Você está na página 1de 7

História da América Independente.

Docente: Ana Paula Spini.

Discente: Lívia P. Domingues. Matrícula 12111HIS217.

Turma: História 48 noturno.

Fichamento do Capítulo 1, do livro: Escravidão, Liberdade e direito no Atlântico


Escravista.

"Qual é a diferença entre escravidão e liberdade?" (Pág. 7) Na contemporaneidade os


conceitos de escravidão e liberdade já estão misturados e difundidos de maneira que suas
definições como: maléficas e benéficas, são de conhecimento geral. Entretanto, para as
pessoas que viviam entre os séculos XVI e XIX cujas vidas foram moldadas pelas relações
sociais econômicas e políticas da escravidão tais conceitos eram o eixo central de suas vidas.

"Pelo direito internacional, durante a vigência do regime de trabalho escravo na américa a


escravidão era legal" (Pág. 7) Ao contrário da atualidade onde todo trabalho escravo é ilegal,
nos séculos passados esse regime era permitido de maneira geral em toda américa, contudo
os processos históricos de escravidão e aqueles que levaram à abolição, não foram uniformes
em todo o continente, variando de acordo com a época e o lugar, alguns escravizados obtiam
certa autonomia enquanto outros eram completamente subjugados, liberdade e escravidão
eram termos muitos complexos que abrangiam muitas implicações sociais.

O livro irá abordar este processo histórico dando ênfase à interação entra as formações sociais
e o campo jurídico "Atenção particular será dada à interação entre as formações sociais e o
campo jurídico" (Pág.8), entendemos que fontes como inventários, testamentos e processos
criminais e civis fazem parte do cotidiano das relações sociais e podem ser usadas para
compreender o direito e a justiça.

A primeira razão é a historiográfica, o direito voltou a ser objeto de estudo de uma linha de
pensamento chamada de história social do direito, que tem como premissa a elaboração de
uma história do direito a partir de seus protagonistas, advogados, juízes, juristas e aquele
envolvidos na justiça, muitos dos resultados recentes das pesquisas serão encontrados neste
livro. A segunda razão é teórica e política, e parte da premissa que mesmo que o direito
demonstre as relações assimétricas de poder e arena jurídica não seja neutra ela tampouco é
predeterminada.

"No caso das sociedades escravistas modernas, nas quais há seres humanos formalmente
classificados como "coisas" praticamente sem personalidade jurídica" (Pág. 10), mas
justamente por isso foi evidenciado o potencial político da justiça, onde indivíduos
escravizados questionavam sua condição, ao longo do tempo essas discussões
ressignificaram os conceitos de escravidão e liberdade. As leis eram criadas, mas os
responsáveis por impor elas às pessoas eram membros dos judiciários, escravos, libertos e
africanos livres e seus descendentes podiam em circunstâncias especiais demandar por
direitos na justiça.

Os documentos jurídicos demonstram um olhar particular nas relações sociais e na visão de


escravos e homens livres de seus direitos e privilégios de liberdade, e revelam como as
instituições reforçavam as desigualdades e as hierarquias. O tráfico de escravos
provavelmente começou no século XVI e durou quatro séculos se tornando um eixo central
na economia de vários países na américa, com isso as práticas escravistas passaram por um
processo de codificação e organização, que definiram a resolução de disputas, e as fronteiras
da escravidão "legítima", além das condições de alforria.

A liberdade não deve ser vista como uma doação dos senhores, pois em diversos contextos
históricos escravos buscaram negociar sua liberdade, de maneira individual e coletiva e em
alguns momentos mulheres escravizadas acusaram publicamente seus senhores de abuso
sexual, e quilombolas se engajaram em guerras abertas contra o regime, em alguns países
escravos e libertos criaram movimentos abolicionistas, ao longo do tempo as várias lutas e
resistências de indivíduos escravizados foram fundamentais para minar a legitimidade das
instituições escravagistas.

Os escravos se libertavam e fugiam individualmente ou em pequenos grupos, para localidades


afastadas formando assim os quilombos, podiam ser pequenas ou grandes, mas se constituíam
uma ameaça ao regime escravagista, eles floresceram nos séculos XVII e XVIII junto à maior
atividade de tráfico negreiro, e duraram até o século XIX, muitos quilombolas traziam
lembranças de suas heranças africanas, eram em sua maioria homens jovens, falavam línguas
e veneravam deuses africanos. Algumas comunidades quilombolas tinham influência
suficiente para negociar com as autoridades.

