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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Coordenação Pedagógica – IBRA

DISCIPLINA

TÓPICOS DA
HISTORIOGRAFIA
BRASILEIRA

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 03

2 COLÔNIA.......................................................................................................... 07

3 IMPÉRIO ........................................................................................................... 12

4 REPÚBLICA ..................................................................................................... 19

REFERÊNCIAS UTILIZADAS E CONSULTADAS.............................................. 62


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INTRODUÇÃO

No prefácio do CD ROM “Viagem pela História do Brasil” Caldeira e Paula


(2000) nos lembram que uma nação não é feita apenas de circunstâncias, embora
elas sejam importantes. Uma nação se constrói a partir de fundamentos que moldam
a identidade de seu povo, definindo seus costumes, instituições, estabelecendo o
modo pelo qual se relaciona com as outras nações e absorve as tendências
dominantes em cada momento. Como veremos abaixo, são esses fundamentos que
os autores procuram mostrar na Viagem pela História do Brasil.

Em primeiro lugar a adaptação, que se fez imperativa a partir do momento


em que os primeiros europeus por aqui chegaram e perceberam que para sobreviver
no Novo Mundo era necessário algo mais que seus costumes e crenças tradicionais.

A força das armas que lhes garantia conquistas era inútil numa terra onde
tomar espaço era fácil - mas muito difícil sobreviver no território desconhecido. Para
isto, as circunstâncias só indicaram um caminho: aceitar o costume local para
poderem ter acesso ao conhecimento dos homens da terra. A via aberta não era a
guerra, mas o casamento, segundo a regra que obrigava cada estrangeiro a “ter”
uma mulher da tribo para ser aceito por ela, estabelecendo uma complexa rede de
parentesco com os demais membros. Parente ou inimigo, eram as únicas formas de
relação possíveis para os nativos. A mistura de raças e culturas que assim se fez,
contrária à tendência europeia então - e até hoje - dominante, marcou de maneira
definitiva a constituição do povo brasileiro, dando-lhe alguns de seus traços básicos:
a liberalidade sexual relativamente forte, a cordialidade com o estrangeiro e a
inclinação para aceitar o estranho.

O segundo fundamento tem um sentido contrário. Não adaptativo, mas


impositivo; não cordial, mas violento. Se para aqui viver foi necessário casar, para
produzir foi necessário escravizar.

De início os “negros da terra”, nativos pertencentes às tribos inimigas e


escravizados com ajuda dos novos parentes, depois os negros da África, trazidos
pelos portugueses, construíram primeiro a Colônia, depois o Reino e o Império. A
longa duração do regime escravocrata marcou indelevelmente a cultura brasileira: o
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abismo entre elite e povo, o autoritarismo nas relações com os que estão abaixo,
são heranças de quatro séculos de violência institucionalizada.

O terceiro fundamento diz respeito à unidade, territorial, linguística e


cultural. A descoberta do ouro em Minas Gerais é parte da explicação: em poucas
décadas transformada em centro da economia, a província atuou como polo de
atração de homens e mercadorias, agregando o que antes era disperso, e exigindo
da Metrópole um controle antes desnecessário.

O período em que isto se deu é mais uma parte da explicação: ocorressem


as descobertas de ouro e diamantes dois séculos antes, como acontecera no México
e no Peru, talvez não fosse garantida a unidade. Ocorrendo num momento em que
grande parte do território já fora conquistada pelos próprios filhos da terra, e em que
um sentimento de brasilidade já havia sido forjado na luta contra os holandeses, o
resultado foi manter unido um povo que tinha muitas razões para se dispersar.

O ouro produziu não só a união do território, mas também uma elite da terra
que se preocupou com a criação de uma Nação independente. A ideia tomou forma
à medida que a Colônia crescia economicamente e a Metrópole se perdia em meio à
fermentação revolucionária da segunda metade do século XVIII. E acabou resolvida
segundo a forma híbrida das tendências fundamentais da formação: a adaptação do
rei português ao papel de fundador do país, associada à vontade de criar estruturas
econômicas e políticas abertas como as que se instalavam na França e nos Estados
Unidos. Dessas tendências contraditórias nasceriam caminhos opostos, que a
unidade da Coroa permitiu conviverem. De um lado, a ideia de fundar as instituições
sobre a base de abertura dos casamentos mistos, com a transformação de índios e
escravos em cidadãos. Do outro, a tentativa de reforçar a distância entre o topo e a
base, com a transformação de senhores de escravos em nobres, numa caricatura do
Antigo Regime que se dissolvia. Cada uma deixou seus traços. A primeira, o hábito
das eleições e a força do Parlamento; a segunda, a realidade crua da falta de
cidadania e direitos, a imensa distância entre ricos e pobres.

Assim se firmou o quarto fundamento característico do modo de ser


brasileiro: a complicada busca de uma conciliação entre desenvolvimento e
democracia. Do ponto de vista econômico, a contradição entre produção capitalista
e regime escravista dificultou a entrada do Brasil na era moderna. Para seguir
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adiante, era preciso abolir a escravidão - e o que foi conseguido com grande demora
e a duras penas não significou a abolição da mentalidade autoritária, ainda que
acabasse com a monarquia.

Proclamada a República, o controle do Estado se transformou no paradigma


autoritário por excelência. Reduzindo ao mínimo a conquista democrática que foi a
transformação - apenas formal - dos brasileiros em cidadãos, a herança escravista
perdurou numa forma “modernizada” de diferenciar dominantes e dominados. A
pretendida superioridade deslocou-se dos nobres e senhores para os técnicos:
desde o começo do século forma-se no Brasil a mentalidade de que é mais digno de
ter poder aquele que tem mais saber. Apresentada de diversas maneiras, das quais
o germe de populismo implantado com a revolução de 1930 é apenas uma, esta
mentalidade define a fórmula brasileira de autoritarismo: colocar o progresso
econômico como alternativa excludente da democracia política, assunto “técnico” do
qual o povo é sempre objeto, nunca sujeito (CALDEIRA; PAULA, 2000).

Com idas e vindas, o jogo entre um projeto de Nação fundado na abertura


para o novo e a tentativa de manter privilégios se refez várias vezes no correr do
século, sem nunca se chegar a um equilíbrio.

Nos momentos de domínio da democracia, nunca houve força política para


se romper as estruturas hierárquicas; por outro lado, nem mesmo ditaduras
conseguiram sobreviver sem um grau de reconhecimento do voto e representantes
eleitos. Neste jogo moldou-se a transformação da sociedade agrária em país urbano
e industrial, com um capitalismo que não firma ideias de concorrência, um Estado
que precisa ser interventor para manter privilégios, cidadãos que têm participação
formal na vida política, mas não direitos efetivos, brasileiros que constroem a
identidade de um país aberto nas frestas de um sistema de poder sempre propenso
a ceder à tentação do autoritarismo.

Concordamos como Priore e Venâncio (2001) quando enfatizam que os


fatos históricos não são pedras isoladas expostas num caminho, mas, ao contrário, é
preciso integrá-los. Compilar praticamente quinhentos anos de história não será algo
fácil, no entanto, esperamos que pesquisem nas referências bibliográficas caso
lacunas deixem a desejar.
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Relembramos que no período colonial foram gestadas muitas instituições


com as quais convivemos até hoje e que desse período também se deu a
miscigenação biológica e cultural que consiste no maior capital não monetizável do
Brasil.

