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Resumos História A – 12º ano

Módulo 7 – Crises, embates ideológicos e mutações culturais na 1ª metade do século XX

Unidade 1 – As transformações das primeiras décadas do século XX

Um novo equilíbrio global

A 1ª guerra mundial (1914-1918, envolvendo os países Aliados – Inglaterra, França,


Rússia, EUA, Portugal, Sérvia…, contra as Potências Centrais – Alemanha, Império Austro-
Húngaro, Bulgária e Império Otomano), estabeleceu uma nova ordem internacional, que se
julgava capaz de garantir uma convivência pacífica entre os povos.

Em 11 de novembro de 1918, a Alemanha assinou o armistício, tendo os países


vencedores iniciado o ordenamento do espaço europeu e do médio Oriente. A Conferência de
Paz terminou com a assinatura de vários acordos, com destaque para o Tratado de Versalhes.
Este tratado viria a ser determinante para a História da Europa e do mundo nas décadas que se
seguiram.

A Alemanha foi o país mais visado pelo tratado de Versalhes: perdeu territórios (para
a Polónia, Dinamarca, Checoslováquia, Bélgica); foi obrigada a devolver à França as ricas
regiões da Alsácia e Lorena; ficou separada da Prússia Oriental pelo corredor de Danzig;
perdeu todas as suas colónias, a frota de guerra, parte da frota mercante; a sua capacidade
militar foi muito reduzida; a França, durante 15 anos, iria explorar as minas de carvão do Sarre
e a Alemanha foi obrigada a pagar elevadas indemnizações pelos danos e destruições da
guerra.

A geografia política após a 1ª Guerra Mundial (da Europa dos impérios à Europa dos Estados)

Após a guerra, verificou-se, na Europa, o triunfo e aumento dos regimes liberais, com
características democráticas, em detrimento dos regimes mais autoritários e conservadores.
Na sua grande maioria, os novos Estados constituíram-se como repúblicas parlamentares,
assentes no sufrágio universal.

O mapa político foi profundamente alterado: assistiu-se à desagregação dos impérios


alemão, austro-húngaro e otomano. Povos que viviam oprimidos nesses territórios,
alcançaram a independência (estados-nação): Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia, Áustria,
Hungria. Da queda do império russo, alcançaram a independência a Finlândia, Estónia, Letónia
e Lituânia; os países vencedores ampliaram as suas fronteiras.

No Médio Oriente, surgiu o Iraque, a Síria, o Líbano, Arábia Saudita…

A Sociedade das Nações

No último dos 14 pontos que serviram de base às negociações de paz, propostos pelo
presidente dos EUA, Wilson, era feito um apelo à formação de uma “organização geral das
nações”, o que veio a concretizar-se em 1919, com a SDN. Esta organização tinha como
objetivo fundamental desenvolver a cooperação entre as nações e garantir a paz e a
segurança. Eventuais conflitos que surgissem, seriam resolvidos pela SDN, através do Tribunal
Permanente de Justiça Internacional. Para os Estados que infringissem os acordos, eram
definidas sanções.

A ordem internacional saída da guerra não favoreceu o sucesso da SDN:

- Os tratados foram impostos pelos vencedores, não tendo os vencidos participado na


sua elaboração;

- a distribuição das reparações de guerra não agradou a muitos países, principalmente


aos “mais pequenos”;

- outros pretendiam ter ficado com mais territórios (Itália);

- a questão das minorias nacionais não foi completamente considerada: muitos povos
ficaram espalhados por vários países (por.ex, a Checoslováquia com milhões de alemães, a
Jugoslávia com eslovenos, sérvios, croatas…);

- os EUA nunca aderiram à SDN, descontentes com as pretensões hegemónicas dos


países europeus e com a asfixia imposta aos vencidos.

Neste contexto, revelou-se muito difícil à SDN desempenhar o seu papel de


organizadora da paz.

A difícil recuperação económica da Europa e a dependência em relação aos EUA

Para além das alterações geopolíticas atrás referidas, a 1ª Guerra Mundial também
provocou profundas transformações na situação económica e financeira da Europa:
- as elevadíssimas perdas humanas alteraram a demografia europeia (envelhecimento
da população), com efeitos na diminuição da mão de obra, fundamental para a recuperação
da economia;

- inúmeras perdas materiais, afetando todo o sistema produtivo: solos agrícolas


devastados, fábricas, casas, minas, vias de comunicação… “uma Europa em ruínas”;

- uma inflação galopante, devido ao excesso de procura face à oferta (aumento do


custo de vida, agravando a pobreza e a miséria). Muitos governos tentaram resolver o
problema aumentando a quantidade de moeda em circulação, só que isso não era
acompanhado pelo desenvolvimento da riqueza produzida – desvalorização monetária,
agravando ainda mais a inflação;

- agravamento do défice: crescente dependência da Europa dos empréstimos e


produtos estrangeiros, principalmente americanos. Com muitas importações e empréstimos
para se reconstruir, o défice dos estados europeus não parava de aumentar.

Se até à 1ª guerra mundial a Europa ainda podia ostentar a sua hegemonia industrial,
comercial e financeira, a partir de 1914 passou para uma irreversível situação de dependência
em relação aos EUA. Estes, que durante a guerra forneceram à Europa matérias-primas,
alimentos e armas, passam a contar, no fim do conflito, com um excelente mercado para
continuarem a colocar os seus produtos, bem como financiar a reconstrução da Europa.

Os capitais investidos proporcionavam altos rendimentos aos americanos. Cerca de


metade dos stocks mundiais de ouro concentravam-se nos EUA. Nova Iorque substituía
Londres como centro financeiro do mundo.

Foram os tempos da prosperidade americana (“os loucos anos 20”), marcada por
novos e incessantes progressos técnicos sob o signo da organização racional das empresas
(fordismo e taylorismo).

A implantação do marxismo-leninismo na Rússia

No início do século XX, a Rússia apresentava características típicas de um país do


Antigo Regime: politicamente, era governada de forma autoritária por um czar (Nicolau II).
Este, era apoiado pela velha aristocracia da Igreja e da nobreza, aos quais distribuía cargos,
terras e outros privilégios. A burguesia era pouco numerosa, muito por culpa do atraso
económico do país: predominava uma agricultura pouco desenvolvida e pouco produtiva. Os
camponeses e os operários viviam na pobreza e na miséria, sujeitos a duras condições de
trabalho. O comércio fazia-se com muitas dificuldades, devido à escassez de produtos e às
fracas vias de comunicação e transporte, num território tão vasto.

Assim, o descontentamento era quase generalizado entre a população russa,


conjuntura favorável a uma revolta. Já em 1905 ocorrera o “Domingo Sangrento” - onde
manifestantes pacíficos marcharam até ao Palácio de Inverno para apresentar uma petição ao
czar Nicolau II (pedindo melhores condições de trabalho) e foram baleados pela Guarda
Imperial. Para apaziguar os ânimos, o czar deu sinais de maior abertura, criando a Duma
(Parlamento).

A entrada da Rússia na 1ª Guerra Mundial, agravou a situação económica e social do


país. A oposição ao regime czarista não parava de crescer.

Fevereiro de 1917 – a revolução burguesa

Perante a conjuntura económica, política e social da Rússia, vários movimentos


políticos iam-se afirmando: uns inspirados no liberalismo burguês típico dos países ocidentais
e outros inspirados na ideologia socialista (Partido Operário Social-Democrata Russo, dividido
em Mencheviques e Bolcheviques). Estes últimos, maioritários, eram adeptos da revolução do
proletariado, inspirando-se nas teorias de Karl Marx.

Em fevereiro de 1917, a cidade de Sampetersburgo foi palco de várias manifestações


populares, greves e motins. O descontentamento chegou a outras cidades e foi aproveitado
pela burguesia liberal para exigir o fim do regime czarista, o que se concretizou. O novo
governo adotou um modelo democrático parlamentar de tipo ocidental, preparando eleições
e a elaboração de uma Constituição.

O novo governo, liderado por Kerensky, opta por manter a Rússia na 1ª Guerra
Mundial.

Outubro de 1917 – a revolução socialista


O fim da repressão típica do regime czarista, proporcionou o regresso de
muitos presos políticos e deu liberdade para intensificar as ações de propaganda, agora
também dirigida contra o poder burguês.

Nesta conjuntura, os sovietes (assembleias de operários, camponeses, soldados e


marinheiros) reorganizaram-se e espalharam-se por toda a Rússia. Muitos desses sovietes
eram constituídos por bolcheviques, opondo-se ao governo burguês e incentivando à revolta
do proletariado. Eram contra a permanência da Rússia na guerra. Em outubro, tomaram o
poder, pela via armada, sob a direção ideológica de Lenine e militar de Trotsky.

A democracia dos Sovietes

Os primeiros decretos revolucionários, deram aos sovietes o controlo da vida


política e económica da Rússia (as terras e as fábricas passavam a ser geridas pelos
trabalhadores, abolindo-se a propriedade privada): o decreto sobre a terra aboliu, sem
indemnizações, a grande propriedade, entregando-a a sovietes camponeses e o decreto sobre
o controlo operário atribuía a estes a gestão das empresas.

Sob a direção de Trotsky, a Rússia assinou, em março de 1918, a saída da 1ª Guerra


Mundial (tratado de Brest-Litovsk). Este tratado revelou-se desastroso para o país: perdeu
territórios (Estónia, Letónia, Lituânia e a Finlândia), ¼ da população e das terras cultiváveis e ¾
das minas de ferro e carvão.

O rumo da revolução desagradava a alguns grupos: desde logo aos proprietários e


empresários, descontentes com a perda dos seus bens económicos.

Iniciou-se, em 1918, uma guerra civil, entre os bolcheviques (transformados em


partido comunista) – exército vermelho, e os opositores – exército branco (apoiados pelos
países capitalistas).

O comunismo de guerra

Foram abandonados os decretos que permitiram a democracia dos sovietes:


toda a economia foi nacionalizada. Obrigaram-se os camponeses a entregar as colheitas ao
Estado. Os bancos, o comércio interno e externo, a frota mercante e as empresas com mais de
5 operários foram nacionalizadas.
Lenine, entretanto, tomou uma série de medidas de caráter ditatorial: abolição dos
partidos políticos (exceto do Partido Comunista), dissolução da Assembleia Constituinte,
proibição de jornais “burgueses” (censura), criação de uma polícia política (Tcheca), para
prender e punir os opositores (“terror vermelho”).

O centralismo democrático

Para Lenine, democracia significava o exercício do poder por parte do povo


(operários, camponeses, soldados e marinheiros). Por isso, em todas as fases da revolução,
não “abandonou” o termo democracia.

Em 1922, a Rússia converteu-se na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

O poder passou a estar centralizado no Estado, confundindo-se este com o Partido


Comunista. Era considerada uma organização democrática porque se baseava no sufrágio
universal, em que os níveis intermédios elegiam os níveis superiores (ver esquema da página
33).

A Nova Política Económica (NEP)

Os bolcheviques venceram a guerra civil. Todavia, em 1920, a Rússia era um


país economicamente arruinado. Os níveis de produção agrícola e industrial eram inferiores
aos anteriores à 1ª Guerra Mundial. A miséria e a fome ameaçavam a revolução.

Revelando grande pragmatismo, Lenine vai colocar em prática um programa


económico (NEP), para a recuperação económica do país: com a NEP, verifica-se um recuo
ideológico, uma vez que aceita a iniciativa privada em setores secundários, mas essenciais da
produção, mantendo nacionalizados os setores fundamentais da economia (comércio externo,
banca e empresas com mais de 20 operários). Aos camponeses era permitida a
comercialização de excedentes no mercado interno (para estimular a produção), foram
permitidos investimentos estrangeiros e a entrada de técnicos especializados… Lenine
empreendia um recuo que ele próprio considerava estratégico: a cedência, em parte, ao
capitalismo, sob o controlo do Estado, poderia ajudar à consolidação da revolução.

Em 1927, já se tinham reposto e até ultrapassado os níveis de produção anteriores à


Grande Guerra. Falecido em 1924, Lenine já não pôde assistir aos resultados da NEP.
A regressão do demoliberalismo

Triunfante no século XIX, o liberalismo conduziu à afirmação das democracias


parlamentares. Era o modelo político cada vez mais adotado no ocidente europeu e afirmou-se
ainda mais após a 1ª Guerra Mundial. No entanto, o quadro económico e social vivido no pós-
guerra (desvalorização do património da burguesia, com muitas falências, classe média com
muitas dificuldades, e os trabalhadores mergulhados na miséria, muito desemprego,
inflação…), viria a dificultar a consolidação dos regimes liberais. Assim, sentia-se um
sentimento de desconforto e de agravamento das tensões, que conduziriam à revolta.

O impacto do socialismo revolucionário

O liberalismo favorecia a formação de novos partidos, muitos deles de inspiração


socialista. Ao mesmo tempo, os sindicatos intensificavam a sua ação na denúncia dos males
do capitalismo, ganhando adeptos para a causa proletária.

Vivia-se o triunfo do socialismo na Rússia. Em 1919, o movimento operário fundou a III


Internacional, o Komintern, com objetivos bem claros: aproveitar os efeitos catastróficos da
guerra para expandir o socialismo. Promover a união da classe operária a nível internacional
para impor o socialismo marxista-leninista.

Em consequência, ao longo dos anos 20, a Europa foi sacudida por uma vaga
revolucionária que evidenciava as dificuldades dos regimes liberais. Inspirados na revolução
russa, países como a Alemanha, a Hungria e a Itália, viveram momentos de contestação e
revolta, todas elas fracassadas.

A emergência dos autoritarismos

Perante a ameaça do comunismo, começaram a eclodir na Europa, no início da


década de 1920, movimentos de extrema-direita (onde preponderavam a classe média e os
burgueses proprietários), lançando violentas campanhas anticomunistas, apelando ao orgulho
nacional, organizam e armam milícias populares, preparando-se para a luta política.
Aproveitando a péssima conjuntura económica e social do pós-guerra, estes
movimentos denunciavam a incapacidade dos governos democráticos para resolverem a crise
e afirmam que o parlamentarismo só traz instabilidade, com as constantes lutas partidárias.

É neste contexto, que se assiste ao triunfo de regimes totalitários: na Hungria, na


Itália, na Turquia, na Espanha, na Albânia e em Portugal. Mas era a evolução política na
Alemanha que pronunciava consequências mais trágicas: Hitler e o partido Nazi ganhavam
cada vez mais adeptos.

Mutações nos comportamentos e na cultura

As transformações da vida urbana

Nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX, as cidades vão
conhecer um crescimento assinalável, surgindo grandes metrópoles, com milhões de
habitantes. Muitos destes, vindos de zonas rurais, estão completamente desenraizados, tendo
de se adaptar a tudo: novos hábitos, novo trabalho, novo ritmo de vida… Assim, as
solidariedades típicas do mundo rural, “onde todos se conhecem”, desaparecem, dando lugar
a relações marcadas pelo anonimato e pelo individualismo.

Uma das novidades da nova sociabilidade urbana é a cultura do lazer, proliferando os


espaços públicos como cafés, esplanadas, jardins, salões de baile, clubes recreativos, cinemas,
recintos desportivos…, locais frequentemente cheios de pessoas (massificação da cultura).

O desenvolvimento dos meios de comunicação (imprensa, rádio…) deu um grande


impulso à cultura de massas. A cultura, ao contrário dos séculos anteriores, deixava de ser um
privilégio das elites ricas e intelectuais, passando a ser consumida pela maioria das pessoas.

As populações urbanas procuram viver de forma intensa e frenética, “os loucos anos
20”, caracterizados pelo aparecimento de novos divertimentos (desportos, dança – Charlton,
Foxtrot – música – jazz). São os tempos da moda, intensamente vivida pelas mulheres, tudo
isto para escândalo dos mais conservadores e puritanos.

A crise dos valores tradicionais

Nos inícios do século XX, a Europa mostrava-se ao mundo como uma montra
de prosperidade económica e bem-estar social. Os avanços na ciência e na técnica faziam crer
que a prosperidade alcançada jamais teria fim. Eram os tempos da “Belle Époque”.
Subitamente, entre 1914 e 1918, tudo ruiu. A guerra veio pôr em causa todas as certezas e
todo o otimismo das décadas precedentes.

De repente a Europa vivia sentimentos de medo, incerteza, inquietação, pessimismo e


desespero. Os velhos pilares em que assentara a ordem europeia foram profundamente
abalados, colocando em causa valores relacionados com a família, com o casamento, a moral
sexual, crenças religiosas... As regras de conduta social deixaram de ter um padrão rígido,
passando a estar abertas e muitas das vezes sendo subvertidas (desrespeitadas). Instalava-se
um clima de anomia social (ausência de normas morais e sociais estáveis e consistentes).

A emancipação feminina

A crescente presença da mulher em todos os setores da vida económica, mais notada


durante a 1ª Guerra Mundial (quando passou a ocupar lugares exclusivamente destinados aos
homens), proporcionou-lhes alguma independência financeira mas principalmente o ganhar
de consciência do seu papel na sociedade, o qual não tinha correspondência nos direitos
sociais e políticos.

Os movimentos feministas remontam ao século XIX, mas é nas 1as décadas do século
XX que se intensificaram. Desta luta resultaram várias vitórias para as mulheres: o direito a
votar e de ocupar cargos políticos (movimentos sufragistas), igualdade no trabalho (salário…) e
na família (tutela dos filhos…), frequentam as festas, clubes noturnos, viajam sozinhas,
praticam desporto, fumam e bebem livremente e em público, preocupam-se com a moda
(mais ousada), passam a usar cabelo curto (à garçonne), adotam o soutien…

A descrença no pensamento positivista e as novas conceções científicas

No século XIX, o pensamento positivista estabelecera uma confiança absoluta no


poder do raciocínio e da ciência, que considerava capazes de desvendar todos os mistérios do
Universo. Acreditava-se num mundo regido por leis claras e objetivas, mesmo nas ciências
sociais e humanas.

No início do século XX, vão-se começar a valorizar outras dimensões do


conhecimento: por exemplo, Henri Bergson, afirmou que algumas realidades só podem ser
conhecidas através da intuição. Ou seja, um conhecimento assente em probabilidades, em
que a certeza é impossível

Os próprios avanços da ciência confirmaram a ruína do pensamento positivista:


descobriu-se que o átomo não era a unidade mais pequena da Natureza (teoria quântica).
Revelava-se um mundo onde não existem regras fixas…

No entanto, foi Einstein e a sua Teoria da Relatividade, quem protagonizou a maior


revolução científica no início do século XX: abriu caminho para a subjetividade do
conhecimento: o sujeito que conhece impõe-se ao objeto que é conhecido. Assim, todo o
conhecimento seria uma construção subjetiva, que nunca poderá ser absoluta, uma vez que
está condicionado pelas emoções do sujeito que conhece.

