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[...] Nos úl mos anos, para além das poucas dezenas que veram suas terras tuladas pelo INCRA ou as quase 2 mil comunidades
reconhecidas e cer ficadas pela Fundação Cultural Palmares, existem inúmeras associações rurais, o movimento negro e principalmente o
movimento nacional de ar culação polí ca quilombola, que iden ficou cerca de 5 mil comunidades que lutam por reconhecimento,
cidadania, terras e polí cas públicas de educação e saúde.
(GOMES, Flávio dos Santos. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. São Paulo: Claro Enigma, 2015).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem dis nção de qualquer natureza, garan ndo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
(BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
A Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, tem só dois ar gos. O primeiro decreta o fim do regime escravocrata
no Brasil. O segundo revoga as disposições em contrário. Até então, o Brasil construiu e aplicou um sem-número de leis que limitavam ao
máximo a vida de negros e ignoravam apelos internacionais para reduzir o trabalho forçado. A canetada garan u a liberdade de uma
população de escravizados, mas não freou o surgimento de legislações discriminatórias. A “neutralidade” dos disposi vos ignorava séculos
de escravidão, enxergando como iguais cidadãos que, até pouco tempo antes, eram vistos como mercadoria. O Brasil não teve leis
segregacionistas como o regime Jim Crow [nos EUA] ou o apartheid na África do Sul. Mas não é preciso que a lei diga explicitamente que é
contra o negro, nem que seja discriminatória, para produzir efeito muito semelhante. A neutralidade do sistema jurídico tem como foco o
privilégio de determinado sujeito do Direito.
(TAB-UOL. Especial Consciência Negra. Desigualdades perante a Lei: como o Brasil usou – e usa – leis para criminalizar a vida da população
negra, desde o fim da escravidão. Por: João Vieira, 2020).
Em 13 de maio de 1888, quando Dom Pedro II se encontrava no exterior, a princesa regente Isabel sancionou a Lei Áurea. Em seu primeiro
ar go, lemos: “É declarada ex nta desde a data desta lei a escravidão no Brasil”. Podemos afirmar que, a par r desse momento, a escravidão
se tornou ilegal, mas não que tenha sido ex nta como forma de exploração do trabalho. Após mais de 300 anos, decretou-se o fim de uma
escravidão que levava em consideração a cor da pele da pessoa, ou seja, escravos no Brasil eram prioritariamente os negros de origem
africana.
O fim da escravidão, contudo, não ex nguiu de modo automá co o preconceito racial e étnico longamente estabelecido nas terras
brasileiras. Além disso, não foram criadas oportunidades para que os libertos adquirissem melhores condições de vida e ingressassem no
mercado de trabalho assalariado. Muitos ex-escravos permaneceram nas fazendas ou nos estabelecimentos onde prestavam serviços,
trabalhando por pequenos salários ou em troca de roupas, alimentos e moradia. Outros buscaram alterna vas de trabalho nas cidades.
(JR. CATELLI, R. História em rede: conhecimentos do Brasil e do mundo. São Paulo: Scipione, 2011).
[...] Passada a euforia dos primeiros momentos da Lei Áurea, de 1888, foram ficando claras as falácias e incompletudes da medida. Se
ela significou um ponto final no sistema escravocrata, não priorizou uma polí ca social de inclusão desses grupos, os quais nham poucas
chances de compe r em igualdade de condições com demais trabalhadores, sobretudo brancos, nacionais ou imigrantes. [...] Os libertos
conviviam, pois, com o preconceito do passado escravocrata, somado ao preconceito de raça. Após a Abolição as populações de origem
africana foram marcadas por um racismo silencioso, mas eficaz, expresso por uma leitura hierarquizada e criteriosa das cores. [...] A igualdade
e a cidadania eram ganhos das elites brancas e com acesso a voto, sendo que as populações que conheceram a escravidão deveriam se limitar
a celebrar a liberdade do ir e vir.
(SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015).