Você está na página 1de 23

Nascimento e afirmação de um novo quadro

geopolítico

 O nascimento de uma nova ordem internacional

 A Segunda Guerra Mundial alterou de forma profunda o equilíbrio de forças nas relações
internacionais. Antigas potencias, como a Alemanha e o Japão, saíram do conflito
vencidas e humilhadas. Outras, como o Reino Unido e a França, embora vitoriosas,
viram-se empobrecidas e dependentes da ajuda externa. No quadro de ruína e desolação
provocado pelo conflito, duas potencias de agigantavam-se: os Estados Unidos, decididos
a quebrar o isolamento internacional que os caracterizava; e a União Soviética, escudada
na força do Exército Vermelho e na sua imensa extensão territorial.

 As conferências interaliadas

 Quando o ano de 1942 se iniciou, o Reino Unido, a França e os restantes países que
lutavam contra os exércitos do Eixo para estar confiantes. Contavam, agora, com dois
importantes aliados: a URSS, que a invasão nazi trouxera para a cena de guerra; e os
Estados Unidos, envolvidos no conflito pelo recente ataque japonês a Pearl Harbor.

 Esta nova relação de forças desencadeou uma série de conferências interaliadas, com o
fim de delinear estratégias de guerra e de estabelecer os princípios que deveriam nortear a
paz. Com a França ocupada, estas conferencias foram, a partir de 1943, protagonizadas
pelos “Três Grandes”: os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido.

 As conferências de Ialta e Potsdam

 Em fevereiro de 1945, com o aproximar de uma vitória certa, o presidente americano,


Franklin Roosevelt, e o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, reuniram-se com
Estaline, a fim de definir, com pormenor, diretrizes para o tempo de paz. A Conferência
decorreu em território soviético, na estancia balnear de Ialta, nas margens do Mar Negro,
e foi alcançado um acordo sobre algumas questões importantes:

 Definiu-se a fronteira entre a Polónia e a União Soviética, até então ponto de discórdia
entre os ocidentais e os soviéticos;

1
 Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas
pelas três potências conferencistas e pela França, sob coordenação de um Conselho
Aliado;
 Decidiu-se a reunião, num futuro próximo, da conferência preparatória da Organização
das Nações Unidas;
 Estipulou-se o supervisionamento dos “três grandes” na futura constituição dos
Governos dos países de Leste (ocupados pelo Eixo), com base no respeito pela vontade
política das populações;
 Estabeleceu-se a quantia de 20 mil milhões de dólares, proposta por Estaline, como
base das reparações de guerra a pagar pela Alemanha.

 Além das decisões que, na Conferência, expressa e publicamente de tomaram, parece


possível que, tacitamente, se tenha também estabelecido um acordo quanto às zonas de
influência dos regimes comunista e capitalista. Embora sem qualquer documento formal
conhecido, o certo é que esta hipotética partilha da Europa foi sempre respeitada, mesmo
nos mais difíceis anos da Guerra Fria.

 Alguns meses mais tarde, em finais de julho, reuniu-se em Potsdam, junto de Berlim, uma
nova conferência com o fim de consolidar os alicerces da paz.

 A Conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de Ialta.
Vencida a Alemanha, renasciam as desconfianças face ao regime comunista, que Estaline
representava, e às suas pretensões expansionistas na Europa. Assim, a conferência
limitou-se praticamente a pormenorizar os aspetos já acordados em Ialta:
 A perda provisória de soberania da Alemanha e a sua divisão em quatro áreas de
ocupação;
 A administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em quatro setores
de ocupação;
 O montante e o tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
 O julgamento dos criminosos de guerra nazis por um tribunal internacional
(Nuremberga);
 A divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes semelhantes aos
estabelecidos para a Alemanha.

 Nos anos que se seguiram, o clima de tensão que marcou a reunião de Potsdam não se
desvaneceu, a despeito dos ideais de concórdia e fraternidade que inspiram o nascimento
da Organização das Nações Unidas.

 A Organização das Nações Unidas

2
 A ideia de uma organização internacional que velasse pela paz e pela segurança resistiu
ao fracasso da Sociedade das Nações. Nas cimeiras da “Grande Aliança”, Roosevelt
pugnou pela criação de um novo organismo, mais consistente, que ele próprio batizou
com o nome de Organização das Nações Unidas (ONU). A nova organização nasceu
oficialmente na Conferência de São Francisco, em abril de 1945. Segundo a Carta
fundadora, as Nações Unidas têm como propósitos principais:
 Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando, tanto quanto possível, meios
pacíficos, de acordo com os princípios da justiça e do direito internacional;
 Desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseadas na igualdade
entre os povos e no seu direito à autodeterminação;
 Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural, e
promover a defesa dos Direitos Humanos;
 Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes
propósitos.

 Sob o impacto do Holocausto e disposta a impedir, no futuro, as atrocidades cometidas


durante a Segunda Guerra Mundial, a ONU tomou uma feição profundamente humanista
que foi reforçada pela aprovação, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, e que passou a integrar os documentos fundamentais das Nações Unidas.

 Órgãos de funcionamento

 A Carta das Nações Unidas definiu também os órgãos básicos de funcionamento da


instituição:
 A Assembleia Geral, no qual têm assento todos os Estados-membros, em pé de
igualdade. Funciona como um verdadeiro parlamento mundial e pode colocar na sua
agenda todo o tipo de questões;
 O Conselho de Segurança, diretamente responsável pela manutenção da paz. É
composto por 15 membros, cinco dos quais permanentes: os EUA, Rússia (primeiro a
URSS, hoje a Federação Russa), o Reino Unido, a China e a França. Estes “cinco
grandes” têm direito de veto, pelo que qualquer um deles pode inviabilizar uma
tomada de decisão;
 O Secretariado-Geral, à frente do qual se encontra o secretário-geral, eleito pela
Assembleia, por proposta do Conselho de Segurança. Coordena toda a instituição e
presta os seus “bons serviços” diplomáticos nas questões mais delicadas. O secretário-
geral representa a ONU e, com ela, todos os povos do mundo;
 O Conselho Económico e Social, encarregado de promover a cooperação a nível
económico, social e cultural. Pelos muitos organismos que dele dependem é um dos
órgãos mais importantes e ativos da ONU;
 O Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia. Resolve, à luz do direito
Internacional, os litígios entre os Estados;

3
 O Conselho de Tutela, ao qual foi atribuída a administração dos territórios que se
encontravam à guarda da extinta SDN. Em 1994, com a independência do Palau,
consideraram-se cumpridos os objetivos deste órgão, pelo que cessou o seu
funcionamento permanente.

