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geopolítico
A Segunda Guerra Mundial alterou de forma profunda o equilíbrio de forças nas relações
internacionais. Antigas potencias, como a Alemanha e o Japão, saíram do conflito
vencidas e humilhadas. Outras, como o Reino Unido e a França, embora vitoriosas,
viram-se empobrecidas e dependentes da ajuda externa. No quadro de ruína e desolação
provocado pelo conflito, duas potencias de agigantavam-se: os Estados Unidos, decididos
a quebrar o isolamento internacional que os caracterizava; e a União Soviética, escudada
na força do Exército Vermelho e na sua imensa extensão territorial.
As conferências interaliadas
Quando o ano de 1942 se iniciou, o Reino Unido, a França e os restantes países que
lutavam contra os exércitos do Eixo para estar confiantes. Contavam, agora, com dois
importantes aliados: a URSS, que a invasão nazi trouxera para a cena de guerra; e os
Estados Unidos, envolvidos no conflito pelo recente ataque japonês a Pearl Harbor.
Esta nova relação de forças desencadeou uma série de conferências interaliadas, com o
fim de delinear estratégias de guerra e de estabelecer os princípios que deveriam nortear a
paz. Com a França ocupada, estas conferencias foram, a partir de 1943, protagonizadas
pelos “Três Grandes”: os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido.
Definiu-se a fronteira entre a Polónia e a União Soviética, até então ponto de discórdia
entre os ocidentais e os soviéticos;
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Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas
pelas três potências conferencistas e pela França, sob coordenação de um Conselho
Aliado;
Decidiu-se a reunião, num futuro próximo, da conferência preparatória da Organização
das Nações Unidas;
Estipulou-se o supervisionamento dos “três grandes” na futura constituição dos
Governos dos países de Leste (ocupados pelo Eixo), com base no respeito pela vontade
política das populações;
Estabeleceu-se a quantia de 20 mil milhões de dólares, proposta por Estaline, como
base das reparações de guerra a pagar pela Alemanha.
Alguns meses mais tarde, em finais de julho, reuniu-se em Potsdam, junto de Berlim, uma
nova conferência com o fim de consolidar os alicerces da paz.
A Conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de Ialta.
Vencida a Alemanha, renasciam as desconfianças face ao regime comunista, que Estaline
representava, e às suas pretensões expansionistas na Europa. Assim, a conferência
limitou-se praticamente a pormenorizar os aspetos já acordados em Ialta:
A perda provisória de soberania da Alemanha e a sua divisão em quatro áreas de
ocupação;
A administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em quatro setores
de ocupação;
O montante e o tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
O julgamento dos criminosos de guerra nazis por um tribunal internacional
(Nuremberga);
A divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes semelhantes aos
estabelecidos para a Alemanha.
Nos anos que se seguiram, o clima de tensão que marcou a reunião de Potsdam não se
desvaneceu, a despeito dos ideais de concórdia e fraternidade que inspiram o nascimento
da Organização das Nações Unidas.
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A ideia de uma organização internacional que velasse pela paz e pela segurança resistiu
ao fracasso da Sociedade das Nações. Nas cimeiras da “Grande Aliança”, Roosevelt
pugnou pela criação de um novo organismo, mais consistente, que ele próprio batizou
com o nome de Organização das Nações Unidas (ONU). A nova organização nasceu
oficialmente na Conferência de São Francisco, em abril de 1945. Segundo a Carta
fundadora, as Nações Unidas têm como propósitos principais:
Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando, tanto quanto possível, meios
pacíficos, de acordo com os princípios da justiça e do direito internacional;
Desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseadas na igualdade
entre os povos e no seu direito à autodeterminação;
Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural, e
promover a defesa dos Direitos Humanos;
Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes
propósitos.
Órgãos de funcionamento
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O Conselho de Tutela, ao qual foi atribuída a administração dos territórios que se
encontravam à guarda da extinta SDN. Em 1994, com a independência do Palau,
consideraram-se cumpridos os objetivos deste órgão, pelo que cessou o seu
funcionamento permanente.
