficiente. A apreciação da fundamentação é feita caso a caso pelos tribunais que
verificam se a fundamentação é considerada suficiente. A fundamentação é
basicamente a exigência de tutela jurídica.

Artigo 297º – exigências procedimentais – actos do Conselho e Parlamento tem de ser


assinados pelos presidentes respectivos e há a exigência de publicação para efeitos da
sua eficácia.

37
Direito de Fonte Convencional

As Convenções Internacionais Celebradas pela União Europeia – art. 216º TFUE

- O art. 47º (personalidade jurídica) e 216º (competência de vinculação internacional)


fundamentam essa possibilidade.

- Os acordos celebrados pela União aplicam-se a todo o espaço da União, isto pelo
princípio de cooperação leal (art. 4º).

As Convenções Internacionais Celebradas pelos Estados-Membros

- No que toca às convenções celebradas entre Estados-Membros, temos as


convenções anteriores à conclusão dos Tratados Comunitários – elas subsitem na
medida em que sejam compatíveis com eles. Caso contrário, verifica-se uma ab-
rogação implícita dos acordos anteriores.

- No que toca às convenções celebradas depois dos Tratados, devem respeitar o art.
4º/3, sendo resolvidas pelo TJUE com base nesse artigo, sujeitando-se, caso não
procedam, a que contra eles seja instaurada uma acção por incumprimento (258º
TFUE).

- A questão das convenções celebradas com Estados terceiros antes da conclusão dos
Tratados foi resolvida pelo art. 351º TFUE: “na medida em que tais convenções não
sejam compatíveis com o presente Tratado o Estado ou os Estados-Membros em causa
recorrerão a todos os meios adequados para eliminar as incompatibilidades
verificadas.

- Quanto às convenções posteriores à conclusão dos Tratados – não é de prever que


em convenções celebradas com terceiros posteriormente à conclusão dos Tratados, os
Estados-Membros assumam compromissos incompatíveis com as obrigações
decorrentes dos Tratados, sem prejuízo da competência exclusiva da União para
concluir, em certos domínios, acordos com terceiros países ou organizações
internacionais.

- Finalmente, as convenções concluídas por todos os Estados-Membros no seio de


uma organização internacional – a União respeitará ela própria, no desenvolvimento
da sua acção, os compromissos anteriormente assumidos pelos Estados-Membros, na
medida em que tais compromissos tenham por objecto matérias que passaram a ser
da competência da UE e da esfera de acção das suas instituições – foi o que sucedeu
com a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, subscrita por todos os Estados-
Membros e que a União se obrigou a respeitar – enquanto ela própria não aderir
formalmente à Convenção.

38
Os Chamados ‘Acordos Mistos’ – Caracterização Breve e Sua Relevância na Prática
Institucional Mais Recente

- São acordos internacionais sobre matérias que em partes resultam da competência


da União e noutra parte pertence à esfera interna dos Estados-membros.

- Devido a estes acordos, colocou-se o problema da vinculação, e foi aí que se


descobriu a ‘fórmula mágica’ do acordo misto, sobre a competência da União é a
União que celebra nos termos do 218º, se o acordo versa sobre matérias que
pertencem às atribuições dos Estados estes tem de se vincular como sujeitos
autónomos de Direito Internacional.

- O acordo é misto por vincular a União e os Estados, sendo o seu processo moroso e
complicado. A violação dos acordos cria outro problema dada a natureza destes
acordos.

Outras Fontes

A Jurisprudência

- Fausto de Quadros diz que o papel que a jurisprudência teve na formação do Direito
da União Europeia afasta-se da função que assume nos países da família jurídica
romano-germânica para se aproximar mais da sua função nos países de família anglo-
saxónica. Assiste-se, assim, a uma criação de Direito por ‘via pretoriana’ – ‘se o direito
comunitário alcançou a densidade e o progresso que hoje apresenta, isso deve-se
muito à jurisprudência comunitária que soube suprir, tantas vezes, a paralisia dos
órgãos políticos de decisão.’19

Os Princípios Gerais de Direito – Origem e Força Conformadora

- Como diz Mota de Campos, a UE não é um corpo estanque, isolado do Direito


Internacional e do Direito Interno – quer pela sua origem, quer pelos seus objectivos e
campo de aplicação territorial, o Direito da União está intimamente vinculado ao
direito interno e ao Direito Internacional, sendo normal que de um e outro o TJUE se
socorra. Deste modo, o TJUE faz frequentemente referência aos princípios gerais de
direito, especialmente de DIP e outros princípios gerais que o Tribunal capte no
direito interno dos Estados; quer princípios que deduz das exigências da própria
construção europeia e ordem jurídica que a rege.

- A União desde sempre se socorreu com muito proveito dos princípios gerais de
direito. Os tratados, desde a versão originária que fazem referência, que hoje se
encontra no artigo 340º TFUE, a propósito da responsabilidade extracontratual da
União.

- O TJUE tem feito apelo aos princípios gerais de direito em três hipóteses diferentes:

19
Fausto de Quadros, Direito da União Europeia, pp 388-390

39
- Quando é oportuno reafirmar o carácter obrigatório dos Tratados

- Quando se trata de resolver um conflito entre os Tratados e um outro tratado


ligando os Estados-Membros entre si ou a terceiros.

- Sempre que seja necessário para interpretar os Tratados, utilizar os métodos de


interpretação consagrados no DIP.

- Em certos casos, o Direito da União prevê expressamente que uma questão relativa à
sua aplicação seja resolvida com base no direito interno dos Estados membros ou
que se aplique os princípios que o próprio TJUE deduz desse direito – corresponde ao
reenvio expresso pelo Direito da União ao direito nacional dos Estados-Membros – art.
340º TFUE (responsabilidade extra-contratual), em matéria de responsabilidade
contratual, o reenvio é feito pelo Direito da UE ao direito nacional de um Estado-
Membro cujo direito seja aplicável; o segundo caso corresponde à aplicação dos
princípios gerais que o TJUE deduz dos direitos nacionais dos Estados-Membros

- Vários princípios deduzidos dos direitos nacionais: princípio do respeito pelos


direitos fundamentais (jurisprudência muito repetida e agora consagrada no art. 6º
TUE), princípio do respeito da confiança legítima e princípio da segurança jurídica,
princípio da não retroactividade dos actos da União, princípio de respeito pelos
direitos adquiridos e da imutabilidade das situações jurídicas subjectivas, princípio da
proporcionalidade, princípio do enriquecimento sem causa, princípio do estoppel,
princípio da confidencialidade em certas situações, etc.

- Quando aos princípios decorrentes da natureza específica da UE: princípios da


igualdade de tratamento e da não discriminação, da solidariedade e da coesão da
União.

- Se há uma fonte que é importante e reveladora é os princípios gerais de direito.

- Mas desde a versão originária dos anos 50 que se tem feito alusão a princípios gerais
comuns. Isto serviu como directriz de interpretação, como elemento de criação de
uma ideia de sistema e integração de lacunas. Até à proclamação da Carta dos Direitos
Fundamentais, em 2000, esses direitos eram garantidos pelos princípios gerais de
direito. Foram estes que permitiram ao Tribunal de Justiça integrar muitas lacunas,
relativamente aos direitos fundamentais.

O Costume

- É uma fonte residual e não tem grande expressão. Isto porque, ao contrário do
Direito Internacional Público, que exprime a vontade de uma Comunidade
internacional pouca institucionalizada na qual faltam centros de criação normativa

- Na União Europeia, pelo contrário, há uma institucionalização clara dos actos desta
congregação de 27 estados – há um direito vertebrado mais perto do direito estadual
do que do Direito Internacional Público. O costume, para se afirmar como fonte
relevante e autónoma, precisa de espaços e no quadro da União tendem a diminuir-se

40
os espaços por via do controlo judicial da legalidade, como, por exemplo, o costume
contra legem.

- São raras as situações em que se verifique costume. Os acordos do Luxemburgo são


um exemplo de aplicação de costume. Mas a sua verificação é bastante pontual e
residual. No Direito da União europeia predominam a fontes escritas e
jurisprudenciais.

