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Módulo 9 – Alterações geoestratégicas, tensões políticas e transformações socioculturais no

mundo atual

Quando, em 1982 morreu Brejnev (líder da URSS), o marxismo-leninismo interpretado por


Estaline mantinha-se inalterado nos seus princípios: fiel ao centralismo democrático, o Partido
Comunista continuava a confundir-se com o Estado e os seus altos dirigentes (a nomenklatura) a
servirem-se do poder para garantirem a perpetuação dos seus privilégios.

Todavia começavam a soprar ventos que anunciavam a mudança: na Europa Ocidental,


os partidos comunistas começavam a abandonar as teses marxistas. Na URSS eram visíveis os
sinais de crise do modelo estalinista.

A viragem política: em 1985 é eleito secretário-geral do Partido Comunista Mikhail


Gorbachev. Este, tinha consciência das dificuldades por que passava a economia soviética e
sentiu que o modelo comunista necessitava de uma reforma. Também percebeu que a população
russa ansiava por mais liberdade e melhores condições de vida. É neste cenário que, em 1986,
apresentou ao Congresso do Partido a sua linha de atuação: a Perestroika (reestruturação
económica) e a glasnost (maior transparência política).

A Perestroika era um ambicioso projeto de adaptação da economia planificada aos


mecanismos da economia de mercado: eliminação dos grandes monopólios do Estado,
reconhecendo a livre iniciativa e a livre concorrência entre as empresas, abertas a capitais
privados, nacionais e estrangeiros.

A glasnost visava a participação mais ativa dos cidadãos na vida política: fim das
perseguições políticas, fim da censura, com o reconhecimento da liberdade de expressão e de
imprensa, combate à corrupção. Esta abertura democrática traduziu-se, em 1989, na realização
das primeiras eleições verdadeiramente livres e pluralistas.

Gorbachev pretendia igualmente o fim do clima de guerra fria, que ameaçava o mundo
desde o fim da 2ª Guerra Mundial.
O fim da “cortina de ferro”: a abertura política de Gorbachev acabou por se estender a
todos os países da Europa de Leste, onde largas camadas da população ansiavam por liberdade e
democracia.

Na Polónia, Checoslováquia, Hungria, Bulgária, Roménia, RDA e Jugoslávia intensificou-se


a contestação ao domínio comunista e soviético. Ao contrário do que acontecera no passado,
desta vez a URSS não interveio militarmente para conter a contestação. O próprio Gorbachev via
as democracias populares como mais um fardo, uma pesada obrigação, da qual só ganhava se se
libertasse dela.

Assim, os antigos países-satélite da URSS puderam, finalmente, escolher o seu regime


político. Em 1989, uma vaga democratizante varreu o leste da Europa: os partidos comunistas
perdem o estatuto de partido único, realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra,
elaborando-se novas Constituições. Era o fim da “cortina de ferro”, que culmina com o derrube do
Muro de Berlim, a 9 de novembro de 1989 e a reunificação alemã.

No ano seguinte, é anunciado o fim do Pacto de Varsóvia e a dissolução do COMECON.

O fim da guerra fria: Gorbachev também reconheceu as dificuldades da URSS em


acompanhar os EUA, em termos de desenvolvimento económico e tecnológico e que o esforço
em o acompanhar trazia inúmeras despesas e sacrifícios à população, que não tinha grande nível
de vida. Neste contexto, encetou uma política de diálogo e aproximação ao ocidente, propondo
aos americanos o reinício de conversações sobre o desarmamento (Tratado de Washington, em
1987).

O fim da URSS: a URSS era um vasto conjunto de povos, culturas e religiões que só um
regime com mão de ferro conseguiu manter unidos.

O processo de desintegração da URSS começou nas repúblicas bálticas (Estónia, em


1988, Letónia e Lituânia, em 1990), constituindo-se como estados soberanos.