 Desde a sua fundação, há cerca de oito décadas, que a ONU tem desempenhado um papel
relevante na história do mundo. Se é verdade que não foi capaz de manter a paz e a
concórdia entre as nações, a sua atuação militar tem protegido os mais fracos, esforçando-
se por evitar violências e massacres. No entanto, os maiores êxitos das Nações Unidas
têm sido levados a cabo pelos muitos organismos especializados que criou e que atuam a
nível global. Quem nunca ouviu falar da OMS, da UNICEF ou da UNESCO?

 A emergência de um mundo bipolar


 A expansão do comunismo na Europa

 Além de consideráveis ganhos territoriais, a guerra dera à União Sovietica um enorme


protagonismo internacional. O isolamento a que os ocidentais tinham votado o grande
país comunista quebrara-se definitivamente.

 Dentro da Europa, o papel da União Sovietica adivinhava-se determinante. No último


ano do conflito, na sua marcha vitoriosa até Berlim, coubera ao Exército Vermelho a
libertação dos países da Europa Oriental. Na Polónia, na Checoslováquia, na Húngria, na
Roménia e na Bulgária, os soldados russos tinham substituído os ocupantes nazis.

 A URSS detinha, assim, uma clara vantagem estratégica no Leste Europeu. Embora os
acordos de Ialta previssem o respeito pela vontade dos povos, expressa em eleições livres
supervisionadas pelas três potências, na prática tornava-se impossível contrariar a
hegemonia soviética, que não tardou a impor-se: entre 1946 e 1948, todos os países
libertados pelo Exército Vermelho se tornaram estados socialistas.

 A extensão do comunismo no Leste europeu foi. De imediato, contestada pelos


ocidentais. Logo em março de 1946, Churchill denuncia publicamente, num discurso
proferido na Universidade de Fulton (Missouri), a criação, por parte da URSS, de uma
área de influência impenetrável, isolada do Ocidente por uma “cortina de ferro”.

 O discurso de Fulton alertou a comunidade internacional para as desavenças entre os


antigos Aliados. Menos de um ano passado sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, o
alargamento da influência soviética desencadeava um novo medir de forças, desta vez
entre o mundo comunista e o mundo capitalista

4
 A rutura: a Doutrina Truman e o Plano Marshall

 Se irreversível, a extensão da influência soviética na Europa parecia, aos ocidentais,


inaceitável. O seu dinamismo constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal,
ameaça essa que era preciso conter.

 Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os Estados Unidos assumem, frontalmente, a


liderança da oposição aos avanços do socialismo. Num discurso histórico, o presidente
Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas antagónicos: um
baseado na liberdade; o outro na opressão. Aos americanos competiria, perante o
enfraquecimento da Europa, liderar o mundo livre e auxiliá-lo na contenção do
comunismo (containment) – é a célebre doutrina Truman.

 Além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman


deixava também clara a necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.

 As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e as ajudas de emergência,


prestadas pelos Estados Unidos nos primeiros dois anos do pós-guerra, só tinham acudido
às necessidades mais prementes. O rigoroso Inverno de 1946-47 agravara ainda mais as
situações de miséria do Velho Continente, criando um clima político instável, em tudo
propicio à difusão das ideias de igualdade e justiça social do marxismo.

 É neste contexto que o secretário de Estado americano George Marshall anuncia, em


junho de 1947, um gigantesco plano de ajuda económica à Europa, o European Recovery
Plan (ERP). Conhecido como Plano Marshall, este auxilio foi acolhido com entusiasmo
pela generalidade dos países europeus, que, assim, viram reforçados os laços que os
uniam aos EUA.

 O Plano Marshall foi formalmente oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se
encontravam já sob influência soviética, mas depois de breves negociações, Moscovo
classifica a ajuda americana de “manobra imperialista” e impede os países sob sua
influência de a aceitarem.

 Alguns meses passados sobre a Doutrina Truman e o anúncio do Plano Marshall, os


soviéticos formalizaram, por sua vez, a rutura entre as duas potências. Perante as
delegações dos partidos comunistas europeus, Andrei Jdanov fala de um mundo dividido
em dois sistemas contrários: um, imperialista e antidemocrático, é liderado pelos Estados
Unidos; o outro, em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos, corresponde
ao mundo socialista. Lidera-o a União Sovietica.

 Em janeiro de 1949, Moscovo “responde” também ao Plano Marshall, lançando o Plano


Molotov, que estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental. Foi
5
no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica
Mútua), instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países
comunistas, sob a égide da União Sovietica.

 Os países abrangidos pelo Plano Marshall (OECE) e os países do COMECON


funcionaram como áreas transnacionais, coesas e distintas uma da outra- deste modo, a
divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal como se consolidou a
liderança das duas superpotências.

 A consolidação de um mundo bipolar. A guerra fria


 A questão alemã

 O clima de desentendimento e de hostilidade entre os antigos Aliados refletiu-se de


imediato na gestão conjunta do território alemão, dividido e ocupado pelas quatro
potencias vencedoras.

 A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que Ingleses e Americanos
olhassem a Alemanha, não já como o inimigo vencido, mas como um aliado
imprescindível à contenção do avanço soviético. O renascimento alemão tornou-se uma
prioridade para os Americanos, que intensificaram os esforços para a criação de uma
republica federal, constituída pelos territórios sob ocupação das três potencias ocidentais.

 A União Sovietica protestou vivamente contra aquilo que considerava uma clara violação
dos acordos estabelecidos, mas, perante a marcha dos acontecimentos, acabou por
desenvolver uma atuação semelhante na sua própria zona.

 Este processo de divisão trouxe para o centro da discórdia a situação de Berlim, já que na
capital, situada no coração da área soviética, continuavam estacionadas as forças militares
das três potencias ocidentais.

 Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos
os acessos terrestres à cidade. Depois de alguns de intenso dramatismo, o presidente
Truman decide abastecer a cidade através de uma gigantesca ponte aérea.

 A situação de bloqueio durou praticamente um ano, findo o qual os Soviéticos aceitaram


restabelecer as ligações terrestres aos setores ocidentais da cidade. Foi um primeiro medir
de forças entre as duas superpotências, durante o qual se desmoronaram por inteiro os
acordos de uma gestão conjunta de Berlim e da Alemanha, assumidos em Potsdam. Em
1949, quando se respirava de alivio pelo fim do bloqueio, o mundo via nascer dois
Estados alemães separados e rivais: a República Federal Alemã (RFA), afeta aos
ocidentais, e a República Democrática Alemã (RDA), que integrou o mundo comunista.
6
 Encravada na RDA, Berlim permaneceu sempre no centro da discórdia. Em 1961, uma
nova crise conduziu à construção do celebre muro, que se tornou o símbolo da divisão do
mundo em dois blocos antagónicos.