As conceções psicanalíticas

Neste campo destacou-se Freud, com a criação da Psicanálise, mostrando a


importância do inconsciente no comportamento humano. Freud chegou à conclusão que o
comportamento do Homem também é comandado por impulsos inconscientes, escondidos
na profundidade da mente humana.

Segundo a Psicanálise, o psiquismo humano encontra-se estruturado em 3 níveis: o


consciente, o subconsciente e o inconsciente. O consciente representa apenas uma pequena
parte da mente, em oposição ao inconsciente, camada profunda, mas dificilmente
penetrável.

As vanguardas: ruturas com os cânones das artes e da literatura

A crise do pensamento positivista e as novas conceções científicas também


influenciaram o mundo da cultura nas primeiras décadas do século XX. Assim, grupos de
artistas, na sua maioria desconhecidos, vão iniciar um conjunto de experiências inovadoras,
que acabaram por revolucionar as velhas conceções plásticas e literárias, propondo uma
estética inteiramente nova.

Modernismo foi o nome pelo qual ficou conhecido o movimento estético e literário do
início do século XX.
Fauvismo: surgiu em 1905, em Paris (salão de Outono).

É um movimento pouco intervencionista. Os seus praticantes recusaram tratar


questões de índole psicológica (expressão de sentimentos) ou social (critica à sociedade).
Recusaram os cânones da pintura tradicional, abandonando o traçado rigoroso da perspetiva
e a pormenorização das formas.

O fauvismo é a exaltação da cor: recurso a cores fortes e intensas, aplicadas de forma


aparentemente arbitrária, com total liberdade. É a cor que, ao desenvolver-se em grandes
manchas, delimita planos, com pinceladas curtas ou mais estendidas. Pela primeira vez, a cor
autonomiza-se completamente do real: não tem que concordar com a cor do objeto, mas
refletir a sua essência, tal como se revela aos olhos do pintor.

Principais pintores: Henri Matisse, André Derain, Maurice de Vlaminck.

Expressionismo: surgiu em 1905, em algumas cidades alemãs (grupo Die Brücke).

Surge como uma tentativa de abalar o conservadorismo em que vegetava a arte e um


grito de revolta individual, contra uma sociedade excessivamente moralista e hierarquizada,
com medo de expressar inquietações da alma, abafadas por normas e preconceitos.

Utilização de grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas livremente


(tal como no fauvismo). Mas, ao contrário dos fauvistas, os expressionistas desenvolviam uma
temática pesada, que privilegiava a angústia, o desespero, a morte, a miséria social, o sexo…,
visando denunciar o mal-estar vivido nas primeiras décadas do século XX.

Para obterem maior expressividade, os pintores distorciam o que representavam,


dando-lhe frequentemente uma forma caricatural. Davam uma forte tensão emocional aos
seus quadros, obtida por formas distorcidas e cores intensas, transmitindo sensações de
desconforto, repulsa e mesmo angústia.

Principais pintores: Ernest Kirchner, Emil Nolde, Auguste Macke, Otto Dix.

Cubismo: França, início do século XX.

Fortes influências do geometrismo de Cézane, que resultaram na geometrização dos


volumes mas, principalmente, na destruição completa das leis da perspetiva. Os cubistas
consideravam que a perspetiva tradicional mostrava apenas uma parte da realidade. Assim,
pretenderam uma visão total dos objetos representados, mostrando-os, em simultâneo, de
frente, de lado, por cima, por baixo…, ou seja, vários planos que se justapõem (o pintor
convencional pinta o que vê, o cubista pinta o que sabe que existe, mas que só se poderia ver
em momentos sucessivos) – fase do cubismo analítico, em que há uma separação entre a
representação figurativa e a sua realidade natural (os objetos representados são pura criação
subjetiva, o que leva muitos a considerarem o cubismo como precursor do abstracionismo). As
cores utilizadas limitam-se ao azul, cinzento e castanho.

Na fase do cubismo sintético, há menos abstração: regressa a cor, à qual se juntam


outros materiais (fragmentos de papel, areia, tecidos, cordas, cartão…), para acentuar a
essência e a verdade das representações.

Principais pintores: Picasso, Braque, Délaunay.

Abstracionismo: surge a partir de 1910. É a pintura liberta de todas as preocupações


representativas – o objeto desaparece totalmente, resultando num conjunto, harmonioso ou
não, de cores, linhas e formas que, aparentemente, nada representam, a não ser a emoção
ou o estado de espírito do seu criador.

Ao representarem emoções, os abstracionistas colocam na tela o seu mundo interior,


uma realidade subjetiva, oculta e mais profunda, prenunciando o surrealismo.

Podemos dividi-lo em abstracionismo lírico (de Kandinsky) e o geométrico (de Piet


Mondrian). O lírico evidencia complexos jogos de cores fortes e complexas combinações de
linhas. As pinturas são executadas com total liberdade e são expressão da interioridade do
pintor e afirmação da sua originalidade na criação. No geométrico, procurou-se simplificar,
reduzindo a natureza aos seus elementos básicos (linhas retas, as mais puras, e cores
primárias). Mondrian pretendia que a arte ajudasse a construir um mundo melhor,
suprimindo da obra toda a emotividade pessoal e tudo o que é efémero e acessório.

O futurismo: surgiu em 1909, em Itália. Repudia os valores do passado, reivindicando


o valor do futuro. Propuseram a destruição de tudo o que era clássico e tradicional (museus,
academias,…). Cultivaram temáticas típicas do mundo moderno- a cidade, as luzes elétricas, as
máquinas, os aviões, os automóveis, a beleza da velocidade, da dinâmica e do movimento.

Principais pintores: Boccioni, Carrá, Severini, Balla.


O dadaísmo: surgiu em 1916, na Suíça. É um estilo irreverente, crítico e provocatório,
negando todas normas morais. O objetivo dos dadaístas era negar todos os conceitos de arte
e técnicas artísticas. Para os dadaístas a arte era a antiarte. Por isso, optaram por não
respeitar os valores estabelecidos, através de práticas propositadamente provocatórias, que
passavam pela obscenidade, pelo insulto e pela agressão.

Para desmitificar a obra de arte inventaram os ready-made (elevar um objeto comum


`categoria de obra de arte).

Principais pintores: Marcel Duchamp, Picabia, Breton e Hans Harp.

O Surrealismo: desenvolveu-se em França, com estreita ligação ao pensamento de


Freud. Assim, as obras surrealistas são dominadas pela expressão da interioridade ao nível do
inconsciente. As obras retratam o irracional, o sonho e o desejo (patente em referências
sensuais, muitas vezes com forte carga erótica).

Principais pintores: Salvador Dali, Marc Chagall, René Magritte e Joan Miró.

Portugal no primeiro pós-guerra

As dificuldades económicas e a instabilidade política e social; a falência da 1ª


República

O triunfo do republicanismo em 5 de outubro de 1910, criou esperanças de resolução


dos graves problemas económico-financeiros e sociais do país. No entanto, tal não se viria a
confirmar, muito pelo contrário, esses problemas agravaram-se.

As dificuldades económicas e financeiras: a economia continuava a assentar na


agricultura, a qual não evidenciava grandes desenvolvimentos técnicos. No norte do país,
predominavam os minifúndios, que dificultavam os grandes investimentos. No centro e sul,
predominavam os latifúndios, mas a pobreza dos solos não atraía investidores.

A indústria, pese embora o surto verificado na 2ª metade do século XIX, continuava a


não satisfazer as necessidades internas. A debilidade dos transportes e comunicações (apesar
da política de Fontes Pereira de Melo no século XIX) continuava a emperrar a constituição de
um amplo mercado interno.

A balança comercial apresentava um elevado défice. A escassez de produtos fazia


aumentar os preços (inflação). A moeda desvalorizava, o que fazia aumentar ainda mais a
inflação (fenómeno semelhante ao vivido na generalidade da Europa no pós guerra). A dívida
pública não parava de aumentar.

A instabilidade política: logo no início da República, vieram ao de cima as divergências


dentro do Partido Republicano, provocadas pelas ambições pessoais de chegar ao poder.
Formaram-se vários partidos, que transportavam para o Congresso (Parlamento) as suas
divergências e rivalidades, com discussões fúteis.

 A Constituição de 1911, tinha instaurado um regime parlamentar. De facto, o


Congresso era o órgão político com maior preponderância: a ausência de maiorias fazia com
que os governos caíssem rapidamente. Em 16 anos iria haver 45 governos! Os Presidentes da
República também eram derrubados (até 1926 só por uma vez um Presidente cumpriu todo o
mandato).

Nesta conjuntura, os governos republicanos deixavam transparecer uma cada vez


maior inoperância em resolver os problemas do país.

A 1ª Guerra Mundial agravou a instabilidade política. Mas antes de Portugal entrar


neste período, o General Pimenta de Castro dissolvia o parlamento e instalava uma ditadura
militar. Sidónio Pais, destituiu o presidente da República, dissolveu o Congresso e fez-se eleger
como presidente. Sidónio apoiou-se nas forças mais conservadoras da sociedade portuguesa,
nomeadamente nos monárquicos. Foi visto como um salvador da pátria. Os monárquicos
aproveitaram-se da desagregação dos partidos republicanos e ensaiaram uma Monarquia do
Norte!

A instabilidade social: as dificuldades económicas, financeiras e a instabilidade


política, criaram condições para um quadro social de agitação e protesto. Desde o início da
República que vários setores da sociedade se mostravam descontentes – principalmente os
adeptos da monarquia e os membros do clero (recordar as medidas anticlericais tomadas
pelos primeiros governos republicanos). No entanto, mesmo os setores sociais que haviam
depositado esperanças na República, mostravam-se profundamente desiludidos com a
evolução do país e com a incapacidade dos republicanos para resolver os problemas : o
desemprego, a inflação e a desvalorização da moeda faziam aumentar o custo de vida,
agravando as condições de vida das classes médias e do proletariado.

A agitação social estava patente nas manifestações e greves que se sucediam a ritmo
elevado. Atos de violência, terrorismo e de vandalismo faziam piorar a situação do país.

Com este cenário, levantavam-se vozes a pedir um governo forte, autoritário, capaz
de repor a ordem.

Assim se compreende a facilidade com que a 1ª República caiu, em 28 de maio de


1926, através de um golpe militar, chefiado pelo general Gomes da Costa, instituindo um
regime de ditadura militar.

Tendências culturais em Portugal: entre o Naturalismo e as Vanguardas. O


Modernismo em Portugal

Nos inícios do século XX, em Portugal, a produção literária e artística estava ainda
muito marcada pelo classicismo racionalista e naturalista, que evidenciavam forte
resistência à inovação.

Todavia, após a implantação da República, as novas propostas estéticas e literárias


começam a chegar ao nosso país, com o aparecimento dos primeiros movimentos de
vanguarda. Artistas e escritores começaram a contestar a velha ordem, o marasmo
intelectual – era o modernismo. Caracterizou-se pelo culto da modernidade que dominou a
mentalidade contemporânea. Os seus seguidores privilegiavam a novidade relativamente ao
estabelecido, a aventura face à segurança.

Em 1915, surge o 1.º Grupo Modernista, iniciado e impulsionado pela revista 


«Orpheu»  com Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros.

A revista  «Orpheu»  escandalizou o público que se mostrou chocado com as inovações


que punham em causa o academismo tradicional. Surgiram apenas 2 números da revista, mas
a estética modernista publicou outras revistas como  «Portugal Futurista», em 1917 (n.º
único). Fernando Pessoa destaca-se com a sua criatividade poética que se transmite através do
seu desdobramento em várias personagens (heterónimos) dos quais os mais conhecidos são
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.
O 2.º grupo modernista desenvolve-se entre 1927 e 1940 (Ditadura Militar e Estado
Novo), em torno da revista «Presença». Destacam-se Miguel Torga, José Régio e Aquilino
Ribeiro e Ferreira de Castro.

Nas artes plásticas, no início do século XX, dominava em Portugal a pintura figurativa
que tinha a sua expressão no pintor José Malhoa. A situação alterou-se quando, em 1911 e
depois em 1914, vários pintores e escultores portugueses que se encontravam em Paris
regressam ao país, fugindo da guerra, trazendo consigo novos valores estéticos. Foi o início do
modernismo em Portugal. Entre outros, vieram de Paris, Dórdio Gomes, Diogo de Macedo,
Francisco Franco, Amadeu de Souza-Cardoso, Santa-Rita Pintor, Eduardo Viana. A eles se
juntou Almada Negreiros.

Na década de 1920, destaca-se a «segunda geração de Paris», designação dada aos


artistas que, terminada a guerra, retornam a Paris ou para aí vão pela primeira vez. Partem
Dórdio Gomes, Diogo de Macedo, Abel Manta (grande retratista) e Almada Negreiros.

Com pouca expressão, também podemos encontrar as tendências modernistas na


escultura (menos naturalista) e na arquitetura (predomínio de linhas retas).

Unidade 2 – O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 30

A Grande Depressão e o seu impacto social

As origens da crise: na década de 1920, a sociedade americana acreditava que a fase


de prosperidade económica não iria ter fim. A elevada produção era acompanhada por um
elevado consumo. No entanto, a meio dessa década já se faziam sentir alguns sinais
preocupantes: muito do consumo era mantido de forma artificial, pois era feito com recurso
ao fácil crédito bancário (estava na moda o “compre agora, pague depois”). Alguns setores já
não conseguiam vender toda a produção, começando a acumular stocks (superprodução). A
crédito também se adquiriam muitas ações das empresas cotadas em Bolsa: a expetativa de
um lucro fácil e rápido, levava muitos americanos a investir na Bolsa. Aqui, crescia a
especulação, levando a uma valorização excessiva e irreal da cotação de muitas empresas.
A dimensão financeira, económica e social da crise: foi na Bolsa de Nova Iorque, em
Wall Street, que a crise se iria manifestar – no dia 24 de outubro de 1929 (“5ª feira negra”),
cerca de 13 milhões de ações foram postas à venda a preços baixíssimos. Mesmo assim, não
encontraram comprador. Poucos dias depois foi a vez de 16 milhões de ações terem o mesmo
destino. Esta catástrofe financeira ficou conhecida como o “Crash” de Wall Street.

A ruína dos acionistas significou a ruína de muitos bancos, pois quem tinha pedido
créditos não tinha agora possibilidades de os pagar. Muitos bancos também eram detentores
de ações de empresas. Faliram milhares de bancos nos EUA.

Esta crise financeira agravou ainda mais a crise económica: com as falências
bancárias, a economia paralisou, pois agora as empresas já não podiam recorrer ao crédito
para e capitalizarem. Isto originou ainda mais falência de empresas, principalmente das que
tinham uma frágil situação financeira.

A diminuição do consumo fazia com que os preços continuassem a descer (conjuntura


de deflação). Na agricultura, muitos proprietários ficaram arruinados, muitas produções eram
destruídas.

O desemprego disparou para mais de 12 milhões de americanos em 1933. Num ciclo


vicioso, o desemprego arrastava consigo uma maior diminuição do consumo e mais
falências…!!!

Outras consequências sociais: proliferação da miséria, da delinquência, corrupção e


criminalidade. O sonho americano parecia desmoronar-se…

A mundialização da crise

A crise propagou-se às economias dependentes dos EUA: aos países que


forneciam alguns produtos mas principalmente matérias-primas aos americanos e aos países
europeus que estavam a basear a sua reconstrução nos créditos americanos. A retirada destes
capitais significou a falência de muitas empresas e bancos europeus.

A conjuntura deflacionista duraria vários anos: diminuição dos investimentos, da


produção, dos preços, dos salários, do consumo…

O comércio a nível mundial teve uma grande quebra. Os políticos tomaram algumas
medidas que se revelavam desastrosas: por exemplo, os americanos aumentaram quase para
o dobro os impostos aplicados aos produtos que exportavam (muito países ficaram sem
capacidade para os adquirir). Outro exemplo: diminuir salários – não ajudava à retoma do
consumo.

As opções totalitárias

No mundo ocidental, politicamente, o século XX ficou marcado pelo demoliberalismo


(regimes democráticos, que respeitam as liberdades e garantias individuais, a igualdade, a
divisão de poderes e o sufrágio universal). A vitória dos Aliados na 1ª Guerra Mundial parecia
dar mais um impulso a este tipo de regimes.

Todavia, a crise económica do pós-guerra e a agitação social, ajudaram ao


aparecimento de regimes totalitários, que acabaram por obter forte adesão popular. Os
regimes totalitários mais paradigmáticos foram o regime fascista de Mussolini, em Itália e o
regime nazi de Adolf Hitler, na Alemanha.

Totalitarismo: sistema político no qual o poder se concentra numa só pessoa ou


partido único, cabendo ao Estado o controlo de todos os aspetos da vida (Estado omnipotente
e omnipresente). Mussolini afirmou. “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do
Estado”.

Os regimes totalitários rejeitam:

- o individualismo: os direitos individuais têm de estar submetidos ao interesse da


coletividade (do Estado);

- a liberdade: que pode dividir e enfraquecer o grupo;

- o princípio da igualdade: existem raças superiores, que nasceram para governar e


comandar;

- o princípio da fraternidade: estes regimes contêm em si a guerra;

-a democracia parlamentar: pois este regime assenta no respeito pela vontade


individual, que se faz ouvir nas eleições e nos parlamentos. A seguinte frase de Hitler mostra
bem o quanto desconfiava das escolhas feitas individualmente no sufrágio universal – “existem
mais probabilidades de fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que descobrir
um grande homem numa eleição”;
-o pluripartidarismo: que gera divisões e discussões inúteis que põem a causa a coesão
nacional;

- o socialismo/comunismo: que assentam na luta de classes, que enfraquecem o


grupo, o dividem e excluem algumas classes (burguesia capitalista).

Os regimes totalitários defendem:

- um nacionalismo fervoroso: exaltação das glórias da pátria (do passado). Consideram


a Nação um valor sagrado. Esta defesa dos valores nacionais, quando levados ao extremo,
estará na origem de guerras e conflitos contra outros povos;

- o imperialismo: a nação, sendo superior, deve ser ambiciosa e expandir-se através


das conquistas militares, para subordinar as nações inferiores;

-o partido único: dirigido pelas elites superiores;

- o culto do chefe: o guia, o salvador da pátria, (o “Duce” na Itália e o “Führer na


Alemanha) que personifica o Estado. A sua imagem é difundida por toda a parte, é adorado
como um “deus”. Foram promovidos à categoria de heróis, devendo ser seguidos sem
hesitações.