A forte oposição interna às políticas de liberalização do regime soviético organizou-se


através das forças mais radicais dos comunistas, os quais em 1991 chegam a tentar um golpe de
Estado.
Da confrontação militar saíram vitoriosas as forças reformistas lideradas por Boris
Ieltsin, entretanto eleito Presidente da Federação Russa. Suspendeu a atividade do Partido
Comunista e decretou o fim da URSS, uma vez que as várias repúblicas não paravam de contestar
o centralismo político de Moscovo, aproveitando a fragilidade do regime comunista.

Desaparecia, ao fim de 70 anos, a poderosa União Soviética, nascendo em seu lugar a CEI
(Comunidade de Estados Independentes) à qual aderem 12 das 15 repúblicas que integravam a
URSS.

Os polos de desenvolvimento económico

A hegemonia dos EUA

Os americanos, afastados das principais frentes de combate nas duas guerras


mundiais, retiraram das mesmas mais benefícios do que prejuízos. Os seus principais centros
industriais e os seus férteis campos de cultivo não foram afetados. A desintegração da URSS,
acabou por tornar os americanos na única superpotência, capaz de determinar os rumos da nova
ordem internacional.

Os primeiros anos do século XXI são marcados pela hegemonia americana, assente
numa incontestada superioridade económica, militar, científica e tecnológica.

Fatores da hegemonia dos EUA:

- Prosperidade económica, assente em: país de grandes dimensões, com forte


dinamismo demográfico; forte espírito de livre iniciativa (milhões de empresas), incentivado pelo
Estado (carga fiscal reduzida…); pátria de gigantescas multinacionais (Interesses económicos em
todo o mundo); todos os setores de atividade apresentam um extraordinário desenvolvimento
(predomínio do terciário – maior exportador de serviços do mundo, unidades agrícolas de
elevadíssima produtividade e modernos complexos industriais); grande dinâmica na constituição
de acordos comerciais, que em muito beneficiam a economia americana (APEC e NAFTA) –
fazem aumentar a dependência dos países face à sua economia.
- Dinamismo científico-tecnológico: país do mundo que mais investe na investigação
científica. Criação de parques tecnológicos (tecnopolos), que associam universidades, centros de
pesquisa e empresas, que trabalham de forma articulada. A liderança americana na área da
ciência está bem demonstrada na quantidade de Prémios Nobel que o país já recebeu.

- Hegemonia político-militar: depois do fim do bloco soviético, os EUA constituíram-se


como a única superpotência militar, com capacidade e legitimidade para intervir nos 4 cantos do
mundo, perante qualquer regime ou ato que coloque em causa a paz mundial (por exemplo, a
intervenção na Guerra do Golfo, operação militar aprovada pela ONU, com o objetivo de libertar o
Kuwait da ocupação do regime iraquiano de Sadam Husein). Devido à sua superioridade militar,
nas últimas décadas os americanos são considerados os “polícias do mundo”, com recursos para
punir violações dos direitos humanos, ataques terroristas, regimes que perturbem a paz mundial…

A União Europeia

É a partir de 1985, com a ação de Jacques Delors, presidente da Comissão Europeia, que
a CEE ganhou um novo impulso e vitalidade.

Os Acordos de Shengen, em 1985, permitiram a criação de um espaço sem restrições à


circulação de pessoas, abolindo-se as fronteiras. Em 1997, aquando do Tratado de Amesterdão,
já todos os países da UE, com exceção da Irlanda e do Reino Unido, tinham aderido ao acordo de
Shengen.

O Ato Único Europeu: o objetivo era continuar a reforçar a coesão e a solidariedade entre
os Estados membros, foi assinado em fevereiro de 1986. Neste tratado foram revistos os
tratados que fundaram a CEE, reforçando o caráter supranacional dos órgãos de governo
comunitários e contribuir para a aceleração da união económica da Europa.

O Tratado da União Europeia (Tratado de Maastricht): concluído em 1992. Instituiu


oficialmente a designação União Europeia. Segundo este tratado, a UE passa a estruturar-se em 3
pilares:

-matérias de caráter económico e social (adoção de uma moeda única e ampliação do


conceito de cidadão europeu);
-questões de política externa e segurança comum (a UE falar a uma só voz na cena
internacional);

-cooperação nos domínios da justiça e de assuntos internos (criminalidade e terrorismo,


migrações, …).