 A construção de dois blocos antagónicos


 O bloco americano

 Uma vez enunciada a doutrina Truman, os Estados Unidos empenharam-se por todos os
meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall, já o vimos, foi o primeiro grande
passo nesse sentido, uma vez que não só permitiu a reconstrução da economia europeia
em moldes capitalistas, como estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus
“benfeitores” Americanos.

 Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou também a


oficializar. A tensão provocada pelo Bloqueio de Berlim acelerou as negociações que
conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, firmando entre os Estados Unidos,
o Canadá e dez nações europeias. A operacionalização deste tratado deu origem à
Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (ou NATO, sigla inglesa), talvez a
mais importante organização militar do pós-guerra, que se tornou um símbolo do bloco
ocidental.

 O pacto da OTAN é bem demonstrativo da desconfiança que então impregnava as


relações internacionais. Os seus membros fundadores consideram-se ligados por uma
“herança civilizacional comum”, cuja preservação exige o desenvolvimento da
“capacidade individual ou coletiva de resistir a um ataque armado”. A aliança apresenta-
se, assim, como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um
inimigo que, embora não se nomeie, está omnipresente: a União Sovietica e tudo o que,
para o mundo ocidental, ela representa.

 Esta sensação de ameaça e o afã em consolidar a sua área de influência lançaram os EUA
numa autentica “pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças um
pouco por todo o mundo. Além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais na América,
na Oceânia, no Sudeste Asiático, no Médio Oriente. Estas alianças foram
complementadas com diversos acordos de carácter político e económico, de tal modo que,
em 1959, três quartos do mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco
americano.

 O bloco soviético

7
 Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no mundo apenas dois
países comunistas: a URSS e a Mongólia. Entre 1945 e 1949, o comunismo implanta-se
na Europa Ocidental, na Coreia do Norte e na imensa extensão da China. Nos anos 50 e
60, continua o seu progresso na Ásia (Vietname do Norte, Camboja, Birmânia) e encontra
em Cuba, mesmo à porta dos Estados Unidos, um novo posto avançado. Finalmente, na
década de 70, ganha novos países asiáticos e estende-se à África.

 Tanto pelo seu poderio como pelo papel pioneiro na implantação do comunismo, a URSS
assumiu a liderança deste novo mundo.

 Na Europa, a rejeição do Plano Marshall coincidiu com o reforço da coesão militar entre
os países comunistas. Após uma série de acordos bilaterais, a URSS entre os países
comunistas. Após uma série de acordos bilaterais, a URSS e os seus países-satélite do
Leste Europeu assinaram, em 1955, o Pacto de Varsóvia, aliança que previa a resposta
conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto de Varsóvia constituiu uma organização
militar diametralmente oposta à OTAN, simbolizando as duas coligações o antagonismo
militar entre as duas superpotências.

 Na Ásia, a ocupação da Coreia pelos exércitos soviético e americano, no fim da Segunda


Guerra Mundial, conduziu à divisão do país em dois Estados: a norte, a República
Popular da Coreia, comunista; a sul, a República Democrática da Coreia apoiada pelos
Estados Unidos. Nas restantes regiões do Sudeste Asiático, a URSS apoiou os
movimentos revolucionários nacionais, com os quais celebrou tratados de amizade e
cooperação. Tal foi o caso da China, onde, em 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a
instauração de uma republica popular.

 Nas décadas de 60 e 70, a influência soviética penetrou, como dissemos, na América


Latina, onde Cuba se tornou um baluarte comunista, e consolidou-se em África, através
de países como Angola e Moçambique, que, na sequência da descolonização portuguesa,
implantaram regimes socialistas.

 A Guerra Fria

 O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados


dos anos 80. Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente,
gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o mundo num permanente
sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos por Guerra Fria.

 A Guerra Fria configurou um tipo de conflito completamente novo e lutou-se de múltiplas


formas. Destacamos:
 A constituição de blocos e áreas de influência. Como já vimos, cada uma das
superpotências procurava ampliar o número dos seus aliados, impedindo que outras
8
nações alinhassem com o lado contrário. Com este objetivo, tanto os EUA como a
URSS alimentaram numerosos conflitos, apoiando o lado que lhes era afeto. As
guerras da Coreia e do Vietname, as guerrilhas da Nicarágua e El Salvador, a
consolidação do regime de Fidel castro em Cuba ou o derrube do governo de Salvador
Allende no Chile, são apenas alguns exemplos;
 A instilação de sentimentos de medo e ódio ao lado contrário, através de uma máquina
de propaganda gigantesca. Esta verdadeira diabolização do outro foi uma das
características mais sentidas pelo cidadão comum, imputando ao inimigo as mais
sinistras intenções;
 O reforço da atuação dos serviços secretos e a constituição de redes de espionagem
mútua. A CIA, do lado americano, e o KGB, do lado soviético, ganharam um enorme
protagonismo e, neste clima, novelas e filmes de espiões alcançaram grande sucesso e
reforçaram a máquina de propaganda;
 Uma corrida ao armamento de proporções gigantescas, que incidiu nas populações o
terror de uma guerra nuclear e colocou o mundo à beira da destruição global;
 A demonstração, junto da opinião pública mundial, da superioridade do respetivo
regime, de forma a ganhar admiração das populações. Esta característica viveu-se de
forma intensa no desporto, por exemplo – os Jogos Olímpicos e os seus medalhados
foram, neste campo, um palco privilegiado – mas, sobretudo, impulsionou a corrida
espacial que, nas décadas 50 e 60, alimentou o orgulho das suas superpotências.

 A escalada armamentista e o início da era espacial


 A escalada armamentista

 Além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os dois blocos


procuraram apetrechar-se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na
conceção e fabrico de armamento cada vez mais sofisticado.

 Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos sentiam-se protegidos por uma
evidente superioridade técnica. Só eles tinham o segredo da bomba atómica, que
consideravam a sua melhor defesa.

