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Trajetórias do Século XX

Da Europa para o mundo

O século XIX é marcado pela expansão e tentativas de domínio do globo por parte
dos países europeus. A Europa criou o primeiro sistema internacional a cobrir a totalidade
do globo terrestre e estabeleceu em todos os lugares uma versão universalizada das regras
e das instituições e os pressupostos básicos da sociedade europeia de Estados. A
expansão alterou inevitavelmente a natureza e o equilíbrio do sistema europeu.
As regras e as instituições da sociedade europeia gradualmente deslocaram os
arranjos híbridos, e a possibilidade de pertencer à sociedade passou a estar aberta não
apenas a comunidades europeias, mas a qualquer Estado que desejasse e pudesse
cumprir as regras.
À medida que o sistema europeu se disseminou pelo mundo, muitos governantes
não europeus quiseram entrar para a sociedade europeia de Estados, a fim de serem
tratados como iguais,e não como inferiores, e se possível para ter alguma voz ativa quanto
à condução da nova sociedade internacional global. Quando os europeus, por volta da
metade do século XIX, começaram a estipular que outros Estados que queriam entrar para
sua sociedade internacional deveriam aceitar não apenas suas regras, mas também alguns
de seus valores e códigos éticos, o critério que utilizaram foi o de “padrão de civilização” (...)
As grandes potências também insistiam em que todos os governos deviam observar certas
normas econômicas e práticas comerciais europeias.”
Já no ano de 1900, o alcance do sistema havia se expandido lentamente e aos
poucos pela Ásia, África e Oceania. A Europa permaneceu como seu foco estratégico e
econômico, e o que acontecia na Europa ainda era decisivo para o sistema como um todo.
No entanto, por volta de 1900, duas grandes potências independentes não europeias, os
EUA e o Japão, estavam fazendo sentir seu peso no sistema, especialmente na Ásia
Oriental e no Pacífico, quebrando assim o monopólio do controle a partir da Europa
geográfica.
O concerto da Europa, que começou como uma hegemonia difusa e coletiva
exercida pelos estadistas cosmopolitas que dirigiam as políticas das cinco grandes
potências, foi transformado, durante o século, numa sociedade dominada por
Estados-nações, cujos povos cada vez mais soberanos sentiam ter mais pontos em comum
entre si, talvez, porém menos com outras nações. O nacionalismo separou mais os
Estados-nações europeus uns dos outros, e os estadistas cada vez mais refletiam essa
alienação.
Durante o século XIX, o concerto das grandes potências estabelecido pelo Acordo
de Viena foi-se tornando progressivamente mais relaxado, e o padrão estratégico do
sistema europeu moveu-se uma certa distância em nosso espectro na direção de maior
independência.

Sociedade européia - século XIX

O século XIX marca um período ímpar na história: após a queda do Império


Napoleônico, o continente, que sempre foi um cenário de grandes conflitos bélicos,
testemunhou quase um século de paz (somente interrompido pela guerra da Criméia e as
unificações alemã e italiana).
No âmbito mundial, o período entre 1871 e 1914-1918, caracteriza-se pelo apogeu
da hegemonia global do sistema europeu. O novo imperialismo forçou a entrada no sistema
internacional daquelas partes do mundo que ainda estavam fora. Assim, o imperialismo
completou a construção da rede global de relações econômicas, estratégicas e políticas,
que foram dominadas pelos principais estados europeus.
Imperialismo cultural: insistência quanto aos valores ocidentais.
Entretanto os limites do poder europeu na escala mundial já eram perceptíveis
durante esta época:
- Em primeiro lugar, os EUA alçaram-se, depois do fim da Guerra Civil até a virada do
século, à condição de primeira potência industrial do mundo;
- Em segundo lugar, o Japão começou, a partir da década de 1860, sua determinada
transformação de um país agrofeudal numa potência industrializada.
- Em terceiro lugar, a esmagadora supremacia europeia em termos militares sobre os
países não industrializados não significava que o sul do planeta tivesse se tornado
mero objeto dos desenhos colonialistas europeus, sem nenhuma capacidade de
defesa ou iniciativa própria.

Na primeira metade do século XIX, o nacionalismo associava-se à autodeterminação


democrática dos povos e dos indivíduos, assim como à luta contra o domínio aristocrático.
Com o fenômeno de massas, tais nacionalismos direitistas caracterizaram especialmente
Estados como a Alemanha.
Pode-se subdividir as relações internacionais entre 1871 e 1918 em dois períodos. O
primeiro deles se estende de 1871 a 1890, quando a diplomacia da Europa e as relações
internacionais foram dominadas pelas alianças do sistema de Bismarck. O segundo período
abrange desde a renúncia forçada de Bismarck até 1918; inicia-se com ofensivas alemãs na
política externa e caracteriza-se por tensões crescentes, pela bipolarização em blocos de
poder permanentes e pelo resvalar na Primeira Guerra Mundial.
O confronto entre dois paradigmas metódicos, de análise da política exterior e das
relações internacionais, exemplifica-se na questão das causas profundas da eclosão da
Primeira Guerra Mundial: o primado da política interna versus o primado da política externa.
De meados do século XIX até o início da Primeira Guerra Mundial, a economia do
mundo tornou-se mais pluralista, isto é, a hegemonia britânica sobre o mercado recuou. O
que desmontou o domínio britânico sobre o mercado foi, sobretudo, o crescimento alemão e
os processos de industrialização da Rússia. No plano econômico mundial, isso ocorreu
devido às transformações dos EUA. O comércio mundial, tal como antes, centrava-se na
Europa, na virada do século ela efetuava dois terços dela.

Transformações da ordem global


Antecedentes da Primeira Guerra Mundial

A I Guerra Mundial é o acontecimento que realmente dá início ao século XX, pondo
fim ao que se convencionou chamar de Belle Époque – 1871-1914: período em que as
grandes potências europeias não entraram em guerra entre si e a burguesia viveu sua
época de maior fastígio, graças à expansão do capitalismo imperialista e à exploração
imposta ao proletariado.
Desde a segunda metade do século XIX, com o processo de industrialização se
fazendo notar em vários países, começou a se estruturar uma nova fase do capitalismo
chamada de monopolista. Essas nações industrializadas disputavam entre si mercados,
rotas de comércio, pontos estratégicos e regiões fornecedoras de matérias-primas.
Destacavam-se principalmente a Inglaterra, a potência imperialista hegemônica; a França
que após estabilizar-se politicamente se tornou a segunda maior potência; e Itália e
Alemanha que unificaram seus territórios em 1871 e partiram tardiamente para a “partilha
do mundo”. Na América os EUA após a Guerra da Secessão, estruturavam seu Estado
Nacional sob o comando do norte industrializado e partia para o controle imperialista da
América Central e do Pacífico. No oriente o Japão emergia como potência regional após a
Era Meiji - um processo de modernização capitalista acelerado - começando a controlar
regiões na Coréia e China.
Em fins do século XIX e começo do século XX teve início uma série de conflitos
localizados principalmente na periferia. As nações imperialistas se uniram em interesses
comuns através de alianças político-militares. De um lado: a Tríplice Aliança, formada em
1879 pela Alemanha, cuja economia havia crescido tanto que sua produção em alguns
setores já havia ultrapassado a Inglaterra; o Império Austro- Húngaro, um verdadeiro
“mosaico de nacionalidades”, atrasado político e economicamente, e a Itália que entrou em
1882 e acabou se unindo posteriormente ao bloco adversário. De outro lado: a Tríplice
Entente, formada inicialmente entre a França e o autocrático Império Russo em 1890 e
concretizada com a entrada da Inglaterra em 1904.
A rivalidade entre os dois blocos era alimentada pelo nacionalismo exacerbado que,
de certa forma, encobriu as ambições da burguesia e tornou as classes subalternas
cúmplices de suas vontades. A inexistência de um órgão internacional que mediasse
conflitos, aliado ao que se convencionou chamar de “paz armada”- na realidade, um grande
esforço das potências europeias de voltar parte de sua produção industrial para a
fabricação de armamentos- fizeram da Europa um verdadeiro barril de pólvora. A ocorrência
de um conflito em qualquer ponto, envolvendo uma das potências, certamente iria detonar
uma guerra que arrastaria um a um dos países de cada bloco.
As mudanças tecnológicas ensejaram, também, uma mudança econômica. Uma vez
que as fábricas demandavam milhares de empregados, foram tornando-se tão gigantescas
que esmagavam facilmente os pequenos concorrentes. Pronto! O capitalismo de livre
concorrência dava lugar ao capitalismo monopolista. Os monopólios floresceram com tal
rapidez e a capacidade produtiva era tão intensa que era humanamente impossível para as
nações europeias absorver toda a produção. Por esta razão, as indústrias tiveram de
diminuir o ritmo, o que acarretou uma gama de problemas econômicos, tais como falências,
desemprego galopante e miséria nas camadas sociais mais baixas.
Bismark desprezava os ideais liberais e acreditava que uma unificação dos estados
alemães era necessária e deveria ser feita “a ferro e sangue”. E assim o fez. Utilizou-se da
crescente indústria prussiana para equipar um poderoso exército e expandiu as fronteiras
englobando, à força, os países vizinhos. Por fim, para criar um sentimento patriótico na
nação insurgente, Bismark provocou uma guerra contra a França. Como os exércitos
prussianos eram maiores e melhor equipados, o triunfo era inegável. Em 1871 a França,
derrotada, cedeu à Bismark a região da Alsácia-Lorena – esta derrota desencadeou um
ressentimento nacionalista conhecido como revanchismo francês e fomentou uma explosiva
rivalidade entre as duas nações – e o rei da Prússia, Wilhelm I, era coroado kaiser do
Império Alemão. Com a unificação, a Alemanha desfrutou de um espetacular
desenvolvimento industrial, tornando-se a segunda maior potência da Europa.
No final do século XVIII, a França enfrentou uma revolução que lhe expurgou a
monarquia absolutista. A modernidade da república francesa não durou muito, porém, e
durante boa parte do século XIX os franceses enfrentaram uma realidade instável e
conturbada. Não obstante ser uma das nações mais poderosas do mundo – tendo sido
praticamente imbatível militarmente nos reinados de São Luís, Felipe IV e Luís XIV, por
exemplo – a França via-se isolada diplomaticamente desde sua derrota na Guerra
Franco-Prussiana de 1871. Ainda assim o país conseguiu se modernizar e industrializar na
esteira do vizinho ao norte, e construiu para si o segundo maior império colonial do mundo,
atrás somente do império britânico.

