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Resumos História – Teste 3

A RECONSTRUÇÃO DO PÓS-GUERRA - A DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE INFLUÊNCIA

Com o fim da Segunda Guerra Mundial a Alemanha e o Japão, que sonhavam com grandes domínios territoriais, saíram da
guerra totalmente vencidos e humilhados.
O Reino Unido e a Franca, embora vencedores, estavam empobrecidos e dependentes da ajuda externa.

Perante a ruína do pós-guerra só duas potências permaneciam fortes:

- URSS: escudada na força do Exército Vermelho e na sua imensa extensão geográfica;


-EUA: indiscutivelmente a primeira potência mundial.

 A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz

Com o aproximar do fim da Segunda Guerra Mundial os Aliados (vencedores) começam a delinear estratégias para o
período de paz que viria.
Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt (presidente americano), Churchill (primeiro ministro inglês) e Estaline
(secretário geral do partido comunista – URSS) reúnem-se nas termas de Ialta (nas margens do Mar Negro), com o objetivo
de estabelecerem as regras que devem sustentar a nova ordem internacional do pós-guerra.

 Conferência de Ialta:

- Definiram-se as fronteiras da Polónia, ponto de discórdia entre os ocidentais – que não esqueciam de ter sido a
violação das fronteiras polacas a causa imediata da guerra – e os soviéticos – que não desistiam de ocupar a parte oriental do
país;

- Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas pelas três potências
conferencistas e pela França, sob a coordenação de um Conselho Aliado;

- Marcação da reunião da conferência preparatória da ONU;

- Supervisão dos três grandes na futura constituição dos países de Leste, ocupadas pelo eixo;

- Estabelecimento de 20.000 milhões de dólares como base das reparações da guerra devidas pela Alemanha.

Alguns meses mais tarde, em finais de julho de 1945, reuniu-se em Potsdam (perto de Berlim) uma nova conferência com o
fim de consolidar os alicerces da paz. Decorreu num clima mais tenso que a de Ialta.
Vencida a Alemanha, renasciam as desconfianças face ao regime comunista que Estaline representava e às suas pretensões
expansionistas na Europa.
Deste modo, a conferência encerrou sem alcançar uma solução definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e a
pormenorizar os aspetos já acordados em Ialta.

 Conferência de Potsdam:

- Perda provisória da soberania alemã e sua divisão em quatro zonas de influências;

- Administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em quatro zonas de ocupação;

- Montante e tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;

- Julgamento dos criminosos de guerra nazis, através da criação do Tribunal Internacional de Nuremberga;

- Divisão, ocupação e de nazificação da Áustria, em moldes semelhantes aos estabelecidos na Alemanha.


 Um novo quadro político

1
Nó pós-guerra aumenta a importância da URSS a nível internacional. No último ano do conflito, na sua marcha vitoriosa até
Berlim, coubera ao Exército Vermelho a libertação dos países da Europa Ocidental. Na Polónia, Checoslováquia, Hungria,
Roménia e Bulgária, os soldados russos substituíram os ocupantes nazis.
Entre 1946 e 1948, estes países encaminharam-se para o socialismo, constituindo as democracias liberais.
Este rápido processo de sovietização foi, de imediato, contestado pelos ocidentais. Churchill denunciou a criação, por parte
da URSS, de uma área de influência impenetrável, isolada do ocidente por uma “cortina de ferro” 1.

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Após o fracasso da SDN a ideia de uma organização internacional que assegurasse a paz e a segurança permaneceu.
Deste modo, Franklin Roosevelt, nas cimeiras da “Grande Aliança” criou uma organização mais consistente – a ONU. Este
projeto ficou acordado em 1943 na Conferência de Teerão e foi ratificado em Ialta onde se decidiu a convocação de uma
conferência para redigir e aprovar a carta fundadora das nações unidas.