Desde a sua fundação, há cerca de oito décadas, que a ONU tem desempenhado um papel
relevante na história do mundo. Se é verdade que não foi capaz de manter a paz e a
concórdia entre as nações, a sua atuação militar tem protegido os mais fracos, esforçando-
se por evitar violências e massacres. No entanto, os maiores êxitos das Nações Unidas
têm sido levados a cabo pelos muitos organismos especializados que criou e que atuam a
nível global. Quem nunca ouviu falar da OMS, da UNICEF ou da UNESCO?
A URSS detinha, assim, uma clara vantagem estratégica no Leste Europeu. Embora os
acordos de Ialta previssem o respeito pela vontade dos povos, expressa em eleições livres
supervisionadas pelas três potências, na prática tornava-se impossível contrariar a
hegemonia soviética, que não tardou a impor-se: entre 1946 e 1948, todos os países
libertados pelo Exército Vermelho se tornaram estados socialistas.
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A rutura: a Doutrina Truman e o Plano Marshall
O Plano Marshall foi formalmente oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se
encontravam já sob influência soviética, mas depois de breves negociações, Moscovo
classifica a ajuda americana de “manobra imperialista” e impede os países sob sua
influência de a aceitarem.
A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que Ingleses e Americanos
olhassem a Alemanha, não já como o inimigo vencido, mas como um aliado
imprescindível à contenção do avanço soviético. O renascimento alemão tornou-se uma
prioridade para os Americanos, que intensificaram os esforços para a criação de uma
republica federal, constituída pelos territórios sob ocupação das três potencias ocidentais.
A União Sovietica protestou vivamente contra aquilo que considerava uma clara violação
dos acordos estabelecidos, mas, perante a marcha dos acontecimentos, acabou por
desenvolver uma atuação semelhante na sua própria zona.
Este processo de divisão trouxe para o centro da discórdia a situação de Berlim, já que na
capital, situada no coração da área soviética, continuavam estacionadas as forças militares
das três potencias ocidentais.
Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos
os acessos terrestres à cidade. Depois de alguns de intenso dramatismo, o presidente
Truman decide abastecer a cidade através de uma gigantesca ponte aérea.
Uma vez enunciada a doutrina Truman, os Estados Unidos empenharam-se por todos os
meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall, já o vimos, foi o primeiro grande
passo nesse sentido, uma vez que não só permitiu a reconstrução da economia europeia
em moldes capitalistas, como estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus
“benfeitores” Americanos.
Esta sensação de ameaça e o afã em consolidar a sua área de influência lançaram os EUA
numa autentica “pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças um
pouco por todo o mundo. Além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais na América,
na Oceânia, no Sudeste Asiático, no Médio Oriente. Estas alianças foram
complementadas com diversos acordos de carácter político e económico, de tal modo que,
em 1959, três quartos do mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco
americano.
O bloco soviético
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Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no mundo apenas dois
países comunistas: a URSS e a Mongólia. Entre 1945 e 1949, o comunismo implanta-se
na Europa Ocidental, na Coreia do Norte e na imensa extensão da China. Nos anos 50 e
60, continua o seu progresso na Ásia (Vietname do Norte, Camboja, Birmânia) e encontra
em Cuba, mesmo à porta dos Estados Unidos, um novo posto avançado. Finalmente, na
década de 70, ganha novos países asiáticos e estende-se à África.
Tanto pelo seu poderio como pelo papel pioneiro na implantação do comunismo, a URSS
assumiu a liderança deste novo mundo.
Na Europa, a rejeição do Plano Marshall coincidiu com o reforço da coesão militar entre
os países comunistas. Após uma série de acordos bilaterais, a URSS entre os países
comunistas. Após uma série de acordos bilaterais, a URSS e os seus países-satélite do
Leste Europeu assinaram, em 1955, o Pacto de Varsóvia, aliança que previa a resposta
conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto de Varsóvia constituiu uma organização
militar diametralmente oposta à OTAN, simbolizando as duas coligações o antagonismo
militar entre as duas superpotências.
A Guerra Fria
Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos sentiam-se protegidos por uma
evidente superioridade técnica. Só eles tinham o segredo da bomba atómica, que
consideravam a sua melhor defesa.