Inglaterra:
Era a principal potência financeira da Europa, embora os operários vivessem
insatisfeitos e em piores condições do que estavam em 1900. Nos sete meses que
antecederam o início da guerra, a indústria britânica foi atingida por 937 greves. Além disso,
a crise do Ulster ameaçava o Reino Unido com uma guerra civil. A concessão do Home
Rule (autogoverno autônomo) para a Irlanda desagradou os protestantes do Ulster,
decididos a não se tornarem minoria numa sociedade dominada por católicos.
Joseph Chamberlain (8 de Julho de 1836 – 2 de Julho de 1914), foi um influente
homem de negócios e estadista britânico da segunda metade do século XIX, considerado
como o expoente máximo do Imperialismo Britânico. Politicamente, Chamberlain foi primeiro
um radical liberal. Depois de se opor ao Home Rule da Irlanda, fundou o partido liberal
unionista em 1886, e subsequentemente tornou-se líder da facção imperialista em coligação
com os Conservadores, uma coligação que dominou como Secretário Colonial. Chamberlain
era uma figura controversa e altamente carismática. Durante os seus 30 anos de carreira
política, causou a divisão dos dois principais partidos políticos britânicos.
George Lloyd foi um político reformista inglês nascido em Manchester, cujas
reformas sociais realizadas no seu governo, provocaram forte reação dos conservadores
britânicos mas forneceram as bases para o bem-estar usufruído mais tarde pela sociedade
britânica.

Alemanha:
Era o país mais bem-sucedido do continente, líder mundial em quase toda a esfera
industrial, da produção farmacêutica à tecnologia de automóveis, além de pioneira social na
promoção de seguros de saúde e pensões para idosos. Contudo, encontrava-se à beira de
uma crise constitucional. A classe operária industrial estava profundamente alienada de um
governo formado por ministros conservadores designados segundo a aceitabilidade pelo
cáiser. Sua instituição mais poderosa era o Exército, e seu líder coroado adorava cercar-se
de soldados.

França:
O império francês prosperava, apesar do crônico descontentamento de seus súditos
muçulmanos, sobretudo no Norte da África. Embora a desigualdade social persistisse, a
influência da classe de proprietários de terra era mais fraca do que em qualquer outro país
europeu. A classe média francesa, por sua vez, possuía mais poder político do que nos
países vizinhos. O temor da Alemanha e o apoio à Rússia formavam o pilar central da
política externa francesa.

Rússia:
Possuía a maior produção agrícola da Europa e crescia economicamente, com uma
classe empresarial em expansão, embora esta tivesse pouca influência no governo, ainda
dominado pela aristocracia de proprietários de terra. Além disso, os russos enfrentavam
imensa agitação provocada por operários insatisfeitos: entre 1913 e 1914, foram quase
6.000 paralisações. No que tocava à política externa, o país conservava uma aliança militar
estratégica com a França desde 1894, diante da ameaça representada pela Alemanha.

O equilíbrio de poder antes da Primeira Guerra

De qualquer forma, o estudo de equílibrio do poder tem dois conceitos, ou pode ser
dividido em dois conceitos: um estático, como uma fotografia do presente, e outro dinâmco
consistindo no estudo das forças que actuaram no passado, estão a actuar boje, e
continuarão a operar amanhã. Forças que mudarão o equilíbrio num dado momento. Na
verdade, o equilíbrio do poder nas relações internacionais ou na política internacional pode
ter um conceito restrito como, por exemplo, a atitude e política de um Estado, ou grupo de
Estados, protegendo-se contra outro Estado, ou grupo, consolidando o seu poder contra o
poder dos antagonistas
O sistema pluripolar, pluralista ou complexo é caracterizado pela existência de
múltiplos pólos de poder. Era esta a situação no Mundo ao tempo da Segunda Conferência
da Haia e a que existia no dealbar das Primeira e Segunda Guerras Mundiais. É um sistema
que pode apresentar sinais aparentes de estabilidade mas que tem em si próprio poderosos
germens de instabilidade. Isto porque devido à falha do «jogo das alianças», erro de cálculo
ou excesso da margem de liberdade de ação, o sistema pode desequilibrar-se. Um exemplo
do último caso foi o de Hitler invadindo a Polónia em 1939, fazendo desmoronar o precário
equilíbrio existente.

1815-1822: Concerto da Europa (Congresso de Viena, inclusão da França na ordem


europeia.
1822-1854: Concerto flexível (revoluções nacionalistas liberais questionaram as
práticas de compensação territorial ou de restauração de governos para manutenção do
equilíbrio.
1854-1870: Nacionalismo e Unificação da Alemanha e da Itália (menos moderação,
guerras, Guerra da Criméia, utilização do nacionalismo para governantes atingirem seus
objetivos, a exemplo de Bismarck).
1870-1890: Concerto Restaurado de Bismarck (Nova Alemanha, liderada pela
Prússia, desempenhando papel central; variedade de alianças para conter a França.
1890-1914: Perda de Flexibilidade (sucessores de Bismarck não renovaram o
tratado com a Rússia, Alemanha se envolve no imperialismo ultramarino desafiando a
supremacia naval britânica, não desencorajou as confrontações da Áustria com a Rússia
por causa dos Bálcãs – polarização do sistema.
Revolução Russa

A Revolução Russa (1917-1928) foi constituída de uma série de eventos


responsáveis por derrubar a monarquia que comandava o Império Russo até então e criar a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o primeiro país socialista do mundo.
Essa revolução não é importante apenas na história da Rússia, pois trata-se de um período
que impactou todo o andamento do século XX.
Antes da Revolução Russa, cuja concretização foi em 1917, o sistema político que
organizava o país desde o século XVI era o czarismo. Tratava-se de uma forma de
absolutismo, no qual o czar (imperador) concentrava em suas mãos todos os poderes.
Ao czar estavam submetidas todas as classes sociais, desde os servos até a nobreza –
conhecida como boiardos – e a Igreja Católica Ortodoxa. Esses dois últimos grupos eram
considerados mais livres do que os servos, mas mesmo assim tinham suas liberdades
controladas pelo Império. A Ochrana – polícia política – vigiava e controlava a educação e
os tribunais; no país também não existia liberdade de imprensa. Já os camponeses viviam
em extrema miséria e ainda pagavam altos impostos para manter o sistema czarista.
No século XIX a Rússia, juntamente com Reino Unido, Alemanha, França e
Áustria-Hungria, era um dos principais países da Europa. Contudo, os russos ficaram para
trás na Revolução Industrial e viram seus vizinhos modernizarem-se e investirem na
indústria, enquanto a Rússia continuava sendo uma economia agrícola. O Império Russo a
era conhecido como o “Gigante dos Pés de Barro”, uma vez que sob o sistema feudalista –
organização política-social na qual servos trabalhavam para donos de terra, os quais
geralmente tinham laços com a nobreza –, os senhores feudais não tinham interesse em
modernizar as plantações ou investir em indústrias,.
Quando a Rússia foi derrotada na Guerra da Criméia (1854-1856) por conta dos
problemas sociais e econômicos que enfrentava, o czar Alexandre II instituiu algumas
mudanças. Em 1861 houve a abolição da servidão, junto com a ocupação de novas terras,
vendidas aos camponeses. Isso permitiu ao país aumentar sua produção e tornar-se um
exportador de grãos. Com as medidas, também houve um crescimento populacional que
acabou aprofundando os problemas sociais na Rússia. Com mais pessoas morando no
país, o desemprego cresceu e a produção agrícola insuficiente para alimentar a população
gerou fome e revoltas.
Buscando contornar a situação, o czar passou a estimular a industrialização,
financiada por investimentos estrangeiros. Com a instalação de indústrias na Rússia,
cresceu a migração no país. Tanto estrangeiros quanto pessoas de outras regiões russas
mudaram-se para as novas cidades industriais, como Moscou e Petrogrado, em busca de
emprego. Assim, nas últimas décadas do século XIX o Império Russo finalmente se
modernizou. Contudo, o absolutismo e as precárias condições de vida persistiram no campo
e na cidade, onde os operários recebiam salários muito baixos.
Como a industrialização foi feita com capital inglês e francês, majoritariamente,
naquele momento a Rússia não viu surgir uma burguesia local que pudesse alterar a
dinâmica política do país. Em contrapartida, os operários – que ainda formavam um grupo
pequeno – passaram a se organizar cada vez mais. Os operários, que recebiam influência
de ideias vindas da Europa Ocidental e mantinham contato com os camponeses, formaram
grupos de oposição ao czarismo. Mesmo os partidos políticos sendo proibidos, vários
existiam clandestinamente. O Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR),
inspirado nos ideais marxistas e liderado por Plekhanov e Lenin, era o mais famoso deles.
As divergências ideológicas dentro do partido fizeram surgir dois grupos essenciais
na Revolução Russa:
● Mencheviques: palavra russa para “minoria” do POSDR, liderados por Plekhanov,
acreditava que era possível chegar ao poder de maneira pacífica, como por meio de
eleições. Apesar de defender a implantação do socialismo na Rússia, os
mencheviques acreditavam que a transição para esse tipo de governo deveria ser
gradual e feita por reformas políticas e econômicas.
● Bolcheviques: a “maioria”, os bolcheviques eram liderados por Lenin e defendiam a
necessidade de uma revolução armada para tirar o czar do poder. Os bolcheviques
também pretendiam instalar o socialismo no país, mas de maneira imediata.

