Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
A relação entre os afrodescendentes e o direito na América Latina é bas-
tante complexa: enraizado na violência da escravidão, o direito assumiu
papel importante no desgaste do regime escravista; mesmo assim, ainda
hoje ele contribui para perpetuar desigualdades sociais. Este capítulo ex-
plorará a história desta relação a partir de uma perspectiva brasileira, ba-
seada em uma rica tradição de estudos sobre os fundamentos jurídicos
da opressão racial, da desigualdade e de lutas por direitos de cidadania.
A experiência brasileira não deve ser confundida com a da
América Latina como um todo. Práticas jurídicas e raciais compõem
fenômenos históricos específicos, não podendo ser generalizados para
uma região tão ampla e diversa. Várias gerações de intelectuais brasi-
leiros, no entanto, vêm enfatizando as múltiplas possibilidades de se
abordar as dimensões jurídicas da experiência afrodescendente. Esta
densa tradição historiográfica oferece uma oportunidade única para
aprofundar a abordagem deste caso, cuja análise permitirá a com-
preensão tanto do papel libertador do direito quanto das situações de
violência, silêncio e iniquidade institucional que ajudaram a consoli-
dar a racialização das desigualdades em toda a América Latina.
O Brasil constituiu a primeira, a maior e a mais duradoura socie-
dade escravista das Américas. A realidade do cativeiro e o medo da es-
cravização definiram o lugar dos afrodescendentes na ordem jurídica
163
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
O DIREITO ESCRAVISTA
A história da raça e do direito no Brasil teve início com as antigas ci-
vilizações mediterrâneas romanas e islâmicas, com o estabelecimento
de preceitos jurídicos que estabeleceram as bases da escravidão mo-
derna no mundo atlântico. Durante a expansão dos impérios euro-
peus, as estruturas jurídicas da escravidão variaram muito de acordo
com as regiões e nações: as sociedades escravistas tinham desafios
jurídicos muito diferentes daqueles das chamadas “sociedades com
escravos”, os fundamentos raciais da escravidão variaram ao longo do
tempo e do espaço e as leis da escravidão eram muitas vezes transfor-
madas pelos escravizados através de ações judiciais, resistência sis-
temática ou mesmo da rebelião aberta (Berlin 1988). Esta seção tem
como objetivo explorar essas variações, através de uma breve história
do direito escravista na Península Ibérica e no mundo atlântico, das
características jurídicas do regime escravista brasileiro e de seus sig-
nificados para a história mais ampla da escravidão e da raça no país.
DA IBÉRIA AO IMPÉRIO
Os europeus tinham, com frequência, atitudes comuns em relação à es-
cravidão, mesmo que as tradições jurídicas ibéricas divergissem signifi-
cativamente daquelas adotadas na França ou na Inglaterra. Para come-
çar, a escravidão doméstica foi contínua na Península Ibérica; mesmo
164
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
165
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
166
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
167
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
168
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
169
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
170
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
171
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
172
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
173
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
174
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
175
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
176
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
177
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
178
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
179
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
Andrews, 2004: 178, 180; Telles, 2004: 37-38). Mas esses intelectuais
negros estavam criticamente conscientes do valor da neutralidade ju-
rídica e daquilo que Paulina Alberto denominou de “potencial eman-
cipador” de uma doutrina que igualava o direito à igualdade racial aos
demais direitos humanos (Alberto, 2011: 179, 176).
O ideal da democracia racial, assim como a ética do silêncio ra-
cial, provou ser um espaço de negociação no qual conviviam tanto
o pensamento paternalista conservador quanto a mobilização racial
libertadora (capítulo 8). Este ideal estava enraizado no pantano-
so domínio da igualdade racial formal: no fundo, o que separava o
Brasil dos Estados Unidos não era a ausência de discriminação racial,
mas sim a falta de suporte jurídico à diferenciação racial explícita.
Esta situação abriu amplo espaço para a previsão idealista de Frank
Tannenbaum:
180
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
181
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
182
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
183
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
184
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
185
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
186
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
187
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
188
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
189
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
190
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
191
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
192
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
193
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
194
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
195
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
196
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
197
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
198
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
199
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
BIBLIOGRAFIA
Abreu, M. 1988 Evolução urbana do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro:
IPPUR / J. Zahar) 2ª edição.
Abreu, M. e Mattos, H. 2008 “Em torno das diretrizes curriculares
nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para
o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana: Uma
conversa com historiadores” em Estudos Históricos N° 21: 5-20.
Abreu, M. e Mattos, H. e Vianna Dantas, C. 2010 “Em torno do
passado escravista: As ações afirmativas e os historiadores” em
Antíteses Vol. 3, N° 5: 21-37.
200
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
201
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
202
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
203
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
204
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
205
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
Paulo: Dominus).
Fernandes, F. 1972 O negro no mundo dos brancos (São Paulo:
DIFEL).
Ferreira, R. A. 2005 Senhores de poucos escravos: Cativeiro e
criminalidade num ambiente rural, 1830-1888 (São Paulo:
Editora da Unesp).
Ferrer, A. 2014 Freedom’s Mirror: Cuba and Haiti in the Age of
Revolution (Cambridge: Cambridge University Press).
Fischer, B. 2007 “Partindo a cidade maravilhosa” em Gomes,
F. e Gomes da Cunha, O. (eds.) Quase cidadão: Histórias e
antropologias da pós-emancipação no Brasil (Rio de Janeiro:
Editora da Fundação G. Vargas).
Fischer, B. 2008 A Poverty of Rights: Citizenship and Inequality in
Twentieth-Century Rio de Janeiro (Stanford: Stanford University
Press).
Fischer, B. 2014 “A Century in the Present Tense: Crisis, Politics and
the Intellectual History of Brazil’s Informal Cities” em Fischer,
B.; McCann, B. e Auyero, J. (eds.) Cities from Scratch (Durham:
Duke University Press).
Flory, T. 1981 Judge and Jury in Imperial Brazil, 1808-1871: Social
Control and Political Stability in the New State (Austin: University
of Texas Press).
Fontes, P. 2016 Migration and the Making of Industrial São Paulo
(Durham: Duke University Press).
Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2016 100 Anuário Brasileira
de Segurança Publica (São Paulo: FBSP).
Fraga, W. 1996 Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX
(Salvador: EDUFBA).
Fraga, W. 2016 Crossroads of Freedom: Slavery and Post-
Emancipation in Bahia, Brazil (1870-1910) (Durham: Duke
University Press).
Frazier, E. F. 1942 “Brazil Has No Race Problem” em Common Sense
11: 363-65.
Freitas de Jesus, A. L. 2007 No sertão das Minas: Escravidão,
violência e liberdade no norte de Minas, 1830-1888 (São Paulo:
Editora Annablume).
French, J. 2009 Legalizing Identities: Becoming Black or Indian in
Brazil’s Northaeast (Chapel Hill: University of North Carolina
Press).
French, J. 2004 Drowning in Laws (Chapel Hill:University of North
Carolina Press).
206
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
207
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
208
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
209
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
210
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
211
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
212
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
213
ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS
214
Brodwyn Fischer, Keila Grinberg e Hebe Mattos
215
PARTE II
POLÍTICA