 Quando, em setembro de 1949, os Russos fizeram explodir a sua primeira bomba


atómica, a confiança do Ocidente desmoronou-se. De imediato, os cientistas americanos
incrementaram as pesquisas de uma arma ainda mais destrutiva: em 1952, testava-se, no
Pacífico, a primeira bomba de hidrogénio – a bomba H -, com uma potência mil vezes
superior à bomba de Hiroxima. A corrida ao armamento tinha começado. No ano
seguinte, os Russos possuíam também a bomba de hidrogénio e o ciclo reiniciou-se,
levando as duas superpotências à produção maciça de armamento nuclear. Embora o
caráter revolucionário deste novo rearmamento se encontre na produção de bombas
9
atómicas e no desenvolvimento de mísseis de longo alcance para as lançar, o mundo viu
também multiplicarem-se as armas ditas “convencionais”. Nos três anos em que se travou
a Guerra da Coreia, o orçamento dos Estados Unidos para a defesa mais do que triplicou,
tal como triplicaram, também as suas forças terrestres. O investimento ocidental nas
armas convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual estratégia por parte da
URSS.

 O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma característica
nova: a dissuasão. Cada um dos blocos procurava persuador o outro de que usaria, sem
hesitar, o seu potencial atómico em caso de violação das respetivas áreas de influência.
Advertências, ameaças, movimentações de tropas e material de guerra faziam parte desta
estratégia dissuasora, que a natureza apocalíptica de um confronto nuclear tornou eficaz.
O mundo, ameaçado de destruição, tinha resvalado, nas palavras de Churchill, para o
“equilíbrio instável do terror”.

 Um dos momentos mais tensos desta escalada viveu-se em 1962, quando aviões
americanos obtiveram provas fotográficas da instalação, em Cuba, de misseis russos de
médio alcance, capazes de atingir o território americano.

 A exigência firme de retirada dos mísseis feita pelo presidente Kennedy coloca o mundo
perante a iminência de uma guerra nuclear entre as superpotências. Felizmente, a crise
acaba por se revolver com cedências mútuas: Kruschev aceita retirar os mísseis, enquanto
os Estados Unidos se comprometem a não tentar derrubar o regime comunista cubano,
bem como a retirar os mísseis americanos estacionados na Turquia.

 No início dos anos 70, esforços tímidos de contenção da corrida ao armamento levam a
conversações entre as duas superpotências. Mas ainda a década não tinha acabado e um
novo endurecimento militar colocava na Europa os novos mísseis soviéticos SS 20 e,
pouco depois, os misseis americanos Pershing II, ambos apontados à área de influência
do inimigo.

 O início da era espacial

 A rivalidade entre as duas superpotências manifestou-se também na conquista do Espaço.

 Surpreendendo o mundo, a URSS colocou-se à cabeça da corrida espacial quando, em


outubro de 1957, conseguiu colocar em órbita o primeiro satélite artificial da História, o
Sputnik 1. No mês seguinte, lançou o Sputnik 2, levando a bordo a cadela Laika, que se
tornou o primeiro viajante espacial.

 Face a estes sucessos, a consternação dos Americanos, que até aí tinham considerado a
URSS tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa,
10
anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas a experiência foi um fiasco. Só no
início de 1958, com o lançamento do Explorer 1, a América efetivaria a sua entrada na
corrida espacial.

 Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas
nações. Nos primeiros tempos, os Soviéticos mantiveram a liderança e, em 1961, fizeram
de Yuri Gagarin o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre. No entanto, no fim da
década de 60, coube aos americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin o feito de serem os
primeiros homens a pisar na Lua.

 Quando a humanidade realizou, finalmente, o sonho improvável de chegar à Lua, tornou-


se evidente que o desenvolvimento tecnológico tinha alcançado uma etapa superior. Mas
também se tornou evidente que essa mesma tecnologia estava a ser utilizada para a
construção de armas capazes de aniquilar toda a humanidade.

 O mundo capitalista e o mundo comunista

 Mais do que as ambições das duas superpotências, nos anos da Guerra Fria confrontaram-
se duas conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social:
de um lado, o modelo capitalista e liberal. Assente sobre os princípios da liberdade
individual e da livre empresa; do outro, o modelo comunista, que põe em primeiro lugar o
interesse da coletividade e defende o controlo estatal dos meios de produção.

 O mundo capitalista

 A derrota dos regimes totalitários na Segunda Guerra Mundial reforçou os ideais


democráticos, que se tornaram a bandeira dos Estados Unidos e dos seus aliados.

 As democracias liberais fundam-se na separação de poderes, de forma a evitar governos


ditatoriais e totalitários, no pluralismo político – existência de vários partidos – e na livre
escolha dos governantes pelo povo, através de atos eleitorais periódicos. Em termos
económicos, defendem a propriedade privada e a livre iniciativa como meios de progresso
e riqueza.

 A política económica e social das democracias ocidentais

 No fim da guerra, o conceito de democracia adquiriu uma maior abrangência: considerou-


se que, além de garantir as liberdades individuais, o regime democrático deveria
assegurar o bem-estar dos cidadãos e a justiça social.
11
 Nesta altura, sobressaíam no panorama político europeu as forças da social-democracia e
da democracia cristã. Ambas tinham lutado contra o nazismo e ambas representavam,
uma alternativa credível aos velhos partidos liberais. Embora de quadrantes muito
diferentes, partilhavam as mesmas preocupações sociais e advogavam um Estado
interventivo, capaz de liderar a necessária reconstrução económica. Estavam, assim,
criadas as condições para reformas económicas e sociais profundas.

 Ainda que sem abdicar dos princípios da propriedade privada e da livre iniciativa
empresarial, os Governos lançam-se num vasto programa de nacionalizações, que atinge
bancos, as companhias de seguros, a produção de energia, a acautelar as situações de
desemprego, acidente, velhice e doença; estabelecem-se prestações de ajuda familiar
(“abono de família”) e outros subsídios aos mais pobres. Complementarmente, ampliam-
se as responsabilidades do Estado no que concerne à habitação, ao ensino e à assistência
médica.

 Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo: por um lado, reduz a miséria e o mal-
estar social, contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza; por outro,
assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura
como a que ocorreu durante a crise dos anos 30. Assim, o Estado-providencia foi também
um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três décadas que se
seguiram à Segunda Guerra Mundial.

 A prosperidade económica

 O Plano Marshall e a intervenção dos Governos europeus impulsionaram uma rápida


recuperação económica. O capitalismo, que na década de 30 parecera condenada pela
Grande Depressão, emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e
1973, a produção mundial mais do que triplicou e, em certos setores, como a produção
energética e do automóvel, multiplicou-se por dez. As taxas de crescimento
especialmente altas de certos países, como a RFA, a França ou o Japão, surpreenderam os
analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”.

 Estes cerca de trinta anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na
História como os “Trinta Gloriosos”, expressão popularizada pelo economista francês
Jean Furaste.

