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E.

E FRANCISCO DA COSTA GUEDES

Maria Eduarda Andrade de Lima Pereira – n°26 2°B

A LUTA PELA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL

São Paulo
2023
Introdução
A abolição da escravidão no Brasil foi um marco histórico que ocorreu no final
do século XIX, representando o fim de uma prática que perdurou por séculos
no país. Oficialmente, a escravidão foi abolida em 13 de maio de 1888, com a
assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. No entanto, o processo de
libertação dos escravizados foi resultado de uma série de eventos, lutas e
pressões sociais que se desenrolaram ao longo do tempo.

O sistema escravagista brasileiro teve início com a chegada dos colonizadores


portugueses no século XVI, que introduziram o trabalho forçado dos povos
africanos nas plantações de cana-de-açúcar e posteriormente em outras
atividades econômicas, como a mineração e a produção de café. A escravidão
tornou-se uma peça fundamental na economia brasileira, moldando a
sociedade e as relações de poder.

Ao longo dos anos, surgiram movimentos abolicionistas que defendiam o fim da


escravidão, baseados em argumentos éticos, morais e humanitários. No
entanto, a resistência por parte dos setores mais conservadores da sociedade
e dos proprietários de escravos fez com que o processo de abolição fosse lento
e gradual. A pressão internacional, principalmente após a Guerra Civil
Americana e a abolição da escravidão nos Estados Unidos, também teve
influência nesse contexto.

O cenário político da época foi marcado por debates intensos no Parlamento,


conflitos sociais e até mesmo revoltas de escravizados em busca de sua
liberdade. A abolição, quando finalmente ocorreu, representou uma conquista
importante, mas também trouxe desafios para a integração dos ex-
escravizados na sociedade brasileira, uma vez que muitos enfrentaram
dificuldades socioeconômicas e discriminação.

A abolição da escravidão no Brasil é um tema complexo e multifacetado,


refletindo as contradições e desafios de uma nação que, ao buscar romper com
uma prática tão arraigada, teve que lidar com as consequências desse legado
ao longo do tempo.
A luta esquecida dos negros
pelo fim da escravidão no Brasil

Há 130 anos, o domingo de 13 de maio de 1888 amanheceu ensolarado no Rio


de Janeiro, a capital do Império do Brasil. Era um dia de festa. A escravidão
chegava ao fim por meio de uma lei votada no Senado e assinada pela
princesa Isabel.

O Brasil era o último país da América a acabar com a escravidão. Ao longo de


mais de três séculos, foi o maior destino de tráfico de africanos no mundo,
quase cinco milhões de pessoas. Grande parte dos descendentes daqueles
que chegaram também fora escravizada.

“Todos saímos à rua. Todos respiravam felicidade, tudo era delírio.


Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”,
recordou cinco anos depois o escritor Machado de Assis, que participou das
comemorações do fim da escravidão, no Rio.

Outro escritor afro-descendente, Lima Barreto, completava 7 anos naquele 13


de maio e celebrou o aniversário no meio da multidão. Décadas depois, se
lembraria: “Jamais na minha vida vi tanta alegria. Era geral, era total. E os dias
que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da vida
inteiramente (de) festa e harmonia”.

Durante o período, Isabel foi exaltada pelo povo. Mas a abolição não foi uma
ação benevolente da princesa e do Senado. Tampouco derivava apenas da
exaustão do modelo econômico baseado no trabalho escravo, que precisava
ser substituído pelo trabalho livre.

O fim da escravidão no Brasil foi impulsionado por diversos fatores, entre eles,
uma importante participação popular. Cada vez mais escravos, negros livres e
brancos se juntaram aos ideais abolicionistas. Sobretudo, na década de 1880.

As principais táticas eram a reunião em diferentes associações abolicionistas, a


realização de eventos artísticos para angariar apoio, o ingresso de processos
na Justiça e até o apoio a revoltas e fugas de escravos.

Na segunda metade da década de 1880, o abolicionismo pôs o Brasil em


polvorosa. Ceará, Amazonas e algumas cidades isoladas já tinham se
declarado livres da escravidão. Fugas e revoltas de escravos eram cada vez
mais frequentes. Depois de fugir, eles tentavam chegar até quilombos e
territórios já libertos. A polícia era convocada para reprimir, mas também
passou a se rebelar. O chefe do Exército chegou a escrever para a princesa
exaltando a liberdade e dizendo que não iria mais caçar escravos fugidos.