- o corporativismo: o sistema produtivo estava organizado em corporações, para evitar


as tensões e as lutas entre patrões e trabalhadores. Deste modo, estavam unidos nas
corporações, supervisionadas pelo Estado. Este serve de mediador, permitindo planificar e
gerir as atividades económicas, dispensando os sindicatos (na Itália de Mussolini, só era
reconhecido um sindicato nacional, para patrões e operários).

O enquadramento das massas: a arregimentação (agrupar, associar) submissa da


população (para uma obediência cega ao regime), constituiu um dos principais meios de
afirmação dos totalitarismos. Por isso, os ideais fascistas eram desde cedo incutidos nos
jovens: as crianças ingressavam em organizações, onde receberiam uma educação para
formar cidadãos submissos, fiéis e servidores do partido e do Estado.

Na Itália, aos 4 anos, as crianças ingressavam nos “Filhos da Loba” (já com uniforme).
Dos 8 aos 14 pertenciam aos “Balilas”, aos 14 eram “Vanguardistas” e aos 18 ingressavam nas
Juventudes Fascistas.
Na Alemanha, pertenciam a organizações a partir dos 10 anos. Os pais que não
colocassem os filhos nestas organizações eram considerados opositores ao regime.

A repressão: para se afirmarem, os regimes totalitários apoiaram-se em milícias


armadas, que reprimiam violentamente qualquer foco de destabilização (greves,
manifestações) e de oposição ao regime. Transformaram-se em verdadeiras forças policiais
institucionais de apoio ao regime.

Na Alemanha nazi temos as SA (Secções de Assalto) e as SS (secções de Segurança),


com caráter paramilitar (forças civis armadas). Em Itália, havia a Milícia Voluntária para a
Segurança Nacional (MVSN) e a polícia política (OVRA – Organização de Vigilância e Repressão
Antifascismo). A polícia política nazi (Gestapo), vigiava e controlava a população, enviando
para os campos de concentração quem manifestasse o mais pequeno sinal de oposição ao
regime.

Também havia repressão e censura sobre a produção intelectual: havia organismos


que controlavam as publicações escritas, a rádio, o cinema…, proibindo tudo o que fosse
contrário às ideias do regime.

A propaganda: era intensa e sistemática. Para cativar a opinião pública, realizavam-se


imponentes paradas militares, que mostravam ordem, disciplina, força e autoridade. O
discurso empolgado dos líderes fascinava o público que assistia, incitando ao orgulho
nacional.

Por outro lado, o regime usava a mais moderna tecnologia audiovisual para divulgar a
sua ideologia e a imagem do líder.

O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos

Foi na Alemanha nazi que o culto da violência e a negação dos direitos


humanos tiveram maior expressão, pelo caráter militarista e racista (levado ao extremo) que
o regime adotou.

Os nazis acreditavam descender de uma raça superior, a raça ariana, a qual tinha a
obrigação de governar o mundo e eliminar as raças inferiores.
Assim, os nazis praticaram uma verdadeira eugenia (“ciência” que procura melhorar as
características de uma raça) – para isso, realizaram intensos estudos para determinar as
características da raça ariana – encontrados os indivíduos perfeitos, estes eram “acasalados”,
a fim de obter novos cidadãos perfeitos.

Os impuros deviam ser eliminados (deficientes, inválidos, doentes…) – esterilizados,


abandonados em hospícios ou mortos.

O antissemitismo: para preservar a pureza da raça ariana, também era necessário


eliminar as raças inferiores: ciganos, eslavos (que incluía os russos) e principalmente os
judeus, acusados de todos os males da nação, inclusive pela derrota na 1ª Guerra Mundial. Por
isso, um dos grandes objetivos dos nazis era o seu extermínio.

Numa primeira fase, foram segregados (boicote às suas lojas, afastados do


funcionalismo público…). Depois, confiscação dos seus bens, destruição dos seus locais de
culto e encerrados em guetos. Finalmente, o extermínio, que se traduziu num genocídio de
milhões de judeus, durante a 2ª Guerra Mundial (holocausto).

A autarcia como modelo económico

A conjuntura de crise económica após a 1ª Guerra Mundial e a Grande


Depressão, favoreceu a emergência dos totalitarismos, prometendo solucionar os problemas
económicos. Uma vez no poder, os regimes totalitários fizeram da autossuficiência económica
e do combate ao desemprego veículos para se afirmarem. Assim, adotaram políticas
económicas com forte intervenção estatal, nas quais as atividades produtivas eram
colocadas ao serviço do Estado.

Na Itália, Mussolini ficou ligado a campanhas de incentivo à produção, em que os


trabalhadores eram incitados a trabalhar intensamente, para aumentar os níveis de
produtividade. As mais famosas foram a “batalha do trigo”, as de recuperação de terras e a
construção de grandes obras públicas.

A indústria e o comércio também eram fortemente controladas pelo Estado –


lançamento de programas de industrialização e controlo do volume das importações e das
exportações.

Feita à custa de grandes sacrifícios da população (muito trabalho e impostos), a


economia italiana recuperou.
Na Alemanha, Hitler seguiu uma política económica semelhante, com o propósito de
tornar a Alemanha autossuficiente, sem necessitar dos empréstimos estrangeiros e resolver o
problema dos cerca de 6 milhões de desempregados. Para isso, encetou uma política de
lançamento de grandes obras públicas (autoestradas e outras vias de comunicação) e
desenvolvimento dos setores automóvel, aeronáutico, químico, siderúrgico e elétrico.
Também foi relevante a aposta na indústria militar, contrariando as imposições de Versalhes.

O estalinismo

Depois de vencer a corrida da sucessão a Lenine, Estaline irá ser, a partir de


1928, o líder incontestado da URSS, com dois grandes objetivos: a construção irreversível da
sociedade socialista e a transformação da URSS numa grande potência mundial.

As estratégias adotadas para atingir os seus objetivos serão a coletivização e


planificação da economia e a instauração de um Estado autoritário.

Coletivização e planificação da economia: interrompeu a liberalização que a NEP tinha


permitido – nacionalizou todos os setores da economia. Em 1933, praticamente já não havia
propriedade privada na URSS. Os antigos proprietários foram transformados em assalariados.

O processo de coletivização não foi pacífico: suscitou a oposição dos empresários


(nepmen) e dos proprietários agrícolas (kulaks). Então, o Estado reprimiu violentamente esta
oposição, resultando em milhões de mortos e deportados para campos de trabalhos
forçados.

Em oposição à livre iniciativa e livre concorrência típicas do capitalismo, Estaline vai


empreender uma rigorosa planificação da economia, totalmente dirigida pelo Estado: este
definia metas a atingir para determinados períodos (5 anos – os planos quinquenais), bem
como os investimentos a fazer e quais os setores da economia a privilegiar com esses
investimentos.

A indústria foi o setor onde mais se fez sentir esta planificação da economia: no 1º
plano quinquenal (1928-1932), deu-se prioridade à indústria pesada (siderurgia,
hidroeletricidade…). O 2º plano apostou no desenvolvimento da indústria ligeira e de bens de
consumo (vestuário, calçado…). O 3º plano, interrompido pela 2ª Guerra Mundial, visava o
desenvolvimento do setor energético, e indústria química.

Em relação à agricultura, a propriedade foi organizada em 2 tipos:


- Os kolkhoses: grandes quintas coletivas. Parte da produção era entregue ao Estado, o
restante era distribuído pelos camponeses em função da sua produtividade.

- Os sovkhoses: grandes propriedades dirigidas diretamente pelo Estado, onde os


camponeses auferiam um salário fixo, normalmente muito baixo.

Ambos os tipos de propriedade eram apoiadas por grandes parques de máquinas,


fornecidas pelo Estado (“Estações de Máquinas e Tratores”).

Os resultados deste processo de coletivização foram satisfatórios, permitindo à URSS


aumentar os seus níveis de produção, quer agrícola, quer industrial, tornando-se, a quando da
2ª Guerra Mundial, a 3ª potência económica mundial.

Todavia, o sucesso dos planos quinquenais fez-se à custa de muitos sacrifícios da


população: imposição de trabalhos forçados, deportações em massa de trabalhadores para
locais onde eram mais necessários, despedimentos arbitrários…

O totalitarismo estalinista: com Estaline, o centralismo democrático evoluiu para a


ditadura, mas não a do proletariado como os marxistas defendiam: evoluiu para a ditadura do
Partido Comunista, na pessoa do seu líder.

Assim, Estaline empreendeu uma maquiavélica perseguição a todos os opositores,


mesmo dentro do seu partido, eliminando-os. Em 1939, praticamente todos os velhos
bolcheviques (de outubro de 1917), já estavam afastados do partido (as chamadas purgas),
levados para campos de concentração, condenados à morte ou exilados.

O regime estalinista em nada divergia dos regimes totalitários já estudados:

- apoiado por uma elite que servia o partido;

- partido único;

-praticou-se a arregimentação das massas;

-havia o culto do chefe;

-Afirmou-se o culto da violência e da violação dos direitos humanos (ação feroz da


NKVD – polícia política);

-prática da censura, que procurava calar a liberdade intelectual.


A resistência das democracias liberais

O avanço dos totalitarismos encontrou forte resistência em países com forte


tradição democrática, como os EUA, França e Inglaterra. Estes países vão seguir políticas
intervencionistas para combater a crise económica e social, de modo a impedir a ascensão
das forças políticas de extrema-direita.

A Grande Depressão dos anos 30 marcou o fim do capitalismo liberal, triunfante desde
o século XIX: perante as crises cíclicas do capitalismo, os próprios teóricos do liberalismo
começam a defender um papel ativo do Estado na regulação das atividades económicas, de
modo a evitar as desigualdades sociais e o agravar das crises económicas.

O grande defensor da intervenção do Estado na economia foi John Keynes,


economista britânico: Keynes criticou as políticas deflacionistas (sem investimento, diminuição
da moeda em circulação, quebra acentuada dos preços…) e defendeu a adoção de uma
política de uma inflação controlada. Desta forma, alcançar-se-ia o relançamento dos lucros
das empresas e converter-se-ia o ciclo de crise para um ciclo de prosperidade – as empresas
abririam novos postos de trabalho, o desemprego diminuiria e aumentava o poder de
compra, estimulando a produção (ciclo de prosperidade). Ao Estado caberia acompanhar esta
política, tornando-se num novo e importante patrão, adotando políticas de investimento e
ajudando empresas em dificuldades.

O New Deal: programa de reformas económicas e sociais, inspirado no modelo


defendido por Keynes, empreendido por Roosevelt, presidente americano, a partir de 1933.

Os grandes objetivos do New Deal eram: combater o elevado desemprego, que


afetava cerca de 13 milhões de americanos e, com isso, estimular o consumo.

Assim, numa 1ª fase, o New Deal contemplou uma série de medidas de caráter
económico e financeiro:

- medidas de controlo da atividade dos bancos, encerrando os que eram considerados


inviáveis;

- controlo rigoroso da atividade especulativa;

- desvalorização do dólar, para baixar a dívida externa e subir de forma controlada a


inflação;
- grandes obras públicas para combater o desemprego (construção de pontes,
barragens, hospitais…), promovendo, também, alguns setores económicos;

- lançamento de um programa de controlo da produção agrícola (redução das áreas de


cultivo, indemnização aos proprietários, atribuição de subsídios…) e industrial (quotas de
produção, regulamentação sobre os preços, os horários de trabalho…), para evitar as crises de
superprodução.

Numa 2ª fase, o New Deal conduziu à instituição do Estado-Providência (atribuição de


direitos sociais) – instituição da reforma por velhice e invalidez, fundo de desemprego, de um
salário mínimo… Desta forma, o Estado assumia um novo papel, o de assegurar aos cidadãos
a felicidade e o bem-estar, condição fundamental para o desenvolvimento económico.

Os governos de Frente Popular e a mobilização dos cidadãos

Para além dos EUA, alguns países europeus também optaram por políticas de
forte intervenção estatal, para fazer face à grave situação económica e social. Foi o caso da
França: contestados pela opinião pública, os governos enfrentavam críticas vindas de todos os
quadrantes. Temia-se uma solução autoritária, de cariz ditatorial.

Perante esta conjuntura, iniciou-se uma mobilização dos cidadãos, que culminou
numa coligação dos partidos de esquerda, denominada Frente Popular (com partidos
comunistas, socialistas e radicais), que triunfou nas eleições de 1936. O objetivo principal era
deter o avanço do fascismo em França.

Entre 1936 e 1938, destacou-se a ação do socialista Léon Blum. Depois de um surto
grevista, o governo da Frente Popular deu um grande impulso à legislação social (“Acordos de
Matignon”) – determinou-se a assinatura de acordos coletivos de trabalho, aceitava-se a
liberdade sindical, limitava-se o horário de trabalho (40 horas semanais), direito a 15 dias de
férias anuais pagas e previam-se aumentos salariais.

Com estas medidas, a Frente Popular dignificava a classe trabalhadora, combatia a


crise, aumentando o poder de compra e combatia o desemprego através da diminuição do
horário de trabalho.

Em Espanha, em 1936, também triunfou uma Frente Popular, que enfrentou as forças
conservadoras (separou a Igreja do Estado, decretou o direito à greve, aumentou salários….).
Todavia, houve uma forte reação por parte da Frente Nacional - monárquicos, conservadores
e falangistas (partido com ideologia fascista), dando origem a uma sangrenta guerra civil.

A dimensão social e política da cultura

A cultura de massas: trata-se de uma cultura acessível à maioria da


população, ao contrário dos séculos anteriores, nos quais a cultura era um “privilégio” das
elites. Dois fatores contribuíram para o emergir da cultura de massas: a generalização do
ensino e o grande desenvolvimento dos meios de comunicação (os media).

O livro, com uma linguagem simples e atrativa, tornou-se um produto de consumo


mais habitual e popular. O século XX inaugura o jornal de grande tiragem (nas grandes
cidades, alguns chegam a vender mais de um milhão de cópias por dia); proliferaram as
revistas.

A rádio tornou-se o mais popular dos meios de comunicação, com milhões de ouvintes
em todo o mundo na década de 1930. Acessível mesmo aos analfabetos, a rádio tornou-se
num importante meio de difusão cultural, transmitindo notícias, música, novelas, anúncios
publicitários…

O cinema rapidamente se universaliza, contribuindo para a difusão de modelos


socioculturais e consequente estandardização de comportamentos (a forma de vestir e de
estar dos atores eram modelos a seguir, influenciando modas, atitudes e valores).

Foi também com o impulso dos media que o desporto se transformou num fenómeno
de massas: o futebol, o boxe ou o ciclismo arrebatavam multidões. Os espetadores aplaudem,
assobiam, sofrem, rejubilam, descarregando as tensões e frustrações do quotidiano. Os atletas
também se tornam exemplos a seguir: muitos deles são oriundos de classes pobres,
alimentando o sonho da ascensão social.
As preocupações sociais na literatura e na arte

Em meados da década de 1920, já se fazia sentir um certo cansaço face às


tendências vanguardistas do modernismo: acusava-se o modernismo de uma ânsia exagerada
de originalidade e principalmente de ser incompreensível para o grande público.

Cresceu, por isso, a ideia que a arte e a literatura tinham também uma missão social e
não meramente estética. A grave crise de 1929 acentuou este sentimento.

A literatura tomou uma feição combativa e de intervenção social, denunciando vícios,


a falta de valores… Alguma literatura de contestação social identificou-se com as ideias
marxistas, dando origem a obras de cariz sociopolítico.

Assim, na literatura, voltava a fórmula neorrealista, sensibilizando o leitor para


questões sociais (por exemplo, nos EUA, denunciando a miséria provocada pela Grande
Depressão).

Na arte, a 1ª Guerra Mundial interrompeu a euforia vanguardista. Numa Europa


destruída, a obra de arte voltou-se para a intervenção social, requerendo uma linguagem
simples e clara, acessível ao grande público.

Deste modo, fez-se sentir por toda a Europa um novo realismo, retratando-se a
sociedade do pós-guerra. Nos EUA também se retratavam os efeitos da Grande depressão. A
convicção de que o artista devia contribuir para a sociedade levou ao ressurgimento da pintura
mural, em edifícios, logo mais visível (o New Deal incluía mais de 2000 encomendas de
pinturas murais, inspirados em Diego Rivera).

Na arquitetura também se manifestou a consciência coletivista: numa Europa


destruída, os governos viraram-se para a construção de edifícios simples, baratos, mas dignos
– novo estilo arquitetónico – o funcionalismo (linhas retas, coberturas planas, sem telhado,
paredes interiores sem elementos decorativos, com grandes janelas que deixam entrar a luz.
A casa tinha que ser prática, racional, funcional). A escola da Bauhaus, fundada por Walter
Gropius, foi muito influente na arquitetura desta época.

Na década de 1930, surgiu um 2º funcionalismo, estilo mais humanizado, adaptado a


cada realidade: por exemplo, em regiões chuvosas ter um telhado é mais prático que um
terraço… Nascia o funcionalismo orgânico, em que as casas aparecem perfeitamente
integradas na paisagem. Destacou-se o arquiteto americano Frank Lloyd Wright.
Portugal: o Estado Novo

Da ditadura militar ao Estado Novo

O golpe militar de 28 de maio de 1926, que colocara os militares no poder, não acabou
com a instabilidade política, social e económica do país. Politicamente impreparados e com
acentuadas divergências, os militares davam sinais de não cumprirem com a promessa de
regenerar Portugal. O défice financeiro não parava de aumentar.

Neste contexto, convidaram António de Oliveira Salazar, em 1928, para o cargo de


Ministro das Finanças. Com poderes para superintender nos orçamentos dos vários
ministérios, Salazar implantou uma política de forte austeridade e controlo da despesa
pública. Gradualmente, aumentou os impostos, para subir as receitas. Desta forma,
equilibrou-se o orçamento e eliminou-se o défice público.

Considerado o autor de um verdadeiro milagre, granjeou grande prestígio. Não


admira, por isso, que em 1932, seja nomeado chefe do governo. Era o início do Estado Novo,
regime de forte cariz fascista.

Um conjunto de instituições e diplomas irão constituir os alicerces do novo regime:

- a União Nacional: viria a transformar-se no único partido autorizado;

- o Ato Colonial: aprovado em 1930, reafirmava a missão civilizadora de Portugal nos


territórios ultramarinos e a dependência das colónias face à metrópole;

- o Estatuto do Trabalho Nacional (1933): inspirado na Carta do Trabalho italiana,


abriu caminho para a organização corporativista;

- a Constituição de 1933: fundamental para a instauração da ditadura do Estado Novo.


