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MÓDULO 8 - PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA

DÉCADA DE 80 - OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

Unidade 1 - Nascimento e a rmação de um novo quadro geopolítica

A reconstrução do pós-guerra
A definição de áreas de influência
• Alemanha e Japão perdem in uência, vencidas e humilhadas.

• Reino Unido e França estão empobrecidas e dependentes da ajuda externa, embora vencedoras.

• URSS, com a força do exército vermelho e a sua imensa extensão geográ ca.

• EUA, primeira potência mundial.

A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz


À medida que a 2ª guerra mundial se aproxima do m e a vitória se desenha de forma clara, os
Aliados começam a delinear estratégias para o período para o período de paz que se avizinha. Como
tal, temos:

Conferência de Ialta (1 de Fevereiro de 1945): Roosevelt, Estaline e Churchill reúnem-se nas margens
do Mar negro, com objetivo de estabelecer as regras que devem sustentar a nova ordem internacional
do pós-guerra. Ficou de nido o seguinte:

• De niu-se a fronteira entre a Polónia e a União Soviética;

• Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em 4 áreas de ocupação, geridas pelas três


potências conferencistas e pela França, sob coordenação de um Conselho Aliado;

• Organização da conferência preparatória da Organização das Nações Unidas;

• Supervisionamento dos “três grandes” na futura constituição dos governos dos países de Leste
(ocupados pelo Eixo), com base no respeito pela vontade política das populações;

• Estabeleceu-se a quantia de 20.000 milhões de dólares, proposta por Estaline, como base das
reparações de guerra a pagar pela Alemanha;

• Embora não seja explicita, há claramente uma divisão dos territórios entre capitalismo e
comunismo, que sempre foi respeitado, mesmo durante a Guerra Fria.

Conferência de Potsdam ( nais de julho de 1945, junto de Berlim): reúnem-se com o objetivo de
consolidar os alicerces da paz:

• Perda provisória da soberania da Alemanha e a sua divisão em 4 áreas de ocupação;

• Administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em 4 setores de ocupação;

• Montante e tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;

• Julgamento dos criminosos de guerra nazis por um tribunal internacional (Nuremberga);

• Divisão, ocupação e desnazi cação da Áustria.

Novo quadro geopolítico


A guerra permitiu a URSS grandes ganhos territoriais e um enorme protagonismo internacional.
O isolamento a que ocidentais tinham votado o grande país comunista quebrara-se e Estaline
participava agora, como parceiro de primeira grandeza, na de nição das novas coordenadas
geopolíticas.

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A União Soviética desempenho um papel fundamental na guerra, o Exercito Vermelho libertou vários
países do Leste da Europa do nazismo: a Polónia, a Checoslováquia, a Hungria, a Roménia e a
Bulgária.

Entre 1946 e 1948 todos os países libertados pelo Exército Vermelho resvalaram para o socialismo

Logo em março de 1946, Churchill denuncia publicamente (Universidade de Fulton – Missouri) a


criação de uma “cortina de ferro” por parte da URSS, que “isola” o ocidente do território soviético.

A Organização das Nações Unidas


Com o objetivo de criar uma organização internacional que fosse capaz de velar pela paz e
segurança, Roosevelt pugnou pela criação de um novo organismo. A nova organização surgiu,
o cialmente, na Conferência de São Francisco em abril de 1945.

Segundo a Carta fundadora, as Nações Unidas têm como propósitos principais:

• Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizado, tanto quanto possível, meios pací cos, de
acordo com os princípios da justiça e do direito internacional.

• Desenvolver relações de amizade entre os países do Mundo, baseados na igualdade entre os


povos e no direito à autodeterminação.

• Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e promover a


defesa dos Direitos Humanos.

• Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes propósitos.

• A ONU irá apresentar igualmente uma feição humanista, reforçada com a aprovação, em 1948, da
Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Orgãos de funcionamento
Assembleia Geral:

Formada pela generalidade dos membros;

Cada membro tem 1 voto;

Funciona como parlamento mundial;

Reúne ordinariamente entre setembro e dezembro para colocar na sua agenda todo o tipo de
questões abrangidas pelo âmbito.