A Articulação Entre a Ordem Jurídica Eurocomunitária e As Ordens Jurídicas


Nacionais – Princípios e Critérios Fundamentais20

A Garantia da Efectividade das Normas Eurocomunitárias

O Primado

- A questão do primado parece uma matéria simples, mas é um erro aceitar o primado
como matéria simplória sem densidade dogmática. A fundamentação, aplicação,
limites e consequências do primado são questões muito complexas.

- Tem que se partir da ideia de internormatividade para entender o primado – “é a


ideia de justaposição, coexistência e complementaridade de ordens jurídicas”.

- As ordens jurídicas (dos Estados) são iguais e todas se aplicam ao mesmo tempo,
sobre matérias comuns e no mesmo espaço. Naturalmente resultaram conflitos entre
normas pois há normas diferentes para regular uma mesma matéria. Resta saber qual
é a ordem que se aplica? A resposta resulta de critérios de articulação.

- Procura-se respostas coerentes à mesma questão. E qual será a solução? A resposta


seria simples se o critério fosse hierárquico o que resultaria num sistema federativo
– a norma federal seria superior à norma estadual. Mas não estamos a lidar com um
sistema federal, voltando agora à atipicidade de União, onde o primado não se resolve
como recurso à hierarquia. Na perspectiva de Maria Luísa Duarte não há hierarquia –
“não prevalece porque é superior mas porque é materialmente competente,
prevalecendo com limites”. Ideias fundamentais:

- Inexistência de relação de hierarquia entre direito na União e direito dos


Estados - a norma estadual face à norma externa não se aplica por ineficácia e não por
nulidade como acontece na federação – o primado adquire superioridade funcional e
os tribunais devem estar sujeitos à progressão da União Europeia e não impedir esse
progresso – art. 4º/3 TUE;

- O primado não é absoluto nem condicional – existem limites, que estão ligados
com o facto do primado não estar fundado num superioridade hierárquica. O primado

20
João Mota de Campos, MDE, 361-400, 411-427

41
existe para garantir que o direito da União seja aplicado para todas as situações em
que seja materialmente competente. Subjacente ao primado está a pacta sunt
servanda – os pactos são para cumprir. A delegação de competências é o ponto
fundamental. Os Estados desenvolveram a União para que esta em vez deles
exercessem as competências e estas competências tem dono, que são os Estados. A
União existe para exercer poderes jurídicos e prosseguir fins competentes aos estados
bem como os poderes jurídicos que os Estados delegam (que são recuperados
aquando da saída de um Estado da União). As competências são limitadas por via da
delegação prevista nos tratados. O primado da norma eurocomunitária não é
absoluta e só se justifica no quadro de matérias que foram objecto de delegação e aí
é necessário para garantir a uniformidade – “garantir a plena eficácia das normas
eurocomunitárias”. O primado só versa sobre as que estão inscritas nos tratados e tem
limites. Esses limites advêm primeiramente dos contra-limites sob forma dos direitos
fundamentais estaduais.

- O primado tem de ser relativizado por causa dos direitos fundamentais


bem como da ideia de delegação de competências – “os estados não podem delegar
mais do que aquilo que eles podem fazer”. Os Estados não podem delegar poderes que
eles próprios podem fazer. O Tribunal de Justiça nem sempre reconheceu esta ideia –
houve uma fase de negação dos anos 60. Os tratados na sua versão originária não
dispunham sobre direitos fundamentais de modo que o tribunal interpretava essa
matéria como sendo do monopólio dos Estados. Começaram a surgir problemas,
resultado da norma comunitária do âmbito garantistico das normas constitucionais do
Estado. O Tribunal, numa primeira fase, (até 1969) ignora a necessidade de garantir os
seus valores. Só em 1969 se admite que deve respeitar os direitos fundamentais. Os
direitos fundamentais previstos nas constituições dos Estados, independentemente da
norma garantística, são princípios gerais de direito, e assim sendo integram na ordem
jurídica comunitária. Esta construção é habilidosa porque tirou o tribunal de estar
entre a espada e parede, pois saiu-se sem ter rejeitado o primado. A matéria dos
direitos fundamentais impôs ao tribunal de justiça uma reconstrução da sua
jurisprudência que considerava o primado numa primeira fase como absoluta e
incondicional – acórdãos 21 a 24 e o acórdão de 19 de Janeiro de 2010 – processo
C555/07

- Na noção actual, o primado continua a ser uma exigência de fonte jurisprudencial,


pois não há uma disposição expressa de que o direito da União prima sobre o dos
Estados. A única referencia que se encontra relativa ao primado, encontra-se num
anexo, e nesse mesmo anexo há remissão para a jurisprudência. O primado resulta da
vontade dos Estados e por este aspecto estes encontram-se vinculados.

42
Ac. Costa/ENEL de 16/07/1964

Tem por base um caso bem conhecido em que se pretendia atacar a lei italiana de nacionalização da
energia eléctrica, denunciada como incompatível com algumas das disposições do Tratado de Roma.
Tendo o juiz milanês submetido ao Tribunal ao abrigo do então 177º CEE, agora art. 267º TFUE, a
questão da interpretação das disposições comunitárias em causa, o Governo italiano contestou a
admissibilidade do recurso ao Tribunal de Justiça sustentando que a função do juiz italiano era aplicar a
lei italiana.

O Acórdão afirma que, o primado da regra comunitária se manifesta em relação a todas as normas
nacionais, quaisquer que elas sejam, anteriores ou posteriores, tornado inaplicáveis de pleno direito
todas as disposições nacionais existentes.

A Aplicabilidade Directa

- A doutrina distingue aplicabilidade directa de efeito. Partindo-se de que o direito da


União não é apenas fonte de direitos para os Estados, este direito é fonte também
para os particulares e instituições europeias, entre outros sujeitos que recebem este
direito da União. Os particulares tem portanto, direitos baseados nessa mesma fonte
de direito europeu. A análise parte de saber se a norma precisa de mediação ou se
tem aplicabilidade directa. O ideal comunitário é o ideal de normas que tenham
aplicabilidade directa para poderem ser invocadas pelos sujeitos que as recebem sem
ter que esperar por a transformação em norma nacional.

- Tradicionalmente a doutrina distinguia a aplicabilidade directa de efeito directo,


distinção que se mantem até hoje em parte.

- A base desta distinção: a aplicação directa caracteriza-se pela norma ser


susceptível de incorporação directa na ordem jurídica interna, e a fonte do conceito é
o art. 288º TFUE, quando diz que os regulamentos são directamente aplicáveis, e não
se deve confundir com a aplicabilidade imediata diz que pode haver regulamentos não
susceptíveis de aplicação imediata porque ficam dependentes de normas de execução
(desta forma a sua aplicação fica suspensa, mediante a aplicabilidade dessas normas
de execução - art. 4º/3 TUE). O regulamento directamente aplicável não é transposto,
porque seira contrário ao principio de aplicabilidade directa, mas devem-se aplicar
normas favoráveis à sua aplicação.
Acórdão Van Gend en Loos de 5/2/1963

O Tribunal considerou que as razões válidas para recorrer no plano do DIP não o são necessariamente
no quadro dos Tratados Comunitários, acabando por considerar que: 1- os Tratados, cuja finalidade é
organizar um mercado comum, afectam não apenas os Estados signatários mas também,
necessariamente, os operadores desse mercado; 2- Ao associar os povos europeus ao funcionamento
dos órgãos comunitários e, designadamente, do Parlamento Europeu e do CES, o Tratado confirma que
eles são directamente interessados nas actividades da Comunidade; 3 – a Comunidade integra, tanto
os Estados como os respectivos povos, na medida em que o Direito Comunitário está vocacionado para
conferir direitos e obrigações tanto a Estados como particulares; o art. 234º (agora 267º) do Tratado,
que confia ao TJUE a interpretação em última instância das regras comunitárias invocadas pelos
litigantes perante as jurisdições nacionais, não teria sentido se de tais regras, não pudessem resultar
para esses litigantes direitos suceptíveis de ser invocados perante os tribunais nacionais.