A ideologia do Estado Novo

- Regime autoritário: que repudiava o parlamentarismo pluripartidário. O poder


executivo era detido pelo Presidente da República. No entanto, a verdadeira autoridade era
exercida pelo chefe do governo (Presidente do Conselho) – presidencialismo bicéfalo, mas
com clara supremacia do chefe do governo. Tinha amplos poderes sobre todos os ministérios e
podia legislar. As suas leis eram submetidas à Assembleia Nacional, mas esta era constituída
por deputados afetos ao regime, provenientes do partido único (União Nacional).

- Culto da personalidade – Salazar era apresentado pela propaganda do regime como


o “Salvador da Pátria”, o “Guia da Nação”. A sua imagem estava presente em todos os lugares
públicos, sendo venerado pelas multidões. Em relação a Hitler e Mussolini, era mais discreto e
austero: não gostava de grandes manifestações, não organizava grandiosas paradas militares,
nunca usou farda…

- Regime conservador: adverso à vida urbana e industrial (espaço onde imperava a


desordem, a indisciplina, a luta de classes…), Salazar fazia a apologia do mundo rural, da
tradição, como mãe de todas as virtudes. A imagem da sociedade portuguesa devia ser a
família rural, tradicional e conservadora (Deus, Pátria e Família). A mulher era reduzida a um
papel passivo, de dona de casa a cuidar dos filhos, sendo o homem o ganha-pão da família.

- Nacionalista – exaltação dos valores nacionais, dos heróis do passado (época dos
descobrimentos, formação da nação…), da cultura nacional. Estes valores eram transmitidos
na escola, para formar consciências identificadas com a tradição, obediência, o respeito pela
autoridade, o patriotismo…

- Corporativismo: organização de toda a vida económica e social do país em


corporações, à semelhança do fascismo italiano. Os patrões estavam agrupados em grémios e
os trabalhadores em sindicatos nacionais, entendendo-se com o Estado a supervisionar. Havia
ainda as Casas do Povo (associações de patrões e trabalhadores rurais) e as Casas dos
Pescadores (pescadores e empresários ligados ao mar).

- Repressivo: a autoridade era mantida por um poderoso aparelho repressivo,


subordinando os interesses dos indivíduos aos interesses do Estado. Através da Censura
Prévia, era exercida uma rigorosa vigilância sobre todas as produções intelectuais, escritas ou
audiovisuais, eliminando palavras, imagens ou ideias consideradas contrárias à ideologia do
regime. Uma polícia política (a PVDE – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, mais tarde
PIDE) perseguia, prendia, torturava e matava quem manifestasse ou fosse suspeito de
oposição ao regime.

- Assente em estruturas para enquadrar as massas: a União Nacional (partido único),


a Legião Portuguesa (milícia armada, embora sem praticar a repressão), a Mocidade
Portuguesa (para formação ideológica da juventude, de inscrição obrigatória – os jovens
usavam farda e saudavam as autoridades com o braço estendido), as corporações
arregimentavam os trabalhadores, e foi criado a FNAT (Federação Nacional para a Alegria no
Trabalho) para organizar os tempos livres dos trabalhadores. A Obras das Mães para a
Educação Nacional visava a formação das futuras mulheres e mães.

Uma economia submetida aos imperativos políticos

O caráter totalitário do regime também se fazia sentir na vida económica: estava


previsto na Constituição submeter a produção e a gestão da riqueza nacional aos interesses
do Estado. Assim, foi abandonado totalmente o liberalismo económico, adotando-se um
modelo económico dirigido totalmente pelo Estado – protecionismo e intervencionismo,
tendo em vista a autossuficiência (autarcia) e a afirmação do nacionalismo económico.

Deu-se prioridade à estabilidade financeira: política de limitação de despesas em


todos os ministérios e lançamento de novos impostos para aumentar as receitas. Salazar
conseguiu, desta forma, o “milagre financeiro”, que lhe valeu grande popularidade.

Na 2ª Guerra Mundial, Salazar optou pela neutralidade: evitava as despesas com a


guerra (tão prejudiciais à República a quando da 1ª Guerra) e podia aproveitar para acorrer às
necessidades dos países envolvidos no conflito (aumentando as exportações) – do volfrâmio,
dos têxteis, das conservas… as reservas de ouro atingiram números significativos.

A importância da agricultura: acérrimo defensor do mundo rural, Salazar via na


agricultura uma das atividades mais poderosas para alcançar a autossuficiência, lançando um
conjunto de medidas para fomentar o setor: construção de barragens para irrigação dos
campos, políticas de fixação da população no interior do país, campanhas de florestação,
fomento de culturas tipicamente portuguesas (vinho, batata, arroz, azeite, fruta…) e
lançamento da Campanha do Trigo (1929-1937). Esta última medida foi a que teve mais
impacto, permitindo a autossuficiência do país. O Estado protegia os proprietários, ficando
com a produção e protegendo a produção nacional dos produtos estrangeiros (aumento das
taxas alfandegárias para esses produtos).
O condicionamento industrial: os primeiros anos do regime foram marcados por uma
fraca aposta na indústria, não constituindo prioridade para o Estado. O débil crescimento
industrial pode-se explicar pela política de condicionamento industrial (1931-1937): todas as
iniciativas industriais deveriam enquadrar-se num modelo definido pelo Estado. Qualquer
indústria necessitava da autorização prévia do Estado para se instalar, reabrir, efetuar
ampliações, mudar de local ou até para comprar máquinas…! (Estado fortemente dirigista e
intervencionista). Objetivos: garantir o controlo da indústria por nacionais, evitar a
superprodução, a queda de preços, o desemprego e a agitação social. Todavia, não podemos
esquecer que este condicionamento industrial se enquadra no caráter ruralista, anti urbano e
anti-industrial do Estado Novo. Contribuiu para a pouca modernização do país, com
processos de fabrico antiquados e baixos níveis de produtividade.

As grandes obras públicas: tal como o regime nazi e o regime fascista de Mussolini,
Salazar também enveredou por uma política de grandes obras públicas, para transmitir a
imagem de um país moderno e diminuir o desemprego. Assim, melhorou-se a rede de
estradas, a rede ferroviária, os portos marítimos, a rede telefónica, iniciou-se a eletrificação do
interior, construíram-se grandes complexos hidráulicos e desportivos, deu-se atenção à
preservação dos monumentos nacionais…

A política colonial – Portugal, um país pequeno na Europa, mas grande no mundo

As colónias desempenharam um duplo papel durante o Estado Novo: foram um


elemento fundamental para fomentar o nacionalismo económico e o orgulho nacionalista. Na
economia, serviam para escoar os produtos nacionais e para fornecer matérias-primas a
baixo custo. Por outro lado, fomentaram o orgulho nacionalista, constituindo um dos
principais temas da propaganda nacionalista do regime.

O Ato Colonial de 1930 clarificou as relações de dependência das colónias face à


metrópole, abandonando-se as experiências de descentralização administrativa e de abertura
ao capital estrangeiro praticadas pela 1ª República. O Ato Colonial dava às colónias o papel de
mero fornecedor de matérias-primas e de compradoras dos produtos nacionais. As
populações locais, tidas como inferiores, deveriam contar com a missão civilizadora dos
portugueses.

O projeto cultural do regime – a “Política do Espírito”


A criação artística e literária estava fortemente condicionada pelos interesses do
regime. Por isso, Salazar preocupou-se em impedir que eventuais excessos culturais
colocassem em causa a coesão nacional e em dinamizar uma produção cultural que fizesse a
propaganda das ideias do regime.

Deste modo, instituiu-se a censura sobre a produção cultural e concebeu-se a


chamada “política do espírito”, ou seja, intensa propaganda que visava incutir na mente de
todos as ideias do regime. Para isto, foi criado, logo em 1933, o Secretariado de Propaganda
Nacional (dirigido por António Ferro), que tinha a função de incentivar as ações de
propaganda do regime e definir os padrões a seguir na cultura e nas artes.

O SPN desenvolveu um amplo programa de manifestações culturais, vigiadas pela


censura, tendo em vista a regeneração do espírito português: comemorações, congressos
científicos, exposições de pintura, inaugurações de grandes obras públicas, tudo com grande
“pompa e circunstância”. O Estado constituía-se como um grande mecenas.

Destaque para a Exposição do Mundo Português, em 1940, a propósito da celebração


da fundação da nacionalidade e da restauração da independência de 1640, manifestação
imponente da grandeza do Império Português, para incentivar o orgulho nacional e para a
Europa se deslumbrar…

A degradação do ambiente internacional

A irradiação do fascismo: ao longo da década de 1930, as ditaduras espalharam-se no


continente europeu, alimentadas pelos efeitos da Grande Depressão e pela descrença nas
democracias parlamentares. Albânia, Grécia, Portugal, Polónia, Bulgária, Áustria…, são países
que enveredaram por regimes ditatoriais.

O fascismo espreitava por toda a parte, explorando o descontentamento das


populações. Mesmo em países com forte tradição democrática, os partidos de extrema-direita
ganhavam simpatia.

A vaga autoritária não se limitou à Europa: na América Latina e no Extremo-Oriente,


regiões também muito afetadas pela crise, os autoritarismos despontaram – Brasil, Argentina,
Chile e japão.
Os principais regimes estabeleceram pactos: a Alemanha e a Itália o Eixo Roma-Berlim,
Alemanha e Japão o pacto Berlim-Tóquio.

As reações ao totalitarismo: a atitude adotada pela SDN e pelas democracias


ocidentais, acabou por beneficiar as ditaduras. A Itália invadiu a Etiópia em 1935-36. O Japão,
em 1931, invadiu a Manchúria. A Alemanha, em busca do “espaço vital”, abandonou a SDN em
1933, iniciando um programa de rearmamento. Em 1938 anexou a Áustria e os Sudetas (na
Checoslováquia) e em 1939 o resto deste país.

A França e a Inglaterra acabaram por dar o seu “consentimento” a estas agressões, nos
Acordos de Munique (1938): permitiram que a Alemanha ocupasse os Sudetas, pensando que
Hitler não quisesse mais... Só que o ditador apresentava cada reivindicação como se fosse a
última!

A SDN mostrou-se impotente para travar estes desejos imperialistas dos ditadores.
Sem a presença dos EUA e com o abandono da Alemanha e do Japão, a SDN não conseguiu
uma atuação firme, concertada, que impedisse os atropelos ao Tratado de Versalhes.

A guerra civil espanhola foi outro episódio que marcou os anos anteriores à 2ª Guerra
Mundial: em 1936, um movimento militar nacionalista insurgiu-se contra o governo da Frente
Popular. Dirigidos pelo General Franco, os nacionalistas contaram com o apoio económico e
militar de Hitler e Mussolini. Esta guerra foi uma espécie de teste para o que viria a seguir… A
Inglaterra e a França mais uma vez hesitaram optando pela não intervenção no conflito, o que
facilitou a vitória dos franquistas.

No ano de 1939 acentuaram-se as ambições imperialistas: a Itália anexou a Albânia e


Hitler negociou com a URSS um pacto de não-agressão, que previa a divisão da Polónia.

Tomando finalmente consciência do perigo, a Inglaterra e a França inverteram a sua


política externa: afirmaram o seu apoio aos países ameaçados pelo imperialismo do Eixo
nazi-fascista e declararam guerra à Alemanha no dia 3 de setembro de 1939, dois dias depois
das tropas nazis entrarem na Polónia. Era o início da 2ª Guerra Mundial.

A mundialização do conflito: atingiu todos os continentes. De 1939 a 1942, as forças


do Eixo estenderam o seu domínio a uma grande parte do mundo, desde a Europa ao Pacífico.

A partir de 1942, dá-se a contraofensiva dos Aliados. Nos dois últimos anos do
conflito, as forças do Eixo sofreram derrotas irreversíveis. O desembarque da Normandia das
forças aliadas (6 de junho de 1944) e os avanços dos soviéticos para ocidente, foram
momentos determinantes. A Alemanha capitulou a 8 de maio de 1945. Em agosto, o
lançamento de bombas atómicas conduziu o Japão à rendição.

Módulo 8 – Portugal e o mundo da 2ª Guerra Mundial ao início da década de 80 –


opções internas e contexto internacional

O tempo da Guerra Fria – a consolidação de um mundo bipolar

Introdução: Com o fim da 2ª Guerra Mundial, são duas as potências que vão passar a
dominar o mundo: os EUA, que mais uma vez foram determinantes para o desfecho do
conflito e a URSS, que desempenhou um papel relevante para a derrota dos nazis. Os feitos
militares do Exército Vermelho serão pretexto para levar a revolução comunista a outros
países. Perante a ameaça de expansão do comunismo, os americanos vão abandonar o seu
tradicional isolamento e irão começar a alargar a sua influência em diversas regiões do
globo.

Alemanha e Japão, derrotados e humilhados já não serão as potências imperialistas de


outrora. Inglaterra e França iriam passar por anos de crise económica e dificuldades sociais,
depois de anos de guerra e destruição.

As Conferências de Paz: ainda a guerra não tinha terminado, já os Aliados se reuniam


para definir a nova ordem internacional. Já nessas conferências, iriam ser notórias as
divergências entre os países capitalistas e a URSS.

Em fevereiro de 1945, realizou-se a Conferência de Ialta, que se revelou a mais


importante. Churchill, Estaline e Roosevelt conseguiram chegar a acordo sobre questões
fundamentais:

- divisão da Alemanha em 4 zonas de ocupação, administradas pelos comandos


militares de EUA, Inglaterra, França e URSS;

- discussão dos valores a pagar pela Alemanha, como reparações de guerra;


- realização de uma conferência para aprovar a Carta das Nações Unidas, tendo em
vista a futura ONU;

- fixação das fronteiras da Polónia (com a URSS a ficar com territórios a leste);

- redefinição das fronteiras dos países libertados do domínio nazi e celebração de


eleições livres nesses países;

- divisão da Coreia, o norte dominado pela URSS e o sul pelos EUA.

Estaline foi o grande vencedor desta conferência, numa altura em que o seu exército
“dava cartas” na luta contra a Alemanha nazi.

A Conferência de Potsdam: realizou-se em julho de 1945, depois da capitulação alemã.


As divergências entre os vencedores acabaram por ensombrar esta reunião, pelo que apenas
se conseguiu confirmar as decisões de Ialta e tomadas novas medidas tendo a Alemanha como
alvo (“desnazificação” da Alemanha e Áustria – extinção do Partido Nazi e das outras
instituições do regime, divisão e ocupação da Áustria, definição de um estatuto especial para
Berlim – ocupado pelos 4 vencedores e redefinição do mapa político da Europa (ver mapa da
pág. 15).

No novo mapa político da Europa, eram visíveis duas áreas bem delimitadas: a
ocidente países devastados pela guerra e que irão cair na esfera de influência dos EUA, a
oriente uma Europa também destruída, liberta da ocupação nazi pelo Exército Vermelho,
onde os governos comunistas ascenderão ao poder, sob a influência soviética.

A Organização das Nações Unidas

A ideia de uma organização internacional que zelasse pela manutenção da paz


surgiu logo nas conferências de paz. A nova organização nasceu em abril de 1945, com os
seguintes propósitos:

- manter a paz, reprimindo atos de agressão, sempre que possível por meios pacíficos;

- desenvolver relações de amizade entre os países, baseando essas relações nos


princípios da igualdade e no direito à autodeterminação;
- desenvolver a cooperação em áreas como a economia, cultura e defesa dos direitos
humanos (em 1948 aprova-se a Declaração dos Direitos do Homem).

Órgãos da ONU: Assembleia-Geral (composta por todos os países membros),


Conselho de Segurança (15 membros, 5 permanentes – Rússia, EUA, Reino Unido, França e
China) que é responsável pela manutenção da paz e segurança, Secretário-Geral
(representante máximo da ONU), o atual é António Guterres, Conselho Económico e Social
(promove a cooperação económica, social e cultural), o Tribunal Internacional de Justiça (com
sede em Haia) que resolve os conflitos entre estados.

Organismos especializados: BIRD (Banco Mundial), FMI (Fundo Monetário


Internacional), UNICEF (assistência à infância), OMS (Organização Mundial de Saúde), UNESCO
(educação, ciência e cultura) …

O ideal da cooperação económica: a crise económica quase generalizada fez com que
os países iniciassem uma nova era na economia, baseada na cooperação internacional. O
dólar passou a ser a moeda-chave. O FMI e o BIRD são instituições que se inserem neste novo
paradigma de cooperação (ao FMI podem recorrer os bancos centrais dos países com
dificuldades e o Banco Mundial destina-se a financiar projetos de fomento económico a longo
prazo).

Em 1947 surgiu o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), em que os países


signatários se comprometeram a reduzir direitos alfandegários e outras restrições comerciais.

A primeira vaga de descolonizações

Depois da 2ª Guerra Mundial, assistiu-se a uma vaga de processos de


libertação de territórios coloniais. Para isso contribuiu:

- a situação das potências europeias coloniais (França, Inglaterra, Holanda…), com


elevada destruição e incapacidade para suster esses movimentos;

- a pressão exercida pelas duas superpotências, que apoiaram os movimentos de


independência (para obter aliados, benefícios económicos e alargar a sua área de influência );

- pressão da ONU, que defende o direito dos povos à autodeterminação.


Foi na Ásia que se iniciou o processo de descolonização: Síria, Líbano,
Jordânia, Palestina, Índia, Sri Lanka, Indonésia, Indochina…

Um mundo dividido, bipolar

Em 1946 Churchill afirmava que uma “cortina de ferro” separava a Europa, em


alusão à “sovietização” dos países de leste.

Para coordenar a atuação dos partidos comunistas, em 1947 criou-se o Kominform.

No ano seguinte às afirmações de Churchill, os EUA assumem a liderança da oposição


aos avanços do comunismo. Num discurso histórico, o Presidente Truman expôs a sua visão
de um mundo dividido em 2 sistemas antagónicos: um baseado na liberdade, outro na
opressão. Aos americanos competia liderar o mundo livre e conter a avanço do comunismo –
doutrina Truman.

Esta doutrina também deixava clara a necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se


economicamente. Neste contexto, em 1947 o Secretário de Estado americano, George
Marshall anunciou um gigantesco plano de ajuda económica à Europa, conhecido como
Plano Marshall, oferecido a toda a Europa, incluindo os países comunistas.

A URSS acusou os americanos de manobra imperialista e assumem a rutura – doutrina


Jdanov (que reconhece que o mundo está dividido em 2 blocos – um imperialista e
antidemocrático, liderado pelos EUA e o outro em que reina a democracia e a fraternidade,
liderado pela URSS).