Bons estudos e boa leitura!


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2 COLÔNIA

A fase do pau-brasil (1500 a 1530) ou Período Pré-Colonial

A expressão “descobrimento” do Brasil está carregada de eurocentrismo,


além de desconsiderar a existência dos índios em nosso país antes da chegada dos
portugueses. Portanto, vamos optar pelo termo “chegada” dos portugueses ao
Brasil. Esta ocorreu em 22 de abril de 1500, data que inaugura a fase pré-colonial.
Neste período não houve a colonização do Brasil, pois os portugueses não se
fixaram na terra. Após os primeiros contatos com os indígenas, muito bem relatados
na carta de Pero Vaz de Caminha, os portugueses começaram a explorar o pau-
brasil da mata Atlântica.

O pau-brasil tinha um grande valor no mercado europeu, pois sua seiva, de


cor avermelhada, era muito utilizada para tingir tecidos. Para executar esta
exploração, os portugueses utilizaram o escambo, ou seja, deram espelhos, apitos,
chocalhos e outras bugigangas aos nativos em troca do trabalho (corte do pau-brasil
e carregamento até as caravelas).

Nestes primeiros trinta anos de “chegada”, o Brasil foi atacado pelos


holandeses, ingleses e franceses que tinham ficado de fora do Tratado de
Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu as terras recém-
descobertas em 1494). Os corsários ou piratas também saqueavam e
contrabandeavam o pau-brasil, provocando pavor no rei de Portugal. O medo da
coroa portuguesa era perder o território brasileiro para um outro país. Para tentar
evitar estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-
Costas, porém com poucos resultados.

Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo as


feitorias no litoral que nada mais eram do que armazéns e postos de trocas com os
indígenas.

No ano de 1530, o rei de Portugal organiza a primeira expedição com


objetivos de colonização. Esta foi comandada por Martin Afonso de Souza e tinha
como objetivos: povoar o território brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo
de cana-de-açúcar no Brasil.
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A fase do Açúcar (séculos XVI e XVII)

O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa e alcançava um


grande valor. Após as experiências positivas de cultivo no Nordeste, já que a cana-
de-açúcar se adaptou bem ao clima e ao solo nordestino, começou o plantio em
larga escala. Seria uma forma de Portugal lucrar com o comércio do açúcar, além de
começar o povoamento do Brasil.

Para melhor organizar a colônia, o rei de Portugal resolveu dividir o Brasil


em Capitanias Hereditárias. O território foi dividido em faixas de terras que foram
doadas aos donatários. Estes podiam explorar os recursos da terra, porém ficavam
encarregados de povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar. No
geral, o sistema de Capitanias Hereditárias fracassou, em função da grande
distância da Metrópole, da falta de recursos e dos ataques de indígenas e piratas.
As capitanias de São Vicente e Pernambuco foram as únicas que apresentaram
resultados satisfatórios, graças aos investimentos do rei e de empresários.

Administração Colonial

Após a tentativa fracassada de estabelecer as Capitanias Hereditárias, a


coroa portuguesa estabeleceu no Brasil o Governo-Geral. Era uma forma de
centralizar e ter mais controle da colônia. O primeiro governador-geral foi Tomé de
Souza, que recebeu do rei a missão de combater os indígenas rebeldes, aumentar a
produção agrícola no Brasil, defender o território e procurar jazidas de ouro e prata.
Também existiam as Câmaras Municipais que eram órgãos políticos compostos
pelos “homens-bons”. Estes eram os ricos proprietários que definiam os rumos
políticos das vilas e cidades. O povo não podia participar da vida pública nesta fase.
A capital do Brasil neste período foi Salvador, pois a região Nordeste era a mais
desenvolvida e rica do país.

A economia colonial

A base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de


engenho era um fazendeiro proprietário da unidade de produção de açúcar. Utilizava
a mão de obra africana escrava e tinha como objetivo principal a venda do açúcar
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para o mercado europeu. Além do açúcar destacou-se também a produção de


tabaco e algodão.

As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja, eram grandes


fazendas produtoras de um único produto, utilizando mão de obra escrava e visando
o comércio exterior.

O Pacto Colonial imposto por Portugal estabelecia que o Brasil só podia


fazer comércio com a metrópole.

A sociedade Colonial

A sociedade no período do açúcar era marcada pela grande diferenciação


social. No topo da sociedade, com poderes políticos e econômicos, estavam os
senhores de engenho. Abaixo, aparecia uma camada média formada por
trabalhadores livres e funcionários públicos. E na base da sociedade estavam os
escravos de origem africana.

Era uma sociedade patriarcal, pois o senhor de engenho exercia um grande


poder social. As mulheres tinham poucos poderes e nenhuma participação política,
deviam apenas cuidar do lar e dos filhos.

A casa-grande era a residência da família do senhor de engenho. Nela


moravam, além da família, alguns agregados. O conforto da casa-grande
contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das senzalas
(habitações dos escravos).

Invasão holandesa no Brasil

Entre os anos de 1630 e 1654, o Nordeste brasileiro foi alvo de ataques e


fixação de holandeses. Interessados no comércio de açúcar, os holandeses
implantaram um governo em nosso território. Sob o comando de Maurício de
Nassau, permaneceram lá até serem expulsos em 1654. Nassau desenvolveu
diversos trabalhos em Recife, modernizando a cidade.
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Expansão territorial: bandeiras e bandeirantes

Foram os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do território


brasileiro além do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes penetraram no território
brasileiro, procurando índios para aprisionar e jazidas de ouro e diamantes. Foram
os bandeirantes que encontraram as primeiras minas de ouro nas regiões de Minas
Gerais, Goiás e Mato Grosso.

O século do Ouro: século XVIII

Após a descoberta das primeiras minas de ouro, o rei de Portugal tratou de


organizar sua extração. Interessado nesta nova fonte de lucros, já que o comércio
de açúcar passava por uma fase de declínio, ele começou a cobrar o quinto. O
quinto nada mais era do que um imposto cobrado pela coroa portuguesa e
correspondia a 20% de todo ouro encontrado na colônia. Este imposto era cobrado
nas Casas de Fundição.

A descoberta de ouro e o início da exploração das minas nas regiões


auríferas (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás) provocou uma verdadeira “corrida do
ouro” para estas regiões. Procurando trabalho na região, desempregados de várias
regiões do país partiram em busca do sonho de ficar rico da noite para o dia.
Cidades começaram a surgir e o desenvolvimento urbano e cultural aumentou muito
nestas regiões. Foi neste contexto que apareceu um dos mais importantes artistas
plásticos do Brasil: Aleijadinho.

Vários empregos surgiram nestas regiões, diversificando o mercado de


trabalho na região aurífera. Para acompanhar o desenvolvimento da região sudeste,
a capital do país foi transferida para o Rio de Janeiro.
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Revoltas Coloniais e Conflitos

Em função da exploração exagerada da metrópole ocorreram várias revoltas


e conflitos neste período:

Guerra dos Emboabas: os bandeirantes queriam exclusividade na exploração do


ouro nas minas que encontraram. Entraram em choque com os paulistas que
estavam explorando o ouro das minas.