43
- Já o efeito directo, segundo elemento desta distinção, é constituído para as normas
relativas aos tratados. O efeito directo é a susceptibilidade de invocação da norma
pelo particular num âmbito de litígio em que é parte perante os tribunais nacionais.
O efeito directo está relacionado com a invocação contenciosa da norma junto dos
tribunais nacionais.

- A distinção feita pela doutrina, diz Maria Luísa Duarte, não é assim tão importante,
porque já não há muito a distinguir, pois a grande distinção entre regulamento e
directiva é curta, e é mais formal que substantiva. A única diferença está no chamado
efeito directo horizontal. O ponto fundamental é que a norma é fonte de direito e
pode ser invocável para a resolução de litígios e vai ser apreciado em primeiro lugar
pelos tribunais nacionais de justiça. A norma deve no entanto ser clara, precisa e
incondicional bem como juridicamente perfeita.

- O Tribunal começou por definir estes critérios a propósito das normas dos
tratados, e a partir de 1974 aplica estes critério e doutrina às directivas: este é de
facto um salto qualitativo porque entre os actos comunitários típicos - descobre-se que
o regulamento é directamente aplicável por contraponto à directiva que só vincula o
Estado ao fim a atingir. Isto significa que o destinatário das directivas era o Estado e
logo dizia-se, numa concepção conservadora que o particular não podia invocar a
directiva e desta forma tinha que esperar pela transposição e só depois podia invocar
para fazer prevalecer a disposição interna e o problema é que o estado muitas vezes
viola o prazo de transposição. A aplicabilidade directa quis combater estes vícios, e o
Tribunal quis alcançar o efeito útil e um meio de punir o infractor que é o Estado. Mas
nem todas as directivas têm efeito directo: é necessário cumprir os requisitos já
indicados e para ser fonte de direito tem justamente que ser clara, precisa no
enunciado e condicional (que se pretende com o esgotamento do prazo de
transposição, e só no fim deste prazo há aplicabilidade directa).

- Por exemplo, no caso Wallonie, em que estava em causa um


comportamento de um Estado que alterou a legislação interna num sentido
contrário à directiva em causa antes do prazo de transposição: coloca-se a questão da
violação da cooperação, boa-fé e lealdade? O tribunal veio responder que antes do
prazo de transposição o Estado não está obrigado a legislar de acordo com a directiva
mas também não pode entretanto legislar em sentido contrário ao da normas,
porque esvazia de sentido o regime determinado pela directiva. A norma da directiva
não pode entretanto ser invocável porque o prazo de transposição ainda não se
esgotou. Vai depender das características das normas serem directamente invocáveis
ou não. Se o efeito directo for interpretado pelo Tribunal de Justiça os tribunais
nacionais devem aplicar de acordo com esta interpretação e não podem decidir em
sentido diferente, baseando-se o Tribunal no princípio da cooperação leal.
Acórdão Wallonie de 18/12/1996

Apesar dos Estados-Membros não esatrem obrigados a adopter as medidas necessárias para atingir os
resultados prescritos pela directa antes do tempo de transposição, extrai-se do art. 249º e 10º TFUE, e
da própria directiva que, durante esse período, os Estados-Membros têm de se abster de tomar medias
que seriamente comprometam o resultado estatuído na directiva.

44
- As directivas, de acordo com uma interpretação jurisprudencial clássica, não
têm efeito directo horizontal. Opõe-se o efeito directo vertical, que se verifica numa
situação de litígio que opõe o particular aos poderes públicos ou entidades com
prerrogativas publicas, ao efeito horizontal, em que a norma é invocada num litígio
que opõe um particular com outro particular. A distinção é feita com a base nos
poderes públicos que a contraparte tenha ou não. As directivas não podem ser
invocadas em litígios horizontais, isto porque a directiva tem como destinatários os
Estados, logo a directiva é fonte de direito para os particulares mas nunca é fonte de
obrigações para estes. Por isso é que o tribunal tem sido pressionado para mudar de
opinião.
Ac. Van Duyn de 4/12/1974

Uma holandesa de apelido Van Duyn, parte da seita da Cientologia, decidira emigrar para Inglaterra,
para um posto de trabalho ao serviço da seita, tendo tido rejeitada por razões de ‘ordem pública’. Ela foi
a tribunal, e foi recorrendo até chegar à Câmara dos Lordes, que submeteu a questão prejudicial de
interpretação do Direito da União ao TJUE, que, considerando uma directiva que estatuía que as
medidas de ordem pública devem ser fundadas em comportamentos pessoais do indivíduo em questão
– e que essa disposição enuncia uma obrigação que não está subordinada a qualquer reserva ou
condição e que, por sua natureza, não carece da intervenção dos Estados-Membros.

- O tribunal reconhece efeitos negativos para os particulares que têm direitos mas não
podem invocar por incumprimento por parte do Estado que se atrasa na transposição
e o tribunal vai mitigar, através da interpretação conforme e da responsabilidade
extracontratual.

- A interpretação conforme é basicamente, que por força do princípio da cooperação


os tribunais nacionais devem, dentro da medida do possível, interpretar as normas
comunitários, incluído as directivas, à luz das disposições comunitárias, incluído as
normas das directivas não transpostas: a situação é que a directiva não foi
transpostas mas já o deveria ter sido, e o efeito directo não se aplicou e então o juiz
deve interpretar a norma interna aplicável à luz da matéria comunitária relativa à essa
matéria.

- A responsabilidade extracontratual do estado por violação do direito comunitário - se


existe lesão resultante da não transposição dentro do prazo, o estado é responsável,
cuja acção deve ser invocada nos tribunais nacionais (lei 67/2007).

- Acórdão de 19 de Janeiro de 2010 – caso Seda Küçükdevici. É um acórdão importante


mas não é uma revolução, pois o tribunal faz uma síntese, sobre o que já tinha dito
relativo ao primado e à interpretação conforme, que compete aos tribunais nacionais.
Maria Luísa Duarte considera que no caso Seda não há a aceitação do efeito directo
horizontal das directivas. O que a professora considera que está no acórdão, é uma
síntese: “é o tribunal a levar aos limites os instrumentos jurídicos com os quais
trabalhou: efeito directo, primado e interpretação conforme. “

45
Acórdã Seda Küçükdevici v. SWEDEX GmbH & Co. De 19/01/2010

O órgão jurisdicional de reenvio perguntou se, chamado a pronunciar-se num litígio entre particulares,
para não aplicar legislação nacional que considera ser contrária ao ao Direito da União deve,
previamente, para garantir a protecção legítima das pessoas, submeter um pedido ao TJUE nos termos
do art. 267º TFUE.

O Tribunal já havia declarado que o juiz nacional chamado a pronunciar-se num litígio entre particulares,
onde a legislação nacional parece ser contrária à da União, o TJUE já declarou que cabe aos órgãos
jurisdicionais nacionais assegurarem a protecção jurídica que decorre do direito da União.

Tratando-se de um litígio entre particulares, o TJUE declarou reiteradamente que uma directiva não
pode, por si mesma, criar obrigações na esfera jurídica de um particular nem pode ser invocada contra
ele.

Contudo, a obrigação decorrente de uma directiva de os Estados-Membros atingirem o resultado nela


estatuído bem como tomarem todas as medidas no seu sentido impõe-se a todas as autoridades dos
Estados-Membros, incluíndo os tribunais. Assim, ao interpretar o direito nacional o juiz deve é
chamado a fazê-lo, na medida do possível, em conformidade com a eficácia das disposições da União.

Apesar da clareza da legislação nacional alegada pelo órgão de reenvio e da interpretação conforme
reconhecida no art. 267º TFUE não poder ser convertida numa obrigação, o princípio do primado, e
onde fazem parte os princípios gerais, deve-se afastar uma legislação nacional contrária que seja
abrangida pelo direito da União.

