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Direito da União Europeia

Direito Da união europeia (Instituto Politécnico do Cávado e do Ave)

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Direito da União Europeia
1. Introdução Histórica

 DA GEOGRAFIA Á CULTURA
A pequeneza territorial e demográfica da Europa leva a que a geografia contemporânea a caracterize como
uma Macro-Unidade Geografica (MUG) do continente Euroásia. Isto leva a que se afaste a sua caracterização
como verdadeiro continente.
É, por isso, que a noção de Europa não seja referente á sua dimensão geográfica mas sim á sua dimensão cultural,
alicerçada com a partilha de tradições comuns filosóficas, axiológicas, jurídicas, etc. Esta experiência, fundada no
contributo filosófico da antiguidade clássica é o produto de uma riquíssima historia partilhada de migrações e
conflitos, uniões e processos de integração que interessa conhecer melhor como introdução ao atual processo de
integração europeia.

 DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA AO SEC XX


A noção geográfica da Europa foi utilizada pela primeira vez pelos Gregos para designar os territórios a Norte da
Grécia Antiga. No entanto, foi apenas com a expansão da Romanização que se encontra alguma unidade
civilizacional neste espaço.
As diferentes formas jurídico-politicas que o domínio verdadeiramente exercido pelos romanos no território do
atlântico ao rio Elba e da bretanha ao mediterrânio, sobre as populações ai estabelecidas, são um legado que
ainda hoje perdura na ideia de Europa. Ainda hoje impressionam os seus feitos que, quotidianamente são visíveis,
tais como a rede viária; o abastecimento publico de água; a autonomização dogmática do Direito e a expansão do
Cristianismo.
Esta é uma herança que sobreviveu ao período de enorme convulsão que marcou a queda do império Romano no
Ocidente, no qual as migrações dos diferentes povos “bárbaros” e o seu estabelecimento nos territórios da
europa ocidental culminaram com a sua conversão no cristianismo, como força unificadora da tradição cultural
Europeia. Foi assim que na transição, e durante toda a Idade Media, mesmo num período marcado pela
descentralização característica de um território dividido em pequenas parcelas sujeitas á autoridade de um senhor
feudal, o papel unificador da Igreja e do Papado ressurgiu.
A Sagrada autoridade Papal é a autoridade que marca este período histórico, em larga medida expresso no
fenómeno das “cruzadas” (expedições religiosas e militares, cujo principal objetivo era resgatar a Terra Santa, que
estava sob o domínio islâmico para os cristãos). Aqui, a Europa, unida da Cristandade contra o “outro” “infiel”
encontra uma unidade civilizacional que ainda hoje perdura, senão de outra forma, na Reconquista Cristã da
Península Ibérica sob a forma de Portugal.
A partir do seculo XIV as disputas entre o poder dos Príncipes e da Igreja acentuam-se. O declínio do poder
temporal do Papa encontra-se no seculo XVI, com a Reforma Protestante (A reforma protestante foi responsável
pela criação de várias igrejas, sendo que todas elas se declararam fora da autoridade do Papa.) , o seu expoente
máximo. É, precisamente, na transição para a Modernidade que nasce a ideia de centralidade espiritual, sujeita
ao poder do “Príncipe” (maquiavel) e subtraída ao poder da igreja. Desta forma nasce a ideia de Estado-Nação
Europeu, alicerçado na ideia de “soberania” como summa potestas (“O poder que não reconhece qualquer outro
poder”). É este o entendimento que conduz a um período de constantes lutas entre os estados sobranos
europeus, na procura de diferentes soluções de equilíbrio.
No final das mais sangrentas dessas guerras, a Guerra Dos Trinta Anos, os Estados Europeus acordaram no
reconhecimento da igualdade soberana de cada um dos estados, independentemente da sua dimensão
geográfica e poderio económico, militar ou politico, na paz de westphalia que consagra, definitivamente a ideia
de “Estado- Nação Europeu”.
Diversas alianças, inclusivamente duplicadas na expansão ultramarina de cada uma das potências, marcaram
os anos seguintes da historia Europeia em particular com as invasões Napoleónicas, que culminaram no
Congresso de Viena.
No sec XVII, as Revoluções Liberais e o nascimento do Constitucionalismo Moderno marcaram a submissão do
Poder ao Direito, do Estado do Absolutismo ao Estado de Direito. O sucesso desta forma de legitimação
justificou a sua expansão em todo o território Europeu. Em Portugal deu-se com a Revolução Liberal de 1820 e
a Constituição de 1822. Assim se dá expressão a um dos mais relevantes traços que marcam, atualmente, a
integração europeia : a “tradição constitucional comum aos seus Estados-membros, na expressão do TEDH

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(documento na qual se disciplina a organização do poder politico segundo o principio da separação dos poderes e
garante um catalogo de proteção dos Direitos Fundamentais).
Um dos traços marcantes do período que vai desde o seculo XIX até ao inicio da primeira guerra mundial é
precisamente a validade do Direito Internacional na relação entre os estados soberanos. Este traço de civilização
é documentado pelo surgimentos das primeiras organizações internacionais, percursoras do que veio a ser
génese da integração europeia sob a forma de uma organização de Direito Internacional, fundada em tratados.
Desta forma, os Estados soberanos procuravam alcançar objetivos e interesses comuns.

 SEC XX – O PERIODO ENTRE GUERRAS


A primeira Guerra Mundial marcou, de forma trágica, o inicio do sec XX, pondo de lado estes esforços de
cooperação internacional. A “guerra que acabaria com todas as guerras” deixou um tão vincado vasto de
destruição que deu origem á ideia de unificação de esforços europeus contra a possibilidade de nova semelhante
destruição.
Logo apos o final da Primeira Guerra Mundial, diversas propostas avançavam já a necessidade de avançar com a
integração europeia na prevenção de futuros conflitos. Desde a proposta do primeiro ministro italiano Einaudi ,
passando pela proposta do ministro francês Loucheur. Alicerçado nestas propostas, o manifesto Pan-Europa,
saído do congresso de Viena, apresentou um forte apelo á integração europeia.
Estes esforços enunciavam já os termos da discussão que, ainda hoje anima a integração europeia entre o
funcionalismo económico ( baseado na soberania dos Estados Membros), e o federalismo integrador. Eles eram,
aliás, já aparentes na proposta apresentada pelo Ministro dos Negocios Estrangeiros francês á Sociedade das
Nações (SdN). Aqui Briand propunha “esforçar-se por estabelecer um laço federal entre povos que estão
geograficamente agrupados, como os povos da Europa, que sobretudo terá lugar no domínio económico”
O lento funcionamento da estrutura da SdN e a frágil situação económica da Europa, em particular da
Alemanha, seguindo-se a Grande Depressão americana, bem como a situação politica com a vitoria de Hitler,
leva á reprovação da iniciativa de Briand.