Em 1949, a URSS respondeu ao Plano Marshall, lançando o Plano Molotov, que deu
origem ao COMECON, instituição destinada a promover o desenvolvimento económico dos
países comunistas.

A Guerra Fria

Ambiente de tensão que caracterizou as relações entre os governos


americanos e soviéticos, desde o fim da 2ª Guerra Mundial até à década de 1990. Os dois
países tinham dois modelos políticos, económicos e sociais antagónicos: os EUA seguiam um
regime democrático-liberal, uma sociedade assente na liberdade individual e uma economia
capitalista, a URSS seguia um regime comunista, uma sociedade em que os interesses
individuais se submetem aos da coletividade e uma economia coletivizada e planificada.

Tratou-se de uma guerra fria porque os dois países não recorreram diretamente às
armas. No entanto, um contra o outro, lançavam agressivas campanhas ideológicas,
intensificaram a corrida ao armamento (incluindo armas atómicas), desenvolviam ações de
espionagem, fizeram com outros países alianças estratégicas de caráter político-militar e
intervieram em conflitos regionais.

Primeiros episódios da Guerra Fria

A questão alemã: Estaline acusou os países capitalistas de quererem criar um


país capitalista (a sua zona de ocupação) mesmo “nas barbas” do mundo comunista. Como
retaliação, decretou, em junho de 1948, um bloqueio à cidade de Berlim, impedindo os
ocidentais de contactarem por terra com a sua parte da cidade. A solução encontrada foi a
organização de uma ponte aérea, que durou 11 meses. Estaline chegou a ameaçar derrubar os
aviões. Tal não se concretizou, mas este episódio teve consequências: divisão da Alemanha
em 2 Estados (RFA capitalista e RDA comunista), acentuou as rivalidades e iniciar-se-ia uma
intensa corrida aos armamentos.

Guerra da Coreia (1950-1953): a URSS, que tutelava o norte desde o fim da guerra, os
EUA tutelavam o sul. Desta guerra confirma-se a divisão do povo coreano em duas nações.

1961: construção do muro de Berlim, por parte da URSS.

1962: crise dos mísseis de Cuba.

O mundo capitalista

A política de alianças: após Truman ter enunciado a sua doutrina, os americanos vão-
se empenhar na contenção do comunismo. O Plano Marshall foi o primeiro passo nesse
sentido, dando a possibilidade aos países ocidentais de recuperarem a sua economia, assente
nos moldes capitalistas.

Outra preocupação americana tem a ver com a questão político-militar. Por isso, os
americanos vão estabelecer uma serie de alianças, uma verdadeira “pacto-mania”, um pouco
por todo o mundo (ver mapa pág. 39). Destaque para a NATO (Tratado do Atlântico Norte).
Estas alianças eram acompanhadas por acordos de caráter económico, para o estabelecimento
de bases militares em pontos estratégicos, contra a ameaça comunista (por exemplo, a Base
das Lajes nos Açores)

A política económica e social das democracias ocidentais: após a guerra, o conceito


de democracia adquiriu um novo significado – para além da garantia das liberdades
individuais, também deveria assegurar o bem-estar dos cidadãos e a justiça social.

Nesta época, vão sobressair duas novas forças partidárias: a social-democracia e a


democracia cristã. Ambas partilham preocupações sociais e defendem um Estado
interventivo na economia. Os democratas cristãos defendem que os princípios do cristianismo
também devem influenciar as decisões políticas (o Estado deve assegurar condições de vida
dignas a todos os cidadãos). Em países como a Inglaterra, Holanda ou Dinamarca, ascenderam
ao poder partidos sociais-democratas, que conjugam os princípios da livre concorrência com
os do intervencionismo do Estado, como regulador da economia e garante do bem-estar. Para
isso, o Estado deve controlar os setores chave da economia (transportes, energia, indústria…) e
redistribuir a riqueza através da tributação consoante os rendimentos.

Estas conceções políticas deram origem ao Estado-Providência: onerando os


rendimentos mais altos pretende-se assegurar uma justa repartição da riqueza nacional, sob a
forma de auxílios sociais, acautelando situações de desemprego, velhice, acidente, doença…
Ao Estado-Providência também cabem responsabilidades ao nível da saúde, habitação e
ensino.

O mundo comunista: o expansionismo soviético na Europa

Enquanto os EUA alargaram a sua influência sobre os países da Europa


Ocidental, a URSS vai fazer o mesmo, sobretudo nos países da Europa de Leste:

- influência política: adoção do comunismo, sob a coordenação do Partido Comunista


Soviético, através do COMINFORM (organização internacional dos partidos comunistas),
fundada em 1947;

-influência económica: através da formação do COMECON, em 1949, que coordenava


a ajuda económica da URSS aos seus aliados (resposta ao Plano Marshall e à OECE);
-influência militar: através do Pacto de Varsóvia (1955), aliança militar dos países do
bloco comunista.

Deste modo, estas 3 instituições acabariam por ser os principais instrumentos de


dominação dos países da “cortina de ferro”, com exceção da Jugoslávia, que se afastou da
orientação estalinista em 1948.

Após a derrota do nazismo, a URSS reclamou o “direito” de intervir diretamente na


reorganização política e económica dos países da Europa de Leste, libertados do domínio
nazi pelo Exército Vermelho.

No entanto, o comunismo acabou por ser imposto à força, através da doutrina Jdanov,
uma vez que os partidos comunistas eram minoritários. Estabeleciam-se, assim, as chamadas
“democracias populares”: apesar de haver pluripartidarismo e eleições livres, os partidos
comunistas foram-se impondo, dominando o aparelho de Estado, contando com o apoio do
exército soviético. A gestão do Estado pertencia às classes trabalhadoras, que “exerciam” o
poder através do Partido Comunista, o qual, supostamente, representava os seus interesses.

Em suma, a Europa de Leste reconstrói-se de acordo com a ideologia marxista e a


interpretação que dela faz o regime de Estaline.

Considerando-se a “pátria do socialismo”, a URSS impôs um modelo único e rígido, do


qual não admitiu desvios. Qualquer protesto ou rebelião era reprimido pela força do seu
exército (por exemplo, o esmagamento da “Primavera de Praga”, em 1968).

A situação peculiar da cidade de Berlim, também mereceu a atenção das autoridades


soviéticas. A cidade tornara-se um ponto de passagem para o ocidente: milhares de alemães
de leste usavam a cidade para passar para a RFA, muitos deles mão-de-obra altamente
qualificada, atraída pelos altos salários dos países do mundo ocidental. O problema acabaria
por ser solucionado em 1961, com a construção do Muro de Berlim, principal símbolo da
Guerra Fria.

O comunismo na Ásia

A intervenção direta da URSS fez-se sentir apenas na Coreia do Norte.


Libertada do domínio japonês após o fim da guerra pelos soviéticos e americanos, as
diferenças ideológicas dividiram o território em duas partes, ficando a Coreia do Sul sob
influência americana. Quando em 1950 a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul, para
reunificar o país sob a égide do comunismo, iniciou-se uma guerra civil, que acabou por ser
mais um episódio da guerra fria. No fim, a divisão do povo coreano manteve-se, o que ainda
hoje acontece.

Outros países asiáticos vão enveredar pelo comunismo, não em resultado da influência
soviética, mas de movimentos revolucionários: China, em 1949, sob o comando de Mao Tsé-
Tung, que acabaria, nos primeiros anos de regime, por se aliar à URSS.

O Vietname e o Camboja também vão adotar regimes comunistas.

O comunismo na América Latina e África

Na América, destaque para Cuba, sob o comando de Fidel Castro e Che


Guevara. Perante a hostilidade americana, Fidel acabou por se aliar à URSS, tornando o país no
grande bastião do comunismo na América.

A influência soviética confirmou-se em 1962, quando aviões americanos descobriram


uma base de mísseis russos naquele país, incidente dos mais marcantes da guerra fria.

Cuba desempenhou um papel ativo na proliferação do comunismo na América,


apoiando movimentos revolucionários na Guatemala, El salvador e Nicarágua. O mesmo
aconteceu em África, com o apoio cubano à implementação do comunismo em Angola e
Moçambique.

A economia dos países comunistas

A 2ª Guerra Mundial afetou severamente a economia dos países da Europa de


Leste, URSS incluída: milhares de hectares de campos destruídos, infraestruturas e
equipamentos industriais também destruídos. Todavia, a recuperação económica destes
países deu-se rapidamente, com significativas taxas de crescimento nas duas décadas que se
seguiram ao conflito.

A URSS retomou os planos quinquenais, dando prioridade à indústria pesada e às


infraestruturas: complexos siderúrgicos e centrais hidroelétricas fizeram do país a 2ª potência
industrial do mundo. Nos outros países da Europa de Leste, foi seguida a mesma política
económica, com a coletivização dos meios de produção e com a prioridade à indústria
pesada.

No entanto, o nível de vida das populações não acompanhou a evolução económica:


as horas de trabalho eram excessivas, os salários eram muito baixos e os bens de primeira
necessidade escasseavam. Por terem sido relegados para plano secundário, setores como a
agricultura, a habitação e as indústrias de bens de consumo, registavam enorme atraso, o
que se refletia na qualidade de vida das pessoas, habitando maioritariamente em bairros
degradados e sem condições.

Os bloqueios económicos

Depois de cerca de duas décadas de crescimento, começaram a vir ao de cimo as


fragilidades e debilidades das economias dos países comunistas. A planificação excessiva
entorpecia as empresas, que não tinham autonomia para nada, geridas de forma burocrática.
Esta situação desmotivava os empresários, completamente presos à planificação, o que se
refletia também na produtividade dos trabalhadores. Por exemplo, na agricultura, a
desmotivação e a falta de investimento tornaram os países comunistas deficitários nos
cereais, obrigando a importações.

Perante este cenário, o novo líder soviético, Kruchtchev, vai alterar a política
económica do mundo comunista: o seu plano incluía uma aposta mais séria na agricultura,
nas indústrias de bens de consumo e na habitação. Por outro lado, diminuiu as horas de
trabalho, a idade da reforma e aumentou a autonomia dos gestores face aos funcionários do
Estado (a Nomenklatura). No entanto, os resultados ficaram aquém das expetativas. Os
bloqueios, demasiado enraizados, acabariam por, décadas mais tarde, ajudar à falência dos
regimes comunistas.

A escalada armamentista e o início da era espacial

Para além das alianças militares que constituíram, americanos e soviéticos


investiram avultadas somas de dinheiro em armamento, cada vez mais sofisticado.

Depois dos EUA, também os soviéticos fizeram explodir, em 1949, a sua primeira
bomba atómica. De imediato, os cientistas americanos procuraram uma arma ainda mais
destrutiva, o que resultou na bomba de hidrogénio (Bomba H), em 1952. Logo no ano
seguinte, os russos já possuíam essa bomba.

Nos anos que se seguiram, os 2 países produziram em massa armamento nuclear,


incluindo misseis de longo alcance. Também se multiplicaram as “armas convencionais”.

O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma nova
característica: a dissuasão – cada país ameaçava usar o seu armamento, sem hesitar, se
houvesse alguma violação da sua área de influência. Segundo as palavras de Churchill, o
mundo vivia um “equilíbrio instável do terror”.

O início da era espacial

As duas superpotências tinham noção da importância da tecnologia. Por isso,


apostaram imenso na Ciência, principalmente nos ramos ligados ao equipamento militar.

Surpreendendo o mundo, a URSS foi o primeiro país a partir à conquista do espaço: em


1957, colocou em órbitra o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1. Os americanos responderam
apenas no ano seguinte, com o lançamento do Explorer 1.

Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho das duas nações.
Nos primeiros tempos, a URSS manteve-se na liderança. Em 1961 fizeram de Yuri Gagarin o
primeiro ser humano a viajar na órbitra terrestre. Todavia, no final da década de 60, coube aos
americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin o feito de serem os 1os a pisar a Lua.

A afirmação de novas potências – o rápido crescimento do Japão

Vencido, destruído e humilhado, nada fazia prever o extraordinário desenvolvimento


económico do Japão nas décadas que se seguiram à guerra. Conhecido com verdadeiro
“milagre”, esse crescimento deveu-se a:

- ajuda americana: beneficiou de um plano semelhante ao Marshall, ajudando na sua


modernização;

- atuação do Estado: forte investidor, protegendo a produção nacional. Fomentou o ensino e a


investigação científica;
- mentalidade japonesa: dinâmicos, austeros, empenharam-se com alma patriótica na
reconstrução do país. Os empresários reinvestiam os lucros e os trabalhadores não se
dispersavam em lutas sindicais;

- ligação trabalhador-empresa: o patrão é visto como um protetor e a empresa como a


segunda família, à qual dedicam todo o seu empenho.

Os setores nos quais os japoneses mais se destacaram foram a indústria pesada (construção
naval, máquinas-ferramentas, química…), bens de consumo (televisores, rádios, frigoríficos,…),
automóveis, eletrónica.

O afastamento da China do bloco soviético

O comunismo chinês foi marcado pela figura de Mao Tsé-Tung, grande teórico
marxista, a par de Lenine ou Estaline.

Ao contrário do marxismo tradicional, Mao deu relevo ao papel da massa camponesa e


não do operariado, à qual atribuía a liderança da revolução. Nascia, assim, uma variante do
marxismo – o Maoísmo.

Após a morte de Estaline, a China, progressivamente, afastou-se da URSS. Mao


discordava da aproximação da URSS de Kruchtchev ao ocidente. Este confronto abriu uma
fissura importante no bloco comunista.

A ascensão da Europa

Depois de duas guerras altamente destruidoras, a Europa sentiu necessidade


de se unir para reencontrar a prosperidade económica e, se possível, a influência política.

O primeiro passo para a cooperação europeia resultou da Declaração Schuman (1950),


que previa a cooperação entre a França e a Alemanha na produção de carvão e aço. Desta
iniciativa resultou, em 1951, a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Alemanha,
França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Este organismo foi o embrião da Comunidade
Económica Europeia, criada em 1957, pelo Tratado de Roma: os países signatários
comprometeram-se a, progressivamente, implementar a livre circulação de mercadorias,
capitais e trabalhadores. Também se previa a implementação de políticas comuns em áreas
como a agricultura, transportes e energia. A união aduaneira concretizou-se em 1968.

A segunda vaga de descolonizações. A política de não alinhamento

Processou-se no continente africano, primeiro no norte (Líbia, Marrocos, Tunísia e


mais tarde a Argélia), estendendo-se depois à África Negra. A luta pela independência tinha
uma dupla vertente: uma luta política e uma luta contra a pobreza e o atraso económico.

O processo independentista contou com o apoio da ONU: em 1960, a Assembleia Geral


aprovou a Resolução 1514, que consagra o direito à autodeterminação dos territórios
coloniais. Nesse mesmo ano 17 países africanos obtiveram a independência.

Nos cerca de 30 anos que se seguiram à 2ª Guerra Mundial, surgiram dezenas de


novos países na Ásia e em África, unidos pelo passado colonial e atraso económico. Passaram a
constituir o chamado Terceiro Mundo, que incluía as regiões mais populosas mas mais pobres
do mundo.

Este Terceiro Mundo, apesar da independência política, permaneceu sob a


dependência económica dos países mais ricos, muitas vezes a ex- metrópole. Os mais ricos
continuavam a explorar, em seu proveito, os recursos desses territórios, explorando matérias-
primas e fornecendo-lhes os seus produtos. Um verdadeiro neocolonialismo.

Aos poucos, os países do Terceiro Mundo foram ganhando consciência da sua


condição, reclamando um papel mais ativo na política internacional. Assim, em 1955, 29 países
afro-asiáticos reuniram-se em Bandung, condenando o colonialismo, rejeitaram a política de
blocos, acabando por originar o Movimento dos Não Alinhados (Conferência de Belgrado,
1961): sem pretenderem uma neutralidade passiva, os países do Terceiro Mundo afirmaram o
desejo de se mostrarem ativos no panorama internacional, mas sem estarem vinculados ou
sujeitos a qualquer um dos blocos (capitalista e comunista).

O termo da prosperidade económica: origens e efeitos


Os “Trinta Gloriosos”, anos de abundância e de crescimento económico, acabaram
abruptamente na década de 1970. A crise afetou sobretudo o setor industrial. Muitas
empresas fecharam e o desemprego subiu drasticamente. Paralelamente, a inflação tornou-se
galopante, fenómeno inédito nas crises anteriores – estagflação (estagnação da produção e
subida dos preços).

O principal fator para esta crise foi o “choque petrolífero”: principal fonte de energia
utilizada, viu os países produtores do Médio Oriente baixar a sua produção, em retaliação pelo
apoio ocidental à causa de Israel.

O grande aumento do preço do petróleo fez disparar os custos de produção dos artigos
industriais.

Portugal: do autoritarismo à democracia

Portugal manteve-se neutro face à 2ª Guerra Mundial, posição que permitiu a


sobrevivência do regime. Todavia, o conflito iria mudar o contexto internacional e o regime
teve que se adaptar a novas realidades políticas, económicas e socias, quase todas
desfavoráveis às suas características.

Vai ser empreendido um esforço de modernização do país, sem conseguir, contudo,


esbater a distância que nos separava dos países mais industrializados da Europa.

A estagnação do mundo rural: a agricultura continuava a ser a atividade dominante no


país. No entanto, pouco se tinha desenvolvido, tendo baixos níveis de produtividade. O mundo
rural estava sobrepovoado e pobre. As campanhas dos anos 30 e 40 não tinham conseguido
atingir o ideal da autarcia (autossuficiência). Portugal continuava a importar grandes
quantidades de produtos agrícolas.

Para a estagnação do mundo rural, contribuíam os seguintes fatores:

- as assimetrias na estrutura fundiária: predomínio de minifúndios a norte (trabalhados


por pequenos proprietários ou rendeiros sem qualificação, muito apegados à agricultura
tradicional, pouco ou nada mecanizada, só para autoconsumo) e de latifúndios a sul (imensas
propriedades subaproveitadas, devido ao absentismo dos proprietários, pouco dados a
investimentos, usando mão de obra que recebia baixíssimos salários);

- a resistência dos proprietários às alterações na estrutura fundiária: as propostas de


emparcelamento (no norte) encontraram resistência por parte dos pequenos proprietários, o
mesmo acontecendo no sul, em que os proprietários não quiseram diminuir a dimensão das
suas terras.

Deste modo, a política agrária esgotou-se em subsídios e incentivos que poucos efeitos
tiveram, beneficiando invariavelmente os grandes proprietários do sul.

Na década de 60, quando o país enveredou pela via industrializadora, a agricultura foi
relegada para segundo plano, daí resultando um decréscimo brutal do Produto Agrícola
Nacional, agravando seriamente o défice agrícola.