Esta, iniciou-se no dia 25 de Abril de 1945 em São Francisco, tendo como princípios fundamentais:

- Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando meios pacíficos, de acordo com os princípios da justiça e o
direito internacional;

- Desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseadas na igualdade entre os povos e no seu direito
à autodeterminação;

- Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e promover a defesa dos Direitos
Humanos;

- Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes propósitos.

 A defesa dos Direitos do Homem

Após as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial com o holocausto e disposta a impedi-las no futuro, a
ONU tomou uma feição profundamente humanista, através do reforço, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos do
Homem substituindo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que passou a integrar os documentos
fundamentais das Nações Unidas.
Este documento definia os direitos e as liberdades fundamentais (direito à vida, liberdade de reunião, expressão, etc.) e
também tivera sido atribuído um papel importante às questões económico-sociais (direito ao trabalho, ao descanso, ao
ensino…).

 Órgãos de funcionamento

A Carta das Nações Unidades definiu também os órgãos básicos do funcionamento da instituição:

1
Expressão utilizada para a divisão em dois da Europa: Europa Ocidental e Europa Oriental.
2
- Assembleia Geral: formada pela generalidade dos Estados-membros, funciona como um parlamento;

- Conselho de Segurança: formado por 15 membros (cinco dos quais permanentes – EUA, URSS, Reino Unido,
França e República Popular da China) e 10 flutuantes eleitos pela Assembleia-Geral por dois anos. É o órgão diretamente
responsável pela manutenção da paz e da segurança: atua como mediador, decreta sanções económicas e em último caso
decide a intervenção das forças militares;

- Secretariado-Geral: representa a ONU e, com ela, praticamente todos os povos do mundo;

- Conselho Económico-Social: encarregado de promover a cooperação a nível económico, social e cultural entre as
nações. Atua através de instituições especializadas e outros órgãos específicos que se encontram sob a sua tutela: BIRD,
FAO, OIT, OMS. É um dos órgãos mais ativos e importantes da ONU.

- Tribunal Internacional da Justiça: é o órgão máximo da justiça internacional;

- Conselho de Tutela: órgão criado com o fim principal de administrar os territórios que outrora se encontravam
sob a alçada da SDN;

A ONU tem sede em Nova Iorque desde 1952, contando com 192 países.

AS NOVAS REGRAS DA ECONOMIA INTERNACIONAL

 O ideal de cooperação económica

O planeamento do pós-guerra não se processou somente a nível político. Em julho de 1944, um grupo de economistas (dos
quais um deles era Keynes, ligado ao intervencionismo) reuniu-se em Bretton Woods (EUA) a fim de prever e estruturar a
situação monetária e financeira do período de paz.
Com o fim da guerra tornava-se essencial regularizar o comércio mundial, os pagamentos e a circulação de capitais,
evitando o círculo vicioso de desvalorizações monetárias e a instabilidade das taxas de câmbio dos anos 20 e 30.
Assim, para garantir a estabilidade das moedas criou-se um novo sistema monetário internacional: o dólar era a moeda-
padrão e as restantes moedas tiveram sido convertidas em ouro ou dólar.

Na mesma conferência e com o objetivo de operacionalizar o sistema criaram-se dois organismos importantes:

- FMI (Fundo Monetário Internacional) ao qual recorreriam os bancos centrais dos países com dificuldades em
manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos;

- Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) também conhecido como Banco
Mundial, destinado a financiar projetos de fomento económico a longo prazo.

Em 1947, na Conferência Internacional de Genebra, assina-se um Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) onde 23
países se comprometeram a negociar a redução dos direitos alfandegários e outras restrições comerciais. Isto permitia
melhorar as condições de vida, garantia o emprego, permitia o crescimento da produção e do consumo e a expansão das
trocas de mercadorias.
Esta ideia de um espaço económico alargado deu origem, nesse mesmo ano, à BENELUX: aliança entre a Bélgica, Holanda
e Luxemburgo, prevendo a abolição das tarifas alfandegárias entre os três países.