Domingo sangrento
Em 1904, a Rússia entrou em conflito com o Japão pelos territórios da China e da
Manchúria. Em 1905, a Guerra Russo-Japonesa acabou com a derrota russa e a oposição
ao czar ganhou força. Descontente com a desorganização da economia gerada pelo conflito
e humilhados pela derrota, o povo iniciou a Revolução de 1905. O movimento não tinha
liderança ou objetivos claros, mas um de seus episódios marcou a história do país: o
Domingo Sangrento.
Nesse dia, um protesto pacífico organizado pelo padre Gregori Gapone, que tinha
como finalidade entregar um abaixo assinado com uma série de exigências ao czar, foi
violentamente repreendido. O czar Nicolau II ordenou sua guarda, que abriu fogo contra os
manifestantes e deixou centenas de mortos.
A tragédia fortaleceu a oposição de vários setores da sociedade ao czar. Operários,
camponeses e soldados formaram conselhos chamados de sovietes, já a burguesia que
nascia no país pressionou o czar para que um Parlamento fosse criado. A fim de acalmar os
ânimos, o líder russo promulgou uma Constituição e convocou eleições para o Duma
(Parlamento). Dessa forma, a Rússia passava a ser uma monarquia constitucional, na qual
o czar continuava concentrando grande parte do poder e o Parlamento tinha suas ações
limitadas. Com essas medidas o czar conseguiu conter as revoltas e entre 1907 e 1914 o
país viveu certa tranquilidade.

Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918)


Em 1914, após o assassinato de Francisco Ferdinando, a Áustria-Hungria declarou
guerra à Sérvia. O czar Nicolau II partiu em defesa dos aliados sérvios e logo lutou com a
Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial. Os gastos com o conflito aprofundaram a
pobreza no país e prejudicaram a Rússia nos campos de batalha, pois até mesmo com falta
de munição as forças russas sofriam. A crise socioeconômica e a insatisfação do povo
foram, então, o estopim para uma série de acontecimentos que formariam a Revolução
Russa.

Revolução de Fevereiro de 1917


Em fevereiro de 1917, uma marcha pelo dia das mulheres transformou-se em um
protesto geral, no qual o povo invadiu o palácio e forçou o czar a renunciar. Assim,
começava a Revolução Russa. Esse primeiro episódio, em específico, ficou conhecido
como Revolução de Fevereiro e levou os mencheviques – grupo moderado, apoiado pela
burguesia russa – ao poder.
Após o acontecimento, também conhecido como Revolução Menchevique, um
governo de caráter liberal foi instalado na Rússia – a República de Duma. Na liderança do
governo estava o príncipe Lvov, que manteve a Rússia na Primeira Guerra mesmo sofrendo
sucessivas derrotas. Seu fracasso levou à substituição de Lvov por um socialista moderado
(menchevique), Alexander Kerensky, que também não retirou a Rússia da guerra.
O governo de Kerensky adotou algumas medidas que agradaram à burguesia, como
a anistia para presos políticos, redução da jornada de trabalho para oito horas e a liberdade
de imprensa. Entretanto, os mencheviques não atenderam às reivindicações dos
camponeses – por terras – e nem dos operários – por melhores salários.
Com os russos ainda lutando pela Primeira Guerra e a pobreza se agravando no
país, a oposição bolchevique se fortaleceu. Leon Trotsky, que liderava o soviete de
Petrogrado, organizou a Guarda Vermelha – composta por operários bolcheviques. Lenin,
que estava exilado na Finlândia, voltou à Rússia clandestinamente e também passou a
organizar os sovietes. Para Lênin, os operários deveriam tomar o poder por meio da
revolução. Com lemas simples como “pão, paz e terra”, “todo o poder aos sovietes” e
promessas de reforma agrária, os bolcheviques recrutavam mais operários e camponeses
para sua causa.

Revolução de Outubro de 1917


Após meses de organização, os bolcheviques – apoiados pelo povo – derrubaram a
República da Duma e instalaram o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenin.
Começava, assim, a nova fase da Revolução Russa.
A partir desse episódio, conhecido como Revolução de Outubro ou Revolução
Bolchevique, iniciaram-se mudanças no sistema econômico russo. Terras da Igreja, nobreza
e burguesia foram desapropriadas e concedidas aos camponeses, as indústrias passaram a
ser controladas pelos operários e os bancos foram estatizados. Essas ações eram guiadas
pela ideia marxista de que sem propriedade não existiriam exploradores (proprietários) e
explorados (trabalhadores).
Em março de 1918 a Rússia finalmente assinou um tratado de paz com a Alemanha
e deixou a Primeira Guerra Mundial, aceitando entregar a Polônia, Ucrânia e Finlândia aos
alemães. Além disso, os bolcheviques também instituíram o unipartidarismo no país – ou
seja, apenas o Partido Comunista Russo (antigo POSDR) era permitido. Ao proibir demais
partidos políticos e perseguir qualquer outro tipo de oposição, o governo mostrava-se
crescentemente autoritário e afastava-se dos ideais de igualdade e liberdade.

Guerra Civil na Rússia (1918 – 1921)


Claro que os mencheviques não ficaram satisfeitos em perder o comando da Rússia
e se aliaram aos aristocratas (a antiga família real). Assim, apoiados pelo Reino Unido,
França, Japão e Estados Unidos – países que tinham investido capital na Rússia e/ou
temiam que uma onda socialista se espalhasse em direção ao Ocidente –, os
mencheviques reagiram. O Exército Branco (mencheviques) então entrou em confronto
direto com o Exército Vermelho (bolchevique – antiga Guarda Vermelha) e, em 1918, o país
mergulhou em uma guerra civil.
Como não recebiam financiamento externo, os bolcheviques implantaram uma
política econômica chamada de “comunismo de guerra” para conseguirem combater o
Exército Branco. Assim, o governo confiscou toda a produção russa para destiná-la à guerra
e perseguiu a oposição, considerada “anti-revolucionária”.
Em 1921 o Exército Vermelho derrotou seus inimigos e “salvou” a Revolução Russa,
mas teve que pagar um alto preço: a paralisação quase completa da economia por conta do
comunismo de guerra. Tentando reverter os efeitos do comunismo de guerra, Lênin
estabeleceu a Nova Política Econômica (NEP), uma série de medidas capitalistas
temporárias. Assim, o governo autorizou a entrada de capital estrangeiro no país para que o
“terreno” fosse preparado para a instalação do socialismo.
Mesmo conferindo algumas liberdades econômicas ao povo – como permissão para
criação de empresas privadas e comércio em pequena escala –, o Estado mantinha-se
extremamente presente. A NEP deu resultados, alimentando o crescimento industrial e
agrícola na Rússia, mas também aprofundou a desigualdade social.

Surge a União Soviética


Ao mesmo tempo em que acontecia a Revolução Russa, outro país nas
proximidades revoltava-se contra seu governante: a Ucrânia. Em 1918, iniciou-se a
Revolução Ucraniana, que buscava instalar um sistema anarquista no país. O Partido
Comunista Russo, temendo avanços dessa revolução para dentro de seu território, anexou
a Ucrânia em 1921. Nascia assim a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou apenas
URSS.
A Revolução Russa só foi acabar em 1928, quando Stálin chegou ao poder e passou
a ampliar a União Soviética, anexando mais e mais territórios. Esse regime é conhecido
como stalinismo.

Classificação das causas


● Causas Profundas: Insatisfação popular crescente com o governo czarista ineficiente
e corrupto
● Causas Intermédias: Enfraquecimento e desintegração do exército imperial diante de
derrotas contra japoneses e alemães
● Causas Imediatas: Movimento de destituição da monarquia e instalação de governo
bolchevique, liderado por Vladimir Lenin.

O entre-guerras (1919-1939)

● Revolução Russa (1917);


● Fim da I Guerra Mundial (1914-1918): cerca de 8,5 milhões de mortos;
● Derrota da Alemanha;
● Nova configuração territorial na Europa;
● Declínio socioeconômico;
● Onda de nacionalismo na Europa;
● Mussolini cria a organização que daria origem ao Partido Fascista;
● Predominância dos EUA;
● Criação da Liga das Nações;
● Conferência de Paz em Paris.

Conferência da Paz em Paris


A Primeira Guerra Mundial, que se estendera muito além do esperado pela maioria
dos estadistas e generais que a forjaram, entrou em sua última fase a partir de 1917,
quando os alemães começavam a esgotar suas forças econômicas e militares, seus aliados
capitaneavam e os Estados Unidos entraram no conflito, renovando as tropas e os recursos
da Entente. Neste momento, pouco adiantava a saída de um império decadente como a
Rússia, abalada pelo movimento revolucionário, e que se retirou definitivamente da guerra
em março de 1918, após a assinatura do Tratado de Brest-Litovski. Pouco adiantava
também a tradição militarista prussiana, que na guerra de 1870-713 havia levado os
alemães a uma rápida e indiscutível vitória contra a França, bem como havia possibilitado
um equilíbrio inconteste com adversários muito mais numerosos desde o início da Primeira
Guerra.
Desta vez, foram os alemães que terminaram por assinar a rendição, em 11 de
novembro de 1918. O Armistício de Compiègne, como se tornou conhecido, foi assinado
dentro de um vagão-restaurante na floresta de Compiègne, entre os Estados vitoriosos da
Entente e a Alemanha, encerrando com as hostilidades da mais devastadora das guerras já
travadas até este momento
Uma vez cessados os combates, era necessário construir a paz. Um desafio tão
complexo como fora a guerra de trincheiras e que por meses dividiu os homens mais
poderosos do mundo.
Inicialmente, a ideia dos quatro principais Estados vitoriosos, conhecido como
Conselho Supremo - Inglaterra, França, Estados Unidos e Itália – era simplesmente definir
os termos a serem propostos aos perdedores em encontros de portas fechadas,
preliminares e sem participação dos demais países que lutaram na guerra.
Com o tempo, as pressões das demais delegações fizeram com que as quatro potências
abrissem para algumas sessões mais amplas, organizadas então na Conferência de Paris.
Mas no final das contas prevaleceram os interesses das quatro potências,
especialmente da França de Georges Clemenceau (1917-20) e da Inglaterra de Lloyd
George (1916-22). Os Estados Unidos ainda não conseguiram se impor da forma inconteste
que fizeram em 1945.“Os europeus ainda podiam – e na verdade o fizeram – ignorar boa
parte das vontades americanas”
A Itália, carregada de reivindicações irredentistas por territórios na Áustria e nos
Bálcãs, saiu insatisfeita dos tratados de paz. A delegação de Vittorio Orlando (primeiro-
ministro italiano de 1917-19) não foi tratada em igualdade com a França, Inglaterra e até
mesmo aos Estados Unidos durante a Conferência e os tratados de paz. Orlando chegou a
abandonar a mesa de negociações em abril de 19199 e seria destituído pouco antes da
assinatura do Tratado de Versalhes, o mais relevante de todos, imposto à Alemanha
Como fez questão de frisar MacMillan no texto: “o problema estava só no presente”.
Cabia aos vitoriosos – exatamente porque os cinco Estados perdedores não foram
convidados - definirem qual seria a melhor paz para um conflito tão longo: uma “paz sem
vencedores”encerrada de forma honrosa e amistosa, ou uma paz punitiva, "de vendeta”,
marcada por décadas de revanchismo francês e um desejo por reparações aos danos
causados pela Alemanha a Europa.
A historiografia do século XX não deixou dúvidas: prevaleceu a primeira. Afinal, os
principais tratados que encerraram com a Primeira Guerra Mundial determinaram, como
diria Adolf Hitler depois, um diktat sobre os alemães, austríacos e os demais. Uma
imposição, especialmente para a Alemanha, definida no Tratado de Versalhes, assinado em
28 de junho de 1919. Entre suas principais resoluções encontram-se:
● Admissão de culpa e responsabilidade única da Alemanha pela Grande Guerra;
● Proibição da união entre Alemanha e Áustria (anschluss), determinação também
presente no Tratado de Saint-Germain;
● Compromisso de reparações financeiras a definir, provavelmente mais de 20 bilhões
de dólares; DevoluçãodaAlsáciaeda Lorena à França;
● Cessão de Eupen-Malmedy à Bélgica, de Memel à Lituânia e do distrito de Hultschin