A emigração: as décadas de 30 e 40 foram de intenso crescimento demográfico no


país, que originou excesso de mão-de-obra, que a economia nacional não conseguia absorver.
Esta pressão demográfica era maior nos meios rurais, daí a debandada para as cidades do
litoral e para o estrangeiro, sobretudo na década de 1960.

Foi do norte e das ilhas que mais se emigrou, em direção a países da Europa (com
destaque para França), mas também para a América.

Por detrás deste intenso fluxo migratório está a atração pelos altos salários dos países
industrializados, a repressão política no país e a fuga ao recrutamento para a guerra colonial.

Grande parte desta emigração fez-se clandestinamente, pois para se emigrar havia que
cumprir imensos requisitos, como por exemplo habilitações mínimas (exame da 3ª classe).
Com o início da guerra colonial também era necessário o serviço militar cumprido. Sair “a
salto” tornou-se a opção para milhares de portugueses.

Aos poucos, o próprio regime reconheceu vantagens para o país, nomeadamente


através das poupanças enviadas para o país (remessas) - em 1970 representavam mais de 6%
do PIB), contribuindo para o equilíbrio da Balança de Pagamentos. Todavia, desfalcou o país de
trabalhadores, a população envelheceu. Mas, permitiu o contacto com outras realidades,
outras mentalidades, outros modos de vida, o que viria a contribuir para abalar as velhas
estruturas rurais do regime.
O surto industrial e urbano: esta mudança de atitude começou a ganhar forma
quando o setor agrícola se mostrou incapaz de responder às necessidades económicas do país
e quando se confirmaram as dificuldades dos países que nos forneciam bens e equipamentos
industriais em continuar a fazê-lo, devido à 2ª Guerra Mundial.

Numa 1ª fase, entre 1950 e meados da década seguinte, o desenvolvimento da


indústria portuguesa ainda se inseriu na política económica nacionalista e autárcica, submetido
a muitos condicionamentos. O objetivo continuava a ser a substituição das importações por
produtos nacionais. Foi o tempo dos primeiros Planos de Fomento: o 1º, entre 1953-58, deu
prioridade à criação de infraestruturas (eletricidade, transportes e comunicações). O 2º (1959-
64) foi mais ambicioso no dinheiro investido, principalmente na indústria pesada (siderurgia,
metalomecânica, petroquímica, adubos e celulose).

Numa 2ª fase, deu-se a abertura ao exterior e o reforço da economia privada. A


política de autarcia é abandonada, até porque o país já estava inserido em organizações de
cooperação económica internacionais (EFTA e acordos com o BIRD e FMI). Era o fim do ciclo
conservador e ruralista de Salazar, opção defendida por jovens políticos como Marcello
Caetano.

Numa 3ª fase, já com Caetano à frente do governo, lançou-se o III Plano de Fomento.
Este confirmou a internacionalização da economia portuguesa, dando-se prioridade à indústria
privada, ao crescimento do setor terciário e à aposta nas exportações, num esforço de tornar
competitivos os produtos nacionais no mercado, cada vez mais assente na livre concorrência.

Foi nesta fase que surgiram os grandes grupos económicos, como o complexo de Sines
e a Siderurgia Nacional, graças aos apoios dados aos privados e à concentração industrial.

O urbanismo: o surto industrial refletiu-se, obviamente, no crescimento do setor do comércio


e serviços e na progressiva urbanização do país. Com um século de atraso, Portugal conheceu
o surto urbano dos países industrializados. Sobretudo as cidades do litoral viram multiplicar-se
a população. A falta de infraestruturas ao nível dos transportes, habitação, saúde e educação,
dificultou a vida nestes centros urbanos, potenciando o aumento da mendicidade, da
criminalidade e da clandestinidade (proliferação de “bairros de lata”).

Pouco a pouco, o conservadorismo que o regime tanto estimava foi cedendo lugar a
uma mentalidade mais cosmopolita e ousada.
O fomento económico nas colónias: até à década de 40, o regime desenvolveu um
colonialismo típico – exploração dos recursos das colónias e desencorajamento do
desenvolvimento industrial. Depois da Grande Guerra, a conjuntura internacional (vagas de
descolonização) teve reflexos numa mudança da política ultramarina: havia que demonstrar à
comunidade internacional que Portugal se preocupava com o desenvolvimento dos seus
territórios, extensão do seu território metropolitano.

Assim, os Planos de Fomento também contemplavam os territórios africanos, em


especial Angola e Moçambique, levando à criação de infraestruturas (caminhos-de-ferro,
estradas, pontes, aeroportos, centrais hidroelétricas…), desenvolveu-se a agricultura e a
extração de dimanantes, petróleo e ferro; na indústria, facilitou-se o investimento estrangeiro.
Paralelamente, intensificou-se a colonização com população branca, como forma de evidenciar
a forma diferente de Portugal lidar com os seus territórios.

O imobilismo político do pós-guerra a 1974: a radicalização das oposições e o


sobressalto político de 1958

Quando, em 1945, a maior parte dos países europeus festejou o triunfo das
democracias sobre as ditaduras fascista e nazi, parecia que estavam reunidas as condições
para, em Portugal, Salazar encetar uma maior abertura do regime, rumo à sua democratização.

De facto, Salazar deu a entender ter compreendido “a mensagem” e esforçou-se para


mudar a imagem do regime, tomando medidas como:

- concedeu amnistia a alguns presos políticos;

- renovou a PVDE que passou a designar-se PIDE (Polícia Internacional de Defesa do


Estado;

- Proclamou a liberdade de imprensa;

- dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições, anunciando-as livres,


convidando a oposição a participar nas mesmas.
Um clima de otimismo instalou-se entre os opositores, acreditando na abertura do
regime. É neste contexto que surge o MUD (Movimento de Unidade Democrática), que em
pouco tempo reuniu mais de 50 000 assinaturas.

Todavia, na prática, tudo não passou de boas intenções: não foi dado tempo aos
partidos da oposição para se organizarem e formarem listas, os cadernos eleitorais não foram
atualizados, a campanha foi feita com apertada vigilância da PIDE… O MUD acabou por desistir
das eleições.

O regime, vendo o “sucesso” do MUD intensificou a repressão: perseguiu os seus


membros mais ativos, prendendo muitos deles ou despedindo muitos outros dos seus
empregos.

A feição autoritária e conservadora do regime dava claros sinais de se querer


perpetuar, evidenciando o imobilismo político de Salazar. Ao aderir à NATO, em 1949, Portugal
via o seu regime aceite pelos parceiros de aliança, mais preocupados com a contenção do
comunismo.

O sobressalto político de 1958: a candidatura do General Humberto Delgado às eleições


presidenciais de 1958, desencadeou um verdadeiro terramoto político. O “General sem medo”
mostrou um carisma e uma determinação surpreendentes. O candidato do regime era Américo
Tomás. A candidatura de Delgado fez “tremer” o regime.

Apesar de saber que as eleições seriam uma fraude e da forte repressão policial, H.
Delgado levou a candidatura até ao fim. O resultado revelou mais uma vitória esmagadora do
candidato do regime, mas serviu para abalar a credibilidade do governo. Para evitar mais
sobressaltos, fez uma alteração à Constituição: o Presidente passaria a ser eleito por um
colégio eleitoral restrito e não por sufrágio direto.

Os anos de 1959-1962, foram de intensificação das ações da oposição: o Bispo do


Porto escreveu a Salazar denunciando a miséria do povo e a falta de liberdades fundamentais.
Esta coragem custou-lhe 10 anos de exílio.

Grande mediatismo teve o aprisionamento do navio “Santa Maria”, em janeiro de


1961, numa ação comandada por Henrique Galvão. Este ato foi classificado pela comunidade
internacional como um protesto político e não como ato de pirataria (os americanos
facilitaram a ida dos “piratas” para o exílio, não os entregando às autoridades portuguesas).
A questão colonial: o impacto da 2ª Guerra Mundial e a aprovação da Carta das Nações Unidas
alteraram a conjuntura internacional – embora contra a sua vontade, as potências coloniais
europeias começaram a aceitar a independência das suas colónias. Neste contexto, o Estado
Novo viu-se obrigado a alterar a sua política colonial.

Ideologicamente, abandonou-se a antiga conceção de colonialismo que estivera na


base do Ato Colonial de 1930, surgindo a ideia de “singularidade da colonização portuguesa”,
muito diferente da dos outros países coloniais. Baseando-se nas teorias do sociólogo brasileiro
Gilberto Freire, os portugueses tinham demonstrado grande capacidade de adaptação aos
climas tropicais, promovendo a miscigenação e a fusão de culturas e não a simples exploração
dos territórios. Esta teoria ficou conhecida por “lusotropicalismo”.

No campo jurídico, optou-se por eliminar as expressões colónia e império colonial de


todos os diplomas legais. Assim, em 1951, foi revogado o Ato Colonial. Oficialmente, Portugal
deixava de ter colónias, passando a ser designadas por Províncias Ultramarinas, equiparando-
as juridicamente a qualquer outra província do território português (um Portugal “do Minho a
Timor”).

Politicamente, havia duas teses divergentes, após o início da guerra colonial: a tese
integracionista (que defendia a integração das colónias no Estado português) e a tese
federalista (que defendia a progressiva autonomia das colónias).

O início da guerra colonial: Na década de 50 haviam surgido os movimentos de libertação: em


Angola a UPA (União das Populações de Angola), transformada mais tarde em FNLA (Frente
Nacional de Libertação de Angola), o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a
UNITA (União para a Independência Total de Angola); em Moçambique a FRELIMO (Frente de
Libertação de Moçambique); na Guiné o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e cabo
Verde).

Foi em Angola, em 1961, quando se deram as primeiras investidas contra a presença


portuguesa e as investidas contra as cidades indianas de Goa, Damão e DIu. Em 1963, o
conflito estendeu-se à Guiné e no ano seguinte a Moçambique.

Esta guerra exigiu muitos sacrifícios ao país: 7% da sua população mobilizada, absorveu
40% do Orçamento do Estado, milhares de mortos e feridos. À medida que os anos iam
passando, até se começou a admirar a tenacidade com que Portugal defendia os seus
territórios, mas o que saltava mais à vista era o cada vez maior isolamento do país no
panorama internacional.

O isolamento internacional: a questão colonial ganhou dimensão a partir da entrada de


Portugal na ONU, em 1955. Desde logo, Portugal recusou-se a dar a autonomia às colónias,
alegando que se tratavam de províncias que eram parte integrante do território nacional.

No entanto, a Assembleia-Geral da ONU concluiu que eram colónias e não extensões


do país. Sistematicamente, a ONU condenava Portugal por não cumprir os princípios da Carta
das Nações Unidas, afastando o país de organismos como o Conselho Económico e Social.

Também a administração americana condenava o colonialismo português,


principalmente na presidência de Kennedy. Em plena guerra fria, os americanos temiam que o
prolongar da guerra colonial iria beneficiar os soviéticos. Por isso, começaram também a
financiar alguns movimentos de libertação e até propuseram auxílio económico ao país em
troca da descolonização. Salazar respondia com “Portugal não está à venda” ou com o
“orgulhosamente sós”.

Se internacionalmente Salazar ia aguentando as pressões, já internamente as dúvidas


sobre o continuar da guerra colonial aumentavam, colocando-se em causa a legitimidade do
conflito. Em 1968, quando Salazar é substituído por Marcello Caetano, já se pressentia que o
futuro do regime estava dependente do futuro da guerra.

A primavera marcelista:

Substituindo Salazar em 1968, Marcello Caetano apresentava-se como um político


mais liberal, capaz de alargar a base de apoio do regime. Logo no seu discurso de tomada de
posse, definiu como linhas orientadoras o continuar a obra de Salazar, mas sem prescindir da
necessária renovação política: um “evoluir na continuidade”.

Nos primeiros meses de mandato, deu sinais de maior abertura do regime: fez
regressar do exílio vários presos políticos (como Mário Soares e o Bispo do Porto), moderou-se
a atuação da polícia política (que se passou a chamar Direção-Geral de Segurança – DGS),
ordena o abrandamento da censura (agora designada Exame Prévio), abriu a União Nacional
(que se passou a designar Ação Nacional Popular-ANP) a políticos de ideias mais liberais.
Este clima de mudança ficou conhecido como “primavera marcelista”. As eleições
legislativas de 1969, foram anunciadas neste clima de maior abertura: o sufrágio foi alargado
às mulheres alfabetizadas, deu-se maior liberdade à campanha da oposição, que podia
consultar os cadernos eleitorais e fiscalizar as mesas de voto.

No entanto, o ato eleitoral acabou por revelar vários atropelos ao espírito democrático
e o resultado foi o mesmo de sempre: a totalidade dos deputados eleitos pertencia à União
Nacional.

Deste modo, goravam-se as expetativas criadas no sentido de uma verdadeira


democratização do regime. Marcello Caetano começa a ser criticado: os mais liberais acusam-
no de incapacidade para tomar as reformas necessárias, os mais conservadores criticaram a
“abertura” do regime, que provocara instabilidade no país.

Entretanto, acontece um significativo surto de agitação estudantil, greves e até


ataques bombistas, o que levou Marcello Caetano a infletir a sua política: mandou encerrar as
associações de estudantes mais ativas, alguns opositores são novamente remetidos ao exílio, a
polícia política intensifica a sua ação…

Incapaz de evoluir para um sistema mais democrático, o regime tinha ainda outro
problema entre mãos: a guerra colonial. Quando assumiu o cargo, Caetano foi de encontro às
pretensões das altas patentes das Forças Armadas, ou seja, continuar a defender os territórios
ultramarinos, para salvaguardar os interesses da população branca. Paralelamente, foi redigido
um projeto para encaminhar esses territórios para uma “autonomia progressiva”, o que
desagradou à maioria conservadora da Assembleia Nacional, que boicotou o projeto.

A luta armada ia endurecendo e externamente crescia o isolamento português: em


1970, o Papa Paulo VI recebeu os líderes dos movimentos de libertação e, em 1973, a ONU
reconheceu a independência da Guiné-Bissau. Nesse mesmo ano, Caetano foi alvo de
manifestações de desagrado quando visitou Londres. Internamente, também aumentou a
contestação: os deputados mais liberais da ANP começam a abandonar a Assembleia Nacional
e as próprias Forças Armadas dão sinais de inquietação: o general Spínola publica, em 1974, a
obra “Portugal e o futuro”, que proclamava que não havia solução militar para a guerra
colonial.
Da revolução à estabilização da democracia

O Movimento das Forças Armadas e a eclosão da revolução

A conjuntura política: em 1974, enquanto o regime agonizava, o problema da guerra colonial


persistia. Na Guiné, o PAIGC já tinha, unilateralmente, proclamado a independência. Em
Angola e Moçambique, a situação mantinha-se num impasse. Internacionalmente, crescia a
condenação da política colonial portuguesa e aumentavam os apoios políticos e militares aos
movimentos independentistas.

É neste contexto, que os militares entenderam que se tornava urgente pôr fim à
ditadura e abrir caminho para a democratização do país.

Em consequência, a partir de 1973, começa a organizar-se um movimento clandestino


de militares, onde predominavam os de baixa patente (maioria capitães), que prepararam um
golpe de estado para derrubar o regime e para criar condições para a resolução pacífica da
questão colonial.

Inicialmente, o autodenominado Movimento dos Capitães teve como motivação o


protesto contra a integração na carreira militar de oficiais milicianos, tendo feito apenas um
curso intensivo na Academia Militar, enquanto eles tinham cursado durante anos.

O “Movimento das Forças Armadas”: os altos comandos das Forças Armadas (Costa
Gomes chefe e António Spínola Vice-Chefe), recusaram-se a participar numa manifestação de
apoio ao Governo. Como retaliação, foram exonerados dos cargos. Foi desta forma que o
inicial Movimento dos Capitães vai receber a adesão das principais unidades militares,
evoluindo para um “Movimento das Forças Armadas – MFA”.

O “25 de Abril”

As Forças Armadas saíram à rua na madrugada de 25 de abril de 1974, levando a cabo


uma ação revolucionária que pôs fim à ditadura que vigorava desde 1926.

A ação militar foi coordenada pelo major Otelo Saraiva de Carvalho, tendo tido início
por volta das 23h do dia 24, com a transmissão pela rádio da canção “E depois do adeus”, de
Paulo de Carvalho. Às 0:20 era transmitida a canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso.
Estava dado o sinal que as unidades militares podiam avançar para a ocupação dos pontos
considerados estratégicos, como as rádios, a RTP, os aeroportos…
A única força que saiu em defesa do governo foi o Regimento de Cavalaria 7, derrotada
pelo destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandada pelo capitão
Salgueiro Maia. Entretanto, no Terreiro do Paço, Marcello Caetano entregou pacificamente o
poder ao General Spínola. Entretanto, já o golpe militar era aclamado nas ruas pela população,
cansada da guerra e da ditadura. Foi uma revolução pacífica, conhecida como a “Revolução
dos Cravos”.

O desmantelamento das estruturas do Estado Novo

De imediato, deu-se início ao processo para acabar com as estruturas que tinham
suportado o regime deposto. Esta tarefa coube à Junta de Salvação Nacional, com Spínola na
presidência, na qualidade de representante do MFA. Medidas tomadas:

- Destituição do Presidente Américo Tomás e do chefe do governo Marcello Caetano,


presos e mais tarde exilados para o Brasil;

- Dissolução da Assembleia Nacional;

- Revogação da Constituição de 1933;

- Destituição de todos os governadores civis e da Ação Nacional Popular;

- Extinção das estruturas repressivas do Estado Novo (PIDE, Censura e Legião


Portuguesa) e das estruturas de arregimentação (Mocidade Portuguesa) e de propaganda do
regime)

- Preparação de eleições livres para eleger uma Assembleia Constituinte, para redigir
uma nova Constituição;

- Nomeação do general Spínola para Presidente da República e de Adelino da Palma


Carlos para presidir ao I Governo Provisório.

Tensões político-ideológicas na sociedade portuguesa e no interior do movimento


revolucionário
Os 2 anos que se seguiram à revolução foram bastante conturbados politicamente:
vieram ao de cimo as divergências ideológicas, que originaram graves confrontos sociais e
políticos, com ameaça de guerra civil.

Poucos dias depois da revolução, explodia uma onda de reivindicações por parte dos
trabalhadores, depois de décadas fortemente reprimidos. Cometiam-se excessos e a
autoridade política sentiu muitas dificuldades em controlar a situação. Muitos patrões eram
pura e simplesmente afastados das fábricas, das terras, a roçar a justiça popular…

Perante a instabilidade social, demitiu-se o I Governo Provisório, 2 meses após ter


tomado posse. O II Governo, liderado por Vasco Gonçalves, tinha uma forte tendência de
esquerda.