- O art. 19º do TUE não tem efeito directo, contrariamente ao artigo 21º da
Carta. Mesmo que não existisse a positivação do artigo 21º, sempre se podia defender
que o princípio era implícito. A tutela dos direitos fundamentais é um exemplo de
reconhecimento implícito de normas não positivadas. Não há efeito directo horizontal.

- Em jeito de conclusão:

- As disposições do Direito da União, independentemente de serem originárias


ou derivadas, da sua natureza ou do seu nível hierárquico, a partir do momento em
que entram em vigor na UE, inserem-se automaticamente, de pleno direito, na
ordem jurídica interna dos Estados-Membros, passando a fazer parte, em posição de
primado, do complexo jurídico que todos os órgãos dos Estados, nomeadamente os
Tribunais, são obrigados a acatar.

- Tais disposições, desde que sejam normas de direito positivo, incondicionais e


precisas, atingem todos os sujeitos do Direito da UE, públicos e privados, na
respectiva esfera jruídica, habilitando-os a invocá-las perante os tribunais nacionais
sempre que nisso tenham interesse legítimo que os autorize a demandar ou
contradizer.

- Esse interesse legítimo – pressuposto da legitimidade processual para a


invocação em juízo de qualquer norma – não suscita dúvida alguma quando uma
disposição da União é apta por si mesma suficiente para conferir aos particulares
direitos ou impor obrigações susceptíveis de tutela jurisdicional – é isso que se chama
efeito directo ou imediato

46
- Noutros casos pode existir um interesse legítimo em invocar perante os tribunais
nacionais uma norma de direito da União, mesmo que esta não produza na esfera
jurídica individual o apontado efeito directo ou imediato.

Mais Exemplos de Jurisprudência do TJUE Relativa à Aplicabilidade Directa

- Ac. Ratti – uma disposição comunitária, ainda que inapta para conferir um direito
subjectivo, pode ser invocada perante os tribunais nacionais por um sujeito de
direito para fundamentar a sua oposição à aplicação que se pretenda fazer-lhe de
qualquer norma, existente no direito interno, contrária ao direito da União.

- Ac. Marleasing – tendo em conta que a exclusão e aplicação das normas nacionais só
deverá ter lugar quando estas forem incompatíveis com a ordem jurídica da UE,
podem os particulares invocar qualquer disposição pretinente do direito originário
ou derivado da UE, para obterem nos tribunais nacionais uma interpretação das
normas internas conforme ou compatível com as prescrições da União – a
aplicabilidade de normas nacionais deverá ser recusada quando não puderem ser
interpretadas na conformidade das disposições do direito comunitário.

- Ac. Frankovich – a manutenção ou adopção na ordem interna de normas jurídicas


contrárias ao Direito da União constitui um facto ilícito que habilita os particulares a
fazer valer em juízo o seu direito de obter a reparação dos prejuízos resultantes da
violação pelo Estado do dever que lhe incumbe de tomar todas as medidas gerais e
especiais adequadas a assegurar a observância das suas obrigações enquanto membro
da UE – dever que resulta do art. 4º/4 TUE

Questões Prejudiciais

- É um processo anunciado no artigo 267º TFUE - não é um recurso, é um mecanismo


de cooperação entre tribunais cujo objectivo pretende-se em garantir a aplicação e
interpretação uniformes do direito da União. Pretende-se evitar a divergência entre
os 27 da União, pois existe um risco grave para unidade da União e os tratados
pretendem evitar a lesão da unidade e coerência: uniformização da jurisprudência.
Este é um mecanismo de dialogo activo entre juízes nacionais e do Tribunal de Justiça.
O funcionamento deste mecanismo está presente no art. 267º e no estatuto, bem
como no processo do tribunal.

- Por agora, só o Tribunal de Justiça é competente para apreciar as questões


prejudiciais – 256º/3.

- Que tipos de questões são submetidas à apreciação do Tribunal de Justiça?


Questões de interpretação e sobre a validade – questões prejudiciais (questões que
condicionam a resolução do litígo no caso concreto). Se A vai a tribunal pedir
indemnização a B tem de se basear numa norma, que o tribunal vai apreciar, e a
apreciação, é prejudicial por não estar directamente envolvida com a decisão. O
mesmo se transporta para a União, num litígio no tribunal nacional pode pedir ao
Tribunal de Justiça que interprete.

47
- A decisão de submeter a questão ao Tribunal de Justiça, através do processo de
reenvio, só pode ser feita por o tribunal nacional através do juiz do processo, que
descreve os factos e coloca de uma forma clara e precisa as questões. No entanto, a
obrigação de o fazer revela de uma indeterminabilidade plena. Há autores que
admitem que sempre que o juiz tenha duvidas deve colocar a questão, no entanto a
letra do 267º é clara, apresentado duas situações: o juiz deve colocar a questão
quando o juiz julga em ultima instância (não há possibilidade de recurso). Porém, se
ainda são as suas decisões possíveis de recurso, entende-se que não há risco para a
uniformidade porque o tribunal de recurso poderá colocar a questão e neste aspecto
não é obrigado a colocar a questão. Maria Luísa Duarte considera que há apenas uma
obrigação relativa: o juiz, porque é soberano, é que vai decidir se tem dúvidas. O juiz,
ainda que de ultima instancia, só deve colocar a questão, se efectivamente ela existir.

- Se não houver questão nem duvida não se reúnem os pressupostos do 267º. O


facto de existir jurisprudência anterior explica que muitas vezes a questão não se
coloque. A resposta do Tribunal de Justiça é data através do despacho fundamentado,
contendo nele a fundamentação e interpretação da questão em vigor.

- O Tribunal, no caso Foto-Frost, fez uma leitura (contestada ainda hoje), da seguinte
forma: quando a validade do um acto comunitário está em causa e o juiz nacional
está inclinado para a sua invalidade, deve submeter a questão ao Tribunal de Justiça.

Os Fundamentos Jurídicos de uma ‘União de Direito’

O Princípio da Tutela Jurisdicional da Legalidade Eurocomunitária

- A União é principalmente uma ‘União de Direito’ e é este o paradigma que ajuda a


perceber os aspectos fundamentais do funcionamento e da estrutura da ordem
jurídica comunitária. Este paradigma tem um vertente substantiva e processual.

- Quanto a primeira, centra-se basicamente no principio da legalidade – o direito


vincula e limita, deste modo, os decisores da União, que estão obrigados a respeitar
as normas comunitárias, em especial aquelas que fazem parte da identidade genética
dos Estados: os direitos fundamentais – isto faz com que uma norma constitucional
possa prevalecer sobre uma norma comunitária.

- Quanto à dimensão processual, é dito que a cada direito corresponde uma via
processual referente a esse direito. As normas comunitárias reconhecem direitos e
impõem deveres. As violações das normas comunitárias têm a possibilidade de ser
submetida à apreciação de um juiz – é a dimensão processual das normas
comunitárias. Quais são então os tribunais competentes? Quais os princípios que
comandam a tutela judicial?

Os Tribunais Competentes

- A competência principal de tutela judicial pertence aos tribunais nacionais – artigo


274º TFUE, sem prejuízo da competência do Tribunal de Justiça, a União não fica

48
subtraída à competência dos tribunais nacionais para dirimir os litígios – isto significa
basicamente que o Tribunal de Justiça tem uma competência atribuída ou tipificada,
sendo que o juiz comunitário só pode apreciar as questões tipificadas nos tratados.

- Fora dessas questões a apreciação cabe aos tribunais nacionais, tendo eles
competência de princípio, sendo eles dados como os órgãos comuns de aplicação das
normas da união, de acordo com o processo judicial vigente em cada Estado. Essas
situações, podem chegar ao Tribunal de Justiça, mas só o alcançam pelo juiz nacional,
pelo reenvio prejudicial, que só sucede em casos de dúvida sobre a interpretação de
normas comunitárias. Mota de Campos até afirma que as jurisdições nacionais são,
basicamente, os tribunais comuns da ordem jurídica da UE.