Conselho de Segurança:

Formada por 15 membros, sendo 5 permanentes (EUA, URSS, Reino Unido, França e
República Popular da China) e 10 utuantes, eleitos pela Assembleia-Geral, por dois anos;

Orgão diretamente responsável pela manutenção da paz e da segurança:

▪ Emite “recomendações”

▪ Mediador

▪ Decreta sanções económicas

▪ Decide a intervenção das forças militares da ONU

Decisões são obrigadas a uma maioria reforçada de 9 votos a favor (entre os quais devem
estar os dos 5 estados membros permanentes). Basta a oposição de um deles para inviabilizar
qualquer tomada de posição (direito de veto);

Os 5 estados-membros permanentes são reconhecidos como as potências com o direito de


policiar o mundo.

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Secretariado-Geral:

Composto por um secretário-geral, eleito pela Assembleia, por proposta do Conselho de


Segurança;

O secretario-geral, sem direito a voto:

▪ participa nas reuniões do Conselho de Segurança;

▪ coordena o funcionamento burocrático da Organização;

▪ Serviços diplomáticos, sobretudo como mediador em questões mais delicadas;

▪ Representa a ONU e, com ela, todos os povos do mundo.

Conselho Económico e Social:

Encarregado de promover a cooperação a nível económico, social e cultural entre as nações;

Atua através de comissões especializadas;

É um dos orgãos mais importantes e ativos da ONU.

Tribunal Internacional de Justiça:

Sede em Haia;

Orgão máximo da justiça internacional, resolve, à luz do direito internacional, os litígios entre
os Estados.

Conselho de Tutela (ou Conselho de Administração Fiduciária):

Encarregado de administrar os territórios que outrora se encontravam sob a alçada da SDN,


encaminhando-as progressivamente para a independência;

Cessa os seus serviços em 1994, quando Palau obtém a independência.

Organismos especializados
BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento (Banco Mundial)

FMI - Fundo Monetário Internacional

FAO - Organização para a Agricultura e Alimentação

OMS - Organização Mundial de Saúde

OMC - Organização Mundial de Comércio (ex-GATT)

OIT - Organização Internacional do Trabalho

UNICEF - Fundo de Assistência à Infância

UNESCO - Organização para a Educação, Ciência e Cultura

As novas regras da economia internacional


O ideal de cooperação económica
O planeamento do pós-guerra não foi só em termos políticos. Foi também em termos económicos e
nanceiros. Assim, em julho de 1944, um grupo de economistas de 44 países reune-se em Bretton
Woods (New Hampshire, EUA), com o m de prever e estruturar a situação económica e nanceira do
período de paz.

Este teve como objetivo(s):

Regularizar o comércio mundial.

Regularizar os pagamentos.

Regularizar a circulação de capitais.

• Evitar o círculo vicioso de desvalorizações monetárias.

• Evitar a instabilidade das taxas de câmbio dos anos 20 e 30.

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As medidas adotadas:

Criação de um novo sistema monetário internacional que garantisse a estabilidade das moedas,
indispensável para incrementar das trocas, assente no dólar como moeda-chave e em que as
restantes moedas passaram a ter uma paridade xa relativamente ao ouro e à moeda americana, já
que o Tesouro dos EUA garantia a convertibilidade dos dólares neste metal precioso – “tão bom como
o ouro” (as good as gold).

Criação de dois organismos:

• Fundo Monetário Internacional (FMI): ao qual recorriam os bancos centrais dos países com
di culdade em manter a paridade xa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos.

• Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como


Banco Mundial, destinado a nanciar projetos de fomento económico a longo prazo.

Criação de uma organização internacional de comércio (proposto pelos EUA):

• Criação, em 1947, do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT): 23 países comprometem-se a


negociar a redução dos direitos alfandegários e outras restrições comerciais.

Esta ideia do espaço Económico alargado, em que os países abriram mutuamente das suas
fronteiras, fruti cou na Europa a criação do BENELUX: união aduaneira entre a Bélgica, os Países
Baixos e o Luxemburgo. Estes viria a constituir-se como o embrião da Comunidade Económica
Europeia.

A primeira vaga de descolonização


Descolonização
- Processo de regreção do imperialismo europeu. O termo aplica-se, sobretudo, ao período
subsequente a Segunda Guerra Mundial, altura em que, num curto espaço de tempo, se tornaram
independentes das colónias da Ásia e da África.

Uma conjuntura favorável a descolonização


A guerra, que exigiu pesados sacrifícios às colónias, “acordou” os povos para a injustiça da
dominação estrangeira. A luta contra as forças do Eixo foi sentida por todos como uma luta pela
liberdade que dai em diante deveria estender-se a todo o Globo.