Politicamente, eram visíveis as divergências: de um lado, o Presidente Spínola (que


tinha o apoio das forças mais conservadoras), do outro o MFA, mais identificado com a
esquerda revolucionária. Spínola defendia, para as colónias, a progressiva autonomia; o MFA
defendia a “independência pura e simples”.

Depois de ter reconhecido, contra a sua vontade, a independência dos povos africanos,
Spínola acabará por se demitir. A Junta de Salvação Nacional, indigitou Costa Gomes para o
cargo.

A radicalização do processo revolucionário: a partir deste momento a Revolução


tende a radicalizar-se. O estratega da revolução, Otelo Saraiva de Carvalho, aparece cada vez
mais ligado à extrema-esquerda. À frente do COPCON (força militar criada em julho de 1974,
com o objetivo de dotar o poder de uma força de intervenção, já que a GNR e a PSP estavam
conotados com o Estado Novo), ordena arbitrariamente a prisão de elementos moderados.

O 1º Ministro, Vasco Gonçalves, muito ligado ao Partido Comunista, revela as suas


intenções de transformar Portugal numa “democracia popular”, tal como na Europa de Leste.

28 De setembro de 1974 – primeiros sinais de confrontação civil: os setores


moderados organizaram uma manifestação de apoio a Spínola. O MFA proibiu essa
manifestação (seguiu-se a demissão de Spínola). Estava confirmada a aliança MFA/Povo
(Partido Comunista).
O 11 de março de 1975: militares afetos a Spínola e sob o seu comando, tentam levar a
cabo um golpe de estado com o objetivo de travar o ímpeto revolucionário de esquerda. O
golpe foi facilmente dominado pelo MFA e Spínola teve que se refugiar em Espanha.

O verão quente de 1975 – prenúncios de guerra civil: o MFA cria o Conselho da


Revolução, em substituição da Junta de Salvação Nacional e do Conselho de Estado (extintos).
O Conselho da Revolução, com clara ligação aos ideais comunistas propõe-se orientar o
Processo Revolucionário em Curso (PREC) rumo ao socialismo.

Entretanto, as eleições para a Assembleia Constituinte realizadas a 25 de abril de 1975,


revelaram resultados surpreendentes – o PS foi o partido mais votado (38%), seguido do PPD
(26%). O Partido Comunista só obteve 12,5% dos votos. Deste modo, os dois partidos mais
votados começaram a reclamar maior intervenção política. Todavia, a preponderância política
continuava a ser detida pelos comunistas, ligados ao MFA e ao Conselho da Revolução que se
constituíam como os verdadeiros detentores do poder.

Num ato de protesto, PS e PPD abandonam o governo passando a afirmar-se como


oposição a Vasco Gonçalves.

O “Processo Revolucionário em Curso”

Expressão usada para designar a vaga de atividades revolucionárias levadas a cabo


pela esquerda radical com vista à conquista do poder e ao reforço da transição para o
socialismo marxista.

Assim, vamos assistir a uma forte intervenção do Estado na economia, com o objetivo
de eliminar a débil economia capitalista portuguesa:

- Todos os setores chave da economia foram nacionalizados (indústria, banca, seguros,


transportes, comunicações, …) e eliminados os grandes grupos económicos;

- O Estado passou a intervir na gestão das pequenas e médias empresas (afastamento


de muitos patrões e proprietários, substituídos por comissões nomeadas pelo governo);

- Reforma agrária: expropriação dos latifundiários do sul, transformando as


propriedades em unidades coletivas de produção (UCP), seguindo o lema “a terra a quem a
trabalha”;
-direito à greve e liberdade sindical, instituição do salário mínimo, redução do horário
de trabalho, generalização dos subsídios sociais…

O “Documento dos nove” – inversão do processo revolucionário

Face à crescente radicalização do processo revolucionário e aos excessos cometidos


rumo ao socialismo, um grupo de 9 oficiais que faziam parte do Conselho da Revolução,
liderados por Melo Antunes, publicou um manifesto protestando contra o rumo que o país
estava a tomar, recusando a adoção de um regime semelhante aos da Europa Oriental.

O “25 de novembro” – o fim da fase extremista

Golpe militar protagonizado pela ala mais radical, em defesa de Otelo Saraiva de
Carvalho. Fracassou e foi o fim da preponderância política dos mais extremistas. O VI Governo
Provisório é entregue a Pinheiro de Azevedo. Era o fim da fase extremista da revolução.

A Constituição de 1976

Foi elaborada em pleno clima de radicalização política atrás descrito. Por isso, tem
bem presente o caráter ideológico no sentido do socialismo, principalmente nos aspetos
económicos. Assim, a Constituição reitera a “transição para o socialismo” e considera
“irreversíveis” as nacionalizações e as expropriações de terras já efetuadas. Também manteve
como órgão de soberania o Conselho da Revolução.

No entanto, consagra o Estado português como uma república democrática,


reconhecendo o pluripartidarismo, garantindo as liberdades individuais, a realização de
eleições livres e universais.

Podemos concluir que a Constituição de 1976, ao procurar conciliar os interesses das


várias ideologias políticas, foi o documento fundador da democracia portuguesa.

No seguimento da promulgação da Constituição, realizaram-se eleições para a


Assembleia da República, vencidas pelo PS, tendo sido Mário Soares nomeado 1º Ministro;
eleições para a presidência da República, ganhas por Ramalho Eanes e as eleições para as
autarquias locais. Os arquipélagos da Madeira e dos Açores foram dotados de governos e
assembleias regionais.

O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo de descolonização

A resolução do problema da guerra colonial, que tinha estado na origem da revolução,


foi também um aspeto que muito dividiu o MFA. Logo na noite de 25 de abril de 1974, o
reconhecimento do direito à autodeterminação (que estava no programa elaborado pelo MFA)
foi eliminado, por pressão de Spínola. Em seu lugar surgiu a intenção de implementar “uma
política ultramarina que conduza à paz”.

Entretanto, após o eclodir da revolução, aumentaram as pressões internacionais: a


ONU e a OUA (Organização de Unidade Africana) reclamam a imediata independência das
colónias. Os movimentos de libertação unem-se no mesmo sentido. Internamente, a maioria
dos partidos políticos que se legalizaram defendia a independência pura e simples.

É nesta conjuntura que, no dia 27 de julho de 1974, o Conselho de Estado aprova a lei
que reconhece a independência das colónias. De imediato, intensificaram-se as negociações
com os movimentos reconhecidos por Portugal: PAIGC (Guiné e Cabo Verde), FRELIMO
(Moçambique) e MPLA, a FNLA e a UNITA (Angola). Em janeiro de 1975, assinou-se o acordo,
no Alvor, que determinava a data das várias independências.

Devido à instabilidade política e social vivida no país, à desmotivação do exército e às


más relações entre os militares portugueses e os africanos, Portugal encontrava-se numa
situação débil, o que não lhe permitiu acautelar devidamente os interesses dos portugueses
residentes no Ultramar, durante este período de transição.

Em Moçambique, o governo português apenas reconheceu a FRELIMO (acordo de


Lusaca em 7 de setembro de 1974), que estabelecia o cessar-fogo e a constituição de um
governo de transição. Os confrontos começaram quase de imediato através da RENAMO
(opositores da FRELIMO, conotada com o comunismo), assumindo um caráter racial, o que
desencadeou a fuga da população branca. O território viu-se envolvido numa guerra civil o que
originou o denominado “movimento dos retornados”.

O caso mais grave foi o de Angola: os 3 movimentos foram incapazes de ultrapassar as suas
divergências, o que originou uma guerra civil. Neste cenário, em setembro e outubro de 1975
estabeleceu-se uma autêntica ponte aérea entre Angola e Portugal, para os portugueses que
pretendiam regressar.

A revisão constitucional de 1982 e o funcionamento das instituições democráticas

Em 1982, a democracia portuguesa dava claros sinais de que o processo revolucionário


tinha assumido definitivamente uma feição pluralista. Os tempos do “Verão quente” de 75 iam
sendo ultrapassados e as forças políticas mais moderadas finalmente estavam a entender-se
em relação ao rumo a dar ao país.

É nesta conjuntura que o revolucionário pacto MFA/Povo é substituído por um novo


pacto MFA/Partidos, que iria permitir esbater o excessivo comprometimento com o
comunismo e a forte presença militar no exercício do poder político, que havia no texto
constitucional de 1976.

Assim, em 1982, o PS, o PSD e o CDS chegaram a acordo sobre as alterações a


introduzir na Constituição: relativamente a alguns princípios socializantes não houve
novidades (o processo de nacionalizações foi considerado irreversível, bem como a reforma
agrária), mas esta revisão suavizou os aspetos mais marcadamente ideológicos de esquerda
revolucionária e alterou bastante o funcionamento e a organização do poder político – o
Conselho da Revolução foi extinto (deste modo, os militares deixavam de interferir no poder
político).

Os órgãos de soberania passaram a ser o Presidente da República (chefe de Estado),


que tem como principais funções: comandante supremo das Forças Armadas, nomear o 1º
ministro, dissolver a Assembleia da República e demitir o Governo em casos de irresolúvel crise
política, convocar novas eleições, promulgar as leis ou exercer o direito de veto sobre as
mesmas.

A Assembleia da República: órgão legislativo por excelência, constituído por 230


deputados, mandatados por 4 anos.

O Governo: órgão que superintende a administração do país.

Os Tribunais: exercício do poder judicial, incluindo o Tribunal Constitucional ao qual


compete zelar pelo cumprimento da Constituição.
Módulo 9 – Alterações geoestratégicas, tensões políticas e transformações
socioculturais no mundo atual

Quando, em 1982 morreu Brejnev (líder da URSS), o marxismo-leninismo interpretado


por Estaline mantinha-se inalterado nos seus princípios: fiel ao centralismo democrático, o
Partido Comunista continuava a confundir-se com o Estado e os seus altos dirigentes (a
nomenklatura) a servirem-se do poder para garantirem a perpetuação dos seus privilégios.

Todavia começavam a soprar ventos que anunciavam a mudança: na Europa Ocidental,


os partidos comunistas começavam a abandonar as teses marxistas. Na URSS eram visíveis os
sinais de crise do modelo estalinista.

A viragem política: em 1985 é eleito secretário-geral do Partido Comunista Mikhail


Gorbachev. Este, tinha consciência das dificuldades por que passava a economia soviética e
sentiu que o modelo comunista necessitava de uma reforma. Também percebeu que a
população russa ansiava por mais liberdade e melhores condições de vida. É neste cenário que,
em 1986, apresentou ao Congresso do Partido a sua linha de atuação: a Perestroika
(reestruturação económica) e a glasnost (maior transparência política).

A Perestroika era um ambicioso projeto de adaptação da economia planificada aos


mecanismos da economia de mercado: eliminação dos grandes monopólios do Estado,
reconhecendo a livre iniciativa e a livre concorrência entre as empresas, abertas a capitais
privados, nacionais e estrangeiros.

A glasnost visava a participação mais ativa dos cidadãos na vida política: fim das
perseguições políticas, fim da censura, com o reconhecimento da liberdade de expressão e de
imprensa, combate à corrupção. Esta abertura democrática traduziu-se, em 1989, na
realização das primeiras eleições verdadeiramente livres e pluralistas.

Gorbachev pretendia igualmente o fim do clima de guerra fria, que ameaçava o mundo
desde o fim da 2ª Guerra Mundial.

O fim da “cortina de ferro”: a abertura política de Gorbachev acabou por se estender a


todos os países da Europa de Leste, onde largas camadas da população ansiavam por liberdade
e democracia.
Na Polónia, Checoslováquia, Hungria, Bulgária, Roménia, RDA e Jugoslávia intensificou-
se a contestação ao domínio comunista e soviético. Ao contrário do que acontecera no
passado, desta vez a URSS não interveio militarmente para conter a contestação. O próprio
Gorbachev via as democracias populares como mais um fardo, uma pesada obrigação, da qual
só ganhava se se libertasse dela.

Assim, os antigos países-satélite da URSS puderam, finalmente, escolher o seu regime


político. Em 1989, uma vaga democratizante varreu o leste da Europa: os partidos comunistas
perdem o estatuto de partido único, realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra,
elaborando-se novas Constituições. Era o fim da “cortina de ferro”, que culmina com o derrube
do Muro de Berlim, a 9 de novembro de 1989 e a reunificação alemã.

No ano seguinte, é anunciado o fim do Pacto de Varsóvia e a dissolução do COMECON.

O fim da guerra fria: Gorbachev também reconheceu as dificuldades da URSS em


acompanhar os EUA, em termos de desenvolvimento económico e tecnológico e que o esforço
em o acompanhar trazia inúmeras despesas e sacrifícios à população, que não tinha grande
nível de vida. Neste contexto, encetou uma política de diálogo e aproximação ao ocidente,
propondo aos americanos o reinício de conversações sobre o desarmamento (Tratado de
Washington, em 1987).

O fim da URSS: a URSS era um vasto conjunto de povos, culturas e religiões que só um
regime com mão de ferro conseguiu manter unidos.

O processo de desintegração da URSS começou nas repúblicas bálticas (Estónia, em


1988, Letónia e Lituânia, em 1990), constituindo-se como estados soberanos.

A forte oposição interna às políticas de liberalização do regime soviético organizou-se


através das forças mais radicais dos comunistas, os quais em 1991 chegam a tentar um golpe
de Estado.

Da confrontação militar saíram vitoriosas as forças reformistas lideradas por Boris


Ieltsin, entretanto eleito Presidente da Federação Russa. Suspendeu a atividade do Partido
Comunista e decretou o fim da URSS, uma vez que as várias repúblicas não paravam de
contestar o centralismo político de Moscovo, aproveitando a fragilidade do regime comunista.
Desaparecia, ao fim de 70 anos, a poderosa União Soviética, nascendo em seu lugar a
CEI (Comunidade de Estados Independentes) à qual aderem 12 das 15 repúblicas que
integravam a URSS.

Os polos de desenvolvimento económico

A hegemonia dos EUA

Os americanos, afastados das principais frentes de combate nas duas guerras


mundiais, retiraram das mesmas mais benefícios do que prejuízos. Os seus principais centros
industriais e os seus férteis campos de cultivo não foram afetados. A desintegração da URSS,
acabou por tornar os americanos na única superpotência, capaz de determinar os rumos da
nova ordem internacional.

Os primeiros anos do século XXI são marcados pela hegemonia americana, assente
numa incontestada superioridade económica, militar, científica e tecnológica.

Fatores da hegemonia dos EUA:

- Prosperidade económica, assente em: país de grandes dimensões, com forte


dinamismo demográfico; forte espírito de livre iniciativa (milhões de empresas), incentivado
pelo Estado (carga fiscal reduzida…); pátria de gigantescas multinacionais (Interesses
económicos em todo o mundo); todos os setores de atividade apresentam um extraordinário
desenvolvimento (predomínio do terciário – maior exportador de serviços do mundo, unidades
agrícolas de elevadíssima produtividade e modernos complexos industriais); grande dinâmica
na constituição de acordos comerciais, que em muito beneficiam a economia americana (APEC
e NAFTA) – fazem aumentar a dependência dos países face à sua economia.

- Dinamismo científico-tecnológico: país do mundo que mais investe na investigação


científica. Criação de parques tecnológicos (tecnopolos), que associam universidades, centros
de pesquisa e empresas, que trabalham de forma articulada. A liderança americana na área da
ciência está bem demonstrada na quantidade de Prémios Nobel que o país já recebeu.

- Hegemonia político-militar: depois do fim do bloco soviético, os EUA constituíram-se


como a única superpotência militar, com capacidade e legitimidade para intervir nos 4 cantos
do mundo, perante qualquer regime ou ato que coloque em causa a paz mundial (por
exemplo, a intervenção na Guerra do Golfo, operação militar aprovada pela ONU, com o
objetivo de libertar o Kuwait da ocupação do regime iraquiano de Sadam Husein). Devido à sua
superioridade militar, nas últimas décadas os americanos são considerados os “polícias do
mundo”, com recursos para punir violações dos direitos humanos, ataques terroristas, regimes
que perturbem a paz mundial…

A União Europeia

É a partir de 1985, com a ação de Jacques Delors, presidente da Comissão Europeia,


que a CEE ganhou um novo impulso e vitalidade.

Os Acordos de Shengen, em 1985, permitiram a criação de um espaço sem restrições


à circulação de pessoas, abolindo-se as fronteiras. Em 1997, aquando do Tratado de
Amesterdão, já todos os países da UE, com exceção da Irlanda e do Reino Unido, tinham
aderido ao acordo de Shengen.

O Ato Único Europeu: o objetivo era continuar a reforçar a coesão e a solidariedade


entre os Estados membros, foi assinado em fevereiro de 1986. Neste tratado foram revistos os
tratados que fundaram a CEE, reforçando o caráter supranacional dos órgãos de governo
comunitários e contribuir para a aceleração da união económica da Europa.

O Tratado da União Europeia (Tratado de Maastricht): concluído em 1992. Instituiu


oficialmente a designação União Europeia. Segundo este tratado, a UE passa a estruturar-se
em 3 pilares:

-matérias de caráter económico e social (adoção de uma moeda única e ampliação do


conceito de cidadão europeu);

-questões de política externa e segurança comum (a UE falar a uma só voz na cena


internacional);

-cooperação nos domínios da justiça e de assuntos internos (criminalidade e


terrorismo, migrações, …).
O Tratado de Amesterdão: assinado em 1997. Focou-se na questão da disciplina
orçamental, sendo adotado um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), através do qual os
países se comprometeram a promover medidas para impedir que os valores do défice
público, da dívida pública e da taxa de inflação ultrapassem os definidos.

Para coordenar a política económica e monetária da UE foi criado o Banco Central


europeu (BCE) e foram estabelecidos os critérios para a criação do EURO. Assim, em 2002
apenas o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia, continuaram com as suas antigas moedas.

O Tratado de Nice (2000): protocolou-se o alargamento da União aos países da


Europa de Leste. Em sequência, formou-se a União dos 25 com a integração dos países da
antiga “cortina de ferro”, mais Malta e Chipre. O processo ficou concluído com a adesão da
Bulgária e Roménia (2007) e da Croácia (2013).

As dificuldades da construção da união política: o 1º pilar definido em Maastricht,


com impasses, é uma realidade, sobretudo desde a introdução do EURO. A consolidação dos
outros 2 pilares tem passado por dificuldades de muito difícil resolução.