- Deste modo, tal como o contencioso está definido nos tratados, os Tribunais
comunitários resolvem litígios entre Estados, entre estes e instituições e entres as
instituições entre si e só excepcionalmente entre particulares e instituições (por
exemplo: acção de indemnização, artigo 268ºTFUE). Como é uma questão excepcional,
quando os litígios tomem lugar entre os particulares, o tribunal competente é o
nacional.

- Os Estados devem prever no seu direito todos os mecanismos estruturais e


processuais, para garantir ao particular o acesso ao tribunal – artigo 4ºTUE.

A Protecção dos Direitos Fundamentais

Fontes – o ‘Bloco de Fundamentalidade’ da União Europeia

- O Direito institucional não tem referências a direitos fundamentais, sendo que a


jurisprudência sentiu a necessidade de ir buscar princípios a outros ordenamentos
jurídicos. Os primeiros acórdãos baseiam-se nas próprias constituções dos Estados-
Membros e na Declaração Universal dos Direitos do Homem – por isso fala-se de uma
pluralidade de fontes com natureza internacional ou constitucional.

- A jurisprudência fez um esfoço de identificação e escolha das fontes para obter


um mesmo resultado. Mais do que a coabitação de diversas fontes, aquilo a que se
assiste de modo evidente, é uma crescente dependência do Direito da União Europeia
em relação a outros sistemas jurídicos no que toca a direitos fundamentais, e como
exemplo desta dependência veja-se o art. 6º/3 TUE, em que se recebe direitos
fundamentais da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das próprias
constituções dos Estados-Membros.

- Na interpretação do sentido dos Direitos Fundamentais da Carta, deve o juiz ter


em conta a letra da lei e os princípios que a carta tenha firmado. O Tratado diz o
mesmo em relação aos direitos que estão na carta - v. Anexo 52.

- A consagração do nível máximo de protecção – artigo 53 e 52º/3 da Carta que diz


que havendo conflito de normas entre os varios sistemas jurídicos, é flexibilizado o
princípio do primado e que deve beneficiar a norma que consagre o nível máximo de
protecção.

49
Métodos de Protecção

- Nos Tratados Institutivos, nada se dizia em relação ao Direitos Fundamentais, fazendo


o Tribunal de Justiça adoptar uma posição negacionista em relação a estes.

- Esta posição do Tribunal é uma posição de rigidez que recusa a aplicação de


normas constitucionais, negando a importância desta matéria.

- Entretanto, o Tribunal Constitucional Federal Alemão (BVG), proferiu dois


acórdãos importantes, os chamados acórdãos Solange (que em alemão significa
‘enquanto’), em que se estatuía que o Tribunal só iria decidir se legislação da UE
respeita ou não os direitos fundamentais, enquanto a União Europeia não tivesse um
parlamento democraticamente eleito. Mais tarde, já havendo esse parlamento
democraticamente eleito, foi proferido um mais suave Acórdão Solange II, em que se
estatuía que, enquanto a legislação da União garantir protecção efectiva dos direitos
fundamentais, qualquer caso contra uma norma será rejeitado.

- Só em 1989 é que é aprovado um instrumento chamado Carta Comunitária dos


Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores, um acordo intergovernamental
inspirado pela Organização Internacional do Trabalho.

- O segundo marco importante é a assinatura do Tratado de Maastricht, em que os


Estados-Membros assumem um compromisso, encarando os Direitos Fundamentais
como algo de cimeira importância no Direito da União.

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia21 22

- Surge como um catálogo de direitos que consagra essencialmente os direitos


fundamentais da Declaração Universal, na altura não tendo um carácter vinculativo, o
que não significa que já não tivesse um sentido normativo para os Estados-Membros.

- O maior passo foi dado com o Tratado de Lisboa, com a introdução do art. 6º TUE,
que estatui que a Carta tem o mesmo estatuto jurídico do que os Tratados.

- A partir do momento em que se afirma esta dignidade normativa a Carta passa a


gozar das prerrogativas dos tratados instutitivos: princípio do primado (salvo se a
norma constitucional conferir maior protecção), efeito directo (susceptibilidade de
qualquer cidadão invocar as normas da carta e é irrelevante a transposição ou não),
relativa rigidez do conteúdo da Carta (alteração só pode ser feita de acordo com o art.
41º TUE).

- Piris sublinha que a Carta não aumenta as competências da União Europeia, apenas
frisando a importância que o respeito pelos direitos fundamentais tem para a União

21
Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 91-112
22
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 146-167

50
Europeia e as suas instituições. O autor diz que todo o debate de volta da Carta
ignorou a questão central – ela vincula as Instituições da União e a sua legislação, ou
também os Estados-Membros? O seu objectivo legal é limitar e enquadrar os poderes
das instituições da União e não aumentar os seus poderes, como aliás, está explícito
no art. 6º TUE

- As chamadas anotações da Carta, servem como critério de interpretação que


vincula a jurisprudência a essa interpretação – art. 52º/7 CDF.

- Maria Luísa Duarte fala delas como um ‘apêndice exdrúxulo’, atípico e


‘inapropriado’, mesmo que o seu proémio diz que elas não têm força de lei, o que
exclui a sua eventual relevância a título de interpretação sistemática da Carta. Não
obstante, o Protocolo nº 30 afirma que a Carta deve ser aplicada e interpretada pelos
tribunais em ‘estrita conformidade com as anotações’. Mesmo assim, Maria Luísa
Duarte acha que as Anotações não podem, no futuro, limitar a liberdade aplicativa dos
tribunais, não podendo suster a dinâmica de interpretação evolutiva e contextual das
disposições da Carta.

- A Carta, como já se disse, integra o estatuto jurídico da União, com a garantia


expressa de partilhar com os Tratados a mesma força jurídica – sendo assim, as
disposições da Carta gozam dos atributos típicos do Direito da União originário,
nomeadamente o primado, o efeito directo e a relativa rigidez, dependendo a sua
alteração do processo ordinário de revisão consagrado no art. 48º TUE

- A relevância jurídica plena da carta tem vantagens, que adquiriu após o Tratado de
Lisboa: visibilidade e certeza (porque agora é como um catálogo único), centralidade
(plena autonomização da Carta em relação a vínculos económicos) e coerência
sistemática e axiomática (resulta de da positivação deste conjunto de normas que
antes eram dispersas por vários sistemas jurídicos, que agora estão contidas sobre a
alçada de princípios e valores comuns, que estão no art.º 2 e art.º 3º/3 da TUE – é
património comum dos Estados-Membros).

- O art. 6º TUE, continua a ser a pedra angular dos direitos fundamentais. Outra
novidade deste artigo é também a adesão da União à Convenção Europeia dos
Direitos do Homem- uma solução alcançada 30 anos após ser reclamada pela doutrina
e instituições da União. Assim, o Tratado de Lisboa proporciona um desenvolvimento
qualitativo do sistema de protecção de direitos através da consagração da Carta como
texto vinculativo e, ao mesmo tempo, mantém a adequada flexibilidade
internormativa do sistema pela via crativa e aberta dos princípios gerais de Direito.

- Este preceito não tem previsibilidade imediata, porque diz que “adere” mas
refere-se ao futuro e há incerteza neste objectivo, pois há obstáculos que esta previsão
enfrenta, desde logo porque para tal é necessário um convenção internacional de
Estados-Membros para a adoptar.

- Além disso, a posição tradiconal do Reino Unido e Polónia são os maiores


obstáculos políticos para a concretização desta disposição.

51
- Por outro lado, para que a União possa aderir à Convenção é necessário que o
texto seja alterado para que possa conter um sujeito internacional como a União que
não tem natureza federal nem estadual.

- A consequência prática da adesão: integração do Tribunal Europeu dos Direitos do


Homem na União Europeia, pois a Convenção, além de ter aprovado o texto, criou o
TEDH. Agora, com o Tratado de Lisboa, o Tribunal de Justiça teria de funcional também
como conferindo protecção aos direitos fundamentais.