 SEC XX – APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Entretanto, inicia-se em 1939, a Segunda Guerra Mundial.
A destruição económica da europa, e física de muitas das mais importantes forças produtivas, deixaram em
sangrentas ruinas muitas das cidades europeias. Em termos políticos, o resultado das operações militares dos
Aliados, a Oeste, e da União Soviética, a Leste, deixou a Europa dividida em dois grandes blocos e, em particular, a
Alemanha, e mais tarde a própria cidade de Berlim dividida. Este conflito passou pelo confronto das diferentes
forças politicas internas que se debatiam nas democracias Europeias. Contudo, a ameaça militar pendia sobre a
Europa de forma permanente com a presença de tropas e misseis capazes de atingir as maiores cidades
europeias. No plano internacional, politicamente, anunciavam-se a intenção de não mais ver repetidas as
condições de destruição do final da Segunda Grande Guerra . O Preâmbulo da Carta da Organização das Nações
Unidas, prevê, expressamente: “Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: A preservar as gerações vindouras
do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis á
humanidade”.
Alem disso, no mesmo plano global, a promoção do ideário típico das democracias liberais passou pela criação das
instituições de Bretton Woods , o FMI e o Banco Mundial, no plano económico.
No quadro Europeu, a palavra de ordem passou a ser “É preciso criar os Estados Unidos da Europa” (Churchill)
Já durante a guerra diversos lideres europeus no exilio estabeleceram contactos que permitiram, entre outros,
a proposta de criação de uma União Aduaneira entre os países da BeNeLux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo).
Coincidentemente, as eleições inglesas, ainda antes do final da guerra no pacifico, determinaram a surpreendente
vitória dos Trabalhistas deixando espaço ao “Velho Lobo” Churchill para se dedicar a unir uma Europa que se
encontrava dividida por “uma cortina de ferro que se acabava de abater sobre a europa”.
Tal discurso havia já sido considerado na reunião do comité Internacional de Coordenação dos Movimentos para
a Unidade Europeia, que culminou com a criação do Comité para a Europa Unida. Aqui também se proclamou
que “É preciso construir os Estados Unidos da Europa” numa proposta largamente tributaria da ideia, já
anteriormente, apresentada por Briand.
Aliás, também aqui se confrontaram as duas teses que o texto de Briand já enunciava e que têm animado a
integração europeia: a tese federalista (“Estados Unidos da Europa”), que aponta as diversas tradições partilhadas
pelos Estados Europeus para defender uma rápida integração política; e uma tese pragmática, defensora de uma
cooperação crescente entre os Estados, numa perspetiva intergovernamental, que garante e respeita a soberania

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dos Estados. Mesmo na primeira corrente, ainda se discutia entre aqueles que pretendiam, acentuando as
solidariedades politicas entre os Estados europeus, avançar, rapidamente, no sentido de uma integração politica
plena e aqueloutros que, tendo por objetivo esta união politica, defendiam ser necessário previamente
aprofundar os laços de interdependência económica para daí construir solidas solidariedades politicas, numa
logica funcionalista (do falhanço da CED ao Plano Schumann) da integração económica.
Assim foram avançando os esforços no sentido da Integração Europeia, que fizesse face ás ameaças que pendiam
sobre a Europa Ocidental no final da Segunda Guerra Mundial. Daí que Churchill reforçasse que a integração
europeia é uma “questão de guerra ou paz”

2. HISTÓRIA DA INTEGRAÇÃO EUROPEIA


Esta realidade socio-política impôs, no projeto de aprofundamento da integração Europeia, duas linhas paralelas
(tese federal e tese funcionalista), na resposta aos desafios do período pos-segunda guerra Mundial.

 COOPERAÇÃO INTERGOVERNAMENTAL
A Cooperação Intergovernamental, caracteriza-se pela cooperação entre os Estados Europeus nos fóruns
criados pelas tradicionais Organizações de Direito Internacional. Estas organizações caracterizam-se pela
salvaguarda da soberania Estadual, alicerçada dominantemente no método de deliberação inter-
governamental, pelo qual cada um dos Estados participa de igual forma na formação da vontade da
Organização.

 COOPERAÇÃO ECONÓMICA
Acentua aqui, no plano económico, a cooperação no âmbito da Organização Europeia de Cooperação Económica
(OECE), orientada, originalmente, em especial à execução do Plano Marshall, no sentido de prestar auxilio
económico ás nações Europeias. O seu objetivo mais amplo encontrava-se enunciado na doutrina Trumann, que
dirigia a politica externa norte-americana à época, propondo-se auxiliar os Estados mais débeis do sistema
capitalista, de forma a confrontar a ambição expansionista do bloco soviético. Ainda assim, os Estados que
integravam este bloco politico, económico e militar, de Leste, foram convidados a participar neste plano, o que,
naturalmente, recusaram.
Os Estados Europeus debateram sobre a proposta norte-americana e, tendo chegado a acordo, constituíram a
OECE. Cumpridos os objetivos propostos pelo plano Marshall, e pela OECE, os Estados membros desta,
juntamente com os Estados Unidos e o Canada constituíram a OCDE com o propósito agora destinado a “realizar
a mais ampla expansão possível da economia e do emprego e a melhoria do nível de vida dos países membros”.

 COOPERAÇÃO POLITICA
No plano politico, a principal referência de cooperação innter-governamental na Europa é a ação do Conselho da
Europa. O Conselho da Europa é atualmente constituído por 46 paises. Os objetivos propostos são ainda os de
realização de “uma união mais estreita entre os seus membros a fim de salvaguardar e promover os ideais e
princípios que são o seu património comum e de favorecer o respetivo progresso económico e social” (Esta
organização funciona segundo o método inter-governamental de cooperação)
O seu mais relevante marco foi a aprovação da Convenção Europeia para a proteção dos direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais. Esta Convenção é um dos mais importantes instrumentos na defesa dos direitos
fundamentais na Europa. A possibilidade que se abre aos cidadãos de diferentes Estados Europeus de recorrerem
para uma instância judicial supra-nacional, com jurisdição obrigatória, é um dos mais marcantes traços da
integração jurídica europeia.

 COOPERAÇÃO MILITAR
Em termos militares, a resposta das democracias da Europa Ocidental passou pela criação da União da Europa
Ocidental (UEO), pela qual se pretendia garantir a segurança externa da Europa Ocidental face á ameaça militar
sempre presente do bloco soviético. No entanto, foi a constituição, em 1949, pelo Tratado de Washington, que
marcou e marca verdadeiramente a defesa externa da Europa Ocidental, pela associação de maior poderio
militar Norte-Americano.

 INTEGRAÇÃO EUROPEIA

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Na resposta a desafios comuns na Europa, os Estados-membros procederam á transferência de competências
soberanas para uma Organização supra-estadual, com base em solidariedades históricas, sociais, económicas,
politicas e também jurídicas, já existentes. Este entendimento alicerça-se na constatação de como a existência
comum sobre um dado Espaço geográfico, impõe a convivência e a partilha de problemas e “riscos” comuns que,
necessariamente, resultam na integração da soberania dos Estados. Esta integração concretiza-se na formulação
de novos processos de decisão supra-nacional, no seio de um ente novo diferente e superior a cada um dos
Estados membros. Não se vigora aqui o método de deliberação inter-governamental. Procura-se, pelo contrario,
uma ligação especial aos povos que constituem esse processo de deliberação, assim considerados para efeitos
de processo de decisão, nomeadamente, na ponderação de votos de cada um dos Estados-membros. Do mesmo
modo adotam-se processos de decisão não exclusivamente consensuais (maioritários), ainda que em certas
matérias, no âmbito da EU estes continuem a existir.
Por estas razões se tem dito que a CE é uma Organização de Integração. A verdade é que tem sido a própria
experiência da integração europeia que tem definido os termos da Teoria da Integração.

 DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO À UNIÃO EUROPEIA

 TEORIA DA INTEGRAÇÃO
A Teoria da Integração tem construído momentos teóricos para efeitos de uma disciplina autonoma que, na
verdade, acabam por se reconduzir a momentos históricos identificáveis na da Integração Europeia.
Como primeiro momento de integração é, tradicionalmente, referida a criação de uma zona de Comercio Livre,
pela qual os Estados-Membros acordam em abolir as taxas alfandegarias nas transações intra-comunitárias,
facilitando e promovendo o acesso dos seus produtos a um mercado mais alargado (Nesta fase de integração
cada Estado-membro mantem a sua pauta aduaneira nas transações com Estados terceiros, decidindo
livremente as modalidades deste comercio)
No aprofundamento da integração económica, os Estados poderão decidir unificar os termos deste comercio com
Estados terceiros, pela criação de uma pauta aduaneira comum. Neste caso passar-se-á a um momento mais
aprofundado de integração, chamado de União Aduaneira. No sentido de evitar as distorções no comercio intra-
comunitário (que poderiam surgir pelo facto de os Estados membro manterem relações especiais com Estados
terceiros), decide-se, pois, a uniformização entre os Estados-membros dos termos do comercio extra-comunitario.
Revelando um maior grau de integração, formula-se, seguidamente, a figura do mercado comum como um espaço
de livre circulação de mercadorias, que estende esta liberdade de circulação a pessoas, serviços e capitais. Trata-
se aqui de garantir a integração dos mercados, com inevitáveis consequências económicas e sociais, pela plena
livre circulação dentro de um espaço geográfico. Foi este o propósito do Tratado de Roma, na criação da CEE, pelo
qual se previam já estas “Quatro Liberdades”. Na integração Europeia distingue-se ainda a criação do Mercado
Único, em particular referido ao Ato Único Europeu onde se pretendeu abolir todas as barreiras (“visíveis” ou
“invisíveis”, mediatas ou imediatas) ás transações intra-comunitárias. Se o ato único pretendia cumprir a criação
de um verdadeiro Mercado Único, também se verifica que ainda hoje restam passos por cumprir.
A harmonização da legislação dos Estados membros, que passa pela coordenação das politicas económicas e
pela substituição de certas politicas económicas nacionais por politicas comuns, representa um passo adicional
na integração gradual económica, designado por União Económica. Aqui pretende-se por esta
harmonização/unificação a verdadeira integração já não, meramente, comercial, mas verdadeiramente
económica.
Esta união pode impor a unificação monetária. A cunhagem de moeda é um dos redutos mais importantes da
soberania estadual da qual os Estados poderão prescindir no sentido de maior integração económica, com a
criação de uma União Monetária, com as vantagens na facilitação do comercio e da promoção do bem-estar
económico que lhe estão associados. Estas duas realidades poderão co-existir sob a forma de União Económica e
Monetária, caracterizada pela existência, entre vários Estados, de politicas económicas concertadas, de uma
moeda única e de um Banco Central, que detém o poder de emitir a moeda.
O ultimo passo na integração, que poderá, ou não, ser alcançada, desejado ou não ab inito, será a plena
integração politica, sob a forma de uma União Politica. Esta poderá assumir uma qualquer forma jurídico-
politica: estadual (federal ou unitária) ou qualquer outra não cogitada ainda, sendo certo que impõe uma
convivência e deliberação politica única entre os participantes.
Cada um dos processos de integração poderá adotar estas formulas de integração, poderá também adota-las na
sucessão aqui construída e com o sentido aqui atribuído. Nada impede, contudo, que historicamente, estas fases

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se sucedam com ordem diferente, com diferentes instâncias e impulsos de avanços ou recuos integradores,
como aconteceu, inclusivamente, no processo de integração europeia. O que aqui se resenha é, tão só, uma
construção teórico-conceptual de uma experiência ideal de integração.

 A GÉNESE DA INTEGRAÇÃO EUROPEIA

 DA DECLARAÇÃO DE SCHUMANN E A CRIAÇÃO DA CECA


No processo de integração europeia, a resposta aos desafios colocados á Europa, passou pela iniciativa conhecida
como a “Declaração de Schuman”. Coube ao ministro dos negócios estrangeiros francês , Robert Schuman,
apresentar um plano, no sentido de colocar sob uma gestão comum a produção franco-alemã de carvão e aço.
Esta não era, contudo, uma proposta, estritamente, económica. Pelo contrario, o carvão e o aço foram, durante
largo tempo, as matérias-primas na base de disputas entre os dois países (frança e Alemanha) , sendo ainda, na
altura, indispensáveis para eventual rearmamento de qualquer um dos Estados. Por outro lado, procuravam-se
aprofundar as solidariedades entre os Estados num mercado muito importante, de forma a promover a
integração noutros mercados e, assim, avançar na integração politica entre os povos da europa, segundo a logica
fundamentalista já referida. (“A europa não se fará de uma só vez nem por um esforço conjunto, mas resultará
de realizações concretas que exigem, em primeiro lugar, uma solidariedade de facto. O governo francês
propõem que se submeta o conjunto da produção franco-alemã de carvão e do aço a uma autoridade comum,
numa organização aberta á participação de outros países da Europa. Pôr em comum a produção do carvão e do
aço assegurará, de imediato, o estabelecimento de bases comuns de desenvolvimento económico..”)
O governo francês propôs também a criação da Comunidade Europeia de Defesa (CED), que falhou passados
quatro anos depois. A CDE implicava uma profunda e rápida integração militar e politica, tendo dado lugar, nesse
mesmo ano, a um modelo de cooperação politico-militar, segundo o modelo inter-governamental, como já se viu
sob a forma de União Europeia Ocidental (UEO). Confrontados com o fracasso da imediata integração em
matéria de significativa relevância politica, os Estados-membros constataram a necessidade de aprofundar a
interdependência económica entre os Estados Europeus. Isto leva a que seja assinado o Tratado de Paris que
levou á Criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) que, em primeiro momento de integração
incluía seis países: a Alemanha, a França, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo

 O TRATADO DE ROMA
No sentido de aprofundar a integração económica, segundo o plano funcionalista, os ministros dos Negocios
Estrangeiros dos Seis, reuniram-se na Conferência de Messina. Os acordos aqui alcançados conduziram á
assinatura dos Tratados de Roma, pelos quais, os mesmos Seis Estados, criaram a Comunidade Economica
Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA – EURATOM).
Pretendia-se, pois, aprofundar a integração económica, pela criação de um “Mercado Comum”, alicerçado em
“Quatro Liberdades”: livre circulação de pessoas, bens, capitais e serviços. Esta fase da integração caracteriza-se
pela criação de uma Zona de Comercio Livre, na qual todas as barreiras ao comercio intra-comunitário fossem
abolidas, acrescida da criação das condições efetivas á livre circulação. Essencialmente, a criação deste “Mercado
Comum” traduziu-se na criação das condições que assegurassem a livre circulação de mercadorias, uma vez que a
plena realização das restantes liberdades teve de aguardar um longo processo.

 APROFUNDAMENTO DA INTEGRAÇÃO

 INTEGRAÇÃO ECONÓMICA
Uma primeira fase deste processo de integração decorreu ate 1948 com o cumprimento do objetivo de criação
de uma União Aduaneira. Aqui se previa a eliminação de todos os direitos aduaneiros e de todas as restrições
entre os Estados-membros; a criação de uma pauta aduaneira comum (PAC), bem como uma politica comercial
comum. Novo impulso importante encontra-se no Ato Único Europeu que previu a realização do propósito de
criação do “Mercado Único” e, seguidamente, de uma “União Económica e Monetária”
Elemento essencial na promoção da integração Europeia, deu-se com o desenvolvimento das Politicas da
Comunidade , em part6icular, a adoção de uma Politica Agrícola Comum (PAC), pela qual se garantiu a liberdade
de circulação dos produtos agrícolas dentro da CEE. O Tratado de Roma, relativamente ás Politicas da
Comunidade, também estabeleceu a proibição de monopólios, algumas politicas comuns na área dos
transportes e a concessão de alguns privilégios comerciais aos territórios coloniais dos estados membros.

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Segundo a logica funcionalista, o Tratado de Roma veio prever um quadro institucional muito próprio,
alicerçado na promoção da integração por parte das suas próprias instituições: a Comissão, o Conselho, a
Assembleia Europeia, o Tribunal Europeu e o Comité Económico e Social.
É normal, no tradicional Direito Internacional, que seja o “Secretariado” de uma Organização Internacional, a
promover os interesses daquela, num dialogo com os Estados-membros. No caso da integração Europeia, foi
precisamente o rico quadro institucional e a ação comprometida dos seus atores que promoveu o seu sucesso.
Ainda em termos do aprofundamento da integração económica, foi igualmente significativa a criação do Sistema
Monetário Europeu, cujas taxas de conversão fixavam-se numa estreita zona de flutuação do seu valor de
câmbio em 2.5%. Alem disto, os governos comprometiam-se a coordenar as suas politicas monetárias. Tratou-se
do primeiro passo significativo para a unidade monetária, objetivo desenvolvido com o ECU, antecedente direto
do Euro.
A segunda metade dos anos oitenta, foi marcada pela, muito bem sucedida, presidência da Comissão Europeia
de Jacques Delors . Uma das suas mais importantes medidas foi a aprovação do Ato Único Europeu, que
constituiu um fortíssimo impulso á integração. Em termos institucionais, passou a prever-se a reunião periódica
dos Chefes de Estado e de Governo dos Estados-membros, o atual Conselho Europeu, na negociação e decisão
dos mais importantes e estratégicos problemas da integração. O Parlamento Europeu viu os seus poderes
também largamente reforçados. Deu-se também a concretização da velha ambição do Tratado de Roma relativa
ás “Quatro Liberdades”, tendo-se proposto mais de duas centenas de medidas para esse efeito. Igualmente
decisiva para o futuro da integração europeia foi a previsão de um calendário para o estabelecimento de uma
União Económica e Monetária. Simultaneamente diversas medidas no âmbito da proteção dos direitos sociais,
do ambiente e da investigação foram previstas, bem como foram reforçados os mecanismos de apoio aos
Estados menos desenvolvidos, dos quais Portugal beneficiou.