Além dessas ações outros meios eram possíveis para conseguir a liberdade sendo
escravizado, como a obtenção da alforria, motivada tanto gratidão, filiação ou meios próprios,
e o recurso à justiça capaz de mover um processo de liberdade. Poderia ser feito a Alforria
Gratuita onde o escravo ficaria já livre, ocorria geralmente em casos em que o senhor era pai
do indivíduo, ou a Alforria condicional, onde o escravo trabalhava um certo número de anos
ou até que um dos herdeiros do senhor morresse, a compra da liberdade também era comum,
feita através de pagamentos imediatos ou prestações, chamadas de coartação. "Casos de
coartação são conhecidos também no Brasil, principalmente em Minas Gerais" (Pág. 14)

"É difícil calcular quantas pessoas conseguiram obter a alforria" (Pág. 14) Mas há um consenso
entre os historiadores de que o número foi muito pequeno, variando de região para região, o
aumento do preço e de demanda por escravos dificultava ainda mais o processo de alforria,
"em geral, os escravos que tinham mais chance de conseguir a alforria eram crioulos, viviam
nas cidades ou exerciam funções domésticas" (Pág. 15) Laços familiares com libertos ou com
as famílias de seus senhores também tinham influência, "em todas as sociedades da américa,
mulheres eram mais libertadas do que homens (à exceção dos Estados Unidos onde o número
era equivalente) (Pág. 15) O que pode ser explicado pelo menor preço que davam à elas, a
maior facilidade da construção de laços afetivos e para acumular pecúlios.

"Mesmo quando o escravo tinha a quantia necessária para comprar sua liberdade, o senhor
não era obrigado a concedê-la' (Pág. 15) Era um ato de concessão que poderia ser revogado
em caso de mal comportamento, e que praticamente deixou de existir no decorrer do século
XIX. "Toda alforria era fruto de negociações entre senhores e escravos" (Pág. 16) Se não
houvesse consenso o escravizado poderia fugir, tentar ser vendido, apelar para o rei ou entrar
na justiça contra o seu senhor, "Na justiça as ações de escravos cotra seus senhores foram
chamadas de "Ações de liberdade" e ocorreram em todas as américas" (Pág. 16) Eram
baseados em diferentes argumentos, como a resistência à uma reescravização, uma liberdade
legada em testamento que estava sendo questionada ou a noção de "ventre livre".

Quando houve a proibição do tráfico em Portugal, alguns escravos em Lisboa questionaram


sua liberdade partindo do princípio de que "se um escravo pisasse em território livre,
automaticamente conseguiria a liberdade." (Pág. 17) "Outra maneira de conseguir a alforria à
revelia da vontade senhorial era mediante o alistamento militar ou entrando em milícias
privadas" (Pág. 17) Diversas vezes escravos participaram de conflitos armados em guerras e
revoluções na intenção de obter liberdade.

Há um debate sobre o significado de alforria, se por um lado; "A alforria era fundamental para
o controle exercido pelos senhores sobre seus escravos" (Pág. 18) servia como recurso de
dominação, ou era um processo temido que poderia abalar as bases do regime escravista.
"Essa discussão mostra que a alforria mesmo sendo um ato privado entre senhores e escravos
tinha consequências sociais e publicas imediatas"(Pág. 18) Restrições à alforria eram sempre
declaradas quando a ordem racial era ameaçada, mas embora também houvesse a
preocupação do crescimento das comunidades negras, no Brasil não houve medidas
restritivas, "Até a véspera da abolição muitos senhores tentaram manter o controle sobre a
alforria, pretendendo gerar dívidas de gratidão"(Pág. 19)

"Muitos fatores contribuíram para construir o direito escravista, tanto em termos regionais
quanto nacionais"(Pág. 19) E ao analisar as tradições jurídicas das comunidades europeias
que formaram colônias influenciando assim a América é possível encontrar diferenças, "Desde
o período Islâmico e medieval os espanhóis e portugueses mantiveram uma pequena minoria
de escravos"(Pág. 20) Suas leis refletiam à manutenção dessas populações por séculos. "Os
ingleses e os franceses não possuíam leis específicas relativas à escravidão"(Pág. 20) Mas
quando o meio de produção de suas colônias se tornou escravista se desenvolveram tradições
jurídicas próprias.