O Tratado de Amesterdão: assinado em 1997. Focou-se na questão da disciplina


orçamental, sendo adotado um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), através do qual os
países se comprometeram a promover medidas para impedir que os valores do défice público,
da dívida pública e da taxa de inflação ultrapassem os definidos.

Para coordenar a política económica e monetária da UE foi criado o Banco Central


europeu (BCE) e foram estabelecidos os critérios para a criação do EURO. Assim, em 2002
apenas o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia, continuaram com as suas antigas moedas.

O Tratado de Nice (2000): protocolou-se o alargamento da União aos países da Europa


de Leste. Em sequência, formou-se a União dos 25 com a integração dos países da antiga
“cortina de ferro”, mais Malta e Chipre. O processo ficou concluído com a adesão da Bulgária e
Roménia (2007) e da Croácia (2013).

As dificuldades da construção da união política: o 1º pilar definido em Maastricht, com


impasses, é uma realidade, sobretudo desde a introdução do EURO. A consolidação dos outros 2
pilares tem passado por dificuldades de muito difícil resolução.

A nível político são evidentes as resistências das populações à perda da sua soberania,
principalmente os países mais desenvolvidos e com mais História. Neste aspeto destaca-se o
Reino Unido, que nunca se identificou muito com o projeto europeu (nem aderiu à moeda
única…) e que recentemente, através de referendo, optou pela saída da UE.

Os “eurocéticos” (que não acreditam no projeto europeu) multiplicam-se por toda a


Europa. A integração de novos países, tao diversos, também não favorece a por muitos desejada
união política.
As dificuldades económicas e sociais sentidas nos últimos anos (desemprego à cabeça)
e a incapacidade da Europa em encontrar soluções, não têm contribuído para a consolidação do
sentimento europeu. Provas da fraca adesão dos europeus, são os elevados índices de
abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu, as resistências à adoção de uma política
externa comum, as divergências em questões de intervenção militar, no caso dos refugiados…

O Tratado de Lisboa (2007): foi controverso pois vários países tiveram dúvidas,
submeteram-no a referendo (Irlanda), temendo a perda de competências dos Parlamentos
nacionais. Para muitos, este tratado reforça o peso dos grandes países em detrimento dos
pequenos.

A afirmação do espaço económico Ásia-Pacífico

A partir dos anos 70, mais países do Este e Sudeste asiático vão acompanhar o Japão no
processo de industrialização e grande crescimento económico: os chamados “Dragões
Asiáticos” (Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e Taiwan). Nos anos 80, juntaram-se a Malásia,
Tailândia, Indonésia e Filipinas (“Tigres Asiáticos”).

Os “Dragões Asiáticos” eram países com poucos recursos naturais e energéticos, mas
arrancaram para um surpreendente processo de desenvolvimento e crescimento económico,
assentes na produção e exportação de bens de consumo. Seguiram o modelo japonês:

- forte intervenção do Estado na economia (concessão de créditos e outros incentivos às


empresas);

- adoção de medidas protecionistas;

- importação de capitais e tecnologia;

- aproveitamento de uma mão-de-obra abundante, barata, esforçada, disciplinada e dedicada;

- aposta na educação e formação, tendo em vista a qualificação da mão-de-obra.


Os setores que mis se desenvolveram foram a eletrónica e os têxteis, inundando os
mercados internacionais com preços imbatíveis. A meio da década de 70, estes Novos Países
Industrializados (NPI) já produziam mais de metade dos produtos manufaturados produzidos em
todo o mundo.

Entretanto, a Coreia do Sul passou a investir nos setores automóvel e da construção


naval.

Os “Tigres Asiáticos”: países que juntamente com Singapura tinham constituído a


ASEAN, organização destinada ao desenvolvimento económico e fomento da paz e estabilidade
na região. Mais tarde, a ASEAN viria a constituir-se como zona de comércio livre, onde a
cooperação se sobrepunha à concorrência.

Estes países começaram por se desenvolver exportando matérias-primas, energia e


bens alimentares para os outros países industrializados da região.