 ALARGAMENTOS SUBSQUENTES
Durante os primeiros anos de integração Europeia, a ausência do Reino Unido não deixava de ser significativa.
Esta era uma opção fundada na recusa do projeto federal da integração Europeia, mesmo que segundo a logica
funcionalista. Por isso, coube ao Reino Unido promover muitos dos esforços de Cooperação Intergovernamental,
como a criação do Conselho da Europa. Em termos económicos, esta mesma opção norteou a criação da
Associação Europeia do Comercio Livre (EFTA), á qual aderiram a Suécia, a Suiça, a Noruega, a Dinamarca, a
Austria e Portugal. Esta associação pretendia, única e exclusivamente a criação de uma zona de comercio livre,
essencialmente de produtos industriais, não reconhecendo, por isso, qualquer fronteira (comercial) comum,
muito longe, portanto, de qualquer projeto de integração politica.
No entanto, o sucesso da integração económica Europeia, com taxas de crescimento bem superiores Àquelas do
Reino Unido, levou a que o primeiro ministro Britânico solicitasse o inicio das negociações para a entrada do
Reino Unido. No entanto, só com a demissão de De Gaulle (pr francês) é que se abriram as portas ás negociações
com o Reino Unido. Com o Reino Unido aderiram também á CEE a Dinamarca e a Irlanda.
O crescimento económico que marcou os primeiros anos do processo de integração europeia, chegou ao fim
com a crise energética no inicio da decdada de 70. No entanto, sucederam-se os pedidos de adesão á CEE , em
particular dos estados saídos de ditaduras autoritárias , aderindo , então, a Grecia, Portugal e Espanha, no
alargamento para 12 Estados-membros. Não se pode dizer que á data existissem requisitos específicos para a
adesão á União Europeia, o que levou a que os limites previstos nos tratados fossem desenvolvidos pelo
Conselho Europeu de Copenhaga e, mais tarde, reformulados no Conselho Europeu de Madrid. Assim, para
aderir á UE, um Estado deve cumprir três critérios: 1) em termos políticos o Estado candidato deve manter
instituições democráticas estáveis, sujeitas ao princípio dos Estados de Direito, bem como ao respeito pelos
Direitos do Homem e, em especial, das minorias; 2) em termos económicos, o Estado candidato deve observar o
principio da economia de mercado, sujeito ás regras do mercado e á concorrência da União ; 3) em termos da
relação com o agregado da UE, o Estado deve assumir que, entre as obrigações decorrentes da adesão, se inclui
a adesão aos objetivos de união politica, económica e monetária.
Qualquer um dos alargamentos subsequentes, esteve, por isso, sujeito aos critérios de Copenhaga, como por
exemplo a adesão da Austria, FinlÂndia e Suécia.

 APROFUNDAMENTO DA INTEGRAÇÃO POLITICA


Já se viu como, desde a proposta de integração da produção franco-alemã do carvão e do aço da Declaração de
Schumann, uma clara intencionalidade politica animava o projeto de integração europeia. O grande sucesso do

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projeto de integração europeia deveu-se, em larga medida, À leitura da aplicabilidade direta, aos cidadãos da
UE, das obrigações emergentes dos tratados, bem como de alguns atos de Direito derivado.
Uma das principais propostas, no sentido de incrementar os pressupostos de legitimação da ação das
Comunidades surgiu com as primeiras eleições, por sufrágio universal, para o Parlamento Europeu. Assim,
pretendia-se garantir uma ligação direta com os cidadãos da Europa, independente da intermediação
parlamentar nacional, como acontecia, até então, na Assembleia Parlamentar.
Na tentativa de aprofundar o projeto politico, revelou-se a apresentação ao Parlamento Europeu de um “Projeto
do Tratado da União Europeia” da autoria de um grupo de parlamentares italianos. Aqui propunha-se a
aprovação de um novo Tratado que substituísse o Tratado de Roma, aprofundando a integração politica
europeia. Apesar de não ter sido aprovado levou a que houvesse um debate em torno da integração europeia.
No final da década de 1980, o crescente sucesso da aprovação do Ato Único Europeu, criou um ambiente de
grande otimismo quanto ao futuro da integração europeia.
Havia já sido bastante significativa a assinatura entre a Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França e Alemanha
do chamado “Acordo de Schengen”, pelo qual se procurou promover a livre circulação das pessoas e a
crescente eliminação das fronteiras entre os estados da UE.
Neste quadro, duas importantes iniciativas da comissão Delors apresentaram-se como decisivas na integração
europeia. Propôs a convocação de uma Conferência Inter-Governamental, com vista a determinar a data para a
adoção definitiva da UEM; deu-se também a convocação da nova CIG para estudar a possibilidade de constituição
de uma União Politica. Esta ultima proposta veio a resultar no Tratado da União Europeia, um passo importante
no aprofundamento da integração politica entre os Estados-membros.

 A UNIÃO EUROPEIA
 A UNIÃO EUROPEIA
É caracterizada como a zona onde as mercadorias circulam livremente.
A designação de União Europeia é, neste Tratado, usada pela primeira vez, oficialmente, no processo de
integração. Assim, se marca o cumprimento de um objetivo histórico anunciado no art.º 2 do original TUE: “O
presente Tratado constitui uma nova etapa no processo criador de uma União cada vez mais estreita entre os
povos da Europa”.
Logo no artigo 1.o do TUE se estabelecia que “A União funda-se nas Comunidades Europeias, completadas pelas
políticas e formas de cooperação instituídas pelo presente Tratado”.
O primeiro pilar referia-se, pois, ao funda- mento da União Europeia no labor integracionista das
Comunidades Europeias e na sua longa e profícua história. Esta ideia de “funda-se” não é um conceito jurídico
de fácil explanação, apontando em sentido contrário face ao preconizado por SPINELLI, no Tratado da União
Europeia. Este defendia a que a União se substituísse às Comunidades Europeias, o que apenas veio a
acontecer, muito recentemente, com o Tratado de Lisboa. Pelo contrário, em 1992, pelo Tratado de
Maastricht, em especial pela previsão dos artigos 8.o, 9.o e 10.o TUE, a União Europeia absorveu a
experiência da integração comunitária, tal como plasmada nos seus Tratados, que mantiveram a sua
autonomia, no Tratado da Comunidade Europeia.
Ainda assim, o Tratado de Maastricht trouxe diversas novidades na ação das comunidades, entretanto
primeiro pilar da União Europeia.
Uma das mais relevantes trata-se da introdução da cidadania Europeia que se estudará adiante. Outra
importante novidade está relacionada com a UEM, marcada pela decisão de criação da moeda única, com o
nome de Euro, em 1 de Novembro de 1999, segundo um plano faseado, que previa, de 1990 a 31 de Dezembro
de 1993, a plena liberalização da circulação de capitais, de 1 de Janeiro de 1994 a 1 de Janeiro de 1999, a
coordenação das políticas económicas e monetárias entre os Estados-membros no sentido de cumprir os
“critérios de convergência” de redução da inflação, das flutuações do câmbio entre as moedas europeias, de
controlo do deficit e da dívida pública e, finalmente, após 1 de Janeiro de 1999, a definitiva criação do Euro, com
a fixação irreversível da sua equivalência com as moedas participantes, e o estabelecimento de um Banco
Central Europeu (BCE). Em 1999, onze países acederam à “Zona Euro”: Espanha, Portugal, Itália, Bélgica,
Holanda, Luxemburgo, França, Alemanha, Áustria, Irlanda e Finlândia.
O segundo pilar referia-se à Política Externa e de Segurança Comum (PESC), de algum modo retomando,
passados 35 anos, o projecto de uma Comunidade Europeia de Defesa, ainda que com competências que
incluem a política externa da União. Esta matéria encontra-se alicerçada na cooperação entre os governos,
permitindo empreender acções comuns em matéria de política externa, cabendo ao Conselho Europeu,
deliberando por unanimidade, definir os princípios e orientações gerais da PESC. Numa declaração anexa ao
Tratado, os Estados membros da