O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma característica
nova: a dissuasão. Cada um dos blocos procurava persuador o outro de que usaria, sem
hesitar, o seu potencial atómico em caso de violação das respetivas áreas de influência.
Advertências, ameaças, movimentações de tropas e material de guerra faziam parte desta
estratégia dissuasora, que a natureza apocalíptica de um confronto nuclear tornou eficaz.
O mundo, ameaçado de destruição, tinha resvalado, nas palavras de Churchill, para o
“equilíbrio instável do terror”.
Um dos momentos mais tensos desta escalada viveu-se em 1962, quando aviões
americanos obtiveram provas fotográficas da instalação, em Cuba, de misseis russos de
médio alcance, capazes de atingir o território americano.
A exigência firme de retirada dos mísseis feita pelo presidente Kennedy coloca o mundo
perante a iminência de uma guerra nuclear entre as superpotências. Felizmente, a crise
acaba por se revolver com cedências mútuas: Kruschev aceita retirar os mísseis, enquanto
os Estados Unidos se comprometem a não tentar derrubar o regime comunista cubano,
bem como a retirar os mísseis americanos estacionados na Turquia.
No início dos anos 70, esforços tímidos de contenção da corrida ao armamento levam a
conversações entre as duas superpotências. Mas ainda a década não tinha acabado e um
novo endurecimento militar colocava na Europa os novos mísseis soviéticos SS 20 e,
pouco depois, os misseis americanos Pershing II, ambos apontados à área de influência
do inimigo.
Face a estes sucessos, a consternação dos Americanos, que até aí tinham considerado a
URSS tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa,
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anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas a experiência foi um fiasco. Só no
início de 1958, com o lançamento do Explorer 1, a América efetivaria a sua entrada na
corrida espacial.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas
nações. Nos primeiros tempos, os Soviéticos mantiveram a liderança e, em 1961, fizeram
de Yuri Gagarin o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre. No entanto, no fim da
década de 60, coube aos americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin o feito de serem os
primeiros homens a pisar na Lua.
Mais do que as ambições das duas superpotências, nos anos da Guerra Fria confrontaram-
se duas conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social:
de um lado, o modelo capitalista e liberal. Assente sobre os princípios da liberdade
individual e da livre empresa; do outro, o modelo comunista, que põe em primeiro lugar o
interesse da coletividade e defende o controlo estatal dos meios de produção.
O mundo capitalista
Ainda que sem abdicar dos princípios da propriedade privada e da livre iniciativa
empresarial, os Governos lançam-se num vasto programa de nacionalizações, que atinge
bancos, as companhias de seguros, a produção de energia, a acautelar as situações de
desemprego, acidente, velhice e doença; estabelecem-se prestações de ajuda familiar
(“abono de família”) e outros subsídios aos mais pobres. Complementarmente, ampliam-
se as responsabilidades do Estado no que concerne à habitação, ao ensino e à assistência
médica.
Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo: por um lado, reduz a miséria e o mal-
estar social, contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza; por outro,
assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura
como a que ocorreu durante a crise dos anos 30. Assim, o Estado-providencia foi também
um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três décadas que se
seguiram à Segunda Guerra Mundial.
A prosperidade económica
Estes cerca de trinta anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na
História como os “Trinta Gloriosos”, expressão popularizada pelo economista francês
Jean Furaste.
Em 1973, uma súbita elevação no preço do petróleo marcou, nas economias ocidentais, o
início de um outro ciclo e económico, menos prospero e bastante mais instável. Mas,
nessa altura, o nível de bem-estar das famílias tinha já atingido um patamar inédito,
fazendo nascer a sociedade de consumo.
A sociedade de consumo
O efeito mais evidente dos “Trinta Gloriosos” foi a generalização do conforto material. O
pleno emprego, os salários altos e a produção maciça de bens e a preços acessíveis
conduziram à sociedade de consumo, que transformou os lares e o estilo de vida da
maioria de população dos países capitalistas.
