Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS - IFCS

Karen Guimarães Bonfim


DRE: 120133175

AVALIAÇÃO II
HISTÓRIA ECONÔMICA SOCIAL E POLÍTICA DO BRASIL I

ESCRAVISMO E SOCIEDADE NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Hebe Mattos busca esclarecer em sua obra como a escravidão durante o século XIX não
estava necessariamente ligada à um sistema ou doutrina política ou um determinado atraso
em questão de modernidade. Tanto a monarquia como a república se mantiveram escravistas
enquanto ainda haviam interesses, onde a autora cita: " O longo tempo de sobrevida da
escravidão, século XIX adentro demonstra muito claramente o quão rápido novas instituições
e princípios foram capazes de regular uma modernidade escravista." (pág 17)
Quando a Grã-Bretanha baniu o comércio transatlântico em 1850, ficou claro que esse
movimento de forma isolada não necessariamente levaria à emancipação gradual, pois a
escravidão foi fortalecida com o fim do contrabando de escravos no Atlântico, devido ao
crescimento do tráfico interno de escravos. Isso levou a vidas mais precárias para os cativos,
incluindo ex-escravos. No entanto, entre outros acontecimentos, levanta a possibilidade de
reformas que levem à abolição eventual, gradual e completa, como a ratificação da Lei de
Terras que agravou a cumplicidade da maioria da população livre, uma vez que a propriedade
escrava concentrava-se cada vez mais nas maiores nas mãos do senhor.
Ceder à pressão britânica e intensificar o tráfego interno também é uma razão para a mudança
dos conservadores.
Assim quando ocorre a concentração das terras nas mãos dos maiores senhores, por motivo
da lei de terras, gera assim uma grande concentração de escravos nessas terras que é causada
pela intensificação do tráfico interno.
O governo aprovou dois estatutos em 1851 para "modernizar" as mudanças nas práticas
tradicionais, implementar o registro civil e realizar um censo universal, o que significava
passar das paróquias católicas para magistrados, todos os registros, sejam nascimentos,
óbitos, casamentos e problemas, informavam a cor das pessoas no censo, pois a separação
entre escravos e livres desaparecerá dos registros nos livros, e somente a cor será informada.
Com o fim do tráfico de escravos, as fazendas entraram em crise devido à necessidade de
mão de obra, e ser registrado como “negro” era visto como um grande risco para os homens
livres distantes das relações pessoais, redes de reconhecimento e proteção, pois havia acabado
contrabando de cativos,assim relatórios de reescravizados ilegalmente aumentaram.
Com o fim da cumplicidade da maioria da população livre e a maior circulação dos cativos
pelo território brasileiro, acabou por se criar expectativas de que pudessem ser criados
direitos dos costumes de uso recorrente dos escravos que antes só eram vigentes em certas
regiões, como fez a Lei do Ventre Livre, que tornava a prática da obtenção da alforria em
decorrência da morte do senhor e da formação de pecúlio um direito. Além disso a Lei do
Ventre Livre fez da clara preferência as famílias escravizadas ao acesso a alforria remunerada
uma regra.

E a autora cita: "Por meio dessas famílias organizaram-se listas de matrícula, criadas a partir
do Fundo de Emancipação, que relacionavam separadamente famílias e indivíduos escravos."

A criação dessas matrículas tinha o objetivo de indenizar o senhor no processo gradual de


abolição, sendo esse senhor proprietário desse escravo. A partir da instituição da matrícula
dos escravos, a associação entre raça e cidadania mudaria completamente, visto que agora
quem precisava provar alguma coisa seria o próprio senhor, sem a matrícula do cativo, o
mesmo seria considerado um homem livre.
A Lei dos Sexagenários recusava a indenização dos senhores, mas a proposta não agradou
o gabinete, que substituiu a proposta pela Lei Saraiva Cotegipe, nela a indenização era paga
em serviços que visava coibir as fugas dos escravos. Os negros batalhavam muito por sua
liberdade e geralmente conseguiam, mas ainda haviam muitos escravos que chegaram ao país
de forma ilegal, muitos dos que tiveram as suas matriculas efetuadas após a lei de 1871
tinham sua idade aumentada para dissimular a entrada no país após a ilegalidade do tráfico.
Com toda a pressão a escravidão ia sufocando.Assim a autora volta com a argumentação
inicial de que a questão da abolição não se limitava só a questões de mão de obras e
econômicas, mas também a questão da definição de cidadão brasileiro.
A questão em base era, quem era o cidadão brasileiro? Segundo a Constituição só era um
cidadão pleno quem nascerá "ingênuo", ou seja, livre. Entretanto, os chamados
"ventre-livres" que eram conhecidos como ingênuos ainda precisavam ficar com o senhor e
lhe prestar serviços até os 21 anos de idade. Os últimos senhores de escravos ainda tentaram
se prender a alguns recursos e a ilegalidade, obviamente, como tentando manter os
"ventre-livres" sob seu comando, sendo confrontados judicialmente.
No que tange ao contexto brasileiro o período anterior a abolição da escravatura, faz com
que os produtores retirem toda a base de apoio a um regime que, sofrendo as pressões
externas e internas, tenderia a abolir a escravidão. E é sob uma chuva de críticas, quando os
cafeicultores escravistas têm seus interesses abalados, que redirecionam seus apoios para o
federalismo como tentativa de manter uma ordem escravocrata.
Ocorre assim o surgimento da questão e ideia racial no pensamento social brasileiro, e isso
não apenas tratava-se de uma ideia conservadora para lidar, do ponto de visão intelectual,
gradualmente com a abolição , como disserta a autora Hebe Mattos, pois a maioria dos
intelectuais da época eram realmente reformistas. Perdia-se gradativamente as explicações
das hierarquias sociais pela biologia e se tem a relação entre raça e cultura.
A maioria da população brasileira se considerava parda desde finais do século XVIII, logo a
abordagem da questão da identidade nacional não poderia ser feita sem pesar em raça. É a
mestiçagem que tem o foco a partir de agora e é visto como algo positivo, a raça brasileira
seria formada com um projeto imigrantista, havia uma meta de branqueamento da população.
Seria então o pardo a personificação da nação brasileira nesse momento. E é ele que traz uma
luz ao debate acerca da identidade nacional uma abordagem não racista, sob a égide das suas
próprias histórias, mas racializada.
Assim se compreende que a fuga coletiva dos cativos se intensificou, assumindo um
símbolo de desafio. Quando finalmente abolida, a monarquia havia perdido o apoio ao
federalismo. As primeiras décadas da República viram as elites como seu grupo social mais
expressivo, antes da abolição, o que levou as pessoas a pensar que elas iriam mudar à medida
que a legitimidade da escravidão estava se desgastando em ritmo acelerado.

REFERÊNCIAS: MATTOS, Hebe. Raça e cidadania no crepúsculo da modernidade


escravista no Brasil. In: GRINBERG, Keila. SALLES, Ricardo (orgs.) O Brasil
Imperial: volume 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 15-38

Você também pode gostar