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União Europeia Ocidental (UEO) reafirmaram este objectivo, construindo esta organização por etapas, atribuir-
-lhe, a longo prazo, o papel de se converter na componente defensiva da União.
O terceiro pilar referia-se a questões relativas à cooperação na área da Justiça e Assuntos Internos [JAI], agora
prevista como Cooperação Policial e Judicial em Matéria Penal, matérias com interesse partilhado por todos os
Estados-membros: terrorismo, imigração clandestina, política de asilo, tráfico de drogas, a delinquência
internacional, as alfândegas e a cooperação judicial. A criação da Europol, possível semente de uma futura
polícia europeia, é uma das novidades mais destacadas neste âmbito. Do mesmo modo a assinatura do
“Convénio de Shengen”, em 1990, significou um passo mais na criação de uma verdadeira Europa comunitária
sem fronteiras. Podia-se, pois, dizer que, em ambos estes pilares, vigoravam processos de deliberação segundo
o método inter- governamental, pelo qual os mecanismos de decisão se alicerçam na deliberação e decisão
unânime dos Estados- membros. Estas matérias encontravam-se, pois, na disponibilidade dos Esta- dos-
membros, uma vez que operam aqui, essencialmente, as regras de decisão gerais do Direito Internacional
Público

 DEPOIS DE MAASTRICHT
A ratificação do Tratado de Mastricht não foi fácil. A situação económica nos diferentes Estado não se
encontrava fácil, fruto dos constrangimentos orçamentais impostos no cumprimento dos “critérios de
convergência” na adesão á UEM, lançando duvidas sobre o processo de integração europeia nomeadamente
devido ás dificuldades encontradas na politica externa – casos dos Balcãs

 DO ALARGAMENTO A 15 E TRATADO DE AMESTERDÃO


Na sequência do alargamento a 15 membros, impôs-se proceder á reforma das instituições da Comunidade, de
forma a facilitar o seu funcionamento, ao mesmo tempo que se preparava o futuro alargamento, visto que já
decorriam negociações com outros países. China e Malta.
Assim, nasceu o Tratado de Amesterdão. Este tratado levou á revisão do TUE e do TCE, tendo isto
representado uma apresentado uma intervenção bastante significativa no que diz respeito a diversos
domínios da integração europeia.

 O TRATADO DE NICE
Algumas questões pendentes no Tratado de Amesterdão “impuseram nova revisão dos Tratados, considerando
também a adesão a novos Estados-membros, no alargamento a 27 Estados.
As grandes alterações introduzidas pelo tratado de Nice referiam-se á necessidade de adequar os procedimentos
de decisão numa União alargada. Isto levou a que se desse a redefinição da maioria qualificada. Foram também
alterados os procedimentos de decisão, o papel do Presidente. No que diz respeito á orgânica judicial, foi
redefinida a compartição de competências entre o Tribunal de Justiça e o Tribunal de primeira instância.
O tratado de Nice introduziu a votação por maioria qualificada em cerca de trinta disposições.

 O TRATADO QUE ESTABELECE UMA CONSTITUIÇÃO PARA A EUROPA

A declaração final do Conselho Europeu de Laeken, de 14-15 de Dezembro de 2001, que veio definir a agenda do
debate e o método adotado para a reforma, convocando nova CIG para 2004.
O método escolhido para proceder à redação do texto do Tratado foi o modelo de Convenção, assim,
procurando garantir uma maior virtualidade participativa identificado como o défice democrático da integração
europeia. A intenção seria “assegurar uma preparação tão ampla e transparente quanto possível da próxima
Conferência Intergovernamental”, pelo que o “Conselho Europeu decidiu convocar uma Convenção composta
pelos principais participantes no debate sobre o futuro da União”, que teria por missão “debater os problemas
essenciais colocados pelo futuro desenvolvimento da União e analisar as diferentes soluções possíveis”.
A convocação de uma Convenção para a Reforma dos Tratados constitui uma importante inovação institucional,
apesar do precedente da Convenção que elaborou a Carta dos Direitos Fundamentais.
A Convenção teve a sua reunião inaugural a 28 de Fevereiro de 2002. Os trabalhos da Convenção organizaram-
se em três etapas. A primeira fase de auscultação foi caracterizada pela tentativa de alargar o âmbito do
debate a diversos níveis: a recolha, através da internet da participação direta dos cidadãos, conferências a
nível dos Estados-Membros e dos países candidatos que permitissem o debate à escala nacional, a presença de
observa- dores do Comité Económico e Social, do Comité das Regiões, dos parceiros sociais e de organizações
não governamentais.

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O texto do Tratado Constitucional apresentava um renovado quadro para o funcionamento da União Europeia,
enunciando soluções que não podem aqui ser estudadas em detalhe.
Uma das principais novidades, referia-se, logo, aos princípios fundamentais da União:

- Propôs-se a consagração de valores e objetivos da União


- Procurou-se também uma definição clara das competências, bem como a sua repartição entre os
Estados- membros e a União
- Procurou-se criar um cláusula de saída voluntária que oferecia a possibilidade de um Estado-
membro se retirar da União
- Alterou-se a simplificação dos instrumentos de ação da União , reduzindo o seu número e da
terminologia (os regulamentos e diretivas passariam a designar-se leis europeias e leis-quadro europeias
- Definiu-se os fundamentos democráticos da União, da democracia participativa e da instauração de
um verdadeiro direito de iniciativa popular

 O TRATADO DE LISBOA
O Tratado de Lisboa pretende alterar, sem substituir, os Tratados da União Europeia e da Comunidade
Europeia, agora renomeado por “Tratado sobre o Funcionamento da União”

 BREVE REFERÊNCIA AO ORDENAMENTO ECONOMICO DA UE


A integração económica marcou o sucesso do processo de integração europeia, originalmente, referida á
intenção de criação de um “mercado comum” na Europa

 O MERCADO INTERNO
É um mercado sem fronteiras de mercadorias, pessoas, serviços e capitais (artigo 26º TFUE).
O actual art. 3º , nº 3 do Tratado da União consagra que “A União estabelece um mercado interno”. Esta é a
herança do artº 2 do Tratado da Comunidade Europeia que, desde o Tratado de Roma (TCEE), acometia à
Comunidade a missão de promover a realização dos objetivos económicos e sociais aí enunciados, mediante a
“criação de um mercado comum”, parte da integração económica, ainda que funcionalizada aos objetivos
políticos originais.
Já se viu a noção de Mercado Comum e o seu papel na Teoria da Integração. No caso da União Europeia, o
Mercado Comum, também referido como Mercado Interno, encontra-se previsto, no art.º 26, nº 2 do Tratado
sobre o Funcionamento da União Europeia, como: “(...) 2. O mercado interno compreende um espaço sem
fronteiras internas no qual a livre circulação das mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais é
assegurada de acordo com as disposições dos Tratados.”. Pode-se dizer que se caracteriza pela livre circulação
dos fatores de produção, aqui referidos a pessoas (enquanto trabalhadores, mas também consumidores como
se verá a propósito da política da concorrência), capitais, estabelecimento e serviços.
A ideia que fundamenta a livre circulação dos fatores de produção, no espaço da UE, é de que a plena realização
do mercado comum europeu não se bastaria com eliminação dos entraves à livre circulação das mercadorias. A
liberalização das trocas intracomunitárias, desacompanhada de outras medi- das de fundo, não seria suficiente
para alcançar os objetivos mais ambiciosos, enunciados no artº 3 nº 3 do TUE, de uma União Europa que
“Empenha- -se no desenvolvimento sustentável da Europa, assente num crescimento económico equilibrado e
na estabilidade dos preços, numa economia social de mercado altamente competitiva que tenha como meta o
pleno emprego e o progresso social, e num elevado nível de proteção e de melhoramento da qualidade do
ambiente. A União fomenta o progresso científico e tecnológico.”. Por isso, além da livre circulação de
mercadorias, típica de uma Zona de Comércio Livre, a ideia de Mercado Comum pressupõe ainda uma
coordenação/harmonização das algumas políticas nacionais, que implica, desde logo, a adoção de políticas
comuns aos diversos Estados-membros.