A nível político são evidentes as resistências das populações à perda da sua


soberania, principalmente os países mais desenvolvidos e com mais História. Neste aspeto
destaca-se o Reino Unido, que nunca se identificou muito com o projeto europeu (nem
aderiu à moeda única…) e que recentemente, através de referendo, optou pela saída da UE.

Os “eurocéticos” (que não acreditam no projeto europeu) multiplicam-se por toda a


Europa. A integração de novos países, tao diversos, também não favorece a por muitos
desejada união política.

As dificuldades económicas e sociais sentidas nos últimos anos (desemprego à cabeça)


e a incapacidade da Europa em encontrar soluções, não têm contribuído para a consolidação
do sentimento europeu. Provas da fraca adesão dos europeus, são os elevados índices de
abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu, as resistências à adoção de uma política
externa comum, as divergências em questões de intervenção militar, no caso dos refugiados…

O Tratado de Lisboa (2007): foi controverso pois vários países tiveram dúvidas,
submeteram-no a referendo (Irlanda), temendo a perda de competências dos Parlamentos
nacionais. Para muitos, este tratado reforça o peso dos grandes países em detrimento dos
pequenos.

A afirmação do espaço económico Ásia-Pacífico

A partir dos anos 70, mais países do Este e Sudeste asiático vão acompanhar o Japão
no processo de industrialização e grande crescimento económico: os chamados “Dragões
Asiáticos” (Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e Taiwan). Nos anos 80, juntaram-se a
Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas (“Tigres Asiáticos”).

Os “Dragões Asiáticos” eram países com poucos recursos naturais e energéticos, mas
arrancaram para um surpreendente processo de desenvolvimento e crescimento económico,
assentes na produção e exportação de bens de consumo. Seguiram o modelo japonês:

- forte intervenção do Estado na economia (concessão de créditos e outros incentivos às


empresas);

- adoção de medidas protecionistas;

- importação de capitais e tecnologia;

- aproveitamento de uma mão-de-obra abundante, barata, esforçada, disciplinada e dedicada;

- aposta na educação e formação, tendo em vista a qualificação da mão-de-obra.

Os setores que mis se desenvolveram foram a eletrónica e os têxteis, inundando os


mercados internacionais com preços imbatíveis. A meio da década de 70, estes Novos Países
Industrializados (NPI) já produziam mais de metade dos produtos manufaturados produzidos
em todo o mundo.

Entretanto, a Coreia do Sul passou a investir nos setores automóvel e da construção


naval.

Os “Tigres Asiáticos”: países que juntamente com Singapura tinham constituído a


ASEAN, organização destinada ao desenvolvimento económico e fomento da paz e
estabilidade na região. Mais tarde, a ASEAN viria a constituir-se como zona de comércio livre,
onde a cooperação se sobrepunha à concorrência.
Estes países começaram por se desenvolver exportando matérias-primas, energia e
bens alimentares para os outros países industrializados da região.

A questão de Timor

Era colónia de Portugal desde 1512, constituída pela parte leste de uma ilha do
arquipélago indonésio. O pouco interesse por esta distante colónia fez com que, mesmo após
a revolução de 25 de abril de 1974, as estruturas coloniais permaneciam intactas, enquanto os
outros territórios já estavam em processo de descolonização.

Havia 3 forças políticas em Timor, reconhecidas por Portugal: a UDT (União


Democrática Timorense), que defendia a união com Portugal, passando Timor a ser uma região
autónoma; a APODETI (Associação Popular Democrática Timorense), que defendia a integração
na Indonésia e a FRETILIM (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), que defendia
a independência total de Timor.

Em 28 de novembro de 1975, a FRETILIM declara a independência unilateral de Timor.


Os opositores declaram a integração do território na Indonésia. Em sequência, no dia 7 de
dezembro, Timor é invadido pelas tropas indonésias, dando início a um violento processo de
integração. A ONU não reconheceu esta ocupação, defendendo o direito dos timorenses à
autodeterminação.

Refugiados nas montanhas, os timorenses vão iniciar uma resistência contra a


ocupação indonésia, liderados por Xanana Gusmão.

Em 12 de novembro de 1991, uma força militar indonésia carregou violentamente


contra timorenses que se manifestavam pacificamente, no cemitério de S. Cruz. O ataque foi
filmado e a brutalidade das imagens serviu para, finalmente, a comunidade internacional se
preocupar com o que se estava a passar.

A inversão do processo: em 1997 Kofi Annan iniciou o mandato como Secretário-Geral


da ONU e a questão timorense passou a ser uma prioridade. Outro passo importante: a
demissão do ditador indonésio Suharto em 1998.

A independência de Timor Leste concretizou-se em 2002.

A modernização e abertura da China à economia de mercado


O processo de desenvolvimento económico da China começou em 1978, com a
chegada ao poder de Deng Xiaoping, após a morte de Mao Tsé-Tung.

O novo governante lançou um programa económico, com medidas de caráter


capitalista, para permitir a abertura da China ao exterior.

- a modernização da agricultura: começou por um processo de descoletivização das


terras. A privatização deu liberdade aos camponeses para comercializarem os excedentes e de
ficarem com os lucros. Com isto, os níveis de produtividade aumentaram significativamente.

- a modernização da indústria e a abertura comercial: substituição da prioridade dada


à indústria pesada pela prioridade à produção de bens de consumo e têxteis, destinados à
exportação, abrindo a China aos interesses económicos estrangeiros.

- O socialismo de mercado: conciliação do caráter socialista/comunista do regime com


práticas económicas capitalistas – “Um país, dois sistemas”. Criaram-se Zonas Económicas
Especiais, altamente industrializadas, com investimentos estrangeiros e com total liberdade
para realizar trocas comerciais com o exterior.

Nesta fase, a liberalização industrial e comercial fez-se sobretudo nas regiões do


litoral. Numa 2ª fase, o capital estrangeiro também foi investido em zonas do interior, para
aproveitar a abundante e barata mão-de-obra.

Setores estratégicos como a indústria espacial, militar e as telecomunicações,


continuaram a ser monopólio do Estado.

Resultados: o setor manufatureiro, em 2005, já representava mais de 1/3 da economia


chinesa, mas a alta tecnologia não foi esquecida (por ex, a indústria automóvel).

Desde 1979, a economia chinesa apresentava um crescimento médio de 9,4%. Em


2005, já era a sexta maior economia mundial.

Em 2001, o comércio já representava 43% do PIB.

As relações externas: a adoção de uma economia com características capitalistas, implicou o


reatamento de relações diplomáticas com países do bloco capitalista: com o Japão, foram
reatadas em 1978 e no ano seguinte com os EUA. A China também se integrou nas grandes
instituições económicas e financeiras (1980 no FMI e Banco Mundial, 1986 no GATT e em 2001
na OMC).
A situação política e social: a liberalização da economia não foi acompanhada da liberalização
política. O Partido Comunista continuou a dirigir o país, mantendo-se a repressão e a falta de
liberdades e garantias individuais.

A concentração do desenvolvimento económico sobretudo nas áreas costeiras,


acentuou as desigualdades sociais. No litoral afirmava-se uma poderosa burguesia
empresarial, no interior a classe camponesa continuava empobrecida.

A liberalização da economia trouxe outros problemas: a inflação e a redução dos


apoios da segurança social, o que levou milhões de chineses a migrar para as cidades.

Em 1989, reclamando mais democracia, milhares de manifestantes foram violentados


pelas forças do regime – massacre de Tiananmen. Este massacre demonstra que a liberalização
do regime está muito longe de ser uma realidade.

Por último, a economia chinesa beneficiou da integração de 2 territórios sob


administração europeia: Hong Kong em 1997 e Macau em 1999.

Mutações sociopolíticas e novo modelo económico

O Estado-Nação: território independente e soberano no qual coabita uma nação (um


povo), com uma identidade e cultura específicas, correspondendo ao princípio de que a cada
nação deve corresponder um estado.

No passado, havia muitas nações espalhadas por vários estados e estados constituídos
por várias nações (grandes impérios do século XIX e, mais recentemente são exemplo a URSS e
a Jugoslávia).

Atualmente, o nº de países é muito maior. Todavia, há problemas em torno do


conceito de Estado-Nação, que podem colocar em causa a coesão dos que existem:

- eclosão de movimentos separatistas (Catalunha, País Basco…);

- surgimento de grupos específicos dentro dos Estados;

- o fenómeno da globalização ameaça a coesão nacional, havendo questões transnacionais que


podem ameaçar muitos países – as migrações, as questões ambientais, o terrorismo…

O neoliberalismo e a globalização da economia


A crise do mundo capitalista dos anos de 1970, afetou o Estado- Providência, devido às
dificuldades financeiras dos Estados. Acresce-se a diminuição das receitas estatais dos sistemas
de segurança social, devido a:

- aumento da esperança de vida, o que prolonga e aumenta os custos com os reformados;

- a crescente tecnologia agrava o desemprego, o que faz diminuir o nº de trabalhadores a


descontar para a Segurança Social.

A afirmação do neoliberalismo: perante a conjuntura de crise, nos anos 80 alguns governos


mais conservadores, colocaram em prática políticas liberais (Margaret Thatcher na Inglaterra,
Ronald Reagan nos EUA e Helmut Kohl na Alemanha):

- diminuição da intervenção do Estado na economia, valorizando o setor privado;

- valorização da livre iniciativa e da livre concorrência;

- privatização de muitos serviços públicos;

- rigoroso controlo da despesa pública (diminuição do nº de funcionários públicos,


menos subsídios sociais…);

- estimulação do emprego no setor privado;

- políticas para reduzir a inflação (redução das emissões de moeda).

Aplicava-se, assim, o conceito de “Estado-mínimo” em detrimento do “Estado-


Providência”, mais atento à situação dos necessitados.

A globalização da economia
Tem origem na cooperação económica encetada após a 2ª Guerra Mundial. Novas
organizações de comércio livre surgiram (CEE, ASEAN, NAFTA, Mercosul…), constituindo-se um
mercado à escala mundial.

O lado mais visível da globalização é a formação de grandes conglomerados


empresariais que dominam a produção, baseando-se na utilização de modernas e sofisticadas
tecnologias (3ª revolução industrial). Aproveitando as vantagens das TIC, estas empresas
ultrapassam fronteiras e dispersam-se por todo o globo, aproveitando as potencialidades de
cada região – empresas transnacionais, que transformam o mundo num mercado único. É o
capitalismo na sua máxima expressão.

Os prós e os contras da globalização: tem suscitado acesa polémica na comunidade


internacional.

Os que a defendem, afirmam que a globalização proporciona o acesso a bens materiais


a populações e regiões que, de outra forma, estariam condenadas à pobreza. A instalação de
fábricas nessas regiões cria postos de trabalho e o acesso a produtos.

Os que dão relevo aos efeitos prejudiciais da globalização, afirmam que acentua as
desigualdades entre os países mais ricos e os mais pobres; a deslocalização de empresas abre
graves problemas sociais (colocar o lucro à frente dos interesses e necessidades das pessoas);
muitas economias nacionais são “asfixiadas” pelas grandes multinacionais; prejudica o ideal de
Estado- Nação, não se tendo em conta as características de cada região e o impacto ambiental
negativo do capitalismo desenfreado.

Rarefação da classe operária: o operário, tal como o concebemos na altura da revolução


industrial (trabalhador pouco qualificado que em massa oferecia a sua força de trabalho), tem
tendência a ser um grupo cada vez menos numeroso, em virtude de:

- a tecnologia cada vez mais sofisticada vai dispensando muita mão-de-obra;

- as indústrias tradicionais (têxteis, siderurgia,…), que antes empregavam milhares de


operários, ou diminuem ou aderem à tecnologia, originando despedimentos;

- as políticas neoliberais facilitam o despedimento;

- o conceito de fábrica também se alterou, verificando-se uma “terciarização” da


indústria – já há pouca diferença entre o trabalhador da linha de montagem e o que está no
escritório.
O declínio do sindicalismo. Fatores:

- os operários já não têm tanta consciência de classe como acontecia no século XIX e
inícios do século XX. Vivemos numa sociedade mais individualista. Há cada vez menos
trabalhadores a lutar pela melhoria das suas condições e cada vez mais os que estão
conformados com a sua situação;

- a precariedade do emprego leva a que muitos trabalhadores prefiram “não lutar”


com medo do despedimento.

O declínio da militância política

Os novos tempos também não são propícios a lutas partidárias, tendo vindo a
aumentar o desinteresse pela política, principalmente entre os mais jovens.

Isto acontece porque: hoje em dia os partidos são mais eleitoralistas do que convictos
defensores de uma ideologia; o individualismo da sociedade faz com que as pessoas prefiram
“fechar-se” em círculos mais restritos e não em movimentos de massas; crescente descrença
nos políticos e nas suas promessas; o poder dos media faz com que já não seja necessário os
grandes comícios do passado.

Portugal no novo quadro internacional

Passados os tempos conturbados do PREC, consolidada a democracia e concluído o


processo de descolonização, ficaram abertas as portas para a entrada na CEE.

A Portugal interessava a integração num mercado em desenvolvimento e aproveitar os


programas de modernização do setor produtivo e das comunicações. Aos países comunitários
interessava a integração de países do sul da Europa, ricos em produtos em que a Europa
Central e do Norte eram deficitárias.

O processo de integração: com a adesão do país ao Conselho da Europa, em 1976, assumia-se


o projeto político de adesão à CEE, tendo o pedido sido formalizado em março de 1977, com
Mário Soares como 1º ministro. Em dezembro de 1980, assinou-se um acordo de pré-adesão.
Em 12 de junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, era formalmente assinado o Tratado de
Adesão e a partir de 1 de janeiro de 1986, Portugal, juntamente com a Espanha, passou a
integrar plenamente a CEE.

As implicações da integração europeia:

Politicamente: facilitou a consolidação da nossa democracia, estando o país numa democracia


pluralista, moderna, de tipo ocidental. Portugal deixou de ser o país “orgulhosamente só” de
Salazar e passava a estar junto das mais sólidas e poderosas democracias europeias e
mundiais.

Alguns portugueses ocuparam ou ocupam lugares de enorme destaque na diplomacia


internacional: Durão Barroso Presidente da Comissão Europeia ou António Guterres como
atual Secretário-Geral da ONU.

Economicamente: foram as alterações mais visíveis e significativas. Como país com


níveis de desenvolvimento muito abaixo da média comunitária, Portugal iria beneficiar de
avultadas verbas e apoios técnicos, vindos dos fundos estruturais, numa tentativa de
aproximar o país dos parâmetros de desenvolvimento dos seus parceiros.

Na última década do século XX, a economia portuguesa cresceu acima da média europeia, o
que se traduziu num aumento do investimento estrangeiro, baixa inflação, aumento das
exportações e diminuição da dívida externa.

Verificou-se, igualmente, uma modernização das infraestruturas (apoios do PRODAC –


Programa de Desenvolvimento das Acessibilidades), em particular das telecomunicações,
redes de gás, de eletricidade e abastecimento de água. Mas a grande revolução operou-se na
rede rodoviária, com a construção de modernas autoestradas e itinerários principais, a
renovação da rede ferroviária e dos aeroportos.

Os desafios/problemas decorrentes da integração europeia:

- Portugal viu-se integrado num mercado altamente competitivo, onde a concorrência é forte;

-os sucessivos alargamentos da União Europeia constituem novas oportunidades para


Portugal, sobretudo na área comercial, mas também levantam novos desafios, pois aumenta a
concorrência;
-o governo português deixou de ser 100% soberano no que à adoção de muitas medidas diz
respeito, sendo condicionado pelas opções da União Europeia;

- a abertura das fronteiras facilitou a deslocalização das empresas e de investimentos para


mercados mais competitivos;

-acentuaram-se as assimetrias regionais;

-tornou-se mais difícil o controlo da imigração e o combate à criminalidade;

-os efeitos das crises internacionais fazem-se agora sentir com mais intensidade no nosso país.

As relações de Portugal com os países lusófonos e com a área ibero-americana

A integração de Portugal na União Europeia não fez perder a sua histórica vertente
atlântica em matéria de política externa. Os tempos que se seguiram aos processos de
descolonização não foram propícios a esse relacionamento. Todavia, passada essa época
conturbada, Portugal voltaria a ter um relacionamento mais próximo com a lusofonia.

O colapso da URSS e do comunismo e o fim da guerra fria, também ajudaram ao


reaproximar de Portugal com as ex-colónias africanas, tendo estas entrado numa época de paz
e democracia, criando-se condições para o reforço das relações com esses estados, sem
prejuízo da nova opção europeísta.

O 1º projeto de relacionamento institucional foi os PALOP, comunidade constituída


pelos 5 Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau,
Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe), que evoluiria para uma comunidade mais alargada com a
integração do Brasil (1996) e de Timor-Leste (2002) - a CPLP – Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa. Em 2014, a Guiné Equatorial também passou a integrar a CPLP.

As relações com os PALOP

Têm privilegiado a vertente económica, interessante para os países africanos,


carenciados de investimentos externos imprescindíveis para o seu desenvolvimento a todos os
níveis e interessante para Portugal, para internacionalizar setores fundamentais da sua
economia e intermediar as relações da UE com esses países.
Assim, muitas empresas portuguesas estabelecem protocolos de cooperação
económica e financeira em setores como o turismo, as telecomunicações, os cimentos, a
energia, a banca e o desenvolvimento de infraestruturas.

Paralelamente à cooperação económica, Portugal concede importantes apoios no


âmbito da educação e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do combate à pobreza.

As relações com a CPLP

Têm-se centrado ao nível da cooperação económica, linguística, política e diplomática.


As relações com o Brasil intensificaram-se a partir da década de 1990, altura em que as
empresas portuguesas começaram a aproveitar as potencialidades oferecidas por um imenso
mercado consumidor. Em especial os setores do turismo, das telecomunicações, dos cimentos,
da energia e da metalomecânica, têm obtido elevados benefícios dos seus investimentos
naquele país.

Os laços históricos que unem os 2 países têm proporcionado um forte intercâmbio a


nível dos fluxos migratórios e das ligações culturais.

As relações com Timor-Leste, têm assentado na defesa e promoção dos valores


culturais portugueses, onde se inclui a língua e a cooperação na educação (muitos professores
portugueses naquele país), na ajuda à consolidação das instituições democráticas e o
desenvolvimento económico.

As relações com os países ibero-americanos

A vertente atlântica das relações externas de Portugal inclui também o relacionamento


com os EUA e com a América Latina.

Deste modo, foram renovados os acordos sobre a utilização da Base das Lajes e
continuamos inseridos na NATO. Em relação à América Latina, Portugal faz parte da
Organização dos Estados Ibero-Americanos, participando ativamente nas respetivas cimeiras,
tendo em vista a internacionalização da economia portuguesa em mercados emergentes.

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