Você está na página 1de 4

A MAÇONARIA E A ABOLIÇÃO DOS ESCRAVOS NO BRASIL

A Maçonaria está presente no Brasil desde o final do século XVIII e desde então tem participado
ativamente de momentos importantes da história do país, assumindo as causas da modernidade.
Dentre os acontecimentos políticos e culturais do país, que tiveram ampla influência e participação
da maçonaria, destacamos a Proclamação da Independência, o processo de libertação dos escravos
ou Abolição da Escravatura, a Proclamação da República, dentre muitos outros.

Não falei em Inconfidência Mineira (1789) – Neste movimento emancipatório a participação da


Maçonaria pode ter se dado apenas de forma periférica, ou seja, através de estudantes luso-
brasileiros que podem ter adentrado o universo maçônico enquanto frequentavam as
universidades em Portugal, na Inglaterra ou na França, trazendo para o Brasil ideias iluministas que
inspiraram tal movimento.

 Para todos os efeitos, o início da atividade maçônica regular deu-se com a instalação
da loja Reunião no Rio de Janeiro em 1801.

 A Abolição dos Escravos foi resultado de um processo gradual e lento. Pressões externa e
uma intensa mobilização popular foram determinantes.

 O tráfico de escravos existia no Brasil desde meados do século XVI, porém, no século XIX, os
ingleses começaram a pressionar, primeiramente, Portugal e, em seguida, o Brasil para que
o tráfico negreiro fosse proibido aqui.

 Em 1831 a Lei Feijó proíbe o tráfego negreiro no Brasil, porém esta lei não é cumprida e
milhares de escravos continuam sendo desembarcados no Brasil.

 Em 1845, enfurecida com a postura permissiva do Brasil com o tráfico, a Inglaterra decretou
o Bill Aberdeen, lei que permitia às embarcações britânicas invadirem nossas águas
territoriais para apreender os navios negreiros.

 O risco de uma guerra entre Brasil e Inglaterra por conta do Bill Aberdeen fez com que fosse
aprovada uma lei, em 1850, conhecida como Lei Eusébio de Queirós. Essa lei decretava a
proibição definitiva sobre o tráfico negreiro no Brasil, mas permitia que os africanos que
chegaram após a lei de 1831 continuassem como escravos. Com essa lei, a repressão ao
tráfico negreiro foi efetiva. De 1851 até 1856, “somente” 6900 africanos chegaram ao
Brasil.
 Com a proibição do tráfico, foi iniciado um processo de transição, pois, uma vez que a fonte
que renovava os números de escravos no Brasil tinha acabado. A reprodução de escravos
era muito baixa (uma forma de resistência). Era natural que com o tempo a escravidão no
país fosse abolida, já que não havia a renovação natural da população de escravos no país.
Na verdade o trabalho escravo estava ultrapassado e o seu fim era questão de tempo.
 A partir deste momento o movimento abolicionista começou a se estruturar, mas
politicamente, a pauta não avançava por conta da Guerra do Paraguai. Com o fim do
conflito, em 1870, os movimentos abolicionistas ganharam força e o debate pelo fim da
escravidão além de tornar-se pauta importante na política, também se tornou um debate
relevante na sociedade brasileira. Neste contexto o papel da maçonaria foi imprescindível.
 Conforme o movimento abolicionista ganhava força, os grupos escravocratas articulavam-se
politicamente para barrar o avanço do abolicionismo. O debate no campo político, no
entanto, encaminhou a aprovação de uma lei, em 1871, conhecida como Lei do Ventre Livre
de autoria do Barão do Rio Branco. Essa lei declarava que todo nascido de escrava, a partir
de 1871, seria declarado livre, mas desde que prestasse um tempo de serviço, sendo
libertado com oito anos (com indenização) ou com vinte e um anos (sem indenização).
 Em 1885 foi criada a Lei do Sexagenário, que libertava os escravos depois dos 60 anos de
idade, no entanto, esta lei atendia mais aos interesses dos escravocratas.
 A adesão de diferentes grupos ao abolicionismo fez com que a causa ganhasse força em
nível nacional. Essa ação mobilizou os próprios escravos, contou com a adesão de diferentes
grupos da sociedade e tomou espaço no debate político. Em 1887, a situação era
insustentável: as revoltas de escravos espalhavam-se pelo país e as autoridades não
conseguiam mais controlá-las. Os abolicionistas chegaram até a convocar a população às
armas para defender a causa abolicionista.
 No começo de 1888, parte dos grupos políticos que defendiam a escravidão acabaram
aderindo à causa abolicionista. O projeto pela abolição foi proposto pelo político do Partido
Conservador João Alfredo, e, após ser aprovada pelo Senado, foi levada para que a regente
do Brasil, a Princesa Isabel assinasse a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

A participação da maçonaria em todo o processo de abolição da escravatura no Brasil é indiscutível


e foi, de certa forma, determinante. Importantes personagens, vinculados à Maçonaria, utilizando -
se das artes e das letras para inseriram no seio da sociedade brasileira as tão sonhadas ideias de
extinção do trabalho escravo, como é o caso de Castro Alves. Outros através de sua
representatividade no poder político, legislaram a favor dos escravos, libertando-os
gradativamente, como é o caso de José da Silva Paranhos (Barão do Rio Branco), Euzébio de
Queiroz, Quintino Bocaiúva e Saldanha Marinho.