 A LIVRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS


O Tribunal de Justiça definiu mercadorias como qualquer produto apreciável em dinheiro e que é suscetível
de transações comerciais / qualquer bem apreciável em dinheiro que seja suscetível de uma transação
comercial. Os produtos que beneficiam de livre circulação são:
- produtos originários dos Estados-membros (cuja última transformação tenha sido feita num
país pertencente à UE)
- produtos em livre prática (produtos de outros países/países terceiros que tenham pago impostos) (art

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29º)

A liberdade de circulação consiste na proibição dos direitos aduaneiros e medidas de efeitos equivalente e nas
restrições quantitativas e medidas de efeito equivalente (medidas de efeitos equivalente são medidas que têm
um efeito equivalente a um aduaneiro independentemente da sua natureza) .
A LIBERDADE É UMA PROIBIÇÃO PORQUE EXISTEM LIMITAÇÕES:

Proibições da livre circulação:


- proibição de direitos aduaneiros de importação e de exportação (artigo 30º e ss)
- proibição de quaisquer encargos de efeito equivalente
- proibição de restrições quantitativas e de importação (art 34º 3 35º)
- proibição de todas as medidas de efeito equivalente

* não há proibições absolutas, existem sempre excessões (art 36º) Para uma restrição ser admitida:
- não pode ser discriminatória
- tem de ser proporcional
- tem de cumprir um fim de ordem pública (um dos seguintes) (art 45º TFUE)
- ordem pública
- saúde pública
- segurança pública

As limitações à livre circulação de pessoas são especialmente referidas às noções de “saúde pública”, de “ordem
pública” e de “segurança pública”, nos termos do art. 45.o, n.o 3 do TFUE.

 DIREITOS ADUANEIROS
São os encargos pecuniários que incidem sobre os produtos importados, no momento do desalfandegamento ou
em momento posterior, aquando da apresentação, pelo importador, da declaração desse produto com vista a
poderem colocar esses produtos em livre prática.
Existem três circunstâncias, nas quais os encargos pecuniários não são considerados de efeito equivalentes a
direitos aduaneiros, e, nessa medi- da, não são proibidos pelo Direito da UE. São os casos de esse encargo: a)
fazer parte de um sistema geral de imposições internas que se aplica quer a produtos nacionais ou estrangeiros;
b) no caso de se traduzir na contraprestação de um serviço prestado por um operador económico num montante
proporcional ao serviço prestado; ou c) de se tratar de controlos efectuados para cumprimento das obrigações
impostas pela legislação comunitária.

 RESTRIÇÕES QUANTITATIVAS E MEDIDAS DE EFEITO EQUIVALENTE


As restrições quantitativas referem-se a qualquer regulamentação comercial dos Estados-membros, qualquer
que seja a sua natureza legislativa, regulamentar ou administrativa, independentemente do órgão de que a
emana, cujo objeto seja a proibição ou contingentação das trocas comerciais entre Estados-membros, que
entrave direta ou indiretamente, potencial ou atualmente o comércio entre Estados-membros da aquisição de
produtos importados. São medidas que os Estados adotam, cujo objetivo seja a proibição pura e simples ou uma
contingentação ao comércio entre Estados-membros.

 LIVRE CIRCULAÇÃO DE PESSOAS


A liberdade de circulação de pessoa é uma das liberdades originais do Mercado Interno. No entanto, a sua
preocupação inicial com a liberdade de circulação para fins económicos teve um desenvolvimento decisivo com o
aprofundamento da integração económica e a concretização de uma dimensão política com a atribuição da
Cidadania Europeia.

 LIBERDADE DA CIRCULAÇÃO DE TRABALHADORES

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O conteúdo da liberdade de circulação dos trabalhadores, prevista no artº 45 nº 3 do TFUE, integra diversas
dimensões: “a) Responder a ofertas de emprego efetivamente feitas; b) Deslocar-se livremente, para o efeito, no
território dos Estados-Membros; c) Residir num dos Estados-Membros a fim de nele exercer uma atividade
laboral, em conformidade com as disposições legislativas, regulamentares e administrativas que regem o
emprego dos trabalhadores nacionais; d) Permanecer no território de um Estado-Membro depois de nele ter
exercido uma atividade laboral, nas condições que serão objeto de regulamentos a estabelecer pela Comissão”.
No entanto, os Direitos dos trabalhadores na União Europeia não se limitam a uma igualdade negativa de
circular e procurar emprego. Além disso, outros direitos são mais detalhadamente densificados em legislação
ordinária, como é o caso da igualdade de tratamento nas condições de emprego e de trabalho
Figura próxima, da liberdade de circulação dos trabalhadores, será a liberdade de circulação de serviços, e
quando for caso, de estabelecimento, que se verão adiante.

 LIBERDADE DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E ESTABELECIMENTO

 A LIBERDADE DE ESTABELECIMENTO
A liberdade de circulação de pessoas não se refere apenas ao desempenho de atividades de trabalho
subordinado, previstas anteriormente. São também proibidas “as restrições à liberdade de estabelecimento dos
nacionais de um Estado-Membro no território de outro Estado-Membro”, nos termos do artº 49 do TFUE. Todo o
capítulo 2, do Título IV, que se refere às quatro liberdades, consagra expressamente a liberdade de
estabelecimento, como permitindo o exercício de uma atividade não assalariada, que apresente características
de “estabilidade e permanência”.

 LIBERDADE DE PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS, EM SENTIDO ESTRITO


A distinção, entre a liberdade de estabelecimento e a liberdade de prestação de serviço, fica logo clara na
caracterização, do artº 56, referindo-se à proibição de restrições à livre prestação de serviços na União
relativamente “aos nacionais dos Estados-Membros estabelecidos num Estado-Membro que não seja o do
destinatário da prestação.” Não significa isto, em sentido inverso, que o prestador de serviços esteja impedido de
“para a execução da prestação, exercer, a título temporário, a sua atividade no Estado-Membro onde a prestação
é realizada”, nos termos do artº 57 (3) do TFUE.
A ampla caracterização de “serviços”, prevista neste mesmo artº 57.o TFUE, referido, no mesmo artigo, a
qualquer “prestações realizadas normalmente mediante remuneração”, marca a natureza subsidiária destas
disposições do Tratado. Estas serão aplicadas apenas quando não caiba a aplicação de disposições relativas à
liberdade de circulação de mercadorias, pessoas ou capitais. O § 2, deste artigo, auxilia na caracterização dos
“serviços” para efeito do Mercado Interno, fornecendo um catálogo exemplificativo de atividades que podem ser
caracterizadas como “serviços: “a) Atividades de natureza industrial; b) Atividades de natureza comercial; c)
Atividades artesanais; d) Atividades das profissões liberais”.
Admitem-se aqui certas limitações à liberdade de prestação de serviços, fundadas, por exemplo, em obrigações
deontológicas ou na residência. Distinguem-se, pois, tradicionalmente, as condições de acesso à profissão,
reguladas pelo Estado de origem, das condições de exercício, reguladas pelo Estado de destino.