- A Carta prevê três categorias de direitos:

- Direitos fundamentais e liberdades, tais como direitos processuais básicos


garantidos pela CEDH e derivados das tradições constitucionais comuns aos Estados-
Membros, como princípios gerais da União.

- Direitos fundamentais só destinados a cidadãos da União

- Direitos económicos e sociais contidos na Carta Social Europeia de 1961 e na


Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores de 1989

- Os Direitos Fundamentais funcionam como princípios gerais da União, conferindo-


lhes uma superioriedade na hierarquia das fontes. Primeiro porque os princípios
estão sempre acima das regras, tendo uma base axiológica a conferir-lhes essa
superioridade. E segundo, a partir do momento em que são princípios gerais da União,
eles integram o bloco legal fundamental, ficando ao nível dos Tratados.

- No que toca à sua dignidade normativa, eles são critérios de compreensão do


conteúdo das demais normas hierarquicamente inferiores, tendo também uma
função integrativa de lacunas. Por fim, têm uma função directa, apontando fins e
razões teleológicas de compreensão do restante sistema jurídico, tendo também uma
função limitadora, funcionando como critérios de juridicidade dos demais actos
jurídicos.

- Função Jurisprudencial – o art. 19º/1 TUE investe o Tribunal de Justiça na missão de


garantir o respeito do direito na interpretação e aplicação dos Tratados. Assim, seja
qual for a matéria, o juiz comunitário deverá garantir a estrita observância dos
direitos fundamentais através, por um lado, do controlo de legaldiade de normas
comunitárias e, por outro lado, do controlo da actuação do decisor nacional quando
este dá execução ao Direito da União, mesmo apesar dos ‘pilares invisíveis’ – v. 267º
TFUE.

- Doutrina Sta(????) – o juiz comunitário não pode invocar as normas internas dos
Estados-Membros mas pode-se nelas inspirar para encontrar normas e princípios
comuns.

- Caso Nold II – 1974 : o juiz pondera aplicar as tradições comuns aos vários
Estados-Membros, Constituições e instrumentos internacionais aos quais os estados
membros hajam aderido. O caso Nold II é o expoente de uma concepção que é,
particularmente, favorável a uma garantia efectiva dos Direitos Fundamentais. Como
princípios gerais de Direito, a sua vinculatividade na ordem jurídica comunitária não

52
depende de um qualquer “mínimo denominador comum”. O critério de identificação
do direito não é o da sua maior ou menor aceitação nos ordenamentos
constitucionais dos Estados-membros. O critério relevante é o da “adequação
funcional”. Sendo as Comunidades Europeias entidades de poderes limitados, segundo
o princípio da competência por atribuição, o âmbito de protecção dos Direitos
Fundamentais há-de corresponder a esse espaço de actuação normativa.

- Caso Rutili – 1975: o. TJUE fez a primeira menção expressa à CEDH, considerando
que as limitações aos poderes dos Estados-membros em matéria de polícia de
estrangeiros são a manifestação de um princípio mais geral consagrado nos artigos 8º,
9º, 10º e 11º da CEDH e no artigo 2º do Protocolo n.º 4.

- Há um flexibilização da rigidez inicial da jurisprudência: esta flexibilização vai ter


expoente maximo no Caso Warzur – 1988, em que se consagra o princípio do máximo
grau de protecção dos direitos fundamentais.

- A evolução jurisprudencial revela que os Direitos Fundamentais enquanto


princípios gerais da União não são uma novidade introduzida pelo tratado de Lisboa ou
pelo Tratado de Maastricht. Isto vem explicar o facto da Carta ter sido aprovada em
2000 sem carácter vinculativo, não significando, porém que ela não tivesse vinculação
no seu conteúdo. A única inovação é a força vinculativa da Carta.

- Em jeito de conclusão, o Tratado de Lisboa não muda o modelo eurocomunitário de


protecção de direitos fundamentais, seja no plano de direitos proclamados seja no
plano das garantias. Com o Tratado de Lisboa, prevalece o método comunitário do
aperfeiçoamento das garantias com o nível máximo de protecção.

- Ver Protocolo 8 para questões relacionadas com a articulação dos ordenamentos


jurídicos.

- Maria Luísa Duarte alerta, ainda, para a ‘via perigosa dos direitos a duas
velocidades’, proveniente dos privilégios de exclusão consentida. Como já vimos,
através de um protocolo, o Reino Unido e a Polónia obtiveram o acordo dos restantes
Estados-Membros sobre a não aplicação da Carta nos respectivos ordenamentos
jurídicos, com esse Protocolo a a garantir a esses dois Estados-Membros que as
disposições da Carta não podem ser invocadas com fundamento de desaplicação, por
desconformidade comunitária, das leis, práticas e acções administrativas interna,
referindo que o Título IV (direitos sociais) não cria direitos susceptíveis de invocação
perante os tribunais nacionais. Mais tarde, a República Checa juntou-se a esse ‘clube’.

- Do ponto de vista jurídico, a integração diferenciada gera incerteza sobre o


alcance subjectivo e objectivo dos direitos inscritos na Carta, com prejuízo notório
para os titulares potenciais de tais direitos que se colocarão no futuro: na medida em
que a Carta não cria novos direitos ou princípios (como diz no Protocolo) e que se
limita a reafirmá-los, como poderão os tribunais nacionais ou o Tribunal de Justiça
distinguir entre direitos previstos na Carta, insusceptíveis de invocação e direitos
que, fazendo parte integrante do Direito da U.E., são vinculativos como princípios
gerais nos termos do art. 6º/3 TUE?; o art. 1º/2 do Protocolo refere expressamente o
estatuto de irrelevância do Título IV da Carta (direitos sociais) – a Polónia, através da
Declaração 62, apelando à tradição do movimento Solidariedade, compromete-se a
53
respeitar os direitos sociais e laborais reafirmados no Título IV da Carta. Sendo assim,
pode uma declaração alterar o sentido de uma cláusula expressa de derrogação
contida no texto do Protocolo?

- Basicamente, para Maria Luísa Duarte, este acordo representa um retrocesso,


alegada expressão do método de integração diferenciada (v. art. 20º TUE)

- Em jeito de conclusão, podemos dizer que a Carta não proclama novos direitos,
limitando-se a reafirmá-los. A sua entrada em vigor não implicou alterações
substanciais no bloco de fundamentalidade da União, sendo que o aspecto mais
inovador do Tratado de Lisboa respeita à adesão da União à Convenção Europeia dos
Direitos do Homem. Sendo assim, como diz Maria Luísa Duarte, o sistema
eurocomunitário de protecção de direitos fundamentais, tal como o conhecemos –
plural e internormativo no que se refere às fontes, pretoriano nos critérios de decisão
– não sofrerá qualquer risco de transformação radical em virtude do Tratado de
Lisboa.

O Estatuto de Cidadania da União

- Uma dimensão importante da ‘União de Direito’ é o estatuto de cidadania da União.


Foi introduzido pelo tratado de Maastricht, estando hoje consagrado no artigo 18º e
seguintes do TFUE. O estatuto significa que os cidadãos dos estados-membros são
cidadãos da União. Isto significa que o estatuto de cidadão da União é um estatuto
derivado e não originário – só se é cidadão Europeu como consequência de ser
cidadão de um Estado-Membro. Isto significa que um cidadão de um país terceiro não
é cidadão da União, até porque a União não pode legislar sobre nacionalidade: essa
matéria está vedada à União. Isto explica-se porque a União não tem poder político
próprio e constituinte e por isso, não tem competência, sendo que a utilidade prática
desse estatuto fica assim diminuída porque é determinada concretamente pelos
Estados.

- Este estatuto caracteriza-se por uma determinada qualidade (ser cidadão de um


Estado-Membro) e pelo facto do cidadão da União ter determinados direitos e
deveres (artigo 20º TFUE, expõe de modo tipificado quais os direitos e deveres, âmbito
que não pode ser extravasado): não tem todos os direitos de um cidadão nacional,
mas não está numa situação tão precária como é o caso de um cidadão de país
terceiro.