A questão de Timor

Era colónia de Portugal desde 1512, constituída pela parte leste de uma ilha do
arquipélago indonésio. O pouco interesse por esta distante colónia fez com que, mesmo após a
revolução de 25 de abril de 1974, as estruturas coloniais permaneciam intactas, enquanto os
outros territórios já estavam em processo de descolonização.

Havia 3 forças políticas em Timor, reconhecidas por Portugal: a UDT (União Democrática
Timorense), que defendia a união com Portugal, passando Timor a ser uma região autónoma; a
APODETI (Associação Popular Democrática Timorense), que defendia a integração na Indonésia e
a FRETILIM (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), que defendia a independência
total de Timor.

Em 28 de novembro de 1975, a FRETILIM declara a independência unilateral de Timor. Os


opositores declaram a integração do território na Indonésia. Em sequência, no dia 7 de dezembro,
Timor é invadido pelas tropas indonésias, dando início a um violento processo de integração. A
ONU não reconheceu esta ocupação, defendendo o direito dos timorenses à autodeterminação.

Refugiados nas montanhas, os timorenses vão iniciar uma resistência contra a ocupação
indonésia, liderados por Xanana Gusmão.
Em 12 de novembro de 1991, uma força militar indonésia carregou violentamente contra
timorenses que se manifestavam pacificamente, no cemitério de S. Cruz. O ataque foi filmado e a
brutalidade das imagens serviu para, finalmente, a comunidade internacional se preocupar com o
que se estava a passar.

A inversão do processo: em 1997 Kofi Annan iniciou o mandato como Secretário-Geral da


ONU e a questão timorense passou a ser uma prioridade. Outro passo importante: a demissão do
ditador indonésio Suharto em 1998.

A independência de Timor Leste concretizou-se em 2002.

A modernização e abertura da China à economia de mercado

O processo de desenvolvimento económico da China começou em 1978, com a chegada


ao poder de Deng Xiaoping, após a morte de Mao Tsé-Tung.

O novo governante lançou um programa económico, com medidas de caráter capitalista,


para permitir a abertura da China ao exterior.

- a modernização da agricultura: começou por um processo de descoletivização das


terras. A privatização deu liberdade aos camponeses para comercializarem os excedentes e de
ficarem com os lucros. Com isto, os níveis de produtividade aumentaram significativamente.

- a modernização da indústria e a abertura comercial: substituição da prioridade dada à


indústria pesada pela prioridade à produção de bens de consumo e têxteis, destinados à
exportação, abrindo a China aos interesses económicos estrangeiros.

- O socialismo de mercado: conciliação do caráter socialista/comunista do regime com


práticas económicas capitalistas – “Um país, dois sistemas”. Criaram-se Zonas Económicas
Especiais, altamente industrializadas, com investimentos estrangeiros e com total liberdade para
realizar trocas comerciais com o exterior.

Nesta fase, a liberalização industrial e comercial fez-se sobretudo nas regiões do litoral.
Numa 2ª fase, o capital estrangeiro também foi investido em zonas do interior, para aproveitar a
abundante e barata mão-de-obra.
Setores estratégicos como a indústria espacial, militar e as telecomunicações,
continuaram a ser monopólio do Estado.

Resultados: o setor manufatureiro, em 2005, já representava mais de 1/3 da economia


chinesa, mas a alta tecnologia não foi esquecida (por ex, a indústria automóvel).

Desde 1979, a economia chinesa apresentava um crescimento médio de 9,4%. Em 2005,


já era a sexta maior economia mundial.

Em 2001, o comércio já representava 43% do PIB.

As relações externas: a adoção de uma economia com características capitalistas, implicou o


reatamento de relações diplomáticas com países do bloco capitalista: com o Japão, foram
reatadas em 1978 e no ano seguinte com os EUA. A China também se integrou nas grandes
instituições económicas e financeiras (1980 no FMI e Banco Mundial, 1986 no GATT e em 2001
na OMC).

A situação política e social: a liberalização da economia não foi acompanhada da liberalização


política. O Partido Comunista continuou a dirigir o país, mantendo-se a repressão e a falta de
liberdades e garantias individuais.