 DISPOSIÇÕES COMUNS
A distinção, entre a liberdade de estabelecimento e de prestação de serviços, em sentido estrito, não afasta as
duas figuras, em larga medida referidas à livre prestação de serviços, em sentido amplo, não assalariados: de for-
ma permanente (liberdade de estabelecimento) ou temporária (liberdade de prestação de serviços, em sentido
estrito). O regime respetivo é, por isso, aproximado pela remissão do artº 62 TFUE
Esta proibição de criação de entraves à livre circulação, não se limita à liberdade de estabelecimento de pessoas
singulares, mas proíbe também “restrições à constituição de agências, sucursais ou filiais pelos nacionais de um
Estado-Membro estabelecidos no território de outro Estado-Membro”. Os principais beneficiários desta
liberdade serão sempre pessoas singulares. No entanto, estende-se este regime também a pessoas coletivas que
pretendam exercer uma atividade dentro do espaço do Mercado Interno. Para este efeito, nos termos do § 2 do
artº 54 entende-se por “sociedades”: “as sociedades de direito civil ou comercial, incluindo as sociedades
cooperativas, e as outras pessoas coletivas de direito público ou privado, com exceção das que não prossigam
fins lucrativos”. Na criação de um Mercado Interno proíbe-se, então, qualquer discriminação de sociedades
constituídas de acordo

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com a legislação de um Estados-membro e que, na União, tenham a sua sede social, administração central ou
estabelecimento principal.
Numa das mais decisivas medidas para a concretização da liberdade de estabelecimento, por facilitar o acesso
e exercício de atividades não assalariadas, o artº 53, deverão ser adotadas Diretivas relativas ao
“reconhecimento mútuo de diplomas, certificados e outros títulos, bem como a coordenação das disposições
legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros respeitantes ao acesso às atividades não
assalariadas e ao seu exercício”, incluindo a eliminação progressiva das restrições de acesso e exercício de
certas profissões, como as profissões médicas, paramédicas e farmacêuticas. Merecem especial referência as
Diretivas já adotadas relativamente ao reconhecimento mútuo de graus académicos de ensino superior de
duração igual ou superior a três anos.
Compreensivamente, exceciona-se, nos termos do art. 51 TFUE, as atividades que, num determinado Estado-
Membro, estejam ligadas, mesmo que ocasionalmente, ao exercício da autoridade pública. Outras exceções à
liberdade de estabelecimento, nos termos do artº 52, referem-se à adoção, por parte dos Estados- membros, de
disposições legislativas, regulamentares ou administrativas, que contemplem regime especial de estabelecimento
para estrangeiros, justificadas sempre por razões de ordem pública, segurança pública e saúde pública.
É importante que as restrições à liberdade de estabelecimento, obedeçam aos três requisitos típicos: não
discriminatórias, no interesse geral, proporcionais.

 LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO DE CAPITAIS E PAGAMENTOS


A liberdade de circulação de capitais e de pagamentos, na realização do Mercado Interno, tem previsão em todo
o Capítulo 4 do TFUE, em especial garantida pelo artº 63 segundo o qual são proibidas todas as restrições aos
movimentos de capitais e de pagamentos entre Estados-Membros e entre Estados-Membros e países terceiros.
A livre circulação de capitais e pagamentos é, ainda, largamente condicionada. Não prejudica, por exemplo, nos
termos do art.º 64 a aplicação das restrições a países terceiros, que se encontrassem em vigor em 31 de
Dezembro de 1993, à circulação de capitais provenientes ou com destino a países terceiros que envolva
investimento direto, incluindo o investimento imobiliário, estabelecimento, prestação de serviços financeiros ou
admissão de valores mobiliários em mercados de capitais.
Os limites à livre circulação de capitais e pagamentos podem também ser impostos, nos termos do art.º
65, pelos Estados-Membros:
1) por razões fiscais, na distinção de contribuintes que não se encontrem em idêntica situação no que se refere
ao seu lugar de residência ou ao lugar em que o seu capital é investido;
2) para a) impedir infrações às suas leis e regulamentos, nomeadamente em matéria fiscal e de supervisão
prudencial das instituições financeiras, b) preverem processos de declaração dos movi- mentos de capitais
para efeitos de informação administrativa ou estatística, ou c) tomarem medidas justificadas por razões de
ordem pública ou de segurança pública.
Incluem-se aqui medidas de combate à criminalidade económico-financeira, como a corrupção ou o
branqueamento de capitais. Estas medidas não podem, em circunstância alguma, constituir um meio de
discriminação arbitrária, nem uma restrição dissimulada à livre circulação de capitais e pagamentos. Qualquer
restrição deverá ser 1) não discriminatórias; 2) no interesse geral e 3) proporcionais, como já visto.

 DIREITO DA CONCORRÊNCIA
Uma das decorrências da necessidade de criação, na Europa, de um mercado interno é a imposição de regras
específicas relativamente á garantia da liberdade de sã concorrência dentro desse espaço sem fronteiras. Esta é
também uma das marcas que revela a raiz económica liberal/social na génese da integração europeia, assente no
direito de propriedade privada, na liberdade de iniciativa privada e no reconhecimento do respeito pelos direitos
fundamentais. O que aqui se pretende é garantir o bom funcionamento da economia integrada num Mercado
Interno. Assim melhor se garante a proteção dos cidadãos europeus, em especial na defesa da sua liberdade de
circulação, originarias na sua qualidade de consumidores.
Distinguem-se duas modalidades de intervenção dos Tratados em matéria de concorrência: 1)regras aplicáveis ás
empresas e 2) a Estados e auxílios Estatais.

 REGRAS APLICÁVEIS ÁS EMPRESAS


As regras de Direito da Concorrência, na UE, dirigidas às empresas preveem 1) proibição de cartéis (no artº 101) e
2) proibição de abuso de posição dominante (no artº 102).

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A sanção para qualquer uma destas práticas é a nulidade, nos termos do artº 101 , nº2.
São, no entanto, admitidas derrogações a estas proibições, nos termos do artº 101 nº 3 do TFUE, em especial
dirigidas a qualquer acordo, ou categoria de acordos, entre empresas, a qualquer decisão, ou categoria de
decisões, de associações de empresas, e a qualquer prática concertada, ou categoria de práticas concertadas,
desde “que contribuam para melhorar a produção ou a distribuição dos produtos ou para promover o progresso
técnico ou económico, contanto que aos utilizadores se reserve uma parte equitativa do lucro daí resultante, e
que: a) Não imponham às empresas em causa quaisquer restrições que não sejam indispensáveis à consecução
desses objetivos; b) Nem dêem a essas empresas a possibilidade de eliminar a concorrência relativamente a uma
parte substancial dos produtos em causa”.

 CONCORRÊNCIA DE EMPRESAS PUBLICAS E PROIBIÇÃO DE AUXILIOS ESTATAIS


O regime da Concorrência de Empresas Públicas e Proibição de auxílios Estatais encontra-se disciplinado, no artº
106, relativamente à 1) concorrência por Empresas Públicas e, no art.º 107 relativamente à 2), proibição de
auxílios Estatais.
Relativamente à concorrência de Empresas Públicas, o artº 106 garante a extensão do regime da concorrência
“às empresas públicas e às empresas a que Estados-Membros concedam direitos especiais ou exclusivos”. Estes
não tomarão, nem manterão, qualquer medida contrária ao disposto nos Tratados, em especial, refere o esmo
artigo ao disposto nos arts. 18º e 101º a 109º
A Proibição de Auxílios Estatais garante, nos termos do art. 107º que: “são incompatíveis com o mercado
interno, na medida em que afetem as trocas comerciais entre os Estados- Membros, os auxílios concedidos pelos
Estados ou provenientes de recursos estatais, independentemente da forma que assumam, que falseiem ou
ameacem falsear a concorrência, favorecendo certas empresas ou certas produções”. São, no entanto,
excecionados, nos termos do nº 2 do mesmo artigo, auxílios de natureza social atribuídos a consumidores
individuais, com a condição de serem concedidos sem qualquer discriminação relacionada com a origem dos
produtos, bem como auxílios destinados a remediar os danos causados por calamidades naturais ou por outros
acontecimentos extraordinários ou atribuídos à economia de certas regiões da República Federal da Alemanha
afetadas pela divisão da Alemanha, depois da Segunda Guerra Mundial, nas condições aí previstas. Podem ainda
ser excecionados outros auxílios nos termos do nº3 ainda do mesmo artigo.
(art 349º TFUE zonas periféricas)

 DIREITO DA EU TRIBUTARIO PROPRIO


A União é detentora do poder fiscal próprio, titular de tributos próprios. Os “recursos próprios” são arrecadados
pela própria união, em relação ás contribuições sobre o açucar, impostas sobre o vencimento dos funcionários
da UE e sobre a produção de carvão e do aço. A União limita-se a fixar a taxa e titularidade das receitas, cabendo
aos Estados exercer a tributação sobre as taxas alfandegárias comuns.