As potências coloniais da Europa estavam devastadas pela Guerra e mostraram-se incapazes de


defender os seus territórios da invasão estrangeira na Ásia da ocupação da Indochina, Malásia,
Birmânia e Índias Orientais Holandesas pelo Japão.

As duas super potências apoiam os esforços de libertação dos povos colonizados:

• Os EUA, em lembrança do seu próprio passado e em defesa dos seus interesses económicos
monstram-se adversos a manutenção do sistema colonial.

• A URSS atua em nome da ideologia marxista (prevê a revolta dos oprimidos pelos interesses
económicos capitalistas) e aproveita a possibilidade de estender nos países recém-formados o
modelo soviético.

Também a ONU, fundada sobre o signo da igualdade entre todos os povos do Mundo, se constituirá
como um baluarte Internacional da descolonização, obrigando os estados-membros ao cumprimento
do estipulado na Carta e nas Resoluções da Assembleia-Geral que condenaram a manutenção do
domínio colonial.

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A descolonização asiática
No Médio Oriente tornam-se independentes a Síria, o Líbano, a Jordânia e a Palestina, onde, em
1948, nasce, num estado de guerra, o Estado de Israel.

Os ingleses abrem mão das suas colónias, como é o caso da Índia inglesa que ca dividida em dois
Estados: a União Indiana, maioritariamente hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana; o Ceilão, a
Birmânia e a Malásia. Criação da Commonwealth: os ingleses preservam o interesse económico
na região (pragmatismo).

Na República da Indonésia (dirigente nacionalista Sukarno) os Holandeses reconhecem a


independência em 1949, após a guerra e pressionados pela ONU.

Na Indochina a ocupação japonesa cria fortes sentimentos antifranceses . Quando, em 1945, a


França retoma a soberania enfrenta ao longo de 9 anos uma longa e violenta oposição, encabeçada
pelo líder comunista Ho Chi Minh. Os Franceses retiram-se do território reconhecendo o
nascimento de 3 novas nações: o Vietnam (provisoriamente dividido entre o Norte e o Sul), o Laos e o
Camboja.

O tempo da Guerra Fria - a consolidação do mundo bipolar


Um mundo dividido
A rutura
Quando, em 1946, Churchill a rmou, em Fulton, que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o
processo de sovietização dos países de Leste era já irreversível.

A URSS:

Sob tutela diplomática e militar da o URSS, os partidos comunistas ganhavam forças e,


progressivamente, tomavam poder. Para coordenar a sua atuação, tornando-a mais e ciente, criou-
se, em 1947, o Kominform (Secretariado de Informação Comunista), que se tornou um importante
organismo de controle por parte da URSS.

Os EUA:

Os EUA assumem (um ano após o alerta de Churchill), frontalmente, a liderança de oposição aos
avanços do socialismo é colocada em ação a doutrina Truman:

• O presidente Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas


antagónicos: um, baseado na liberdade; o outro, na opressão. Aos americanos
competiria, perante o enfraquecimento da Europa, lidar com o mundo livre e auxiliar-
lo na contestação do comunismo (containment);

• Ajudar a Europa a reerguer-se economicamente;

Plano Marshall junho de 1947 (ajuda económica à Europa) – European Recovery Plan (ERP):

O plano Marshall foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países já sob in uência soviética,
mas esta tentativa de aproximação não teve êxito.

A URSS considerou o plano imperialista e impediu que os países, sob sua in uência, o
aceitassem.

Andrei Jdanov, formaliza, por sua vez, a rutura entre as duas potências:

▪ EUA: imperialista e antidemocrático.

▪ URSS: democracia e fraternidade entre povos.

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A URSS (reposta ao Plano Marshall):

Plano Molotov (Janeiro de 1949): estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa


Oriental.

Criação do COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua): instituição destinada a


promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da União
Soviética.

O primeiro conflito: a questão alemã


A expansão do comunismo no primeiro ano da paz (pós-guerra) fez com que os países capitalistas
olhassem para a Alemanha como aliado imprescindível à contenção do avanço soviético. Assim,
surgiram várias situações e reações:

• EUA criam a República Federal Alemã (RFA).

• URSS, em reação, cria a República Democrática Alemã (RDA).

• Bloqueio de Berlim (junho de 1948 - maio de 1949): a URSS impede o acesso das forças
ocidentais à cidade de Berlim, bloqueando o acesso terrestre à cidade.