A concentração do desenvolvimento económico sobretudo nas áreas costeiras, acentuou


as desigualdades sociais. No litoral afirmava-se uma poderosa burguesia empresarial, no interior
a classe camponesa continuava empobrecida.

A liberalização da economia trouxe outros problemas: a inflação e a redução dos apoios


da segurança social, o que levou milhões de chineses a migrar para as cidades.

Em 1989, reclamando mais democracia, milhares de manifestantes foram violentados


pelas forças do regime – massacre de Tiananmen. Este massacre demonstra que a liberalização
do regime está muito longe de ser uma realidade.

Por último, a economia chinesa beneficiou da integração de 2 territórios sob


administração europeia: Hong Kong em 1997 e Macau em 1999.

Mutações sociopolíticas e novo modelo económico


O Estado-Nação: território independente e soberano no qual coabita uma nação (um
povo), com uma identidade e cultura específicas, correspondendo ao princípio de que a cada
nação deve corresponder um estado.

No passado, havia muitas nações espalhadas por vários estados e estados constituídos
por várias nações (grandes impérios do século XIX e, mais recentemente são exemplo a URSS e a
Jugoslávia).

Atualmente, o nº de países é muito maior. Todavia, há problemas em torno do conceito


de Estado-Nação, que podem colocar em causa a coesão dos que existem:

- eclosão de movimentos separatistas (Catalunha, País Basco…);

- surgimento de grupos específicos dentro dos Estados;

- o fenómeno da globalização ameaça a coesão nacional, havendo questões transnacionais que


podem ameaçar muitos países – as migrações, as questões ambientais, o terrorismo…

O neoliberalismo e a globalização da economia

A crise do mundo capitalista dos anos de 1970, afetou o Estado- Providência, devido às
dificuldades financeiras dos Estados. Acresce-se a diminuição das receitas estatais dos sistemas
de segurança social, devido a:

- aumento da esperança de vida, o que prolonga e aumenta os custos com os reformados;

- a crescente tecnologia agrava o desemprego, o que faz diminuir o nº de trabalhadores a


descontar para a Segurança Social.
A afirmação do neoliberalismo: perante a conjuntura de crise, nos anos 80 alguns governos mais
conservadores, colocaram em prática políticas liberais (Margaret Thatcher na Inglaterra, Ronald
Reagan nos EUA e Helmut Kohl na Alemanha):

- diminuição da intervenção do Estado na economia, valorizando o setor privado;

- valorização da livre iniciativa e da livre concorrência;

- privatização de muitos serviços públicos;

- rigoroso controlo da despesa pública (diminuição do nº de funcionários públicos, menos


subsídios sociais…);

- estimulação do emprego no setor privado;

- políticas para reduzir a inflação (redução das emissões de moeda).

Aplicava-se, assim, o conceito de “Estado-mínimo” em detrimento do “Estado-


Providência”, mais atento à situação dos necessitados.

A globalização da economia

Tem origem na cooperação económica encetada após a 2ª Guerra Mundial. Novas


organizações de comércio livre surgiram (CEE, ASEAN, NAFTA, Mercosul…), constituindo-se um
mercado à escala mundial.

O lado mais visível da globalização é a formação de grandes conglomerados


empresariais que dominam a produção, baseando-se na utilização de modernas e sofisticadas
tecnologias (3ª revolução industrial). Aproveitando as vantagens das TIC, estas empresas
ultrapassam fronteiras e dispersam-se por todo o globo, aproveitando as potencialidades de cada
região – empresas transnacionais, que transformam o mundo num mercado único. É o
capitalismo na sua máxima expressão.

Os prós e os contras da globalização: tem suscitado acesa polémica na comunidade


internacional.
Os que a defendem, afirmam que a globalização proporciona o acesso a bens materiais a
populações e regiões que, de outra forma, estariam condenadas à pobreza. A instalação de
fábricas nessas regiões cria postos de trabalho e o acesso a produtos.