O mundo comunista
Como vimos já, a libertação do Leste europeu pelo Exército Vermelho, no final da
Guerra, facilitou a expansão do comunismo. Em meados de 1948, os partidos comunistas
dos países de Leste tinham-se já assumido como partidos únicos e, em pouco tempo, a
vida política, social e económica destas regiões foi reorganizada em moldes semelhantes
aos da União Soviética.
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A coesão entre a URSS e os países da Europa de Leste foi ainda reforçada pela criação de
estruturas várias, como o Kominform (1947), Secretariado de Informação Comunista,
destinado a coordenar a atuação dos diversos partidos comunistas, o COMECNON
(1949), vocacionado para a cooperação económica, e do Pacto de Varsóvia (1955),
associação militar de defesa mútua.
Apesar da devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial, a reconstrução dos países
socialistas efetuou-se rapidamente. Nas duas décadas que se seguiram à guerra, as taxas
de crescimento económico ultrapassaram, globalmente, as dos países capitalistas.
Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica que
tinha implementado nos anos 20. Tal como já acontecera, a indústria pesada e as
infraestruturas recebem prioridade absoluta. Imensos complexos siderúrgicos e centrais
hidroelétricas fazem da União Sovietica a segunda potência industrial do mundo e
garantem-lhe o poderio militar necessário ao afrontamento dos tempos da Guerra Fria.
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Nos países de Leste, a proclamação das repúblicas populares implanta também o modelo
económico soviético. Os meios de produção dão coletivizados e reorganizados em moldes
idêntico aos das URSS. É dada prioridade à industrialização, baseada na indústria pesada.
No entanto, o nível de vida das populações não acompanha este crescimento económico.
As jornadas de trabalho mantêm-se longas e os salários baixos. A construção
habitacional, a agricultura, as indústrias de consumo e o setor terciário são
negligenciados. Nas cidades, que a industrialização fez crescer aceleradamente, a
população amontoa-se em bairros periféricos, mal construídos. As longas filas de espera
para adquirir bens essenciais tornam-se uma rotina diária.
Os bloqueios económicos
Face a este estado de coisas, implementou-se, nos anos 60, um vasto conjunto de
reformas, praticamente em todos os países da Europa socialista. O impulso veio, mais
uma vez, da URSS, pela mão de Nikita Kruschev: investe-se na produção agrícola,
reduzem-se os horários de trabalho (de 48 horas para 42 horas), aumenta-se a autonomia
dos gestores face aos funcionários do Estado (a chamada Nomenklatura), premeiam-se os
operários mais produtivos. Paralelamente, incentivam-se as indústrias de consumo e a
construção de habitações.
No entanto, os efeitos destas medidas ficaram muito aquém do esperado e não foram
capazes de relançar as economias do bloco socialista. Na década de 1970, sob a
orientação de Leónidas Brejnev, a burocracia reforça-se e alastra uma corrupção sem
precedentes.
Vencido, humilhado e ocupando no fim da Segunda Guerra Mundial, nada fazia prever o
extraordinário desenvolvimento do Japão que, no fim dos anos 60, se tornou a segunda
potência econômica do mundo capitalista.
Com uma taxa de crescimento que chegou a superar os 10% ao ano, o Japão rapidamente
se impôs na produção de bens de consumo duradouros – frigoríficos, televisores,
aparelhos de som, câmeras fotográficas e de filmar – e na construção automóvel. Nos
anos 70, o Ocidente convivia já com marcos japonesas de prestigio, como a Sony e a
Toshiba, na área da eletrônica, a Honda, a Toyota ou a Nissan, na construção automóvel,
entre muitas outras. O país tornou-se um exemplo de capacidade tecnológica e sucesso
empresarial.
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O afastamento da China do bloco soviético
O comunismo chinês foi, desde logo, marcado pela personalidade carismática do seu
líder, Mao-Tsé-Tung (1893-1976), que rapidamente se elevou à condição de grande
teórico marxista, ombreando com Lenine e Estaline.
Durante os tempos de Estaline, estas diferenças não foram bastantes para inviabilizar a
aliança entre a China e a URSS. Mao celebra com os Russos um tratado de cooperação e
amizade, intervém, com o patrocínio soviético, na Guerra da Coreia e adota o modelo de
economia planificada, beneficiando o país da ajuda financeira e técnica do seu parceiro
soviético.
