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Será nesta conjuntura que, em Março de 1985, Gorbatchev é eleito secretário-geral do PCUS e
presidente da URSS, encarando de frente a deterioração do sistema. Enquanto o nível de vida
da população baixava, o atraso económico e tecnológico, relativamente aos Estados Unidos
crescia a olhos vistos e só com muitas dificuldades o país conseguia suportar os pesados
encargos decorrentes da sua vasta influência no Mundo.
Assim, este opta por encetar uma política de diálogo e de aproximação ao Ocidente, propondo
aos americanos o reinício das conversações sobre o desarmamento. Incapaz de ombrear com o
programa deles de defesa nuclear, o líder soviético procurou criar um ambiente que permitisse
à URSS iniciar uma reestruturação interna.
A inflexão política encetada acabou por debilitar a autoridade dos líderes dos países da Europa
de Leste, onde a liberdade e democracia eram há muito ansiadas. Durante muito tempo
reprimido, a contestação ao regime alastrou a todos. Só que agora os partidos comunistas não
contavam mais com a retaguarda militar russa para “normalizar” a situação. Confiante no
clima de concórdia que estabelecera com o Ocidente, Gorbatchev passou a olhar as
democracias populares como uma “obrigação” pesada, da qual a URSS só ganhava em libertar.
Neste contexto, a doutrina da soberania limitada foi abandonada. Os países satélites podiam
doravante escolher livremente o seu regime político. No ano de 1989 uma vaga democrática
varreu então o Leste europeu e os partidos comunistas perdem o estatuto de partidos únicos,
em todos eles se realizaram eleições livres.
Mostrar poderio económico e tecnológico dos EUA bem como hegemonia militar.
Os EUA desde cedo erigiram a livre iniciativa e a livre concorrência como valores
fundamentais. A presença do Estado na regulação económica é quase inexistente, sendo
poucas as restrições à livre circulação de bens e capitais. Terra de oportunidades, é
incentivado o espírito de iniciativa e altamente valorizado o sucesso individual, assegurando a
“livre empresa” e estimulando a elevada competitividade dadas todas as condições.
Cientes de que a inovação é determinante no mundo actual, os EUA são hoje a nação que mais
investe em investigação científica e desenvolvimento tecnológico, num valor superior ao
conjunto dos outros países do G8. Devendo-se igualmente à criação desde os anos 50 de
parques tecnológicos, os tecnopólos, nos quais se associam de forma articulada universidades
prestigiadas, centros de pesquisa científica e empresas.
Num contexto militar, o fim da Guerra Fria trouxe ao mundo a esperança de uma época de paz
e cooperação. O presidente americano veio falar numa nova ordem mundial… Mas a verdade é
que, apesar do colapso da URSS, nunca esteve na mira dos Estados Unidos perder o estatuto
de superpotência militar, vindo a ser considerados os “polícias do Mundo”. Assim, apenas
fizeram por manter o seu papel preponderante através da multiplicação da imposição de
sanções económicas como recurso para punir “infractores” quer se trate da violação de
direitos humanos, repressão política, suporte de organizações terroristas quer de agressões
militares; do reforço do papel da OTAN que, com o fim do comunismo na Rússia e a dissolução
do Pacto de Varsóvia teria, à partida, perdido a sua razão de existir e, ainda, ao assumir um
papel activo, encabeçando numerosas intervenções armadas pelos motivos mais díspares, seja
o caso da operação “Devolver a Esperança” na Somália em 1992-94 ou à destituição de
regimes repressivos que, alegadamente, constituem uma ameaça à paz mundial.
Unir um continente formado por tantas nações ciosas da sua independência parece um
projecto ambicioso. É por isso que a construção europeia tem sido uma história de altos e
baixos, em que períodos de grande entusiasmo têm alternando outros de cepticismo. Etapa a
etapa, o projecto foi, no entanto, progredindo, orientando-se em dois vectores principais: o
aprofundamento das relações entre os Estados e o alargamento geográfico da União.
Embora o Tratado de Roma previsse uma união política a longo prazo, o 1º grande objectivo da
CEE foi o estabelecimento de uma união aduaneira que só viria a concretizar-se em 1968.