Checoslováquia;
● Entrega da Poznania, Silésia setentrional e Prússia oriental à Polônia restabelecida;
● Entrega das possessões ultramarinas na China, na África e no Pacífico;
● Transformação de Danzig em cidade livre.
● Desmilitarização permanente e ocupação aliada por 15 anos da província do Reno
Certamente, além da responsabilidade que recebeu pela guerra, a questão que mais
mexeu com o “orgulho alemão” foi a perda de seu império – o qual estava ainda em
construção e expansão – e, consequentemente, de importantes áreas territoriais na Europa,
especialmente para a Polônia.

Os 14 pontos de Wilson
Em 8 de janeiro de 1918, o presidente democrata Woodrow Wilson, dos Estados
Unidos, apresentou seu programa dos Quatorze Pontos para acabar com a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918). A proposta de Wilson sistematiza suas ideias já tornadas públicas em
abril de 1917, antes dos Estados Unidos entrarem em guerra. Defendia uma “paz sem
vencedores ou vencidos” que garantisse “tornar o mundo seguro para a democracia”.
Afirmava que se a autodeterminação das grandes nações fosse a base para a paz, então
aquele seria o último conflito, “uma guerra para acabar com todas as guerras”. Essas ideias
foram incorporadas em seus Quatorze Pontos.
Os primeiros cinco pontos, de importância geral, defendiam o fim dos acordos
secretos, a liberdade de navegação nos mares, o livre comércio, a redução dos
armamentos e o direito dos povos colonizados à autodeterminação.
Os pontos 6, 7, 8 e 11 falavam em evacuação das tropas alemãs da Rússia, da
Bélgica, dos Balcãs e da França (incluindo a região contestada da Alsácia-Lorena).
O 9º ponto defendia o reajuste das fronteiras italianas dentro dos limites nacionais.
Os pontos 10, 12 e 13 reconheciam a autonomia e independência da
Áustria-Hungria, da Turquia e da Polônia.
O 14º ponto, refletindo o idealismo do presidente norte-americano, anunciava a
criação de uma Liga das Nações com o objetivo de dar garantias mútuas de independência
política e integridade territorial aos Estados.
Apesar do idealismo de Wilson, os termos acordados pelos vitoriosos no tratado de
Versalhes, em 1919, foram duros com a Alemanha: a soberania e autodeterminação da
nação alemã foi arrasada. O país, considerado culpado pela guerra, foi forçado a
desmantelar suas forças armadas, entregar a maior parte de sua frota mercante e a
concordas com extensas reparações de guerra.
O impacto do acordo para a Alemanha plantou a semente da Segunda Guerra
Mundial. A Liga das Nações, por sua vez, mostrou-se incapaz de equilibrar os interesses
nacionais na arena internacional, especialmente sem a participação dos Estados Unidos
que, apesar dos esforços de Wilson, nunca se juntaram à organização.

Liga das Nações


A Liga das Nações, ou Sociedade das Nações, criada ao término da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), com sede em Genebra, na Suíça, foi a primeira organização
internacional de escopo universal em bases permanentes, voluntariamente integrada por
Estados soberanos com o objetivo principal de instituir um sistema de segurança coletiva,
promover a cooperação e assegurar a paz futura. Os 26 artigos do Pacto da Liga foram
incorporados à primeira parte do Tratado de Versalhes, tratado de paz entre as potências
aliadas e associadas, de um lado, e a Alemanha derrotada, de outro, assinado em
Versalhes em 28 de junho de 1919.
A organização praticamente deixou de funcionar com a eclosão da Segunda Guerra
Mundial em 1939, e foi oficialmente desativada em abril de 1946.
A estrutura da Liga das Nações foi organizada em torno de três órgãos principais:
um Conselho Executivo, de composição restrita, com membros permanentes e não
permanentes; uma Assembleia aberta a todos os Estados-membros para o exercício do
debate público e da diplomacia parlamentar sobre todas as questões que afetassem a paz;
e um Secretariado com funções basicamente administrativas, chefiado por um
secretário-geral. Além disso, foi criado um sistema de mandatos para territórios não
autônomos e tomada a decisão de estabelecer a Corte Permanente de Justiça Internacional
(CPJI) para solucionar por meios pacíficos controvérsias entre os Estados. Outros
organismos, agências e comissões também ficaram associados à Liga, como foi o caso da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), fundada em 1919 (parte XIII do Tratado de
Versalhes).
O Pacto da Liga exortava os Estados a observar rigorosamente as normas do direito
internacional e não recorrer à guerra para resolver suas diferenças. Caso surgisse uma
controvérsia suscetível de produzir uma ruptura, o caso deveria ser submetido a um
processo de arbitragem ou solução judiciária. Se não houvesse acordo, o Conselho da Liga
seria acionado e prepararia um relatório, que poderia ser aceito ou não pelas partes
litigantes.

Criação da URSS
Criada em 30 de dezembro de 1922 e dissolvida em 26 de dezembro de 1991, a
URSS configurou-se durante sessenta e nove anos de existência como um dos países mais
poderosos do mundo e também como a segunda maior potência militar. Portanto, para
entendermos como se deu tamanho desenvolvimento, iremos abordar nos próximos
parágrafos a ascensão, o apogeu e a queda de uma das maiores nações já existentes na
história mundial.

Antecedentes e a Revolução Russa


Até o ano de 1917, a Rússia era governada por um czar que exercia o poder através
de um regime absolutista autoritário e sem uma constituição definida. A população passava
por sérios problemas, sendo um dos principais a fome.
O principal partido que lutava pelos interesses sociais era o POSDR – Partido Operário
Social Democrata Russo, que baseava suas ideias a partir do pensamento de Karl Marx e
tinha como principal liderança a figura de Vladimir Lenin. Devido a uma discussão interna, o
POSDR acabou se dividindo em dois: entre os Bolcheviques (maioria) e os
Mencheviques(Minoria) – sendo os bolcheviques liderados por Lenin e os mencheviques
por Julius Martov.
É interessante lembrar que anteriormente, em 1904, a Rússia havia vivido uma
guerra contra o Japão pelo território da Manchúria – da qual saiu totalmente defasada, com
problemas sociais agravados e humilhada por uma derrota massacrante diante dos
japoneses. Ao fim desta guerra, a população fez uma passeata pacífica e marchou até o
Kremlin, palácio do czar. A resposta do governo veio através do exército, que fuzilou os
manifestantes em plena praça pública, matando cerca de noventa pessoas em um episódio
que ficou conhecido como o Domingo Sangrento.
Tal ato passaria a ser considerado pelos revolucionários de 1917 como o ensaio da
revolução, pois lutariam pelos que perderam a vida naquela passeata.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a Rússia enfrentava novamente
graves problemas internos, entre eles soldados que eram mandados para o front de guerra
sem mantimentos, a população que voltou a passar fome e o descontentamento com o czar
que já era enorme, tornou-se insuportável.
Assim, em 1917, ocorrem novas manifestações. No episódio, o exército russo
volta-se contra o czar – negando que mais um massacre ocorresse contra a população – o
que leva o czar a abdicar do trono.
Com o vácuo no poder, Lênin que estava exilado volta ao país com dois lemas:
“Pão, Paz e Terra” e “Todo poder aos Sovietes”. Vale lembrar que os sovietes eram os
grupos de trabalhadores que se reuniam em busca de melhor qualidade social pós domingo
sangrento. Assim, os bolcheviques – liderados por Lênin – invadem o palácio do Kremlin em
25 de outubro de 1917, concretizando assim a Revolução Russa.