O TEMPO DA GUERRA FRIA – A CONSOLIDAÇÃO DE UM MUNDO BIPOLAR

UM MUNDO BIPOLAR

 A rutura

3
Quando em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de sovietização dos
países de Leste era já irreversível. Sob a tutela diplomática e militar da URSS, os partidos comunistas ganhavam forças e,
progressivamente, tomavam o poder. Para coordenar a sua atuação, tornando-se mais eficiente, criou-se, em 1947, o
Kominform (Secretariado de Informação Comunista) que se tornou um importante organismo de controlo por parte da
URSS.
Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem a liderança da oposição aos avanços do socialismo 2.
É neste contexto que o presidente Truman alarga a divisão europeia ao mundo que está dividido em dois sistemas
antagónicos: um baseado na liberdade e outro na opressão. Aos americanos cabe a liderança do undo livre na contenção do
comunismo.
À doutrina Truman opõe-se a doutrina Jdanov, que segundo o dirigente soviético afirma que o mundo se divide, de facto,
em dois sistemas contrários: um, imperialista e antidemocrático – liderado pelos EUA – e outro em que reina a democracia e
a fraternidade entre os povos, correspondente ao mundo socialista – liderado pela URSS.
Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava também clara a
necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.
As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e os EUA tiveram ajudado a Europa.
É neste contexto que o secretário de Estado americano Marshall anuncia, em junho de 1947, um plano de ajuda económica à
Europa.
Este plano foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se encontravam já sob influência soviética, mas esta ténue
tentativa de aproximação não teve êxito. Moscovo classifica a ajuda americana de “manobra imperialista” e impede os
países sob sua influência de a aceitaram.
Em janeiro de 1959, Moscovo lança o plano Molotov, que estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa
Oriental.
Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), instituição destinada a
promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob proteção da União Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall e os países do COMECON funcionaram como áreas transnacionais, coesas e
distintas uma da outra.
A divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal como a liderança das duas superpotências.

 O primeiro conflito: a questão alemã

Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se de imediato na gestão conjunta do território alemão, que
na sequência da Conferência de Potsdam se encontrava dividido e ocupado pelas quatro potências vencedoras.
A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses e americanos olhassem a Alemanha, não já como o
inimigo vencido, mas como um aliado imprescindível à contenção do avanço soviético.
O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os americanos, que intensificaram os esforços para a criação de uma
república federal constituída pelos territórios sob ocupação das três potências ocidentais – República Federal Alemã (RFA).

2
Esta posição inverte a tradicional postura de isolamentos dos EUA que olharam sempre com relutância a interferência
direta na política internacional.
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A União Soviética protestou vivamente contra aquilo que considerava uma violação dos acordos estabelecidos, mas acabou
por desenvolver uma atuação semelhante na sua própria zona que conduziu à criação de um Estado paralelo, sob a alçada
soviética – República Democrática Alemã (RDA).
Esta divisão fez com que houvessem discórdias quanto a Berlim, uma vez que ainda lá estavam as forças militares das três
potências ocidentais.
Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os acessos terrestres à cidade.
O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de junho de 1948 a maio de 1949, foi o primeiro medir de forças entre as duas
superpotências.

Assim, três anos passados sobre o fim da Segunda Guerra, os antigos aliados tinham-se tornado rivais e a sua rivalidade
dividia o mundo, pondo em risco os esforços da paz.
Nas décadas que se seguiram, as relações internacionais refletiram esta instabilidade e impregnaram-se de um clima de forte
tensão: foi o tempo da Guerra Fria.