Reação dos EUA: criação da “Ponte Aérea”, enviando mantimentos para a cidade por ar. Esta
situação irá manter-se até junho de 1948, altura em que termina o Bloqueio de Berlim.

A Guerra Fria
- Clima de tensão e antagonismo entre o bloco soviético e o bloco americano, essencialmente a
primeira fase desse mesmo afrontamento. São características salientes da Guerra Fria a corrida aos
armamentos, com particular relevância para o nuclear, a proliferação de con itos localizados e
crises militares nas mais diversas zonas do Mundo, bem como uma visão simplista e extremada do
bloco contrário.

O afrontamento entre as duas superpotências e os sues aliados durou até aos anos 80, altura em
que a URSS mostra os primeiros sinais de fraqueza.

Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de
hostilidade e insegurança que deixou o Mundo num permanente sobressalto.

Uma gigantesca máquina de propaganda inculcava nas populações a ideia da superioridade do seu
sistema e a rejeição e o temor do lado contrário, ao qual se atribuíam as intenções mais sinistras e os
planos mais diabólicos.

O mundo capitalista
A política de alianças dos Estados Unidos
Uma vez enunciada a doutrina Truman, os EUA empenharam-se, por todos os meios, na contenção
do comunismo.

Em termos político-militares, aliança entre os ocidentais não tardou também a o cializar-se. Atenção
provocado pelo Bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram: em 1949 à Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN OU NATO): EUA, Canadá e 10 nações europeias. Aliança
apresenta-se como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um inimigo que,
embora não se nomeia, está omnipresente: a união soviética e tudo o que, para o mundo ocidental,
ela representa.

Esta sessão de ameaça e o afã em consolidar a sua área de in uência lançaram os EUA numa
autêntica “pactomania” que os levou a construir um vasto leque de alianças:

OEA (1948): Organização dos Estados Americanos: na América.

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ANZUS (1951): na Oceânia (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos).

OTASE (1954): Organização do Tratado da Ásia do Sudeste.

Pacto de Bagdade (1955): Médio Oriente, Pacto de Bagdade será depois chamado de CENTO-
Organização do Tratado Central.

Todas estas alianças foram complementadas com diversos acordos de caráter político e económico.
Em 1959, três quartas parte do Mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.

A política económica e social das democracias ocidentais


No m da 2º Guerra mundial, o conceito de democracia adquiriu, no Ocidente, um novo signi cado,
para além do respeito pelas liberdades fundamentais o regime democrático deve assegurar o bem-
estar dos cidadãos e a justiça social.

Nesta altura, sobressaíam no panorama político, duas forças (ambas são credíveis perante outros
partidos políticos liberais, tinham lutado contra o nazismo e partilhavam as mesmas preocupações
sociais e advogavam um Estado interventivo):

Democracia cristã:

• Chegam ao poder em países como a Itália e a RFA;

• Tem a sua origem na doutrina social da Igreja, que condena os excessos do liberalismo
capitalista, atribuindo ao poder político a missão de zelar pelo bem comum;

• Consideram que o plano temporal e espiritual, embora distintos, não podem separar-se.

• Propõem uma orientação profundamente humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na


solidariedade.

• Advogam condições justas de trabalho, reforço económico do Estado (que deve assegurar
condições de vida dignas a todos os seus cidadãos).

- Corrente política inspirada pela doutrina social da Igreja. A democracia cristã pretende aplicar à vida
política os princípios da justiça, entreajuda e valorização da pessoa humana que estiveram na base
do cristianismo. Deste modo, embora de índole conservadora, esta ideologia defende que a
democracia não se limita à aplicação das regras do sufrágio universal e da alternância política, mas
também por função assegurar o bem-estar do cidadãos.

Social-democracia:

• Chegam ao poder em países como a Inglaterra, Holanda ou Dinamarca.

• Pretendem a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre-concorrência


económica com o intervencionismo do Estado.

• Advogam o controlo estatal dos setores-chave da economia e uma forte tributação dos
rendimentos mais elevados.

• Rejeita a referência marxista.

• A social democracia contenta-se em redistribuir a riqueza assim obtida pelos cidadãos, através
do reforço da proteção social.