- De todos os direitos, há um que é particularmente importante e problemático na sua


aplicação: direito de livre circulação.

- Esse direito está previsto no artigo 21º TUE, e é um direito que, nos tempos
actuais, tem conhecido alguns desenvolvimentos negativos. Desdobra-se no direito de
residência e direitos colaterais (como por exemplo o direito de ter consigo o cônjuge e
os familiares) – v. caso McCarthy23

23
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:62009J0434:PT:HTML
54
A Constituição Portuguese da 1976 e o Seu Grau de Abertura às Exigências da
Relação de ‘Coabitação Necessária’

- Um Estado não existe sem a sua Constituição. Temos o ponto de partida no artigo
8º/4 da CRP, significando, basicamente que o primado é importante, mas há vida para
além do primado, este não é esmagador, não se podendo resumir tudo à ideia do
primado.

- O primado não é absoluto nem incondicional, é relativo e funcional, porque o


primado tem de ter um fundamento. O artigo 8º/4 CRP, consagra o primado, e deve
ser ligado ao artigo 7º/6 CRP, com a reserva de que não podem prevalecer as normas
comunitárias quando estão em causa direitos fundamentais. Uma norma comunitária
contrária à Constituição, é inconstitucional, mas há que lembrar do 262º TFUE, que
diz que podem não resultar consequências práticas.

- Maria Luísa Duarte acha que uma norma comunitária contrária à norma
constitucional sofre uma ilegalidade sui generis, e o tribunal nacional deve colocar a
questão ao TJ, para este responder correctamente como deve ser a norma
interpretada.

Âmbito e Natureza das Competências da União Europeia24

Delimitação de Competências Entre a União Europeia e os Estados-Membros –


Princípios Fundamentais

O Princípio da Competência Por Atribuição

- Os Estados-Membros, titulares originários das competências, aceitam delegar na


União novos e mais alargados poderes, mas reconhecem-se o direito de definir
limites, jurídicos e políticos, mais exigentes no que toca ao exercício dos poderes pelo
decisor da União e, por conseguinte, mais restritivos em relação à expansibilidade da
esfera de actuação da União em detrimento da área de decisão própria dos Estados-
Membros.

- V. art. 4º/1 e 5º/2 TUE que repetem a ideia da competência por atribuição.

- O art. 5º sujeita as competências ao chamado teste da competência, fazendo três


perguntas: quem tem a competência? (princípio da competência por atribuição) quem
deve exercer a competência (princípio da subsidariedade) e como deve ser exercida?
(princípio da proporcionalidade)

24
Jean Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 74-79

55
- No art. 1º TUE está bastante claro que são os Estados-Membros que atribuem
competências à União.

- Exclusivas – matérias sobre as quais só a União pode legislar e vincular. Os Estados-


Membros só o fazem com autorização ou para executar no seu próprio território o que
foi estatuído pela União. Exemplos: união aduaneira, mercado interno, união
económica e monetária, etc.

- Partilhadas – tanto a União Europeia como os Estados-Membros podem emitir


actos vinculativos; se a União já tiver legislado, os Estados-Membros só legislam no
que ela não legislou ou decidiu não legislar. Exemplos: ambiente, energia, transportes,
etc.

- Complementares – União Europeia não legisla, mas pode cooperar e ajudar Estados-
Membros. Exemplos: turismo, cultura, protecção civil, política industrial.

- Alargamento ou redução das competências?

- Em relação às competências exclusivas, verifica-se um retraimento do âmbito


que, tradicionalmente, doutrina e jurisprudência admitiam como matérias de
monopólio comunitário. Exemplo: política agrícola comum (com excepção de
conservação de recursos) e política comum de transportes agora estão nas
competências partilhadas.

- Em relação às competências partilhadas, há um alargamento nas áreas de


política de energia (194º TFUE), cooperação judiciária e policial em matéria penal (82º
TFUE), problemas comuns de segurança em matéria de saúde pública (189º TFUE),
política espacial europeia (189º TFUE), ajuda humanitária (214º TFUE), etc.

- O alargamento mais significativo verifica-se no âmbito das competências


complementares: novo título relativo ao turismo (art. 195 TFUE), desporto (art.
165º/2º TFUE), protecção civil (197º TFUE)

- Maria Luísa Duarte frisa o facto da passagem da PESC da esfera intergovernamental


para a esfera comunitária e a protecção de direitos fundamentais passar a estar
vinculada a um ‘bloco de fundamentalidade’, de fonte nacional e internacional.

- Quanto às competências partilhadas, é preciso enunciar três coisas.

Os Princípios da Subsidariedade e da Proporcionalidade

- Princípio da Subsidariedade – o art. 5º/3 impõe o princípio da subsidariedade. O


Protocolo 2º desenvolve melhor esta matéria, especialmente no que toca à
participação dos Parlamentos Nacionais, que podem controlar a aplicação, ou não, do
princípio da subsidariedade. Com o Tratado de Lisboa, é a primeira vez que se fala
destes princípios como aplicável a nível regional e local.

56
- Princípio da Proporcionalidade – o art. 5º/4 dispõe que o conteúdo e a forma dos
actos da União não excederá o que é necessário para atingir os objectivos dos
tratados. Também é desenvolvido no Protocolo nº2.

- Não esquecer isto:

- Declaração nº 18 – a CIG sublinha que a União pode decidir de deixar de exercer


uma competência partilhada revogando um acto legislativo, para melhor respeitar o
princípio da subsidariedade. Aliás, os Estados-Membros até podem pedir ao Conselho
para pedir à Comissão, de acordo com o art. 241º do TFUE, para submeter uma
proposta de revogação a um acto legislativo já em vigor, exigindo maior rigor na
aplicação do princípio da subsidariedade – apenas mostra um grau de desconfiança
política por parte dos Estados-Membros. Para Piris, juridicamente, não traz nada de
novo, pois isso sempre se pôde fazer. Contudo, como aponta o autor, o facto destas
possibilidades legais estarem agora expressamente consagradas nos Tratados tem um
significado político que não pode ser subestimado.

Sobre a Vocação Expansiva dos Poderes Comunitários25

Interpretação Teleológica e Teoria dos Poderes Implícitos

- Será legítimo transpor para o quadro da União Europeia a teoria de que uma
organização internacional deve dispor de todos os poderes necessários ao
cumprimento da missão que lhe é atribuída no respectivo pacto constitutivo, ainda
que este não haja expressamente previsto esse mecanismo? Ou seja, além das
competências explícitas, que tenha competências implícitas, que lhe sejam
indispensáveis para realizar os seus objectivos?

- No âmbito do Direito Internacional, esta teoria é consensualmente admitida,


consagrada na jurisprudência do TPJI e do TIJ.

- Nas suas abordagens à questão, o Tribunal de Justiça foi progressivamente e com


crescente firmeza proclamando a legitimidade do recurso, no quadro da União, à
teoria das competências implícitas com vista à prossecução do efeito útil dos Tratados.

- O caso AETR (1971), consagra, sem dúvida, a validade desta teoria, dizendo o TJUE –
“para fixar, num caso determinado, a competência da Comunidade para concluir
acordos internacionais, convém tomar em consideração tanto o sistema do tratado,
como as suas disposições materiais. Uma tal competência resulta não somente de
uma atribuição explícita pelo Tratado, como pode decorrer igualmente de outras
disposições do Tratado e de actos no quadro destas disposições pelas Instituições da
Comunidade: em particular sempre que para a implementação de uma política
comum prevista pelo Tratado, a Comunidade tenha adoptado disposições que, de
algum modo instituam um regime comum, os Estados-Membros perdem o direito,
quer individualmente, quer colectivamente, de contratar com terceiros Estados
obrigações que afectem esse regime. Deste modo... só a Comunidade está em posição

25
Mota de Campos, MDE, pp 299-304

57
de assumir e executar, com efeitos para todos... os compromissos assumidos em face
de terceiros Estados.”