 A Guerra Fria

O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80, altura em que
o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza.
Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente gerando um clima de hostilidade e insegurança
que deixou o mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que se designa por Guerra Fria.
A Guerra fria caracterizou-se por cada bloco se procurar superiorizar ao outro, quer em armamento como na ampliação das
suas áreas de influência. Enquanto isso, a propaganda incutia nas populações a ideia da superioridade do seu sistema e a
rejeição e o temor do lado contrário, ao qual se atribuíam as intenções mais sinistras e os planos mais diabólicos.
As duas superpotências defendiam conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social: de um
lado, o liberalismo assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o marxismo, que subordina o indivíduo ao
interesse da coletividade.

O MUNDO CAPITALISTA

 A política de alianças dos EUA

Uma vez enunciada a doutrina Truman, os EUA empenharam-se por todos os meios na contenção do comunismo.
O Plano Marshall foi o primeiro passo nesse sentido, pois permitiu a reconstrução da economia europeia em moldes
capitalistas, mas também estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus “benfeitores” americanos.
Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou a oficializar-se. A tensão provocada pelo bloqueio de
Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, entre os EUA, Canadá e dez
nações europeias. A operacionalização deste tratado deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 3.
Esta aliança apresentava-se como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um inimigo: a URSS.

3
À OTAN opor-se-á o Pacto de Varsóvia, aliança militar liderada pelos soviéticos.
5
Esta sensação de ameaça e vontade de consolidar a sua área de influência levaram os EUA a constituir várias alianças, um
pouco por todo o mundo. Para além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais:

- América, 1948 a OEA (Organização dos Estados Americanos);

- Oceânia, 1951 a ANZUS (Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos);

- Sudoeste Asiático, 1954 a OTASE (Organização do Tratado da Ásia de Sudoeste);

- Médio Oriente, 1955 Pacto de Bagdade e 1957 CENTO (Organização do Tratado Central).

 A política económica e social das democracias ocidentais

No fim da Segunda Guerra Mundial, o conceito de democracia adquiriu, no Ocidente, um novo significado – para
além do respeito pelas liberdades individuais, do sufrágio universal e do multipartidarismo, considerou-se que o regime
democrático deveria assegurar o bem-de-estar dos cidadãos e a justiça social.
A Grande Depressão já tinha mostrado a importância de um estado económico e socialmente interventivo, e o estado da
Europa no pós-guerra exigia orientações firmes de modo a assegurar a reconstrução. Assim, as duas forças políticas que
nesta época sobressaíram na Europa – o socialismo reformista e a democracia cristã – encontravam-se fortemente
impregnadas de preocupações sociais.
Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-cristãos saíram da guerra prestigiados: ambos tinham
lutado contra os regimes autoritários vencidos e apresentando alternativas aos partidos liberais.
É assim, que logo em 1945, as eleições inglesas dão a vitória ao Partido Trabalhista (social-democrata), liderado por
Clement Atlee, que substitui Churchill (partido conservador) à frente do Governo Britânico.
Um pouco por todo o lado, partidos de orientação social-democrata viram elevar-se os seus resultados eleitorais, tendo, em
alguns casos, tomando também as rédeas do poder, como aconteceu na Holanda, nos países escandinavos (Dinamarca,
Noruega, Suécia) e na RFA (no fim dos anos 60).
Os adeptos da social-democrata conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre concorrência
económica com o intervencionismo do Estado, cujo objetivo é o de regular a economia e promover o bem-estar dos
cidadãos.
6
Assim, os sociais-democratas defendem o controlo estatal dos setores-chave e uma forte tributação aos rendimentos mais
elevados. Rejeitavam a ideologia marxista e contentavam-se com a distribuição da riqueza pelos cidadãos através do reforço
da proteção social.
Na Itália e na RFA o receio da ideologia dos socialistas deu vitória eleitoral aos democratas cristãos.
A democracia-cristã tem origem na doutrina social da igreja que condena os excessos do liberalismo capitalista, atribuindo
igualmente aos estados a missão de zelar pelo bem comum. Os democratas-cristãos consideram que o plano temporal e
espiritual, embora distintos, não se podem separar. Os princípios do cristianismo devem influenciar todas as ações dos
cristãos.
Propõem uma orientação profundamente humanista, apoiada na liberdade, na justiça e na solidariedade.
Sociais-democratas e democratas-cristãos convergem no mesmo propósito de promover reformas económicas e sociais
profundas. Na Europa do pós-guerra, os governos lançam-se num vasto programa de nacionalizações que atinge bancos,
companhias de seguro, transportes, etc. O Estado torna-se o principal agente económico do país, o que lhe permite exercer a
sua funcao reguladora da economia. Revê-se também o sistema de importos reforçando o caráter progressivo das taxas e
permite assegurar uma redistribuição mais equitativa da riqueza nacional.
Estas medidas modificaram a conceção liberal do Estado dando origem ao Estado-Providência.