A ascensão da Europa
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Depois de, na primeira metade do século, quase se autodestruir em duas guerras
fraticidas, a Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir
para reencontrar a prosperidade econômica e, se possível, a sua influência política.
Da CECA à CEE
Ainda que de índole estritamente económica e limitada aos setores referidos, a CECA foi
embrião de uma união económica mais ampla, a CEE – Comunidade Económica
Europeia -, criada em 1957 pelo Tratado de Roma.
O Tratado de Roma, firmado pelos mesmos seis países que integravam a CECA, é
considerado o ponto de partida da atual União Europeia. Neste convénio, os países
signatários comprometiam-se a implementar progressivamente a livre circulação de
mercadorias, de capitais e de trabalhadores, bem como a livre prestação de serviços.
Previa-se também o estabelecimento de uma política comum na área da agricultura, dos
transportes e da produção energética. Para este último fim foi criada a EURATOM –
Comissão Europeia de Energia Atómica -, com um funcionamento independente da CEE.
De então para cá, a Europa tem caminhado em direção à união político-económica, única
via capaz de a fazer ombrear com as superpotências e desempenhar um papel de relevo na
geopolítica mundial.
O tempo da descolonização
Uma conjuntura favorável
A guerra, que exigiu também pesados sacrifícios às colónias, “acordou” os povos para a
injustiça da dominação estrangeira. A luta contra as forças do Eixo foi sentida por todos
como uma luta pela liberdade que, doravante, deveria estender-se a todo o globo.
Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se
constituirá como um baluarte internacional da descolonização, compelindo os Estados-
membros ao cumprimento do estipulado na Carta e nas Resoluções da Assembleia-Geral
que, invariavelmente, condenaram a manutenção do domínio colonial.
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A descolonização asiática
Também Holandeses e Franceses são forçados a abrir mão das suas colónias.
A descolonização africana
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A descolonização africana inicia-se nas regiões arabizadas do Norte, que, a partir de
1945, contestam vivamente o domínio europeu. A Líbia, colocada sob a tutela da ONU,
obtém a independência logo em 1951 e, cinco anos mais tarde, a França vê-se forçada a
retirar de Marrocos e da Tunísia. Só a Argélia, onde habita 1 milhão de colonos franceses,
mergulha numa longa guerra e tem de esperar até 1962 para ver reconhecido o seu direito
à independência.
Muitos destes líderes foram educados nas metrópoles, onde assimilaram valores de
liberdade e de justiça social. A luta pela independência assumiu, assim, a dupla vertente
de uma luta política e de uma luta contra a pobreza e o atraso económico, vistos como
consequência direta da exploração colonial. Foi, em parte, por esta razão que muitos
movimentos de libertação se deixaram seduzir pela mensagem igualitária do socialismo.
O desmoronar dos impérios europeus alterou profundamente o mapa das nações. Entre
1945 e 1975, constituíram-se 70 novos países na Ásia em África, que não tardam a fazer
ouvir a sua voz na cena internacional. Assumindo o seu atraso econômico, herdado do
colonialismo, e os seus interesses comuns, apresentam-se como uma terceira força,
independente do bloco americano e do bloco soviético: um Terceiro Mundo.
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A emergência política do Terceiro Mundo manifestou-se pela primeira vez em 1955, na
Conferência de Bandung (Indonésia), convocada por um punhado de países asiáticos para
definir as linhas gerais de atuação dos países recém-formados. A conferência, que reuniu
29 delegações afro-asiáticas, foi a primeira a realizar-se cem a participação de qualquer
potência ocidental. A participação da União Soviética foi também rejeitada.
Em termos políticos, as nações do Terceiro Mundo não realizaram o seu objetivo de falar
a uma só voz. Face à pressão das grandes potencias, os desentendimentos surgiram,
enfraquecendo o movimento. O mesmo não se passou, porém, no que respeita aos
esforços conjuntos para lutar contra o colonialismo e denunciar a exploração económica
dos países pobres pelos países desenvolvidos.
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