No Parlamento, os debates pela abolição pegavam fogo. Na Justiça, havia um


número cada vez maior de ações para reivindicar a liberdade. Nas cidades,
espetáculos artísticos eram seguidos de libertações massivas de escravos - no
final, flores costumavam ser atiradas ao palco e o público saía aos gritos de
“Viva a liberdade, viva a abolição”.
"Depois da abolição, aconteceram várias celebrações em torno da princesa
Isabel. Parte dos abolicionistas, inclusive, associou a abolição à Coroa. Mas (a
princesa) teve uma importância bem lateral", fala a socióloga Angela Alonso,
professora da Universidade de São Paulo e autora do livro "Flores, Votos e
Balas", sobre o movimento abolicionista. "Há vários líderes negros que foram
muito importantes".

Ricardo Tadeu Caires Silva, professor da Universidade Estadual do Paraná,


explica que durante muito tempo o estudo da história tratou a abolição como
uma dádiva da princesa Isabel, “ignorando a agência dos principais
interessados na abolição: os escravos". Somente mais tarde, os escravos
passaram a ser considerados protagonistas do processo.

"Aqueles que vencem a batalha é que fazem a narrativa. Nós historiadores


temos que reconstituir o processo da batalha, para recuperar as vozes
daqueles que não foram ouvidas", complementa Maria Helena Machado,
também da USP, especialista em escravidão.

A lei assinada pela princesa - e apelidada de Lei Áurea - vinha tarde. Todos os
países da América já tinham abolido a escravidão. O primeiro, foi o Haiti, 95
anos antes, em 1793. A maioria demorou para seguir o pioneiro, e fez suas
abolições entre os anos 1830 e 1860. Os Estados Unidos, em 1865. Cuba, a
penúltima a abolir a escravidão, o fez dois anos antes do Brasil.

Em nenhum outro país, contudo, a escravidão teve a dimensão brasileira.


Enquanto 389 mil africanos desembarcaram nos Estados Unidos, no Brasil
foram 4,9 milhões - 45% de toda a população que deixou a África como
escrava. No caminho, cerca de 670 mil morreram. O gigantismo da escravidão
no Brasil dificultou o seu fim - ela estava impregnada na vida nacional.

A lei também vinha curta e seca. Artigo 1: "É declarada extinta desde a data
desta Lei a escravidão no Brazil. Artigo 2: Revogam-se as disposições em
contrário". Nada mais. Nenhuma indenização ou compensação para os recém-
libertos, estimados em 1,5 milhão de pessoas naquela época, nenhuma política
de emprego ou de acesso à terra. Isso dificultou a integração dos ex-escravos.

“(A alegria trazida pela lei da abolição) havia de ser geral pelo país, porque já
tinha entrado na consciência de todos a injustiça originária da escravidão. Mas
como ainda estamos longe de ser livres! Como ainda nos enleamos nas teias
dos preceitos, das regras e das leis!”, ponderou Lima Barreto, ao se recordar
da festa da abolição.

- O movimento abolicionista

Em 1886, a célebre cantora lírica russa Nadina Bulicioff veio ao Brasil para
fazer uma série de espetáculos, a convite do imperador Pedro II. Estava em
cartaz com a peça Aida - nome da personagem principal, filha do rei da Etiópia,
escravizada no Egito.
A temporada teve grande sucesso. Especialmente, a última apresentação. Em
certa altura da história, Aida foge do cativeiro, ainda com algemas. Nesse
momento, o abolicionista José do Patrocínio interrompeu a cena e subiu ao
palco com seis mulheres escravizadas.

Então, a russa rompeu as algemas do figurino e, por um momento, trocou a


ficção pela realidade: entregou cartas de liberdade verdadeiras para as seis
escravas, que se tornaram livres naquele momento, como Aida. “Sete Aidas.
Choraram elas e o público, em delírio. Houve palmas e vivas, lançaram-se
flores, soltaram-se pombos”, relata Angela Alonso no livro “Flores, Votos e
Balas”.

Era um evento abolicionista, já pré-combinado. Na passagem pelo Brasil,


Nadina ficou horrorizada com a escravidão. Recebeu uma joia de presente de
admiradores e resolveu doá-la para comprar cartas de liberdade. O jornalista e
escritor José do Patrocínio, negro e livre, ajudou a colocar a ideia em prática.

Patrocínio já estava acostumado a organizar eventos artísticos em prol da


libertação dos escravos. Essa era uma das principais táticas do movimento
abolicionista, do qual o jornalista fazia parte. As apresentações de música e
teatro angariavam recursos para comprar cartas de liberdade, estimulavam as
pessoas a libertarem seus próprios escravos e, principalmente, ajudavam a
persuadir a opinião pública.

Foram realizados mais de 800 eventos artísticos abolicionistas, segundo


catalogação de Angela Alonso. “A arte era uma das formas mais viáveis de
política abolicionista. Nesses eventos há um apelo à humanidade e à
compaixão”, diz.