Os que dão relevo aos efeitos prejudiciais da globalização, afirmam que acentua as
desigualdades entre os países mais ricos e os mais pobres; a deslocalização de empresas abre
graves problemas sociais (colocar o lucro à frente dos interesses e necessidades das pessoas);
muitas economias nacionais são “asfixiadas” pelas grandes multinacionais; prejudica o ideal de
Estado- Nação, não se tendo em conta as características de cada região e o impacto ambiental
negativo do capitalismo desenfreado.

Rarefação da classe operária: o operário, tal como o concebemos na altura da revolução


industrial (trabalhador pouco qualificado que em massa oferecia a sua força de trabalho), tem
tendência a ser um grupo cada vez menos numeroso, em virtude de:

- a tecnologia cada vez mais sofisticada vai dispensando muita mão-de-obra;

- as indústrias tradicionais (têxteis, siderurgia,…), que antes empregavam milhares de


operários, ou diminuem ou aderem à tecnologia, originando despedimentos;

- as políticas neoliberais facilitam o despedimento;

- o conceito de fábrica também se alterou, verificando-se uma “terciarização” da indústria


– já há pouca diferença entre o trabalhador da linha de montagem e o que está no escritório.

O declínio do sindicalismo. Fatores:

- os operários já não têm tanta consciência de classe como acontecia no século XIX e
inícios do século XX. Vivemos numa sociedade mais individualista. Há cada vez menos
trabalhadores a lutar pela melhoria das suas condições e cada vez mais os que estão
conformados com a sua situação;

- a precariedade do emprego leva a que muitos trabalhadores prefiram “não lutar” com
medo do despedimento.
O declínio da militância política

Os novos tempos também não são propícios a lutas partidárias, tendo vindo a aumentar o
desinteresse pela política, principalmente entre os mais jovens.

Isto acontece porque: hoje em dia os partidos são mais eleitoralistas do que convictos
defensores de uma ideologia; o individualismo da sociedade faz com que as pessoas prefiram
“fechar-se” em círculos mais restritos e não em movimentos de massas; crescente descrença nos
políticos e nas suas promessas; o poder dos media faz com que já não seja necessário os
grandes comícios do passado.

Portugal no novo quadro internacional

Passados os tempos conturbados do PREC, consolidada a democracia e concluído o


processo de descolonização, ficaram abertas as portas para a entrada na CEE.

A Portugal interessava a integração num mercado em desenvolvimento e aproveitar os


programas de modernização do setor produtivo e das comunicações. Aos países comunitários
interessava a integração de países do sul da Europa, ricos em produtos em que a Europa Central
e do Norte eram deficitárias.

O processo de integração: com a adesão do país ao Conselho da Europa, em 1976, assumia-se o


projeto político de adesão à CEE, tendo o pedido sido formalizado em março de 1977, com Mário
Soares como 1º ministro. Em dezembro de 1980, assinou-se um acordo de pré-adesão.

Em 12 de junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, era formalmente assinado o Tratado de


Adesão e a partir de 1 de janeiro de 1986, Portugal, juntamente com a Espanha, passou a integrar
plenamente a CEE.

As implicações da integração europeia:

Politicamente: facilitou a consolidação da nossa democracia, estando o país numa democracia


pluralista, moderna, de tipo ocidental. Portugal deixou de ser o país “orgulhosamente só” de
Salazar e passava a estar junto das mais sólidas e poderosas democracias europeias e mundiais.
Alguns portugueses ocuparam ou ocupam lugares de enorme destaque na diplomacia
internacional: Durão Barroso Presidente da Comissão Europeia ou António Guterres como atual
Secretário-Geral da ONU.

Economicamente: foram as alterações mais visíveis e significativas. Como país com


níveis de desenvolvimento muito abaixo da média comunitária, Portugal iria beneficiar de
avultadas verbas e apoios técnicos, vindos dos fundos estruturais, numa tentativa de aproximar o
país dos parâmetros de desenvolvimento dos seus parceiros.

Na última década do século XX, a economia portuguesa cresceu acima da média europeia, o que
se traduziu num aumento do investimento estrangeiro, baixa inflação, aumento das exportações e
diminuição da dívida externa.