Revolta de Filipe dos Santos: ocorrida em Vila Rica, representou a


insatisfação dos donos de minas de ouro com a cobrança do quinto e das
Casas de Fundição. O líder Filipe dos Santos foi preso e condenado a morte
pela coroa portuguesa.

Inconfidência Mineira (1789): liderada por Tiradentes, os inconfidentes


mineiros queriam a libertação do Brasil de Portugal. O movimento foi
descoberto pelo rei de Portugal e os líderes condenados.
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3 IMPÉRIO

Este período histórico foi determinado pelas transformações ocorridas no


século XVIII desencadeadas a partir da Revolução Francesa (1789) e da Revolução
Industrial iniciada na Inglaterra, que abriram o caminho para o avanço do capitalismo
para outros países.

Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, Portugal


mergulhou numa grave crise. A invasão do país pelo exército de Napoleão
Bonaparte desorganizou a produção do vinho e do azeite. Pouco depois, a abertura
dos portos brasileiros levou os comerciantes portugueses a perderem o mercado
colonial para a Inglaterra. Diante desta crise, várias cidades portuguesas fizeram
manifestações de militares e civis contra o governo estrangeiro e absolutista.
Exigindo a volta imediata de dom João a Portugal (PORTAL BRASILNET, 2010).

As primeiras notícias da Revolução do Porto chegaram ao Brasil ainda em


1820. O movimento inspirou diversas rebeliões locais da população insatisfeita.

Inicialmente, a elite brasileira apoiou as Cortes portuguesas. Afinal, os


latifundiários, os altos funcionários e alguns comerciantes do Rio de Janeiro foram
chamados a participar do novo governo. Em 1821, o governo português aumentou
as taxas alfandegárias sobre as mercadorias importadas da Inglaterra. Com isso,
Portugal pretendia recuperar o monopólio comercial sobre o Brasil. No mesmo ano,
as Cortes enviaram tropas ao Rio de Janeiro e Pernambuco, para reforçar a
vigilância na Colônia.

A elite agroexportadora fundou um partido político, o Partido Brasileiro, ao


lado de periódicos como o Despertador Brasiliense e o Regulador Brasílico-Luso. Os
comerciantes portugueses, concentrados no Nordeste e beneficiados pelo
monopólio da Coroa, foram contrários à independência do Brasil. Com o apoio de
alguns militares do Reino, eles fundaram o Partido Português. Já a classe média que
havia se formado no Rio de Janeiro, composta por funcionários públicos,
profissionais liberais, militares e padres, assumiu uma posição mais radical em favor
da independência.
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Embora com ideias diferentes, o Partido Brasileiro e os liberais radicais se


uniram na luta pela independência. Por sua vez, as Cortes de Lisboa, em sua
tentativa de recolonizar o Brasil, passaram a exigir mais insistentemente o retorno de
dom Pedro a Portugal. Preocupados com essa exigência, os dois grupos políticos,
organizaram um grande abaixo assinado, pedindo ao príncipe regente que ele não
abandonasse o Brasil.

No dia 9 de janeiro de 1822, após receber o documento com as assinaturas


pedindo a sua permanência no Brasil, dom Pedro tomou a decisão de ficar. „Como é
para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que
fico”, declarou o príncipe regente ao grupo de pessoas que lhe foi entregar o abaixo-
assinado.

Esse fato ficou conhecido como o dia do fico. A decisão de dom Pedro de
desobedecer as Cortes Portuguesas foi o início do rompimento das relações do
governo brasileiro com o governo português. A partir daí os acontecimentos se
precipitaram e o Brasil caminhou rapidamente para sua independência.

As cortes portuguesas consideravam ilegal o governo de dom Pedro e


ameaçaram enviar tropas ao Brasil, caso seu retorno à Europa fosse mais uma vez
adiado. Quando a decisão de Portugal chegou no Brasil, José Bonifácio, enviou-lhe
as mensagens vindas de Portugal. Dom Pedro as recebeu no dia 7 de setembro de
1822, às margens do riacho do Ipiranga. Junto a correspondência estava uma carta
de seu ministro, aconselhando-o a tomar uma atitude imediata. Ali mesmo, às
margens do riacho e na presença de uma pequena comitiva, dom Pedro declarou a
independência do Brasil. Chegavam ao fim mais de trezentos anos de domínio
colonial.

O PRIMEIRO REINADO

Período inicial do Império, estende-se da Independência do Brasil, em 1822,


até a abdicação de Dom Pedro I, em 1831. Aclamado primeiro imperador do país a
12 de outubro de 1822, Dom Pedro I enfrenta a resistência de tropas portuguesas.

Ao vencê-las, em meados do ano seguinte, consolida sua liderança.


Seu primeiro ato político importante é a convocação da Assembleia Constituinte,
eleita no início de 1823. É também seu primeiro fracasso: devido a uma forte
divergência entre os deputados brasileiros e o soberano, que exigia um poder
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pessoal superior ao do Legislativo e do Judiciário, a Assembleia é dissolvida em


novembro. A Constituição é outorgada pelo imperador em 1824. Contra essa
decisão rebelam-se algumas províncias do Nordeste, lideradas por Pernambuco. A
revolta, conhecida pelo nome de Confederação do Equador, é severamente
reprimida pelas tropas imperiais.

Embora a Constituição de 1824 determine que o regime vigente no país seja


liberal, o governo é autoritário. Frequentemente, Dom Pedro impõe sua vontade aos
políticos. Esse impasse constante gera um crescente conflito com os liberais, que
passam a vê-lo cada vez mais como um governante autoritário. Preocupa também o
seu excessivo envolvimento com a política interna portuguesa. Os problemas de
Dom Pedro I agravam-se a partir de 1825, com a entrada e a derrota do Brasil na
Guerra da Cisplatina. A perda da província da Cisplatina e a independência do
Uruguai, em 1828, além das dificuldades econômicas, levam boa parte da opinião
pública a reagir contra as medidas personalistas do imperador.

Sucessão em Portugal

Além disso, após a morte de seu pai Dom João VI , em 1826, Dom Pedro
envolve-se cada vez mais na questão sucessória em Portugal. Do ponto de vista
português, ele continua herdeiro da Coroa. Para os brasileiros, o imperador não tem
mais vínculos com a antiga colônia, porque, ao proclamar a Independência, havia
renunciado à herança lusitana. Depois de muita discussão, formaliza essa renúncia
e abre mão do trono de Portugal em favor de sua filha Maria da Glória.

Ainda assim, a questão passa a ser uma das grandes bandeiras da oposição
liberal brasileira. Nos últimos anos da década de 1820, esta oposição cresce. O
governante procura apoio nos setores portugueses instalados na burocracia civil-
militar e no comércio das principais cidades do país. Incidentes políticos graves,
como o assassinato do jornalista oposicionista Líbero Badaró em São Paulo, em
1830, reforçam esse afastamento: esse crime é cometido a mando de policiais
ligados ao governo imperial e Dom Pedro é responsabilizado pela morte.