 Entre as suas características, podemos destacar:


 A aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores, desde as fibras
sintéticas aos plásticos, à medicina, à aeronáutica, à eletrônica, entre muitos outros.
Rapidamente produzidas em série, as inovações tecnológicas revolucionaram a vida
quotidiana e os processos de produção;
12
 O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do
carvão, que, desde a Revolução Industrial, se mantinha num destacado primeiro lugar.
A abundancia e o baixo preço do petróleo alimentaram a prosperidade económica,
permitindo uma autentica revolução nos transportes, além de uma enorme gama de
novos produtos industriais;
 O aumento da concentração industrial e do número de multinacionais, verdadeiros
gigantes economico0s que fabricam e comercializam os seus produtos nos quatro
cantos do mundo. Investindo grandes somas na investigação cientifica, contribuindo
para a aceleração do progresso técnico a que nos referimos, são, também, as
responsáveis pelo acentuar da globalização económica que marcou a segunda metade
do século XX;
 A modernização da agricultura, renovadas por grandes investimentos, nova tecnologia
e uma mentalidade verdadeiramente empresarial. Mais produtiva, a agricultura liberta,
em pouco tempo, grandes quantidades de mão de obra, que migra para os núcleos
urbanos;
 O aumento significativo da população ativa proporcionando pelo reforço da mão de
obra feminina no mercado de trabalho, o baby-boom dos anos 40-60 e a imigração de
trabalhadores oriundos dos países menos desenvolvidos (Gregos, Portugueses,
Argelinos, Turcos...). Além de mais numerosa, a mão de obra tornou-se também mais
qualificada, em virtude do prolongamento da escolaridade;
 O crescimento do setor terciário, que tende a absorver a maior percentagem de
trabalhadores. O surto espetacular das trocas comerciais, a aposta no ensino, os
serviços sociais prestados pelo Estado e a complexidade crescente da administração
das empresas multiplicaram o número de postos de trabalho neste setor. Assim, as
classes médias alargam-se, o que contribuiu para a subida do nível de vida e para o
equilíbrio social.

 Em 1973, uma súbita elevação no preço do petróleo marcou, nas economias ocidentais, o
início de um outro ciclo e económico, menos prospero e bastante mais instável. Mas,
nessa altura, o nível de bem-estar das famílias tinha já atingido um patamar inédito,
fazendo nascer a sociedade de consumo.

 A sociedade de consumo

 O efeito mais evidente dos “Trinta Gloriosos” foi a generalização do conforto material. O
pleno emprego, os salários altos e a produção maciça de bens e a preços acessíveis
conduziram à sociedade de consumo, que transformou os lares e o estilo de vida da
maioria de população dos países capitalistas.

 Quando os gastos na alimentação e em outros bens essenciais deixaram de absorver a


quase totalidade dos orçamentos familiares, as casas tornaram-se cómodas e bem
equipadas. Os aparelhos de aquecimento, o telefone, a televisão e toda uma vasta gama de
13
eletrodomésticos multiplicaram-se rapidamente e o automóvel tomou o seu lugar nas
garagens e nas ruas, proporcionando longos passeios de lazer. As férias pagas, privilegio
que se alargou nos anos 60, vieram acentuar a ideia de que a vida merece ser desfrutada e
o dinheiro existe para se gastar.

 Aliás, nesta sociedade de abundancia, o cidadão comum é permanentemente estimulado a


despender mais do que o necessário. Multiplicaram-se os grandes espaços comerciais,
verdadeiros santuários do consumo, onde os objetos, estrategicamente dispostos, se
encontram ao alcance da mão do potencial comprador. Um a publicidade bem orquestrada
lembra, continuamente, as pequenas e grandes maravilhas a que todos “têm direito” e que
as vendas a crédito permitem adquirir. A oferta e a pressão publicitária são de tal ordem
que os bens rapidamente perdem valor, “passam de moda” e são substituídos por outros
mais atualizados.

 O consumismo, que entre as duas guerras fora um fenômeno unicamente americano,


instala-se duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda
metade do século XX.

 O mundo comunista

 Como vimos já, a libertação do Leste europeu pelo Exército Vermelho, no final da
Guerra, facilitou a expansão do comunismo. Em meados de 1948, os partidos comunistas
dos países de Leste tinham-se já assumido como partidos únicos e, em pouco tempo, a
vida política, social e económica destas regiões foi reorganizada em moldes semelhantes
aos da União Soviética.

 As democracias populares europeias

 Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares. Por


oposição às democracias liberais, julgadas incapazes de garantir a verdadeira igualdade
devido à persistência dos privilégios de classe, as democracias populares defendem que a
gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes trabalhadoras. Estas, que constituem
a esmagadora maioria da população, exercem o poder através do Partido Comunista, que,
supostamente, representa os seus interesses. As eleições existem e realizam-se mediante
sufrágio universal, mas o sistema funciona com a apresentação de candidaturas e listas
únicas, de caráter oficial. Os dirigentes do Partido ocupam, também, os altos cargos do
Estado, que desempenha um papel primordial em todas as esferas da vida da nação:
define a vida política, as opções económicas, o enquadramento ideológico e cultural dos
cidadãos. Em suma, a Europa de Leste reconstrói-se de acordo com a ideologia marxista e
a interpretação que dela faz o regime soviético.

14
 A coesão entre a URSS e os países da Europa de Leste foi ainda reforçada pela criação de
estruturas várias, como o Kominform (1947), Secretariado de Informação Comunista,
destinado a coordenar a atuação dos diversos partidos comunistas, o COMECNON
(1949), vocacionado para a cooperação económica, e do Pacto de Varsóvia (1955),
associação militar de defesa mútua.

 A morte de Estaline, em 1953, faz nascer a esperança de mudanças no rígido modelo


soviético, que se reforçam em 1956, quando o novo líder da URSS, Nikita Kruschev,
denuncia publicamente a ditadura e os crimes do seu antecessor, admitindo a
possibilidade de vários caminhos para atingir o socialismo. Primeiro na RDA, depois na
Polónia e na Hungria, a linha dura dos partidos comunistas depara-se com a contestação e
a revolta. Na Hungria, em outubro de 1956, uma revolução impetuosa derruba o Governo,
substituindo-o por comunistas reformadores. Dias depois, e perante a intenção do novo
Governo de retirar o país do Pacto de Varsóvia, a revolução é esmagada pelos tanques
soviéticos, que entram em Budapeste e repõem a “normalidade”.