O governo de Lenin
Assim que assumiu o poder, Lênin passou a governar a Rússia com autoritarismo.
Ainda assim, o período também foi marcado por melhorias para a população, por exemplo,
a crise de abastecimento que solapava o país por décadas chegou ao fim e terras foram
concedidas para quem não tinha onde plantar seus alimentos.
Um dos marcos mais importantes do governo Lenin foi a retirada do país da Primeira
Guerra Mundial, a partir do tratado de Brest Litovski. Ainda assim, houveram muitas críticas
ao tratado, pois a Rússia entregou vastas áreas territoriais para a Alemanha – territórios que
hoje correspondem a países como Polônia e Bielorrússia.
Além disso, boa parte da população russa desaprovava o forte autoritarismo do
governo bolchevique. Assim, como forma de oposição ao governo foi criado o exército
branco, que passou a lutar contra o exército vermelho do governo, dando início a guerra
civil (1918-1921).
Após milhões de mortes, o exército vermelho de Lenin saiu vencedor do combate,
porém novamente o país ficou em estado crítico.
Para voltar a desenvolver a economia russa, Lenin criou a Nova Política Econômica
(NEP). Uma política que caracterizou-se pela nacionalização da economia e pela luta contra
a desigualdade social, a miséria e a fome. Também dentro dessas medidas, estava a
criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS.

O governo de Josef Stalin e o apogeu soviético


Após a morte de Lenin em 1924 – no auge desenvolvimentista da nova política
econômica – Josef Stalin ascendeu ao poder. Considerado como seguidor fiel de Lenin e
apoiado pelo exército, Stalin lançou no início de seu governo os “planos quinquenais“.
Basicamente, os planos quinquenais ajudaram a URSS a alcançar um forte processo de
industrialização, que deu sustentação para diversos avanços no campo da saúde,
educação, ciência e tecnologia.
É desta forma que a URSS de Stalin se solidifica como um dos países mais
desenvolvidos do mundo, até mesmo depois do fim de seu governo em 1953, período
conhecido como “era stalinista”. O que deu força também para o país disputar com os EUA
quem teria a liderança militar, econômica e social, durante o período conhecido como
Guerra Fria (1947-1991).
Outra medida implementada no governo Stalin foi a coletivização forçada das terras,
ou seja, uma política que excluía a propriedade privada e obrigava os trabalhadores a
produzirem para o governo. Devido a essa política, a URSS se desenvolveu em vários
setores e tornou-se o maior exportador de grãos do mundo. Em contrapartida, entretanto,
sua população começou a passar fome, já que o Estado passou a controlar e exportar toda
a produção agrícola.
Dessa forma, cresceu então o descontentamento da população com Stalin, que
respondeu com uma série de ações que ficaram conhecidas como o período do grande
terror e dos processos de Moscou. Nesse período, Stalin passou a perseguir e matar
opositores, enviando-os a campos de concentração de trabalho forçado, onde os cidadãos
eram obrigados a trabalhar até a morte para sustentar os planos quinquenais.
De forma semelhante, julgamentos em Moscou serviram para a tortura de quem
fosse pego por protestar contra o governo. Por isso, Stalin ficou conhecido – ao lado de
Hitler – como um dos maiores assassinos do século XX.
Assim, acredita-se que o governo Stalin estava ancorado em três pontos: melhoria
da qualidade de vida e industrialização através dos planos quinquenais, propaganda política
que passava a imagem de um Stalin “herói soviético” e o grande terror de ser pego pelo
regime Stalinista.

O caminho para o fim da União Soviética


A URSS chegou ao fim oficialmente no dia 26 de dezembro de 1991. Vários foram
os fatores que contribuíram para a sua queda, assim vamos ver alguns deles.
Para começar, a década de 70/80 ficou conhecida como a “era da estagnação”. Nesse
período a URSS estava sendo comandada por Nikita Khrushchev e Leonid Brezhnev.
Kruschev ficou conhecido por planificar toda a produção agrícola soviética e por
implementar políticas liberais com o objetivo de melhorar a economia. Já Brezhnev foi o
responsável por suprimir várias reformas político/administrativas que Kruschev tinha
colocado em prática, o que causou forte descontentamento interno e várias manifestações
contrárias ao governo.
A bandeira política de Brezhnev era a bandeira militar, pois temia que um ou mais
países da união soviética almejassem independência. Tal temor o levou a criar a Doutrina
Brezhnev, uma diretriz de política externa que autorizava a URSS a utilizar apoio militar
para garantir suas fronteiras e manter a URSS unida.
A doutrina fez com que a URSS interferisse politicamente no Afeganistão em 1979,
em um episódio que ficou conhecido como o Vietnã Soviético. Isso porque se tratou de uma
guerra muito semelhante à travada pelos EUA, na qual as guerrilhas vietnamitas causaram
enormes baixas no exército americano.
No ano de 1980, Brezhnev por problemas de saúde precisou deixar o poder, vindo a
falecer em 1982. Assim, entre 1980 à 1985, a União Soviética foi governada por uma junta
militar. Até que em 1985, chega ao poder, com o apoio dos militares, Mikhail Gorbachev.
As primeiras medidas de Gorbachev à frente do governo soviético foram a retirada
das tropas do Afeganistão, a aproximação da URSS com a União Européia e o
encerramento da doutrina Brezhnev. Além disso, iniciou as negociações com os Estados
Unidos da América para o controle das armas nucleares.
No campo interno, criou em 1986 a política conhecida como Perestroika
(reestruturação), que tinha por objetivo permitir a volta do multipartidarismo na URSS e a
volta do investimento no empreendedorismo. Em 1988, a política conhecida como Glasnost
(abertura) veio para promover a liberdade de expressão e de imprensa, além da libertação
de presos políticos.
Todas essas medidas tiveram forte aprovação externa. Entretanto, dentro da URSS,
Gorbachev enfrentou críticas de todos os lados.

Fim de uma Era: cai a União Soviética


O partido dos liberais – liderados por Boris Yeltsin – acreditavam que as medidas
eram brandas demais, e já o núcleo duro do exército soviético considerava as medidas
liberais demais. Tal efervescência interna levou a grandes protestos em várias unidades
federativas da URSS que demandavam a independência.
Assim, o “golpe final” à URSS pode ser considerado a declaração de independência
da Ucrânia, em 24 de agosto de 1991. Afinal, após tal episódio, várias outras unidades da
URSS começaram a desenvolver processos de independência em cascata.

O Tratado de Locarno (1925)


Série de sete acordos concertados para promover a segurança da Europa Ocidental
no final da Primeira Guerra Mundial. Estes tratados foram assinados pelos representantes
da Bélgica, da Tchecoslováquia, de França, da Alemanha, da Grã-Bretanha, de Itália e da
Polónia em Locarno, Suíça, a 16 de outubro de 1925.
O primeiro tratado garantia as fronteiras comuns da França, da Alemanha e da
Bélgica. A Renânia, uma área que cobria parte da Bélgica, da França e da Alemanha, foi
estabelecida como uma zona neutral. Os britânicos e os italianos estavam envolvidos neste
processo, mas não tinham quaisquer obrigações militares para assegurar a implementação
destas medidas. Apesar da França assinar tratados de segurança com a Polónia e a
Tchecoslováquia, os tratados não ofereciam o mesmo reconhecimento das fronteiras para
os países situados nas fronteiras orientais alemãs. Contudo, houve acordos que
providenciaram a arbitragem de disputas entre a Alemanha e os seus vizinhos polacos,
belgas, franceses e checos.
Estes tratados deveriam funcionar ao abrigo da Liga das Nações, que em 1926
passou a contar com a presença da Inglaterra.
Este espírito criado em volta destes tratados de Locarno ajudou a melhorar o
relacionamento da França e da Alemanha, mas não evitou o agravamento das relações nos
anos trinta. Adolf Hitler, o líder alemão, recusou o primeiro tratado, e ordenou a
remilitarização da Renânia em 1936, ato que contribuiu para o rebentamento da Segunda
Guerra Mundial.

Tratado de Briand-Kellogg
O Pacto Briand-Kellogg, também chamado Pacto Multilateral contra a Guerra, foi
originado de uma proposta apresentada por Aristide Briand, ministro francês das Relações
Exteriores, a Frank Billings Kellogg, secretário de Estado estadunidense.
O pacto foi assinado em 27 de agosto de 1928 por 15 países: Alemanha, Estados
Unidos, França, Reino Unido, Itália, Japão, Bélgica, Polônia, Canadá, Austrália, Nova
Zelândia, África do Sul, Irlanda, Índia – sob mandato britânico-, e Tchecoslováquia. Dos 57
Estados existentes na época, praticamente todos aderiram, exceto dois da península
arábica, Arábia Saudita e a República Árabe do Iêmem, e três sul-americanos: Argentina,
Bolívia e Brasil.
Composto de um pequeno preâmbulo e de três breves artigos, o pacto afirmava que
as partes assinantes condenavam “o recurso à guerra para a solução das controvérsias
internacionais e a ela renuncia(va)m como instrumento de política nacional nas suas mútuas
relações”, e se comprometiam que a “superação ou a resolução de controvérsias ou
conflitos que entre elas surjam, seja qual for a origem ou a natureza dos mesmos, só deve
encontrar-se por meios pacíficos”
Apesar do fracasso em impor a paz no mundo, o Pacto Briand-Kellogg constituiu um
marco fundamental do ponto de vista do direito internacional porque foi o primeiro pacto que
formalizou uma proposta de renúncia total à guerra, limitando assim um dos atributos
fundamentais dos Estados. O Brasil, que considerara desnecessário assiná-lo por causa da
tradição pacifista do país e porque princípios análogos já faziam parte da própria
Constituição de 1891, só aderiu em 3 de abril de 1934 (Decreto no 24.557), para assinalar
sua aproximação com os Estados Unidos e prestigiar o pan-americanismo, num contexto
onde a política externa do país começara a mudar. Por exemplo, as relações bilaterais do
Brasil com a Argentina, tradicional rival na região, se modificaram consideravelmente. A
cooperação com o país vizinho se consolidou com a assinatura, em outubro de 1933, do
Tratado de Conciliação e de Não Recurso à Guerra, mais conhecido como Tratado
Saavedra-Lamas, proposto pela Argentina um mês após sua reintegração na Liga das
Nações, e com disposições calcadas no Pacto Briand-Kellogg. O tratado recebeu a adesão
da maioria dos países do hemisfério e de alguns países europeus.

O Pré Segunda Guerra Mundial

•Conferência de Genebra (1932)

•Invasão italiana da Etiópia (1935)

•Guerra Civil Espanhola (1936–1939)

•Invasão japonesa da China (1937)

•Invasão japonesa da União Soviética e Mongólia (1938)

•Ocupações e acordos na Europa


Enquanto a Europa estava num caos, a URSS estava num momento de
prosperidade, isso faz com que cresça a luta contra o comunismo na Europa.