Desde o final da década de 1860, o movimento abolicionista estava nas ruas.


Nos anos 1880, atingiu seu auge. A base da sua organização eram as
associações abolicionistas, que se multiplicavam pelo país - Alonso registrou
296, em todos os Estados. Entre elas, havia sociedades formadas apenas por
mulheres. Para a socióloga, o abolicionismo foi o primeiro movimento social
brasileiro.

Além das artes, outra tática usada pelos abolicionistas foi a judicial. Luís Gama,
um ex-escravo que se tornou advogado dos escravos, ajudou a libertar cerca
de 500 pessoas graças a processos nos tribunais, e fez seguidores.

Gama nasceu livre na Bahia. Mas, ainda criança, acabou vendido como
escravo e foi levado para São Paulo. Aos 17 anos, aprendeu a ler e escrever.
Em seguida, reivindicou sua liberdade ao seu proprietário - e conseguiu. Afinal,
nascera livre, e livre era.
Alguns anos depois, Gama se tornou rábula (advogado auto-didata, sem
diploma) e fez da profissão uma forma de luta contra a escravidão. Um dos
seus argumentos mais vitoriosos para obter a libertação era provar que os
africanos haviam sido trazidos para o Brasil quando o tráfico negreiro já era
ilegal.

A primeira proibição do tráfico data de 1831, originada de uma queda-de-braço


do Brasil com a Inglaterra, que tentava forçar o fim do comércio de escravos.
Mas a lei foi pouco efetiva. Nos dois primeiros anos, o comércio de africanos
caiu. Depois, voltou a subir e continuou como se nada tivesse acontecido. Foi
somente em 1850 que veio a proibição definitiva do tráfico.

Luís Gama - e outros advogados abolicionistas - argumentava que os 739 mil


africanos que entraram no Brasil depois de 1831 tinham sido sequestrados, já
que o tráfico estava proibido. Por isso, deveriam ser libertados imediatamente.

Outra forma frequente de disputa judicial eram as “ações de liberdade”, pelas


quais o escravo solicitava a compra de sua própria alforria. Esse tipo de
processo foi um fruto inesperado da lei do Ventre Livre, de 1871.

Além de prever a libertação dos filhos de mães escravas nascidos a partir de


então, a lei do Ventre Livre permitiu que escravos juntassem dinheiro e
comprassem a alforria.

Já a libertação das crianças enfrentou mais problemas. Há relatos de que


registros de nascimento foram adulterados para simular que as crianças tinham
nascido antes da lei e, portanto, seriam escravas. Em outros casos, os
proprietários das mães continuavam explorando o trabalho infantil.

Além dos palcos e tribunais, os abolicionistas travaram um duro embate com os


escravistas no Senado. No jogo de forças do Império, a visão que prevalecia
era de uma abolição gradual para evitar o colapso da economia, muito
dependente do trabalho escravo.

Foi assim que foi aprovado, primeiro, o fim do tráfico; 19 anos depois, o fim
definitivo do tráfico; após mais 21 anos, a liberdade das crianças; passados
outros 14 anos, a dos idosos, protelando o fim definitivo da escravidão.

A demora parlamentar foi tanta que estimulou o florescimento da


desobediência civil.

- O aumento das revoltas

No dia 5 de outubro de 1887, seis escravos decidiram tomar as rédeas de seu


destino. Armaram-se com espingardas e facas e, juntos, fugiram da fazenda de
seu senhor, no sertão da província da Bahia. O objetivo de Agostinho, Cornélio,
José, Teófilo, José Arruda e Libório era ir para uma cidade distante e se passar
por não-escravos - na época, o número de negros e pardos livres já era maior
que o de escravos.
Nos anos que antecederam a abolição, fugas, revoltas e quilombos fervilhavam
no Brasil. Em alguns casos, eram incentivados por militantes – muitos deles,
ex-escravos –, que iam para fazendas conscientizar escravos e estimular
fugas.

Um deles foi Pio, ex-escravo que tinha se tornado estivador em Santos. Nas
vésperas da abolição, Pio organizou uma fuga em massa na região de Itu,
interior de São Paulo, rumo a um quilombo no litoral. O grupo, porém, foi
massacrado por forças policiais na Serra do Mar.

“Os próprios escravos contribuíram de forma decisiva para acelerar o processo


do fim da escravidão”, diz o historiador Ricardo Tadeu Caires Silva, professor
da Universidade Estadual do Paraná, que encontrou o caso dos seis escravos
na seção judiciária do Arquivo Público do Estado da Bahia. “A abolição foi feita
muito mais por uma pressão das ruas, das senzalas, do que por uma decisão
política com base na bondade.”