 A afirmação do Estado-Providência

O Reino Unidade foi o primeiro país com o Estado do bem-estar, onde cada cidadão tem asseguradas as suas
necessidades básicas.
Beveridge confiava que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”:
carência, doença, miséria, ignorância e ociosidade.
A abrangência das medidas adotadas em Inglaterra e, sobretudo, a ousadia do estabelecimento de um sistema nacional de
Saúde assente na gratuidade total dos serviços médicos e extensivos a todos os cidadãos, serviram de modelo à maioria dos
países europeus.
A estruturação do Estado-Providência na Europa do pós-guerra fez-se rapidamente. O sistema de proteção social generaliza-
se a toda a população passando a acautelar as situações de desemprego, acidente, velhice e doença; estabelecem-se
prestações de ajuda familiar (abono) e outros subsídios aos mais pobres. Complementarmente, ampliam-se as
responsabilidades do Estado no que pertence à habitação, ao ensino e à assistência médica.

Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo:

- Reduz a miséria e o mal-estar social contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza;

- Assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura como a que ocorreu
durante a crise dos anos 30.

Assim, o Estado-Providência contribuiu para a prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três décadas que se
seguiram à Segunda Guerra Mundial.
 A prosperidade económica

O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas.


Os governos não só assumiram grandes responsabilidades económicas, como delinearam planos de desenvolvimento
coerentes, que permitiram estabelecer prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir diretrizes futuras.
Externamente, os acordos de Bretton Woods 4 e a criação de espaços económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel
semelhante, harmonizando e fomentando as relações económicas internacionais.

O capitalismo, que na década de 30 parecera condenado pela Grande Depressão, emergiu dos escombros da guerra e atingiu
o seu auge. Entre 1945 e 1973, a produção mundial mais do que triplicou e, em certos setores, como a produção energética e
a automóvel, multiplicou-se por dez.
As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas de crescimento, especialmente altas de certos
países como a RFA, França ou o Japão surpreenderam os analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre
económico”. Estes cerca de trinta anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta
Gloriosos”.

A expansão económica dos “Trinta Gloriosos” conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspetos
completamente novos. Entre os seus traços característicos podemos destacar:

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O dólar era a moeda-padrão e as restantes moedas tiveram sido convertidas em ouro ou dólar.
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- Aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores desde as fibras sintéticas, aos plásticos,
medicina, aeronáutica, eletrónica, entre muitos outros. Rapidamente produzidas em série, as inovações tecnológicas
revolucionaram a vida quotidiana e os processos de produção;

- Recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão. A extração do “ouro
negro” coubera até à Segunda Guerra Mundial aos EUA e a partir dos anos 60 deslocara-se para os países do Médio
Oriente, que se tornam os seus principais fornecedores. A abundância e o baixo preço do petróleo alimentaram a
prosperidade económica, permitindo uma autêntica revolução nos transportes, para além de uma enorme gama de novos
produtos industriais;

- Aumento da concentração industrial e do número de multinacionais, verdadeiros gigantes económicos que


fabricam e comercializam os seus produtos nos quatro cantos do Mundo. Presentes em praticamente todos os setores
(matérias-primas, transportes, comunicações, siderurgia, eletrónica, alimentação…) estas empresas investem grandes somas
na investigação científica, contribuindo para a aceleração do progresso técnico a que nos referimos;