- Este acórdão foi importantíssimo ao afirmar que as Instituições possuem


necessariamente, mesmo no silêncio dos Tratados, competência exclusiva para
negociar e concluir qualquer acordo internacional, sobre matérias que na ordem
interna da União Europeia estejam submetidas, por força dos Tratados ou de um acto
jurídico a uma regulamentação da união, i.e., a competência interna da União implica a
sua competência externa.

- Noutras disposições ulteriormente proferidas, o Tribunal tem admitido


largamente o apelo à teoria dos poderes implícitos com vista a alcançar o ‘efeito útil
dos Tratados’ identificando esse efeito útil não a partir de uma interpretação
resultante da indagação das intenções dos Estados fundadores, mas antes, com base
numa interpretação teleológica ou finalística dos Tratados. Assim, às instituições da
União são reconhecidos poderes implícitos, na medida em que eles sejam necessários
para o cumprimento das atribuições que lhes foram conferidas.

A Cláusula de Poderes Necessários do Art. 352º TFUE

- Os Tratados admitem a possibilidade de criação, pelas próprias instituições da União,


de poderes ou instrumentos de acção apropriados à plena realização das missões
que lhes foram confiadas, como dispõe o art. 352º TFUE

- Apesar da União dispor de competências de atribuição e dos correspondentes meios


de acção, previstos nos Tratados, essas competências e meios são insuficientes para
realizar plenamente as missões ou objectivos enunciados à cabeça dos Tratados. Com
o art. 352º teve-se em vista facultar-lhe esses meios ou instrumentos de acção, pelo
que esta disposição se pode considerar verdadeiramente fundamental para o
aprofundamento do processo de integração europeia e para a desejada eficácia da
acção da União.

- Condições do art. 352º TFUE

- Condições de fundo – a acção deve visar à realização, no quadro das políticas


definidas pelos Tratados, de um dos objectivos da União; a acção deve apresentar-se
como necessária para realizar esse objectivo; é preciso que nenhum outro meio ou
poder de acção ‘necessário para o efeito’ tenha sido previsto pelos Tratados; que as
disposições adoptadas sejam adequadas; e que não implica violação dos Tratados.

- Condições de forma – iniciativa da Comissão; intervenção do Parlamento


Europeu; decisão do Conselho, por unanimidade; adopção de disposições
juridicamente apropriadas.

- O Conselho, sob proposta da Comissão, poderá adoptar, para o efeito, qualquer dos
actos previstos no art. 288º TFUE ou outro acto normativo assimilável a qualquer dos
referidos, seja qual fora a designação que em boa técnica jurídica, seja considerada
mais apropriada – Instituições gozam, assim, de grande liberdade.

58
- O acto finalmente adoptado pelo Conselho é, em qualquer caso, um acto jurídico
unilateral e não um acto consensual dos Estados reunidos no Conselho.

O Papel Reconhecido aos Parlamentos Nacionais26

- Até 1979, os membros do Parlamento Europeu eram escolhidos pelos parlamentos


nacionais. Com o Parlamento Europeu a ser directamente eleito, eles sentiram que o
seu poder legislativo havida sido transferido para os seus Governos.

- O Tratado de Lisboa deu uma resposta significativa às exigências dos parlamentos


nacionais, conferindo-lhes um grande número de direitos, incluíndo, o direito a ser
informados directamente pelas instituições da União e não pelo seu Governo, e um
papel directo em fiscalizar se as instituições Europeias respeitam ou não o princípio
da subsidariedade – art. 5º TUE e Protocolo nº2.

- Também têm um papel na monitorização de mecanismos na área de liberdade,


segurança e justiça – arts. 70º, 85º e 88º TFUE.

- Estes poderes dados aos parlamentos nacionais, como bem aponta Piris, são
consequência directa do facto do Parlamento Europeu não se ter conseguido
estabelecer como a inequívoca solução para a legitimidade democrática que a União
Europeia precisa.

- Contudo, Piris afirma que com o curto prazo de intervenção que têm os parlamentos
nacionais (8 semanas – art. 4º do Protocolo nº1 e art. 6º do Protocolo nº2). No
entanto, há parlamentos mais interventivos que outros – o Folketing dinamarquês, o
Eduskunta finlandês e o Riksdag sueco intervêm regularmente.

- Seja como for, os parlamentos nacionais exercem agora um controlo mais profundo
e apertado do que antes e espera-se que as disposições do Tratado de Lisboa façam
mais parlamentos nacionais intervirem activamente.

- Os poderes atribuídos aos parlamentos nacionais encontram-se no art. 12º TUE, com
o Protocolo nº1 e nº2 a desenvolverem mais esta disciplina, no que toca à aplicação
dos princípios da subsidariedade e da proporcionalidade.

O Direito à Informação e o Papel Directo no Controlo do Respeito pelo Princípio da


Subsidariedade

- O Protocolo nº1 e nº2 dispõem sobre a relação entre as instituições da União e os


parlamentos nacionais, que é uma inovação em relação à situação anterior, onde os
parlamentos recebiam a informação via os seus Governos.

- Todos os projectos legislativos, programas legislativos e documentos consultivos


da Comissão, minutas do Conselho e o relatório anual do Tribunal de Contas são

26
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 122-124

59
reencaminhados directamente para os parlamentos nacionais para o seu escrutínio e
comentário.

- A transmissão dos projectos legislativos deve ser efectuada, em todas as línguas


oficiais da União Europeia directamente para os parlamentos nacionais na mesma data
em que é enviada para o Parlamento e o Conselho, com um prazo de 8 semanas.

- O parlamento nacional pode enviar, dentro desse prazo, uma opinião


fundamentada para as instituições da União a dizer porquê que o projecto legislativo
não respeita o princípio da subsidariedade, tendo essa opinião de ser tida em conta.

- Contudo, como diz Piris, os parlamentos têm de se organizar e concertar para


fazer valer esta oportunidade de terem um papel mais activo na integração europeia.

O Cartão Amarelo e o Cartão Laranja

- O Tratado prevê ainda outro passo, chamado ‘o cartão amarelo’ – se uma opinião
fundamentada é feita representando um terço do total de número de votos
atribuídos aos parlamentos nacionais, o projecto legislativo terá que ser revisto. A
cada parlamento nacional são atribuídos dois votos. A Holanda ficou insatisfeita com
este mecanismo, sendo que, na CIG de 2007, negociou um mecanismo adicional – o
‘cartão laranja’ – art. 7º/2 do Protocolo nº2

- O ‘cartão laranja’ é um mecanismo em que, quando uma opinião fundamentada que


põe em causa a conformidade de um projecto legislativo com o princípio da
subsidariedade é subscrita por metade dos votos, a Comissão poderá manter a
proposta, emendá-la ou retirá-la. Se ela mantiver, terá que justificar com opinião
fundamentada que será submetida a apreciação do Parlamento Europeu e do
Conselho. Se estes decidirem, de acordo com o art. 7º/3 do Protocolo nº2, o projecto
não será mais considerado.

- De frisar que, o art. 8º do Protocolo nº2 consagra o direito dos parlamentos


nacionais acederem ao Tribunal de Justiça, permitindo acções de anulamento a ser
trazidas por Estados-Membros.

Outras

- No campo da liberdade, segurança e justiça, os parlamentos nacionais têm de ser


informados dos conteúdos e resultados do sistema de avaliação de implementação
dessas políticas por Estados-Membros – art. 70º TFUE

- Também têm de ser notificados se a Comissão fizer uso de alguma cláusula da


passerelle.

- Art. 10º do Protocolo nº1, fala da possibilidade dos parlamentos nacionais poderem
organizar conferências interparlamentares sobre tópicos específicos, especialmente
PESC.

- Também, nos termos do disposto no art. 48º/7 TUE, os parlamentos nacionais podem
ter um papel no processo de revisão dos tratados.

60
- Art. 49º/1 TUE – serem notificados de pedidos de adesão

- Art. 352º/2 TFUE – serem informados das propostas da Comissão baseadas na


cláusula de flexibilidade.

61

Você também pode gostar