Sua última tentativa de recuperar prestígio político é frustrada pela má


recepção que teve durante uma visita a Minas Gerais na virada de 1830 para 1831.
A intenção era costurar um acordo com os políticos da província, mas é recebido
com frieza. Alguns setores da elite mineira fazem questão de ligá-lo ao assassinato
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do jornalista. Revoltados, os portugueses instalados no Rio de Janeiro promovem


uma manifestação pública em desagravo ao imperador. Isso desencadeia uma
retaliação dos setores antilusitanos. Há tumultos e conflitos de rua na cidade. Dom
Pedro fica irado e promete castigos. Mas não consegue sustentação política e é
aconselhado por seus ministros a renunciar ao trono brasileiro. Ele abdica em 7 de
abril de 1831 e retorna a Portugal.

A CABANAGEM

O isolamento da província do Pará levava-a a ignorar, na prática, as


determinações do governo regencial. No final de 1833, o governo nomeou o político
Bernardo Lobo de Souza presidente do Pará.

Lobo de Souza valeu-se da repressão para impor sua autoridade na


província, o que fez crescer contra si a oposição local. Líderes como o padre João
Batista Gonçalves Santos, o fazendeiro Félix Antônio Clemente Malcher e os irmãos
Vinagre - Francisco Pedro, Manuel e Antônio - armaram uma conspiração contra o
governador.

Em janeiro de 1835, o governador foi assassinado. Os rebeldes ocuparam a


cidade de Belém e formaram um governo revolucionário presidido por Malcher, que
defendia a criação, no Pará, de uma república separatista. Entretanto, o novo
governador mantinha estreita relações com outros proprietários locais e decidiu
permanecer fiel ao Império. Por isso, o movimento radicalizou-se. Líderes populares,
como Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, refugiaram-se no interior da província, em
busca do apoio das populações indígenas e mestiças. Foram então as pessoas
pobres, que moravam em cabanas, que assumiram a luta pela independência do
Pará.

Em agosto de 1835, os cabanos voltaram a ocupar Belém e criaram um


governo republicano, desligado do restante do Brasil.

Mas o isolamento da província e uma epidemia de bexiga enfraqueceram os


revoltosos, que não tiveram condições de resistir à esquadra imperial que, em pouco
tempo, dominou o porto de Belém. Enquanto a cidade era saqueada e incendiada,
tropas do governo, auxiliadas pelos grandes proprietários locais, percorriam os
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vilarejos do interior à cata de rebeldes. Ao cabo de cinco anos de guerrilhas, mais de


30% da população paraense - estimada na época de cem mil habitantes - foi
dizimada.

A GUERRA DOS FARRAPOS

Desde o final do século XVIII, a criação de gado era a base da economia do


Rio Grande do Sul. O charque - carne salgada - era consumido em todo o país e o
couro dos animais, exportado para a Europa. Os estancieiros gaúchos sofriam,
porém, a concorrência dos países platinos - Argentina e Uruguai - que, produzindo
carne com mão de obra livre, a vendiam por preços mais baixos.

O governo do Rio de Janeiro hesitava em adotar medidas protecionistas a


favor dos criadores brasileiros, o que levou alguns jornais, como O Constitucional
Rio-grandense, a defender ideias separatistas. Em 1834, a aprovação de um novo
aumento de impostos para a província gaúcha determinou o início da rebelião.

No dia 20 de setembro de 1835, os estancieiros, liderados pelo coronel


Bento Gonçalves, depuseram o presidente nomeado pelo governo central, ocuparam
Porto Alegre e proclamaram a República Rio-Grandense. Bento Gonçalves foi preso
pelas forças imperiais e enviado para Salvador. Mas conseguiu fugir da prisão e
retornou a sua província natal, onde assumiu a presidência em 1837.

A luta federalista prosseguiu, incorporando os peões das fazendas, escravos


e homens livres, fiéis a seus patrões. Liderados pelo italiano Giuseppe Garibaldi -
um revolucionário que havia sido exilado de seu país -, os rebeldes atacaram Santa
Catarina, em 1839, e proclamaram a República Juliana. O nome deveu-se ao fato de
a república ter sido proclamada no mês de julho.

O SEGUNDO REINADO

No Segundo Reinado, a República decretou sua própria Constituição. A


justificativa para a separação foi a “prepotência imperial”. A pacificação do Rio
Grande só começou a se tornar possível em 1842, quando o barão de Caxias, Luís
Alves de Lima e Silva, assumiu a presidência do Rio Grande do Sul e empenhou-se
em negociar com os estancieiros. O acordo de paz foi assinado em 1845, garantindo
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liberdade aos escravos que participaram das lutas, assim como a devolução das
terras confiscadas aos fazendeiros gaúchos.

A GUERRA DO PARAGUAI

O Paraguai no século XIX era um país que destoava do conjunto latino-


americano por ter alcançado um certo progresso econômico autônomo, a partir da
independência em 1811. Durante os longos governos de José Francía (1811-1840) e
Carlos López (1840-1862), o analfabetismo havia diminuído significativamente no
país e haviam surgido fábricas - inclusive de armas e pólvora -, indústrias
siderúrgicas, estradas de ferro e um eficiente sistema de telégrafo. As “estâncias da
pátria” (unidades econômicas formadas por terras e instrumentos de trabalho
distribuídos pelo Estado aos camponeses, desde o governo Francia) abasteciam o
consumo nacional de produtos agrícolas e garantiam à população emprego e
invejável padrão alimentar.

Nesse quadro de relativo sucesso socioeconômico e de autonomia


internacional, Solano López, cujo governo iniciou-se em 1862, enfatizou a política
militar-expansionista, a fim de ampliar o território paraguaio. Pretendia criar o
“Paraguai Maior”, anexando, para isso, regiões da Argentina, do Uruguai e do Brasil
(como Rio Grande do Sul e Mato Grosso). Obteria, dessa forma, acesso ao
Atlântico, tido como imprescindível para a continuação do progresso econômico do
país.

Usando como pretexto a intervenção brasileira no Uruguai e contando com


um exército bem mais numeroso que o do oponente brasileiro, Solano López tomou
a ofensiva ao romper relações diplomáticas com o Brasil, em 1864. Logo depois,
como medida complementar, ordenou o aprisionamento do navio brasileiro Marquês
de Olinda, no rio Paraguai, retendo, entre seus passageiros e tripulantes, o
presidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos. A resposta brasileira
foi a imediata declaração de guerra ao Paraguai.

Em 1865, mantendo-se na ofensiva, o Paraguai havia invadido o Mato


Grosso e o Norte da Argentina, e os governos do Brasil, Argentina e Uruguai criaram
a Tríplice Aliança contra Solano López. Apesar de as primeiras vitórias da guerra
terem sido paraguaias, o país não pôde resistir a uma guerra prolongada. A
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população paraguaia era muito menor que a dos países da Tríplice Aliança e, por
maior que fosse a competência do exército paraguaio, a ocupação militar dos
territórios desses países era fisicamente impossível, enquanto o pequeno Paraguai
podia ser facilmente ocupado pelas tropas da Aliança.