- Corrente da do socialismo que teve origem nas conceções defendidas por Eduard Bernstein, na II
Internacional (1899). A social-democracia rejeita a via revolucionária proposta por Marx, opondo-lhe
a participação do jogo democrático, como forma de atingir o poder, e a implementação de reformas
socializantes, como meio de melhorar as condições de vida das classes trabalhadoras.

Deste modo, partindo de ideologias diferentes (acima referenciadas), estes convergem no mesmo
propósito de promover reformas económicas e sociais profundas. Na Europa do pós-guerra, assiste-
se a um vasto programa de nacionalizações que atinge os bancos, as companhias de seguros, a
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produção de energia, os transportes, a mineração, etc. Estado torna-se, por esta via, o principal
agente económico do país:

• Regula a economia.

• Garante o emprego.

• De ne a política salarial.

• Revê o sistema de impostos, reforçando o caráter progressivo das taxas (mais impostos para os
mais ricos).

Um tal conjunto de medidas modi cou, de forma profunda, a conceção liberal de Estado dando
origem ao Estado-Providência.

A afirmação do Estado-Providência
O Reino Unido é o pioneiro do Welfare State, isto é, o Estado do bem-estar, onde cada cidadão tem
asseguradas as suas necessidades básicas, "do berço ao túmulo”.

Ainda durante a guerra, o empenhamento do Estado nas questões sociais foi ativamente defendido
por Lorde Beveridge, cujo Relatório de 1942 in uenciou decisivamente a política trabalhista, um vez
que con ava que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males
sociais“: carência, doença, miséria, ignorância e ociosidade.

A abrangência das medidas adotadas em Inglaterra e a criação do Sistema Nacional de Saúde


(National Health Service) assente na gratuitidade total dos serviços médicos e extensivo a todos os
cidadãos, serviram de modelo à maioria dos países europeus.

A estruturação deste modelo passou por toda a Europa, atendendo-se a:

• Situações de desemprego, acidente, velhice e doença;

• Prestações de ajuda familiar (“abono de família”) e outros subsídios aos mais pobres;

• Ampliam-se as responsabilidades do Estado no que concerne à habitação, ao ensino e à


assistência médica.

Este conjunto de medidas visam um duplo objetivo:

• Reduzir a miséria e o mal-estar social ( contribuindo para uma repartição mais equitativa da
riqueza).

• Assegurar uma certa estabilidade à economia.

O Estado Providência foi um fator de grande prosperidade durante 3 décadas.

A prosperidade económica
O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas: os governos não só
assumiram grandes responsabilidades económicas como delinearam planos de desenvolvimento
coerentes, que permitiram estabelecer prioridades, rentabilizar ajuda Marshall e de nir diretrizes
futuras; internacionalmente, os acordos de Bretton Woods, a criação do GATT e de espaços
económicos alargados (como a CEE) consolidaram as relações económicas entre os países.

A nova loso a de ação, o capitalismo, surge, após a guerra, renovado e revigorado. Entre
1945-1973: a produção mundial mais do que triplicou e, em certos setores, como a produção
energética e do automóvel, multiplicou-se por dez.

As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise, registando apenas, de tempos
a tempos, pequenos abrandamentos de ritmo. As taxas de crescimento especialmente altas de certos
países, com a RFA, a França ou Japão caram marcadas como 2milagre económico”

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Entre as suas características, podemos destacar:

• A aceleração do progresso tecnológico: atingiu todos os setores, desde as bras sintéticas, aos
plásticos, à medicina, à aeronáutica, à eletrónica, etc. Rapidamente produzidas em série as
inovações tecnológicas revolucionaram a vida quotidiana e os processos de produção.

• O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão a


abundância e o baixo preço do petróleo alimentaram a prosperidade económica, permitindo uma
autêntica revolução nos transportes para além de uma enorme gama de produtos industriais.

• O aumento da concentração industrial e do número de multinacionais:

◦ Empresas fabricam e comercializam nos quatro cantos do mundo;

◦ Presentes em praticamente todos os setores (matérias-primas, transportes, comunicações,


siderurgia, eletrónica, alimentação, etc)

◦ Estas empresas investem grandes somas na investigação cientí ca, contribuindo para a
aceleração do progresso técnico;

◦ Empresas acentuam a globalização económica.

• O aumento signi cativo da população ativa proporcionado:

◦ pelo reforço da mão de obra feminina no mercado de trabalho;

◦ baby-boom dos anos 40-60;

◦ imigração dos trabalhos oriundos dos países menos desenvolvidos (gregos, portugueses,
argelinos, turcos);

◦ mão de obra tornou-se mais quali cada, em virtude do prolongamento da escolaridade


(exceção dos imigrantes que asseguravam os trabalhos que não requeriam um alto nível de
formação pro ssional).