 Algo semelhante acontecerá, em 1968, na Checoslováquia, onde o líder comunista


Alexandre Dubcek se propõe criar um “socialismo de rosto humano”. Conhecida por
“Primavera de Praga”, esta experiência liberalizadora não vai avante. Tal como já
acontecera na Hungria, os tanques do Pacto de Varsóvia invadem o país e derrubem o
governo de Dubcek.

 O esmagamento militar da “Primeira de Praga” levou o líder soviético Brejnev a assumir,


perante o mundo, que a soberania dos países do Leste europeu se encontrava limitada
pelos superiores interesses do socialismo – Doutrina Brejnev.

 Até à desintegração do bloco soviético, no fim da década de 80, a URSS e as democracias


populares europeias funcionarão como um conjunto sólido, unido pela ideologia, a
organização política, o modelo de sociedade e uma economia de direção central.

 As economias de direção central

 Apesar da devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial, a reconstrução dos países
socialistas efetuou-se rapidamente. Nas duas décadas que se seguiram à guerra, as taxas
de crescimento económico ultrapassaram, globalmente, as dos países capitalistas.

 Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica que
tinha implementado nos anos 20. Tal como já acontecera, a indústria pesada e as
infraestruturas recebem prioridade absoluta. Imensos complexos siderúrgicos e centrais
hidroelétricas fazem da União Sovietica a segunda potência industrial do mundo e
garantem-lhe o poderio militar necessário ao afrontamento dos tempos da Guerra Fria.

15
 Nos países de Leste, a proclamação das repúblicas populares implanta também o modelo
económico soviético. Os meios de produção dão coletivizados e reorganizados em moldes
idêntico aos das URSS. É dada prioridade à industrialização, baseada na indústria pesada.

 Assim, os novos países socialistas europeus, que, com exceção da Checoslováquia e da


RDA, eram essencialmente agrícolas, industrializaram-se rapidamente. Esta
industrialização foi um dos maiores êxitos das economias planificadas.

 No entanto, o nível de vida das populações não acompanha este crescimento económico.
As jornadas de trabalho mantêm-se longas e os salários baixos. A construção
habitacional, a agricultura, as indústrias de consumo e o setor terciário são
negligenciados. Nas cidades, que a industrialização fez crescer aceleradamente, a
população amontoa-se em bairros periféricos, mal construídos. As longas filas de espera
para adquirir bens essenciais tornam-se uma rotina diária.

 Os bloqueios económicos

 À medida que a economia se tornava mais complexa, a previsão de todas as tarefas e


necessidades tornava-se também mais difícil e menos eficaz. Sem gozarem de autonomia
na seleção das produções, do equipamento ou dos trabalhadores, as empresas
entorpecerem. Privados de verdadeira iniciativa, os gestores limitavam-se a cumprir os
objetivos prescritos no plano, sem atender à qualidade dos produtos ou ao potencial dos
equipamentos e da mão de obra. Nas unidades agrícolas, a falta de investimento e o
desalento dos camponeses refletiam-se de forma severa na produtividade.

 Face a este estado de coisas, implementou-se, nos anos 60, um vasto conjunto de
reformas, praticamente em todos os países da Europa socialista. O impulso veio, mais
uma vez, da URSS, pela mão de Nikita Kruschev: investe-se na produção agrícola,
reduzem-se os horários de trabalho (de 48 horas para 42 horas), aumenta-se a autonomia
dos gestores face aos funcionários do Estado (a chamada Nomenklatura), premeiam-se os
operários mais produtivos. Paralelamente, incentivam-se as indústrias de consumo e a
construção de habitações.

 No entanto, os efeitos destas medidas ficaram muito aquém do esperado e não foram
capazes de relançar as economias do bloco socialista. Na década de 1970, sob a
orientação de Leónidas Brejnev, a burocracia reforça-se e alastra uma corrupção sem
precedentes.

 As dificuldades da economia soviética afetaram também os países-satélite. Embora não


podendo dissociar-se da crise económica que, na década de 70, afetou também o mundo
capitalista, elas refletem, sobretudo, as falhas do sistema que conduzirão à falência dos
regimes comunistas europeus, no fim dos anos 80.
16
 A afirmação de novas potencias
 O rápido crescimento do Japão

 Vencido, humilhado e ocupando no fim da Segunda Guerra Mundial, nada fazia prever o
extraordinário desenvolvimento do Japão que, no fim dos anos 60, se tornou a segunda
potência econômica do mundo capitalista.

 Com uma taxa de crescimento que chegou a superar os 10% ao ano, o Japão rapidamente
se impôs na produção de bens de consumo duradouros – frigoríficos, televisores,
aparelhos de som, câmeras fotográficas e de filmar – e na construção automóvel. Nos
anos 70, o Ocidente convivia já com marcos japonesas de prestigio, como a Sony e a
Toshiba, na área da eletrônica, a Honda, a Toyota ou a Nissan, na construção automóvel,
entre muitas outras. O país tornou-se um exemplo de capacidade tecnológica e sucesso
empresarial.

 Conhecido como “milagre económico japonês”, este extraordinário crescimento


económico deve-se à conjugação de uma multiplicidade de fatores:
 A ajuda dos Estados Unidos, que, sobretudo a partir de 1949, com a implantação do
comunismo na China, passaram a olhar para o Japão como um importante aliado ao
Bloco Ocidental, em tempos da Guerra Fria;
 A atuação do Estado, que teve um papel relevante no investimento, na proteção das
empresas e do mercado interno. Paralelamente, fomentou o ensino e a investigação
cientifica, contribuindo para colocar o país na vanguarda tecnológica;
 A mentalidade japonesa, muito diferente do ocidental. Dinâmicos e austeros, os
Japoneses tomaram a reconstrução do país como uma causa comum. Enquanto os
empresários reinvestiam sistematicamente os lucros, os trabalhadores abstinham-se de
reivindicações sindicais;
 A estreita ligação entre os trabalhadores e a empresa: fruto de uma longa tradição de
trabalho vitalício, os trabalhadores japoneses veem o patrão como um protetor e a
empresa como uma segunda família, à qual dedicam todo o seu empenho.

 Munido das condições necessárias ao desenvolvimento e beneficiando da conjuntura


favorável dos “Trinta Gloriosos”, o Japão transformou-se rapidamente na primeira
sociedade de consumo da Ásia.

17
 O afastamento da China do bloco soviético

 O comunismo chinês foi, desde logo, marcado pela personalidade carismática do seu
líder, Mao-Tsé-Tung (1893-1976), que rapidamente se elevou à condição de grande
teórico marxista, ombreando com Lenine e Estaline.