Com o fim da Guerra do Paraguai, começaram a nascer os ideais


republicanos, que mobilizaram a opinião pública.

Ao movimento abolicionista anexaram-se a propaganda republicana e as


inquietações do setor militar, fortalecido pelo êxito na guerra.

O Manifesto Republicano, lançado no Rio de Janeiro no final de 1870,


defendia um regime presidencialista, representativo e descentralizado.

As campanhas republicana e abolicionista caminharam paralelamente, e a


abolição representou um golpe fatal para o Império, que perdeu o apoio dos
escravocratas.

Uma conspiração entre as camadas urbanas, os fazendeiros paulistas e o


exército desembocou no golpe militar que proclamou a República em 15 de
novembro de 1899.
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4 REPÚBLICA

Segundo Schilling (2010) de certa forma a Proclamação da República em 15


de novembro de 1889 foi a nossa Revolução Francesa que tardou cem anos a
chegar.

Foi com a República que implantou-se o Federalismo, o sistema


Presidencialista, a independência dos Poderes, bem como a separação do Estada
da Igreja. Terminou-se com a hierarquia baseada no nascimento e na tradição de
família substituindo-a pela forma republicana e democrática baseada no talento
pessoal e no mérito.

Ela foi obra de militares e de um escasso grupo de civis do Partido


Republicano, fundado em 1873.

Quando a República foi proclamada pelos militares em 15 de novembro, os


civis republicanos eram uma escassa minoria espalhada pelo país. Na verdade eram
ilhas minúsculas cercadas pelos partidários da monarquia por todos os lados. Mas
os esforçados e coesos republicanos exploraram bem os constantes atritos que o
exército passou a ter com os governos imperiais.

Dado a sua pouca representatividade eles perceberam que dificilmente a


monarquia seria destituída sem o socorro das armas do Exército. Assim a imprensa
republicana passou a vigiar cada manifestação dos oficiais bem como colocou suas
páginas para que eles dessem vazão a sua insatisfação. No Rio Grande do Sul, por
exemplo, o jornal republicano “A Federação” dirigido por Júlio de Castilhos não
media esforços para abrir mais e mais as brechas abertas entre os oficiais e o
Imperador. Inclusive foi num sítio de propriedade de Júlio de Castilhos onde, vários
meses antes da proclamação republicana, adotou-se a tática de estimular os
militares ao golpe.

Tornado presidente provisório, o Marechal Deodoro tratou de marcar


eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte. Em 1891 ela aprovou a
primeira Carta republicana da nossa história. Fixou-se o regime presidencialista com
mando de 4 anos, a criação de uma Suprema Corte para arbitrar os conflitos
constitucionais e deu-se grande autonomia política aos Estados e Municípios como
20

determinava o federalismo norte-americano. No seu afã de americanizar o Brasil, os


constituintes chegaram a mudar o nome do Brasil para Estados Unidos do Brasil. E,
inspirados pelo positivismo francês adotaram na nossa bandeira o lema favorito de
Auguste Comte “Ordem e Progresso” como um ideal a ser seguido. O recado estava
claro, Progresso sim, mas com o controle das Forças Armadas.

Durante a presidência do paulista Campos Sales, entre 1898-1902,


introduziu-se a chamada “verificação dos poderes”. O Sistema eleitoral brasileiro
tornava-se um rígido código de compromissos onde o “curral eleitoral”, fonte teórica
de legitimidade, votava no candidato do coronel local, este por sua vez
comprometia-se a dar apoio ao governador, uma espécie de supercoronel. O
governador, ou presidente do Estado, como era então denominado, por sua vez,
apoiava o Presidente da República, que se tornava assim uma espécie de patriarca
do sistema coronelístico. Era praticamente impossível a oposição vencer eleições.
Assim o princípio republicano da rotatividade das elites políticas estava impedido de
realizar-se, por toda a parte os mesmos grupos políticos controlavam todas as
instâncias do Poder.

O tenentismo e a revolução de 1930

O movimento tenentista foi a primeira contestação aberta à República


Oligárquica. Jovens oficiais do Exército terminaram por liderar várias rebeliões a
partir de 1922, formando um clima propício para o desenlace do regime em 1930.

Começando com a Revolta do Forte de Copacabana em 1922, seguindo-se


pela revolta paulista em 1924, chamada de revolta de Isidoro (devido seu
comandante chamar-se General Isidoro) passando pela grande feito de armas que
foi a Coluna Prestes, entre 1924-26, culminando com o levante armado de outubro
de 1930.

Estes jovens oficiais mostravam seu inconformismo com a situação política e


social do Brasil e desejavam afastar as oligarquias do comando da Nação. Só
conseguiram sucesso, no entanto, por dois fatores: a crise econômica de 1929 que
afetou o poder da oligarquia paulista e a rebelião das oligarquias periféricas; a do
Rio Grande do Sul comandada por Getúlio Vargas e a da Paraíba liderada por João
Pessoa. Aliados a Getúlio Vargas os tenentes tiveram por um momento no topo do
poder.
21

Para falar sobre a Era Vargas é preciso voltar alguns anos e alguns
acontecimentos no tempo, pois como se verá adiante, as crises da república velha, a
quebra da aliança São Paulo – Minas Gerais, mais conhecida como política do café
com leite e outras revoltas levaram aos acontecimentos que mudariam e marcariam
para sempre o Brasil dos dias atuais.

Este período do fim da República Velha, compreendido entre 1889 e 1930 é


riquíssimo em acontecimentos importante. Época difícil de se estudar visto ser
grande o número de revoltas e rebeliões ocorridas e todas elas com muitos detalhes.

Tentar-se-á descrever os fatos mais relevantes para entender como


aconteceu e o que caracterizou a modernização conservadora de Vargas.

Tudo começou com o advento da república, quando os estados passaram a


escolher seus governadores e estes cargos foram entregues aos coronéis. Nesta
fase, a política acontecia apenas para as elites, pois eram elas que votavam e se
candidatavam. A população rural era manipulada pelos coronéis. O poder e a
autonomia dos estados complementavam-se com a organização de forças militares
próprias (ABRÚCIO, 1998; KOSHIBA E PEREIRA, 2004).

O poderia de então, se concentrava nas mãos dos governadores de São


Paulo e Minas Gerais, ou seja, havia um revezamento do poder nacional por estes
dois estados. São Paulo era o estado mais poderoso economicamente,
principalmente devido à produção de café e Minas Gerais, maior polo eleitoral do
país da época e produtor de leite, daí a denominação política do café com leite.

As oligarquias dominantes da época, ligadas ao setor agroexportador


visavam em primeiro plano, garantir a cooperação dos credores estrangeiros,
comprometendo-se o novo regime a pagar dívidas contraídas com eles por
cafeicultores brasileiros. O conhecido acordo da dívida externa – funding loan – foi
pago às custas de aumento de impostos, paralisação de obras públicas e abandono
da ideia de incentivo à indústria nacional. A participação de Minas se deu pelo
grande número de deputados na assembleia e então, os dois estados se alternavam
no poder (ABRÚCIO, 1998).