• A modernização da agricultura:

◦ Setor onde a produtividade aumenta de tal modo que permite aos países desenvolvidos
passarem de importadores a exportadores de produtos alimentares.

◦ Renovada por grandes investimentos, nova tecnologia e nova mentalidade, libertando grandes
quantidades de mão de obra, que migra para os núcleos urbanos “êxodo rural” que contribui
para a alteração da relação entre os três setores de atividade.

• O crescimento do setor terciário:

◦ Multiplicação do número de postos de trabalho: devido ao surto espetacular das trocas


comerciais, aposta no ensino, serviços sociais prestados pelo Estado e crescente
complexidade da administração.

◦ Alargamento das classes médias, que contribui para a subida do nível de vida e para o
equilíbrio social.

A sociedade de consumo
- Sociedade de abundância característica da segunda metade do século XX. Identi ca-se pelo
consumo em massa de bens supér uos, que passam a ser encarados como essenciais à qualidade
de vida. A sociedade de consumo é também identi cada com a sociedade do desperdício, já que a
vida útil dos bens é arti cialmente reduzida pela vontade da sua renovação.

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O efeito mais evidente dos “Trinta gloriosos” foi a generalização do conforto material.

Pleno emprego.

Salários altos.

Produção maciça de bens a preços acessíveis.

Conduziram a uma sociedade de consumo, que transformou os lares e o estilo de vida da maioria
da população dos países capitalistas.

Nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é permanentemente estimulado a despender


mais do que é necessário: centros comerciais, publicidade, vendas a crédito.

O consumismo, que entre as duas guerras fora um fenómeno unicamente americano, instala-se
duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda metade do século XX.

O mundo comunista
Os países comunistas:

1945: 2 países (URSS e Mongólia).

1945-1949: Europa Oriental, Coreia do Norte e imensa extensão da China.

Décadas de 50 e 60: Ásia (Vietname do Norte, Cambodja, Birmânia), Cuba.

Década de 70: novos países asiáticos e África Negra.

O expansionismo soviético
Após a Segunda Guerra Mundial, o reforço da posição militar soviética e o desencadear o processo
de descolonização criaram condições favoráveis que era a extensão do comunismo, quer ao
estreitamento dos laços de amizade e cooperação inter Moscovo e os países recentemente
emancipados.

Europa
A primeira vaga da extensão do Comunismo atingiu a Europa Oriental e fez-se sobre pressão direta
da URSS (exceção da Jugoslávia). Em mados de 1948: Partidos comunistas dos países de Leste
assumem-se como partidos únicos e, em pouco tempo, a vida política, social e económica destas
regiões foi reorganizada em modelos semelhantes aos da União Soviética.

Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares, por oposição às


democracias liberais:

• As democracias populares defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes


trabalhadoras, que exercem o poder através do Partido Comunista.

• As eleições existem mediante sufrágio universal, mas o sistema funciona com a apresentação de
candidaturas e listas únicas, de carácter o cial.

• Dirigentes do Partido ocupam os altos cargos do Estado: de nem a vida política, as opções
económicas, o enquadramento ideológico e cultural dos cidadãos.

A Europa do Leste reconstrói-se de acordo com a ideologia marxista e a interpretação que dela faz
o regime soviético.

Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com:

• Pacto de Varsóvia: aliança militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. É
uma organização diametralmente oposta à OTAN, simbolizando as duas coligações o
antagonismo militar que marcou a Guerra Fria.

A União Soviética não hesitou em usar a força perante protestos e rebeliões. Os dois casos mais
conhecidos:

• Hungria (1956) e Checoslováquia (1968).

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◦ As ruas de Budapeste e de Praga (“Primavera de Praga”) viram-se, então, ocupadas
pelos tanques soviéticos, que, depois de uma repressão severa, garantiram a
“normalização” da vida política.

• Berlim: milhares de cidadãos da Alemanha comunista utilizavam Berlim Oriental como forma de
alcançar a República Federal Alemã, atraídos pelos salários altos e pelo consumismo da
sociedade capitalista.

◦ A solução? Em 1961, contrói-se, na RDA, o famoso Muro de Berlim, que, em breve, se


tornou no símbolo da Guerra Fria.