A CEE foi, entretanto, alargando a sua intervenção económica e social. Foi assim que todos os
estados membros criaram a Política Agrícola Comum (PAC), acordaram no combate
concertado ao desemprego e na ajuda às regiões menos favorecidas e se decidiram criar o
Sistema Monetário Europeu (SME).
Apesar destes avanços, a Comunidade enfrentava no início dos anos 80, um período de
descrença nas suas potencialidades e no seu futuro. Só em 1985, graças à acção do novo
presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, a Comunidade reencontra a sua dinâmica,
que conduziram em 1986 à assinatura do Ato Único Europeu que previa o estabelecimento
para 1993 de um mercado único onde, além de mercadorias circularem livremente, pessoas,
capitais e serviços também iria ser possível.
Em 1990 iniciaram-se negociações com vista ao aumento das competências da CEE, alargada a
sectores como a moeda, política migratória, política externa e defesa. Estas conduziram à
assinatura em 1992 do Tratado de Maastricht. Nascia desta forma a União Europeia em três
pilares: o económico; o da política externa e segurança comum e o da cooperação no domínio
da justiça e assuntos internos.
Porém, desde 2009, a economia europeia tem enfrentado uma crise de grandes proporções,
com as taxas de crescimento a caírem, com o desemprego a disparar e com os Estados mais
endividados a serem obrigados a aceitar “planos de resgate” duros.
A respeito do alargamento geográfico, em meados dos anos 70, com o fim dos regimes
autoritários em Portugal, Grécia e Espanha, estes solicitaram a sua adesão à CEE, juntamente à
Grécia em 1981; em 1992 surge a Áustria, Finlândia e Suécia, três anos depois efectivos; em
2004, 10 países passam a integrar a EU, que passa de 15 a 25 membros (Eslovénia, Eslováquia,
República Checa, Chipre, Estónia, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Hungria); em 2007 aderiu a
Bulgária e a Roménia e, finalmente, em 2014, registou-se a Croácia, o 28º país da EU.
(No entanto, o projecto da União Europeia não é consensual, havendo aqueles que se opõem a
qualquer forma de união, os que defendem a união exclusivamente num quadro de
colaboração entre Estados soberanos e apostam na criação de uma espécie de Estados Unidos
da Europa, com um governo federal único e supranacional. Neste contexto, o Reino Unido foi o
país que mais tenazmente sempre rejeitou a ideia de uma Europa federal, acabando por
decidir na sequência do resultado de um reverendo (2016), abandonar a UE.)
A partir dos anos 70, na esteira do rápido crescimento do Japão, outros países do Sudeste
Asiático transitam de economias tradicionais para processos de industrialização
surpreendentes. Desta forma transformam a Ásia num polo de intenso desenvolvimento
económico, capaz de concorrer com os EUA e a EU. O processo desenrolou-se em três fases.
Primeiro afirmou-se o Japão, que acabou por servir de incentivo e modelo à primeira geração
de países industrializados (Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan). Embora possuíssem
poucos recursos e não tivessem qualquer tradição industrial, souberam reunir um conjunto de
factores favoráveis: vontade política de crescimento económico além de um forte
intervencionismo estatal e da adopção de políticas proteccionistas; o investimento no ensino e
a capacidade de trabalho.
Apesar do êxito, os NPI da Ásia confrontavam-se com dois problemas graves nomeadamente a
excessiva dependência face às economias estrangeiras e a rivalidade entre sim já que
concorriam com os mesmos produtos nas mesmas zonas.
Quando a economia ocidental abrandou nos anos 70, os países asiáticos foram induzidos a
procurar mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica. Voltaram-se então
para os membros da ASEAN. Agarrando a oportunidade, deram início a uma cooperação
regional estreita. Este intercâmbio resultou na ascensão de uma segunda geração de países
industriais na Ásia: Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas que sobretudo desenvolveram a sua
produção, apoiada numa mão-de-obra ainda mais barata, em virtude do maior atraso.