Verificou-se, igualmente, uma modernização das infraestruturas (apoios do PRODAC –


Programa de Desenvolvimento das Acessibilidades), em particular das telecomunicações, redes
de gás, de eletricidade e abastecimento de água. Mas a grande revolução operou-se na rede
rodoviária, com a construção de modernas autoestradas e itinerários principais, a renovação da
rede ferroviária e dos aeroportos.

Os desafios/problemas decorrentes da integração europeia:

- Portugal viu-se integrado num mercado altamente competitivo, onde a concorrência é forte;

-os sucessivos alargamentos da União Europeia constituem novas oportunidades para Portugal,
sobretudo na área comercial, mas também levantam novos desafios, pois aumenta a
concorrência;

-o governo português deixou de ser 100% soberano no que à adoção de muitas medidas diz
respeito, sendo condicionado pelas opções da União Europeia;

- a abertura das fronteiras facilitou a deslocalização das empresas e de investimentos para


mercados mais competitivos;

-acentuaram-se as assimetrias regionais;

-tornou-se mais difícil o controlo da imigração e o combate à criminalidade;

-os efeitos das crises internacionais fazem-se agora sentir com mais intensidade no nosso país.
As relações de Portugal com os países lusófonos e com a área ibero-americana

A integração de Portugal na União Europeia não fez perder a sua histórica vertente
atlântica em matéria de política externa. Os tempos que se seguiram aos processos de
descolonização não foram propícios a esse relacionamento. Todavia, passada essa época
conturbada, Portugal voltaria a ter um relacionamento mais próximo com a lusofonia.

O colapso da URSS e do comunismo e o fim da guerra fria, também ajudaram ao


reaproximar de Portugal com as ex-colónias africanas, tendo estas entrado numa época de paz e
democracia, criando-se condições para o reforço das relações com esses estados, sem prejuízo
da nova opção europeísta.

O 1º projeto de relacionamento institucional foi os PALOP, comunidade constituída pelos


5 Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde
e S. Tomé e Príncipe), que evoluiria para uma comunidade mais alargada com a integração do
Brasil (1996) e de Timor-Leste (2002) - a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Em 2014, a Guiné Equatorial também passou a integrar a CPLP.

As relações com os PALOP

Têm privilegiado a vertente económica, interessante para os países africanos,


carenciados de investimentos externos imprescindíveis para o seu desenvolvimento a todos os
níveis e interessante para Portugal, para internacionalizar setores fundamentais da sua economia
e intermediar as relações da UE com esses países.

Assim, muitas empresas portuguesas estabelecem protocolos de cooperação económica


e financeira em setores como o turismo, as telecomunicações, os cimentos, a energia, a banca e
o desenvolvimento de infraestruturas.

Paralelamente à cooperação económica, Portugal concede importantes apoios no âmbito


da educação e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do combate à pobreza.
As relações com a CPLP

Têm-se centrado ao nível da cooperação económica, linguística, política e diplomática.


As relações com o Brasil intensificaram-se a partir da década de 1990, altura em que as empresas
portuguesas começaram a aproveitar as potencialidades oferecidas por um imenso mercado
consumidor. Em especial os setores do turismo, das telecomunicações, dos cimentos, da energia
e da metalomecânica, têm obtido elevados benefícios dos seus investimentos naquele país.

Os laços históricos que unem os 2 países têm proporcionado um forte intercâmbio a nível
dos fluxos migratórios e das ligações culturais.

As relações com Timor-Leste, têm assentado na defesa e promoção dos valores culturais
portugueses, onde se inclui a língua e a cooperação na educação (muitos professores
portugueses naquele país), na ajuda à consolidação das instituições democráticas e o
desenvolvimento económico.

As relações com os países ibero-americanos

A vertente atlântica das relações externas de Portugal inclui também o relacionamento


com os EUA e com a América Latina.

Deste modo, foram renovados os acordos sobre a utilização da Base das Lajes e
continuamos inseridos na NATO. Em relação à América Latina, Portugal faz parte da Organização
dos Estados Ibero-Americanos, participando ativamente nas respetivas cimeiras, tendo em vista a
internacionalização da economia portuguesa em mercados emergentes.

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