Democracia popular
- Designação atribuída aos regimes em que o Partido Comunista, a rmando representar os interesses
dos trabalhadores, se impõe como partido único, controlando as instituições do Estado, a
economia, a sociedade e a cultura.

Ásia
Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista se cou a dever à
intervenção direta da URSS foi a Coreia.

Ocupada pelos Japoneses no nal da 2ª Guerra Mundial a Coreia foi libertada com a ajuda da URSS e
dos EUA. A Coreia foi, por isso, dividida em dois Estados:

• República Popular da Coreia: Zona norte, Comunista, sustentada pela URSS.

• República Democrática da Coreia: Zona sul, conservadora, sustentada pelos EUA.

Guerra entre 1950-1953: violenta guerra, provocada pela tentativa de invasão do socialismo (norte)
face ao sul, com vista à uni cação do território sob a égide do socialismo. No nal, tudo cou na
mesma até à atualidade.

Nos restantes casos, o triunfo do regime comunista cou a dever-se a movimentos revolucionários
nacionais que contaram, no entanto, com o incentivo ou o apoio declarado da URSS.

Outro país foi a China.

Outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma República Popular.

Embora o apoio da URSS aos revolucionários tenha sido decisivo para a vitória comunista, meses
depois os dois Governos formam um Tratado de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que coloca a
China na esfera soviética. Posteriormente, a China afasta-se da URSS.

A China Popular participou ativamente na Guerra da Coreia e na guerra da libertação da Indochina,


encabeçada por Ho Chi Minh.

América Latina e África


O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba, onde, em 1959 revolucionários,
sob o comando de Fidel Castro e do mítico Che Guevara, derruba o ditador pró-americano Fulgêncio
Batista.

Com a hostilidade de Washington à porta, Cuba irá aceitar, mais tarde, o apoio da URSS,
transformando-se num bastião avançado do comunismo na América Central.

A in uência soviética em Cuba con rma-se quando os EUA detetam (fotogra a aérea), em 1962,
mísseis russos, de médio alcance, capazes de atingir o território americano.

Kennedy exige a retirada imediata dos mísseis e coloca o mundo perante a iminência de uma
guerra nuclear entre as duas superpotências. Após negociações, e com Ktruchtchev no lado
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russo, os russos aceitam retirar os mísseis e os EUA comprometem-se a não tentar derrubar,
novamente, o regime cubano.

Nos anos 70, a URSS ajuda diretamente, ou por intermédio de Cuba, as guerrilhas marxistas da
Guatemala, El Salvador e Nicarágua. O mesmo aconteceu em África com um impulso dado, por
exemplo, à instauração de regimes comunistas em Angola e Moçambique, para onde foram enviados
contingentes militares cubanos.

Opções e realizações da economia de direção central


Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de plani cação económica dos anos 20,
in uenciando também outros países socialistas:

• Indústria pesada e infraestruturas recebem prioridade absoluta. Imensos complexos siderúrgico e


centrais hidroeléctricas fazem da União Soviética a segunda potência industrial do Mundo e
garantem-lhe o poderio militar necessário ao afrontamento dos tempos da Guerra Fria.

Esta industrialização foi um dos maiores êxitos das economias plani cadas nos países socialistas
(exceção da Checoslováquia e da RDA).

No entanto, o nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica. Eis os
motivos:

Jornadas de trabalho excessivas (10 horas).

Salários sobem a um ritmo muito lento.

Carências de bens de toda a espécie mantêm-se.

A agricultura, a construção habitacional, as indústrias de consumo e o setor terciário são


negligenciados na economia plani cada. Por isso, o avanço nestes setores é muito lento.

Nas cidades, a industrialização muito rápida leva ao crescimento de bairros periféricos,


superpovoados e insalubres.

Longas las de espera para adquirir bens essenciais são uma rotina diária.

Os bloqueios económicos
Após o primeiro impulso industrializador, as economias plani cadas começam a mostrar as suas
debilidades:

• Plani cação excessiva entorpece as empresas: que não gozam de autonomia na seleção das
produções, do equipamento e dos trabalhadores, na xação de salários e preços ou na recolha de
fornecedores e clientes.

• Gestão burocrática: sem entusiasmo nem iniciativa. Limita-se a cumprir as quantidades previstas
no plano, sem atender à qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos
equipamentos e da mão de obra.