Face ao sucedido, a Indonésia ordena um violento processo de integração no seu país. Portugal
reage e corta relações diplomáticas com Jacarta, apelando à ONU para que condene a
ocupação e continue a considerar Timor-Leste um território não autónomo sob administração
portuguesa. O nosso país inicia então uma intensa campanha diplomática em prol da
ilegitimidade da ocupação indonésia e do direito do povo de Timor-Leste à autodeterminação.
Em Timor os indonésios vão recorrer ao terror e à barbárie, levando a cabo uma acção
sistemática de genocídio sobre o povo maubere. Estima-se que numa população de 700 mil
pessoas a ocupação tenha custado a vida a mais de 200 mil. Quis o acaso que uma das muitas
acções de repressão fosse filmada por operadores de televisão estrangeiros que se
encontravam em Díli: em 1991 as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão
desarmada que homenageava no cemitério de Santa Cruz, um independentista assassinado.
Tal massacre fez mais de 200 mortes. Timor mobiliza assim a opinião pública mundial.
No fim da década, pressionada pelo mundo, a Indonésia aceita finalmente que o povo
timorense decida o seu destino através de um referendo marcado para 1999. Tal referendo,
supervisionado por uma missão das Nações Unidas, deu uma inequívoca vitória à
independência mas desencadeou uma escalada de terror por parte das milícias pró-indonésias.
Perante isto, uma onda de indignação e solidariedade explode, levando ao envio de uma força
de paz por parte da ONU. Sob a sua protecção, o território encaminhou-se para independente.
Em 1976, a morte de Mao Tsé Tung e o fracasso do maoísmo levaram a China a repensar o seu
modelo de desenvolvimento económico. O êxito alcançado pelas economias asiáticas
emergentes induzira os novos dirigentes a abandonar a velha política autárquica e colectivista,
em prol da modernização do país. Desta forma, a China adopta algumas regras da economia de
mercado, integrando-se no sistema económico-financeiro internacional.
Desde 1981 que o crescimento económico da China tem sido impressionante, tornando-se em
2010 o segundo maior PIB do Mundo.
Neste país socialista, as desigualdades entre o litoral e o interior e entre os ricos e os pobres
cresceram exponencialmente.
Mas a incongruência entre o regime político vigente e a via económica trouxe um conjunto de
contratempos ao partido comunista chinês. A liberalização económica não foi acompanhada
de uma liberalização política, tornando-se a falta de liberdade e a repressão cada vez menos
suportáveis. A morte de Deng Xiaoping não desviou a China de um rumo financeiro traçado
mas não trouxe ainda medidas políticas que poderão salvar o regime de um impasse.
“Continente de todos os males”, a África foi atormentada pela fome, pelas epidemias, pelos
ódios étnicos, por ditaduras ferozes É a única grande região do Globo em que as condições de
vida da população não progrediram nas últimas décadas do século XX.
Desde sempre muito débeis, as condições de existência dos africanos degradaram-se pela
combinação de um conjunto complexo de factores, desde o crescimento acelerado da
população; a instabilidade política; as enormes dívidas externas; diminuição das ajudas
internacionais sob pretexto do seu desvio para compra de armas ou enriquecimento ilícito de
governantes e a ausência de infra-estruturas e quadros técnicos.
A tomada de poder por Fidel Castro infundiu aos Estados Unidos o temor da propagação do
comunismo em terras da América. Apostados em contê-lo, os norte-americanos apadrinharam
golpes de força e regimes de direita um pouco por todo o continente. Em 1975 só a Colômbia,
Venezuela e a Costa Rica tinham governos eleitos. Os outros estavam sob tutela de regimes
repressivos/militares.
Nos anos 80 registou-se uma inflexão para a democracia. A conjugação da acção das guerrilhas
com as dificuldades económicas levou a uma mobilização popular sem precedentes. O recuo
dos americanos no apoio dado às ditaduras foi um factor fundamental.
Embora perceptível, o caminho da América Latina rumo ao desenvolvimento não está isento
de dificuldades. As grandes diferenças sociais, o aumento do narcotráfico, bem como a
corrupção, a violência herdada no passado e a tentação do poder pessoal continuam a
comprometer a democracia política e o futuro económico da região.