 Ao contrário do marxismo tradicional, que via no operariado o motor da revolução, Mao


enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a liderança revolucionária. Esta
discrepância trouxe à ideologia comunista uma nova variante, conhecida por maoismo.

 Durante os tempos de Estaline, estas diferenças não foram bastantes para inviabilizar a
aliança entre a China e a URSS. Mao celebra com os Russos um tratado de cooperação e
amizade, intervém, com o patrocínio soviético, na Guerra da Coreia e adota o modelo de
economia planificada, beneficiando o país da ajuda financeira e técnica do seu parceiro
soviético.

 Porém, após a morte de Estaline, as relações entre os dois países deterioram-se


progressivamente. A condenação, por Kruschev, dos crimes do seu antecessor e a sua
política de diálogo com o Ocidente merecem o repúdio do Governo chinês;
paralelamente, decreta-se o fim da economia planificada, em nome de um novo modelo
de industrialização, que redunda num tremendo fracasso. Moscovo acusa o líder chinês de
aventureirismo e Mao devolve as críticas, acusando os Soviéticos de traição à causa
comunista.

 A partir de então, a China considera-se o único país “verdadeiramente socialista”,


propondo um modelo revolucionário aos países agrários do Terceiro Mundo.

 Quando, em 1971, o país substitui Taiwan no Conselho de Segurança, as intervenções dos


delegados chineses nas Nações unidas dirigiram-se frequentemente contra o “social-
imperialismo” soviético, que consideravam a “principal ameaça à paz mundial”. Este
confronto entre as duas potências, que se foi agravando progressivamente, abriu uma
importante fissura no bloco socialista que contribuiu para esbater o estreito bipolarismo
dos primeiros anos da Guerra Fria.

 A ascensão da Europa
18
 Depois de, na primeira metade do século, quase se autodestruir em duas guerras
fraticidas, a Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir
para reencontrar a prosperidade econômica e, se possível, a sua influência política.

 Logo em 1946, Churchill lança o apelo ao renascimento europeu, alicerçado numa


“espécie de Estados Unidos da Europa”. A ideia, que suscitou tanto entusiasmo como
desconfiança, foi, entre avanços, e recuos, ganhando adeptos e consistência. Criaram-se
várias organizações europeístas, promoveram-se encontros, debates e congressos,
incrementaram-se as iniciativas diplomáticas entre os futuros Estados-membros.

 Porém, desde o início se fizeram sentir em todo o processo as dificuldades em concertar


interesses e em definir o futuro modelo político dessa Europa unida: enquanto os mais
ousados advogavam uma Europa supranacional (federalistas), outros admitam apenas
uma confederação de Estados independentes. Fortemente enraizados, os velhos
nacionalismos europeus eram, como o são ainda hoje, difíceis de ultrapassar.

 Da CECA à CEE

 O primeiro passo consistente para a cooperação europeia resultou da Declaração


Schuman (1950), que previa a cooperação entre a França e a Alemanha no domínio da
produção de carvão e aço, pondo assim uma pedra na rivalidade secular entre os dois
países. Desta iniciativa, desde há muito acalentada pelo “pai da Europa”, Jean Monnet,
resultou, em 1951, a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço -, a que
aderiram, além da Alemanha e da França, a Itália, a Bélgica, os Países Baixos e o
Luxemburgo. A CECA estabelecia uma zona conjunta Mineros siderúrgica sob a
orientação de uma Alta Autoridade supranacional.

 Ainda que de índole estritamente económica e limitada aos setores referidos, a CECA foi
embrião de uma união económica mais ampla, a CEE – Comunidade Económica
Europeia -, criada em 1957 pelo Tratado de Roma.

 O Tratado de Roma, firmado pelos mesmos seis países que integravam a CECA, é
considerado o ponto de partida da atual União Europeia. Neste convénio, os países
signatários comprometiam-se a implementar progressivamente a livre circulação de
mercadorias, de capitais e de trabalhadores, bem como a livre prestação de serviços.
Previa-se também o estabelecimento de uma política comum na área da agricultura, dos
transportes e da produção energética. Para este último fim foi criada a EURATOM –
Comissão Europeia de Energia Atómica -, com um funcionamento independente da CEE.

 A união aduaneira (livre circulação de mercadorias), prevista no Tratado de Roma, veio a


concretizar-se em 1968, traduzindo-se, desde logo, num forte aumento das trocas
19
intercomunitárias. Em 1970, a CEE era já a primeira potência comercial do mundo e
crescia a uma taxa média de 5% ao ano. Foi este sucesso econômico da Europa dos Seis
que conduziu ao seu alargamento: em 1 de janeiro de 1973, aderiram à CEE o Reino
Unido, a Irlanda e a Dinamarca.

 De então para cá, a Europa tem caminhado em direção à união político-económica, única
via capaz de a fazer ombrear com as superpotências e desempenhar um papel de relevo na
geopolítica mundial.

 O tempo da descolonização
 Uma conjuntura favorável

 O rápido desmoronamento do domínio europeu no mundo ficou a dever-se, em grande


parte, ao impacto exercido pela Segunda Guerra Mundial.

 A guerra, que exigiu também pesados sacrifícios às colónias, “acordou” os povos para a
injustiça da dominação estrangeira. A luta contra as forças do Eixo foi sentida por todos
como uma luta pela liberdade que, doravante, deveria estender-se a todo o globo.

 Ao mesmo tempo que fomentava sentimentos de rebeldia, a guerra pôs também em


evidência as fragilidades da Europa. Até aí vistos como potencialmente invencíveis, os
Estados europeus mostraram-se incapazes de defender os seus territórios da invasão
estrangeira. Tal foi o caso, na Ásia, da ocupação da Indochina, Malásia, Birmânia e Índias
Orientais Holandesas pelo Japão. Desprestigiados e com a economia arruinada, os países
coloniais viram-se impotentes para suster a vaga independentista que, terminado o
conflito, assolou a Ásia e a África.

 Aos efeitos demolidores da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas


superpotências, que apoiam os esforços de libertação dos povos colonizados. Os Estados
Unidos, em lembrança do seu próprio passado e em defesa dos seus interesses
económicos, sempre se mostraram adversos à manutenção do sistema colonial. A URSS
atua em nome da ideologia marxista – que prevê a revolta dos oprimidos pelos interesses
económicos capitalistas – e não desperdiça a possibilidade de estender, nos países recém-
formados, o modelo soviético.

 Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se
constituirá como um baluarte internacional da descolonização, compelindo os Estados-
membros ao cumprimento do estipulado na Carta e nas Resoluções da Assembleia-Geral
que, invariavelmente, condenaram a manutenção do domínio colonial.