• Unidades agrícolas: a falta de investimento, a má organização e o desalento dos camponeses


re ete-se, de forma severa, na produtividade. O Leste, outrora exportador de cereais, agora vê-se
obrigado a importar em quantidades crescentes.

Face a este sintoma de marasmo económico, nos anos 60 implementam-se um vasto conjunto de
reformas em praticamente todos os países da Europa socialista:

• Reforço do investimento nas indústrias de consumo, na habitação (em 10 anos, o parque


imobiliário cresce 80%) e na agricultura (setor em que é lançado um vasto programa de
arroteamento das "terras virgens" do Cazaquistão e da Sibéria Ocidental.

• Redução da duração do trabalho semanal (de 48 para 42 horas) e da idade de reforma (incluindo
agora trabalhadores agrícolas).

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• Nomenklatura: Aumento da autonomia dos gestores nas empresas face aos altos funcionários do
Estado, bem como prémios aos trabalhadores mais ativos, para aumentar produtividade.

No entanto, os efeitos destas medidas caram aquém das expectativas. Na década de 70, sob a
orientação de Leonidas Brejnev:

• A burocracia reforça-se.

• Alastra uma onda de corrupção sem precedentes.

• O IX e o X planos voltam a dar prioridade ao complexo militar-industrial e à exploração dos


recursos naturais (ouro, gás e petróleo da Sibéria). Porém, os custos de tal operação tornaram os
resultados aquém das expectativas.

Estes problemas irão alastrar-se aos países socialistas e irão conduzir à falência dos regimes
comunistas europeus no m dos anos 80.

A escalada armamentista e o início da era espacial


A escalada armamentista
Para além destes esforços económicos e políticos, constituindo alianças internacionais, os dois
blocos apetrecharam-se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico
de armamento cada vez mais so sticado.

Cronologia/passos para a corrida ao armamento:

• Pós-Guerra: só os EUA conhecem o segredo da bomba atómica.

• Em Setembro de 1949: URSS faz explodir a sua 1ª bomba atómica. A con ança do Ocidente
desmorona-se.

• 1952:americanos testam, no Pací co, a primeira bomba de hidrogénio (bomba H), mil vezes mais
destrutiva que a bomba de Hiroxima. A corrida ao armamento tinha começado. No ano
seguinte, os Russos possuíam também a bomba de hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as
duas super potências à produção maciça de armamento nuclear.

Embora o carácter revolucionário deste novo rearmamento se encontrar na produção de bombas


atómicas e no desenvolvimento de mísseis de longo alcance para as lançar, o mundo viu também
multiplicar-se as armas ditas "convencionais".

• Final de 1950 (EUA): o Memorado do Conselho de Segurança considerava:

Imperativo “aumentar, tão depressa quanto possível, a nossa força aérea, terrestre e naval em
geral e as dos nossos aliados, a um ponto em que não estejamos tão fortemente dependentes
de armas nucleares“.

Os EUA triplicam o orçamento para a defesa, sobretudo após a invasão da Coreia do Sul pelos
exércitos comunistas.

• Em 1952 (URSS): em resposta, passa a gastar 80% do orçamento de Estado em despesas


militares.

O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma característica nova: a
dissuasão cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu
potencial atómico em caso de violação das respetivas áreas de in uência. O mundo ameaçado de
destruição tinha, segundo Churchill, resvalado o “equilíbrio instável do terror”.

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O início da era espacial
Cientes de que a superioridade tecnológica pode ser decisiva, as duas super potências dedicaram
grande atenção aos ramos da Ciência relacionados com o equipamento militar.

Durante a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos


foguetes e criado os primeiros mísseis. Em 1945 esses cientistas irão emigrar para a URSS e os EUA,
adquirindo um papel relevante no programa espacial.

Em outubro de 1957 a URSS coloca, em órbita, primeiro satélite russo, o Sputnik 1.

Em novembro de 1957 a URSS coloca, em órbita o Sputnik 2 levando a bordo a cadela Laika, que
se tornou o primeiro viajante espacial. Nesse mesmo ano, os EUA tentam igualmente colocar um
satélite em órbita, mas este explodiu no lançamento.

Início de 1958: EUA chegam à órbita com o Explorer 1.

Em 1961: URSS lança o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre, Yuri Gagarin.

Final da década de 60 (EUA): Neil Armstrong e Edwin Aldrin são os primeiros astronautas a chegar à
Lua.

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