O Médio Oriente foi sempre uma região instável mas nas últimas décadas tem ganho um
protagonismo crescente com o avanço do fundamentalismo. Este emergiu no mundo islâmico
como fenómeno catalisador do fervor religioso mas também como veículo de afirmação de
uma identidade cultural. Este fenómeno irradiou no Irão onde em 1979 uma revolução
inspirada pelo aiatola (líder espiritual muçulmano) Khomeini depôs o xá Reza Pahlevi, pró-
americano, e instaurou um Estado teocrático. A partir de então, os iranianos intensificaram as
suas campanhas contra valores ocidentais e contra a influência dos EUA. Estas campanhas
tiveram eco nos grupos mais desfavorecidos dos países árabes e, em particular, nos
palestinianos que há mais de meio século se opõem ao Estado de Israel.
A criação do Estado de Israel em 1948 mereceu desde sempre a rejeição do povo palestiniano
e dos árabes em geral, desencadeando os primeiros conflitos entre os dois povos. Infligindo
pesadas derrotas à coligação árabes, o Estado de Israel, com o apoio dos EUA e pelos judeus
de todo o mundo, mobilizados pelo sionismo tem sobrevivido ainda que rodeada de inimigos.
Estes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. Recusam-se a reconhecer o Estado
de Israel o que tem contribuído para que a região se encontre num permanente “estado de
sítio” com repetidos conflitos. Esta situação levou aos israelitas a ocuparem territórios
reservados aos palestinianos onde, para além de um contingente armado e de estruturas
administrativas, instalaram numerosos colonatos. Neste contexto a revolta palestiniana
cresceu, encontrando expressão política na OLP. Considerada inicialmente por Israel e seus
aliados como uma organização terrorista, a OLP foi obtendo o progressivo reconhecimento
internacional. No fim dos anos 80, na sequência da primeira intifada, por pressão dos EUA e da
comunidade internacional, Israel encetou negociações com a Organização daí resultando o
primeiro acordo israelo-palestiniano assinado em 1993. Este estabeleceu o reconhecimento
mútuo das duas partes, a renúncia da OLP à luta armada, a constituição de uma Autoridade
Nacional Palestiniana e a passagem progressiva do controlo dos territórios ocupados para a
administração palestiniana. Apesar de complementado com novos acordos, este projecto tem
chocado com numerosos obstáculos que têm impedido a sua concretização: a oposição do
fundamentalismo islâmico, a resistência judaica à devolução dos territórios palestinianos
ocupados e à desativação dos colonatos e a consequente radicalização de grupos islâmicos
extremistas. Os conflitos entre as duas partes têm-se sucedido e o novo século não trouxe
alterações que permitam encarar a possibilidade de haver paz na Palestina.
Criada após a 1ª Guerra Mundial, a Jugoslávia foi sempre uma entidade artificial que
aglutinava diferentes nacionalidades, línguas e religiões. Ao assumir o poder em 1946, Josip
Tito reconheceu a diversidade e reorganizou o país transformando-o num estado federal
composto por 6 repúblicas: Sérvia, Montenegro, Macedónia, Eslovénia, Croácia e Bósnia-
Herzegovina e 2 regiões autónomas integradas na Sérvia: Voivodina e Kosovo. Mas esta união
não impediu que em cada uma fosse aparecendo movimentos independentistas e tensões.
Em 1999, o pesadelo regressou aos Balcãs com a guerra do Kosovo. A esta região, onde a
esmagadora maioria da população era albanesa, tinha sido retirada a autonomia pelos sérvios
que aí impunham uma política de segregação racial. Os sérvios levam a cabo mais uma
operação de “limpeza étnica” a que a NATO decidiu-se, mais uma vez, pela intervenção e
depois de 78 dias de intensos bombardeamentos, estes acabaram por se dar por vencidos
sendo o Kosovo colocado sob a protecção das Nações Unidas. Em 2008, os albaneses
declararam unilateralmente a independência do Kosovo. Embora muito contestada, tem vindo
a ser aceite, apesar de a Sérvia não reconhecer a sua legitimidade.