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A FACE NEGRA DA ABOLIÇÃO – RESENHA

Emanuely Rocha Ribeiro


2004A
Em “A face negra da abolição” de Hebe Maria Mattos, a autora traz uma perspectiva
pouco abordada e uma visão realista sobre a situação antecedente a Abolição da
escravidão no Brasil.
Na página dezesseis a autora nos mostra que quando a lei Áurea foi assinada, em 13 de
maio de 1888, 95% dos descendentes de africanos já eram livres e suas batalhas e
esforços foram desvalorizados nesse processo. Embora a maioria do povo descendente
africano já fosse livre, os que ainda permaneciam em cativeiro eram pejorativamente
chamados de “negros”. Hebe Maria Mattos ressalta que o “Racismo a brasileira” que foi
construído com o passar dos anos, desde esse tempo até a atualidade contribuiu
negativamente para a desvalorização dos descendentes africanos na luta pela a
igualdade verdadeira, além de não valorizar os esforços dos últimos cativos em busca de
sua liberdade.
A constituição de 1824, afirmava a igualdade de todos os cidadãos brasileiros perante a
lei, apesar disso a escravidão ainda era legal no país. Os políticos e publicistas que
veiculavam o antirracismo liberal reconheciam o direito de propriedade sobre os
escravos, mas lutavam pela extinção do trafico negreiro. A Inglaterra foi um aliado para
isso, desde 1810 já pressionava o Brasil pela abolição do tráfico e além disso,
defendiam politicas a favor da alforria por meio da auto compra.
Uma geração intelectual de descentes africanos foi formada a partir daí. Alguns se
destacaram nas guerras de independência, outros conseguiram reconhecimento público
na corte. Enquanto a geração rebelde da independência lutava e convergia para
resultados conservadores, o número de escravos africanos crescia cada vez mais. Esses,
porém, estavam por toda parte, incluídos majoritariamente na vida econômica e social
do país, além de representarem 90% da população das fazendas de café que evoluíam
nas províncias do Vale da Paraíba, que hoje são Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
Paulo. Em Paralelo ao crescimento do acesso a alforria pela segunda e terceira geração
de escravos, o trafico clandestino de africanos em 1830 e 1840 formaria a última
geração de escravos africanos.
Alguns dos motivos que tornaram iminente a decisão de acabar com o comercio ilegal
de escravos foram o endividamento de fazendeiros com o comercio negreiro, o medo
causado pelas rebeliões de cativos africanos na Bahia e as fazendas repletas de escravos.
Em quatro de setembro de 1850, uma nova lei de extinção do trafico foi aprovada,
contra a vontade das províncias do Vale do Paraíba, os grandes senhores se
convenceram que dessa vez era real após ver a prisão de alguns fazendeiros e a
repressão aos capitães das embarcações negreiras. Essas restrições fizeram com que o
preço dos escravos aumentasse muito e acontecesse uma concentração da propriedade
dos cativos, aos poucos a aquisição de escravos se concentrava na região Sudeste.
Os escravos nascidos no Brasil formavam com facilidade e rapidez alianças e
reivindicações que antes eram inacessíveis aos cativos africanos, e quando esses
escravos brasileiros continuavam na região em que nasceram, tendiam a aumentar a
pressão pela alforria. As ambições da ultima geração de cativos se fazia presente no
cotidiano dos brasileiros, com reclamações de direito de patrimônio e riquezas e ações
jurídicas abordando as escravizações ilegais.
A batalha parlamentar pela aprovação da Lei do Ventre Livre em 1871 não foi pequena,
a lei dava liberdade as crianças nascidas de mães escravas, a partir daquele momento, os
últimos senhores de escravos perceberam que não nasceriam mais cativos no território
brasileiro. Com a aprovação da lei, as ambições dos escravos nascidos no Brasil se
tornaram, de alguma maneira, reguladas pelo Estado. Alem da liberdade do ventre, a lei
visava o direito do escravo ao patrimônio próprio e a compra de sua liberdade através
do preço decretado pela justiça.
Celebrada por milhões de pessoas, a Abolição foi um evento único. Pela primeira vez, a
igualdade civil foi reconhecida para todos os brasileiros. Mesmo que sua implementação
imediata nada significasse, significaria a invenção da cidadania brasileira em termos
universais.
É claro que o racismo ainda existe no Brasil, atualmente é impossível negar esse fato. O
racismo a brasileira, como Hebe Maria Mattos nomeou, dificulta cada vez mais o
combate ao racismo no país, ninguém se declara abertamente racista no Brasil por uma
questão moral nascida antes mesmo da Abolição da escravatura, então os antirracistas
não sabem com quem lutam, tornando mais árduo o extermínio do preconceito racial no
país.
BIBLIOGRAFIA:
Mattos, Hebe. A face negra da abolição. Ano 2 – n° 19 Revista Nossa História,
2005

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