Ascensão do fascismo
A Grande Guerra, sucessivamente chamada de IGM, teve início no dia 28 de julho
de 1914 com a declaração de guerra da Áustria à Sérvia. O assassinato do arquiduque
Francisco Ferdinando pelo estudante Gavrilo Princip foi seu estopim. À época, o frágil
equilíbrio europeu decorria de duas enormes alianças. De um lado Grã-Bretanha, Rússia e
França e do outro Alemanha, Áustria-Hungria, Itália e Império Turco-Otomano. Dessa forma,
em poucas semanas formou-se a IGM. Guerra em que se envolveram países não-europeus
e todos os Estados europeus, com exceção da Espanha, Países Baixos, os três países da
Escandinava e Suíça.
A Itália não declarou guerra à Entende mesmo sendo membro da Tríplice Aliança
desde 1887, dessa forma confirmou a sua duvidosa adesão à aliança. Além disso, a Itália
possuía um tratado secreto com a França, datado de 1902, que lhe prometia futuras
concessões territoriais. Dessa forma, em 1915 a Itália declarou guerra à Tríplice Aliança
após a assinatura do Tratado de Londres. O tratado previa, em caso de vitória, a obtenção
por parte da Itália de territórios como o Trento, a Dalmácia e o Trieste
Mesmo com a vitória, o sentimento de "vitória mutilada” foi geral, sobretudo entre os
oficiais que voltavam do front e os estudantes. Os esforços despendidos naquela que seria
a última das guerras foram incompreendidos e não obtiveram o retorno esperado na visão
dos nacionalistas italianos. O Tratado de Versalhes não trouxe os territórios esperados pela
Itália. O desfecho negativo para os italianos se deu em função da análise errada de Sonnino
que, ao montar sua política externa baseando-se na velha concepção de que o Império
Habsburgo deveria manter-se unido, não negociou da maneira que deveria com os
movimentos nacionalistas que surgiam no seio do decadente império. Além da errônea
avaliação do ministro Sonnino, Wilson pareceu querer aplicar os seus famosos princípios
somente nas relações envolvendo a Itália no Tratado de Versalhes.
Mussolini não estava sozinho: na esteira da guerra, muitos italianos ficaram
desapontados com o Tratado de Versalhes. Eles sentiram que o tratado, que dividiu o
território das nações agressoras, desrespeitou a Itália ao conceder-lhe muito pouca terra.
Essa “vitória mutilada” moldaria o futuro da Itália. Em 1919, Mussolini fundou um movimento
paramilitar que chamou de Fasces Italianos de Combate. Um sucessor do Fasces Ação
Revolucionária, este esquadrão focado em combate visava mobilizar veteranos da guerra
experimentados que poderiam devolver a glória à Itália.
Mussolini esperava traduzir o descontentamento da nação em sucesso político, mas
o jovem partido sofreu uma derrota humilhante nas eleições parlamentares daquele ano.
Mussolini obteve apenas 2420 votos em comparação com os 1,8 milhão do Partido
Socialista, encantando seus inimigos em Milão, que realizaram um funeral falso em sua
homenagem.
Imutável, Mussolini começou a cortejar outros grupos que estavam em desacordo
com os socialistas: industriais e empresários que temiam greves e desacelerações,
proprietários rurais que temiam perder suas terras e membros de partidos políticos
intimidados pela crescente popularidade do socialismo.
Os novos e poderosos aliados de Mussolini ajudaram a financiar a ala paramilitar de
seu movimento, conhecida como “os camisas negras”. Embora Mussolini professasse estar
contra a opressão e a censura de todos os tipos, o grupo rapidamente se tornou conhecido
por sua disposição de usar a violência para obter ganhos políticos.
Os camisas negras aterrorizaram socialistas e inimigos pessoais de Mussolini em
todo o país. O ano de 1920 foi cruel, com fascistas marchando pelas cidades, espancando e
até matando líderes sindicalistas e efetivamente tomando o poder local. Mas o governo
italiano, que compartilhava a inimizade dos fascistas com os socialistas, pouco fez para
conter a violência.

A ascensão de Mussolini ao poder


Na realidade, Mussolini controlava apenas uma fração dos membros da milícia.
Mesmo assim, sua imagem dura ajudou a construir sua reputação como um líder poderoso
e autoritário, capaz de sustentar suas palavras com ações violentas e decisivas. Conhecido
como Il Duce, (o Duque), exerceu uma poderosa influência sobre os italianos, seduzindo-os
com seu charme pessoal e retórica persuasiva.
Em 1921, Mussolini ganhou um cargo no parlamento e até foi convidado a formar
parte do governo de coalizão pelo primeiro-ministro italiano Giovanni Giolitti – que esperava
que Mussolini colocasse os camisas negras de joelhos assim que recebesse uma parte do
poder político.
Mas Giolitti tinha julgado mal Mussolini, que, em vez disso, pretendia usar seus
camisas negras para assumir o controle absoluto. No final de 1921, Mussolini transformou o
grupo no Partido Nacional Fascista, tornando-se um movimento que contava com cerca de
30 000 simpatizantes em 1920 em um partido político de 320 000 membros.
Embora ele tivesse efetivamente declarado guerra contra o estado, o governo
italiano não conseguiu dissolver o partido e ficou parado enquanto os fascistas tomaram a
maior parte do norte da Itália.
Mussolini viu sua oportunidade no verão de 1922. Os socialistas anunciaram uma
greve que, segundo escreve o historiador Ararat Gocmen, “não era em nome da
emancipação dos trabalhadores, mas era um grito desesperado para que o Estado
acabasse com a violência fascista”. Mussolini posicionou a greve como prova de que o
governo era fraco e incapaz de governar. Com novos partidários que queriam lei e ordem,
Mussolini decidiu que era hora de tomar o poder.

Ascensão do nazismo
Apesar da relevância do Sonderweg para justificar a ascensão nazista na Alemanha,
é sem dúvida durante a chamada República de Weimar que encontramos os principais
fatores para tal ascensão.
Em meio às cinzas da guerra e do império, a República de Weimar surgiu diante de
uma série de dificuldades econômicas para a Alemanha derrotada e o mundo em geral.
Naquele momento pela primeira vez a Alemanha experimentava uma forma de governo
democrática. Sendo assim, o país não tinha tradição alguma nesse modelo de governo.
Ficou evidente desde o início que a República de Weimar teria muitas dificuldades para se
estabelecer em um longo prazo. Isso não só porque o país não tinha uma tradição
republicana, mas também porque a República surgiu em um hiato de poder, sem ter bases
realmente sólidas.
Em função das sérias dificuldades econômicas do pós-guerra e das rigorosas
condições impostas pelos vencedores da Primeira Guerra no Tratado de Versalhes,
assinado em 1919, um profundo ceticismo em relação à República foi crescendo. O período
da República de Weimar foi marcado pela constante luta contra movimentos que
reivindicavam o poder. Comunistas, anarquistas e fascistas se alternavam em constantes
revoltas que só mostravam o quão frágil era a República. A verdade é que esses
movimentos demonstravam não somente a incapacidade dos governantes de resolver a
crise como a incapacidade que eles tinham de obter o apoio popular. Naquele momento,
fica evidente que a República que se instalou na Alemanha não representava efetivamente
os anseios populares. A insurreição comunista promovida pelos importantes líderes
comunistas Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht em 1919 foi o primeiro exemplo disso. O
governo respondeu de forma dura, assassinando os líderes do motim. A partir daí os mais
diversos movimentos dos mais diversos grupos ocorreram de forma sistemática na
Alemanha. Dentro desse cenário, tornou-se claro que o primeiro desses movimentos a se
organizar relativamente bem teria boas condições de obter o poder fosse por intermédio da
força ou do voto.
Ao final de 1923, a inflação na Alemanha também atingia níveis alarmantes, ao
ponto que o dólar chegou a valer trilhões de marcos alemães. É nessa conjuntura
econômica e social que ainda nesse mesmo ano, o Partido Nacional Socialista Alemão, do
até então desconhecido Adolf Hitler tentou tomar o poder usando a força. O golpe, que ficou
conhecido como “Putsch de Munique” fracassou, o que veio a adiar em uma década a
ascensão de Hitler e seus camaradas. Esses dez anos seriam de vital importância para que
os nazistas se reorganizassem e preparassem sua ascensão.
O Partido Nazista já vinha se reestruturando desde o fracassado Putsch da
Cervejaria29 em Munique e, com o relaxamento das sanções, se tornou ainda mais forte em
seu objetivo maior, o de governar a Alemanha.
O partido então já contava em seus quadros com nomes que em pouco tempo
ocupariam papéis importantíssimos no III Reich, como o de Joseph Goebbels, Hermann
Goering, Alfred Rosenberg, Rudolf Hess e Heinrich Himmler. Apesar dessa força crescente
do partido nazista, a recuperação econômica dos últimos anos vinha dando força à
República de Weimar. É quando em 1929, a quebra da Bolsa de Valores de Nova York,
levou a Alemanha novamente a clamar pelo fim da República. Shirer (1960), destaca que de
volta a crise, em um país cheio de ressentimentos e com a ascendente figura de Adolf
Hitler, os anos de República pareciam que chegariam ao fim. Os movimentos de
extrema-direita representados pelos nacionais socialistas e os de extrema-esquerda se
fortaleceram muito dentro da crise. O governo republicano havia perdido praticamente todo
e qualquer apoio popular, mas ainda assim von Hindenburg, conseguiu ser reeleito nas
eleições presidenciais de 1932.
A política alemã vinha sofrendo modificações aceleradas a partir de 1936. A
denúncia do Tratado de Locarno e a saída da Sociedade das Nações, liberou, a partir de
1936, a Alemanha para uma política de rearmamento de características espetaculares. Isto
permitiu a Hitler, em novembro de 1937, uma guinada que significava a passagem a uma
política exterior ativa. O objetivo sempre declarado de autodecisão dos alemães deveria ser
alcançado com meios pacíficos, mas, a partir daquele momento, implicaria o uso da ameaça
de guerra e sua efetiva utilização em caso de necessidade.
A retórica de Hitler começava a causar um impacto profundo no cenário político da
Alemanha. O país viveu uma crise econômica acentuada após o final da Primeira Guerra
Mundial, a República de Weimar demonstrava uma dificuldade acentuada de obter
legitimidade popular, o capitalismo mundial era contestado tanto por grupos de direita como
de esquerda, a Alemanha ainda não tinha assimilado a derrota na guerra. O discurso do
jovem partido nazista era tudo o que a Alemanha precisava para que a República
começasse a escrever suas últimas páginas. Através do partido, um sentimento que ainda
parecia adormecido na Alemanha, em função da política externa conciliadora da República
de Weimar, começava a ficar latente: o sentimento de revanchismo.
A população alemã ainda sofria os efeitos da derrota na guerra, mas não havia
demonstrado até aquele momento todo o rancor gerado principalmente por Versalhes.
Através dos movimentos de extrema direita, o povo escolheu seus vilões para aquela
derrota. Liberais, comunistas e judeus passaram a ser daí para frente escolhidos como
responsáveis não só pela derrota na batalha, mas principalmente pela postura passiva
alemã durante o Tratado de Versalhes.
O fortalecimento do partido e das ideias de extrema direita pela Europa fica claro
com a ascensão do Duce Benito Mussolini na Itália em 1922. A força do partido fascista
inspirou Hitler a seguir o mesmo caminho e tentar tomar o poder através da força através de
um golpe que teve início na cidade de Munique. Usando como justificativa a gravíssima
crise econômica que o país enfrentava naquele momento, Hitler buscava o poder pela
primeira vez, mas foi rapidamente reprimido pelo governo. O fracasso do movimento só
serviu para expor mais ainda o quão grave era a situação da República de Weimar e para
disseminar ainda mais as ideias nacionalistas socialistas. Hitler
Em meados dos anos 20 Goebbels se filiou ao partido. Com Goebbels à frente da
propaganda, a institucionalização do partido passou a ser definitivamente marcada pelo
desenvolvimento de culto, antes nunca visto à personalidade, tendo a figura de Hitler maior
que o próprio partido e mais adiante se tornaria maior até que a Alemanha. Movimentos
como a juventude Hitleriana, mostram a que patamar chegou o culto à figura de Hitler.
O dia 30 de janeiro de 1933 é um marco importantíssimo na história da Alemanha. É
nessa data que Adolf Hitler assume o papel de chanceler ao ser nomeado pelo presidente
Paul von Hindenburg. A partir desse momento e durante os 12 anos seguintes, a Alemanha
iria experimentar um dos regimes mais autoritários, mas ao mesmo tempo mais populares
de que se tem conhecimento.
Em paralelo a todas as mudanças de cunho político e social implementadas por
Hitler após sua ascensão e descritas no capítulo anterior, a Alemanha passou por
importantes transformações econômicas naqueles anos que se sucederam. Tendo sido
fortemente afetada pela crise internacional do capitalismo liberal pós crise de 1929, o novo
governo recolocou o país no caminho do crescimento econômico através de uma política
econômica intervencionista e um alto nível de investimento público em alguns setores da
economia.