- Aumento significativo da população ativa proporcionado pelo reforço de mão de obra feminina no mercado de
trabalho, o baby-boom5 dos anos 40-60 e a imigração de trabalhadores oriundos de países menos desenvolvidos. Para além
disto, a mão de obra tornou-se mais qualificada, em virtude do prolongamento da escolaridade, sendo somente os imigrantes
a desempenhar os trabalhos que não requeriam um alto nível de formação profissional, e sendo por isso, mal remunerados;

- Modernização da agricultura, setor onde a produtividade aumenta, de tal como que permite aos países
desenvolvidos passarem de importares a exportadores de produtos alimentares. Renovada por grandes investimentos, novas
tecnologias e uma mentalidade verdadeiramente empresarial, a agricultura libera, em pouco tempo, grandes quantidades de
mão de obra, que migra para os núcleos urbanos. Este êxodo rural contribuiu para alterar a relação entre os três setores de
atividade;

- Crescimento do setor terciário, que tende a absorver a maior percentagem de trabalhadores. O surto espetacular
das trocas comerciais, a aposta no ensino, os serviços sociais prestados pelo Estado e a complexidade crescente da
administração das empresas multiplicaram o número de postos de trabalho neste setor. Assim, as classes médias alargam-se,
o que contribuiu para a subida do nível de vida e para o equilíbrio social.

 A sociedade de consumo

O efeito mais evidente dos “Trinta Gloriosos” foi a generalização do conforto material. O pleno emprego, os
salários altos e a produção maciça de bens a preços acessíveis conduziram à sociedade de consumo, que transformou os
lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.
Quando os gastos na alimentação e em outros bens essenciais deixaram de absorver a quase totalidade dos orçamentos
familiares, as casas tornaram-se cómodas e bem equipadas. Os aparelhos de aquecimento, o telefone, a televisão e toda uma
vasta gama de eletrodomésticos multiplicaram-se rapidamente e o automóvel tomou o seu lugar nas garagens e nas ruas,
proporcionando longos passeios de lazer. As férias pagas, privilégio que se alargou nos anos 60, vieram acentuar a ideia de
que a vida merece ser desfrutada e o dinheiro existe para se gastar. O cidadão comum é permanentemente estimulado a
despender mais do que o necessário. Multiplicam-se os grandes espaços comerciais. Uma publicidade bem orquestrada
lembra as maravilhas a que todos “têm direito” e que as vendas a crédito permitem adquirir.
A oferta e a pressão publicitária são de tal ordem que os bens rapidamente perdem valor, “passam de moda” e se substituem
por outros mais atualizados.

O MUNDO COMUNISTA

Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no mundo apenas dois países comunistas: a URSS
e a Mongólia. Entre 1945 e 1949, o comunismo implanta-se na Europa Oriental, na Coreia do Norte e na China. Nos anos
50 e 60 continua o seu progresso na Ásia e em Cuba. Na década de 70, difunde-se na África Negra.

 O expansionismo soviético

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Os efeitos do baby-boom fizeram-se sentir na década de 60, embora os seus reflexos na economia sejam muito
anteriores, já que o aumento do número de jovens, para além de alargar o mercado consumidor, obriga à construção de
equipamentos importantes (hospitais, creches, escolas, etc.), criando numerosos postos de trabalho.
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A expansão do mundo comunista fez-se, em grande parte, pela URSS. Após a Segunda Guerra Mundial, o reforço
da posição militar soviética e o desencadear do processo de descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do
comunismo, quer ao estreitamento dos laços de amizade e cooperação entre Moscovo e os países recentemente
emancipados. A URSS saiu, assim, do isolamento a que estivera votada desde a Revolução de outubro, alargando a sua
influência nos quatro continentes.