 DIREITO DA UE TRIBUTARIO INTER-ESTADUAL


Cabe á União a harmonização da legislação fiscal dos seus Estados-membros, no que diz respeito aos impostos
indiretos, expressamente previsto no art. 113º do TFUE, e, no que concerne aos impostos diretos, resultante
da clausula geral do art 115º a 118º do TFUE. Os princípios gerais desta intervenção assentam no : principio da
não descriminação entre produtos nacionais e de outros Estados-membros (art 110º TFUE) e o principio da
liberdade de estabelecimento, sendo proibidas restrições fiscais ás liberdades de circulação, já referidas (art
49º TFUE).
Daqui resulta a harmonização fiscal positiva, pela qual as instituições comunitárias utilizam os instrumentos
normativos já referidos para harmonizar a legislação dos Estados-membros, que é, especialmente, utilizado no
primeiro caso, e a harmonização fiscal negativa, por via da jurisprudência do TJCE, que tem, no segundo caso,
abolido qualquer medida fiscal que limite as liberdades de circulação.

 EUROPA ALÉM DO MERCADO ÚNICO


A edificação de uma Europa além de um simples Mercado Interno era uma das ambições dos fundadores da
integração europeia. Esta havia sido, desde sempre o sentido da afirmação de Churchilll quando diz que seria
necessário “construir os Estados Unidos da Europa” e que, finalmente, encontrou acolhimento na teoria
funcionalista enuciada no Plano Schumann.

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Foi esta pretensão que conduziu á aprovação do Tratado da União Europeia. O sistema de pilares aí proposto
projetava a União Europeia numa dimensão politica. Muito mudou desde Maastricht, cojm a “comunitarização”
de certas competências, inicialmente previstas nos pilares, alterando a própria configuração de União Europeia.
No entanto, as alterações mais profundas sentem-se com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, na qual se
enuncia a abolição do sistema de pilares, bem como alterações significativas nas politicas da União na criação de
um Espaço de Justiça, Liberdade e Segurança, bem como na Politica Externa e de Segurança Comum.

 ESPAÇO DE JUSTIÇA, LIBERDADE E SEGURANÇA


A União tem, entre os seus objetivos “proporcionar aos cidadãos um espaço sem fronteiras internas” nos termos
no art 3º nº2 do TUE, cujo regime normativo se encontra desenvolvido no TFUE , cujo art 67º garante a União
como “ um espaço de liberdade, segurança e justiça, no respeito dos direitos fundamentais e dos diferentes
sistemas e tradições jurídicas dos Estados-membros”
Estas disposições, entre as Politicas da Uniao (parte II), previstas no titulo V, preveem a regulação de matérias
relativas a politicas relativas ao controlo nas fronteiras, ao asilo e é imigração (cap 2), á cooperação judiciaria em
matéria civil (cap 3) á cooperação judiciaria em matéria penal (cap 4) e á cooperação policial (cap 5)
A construção de um Espaço de Justiça, liberdade e segurança na Europa é herdeira da tradição do sistema de
pilares que, na tentativa de aprofundamento da integração politica, foi inaugurado pelo Tratado da União
Europeia.
A divisão do trabalho entre a União e a Comunidade nunca foi pacifica, algo que apenas ficou resolvido com o
Tratado de Lisboa.

 DISPOSIÇÕES COMUNS – art 12º TUE, art 69º TFUE


 POLITICAS RELATIVAS AOS CONTROLOS DAS FRONTEIRAS, AO ASILO E Á IMIGRAÇÃO - art 77º TFUE
 COOPERAÇÃO JUDICIARIA EM MATERIA CIVIL – art 81º TFUE
 COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA EM MATÉRIA PENAL – art 82º TFUE, art 31º TUE
 COOPERAÇÃO POLICIAL – art 87º TFUE , art 3º TUE
 AÇÃO EXTERNA COMUM DA UNIÃO – art 21º TUE , art 216º TFUE

 POLITICA EXTERNA E DE SEGURANÇA COMUM

 AÇÃO EXTERNA COMUM DA UNIÃO


A acção externa da União na cena internacional, nos termos do art. 21º TUE, assenta nos princípios que afinal
“presidiram à sua criação, desenvolvi- mento e alargamento, e que é seu objetivo promover em todo o mundo:
democracia, Estado de direito, universalidade e indivisibilidade dos direitos do Homem e das liberdades
fundamentais, respeito pela dignidade humana, princípios da igualdade e solidariedade e respeito pelos princípios
da Carta das Nações Unidas e do direito internacional”. Estudar-se-á adiante os termos seguidos pelo processo de
celebração de Acordos de Direito Internacional, em especial o âmbito, tramitação e as competências de cada uma
das instituições da União, nos termos previsto no art. 216º e ss. do TFUE.

 POLITICA EXTERNA E DE SEGURANÇA COMUM


No que concerne a Política Externa e de Segurança Comum, em sentido estrito, prevista no art. 24º, as
competências da União referem-se a “todos os domínios da política externa, bem como todas as questões
relativas à segurança da União, incluindo a definição gradual de uma política comum de defesa que poderá
conduzir a uma defesa comum”. A PESC está sujeita a regras e procedimentos específicos, nos termos do mesmo
art. 24º TUE, definida e executada pelo Conselho Europeu e pelo Conselho, que deliberam por unanimidade
(com as exceções previstas nos Tratados). Exclui-se, assim, em larga medida, a intervenção do PE (apenas
consultado nos termos do art. 36.º TUE) e da Comissão.
Daí que fique também excluída a adoção de atos legislativos. A PESC é ainda executada por um Alto
Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e pelos Estados- Membros, nos
termos do artº 27 TUE. O papel decisivo que os Estados-membros desempenham, na execução desta política,
impõe que coordenem a sua ação no âmbito das organizações internacionais e em conferências internacionais,
segundo o disposto no art. 34º TUE, bem como as respetivas representações diplomáticas o façam nas suas
missões, nos termos do art. 35º TUE.

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 CLAUSULA DE SOLIDARIEDADE
Aqui se garante que a União e os seus Estados-Membros atuarão em conjunto, “num espírito de solidariedade”,
em especial referido a situações limite de ataque terrorista dirigido a um Estado-membro ou uma catástrofe de
origem natural ou humana. Para prevenir estas ameaças, na medida do possível, bem como uma ação eficaz em
caso de ocorrência, o Conselho Europeu procede a uma avaliação periódica das ameaças com as quais a União se
confronta.
Em qualquer destes casos, a União mobilizará todos os instrumentos ao seu dispor, incluindo os meios militares
dos Estados-Membros, para “a) Prevenir a ameaça terrorista no território dos Estados-Membros, proteger as
instituições democráticas e a população civil de um eventual ataque terrorista, prestar assistência a um Estado-
Membro no seu território, a pedido das suas autoridades políticas, em caso de ataque terrorista; b) Prestar
assistência a um Estado- -Membro no seu território, a pedido das suas autoridades políticas, em caso de
catástrofe natural ou de origem humana.”.
A assistência pedida pelas das autoridades políticas do Estado-Membro afetado, será coordenada no Conselho, ao
qual cabe, de igual forma a definição das regras de execução da cláusula de solidariedade, por uma decisão,
adotada sob proposta conjunta da Comissão e do Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a
Política de Segurança, que segue o processo especial do art. 31º, nº 1 TUE, caso tenha implicações no domínio da
defesa. O Parlamento Europeu é sempre informado acerca da adoção desta Decisão.
O Conselho é assistido pelo Comité Político e de Segurança, sem prejuízo do artigo 240º TFUE, com o apoio
das estruturas desenvolvidas no âmbito da política comum de segurança e defesa, e pelo Comité referido no
artigo 71º, que lhe apresentam, se for caso disso, pareceres conjuntos.

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