A política do café com leite, que teve início com o governo de Campos Sales
na década de 1890, só terminou oficialmente com a Revolução de 1930 quando
Getúlio Vargas assumiu o governo do Brasil.
22

Segundo Koshiba e Pereira (2004), a política mostrou alguns sinais de


fraqueza já no decorrer da República Velha, como, por exemplo, quando da eleição
do gaúcho Hermes da Fonseca e do paraibano Epitácio Pessoa – ainda que sendo,
ao final, concessões das oligarquias paulista e mineira.

Dentre as revoltas ocorridas no período da República Velha, tem-se


Canudos e Contestado, a Revolta da Vacina e Revolta da Chibata, a Primeira
Guerra Mundial, a primeira crise do café e por fim, a crise de 1929.

Já dentre os antecedentes da revolução de 1930, tem-se o movimento


conhecido como Tenentismo, que pode ser assim definido:

Para suceder Epitácio Pessoa, SP e MG escolheram Artur Bernardes


(mineiro). Contra essa articulação política uniram-se RS, BA, Pernambuco e RJ,
formando assim a “Reação Republicana” que apresentou Nilo Peçanha como
candidato. Em 1922, Artur Bernardes foi eleito. Foi então que jovens oficiais do Forte
de Copacabana rebelaram-se com o apoio do RJ e do Mato Grosso. A rebelião
fracassou, mas os jovens abandonaram o forte e marcharam pela praia de
Copacabana para enfrentar as forças legalistas. Só sobreviveram 2 tenentes. Este
episódio ficou conhecido como “os 18 do forte” e originou o tenentismo.

O Governo de Artur Bernardes foi marcado por uma grande e contínua


instabilidade política. No RS estourou uma guerra civil liderada pela aliança
libertadora. Em 1924, em SP e no RS eclodiram levantes militares (continuação dos
18 do forte em maior escala). No RS a revolta teve apoio da Aliança libertadora. Os
tenentes revoltosos dirigiram-se para o norte de Santa Catarina. Em SP os rebeldes
dirigiram-se para o sul onde uniram-se com os gaúchos. A união desses grupos em
1925 formou a Coluna Prestes, com o fim do mandato de Artur Bernardes a Coluna
Prestes acabou (1926) (KOSHIBA E PEREIRA, 2004).

Enfim, chegou-se à revolução de 1930.

A política do café com leite foi quebrada quando o então presidente paulista
Washington Luís apoiou a candidatura do também paulista Júlio Prestes, o que
desagradou a elite mineira, que se aliou à elite do Rio Grande do Sul, sendo um dos
principais motivos para que o gaúcho Getúlio Vargas viesse a assumir a presidência.
Dessa forma, com o fim do mandato de Artur Bernardes, o último presidente
“oficialmente” eleito nos moldes dessa política foi Washington Luís, que não fez
23

nada de diferente de seu antecessor. Um ano após sua posse (1927), as agitações
voltaram às ruas. Como reação, o governo criou a lei repressiva “Celerada”. A
imprensa foi censurada e restringiu-se o direito de reunião. No final do mandato de
Washington Luiz todos os vícios herdados pela república oligárquica conduziram a
uma só solução: a Revolução de 30, que pôs fim à República Velha.

Enfim, a impossibilidade de se manter a política de valorização do café foi


um dos motivos para a Revolução de 30.

Minas e RS para firmar o nome de seus candidatos fizeram uma campanha


pregando uma reforma política: voto secreto, anistia política, criação das leis
trabalhistas, o que levou a Aliança Libertadora a sensibilizar a massa urbana,
ganhando também, o apoio dos tenentes. Júlio Prestes foi eleito. O vice de Getúlio,
João Pessoa é assassinado. Os aliancistas fizeram um levante armado contra a
oligarquia paulista. Washington Luiz não tinha como resistir às tropas do sul. Foi
deposto e formou-se um governo provisório liderado por Getúlio Vargas. Terminou
assim a República Velha.

Getúlio Dorneles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, no interior do Rio


Grande do Sul, no município de São Borja. Filho de uma família tradicional gaúcha
da zona rural e de fronteira: os pampas.

Tentou a carreira militar, tornando-se em 1898, soldado na guarnição de seu


município, indo a seguir para a Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo, mas
não permaneceu muito tempo. Juntando sua passagem pelo exército e o fato de seu
pai haver lutado na guerra do Paraguai, faziam-no entender os problemas das forças
armadas e seu empenho em modernizá-las quando chegou ao governo.

Formou-se em direito, trabalhando inicialmente como promotor junto ao


fórum de Porto Alegre, indo posteriormente para sua cidade natal, exercer a
advocacia.
24

Sua orientação filosófica, como muitos de seu Estado e sua época, foi
partidária do positivismo1 e pelo castilhismo2.

Em 1909 elegeu-se deputado estadual, reeleito em 1913. Renunciou pouco


tempo depois, em protesto às atitudes tomadas pelo então presidente (cargo hoje
intitulado governador) do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, retornando à
Assembléia legislativa estadual em 1917, sendo reeleito em 1921.

Quando se preparava para combater, a favor do governo do estado do RS,


na revolução de 1923, no interior de seu estado, foi chamado para concorrer a uma
vaga de deputado federal pelo Partido Republicano Rio-grandense (PRR). Foi eleito,
tornando-se líder da bancada gaúcha, na Câmara dos Deputados, no Rio de
Janeiro.

Assumiu o ministério da Fazenda (1926-1927) durante o governo de


Washington Luís. Deixou o cargo de para candidatar-se e vencer as eleições para
presidente do RS para o mandato de 1928 a 1933. Sua eleição colocava fim aos
trinta anos de governo de Borges de Medeiros no RS. assumiu o governo do RS em
janeiro de 1928, exercendo o mandato até outubro de 1930.

Durante esse mandato, quando se lançou candidato à presidência da


República, iniciou um forte movimento de oposição ao governo federal, exigindo o
fim da corrupção eleitoral, a adoção do voto secreto e do voto feminino.

Getúlio, porém, manteve bom relacionamento com o presidente Washington


Luís, obtendo verbas federais para o Rio Grande do Sul. Criou o Banco do Estado
do Rio Grande do Sul e apoiou a criação da VARIG (Viação Aérea Rio Grandense).
Quando Presidente de seu estado, começou a se destacar como conciliador,
conseguindo unir os partidos políticos do Rio Grande do Sul, o PRR e o Partido
Libertador, antes profundamente divididos (JORGE, 1986).

1
É uma corrente sociologica cujo precursor foi o francês Augusto Comte (1789-1857). Surgiu como
desenvolvimento sociológico do Iluminismo, caracterizando-se como afirmação social das ciências
experimentais. Propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando
radicalmente teologia ou metafísica.Assim, o Positivismo - na versão comteana, pelo menos - associa
uma interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a uma ética humana,
desenvolvida na segunda fase da carreira de Comte (WIKIPEDIA, 2007).
2
Era uma corrente de forte cunho conservador, ao mesmo tempo em que apostava na modernização
econômica, por ter na burguesia industrial e urbana suas bases de apoio (WIKIPEDIA, 2007).
25

As doutrinas antiliberais

Antes de falar as doutrinas antiliberais de Vargas, a título de lembrança,


estão enumerados abaixo os acontecimentos que culminaram com a revolução de
1930:

As eleições correm tranquilamente, Júlio Prestes vence com mais de um


milhão de votos e Vargas fica com apenas 742 mil votos; no RS, porém, ficou com
100% dos votos;

Ocorrem denúncias de fraudes, o que era normal na República Velha;

João Pessoa é assassinado na Paraíba o que deflagrou a mobilização


armada dos partidários de Getúlio;

A revolução começa no dia 03 de outubro por Porto Alegre, passando pelos


estados de Santa Catarina e Paraná. Os generais Tasso Fragoso e Menna Barreto e
o Almirante Isaías de Noronha depuseram Washington Luís através de um golpe
militar e formaram uma Junta Militar Provisória que governaria o Brasil até a
chegada de Getúlio ao Rio de Janeiro.