Europa:

A primeira vaga de extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental e, com exceção da Jugoslávia, fez-se sobre a
pressão direta da URSS. Em meados de 1948, os partidos comunistas dos países de Leste tinham-se já assumido como
partidos únicos e, em pouco tempo, a vida política, económica e social destas regiões foi reorganizada em moldes
semelhantes aos da União Soviética.
Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares. Por oposição às democracias liberais,
julgadas incapazes de garantir a verdadeira igualdade devido à persistência dos privilégios de classe, as democracias liberais
defendem que a gestão do Estado pertence, somente, às classes trabalhadoras. Estas constituem a maior, exercem o poder
através do Partido Comunista que, supostamente, representa os seus interesses.
Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com a constituição do Pacto de Varsóvia, aliança
militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão.
Considerando-se a “pátria do socialismo”, a União Soviética impôs um modelo único e rígido, do qual não admitiu desvios.
É assim que, quando estalaram protestos e rebeliões contra o seu excessivo domínio, Moscovo não hesitou em utilizar a
força para manter a coesão do seu bloco. Os dois casos mais graves ocorreram na Hungria, em 1956, e na Checoslováquia,
em 1968. As ruas de Budapeste e de Praga viram-se, então, ocupadas pelos tanques soviéticos. Este desejo de manter
intocada a hegemonia comunista na Europa Oriental conduziu também, em 1961, à construção do célebre muro de Berlim,
que rapidamente se tornou no símbolo da Guerra Fria na Europa e no Mundo.

Ásia:

Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista que ficou a dever à intervenção direta da
URSS foi a Coreia.
Ocupada pelos Japoneses, a Coreia foi, no fim da Segunda Guerra Mundial, libertada pela ação conjunta dos exércitos
soviético e americano, que, naturalmente, não se entenderam quanto ao futuro regime político do país. A Coreia foi, por
isso, dividida em dois estados: a norte, a República Popular da Coreia, comunista, apoiada pela URSS; a sul, a República
Democrática da Coreia, conservadora, sustentada pelos Estados Unidos. A posterior invasão da Coreia do Sul pela
República Popular do Norte, com vista á reunificação do território sob a égide do socialismo, desencadeou uma violenta
guerra (1950-1953). Por fim, repôs-se a separação entre as duas Coreias, que se mantêm estados rivais ainda hoje.
A China, onde, em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma República Popular. A tomada do
poder pelos comunistas chineses foi uma longa luta, que se iniciara nos anos 20 e se reacendera após a Segunda Guerra
Mundial. Embora o apoio de Moscovo aos revolucionários não possa considerar-se decisivo para a vitória alcançada,
poucos meses decorridos desde a formação do novo Governo, Mao Tsé-Tung e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Chou
En Lai, assinam, em Moscovo, um Tratado de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que coloca a China na esfera
soviética.
Apesar de se ter afastado da URSS, a China seguiu o modelo político e económico do socialismo russo. A China Popular
assumiu, ao lado da URSS, as suas obrigações na difusão do comunismo.

América Latina e África:

A influência soviética estende-se, nos anos 60 e 70, à América Latina e à África (com a descolonização,
nomeadamente Angola e Moçambique).
O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba. Em 1959, um punhado de revolucionários, sob o
comando de Fidel Castro e do mítico Che Guevara, derruba o ditador pró-americano Fulgêncio Batista. As preocupações

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socializantes do novo regime cubano valem-lhe a hostilidade de Washington, que apadrinha mesmo uma tentativa falhada
de retoma do poder por exilados anticastristas (desembarque na Baía dos Porcos, com o objetivo de matar Fidel Castro).
Fidel Castro aceita o apoio da URSS e Cuba transforma-se num bastião avançado do comunismo na América Central. A
permanência soviética em Cuba confirma-se quando, em 1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação,
na ilha, de mísseis russos de médio alcance, capazes de atingir o território americano. A exigência firme de retirada dos
mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o Mundo perante a eminência de uma guerra nuclear entre as duas
superpotências. Felizmente, a crise acaba por resolver-se com cedências mútuas: Kruchtchev aceita retirar os mísseis,
enquanto os Estados Unidos se comprometem a não tentar derrubar, novamente, o regime cubano. Cuba desempenhará um
papel ativo na proliferação do comunismo.
Tal como o continente asiático, a África, recém-descolonizada, mostrou-se bastante permeável à influência soviética.