20
 A descolonização asiática

 O processo de descolonização pós-Segunda Guerra Mundial inicia-se no continente


asiático.

 No Médio Oriente, concluindo um processo já em curso, tornam-se independentes a Síria,


o Líbano, a Jordânia e a Palestina, onde, em 1948, nasce, num clima de guerra, o Estado
de Israel.

 Na Índia, a “joia da Coroa” do Império Britânico, a vontade de independência era já


antiga e várias tinham sido as revoltas contra o domínio estrangeiro. Porém, o impulso
final será dado por Mohandas Gandhi (1869-1948) que, à frente do Partido do Congresso,
conduz a luta nacionalista. Incapazes de suster a onda de contestação desencadeada pelas
campanhas não-violentas organizadas por Gandhi, os Britânicos reconhecem a
independência do território (1947), que se divide em dois Estados: a União Indiana,
maioritariamente hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.

 Outros territórios do Império Inglês do Oriente, como o Ceilão, a Birmânia e a Malásia,


reclamam igualmente a sua independência. Com exceção da Malásia, cuja excelente
posição estratégica dificulta a cedência britânica, os Ingleses aceitam que é chegado o
momento da descolonização. Dando mostras de grande pragmatismo uma vez concluída a
transferência de poderes, abrem às antigas colônias a entrada na Commonweath,
preservando, assim, os seus interesses econômicos na região.

 Também Holandeses e Franceses são forçados a abrir mão das suas colónias.

 Em 1945, o dirigente nacionalista Sukarno proclama a República da Indonésia. Pouco


dispostos a abdicar do território, os Holandeses recorrem à força das armas, mas,
pressionados pela ONU, acabam por reconhecer, em 1949, a independência do novo país.

 Mais longo e sangrento se revela o processo de descolonização da Indochina, onde a


ocupação japonesa fomentara fortes sentimentos antifranceses. Quando, em 1945, a
França retoma a soberania sobre o território, defronta-se com uma poderosa oposição,
encabeçada pelo líder comunista Ho Chi Minh. Após nove anos de sangrentos combates,
os Franceses retiraram-se do território, reconhecendo o nascimento de três novas nações:
o Vietname (provisoriamente entre o Norte e o Sul), o Laos e o Camboja.

 Irradiando da Ásia, a descolonização estender-se-á, na década de 60, por todo o


continente africano.

 A descolonização africana
21
 A descolonização africana inicia-se nas regiões arabizadas do Norte, que, a partir de
1945, contestam vivamente o domínio europeu. A Líbia, colocada sob a tutela da ONU,
obtém a independência logo em 1951 e, cinco anos mais tarde, a França vê-se forçada a
retirar de Marrocos e da Tunísia. Só a Argélia, onde habita 1 milhão de colonos franceses,
mergulha numa longa guerra e tem de esperar até 1962 para ver reconhecido o seu direito
à independência.

 Partindo do Norte, as reivindicações independentistas estendem-se rapidamente à África


Negra, onde se organizam também movimentos nacionalistas que encabeçam a luta
contra o Estado colonizador.

 Frequentemente, estes movimentos têm dificuldade em promover a coesão e a


participação das populações, dividas por uma multiplicidade de etnias, que os interesses
do colonialismo não respeitaram. Com o fim de criarem um sentimento de identidade
nacional, os líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu
povo, a sua cultura comum, mostrando que ela é tão válida como a civilização dos
europeus colonizadores.

 Muitos destes líderes foram educados nas metrópoles, onde assimilaram valores de
liberdade e de justiça social. A luta pela independência assumiu, assim, a dupla vertente
de uma luta política e de uma luta contra a pobreza e o atraso económico, vistos como
consequência direta da exploração colonial. Foi, em parte, por esta razão que muitos
movimentos de libertação se deixaram seduzir pela mensagem igualitária do socialismo.

 O processo independentista contou com o apoio da ONU, que se colocou


inequivocamente ao lado dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia-Geral aprovou a
Resolução 1514, que consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob
administração estrangeira e condena qualquer ação armada das metrópoles, no sentido de
a impedir. Nesse mesmo ano, que ficou para a História como “o ano da descolonização”,
o mundo viu nascer 18 novos países. Apenas um (Chipre) não era africano.

 A emergência do Terceiro Mundo e a denúncia do


neocolonialismo

 O desmoronar dos impérios europeus alterou profundamente o mapa das nações. Entre
1945 e 1975, constituíram-se 70 novos países na Ásia em África, que não tardam a fazer
ouvir a sua voz na cena internacional. Assumindo o seu atraso econômico, herdado do
colonialismo, e os seus interesses comuns, apresentam-se como uma terceira força,
independente do bloco americano e do bloco soviético: um Terceiro Mundo.

22
 A emergência política do Terceiro Mundo manifestou-se pela primeira vez em 1955, na
Conferência de Bandung (Indonésia), convocada por um punhado de países asiáticos para
definir as linhas gerais de atuação dos países recém-formados. A conferência, que reuniu
29 delegações afro-asiáticas, foi a primeira a realizar-se cem a participação de qualquer
potência ocidental. A participação da União Soviética foi também rejeitada.

 A mensagem de Bandung foi tomando corpo em sucessivos encontros internacionais, que


desembocaram no Movimento dos Não Alinhados, criado oficialmente na Conferência de
Belgrado, em 1961. O não alinhamento atraiu um número crescente de países da Ásia, da
África e da América Latina, tornando-se o símbolo de igualdade e de paz mundial.

 Em termos políticos, as nações do Terceiro Mundo não realizaram o seu objetivo de falar
a uma só voz. Face à pressão das grandes potencias, os desentendimentos surgiram,
enfraquecendo o movimento. O mesmo não se passou, porém, no que respeita aos
esforços conjuntos para lutar contra o colonialismo e denunciar a exploração económica
dos países pobres pelos países desenvolvidos.

 Fornecedores de recursos primários, os países do Terceiro Mundo viram-se na


dependencia econômica dos países ricos que, através de grandes companhias, exploraram
terras e minas e vendiam, como no passado, produtos manufaturados. Privados da gestão
dos seus recursos naturais, necessitados de empréstimos, a braços com a degradação
progressiva dos termos de troca, as nações mais pobres procuravam, em vão, a via do
desenvolvimento. Denunciada veementemente como um verdadeiro neocolonialismo, esta
situação foi tratada em conferencias, fóruns e debates, tendo-se nos anos 70, apelando à
criação de uma “nova ordem económica internacional”

23

Você também pode gostar