Frank Tannenbaum traz uma reflexão a respeito das relações raciais em sua obra Escravo e
Cidadão onde observa que: "Os brasileiros em particular eram relativamente abertos à
mestiçagem e à atuação de mestiços na política, cultura e negócios" (Pág. 21) Em comparação
com outras localidades, seu argumento passava pelas altas taxas de libertação na américa
latina influenciadas pelo catolicismo e pelo direito romano.

Outros historiadores fornecem explicações para as variações nas aforrais, como localidades
com pequenos números de escravos favoreceram a liberdade, ou o temor pela superação dos
números de brancos, concordando ou não com Tannenbaum é importante reconhecer "a
importância do estudo do direito e da justiça para a compreensão das sociedades escravistas
das Américas" (Pág. 22)

"Oque se pretende de fato, é refletir sobre um amplo processo histórico consciente das
complexidades que a análise de múltiplos contextos traz" (Pág. 23) Os personagens principais
deste livro são aqueles homens e mulheres escravizados que viram na justiça uma brecha
para questionar sua condição.

Capítulo 2, escravidão e liberdade no Atlântico francês e na revolução Haitiana.

Diferentemente de regiões com um clássico contato com a escravidão; "Não havia estatutos
jurídicos locais regulando a escravidão na França" (Pág. 25) Sendo os últimos a ingressarem
no movimento colonial a França implementou uma sustentável política de colonização,
investindo em tabaco e empregando trabalhadores forçados franceses,
"Nos anos de 1630 e 1640, no entanto, proprietários de terra foram gradativamente se
dedicando ao cultivo de açúcar, que requeria propriedades muito maiores e um número muito
maior de trabalhadores para ser lucrativo" (Pág. 26) Logo começou a ser usado o comércio e
o tráfico negreiro, e os números de escravo passaram a exceder o número de senhores, "O
tamanho da população escrava induziu as autoridades a emitirem um abrangente código de
leis relativas à escravidão, o assim chamado Código Negro de 1658" (Pág. 26) este que foi o
primeiro de seu tipo.

"O rei apontava dois oficiais reais para trabalhar diretamente nas colônias: o governador que
era invariavelmente um oficial militar da velha aristocrata, e o intendente, que servia como
funcionário administrativo. (Pág. 26) Ambos na intenção de fiscalizar um ao outro, a legislação
administrativa na colônia servia aos conselhos e a alta corte local.

"Foi neste contexto de aumento do número de escravos e crescente regulação da escravidão


que, em 1704, na Martinica, a escrava Babet Binture reclamou sua liberdade contra sua
senhora (Pág.27) Este caso de destacou pois a escrava conseguiu suporte jurídico para ter
acesso aos tribunais o que não era comum, e mesmo assim ela precisou de terceiros para que
a representassem, foi difícil provar seu argumento de que havia nascido de pai e mãe livres,
mas sua irmã havia sido considerada como tal, mesmo com a decisão a seu favor a questão
permaneceu sendo questionada.

O novo governador Phélypeaux via na decisão de liberdade como uma conduta que poderia
incitar a insolência dos negros. "Como não foram encontrados mais documentos, não se sabe
como terminou a história da Babet Binture. Não sabemos se ela, sua irmã e seus filhos
conseguiram permanecer livres, ou se foram novamente escravizados. (Pág. 31)

"Mas, de qualquer forma, sabemos que casos como o dela estimularam o governo francês a
estabelecer regras cada vez mais estritas em relação à alforria" (Pág. 31) No século XVIII o
império francês se dividia pelo mundo, formando colônias na América do Norte, na Ásia e
África. "Colonos e comerciantes franceses mantiveram escravos em todas estar colônias, mas
as mais importantes colônias escravistas estavam no caribe" (Pág. 33) "Em 1750, escravos em
Saint-Domingue (148 mil), Martinica (66 mil), Guardalupe (43 mil) e Louisiana (46 mil) eram
mais numerosos do que a população livre, em alguns casos na proporção de 10 para um. (Pág.
34) "Conforme o império francês foi cada vez mais se envolvendo com a escravidão, um
problema jurídico foi surgindo. A França propriamente dita não tinha praticamente nenhuma
tradição jurídica de escravidão. (Pág. 34) Qualquer escravo que pisasse em seu território se
tornava livre, mas leis foram criadas para flexibilizar a vinda de escravos domésticos para a
França, desobedecendo a máxima do princípio da liberdade.