Segundo Koshiba e Pereira (2004) após a Revolução de 1930, com a


instituição do governo provisório, chefiado por Vargas, teve início a centralização do
poder político. O congresso liberal foi dissolvido, juntamente com as casas
legislativas estaduais e municipais. O governo provisório, não conseguiu solucionar
os conflitos, pois Vargas não atendeu às reivindicações dos tenentes nem das
oligarquias tradicionais.

Entretanto, cumpriu as principais promessas da revolução de 30:

Anistiou os revolucionários dos anos 1920 (Levante do Forte de Copacabana


de 1922, Revolução de 1924 e da Coluna Prestes)

Criou o voto secreto e o voto feminino, o Código Eleitoral e a Justiça Eleitoral, o


que fez diminuir muito a fraude eleitoral.

Ampliou os direitos trabalhistas, formalizando-os pela CLT, instituída mais


tarde em 1943.

Criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1930) e o Ministério da


Educação e Saúde (JORGE, 1986).
26

Getúlio mandou publicar em 1932 o novo código eleitoral e o anteprojeto da


constituição marcando para 1933 as eleições para a assembleia constituinte.

As eleições da Assembleia Constituinte ocorreram e a terceira constituição


brasileira foi decidida; manteve-se a república federalista, presidencialista e com
independência entre os três poderes. Fixou-se que a primeira eleição em caráter
excepcional seria realizada pelo voto indireto da Assembleia. Getúlio foi confirmado
como presidente.

Uma inovação foi o mandato de segurança que permitia ao cidadão


proteger-se contra qualquer ato arbitrário de qualquer autoridade (KOSHIBA E
PEREIRA, 2004).

A Revolução Constitucionalista de 1932

Uma das primeiras e mais importantes reações contra a nova ordem política
instaurada pela revolução de 1930 foi o movimento Constitucionalista de 1932,
ocorrido em São Paulo. Com esse movimento, as elites paulistas, que tinham sido
as maiores beneficiárias do sistema vigente na Primeira República, tentaram retomar
o controle político que haviam perdido com a Revolução de 1930.

Os paulistas nunca chegaram a aceitar a nomeação de interventores para o


governo do estado. Estes encontraram sempre forte oposição política. Inicialmente,
São Paulo reivindicava a nomeação de um interventor que não fosse militar e que
tivesse nascido em São Paulo. Isso levou o presidente Vargas a nomear para o
cargo Pedro de Toledo, civil e paulista como desejavam os políticos de São Paulo.

A nomeação de Pedro de Toledo, porém, não diminuiu o descontentamento


dos paulistas com o governo da República porque alguns auxiliares do novo
interventor eram figuras impopulares.

Em resumo, os conspiradores de São Paulo pretendiam reconquistar o


poder que haviam perdido com a revolução anterior.

O movimento revolucionário de 1932 despertou o sentimento patriótico da


maior parte da população do Estado. Mesmo em outros Estados, era grande o
número de simpatizantes à causa da revolução paulista. Não foram apenas
elementos das elites paulistas que tomaram parte da revolução Constitucionalista de
27

1932. Entre os voluntários que se apresentaram para a luta e morreram pela causa
de São Paulo, encontramos, ao lado de estudantes, engenheiros, advogados e
médicos, elementos que pertenciam às camadas mais humildes da população:
lavradores, operários, ferroviários, motoristas, etc.

Os revolucionários paulistas deram início à revolta em 9 de julho de 1932,


esperando que Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul aderissem
imediatamente ao movimento. Apenas a região sul de Mato Grosso acompanhou
São Paulo na revolução.

Os revolucionários paulistas foram derrotados, contudo, mais tarde,


conseguiram a concretização de um dos objetivos de sua luta. Em 3 de maio de
1933, foi realizada a eleição para a escolha dos membros da Assembleia
Constituinte, que elaborou a Constituição de 1934 (ARRUDA E PILETTI, 1997).

A Aliança Nacional Libertadora e a Intentona Comunista

O partido comunista brasileiro resolveu aglutinar aqueles que por alguma


razão eram contrários ao fascismo. A formação dessa frente teve o nome de
“Aliança Nacional Libertadora” – ANL, que tinha como presidente Luiz Carlos
Prestes. Esta frente cresceu muito, despertando o receio das classes dirigentes.

Vargas, por meio de intervenções policiais invadiu as sedes da ANL e


mandou prender seus líderes. Deixando a mesma na clandestinidade. Devido à
repressão policial o PCB optou em fazer a Intentona Comunista. A rebelião eclodiu
em um quartel em Natal onde foi rapidamente controlada. Depois em Recife onde foi
facilmente reprimida e depois no Rio de Janeiro.

A ANL foi uma frente única dos partidos de esquerda, dos sindicatos, certa
ala tenentista e parte da classe média fundida com o operariado. Seu presidente de
honra era Luiz Carlos Prestes, conhecido como o Cavaleiro da esperança, prestes
fora importante líder do tenentismo na década de 20 e havia aderido ao comunismo
(POMAR, 2004, p. 15).

No Programa da ANL constava a suspensão do pagamento da dívida


externa, a nacionalização de empresas estrangeiras, a realização de reforma
28

agrária, a defesa das liberdades públicas e a instalação de um governo popular e


democrático.

Em poucos meses a ANL conseguiu reunir milhares de adeptos em todo o


Brasil. Entre suas atividades, pode-se destacar a direção de movimentos grevistas e
a organização de manifestações públicas, que reivindicavam, entre outras coisas,
jornadas de trabalho de oito horas, aposentadoria, salário mínimo.

A propagação das ideias da ANL entre oficiais de baixa graduação e


sargentos do exército, da Marinha e da Força Aérea teve como resultado um
movimento de revolta contra o governo, em 1935. A intentona Comunista, como
ficou conhecido o movimento, ocorreu quase que simultaneamente em várias
capitais de estado. Os líderes da revolta foram Luís Carlos Prestes e Astrogildo
Pereira.

Em Natal, o movimento teve início em 23 de novembro; no recife, dia 25; e


no Rio de janeiro, dia 27. Em todas essas capitais as revoltas foram rapidamente
vencidas pelas forças leais ao governo. O golpe comunista não foi bem coordenado,
o que facilitou a ação repressiva das forças governamentais.

A intentona Comunista resultou em prisões em massa realizadas por ordem


do governo, bem como na tortura e na morte de muitos participantes da revolta.