 Opções e realizações da economia de direção central

Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica: planos quinquenais e a partir
de 1958 septenais, sendo a primeira prioridade a indústria pesada. Imensos complexos siderúrgicos e centrais hidroelétricas
fazem da União Soviética a segunda potência industrial do Mundo e garantem-lhe o poder militar necessário ao
afrontamento dos tempos da Guerra Fria.
Nos países de Leste, a proclamação das Repúblicas Populares implanta também o modelo económico soviético. Os meios
de produção são coletivizados e reorganizados em moldes idênticos aos da URSS, sendo a prioridade absoluta a
industrialização, baseada na indústria pesada.
Os novos países socialistas europeus, com exceção da Checoslováquia e da RDA, eram essencialmente agrícolas,
industrializaram-se rapidamente.

No entanto, o nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica. As jornadas de trabalho
mantêm-se excessivas (cerca de 10 horas), os salários sobem a um ritmo muito lento e as carências de bens de toda a espécie
mantêm-se. Negligenciados pelos primeiros planos, a agricultura, a construção habitacional e o setor terciário avançam
lentamente. Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo muito rápido, a população amontoa-se em bairros
periféricos, superpovoados e doentias. As longas filas de espera para adquirir bens essenciais tornam-se uma rotina diária.
Os bloqueios económicos:

Passado o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começam a mostrar, de forma mais
evidente, as suas debilidades:

- As empresas não gozam de autonomia na seleção das produções, equipamentos, trabalhadores, fixação de salários
e preços ou na escola de fornecedores e clientes;

- Gestão burocrática que se limita a cumprir as quantidades previstas no plano, sem olhar à qualidade ou
rentabilidade dos equipamentos e da mão de obra;

- Bens de consumo escassos;

- Poucos produtos agrícolas, dado que a agricultura não é prioridade;

- Habitações caras, optando a população por viver na periferia sem condições.

Para ultrapassar os bloqueios económicos a URSS permite realizar reformas. Nikita Krutchev vai alterar a planificação,
tendo em conta o que levou ao bloqueio.
Em 1959, inicia-se um novo plano que reforça o investimento nas indústrias de consumo, na habitação e na agricultura.
Paralelamente, a duração do trabalho semanal reduz-se (de 48 para 42 horas), bem como a idade de reforma, que se estende,
pela primeira vez aos trabalhadores agrícolas. Nas empresas procura-se incentivar a produtividade, aumentando a autonomia
dos gestores e iniciando um sistema de prémios aos trabalhadores mais ativos.

No entanto, estas medidas não superaram as expectativas. Na década de 70, sob a orientação de Brejnev, a
burocracia reforça-se e o 9º e 10º plano voltam a dar grande prioridade ao complexo militar-industrial e à exploração dos
recursos naturais (ouro, gás e petróleo da Sibéria). Porém, os custos de exploração do território siberiano revelam-se
excessivos e a economia soviética entra num período de estagnação.
As dificuldades soviéticas refletiram-se, de forma mais ou menos graves, em todos os países satélite.

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Embora não podendo dissociar-se da crise económica que, na década de 70, afetou o mundo industrializado, a estagnação
das economias de direção central reflete, sobretudo, as faltas do sistema, que se foram agravando ao longo das décadas.
Inultrapassáveis, estes bloqueios económicos conduzirão à falência dos regimes comunistas europeus, no fim dos anos 80.

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