A recuperação econômica da Alemanha nos primeiros anos do governo nazista (1933-38).


A estratégia para a retomada da economia alemã seria através de um forte
incremento dos gastos governamentais em obras públicas, e para isso o programa lançado
pelo governo permitia a utilização de recursos de origem privada, principalmente judeu, sem
prever nenhuma espécie de compensação financeira aos detentores de tais recursos.
Para legitimar tais ações, o governo soube utilizar-se em paralelo de uma ferramenta
poderosíssima, a propaganda de Goebbels. As ações implantadas foram não só uma
ferramenta econômica, mas também política e de propaganda. Em um país que
apresentava altos níveis de desemprego nos anos anteriores, o reaquecimento econômico
se tornou uma arma importante nas mãos do governo. Isso porque à medida que se
realizavam investimentos em infra-estrutura, eram implantadas políticas voltadas ao
trabalhador, principalmente os desempregados. Enquanto isso ocorria, uma maciça dose de
propaganda acompanhava tais medidas.

Os projetos em conflito nos anos 1930

Invasão da Manchúria pelo Japão (1931)


A Segunda Guerra sino-japonesa foi um conflito entre China e Japão iniciado em
1937 a partir do incidente da Ponte Marco Polo. Essa disputa estendeu-se até 1945, quando
o Japão se rendeu incondicionalmente aos Aliados após o lançamento das duas bombas
atômicas (a China compunha os Aliados juntamente com EUA, URSS e Reino Unido). Uma
característica dessa guerra foi a extrema selvageria dos japoneses contra os chineses
(militares e civis). Após oito anos de conflito, o resultado foi cerca de 20 milhões de mortos,
dos quais, aproximadamente, havia 18 milhões de chineses.
Os chineses contaram com ajuda de países ocidentais como Grã-Bretanha, França
e Estados Unidos. A Alemanha, que em 1936 assinou o Pacto Anti Comintern com o Japão,
chegou a enviar ajuda à China para cumprir acordos anteriores, mas em 1938 aliou-se
definitivamente com o Japão, que entraria para o Eixo Roma-Berlim em 1940. No entanto, o
envolvimento de potências ocidentais no conflito era indicativo do interesse dessas na
região. Sanções econômicas foram impostas aos japoneses, sobretudo pelos Estados
Unidos, motivando assim o ataque japonês ao território americano de Pearl Harbor, em
1941.
A região da Manchúria é uma das regiões mais industrializadas da China, sobretudo
no que respeita à indústria química, siderúrgica, têxtil, de papel e hidroelétrica. Na
agricultura produz linho, algodão, arroz, tabaco, legumes, cana-de-açúcar, entre outros
produtos.

O Tratado de Rapallo
Em 16 de abril de 1922, um evento que chocou as potências da Europa Ocidental.
Na cidade de Rapallo, perto de Gênova, a Rússia Soviética e a República de Weimar
assinaram um acordo sobre o estabelecimento de relações diplomáticas, a resolução de
todas as disputas e o estabelecimento de uma cooperação de longo prazo. Assim, ambos
os Estados, párias no cenário internacional, deixaram claro para a Entente que não
pretendiam permanecer em isolamento.
Os alemães e russos estavam passando por um período desagradável de sua
história. Os primeiros foram declarados os principais culpados da eclosão da Primeira
Guerra Mundial e estavam sob uma enorme pressão por reparações. Os russos, por sua
vez, estavam isolados do resto do mundo, pois apenas Afeganistão, Estônia e Letônia
reconheciam o recém-constituído “Estado dos trabalhadores e camponeses”.
As potências da Entente acreditavam que a Alemanha e a Rússia estavam
completamente sob sua influência e que Paris e Londres lhes ditavam as condições de
como sair daquela difícil situação. A reaproximação de dois Estados párias,
ideologicamente distantes, que até recentemente tinham sido inimigos no campo de
batalha, era algo completamente inesperado.
O tratado pôs fim ao isolamento diplomático de ambos os países, que se seguiram à
Revolução Russa de 1917 e ao fim da Primeira Guerra Mundial. Ele foi planejado como uma
espécie de eixo anti-Versalhes contra os países vencedores da Guerra, uma vez que tanto
Rússia como Alemanha haviam sofrido grandes perdas em termos territoriais e de poder
político após aquele Tratado.

Guerra Civil Espanhola (1936-1939)


A Guerra Civil Espanhola foi um conflito ocorrido na Espanha, entre os anos de 1936
e 1939, envolvendo os grupos republicanos e nacionalistas. Nesse conflito, as tropas
nazifascistas, lideradas por Adolf Hitler, da Alemanha, e Benito Mussolini, da Itália,
utilizaram seus novos armamentos bélicos como um “ensaio geral” para a Segunda Guerra
Mundial, que estava prestes a começar.
O estopim para essa guerra civil foi o golpe de Estado orquestrado por Francisco
Franco. As tropas governistas lutaram contra as tropas franquistas até a vitória de Franco,
em 1939, deflagrando o regime totalitário que ficou conhecido como franquismo.
As causas da Guerra Civil Espanhola foram:
● Chegada dos comunistas ao poder na Espanha influenciados pela União Soviética.
● Crise econômica e política que ameaçava a ordem social.
● Fortalecimento do movimento nacionalista, liderado pelo General Franco com apoio
dos nazifascistas.

Os grupos envolvidos na Guerra Civil Espanhola foram:


● Frente Popular: formada por comunistas, contando com apoio da União Soviética.
● Movimento Nacionalista: formado por conservadores e nacionalistas, liderados pelo
general Francisco Franco, recebendo apoio nazifascista.
A guerra teve fim em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, com a vitória
dos nacionalistas. Francisco Franco, aliado ao fascismo e ao nazismo, permaneceu no
poder durante todo o período da guerra e também depois, sendo chefe de Estado até 1975,
ano de sua morte.