"Em 1759, o Parlamento de Paris aproveitou sua primeira e única oportunidade para legislar
sobre a condição dos escravos na França"(Pág. 35) Foi o caso de Francisque, que repercutiu
bastante na sociedade da época com diversos argumentos a favor e contra sua liberdade, "Os
juízes do parlamento de Paris decidiram em favor d a liberdade de Francisque, mas as
implicações do caso foram ambíguas para a vasta maioria dos escravos das colônias"(Pág. 37)
As razões que levaram a esse veredito não podem ao certo ser conhecidas, "Depois que
Francisque conquistou sua liberdade, o número de escravos iniciando processos por sua
liberdade na justiça de Paris aumentou dramaticamente"(Pág. 38)

Para burlar qualquer decisão judicial que fosse remotamente liberal, foram criadas legislações
com base na cor que impediam ou dificultavam a entrada de negros na França, na intenção
de reforçar a hierarquia social, "Em 1798, a "Perola das Antilhas", a colônia de Saint-Domingue
(hoje Haiti), era a mais rica colônia do mundo. Suas 8 mil plantations produziam açúcar, café,
algodão, índigo e outros produtos" (Pág. 38) A declaração dos direitos do homem e do cidadão
e a revolução francesa abalaram as tensões já existentes na sociedade colonial, "Em agosto
de 1791, milhares de escravos da região norte de Saint-Domingue se revoltaram, ateando fogo
em mil plantations, e assassinando centenas de brancos como vingança" (Pág. 39) "A
assembleia Nacional de Paris percebeu que a única maneira de aplacar a situação seria
conferindo cidadania plena a todas as pessoas livres da colônia." (Pág. 40) Mas tal fato não
aplacou as turbulências que ocorriam na região, pois as outras nações viam a oportunidade
para vantagem própria, Espanha e Inglaterra logo invadiram a antiga colônia Francesa.

Quando os novos líderes franceses chegaram à colônia encontraram um exército de escravos


completamente leal a seus líderes negros, Sonthonax tentou conseguir apoio por parte dos
rebeldes lhes prometendo liberdade, mas estes não estavam interessados.

"Depois que Sonthonax aboliu a escravidão na província norte de Saint-Domingue, ele enviou
uma delegação de três homens-um branco, um mulato e um negro- para a Convenção
Nacional Francesa" (Pág. 41) a qual votou pela extensão da abolição em todas as colônias da
França.

"Em 1799, Toussain Louverture era incontestavelmente o líder da colônia de Saint-Domingue.


A constituição colonial de 1801 o nomeou governador vitalício" (Pág. 41) com Napoleão
tomando poder na França houve uma tentativa frustrada de uma retomada na escravidão na
colônia, "No dia 1 de janeiro de 1804 o general Jean-Jacques Dessalines, antes aliado do
general Lerlec, representante de Napoleão, declarou a independência do país, nomeando a
nova terra de "Haiti" (Pág. 42) Ele teve atitudes radicais que geraram desconfiança, e por fim
foi assassinado por um de seus comandantes, Alexandre Pétion, a legislação Haitiana foi
mudada na intenção de proteger seu meio de vida agrícola e exportador, "A França finalmente
reconheceu a independência do Haiti em 18525, mas apenas sobre a condição de que o
governo do Haiti pagasse reparações à França pela perda de propriedades" (Pág. 43) "O
exército de Napoleão conseguiu restaurar a escravidão no restante do império francês,
notavelmente em Guardalupe e Martinica" (Pág. 44) "O impacto da revolução Haitiana no resto
do mundo Atlântico é complexo e contraditório" (Pág. 44) Revoltas escravas e conspirações
negras se inspiraram nessa revolução profundamente, "Frederick Douglass, o liberto
abolicionista norte-americano e ex-embaixador dos Estados Unidos no Haiti, celebra o país
como a "única Republica Negra do Mundo".

Você também pode gostar