 Lei que extinguiu o tráfico de escravos no Brasil – 1850 – Lei Euzébio de Queiroz –
Maçom.
 Lei do Ventre Livre – 1871 – Nascido de escrava era livre – Barão do Rio Branco –
Maçom

No entanto, temos que levar em conta que é impossível falar de uma posição única da maçonaria a
respeito do assunto. Houve, portanto, maçons favoráveis e maçons contrários à manutenção da
escravidão. A maçonaria, como um todo, espelhava a complexidade daquela sociedade, tal como
hoje.
Vejamos o que diz Alexandre Mansur Barata (Historiador Maçom), no seu livro Luzes e Sombras: a
ação da maçonaria brasileira (1870 – 1910)
A posição predominante na maçonaria brasileira não foi abolicionista e, sim,
emancipacionista. Ou seja, uma extinção gradual, lenta e preparada da escravidão, através
dos meios legais, como indenização aos proprietários e compra da liberdade dos escravos.
Neste sentido, os pedreiros-livres atuavam em relativa sintonia com setores do poder
imperial que, desde os anos 1850, defendiam e praticavam medidas gradativas que
levassem ao fim do cativeiro, ou que impedissem seu fim imediato, na medida em que este
ganhava sobrevida com as medidas graduais. É certo que havia maçons abertamente
abolicionistas.

No período em questão a Maçonaria Brasileira estava divida em duas potências, que em


determinado período chegaram até a se unir, para logo adiante se separarem novamente:

 Grande Oriente do Lavradio, liderado por José da Silva Paranhos, o Barão do Rio,
conservador e monarquista, de maioria emancipacionista.
 Grande Oriente dos Beneditinos, liderado por Joaquim Saldanha Marinho, republicano,
progressista e reformista, de maioria abolicionista.

Para melhor ilustrar a participação da Maçonaria na abolição da escravatura, trago alguns aspectos
peculiares da nossa ordem que, por obvio não constam nos livros de história profanos, mas que
muito contribuíram para este processo:

 Uma das primeiras instituições destinadas à libertação dos escravos, fundada sob a
influência da Maçonaria, foi a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ideia concebida
pelo renomado maçom Joaquim Nabuco, em 9 de julho de 1880. seu objetivo não se
limitava a praticar a caridade, proteger e remir escravos, destinava-se a ser núcleo de
agitação e campo de debates.

 Semelhante órgão, a Confederação Abolicionista, surgiu algum tempo depois, em 12 de


maio de 1883, por iniciativa de José do Patrocínio", João Clapp e Manuel Joaquim Pereira,
todos maçons. Seu caráter era mais radical que a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, e
contou, inicialmente, com o apoio de 15 Sociedades Abolicionistas. Os membros dessa
Confederação defendiam a abolição na forma pública.

 Passados alguns anos, o maçom Martinho Prado Júnior contribuiu com um grande passo
para o término da escravidão no Brasil. Ele fundou em 2 de julho de 1886 a Sociedade
Promotora da Imigração, que tinha por objetivo a introdução de imigrantes na Província de
São Paulo, como forma de substituição da mão-de-obra escrava pela livre. na medida que
provocou "uma crise dentro do escravismo”, criou as condições objetivas para crescimento
do movimento abolicionista.

 Outro maçom muito ilustre que colaborou de forma significativa para a desarticulação da
escravidão brasileira foi o Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Clube
Militar (fundado em 25 de julho de 1887). Deodoro, influenciado pelos princípios positivistas
de Augusto Comte, convocou uma reunião do Clube, em outubro de 1887, com a finalidade
de deliberar sobre o trabalho de perseguição aos escravos fugitivos. Através da influência do
marechal, o Clube julgou inconveniente e indigna a missão de captura aos escravos fujões e
a categoria resolveu não mais realizar esta tarefa. Esse foi o ato jurídico mais decisivo de um
maçom no cenário brasileiro em prol da extinção do trabalho servil, pois a partir desse
momento, sem mais a fiscalização do Exército a fuga de escravos aumentou
consideravelmente, contribuindo de modo relevante para o fim do sistema escravista
brasileiro.

 Neste período muitas Lojas da Instituição, passaram a adotar uma prática iniciada na Loja
"Piratininga", na sessão do dia 14 de setembro de 1887, quando foi aprovada proibição da
entrada de novos Irmãos que fossem proprietários de escravos. Algumas Lojas chegaram a
proibir que seus membros, já iniciados, fossem proprietários de escravos, aplicando multa
aos que não acatassem a deliberação. Ainda, segundo Rizzardo da Camino:
Não havia festividade maçônica ou evento histórico que fosse comemorado sem que
um maçom não colocasse dentro do 'Saco de Beneficência' uma carta de alforria de
um escravo, essa prática, rara no início, foi-se repetindo com mais frequência até que
nos últimos anos, consistia um motivo de grande júbilo quando eram contadas, no
fim de cada coleta, o número das cartas de alforria.

Bom meus irmãos, esta foi a participação da Maçonaria no processo de abolição da escravatura no
Brasil. Como vimos, nem numa questão relevante com esta, numa questão que claramente atingem
nossos princípios basilares de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, não tivemos uma unanimidade
dos irmãos, no entanto, diante da sua consciência, cada um fez a sua parte e de uma forma ou
outra, emancipacionistas ou abolicionistas, contribuíram para o fim da escravidão no Brasil. Nós
maçons, podemos ter opiniões divergentes, só não podemos deixar de conviver com irmãos com
opiniões contrárias às nossas, pois jamais deixaremos de ser irmãos. Nosso compromisso maior e
desbastar a pedra bruta... E sozinho jamais conseguiremos...

Jackson Sprada
Loja Justiça e Razão Nº 218

Você também pode gostar