A Segunda Guerra Mundial

Essa guerra ficou marcada por uma série de acontecimentos impactantes, como o
Massacre de Katyn, o Holocausto, o Massacre de Babi Yar e o lançamento das bombas
atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Fator que deu início à Segunda Guerra Mundial


O conflito se iniciou em setembro de 1939, quando o exército alemão invadiu a
Polônia, sob o comando de Adolf Hitler. França e Inglaterra se posicionaram contra o
governo da Alemanha e declararam guerra ao país.
O conflito dividiu o mundo em dois grupos: o Eixo composto pelos países da
Alemanha, Itália e Japão e os Aliados eram a Inglaterra, União Soviética (URSS), França e
Estados Unidos. Outros países se envolveram na guerra, porém, sempre sob o comando
dessas forças principais.
A Segunda Guerra Mundial pode ser dividida em três fases:
● As vitórias do Eixo (1939-1941): nesse período, o grupo conseguiu conquistar o
norte da França, a Polônia, Ucrânia, Iugoslávia, Noruega e o norte da África. Ficou
marcada pela supremacia das forças alemãs e japonesas no conflito. Os alemães,
por meio da blitzkrieg, conseguiram conquistar uma série de nações europeias. Os
japoneses, por sua vez, iniciaram sua expansão pelo sudeste asiático, conquistando
as colônias de britânicos, franceses e holandeses. Além disso, os japoneses
realizaram um ataque que causou grande prejuízo aos norte-americanos, em Pearl
Harbor.
● O equilíbrio das forças (1941-1943): após o bombardeio a Pearl Harbor, os
americanos passaram a lutar junto aos aliados. Isso promoveu um equilíbrio entre as
forças, a princípio, e depois reverteu a situação da guerra. É o momento em que o
quadro da Segunda Guerra começou a inverter-se. Os alemães foram barrados
pelos soviéticos na famosa Batalha de Stalingrado, e o poder de guerra dos alemães
começou a declinar. O mesmo aconteceu com os japoneses, que, após a derrota na
Batalha de Midway, perderam parte considerável do seu poder de guerra e foram
sendo derrotados lentamente pelos norte-americanos.
● A vitória dos Aliados (1943-1945): o Eixo entrou em uma fase de sucessivas
derrotas, que levou à vitória dos Aliados e à assinatura da rendição. Momento em
que os membros do Eixo são derrotados. As forças dos Aliados na Europa cercaram
os alemães e conduziram a invasão do território germânico na virada de 1944 para
1945. Os japoneses passaram a sofrer cada vez mais com os bombardeios dos
EUA. Internamente o país estava em colapso, mas a recusa dos japoneses em
renderem-se levou os americanos a atingirem o Japão com duas bombas atômicas.
A derrota do Eixo trouxe o fim à guerra.

Na verdade, a guerra foi resultado de uma crise que vários países do mundo
enfrentaram desde 1930. Para superar a pobreza e o desemprego, alguns desses países —
a Alemanha, o Japão e a Itália — procuraram conquistar riquezas e terras de povos
vizinhos. Assim, começaram a invadir e atacar diversas regiões, até que, no dia 1º de
setembro de 1939, quando a Alemanha ocupou a Polônia, estourou a guerra. Durante o
conflito, esses três países se aliaram, formando o grupo conhecido como Eixo.
Em 1940, os exércitos de Hitler conquistaram a Noruega, a Dinamarca, a Holanda, a
Bélgica e o norte da França. A Inglaterra, com o apoio dos Estados Unidos, conseguiu
resistir. E, em 1941, quando a Alemanha invadiu a União Soviética e o Japão atacou Pearl
Harbor, uma base dos Estados Unidos, a guerra passou a envolver intensamente vários
países do mundo. Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética se uniram contra o Eixo,
com o nome de Aliados. O Brasil juntou-se aos aliados em 1942, depois que teve navios
afundados por submarinos alemães.
De 1939 até 1942, os países do Eixo conquistaram imensos territórios, onde
implantaram a “Nova Ordem” nazista. Exploraram as riquezas e o trabalho das pessoas que
viviam nesses países, e foram responsáveis pela morte de milhões de judeus, ciganos e
eslavos, grupos que consideravam inferiores. Mas os países ocupados começaram a reagir,
organizando movimentos clandestinos e guerrilhas.
O fator decisivo para os Aliados venceram a guerra foi que os Estados Unidos e a
Inglaterra tinham muito mais dinheiro para manter seus exércitos do que os países do Eixo.
Esses recursos, associados ao enorme exército da União Soviética, fizeram com que os
países do Eixo recuassem. No dia 8 de maio de 1945, os Aliados foram enfim considerados
vencedores.

Pacto Molotov-Ribbentrop
O Pacto Germano-Soviético foi assinado em agosto de 1939. Ele pavimentou o
caminho para a invasão e ocupação conjunta da Polônia pela Alemanha nazista e pela
União Soviética em setembro daquele mesmo ano. O Pacto foi um acordo de conveniência
entre os dois grandes e amargos inimigos ideológicos. Ele permitia que a Alemanha nazista
e a União Soviética criassem esferas individualizadas de influência na Europa Oriental, ao
mesmo tempo em que as duas potências prometiam não se atacar por dez anos.
Entretanto, apenas dois anos após sua assinatura, Hitler lançou uma invasão contra a
União Soviética.
O Pacto Germano-Soviético possuía duas versões, uma pública e uma secreta. A
parte pública era um pacto de não agressão em que cada signatário prometia não atacar o
outro. Além disso, o Pacto também estabelecia que, caso uma das duas potências fosse
atacada por um terceiro país, o outro signatário não forneceria assistência de qualquer tipo
para o país atacador. Cada um ainda concordou em não participar de tratados com outras
potências que, direta ou indiretamente, prejudicassem o outro. O acordo de não-agressão
deveria durar dez anos e seria automaticamente renovado por cinco anos adicionais caso
nenhum dos signatários quisesse rescindi-lo.
A parte secreta do acordo era um protocolo que estabelecia as respectivas esferas
de influência soviética e alemã na Europa Oriental. Esse protocolo reconhecia a Estônia,
Letônia e Bessarábia como estando dentro da área de influência soviética. Os signatários
concordaram em dividir a Polônia seguindo as linhas dos rios Narev, Vístula e San.
Hitler via o Pacto Germano-Soviético apenas como uma manobra tática e
temporária. Ele nunca pretendeu manter os termos do acordo por dez anos conforme havia
sido acordado entre as partes. Seu plano de longo prazo sempre foi que as forças alemãs
atacassem a União Soviética, estabelecendo assim um Lebensraum (espaço vital) para os
alemães que seriam colocados nos territórios soviéticos apropriados pelos nazistas.
Todavia, antes de efetuar tal manobra, Hitler pretendia subjugar a Polônia e derrotar a
França e a Grã-Bretanha. O pacto de não-agressão permitia à Alemanha lutar nestas
guerras intermediárias sem temer um ataque soviético, evitando assim uma guerra em duas
frentes.
Em julho de 1940, um mês após a Alemanha derrotar a França, Hitler ordenou o
início dos preparativos para uma guerra contra a União Soviética. Os diplomatas alemães
trabalharam a fim de assegurar o flanco alemão no sudeste da Europa. Em novembro de
1940, a Hungria, a Romênia e a Eslováquia aderiram à aliança do Eixo. Durante a
primavera de 1941, Hitler informou a seus aliados europeus os planos de invasão da União
Soviética.
Em 18 de dezembro de 1940, Hitler assinou a Diretiva 21 (denominada “Operação
Barbarossa"), a primeira ordem operacional para a invasão da União Soviética. Desde o
início do planejamento operacional, tanto o sistema militar quanto às autoridades policiais
alemães pretendiam travar uma guerra de aniquilação contra o que percebiam como sendo
o governo comunista "judaico-bolchevique" da União Soviética, e também contra os
cidadãos soviéticos, em especial os judeus.
Em 22 de junho de 1941, as forças alemãs invadiram a União Soviética. Isto
aconteceu apenas dois anos após a assinatura do Pacto Germano-Soviético.

Operação Barbarossa
No dia em que Hitler ordenou que as tropas alemãs invadissem a URSS, na
madrugada de 22 de junho de 1941, há 80 anos, perdeu a Segunda Guerra Mundial. A
Operação Barbarossa, como foi batizada a invasão em homenagem ao imperador Frederico
I, tornou inevitável a derrota do nazismo, ainda que também tenha levado a guerra a um
nível de selvageria desconhecido até então: o objetivo do Terceiro Reich não era vencer
seus inimigos, e sim exterminá-los. Os quatro anos que restavam de conflito estão entre os
mais sangrentos da história, não somente nas frentes de batalha, e sim também na
retaguarda porque foi nesse momento em que começou o assassinato sistemático dos
judeus europeus.
As manobras militares nazistas começaram no front oriental, em direção aos
domínios soviéticos, em 22 de junho de 1941. Nos primeiros meses, os ataques nazistas
tiveram sucesso, dada a surpresa com que o Exército Vermelho de Stalin recebeu a notícia
de que estava sendo invadido por várias frentes ao mesmo tempo. A Wehrmacht (Forças
Armadas Alemãs) tinha agora dois fronts de batalha, atuando em praticamente toda a
Europa. Restou aos soviéticos defender suas posições estratégicas, com as cidades de
Moscou e Stalingrado. Nesse processo, a população civil soviética foi quem mais sofreu.
Uma das táticas de guerra usadas pela Wehrmacht, quando cercou as cidades
soviéticas, foi a imposição de requisição de alimentos aos civis. Muitos campos de cereais,
por exemplo, foram expropriados pelos nazistas para que as tropas tivessem reservas a fim
de permanecer nas batalhas sem precisar recuar. Milhares de ucranianos, russos, lituanos,
estonianos e demais povos da região morreram de fome por falta de comida.
Em seu delírio racial, o ditador nazista Hitler pensava que um país que considerava
povoado por Untermenschen (sub-humanos) seria subjugado em questão de semanas,
como havia ocorrido com a Polônia, França e os Países Baixos. O ditador soviético Josef
Stalin,desconfiado e impiedoso assassino de multidões, acreditou cegamente –contra
informações contrárias das quais dispunha– que a Alemanha não romperia o pacto de não
agressão que havia assinado dois anos antes. Seu Exército, dizimado durante os grandes
expurgos, não estava, de maneira nenhuma, preparado. O custo de vida desse terror é
impossível de ser medido; mas Hitler não soube calcular a imensidão do espaço soviético,
sua capacidade de produção industrial e as centenas de milhares de soldados de reforço
enviados para combater os confins da URSS.
No outono, as linhas de abastecimento alemãs começaram a se quebrar com
dezenas de milhares de soldados, seus cavalos e seus veículos presos na lama. O general
inverno russo inutilizou uma parte do armamento alemão, enquanto os soldados não tinham
roupas adequadas para temperaturas siberianas: como Hitler pensava que a ofensiva seria
questão de semanas, não pensou em equipamento especial para o frio, equipamento que
os soldados soviéticos possuíam. O fracasso na tomada de Moscou significou um ponto de
não retorno na ofensiva e na guerra.

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