Algumas vezes as fugas tinham como destino Ceará e Amazonas. Em 1884,


quatro anos antes da Lei Áurea, ambos Estados já tinham abolido a
escravidão, graças à pressão dos abolicionistas para criar territórios livres pelo
país. O objetivo era justamente ter áreas de refúgio para escravos fugitivos,
além de pressionar a monarquia.

O projeto de criar territórios livres começou no Ceará, que tinha um governo


favorável à abolição. Para colocar o plano em prática, José do Patrocínio viajou
até o Estado, reunindo em torno de si uma caravana abolicionista, conta
Angela Alonso. O grupo bateu de porta em porta para tentar convencer os
donos de escravos a libertá-los.

Houve até fugas internacionais, em regiões do Brasil próximas à fronteira de


países que já estavam livres da escravidão, observa o historiador José Maia
Bezerra Neto, da Universidade Federal do Pará. “Existem estudos que
apontam fugas de escravos para a Bolívia, Guiana Francesa, Uruguai. Em
minhas pesquisas, encontrei até senhor suspeitando de um escravo que
tencionava fugir para a Espanha!”.

- E depois da abolição?

A abolição não ocorreu como parte dos abolicionistas queria. O engenheiro


negro André Rebouças, que fazia a ponte entre o abolicionismo das ruas e o
dos gabinetes políticos e é considerado um dos principais articuladores do fim
da escravidão, pregava que a abolição fosse acompanhada de uma reforma
agrária, que destinasse terras para os ex-escravos.

Outro grande político abolicionista, Joaquim Nabuco, que nasceu em uma


família escravocrata, aderiu às ideias de Rebouças. Ambos temiam que
surgisse no Brasil uma nova forma de injustiça social após a abolição.

A forma que a abolição ocorreu, sem apoio para os ex-escravos começarem


uma vida nova, tem consequências negativas até hoje, segundo o presidente
da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira. Para ele, é uma das causas da
profunda desigualdade racial brasileira.

É por isso que o movimento negro não comemora a data , mas sim o 20 de
novembro, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos
Palmares, representando a resistência negra.

Isso não significa, no entanto, que o 13 de maio não deva ser lembrado, diz
Oliveira: “A abolição foi fruto de uma pressão social. A gente precisa recontar
essa história, dos heróis e heroínas que lutaram pelo fim da escravidão”. Sem
esquecer que, 130 anos depois da abolição, a desigualdade persiste.

“Durante esses 130 anos somos maioria no país - 54% da população é afro-
brasileira. Mas não somos 54% no Congresso Nacional, nos ministérios, nos
tribunais, nas universidades, nas grandes empresas privadas. Isso precisa
mudar”, completa Oliveira.

E se os abolicionistas vissem o Brasil hoje, 130 anos depois? “Acho que eles
entrariam em campanha, fariam um movimento de novo. Inclusive com as
mesmas bandeiras que eles tinham (de promoção de oportunidades para os
negros), que não foram implementadas”, opina Alonso.
CONCLUSÃO

Em conclusão, a abolição da escravidão no Brasil, oficializada em 13 de maio


de 1888 pela assinatura da Lei Áurea, representou um marco histórico, mas foi
o resultado de uma complexa interação de fatores sociais, políticos e
econômicos. O sistema escravagista, que moldou profundamente a sociedade
brasileira, foi desafiado por movimentos abolicionistas, intensos debates
parlamentares, revoltas de escravizados e a pressão internacional.

A participação popular, especialmente na década de 1880, foi crucial para


impulsionar a abolição. O movimento abolicionista, marcado por eventos
artísticos, ações judiciais e revoltas, destacou a agência dos escravizados na
busca por sua liberdade. A lei assinada pela Princesa Isabel, embora tenha
sido um passo importante, careceu de medidas efetivas para a integração dos
ex-escravizados na sociedade, deixando-os sem indenizações, compensações
ou políticas de emprego e acesso à terra.

A luta dos abolicionistas não se limitou ao Senado; envolveu esforços


artísticos, judiciais e confrontos diretos com os escravistas. No entanto, a
demora parlamentar e a ausência de medidas compensatórias contribuíram
para a persistência da desigualdade racial no Brasil pós-abolição. O 13 de
maio, embora tenha marcado o fim da escravidão, não é celebrado pelo
movimento negro, que prefere destacar o 20 de novembro, simbolizando a
resistência de Zumbi dos Palmares e a luta contínua contra a desigualdade
racial. Mesmo após 130 anos, a desigualdade persiste, ressaltando a
necessidade contínua de recontar a história e buscar uma verdadeira
igualdade.

Referencias:

https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-sh/lutapelaabolicao

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