Depois do movimento de 1935, o governo Getúlio Vargas organizou uma


violenta campanha de repressão ao comunismo. Em 1937, a ameaça esquerdista foi
usada pelo presciente como pretexto para o golpe de estado que marcou o início do
estado Novo (ARRUDA E PILETTI, 1997).

O Estado Novo (1937-1945)

Segundo Coulon e Pedro (1995, p. 5) o Estado Novo foi apoiado pelas


classes médias e por amplos setores das burguesias agrária e industrial.
Rapidamente Vargas ampliou suas bases populares recorrendo à repressão e
cooptação dos trabalhadores urbanos: intervindo nos sindicatos, sistematizando e
ampliando a legislação trabalhista. Sua principal sustentação, porém, foram as
Forças Armadas. Durante o Estado Novo foram reaparelhadas com modernos
29

armamentos comprados no Exterior e começaram a intervir em setores considerados


fundamentais para a segurança nacional, como a siderurgia e o petróleo.

A burocracia estatal foi outro ponto de apoio: cresceu rapidamente a abriu


empregos para a classe média. Em 1938, Vargas criou o Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP), encarregado de unificar e racionalizar o
aparelho burocrático e organizar concursos para recrutar novos funcionários
(ALMANAQUE ABRIL, 1995)

No entendimento de Arruda e Piletti (1997), o Estado Novo foi a versão


brasileira atenuada do fascismo europeu, que será discutido adiante. Não se
baseava no apoio popular ou de qualquer partido político. Alicerçava-se nas Forças
Armadas e na polícia de Vargas, e era favorecido pela falta de capacidade de
organização das correntes oposicionistas.

Enquanto o fascismo, o nazismo e o comunismo possuíam uma sólida base


ideológica, o Estado Novo caracterizava-se por ser filosófica e ideologicamente
vazio. Foi apenas uma criação própria do engenho político de Getúlio Vargas, que
se transformou no centro político do regime.

Depois da Primeira Guerra Mundial surgiu na Itália o movimento fascista,


inspirado e dirigido por Benito Mussolini. Na década de 30, movimento semelhante,
o nazismo, apareceu na Alemanha sob a direção de Hitler.

Movimentos fascistas surgiram ainda em Portugal, sob a direção de Antonio


de Oliveira Salazar, e na Espanha, sob a direção do general Francisco Franco.

Desde 1934, Getúlio Vargas tomou uma série de medidas com o objetivo de
conseguir apoio das massas populares. No início da década de 30, a
industrialização provocara o crescimento das massas trabalhadores nas cidades,
principalmente em São Paulo. Atendendo às reivindicações dessas camadas da
população urbana, o governo conseguiu a adesão das bases populares de que
necessitava para manter-se forte. Essa política, de caráter populista, desenvolveu-se
principalmente nos últimos anos do estado Novo, expressando-se no chamado
queremismo (ARRUDA E PILETTI, 1997).
30

No Brasil, esses regimes também tiveram repercussão, originando o


integralismo, cujas bases foram estabelecidas pelo manifesto à Nação Brasileira,
elaborado por Plínio Salgado, chefe desse movimento.

A doutrina Integralista era uma versão brasileira do fascismo europeu, que


se propagou no Brasil quando os fascistas e os nazistas conseguiam seus primeiros
êxitos na Europa, no período anterior à segunda Guerra Mundial. O integralismo
tinha como lema “Deus, Pátria e Família” e como símbolo o sigma, letra do alfabeto
grego. Seus seguidores usavam camisas verdes nas manifestações públicas que
participavam, sendo com isso conhecidos como camisas-verdes. A “mística
sentimental e superficial” do integralismo, que incluía saudações copiadas dos
nazistas, conseguiu adeptos em alguns setores da classe média. Inicialmente, as
classes mais elevadas encararam, o movimento com ironia, porém mais tarde iriam
utilizá-lo contra o comunismo. O operariado, por sua vez, reagiu violentamente
contra o integralismo.

As manifestações públicas do integralismo consistiam em passeatas que


reuniam multidões e chegaram a provocar incidentes, como os corridos em Bauru,
Campos e Petrópolis, que resultaram na morte de muitas pessoas.

Os integralistas foram os responsáveis indiretos pelo golpe de Estado de


1937, que instaurou o Estado Novo no Brasil, Como pretexto para o golpe, o
governo utilizou um documento falso, elaborado pelos integralistas, que denunciava
um suposto plano de subversão comunista (o Plano Cohen que será analisado
adiante).

Mais tarde, o integralismo rompeu com Getúlio Vargas. Em 10 de maio de


1938, ocorreu um golpe Integralista contra o governo que provocou grande número
de mortes. As forças federais contiveram o movimento sem grande dificuldade.

Resumindo, pode-se dizer que o governo federal utilizou o comunismo e o


integralismo como pretexto para se impor ditatorialmente durante o Estado Novo
(ARRUDA E PILETTI, 1997).
31

Preparação e implantação do plano Cohen

Para combater a Intentona Comunista, Getúlio declarou desnecessariamente


Estado de Sítio. A campanha para a eleição começou e Vargas tentou mais uma vez
declarar Estado de Sítio. O Congresso não autorizou e Getúlio forçou a situação
dizendo que havia sido informado sobre o Plano Cohen. Este era um falso plano
comunista elaborado por Vargas e seus homens. Diante da “Ameaça Vermelha” o
governo pediu o Estado de Guerra e o Estado concedeu. Em 1937, Vargas
argumentando a necessidade de por fim às agitações decretou o fechamento do
Congresso e anunciou a nova constituição chamada de “Polaca”. Era o início do
Estado Novo (KOSHIBA E PEREIRA, 2004).

Em março de 1945, com o Estado Novo já em crise, o general Góes


Monteiro denunciou a fraude produzida oito anos antes, isentando-se de qualquer
culpa no caso. Segundo ele, o plano fora entregue ao Estado-Maior do Exército pelo
capitão Olímpio Mourão Filho, então chefe do serviço secreto da Ação Integralista
Brasileira (AIB). Mourão Filho, por sua vez, admitiu que elaborara o documento,
afirmando porém tratar-se de uma simulação de insurreição comunista para ser
utilizada estritamente no âmbito interno da AIB. Já o líder maior da AIB, Plínio
Salgado, que participara ativamente dos preparativos do golpe de 1937 e que,
inclusive, retirara sua candidatura presidencial para apoiar a decretação do Estado
Novo, afirmaria mais tarde que não denunciou a fraude pelo receio de desmoralizar
as Forças Armadas, única instituição, segundo ele, capaz de fazer frente à ameaça
comunista (FGV, 2007).

A nova Constituição de 1946

A Assembleia Nacional Constituinte, nos regimes liberais-representativos, é


um órgão de natureza especial. Trata-se de uma assembleia com poderes
extraordinários que tem a função precípua de construir as bases jurídico-políticas do
país. O trabalho constituinte consiste em definir princípios gerais e em torno deles
estabelecer um conjunto orgânico de regras e instituições. A regulamentação desse
conjunto legal, para a sua aplicação na vida cotidiana, fica em geral por conta dos
órgãos legislativos ordinários (FREIRE, 2007).
32

O trabalho constituinte, mesmo voltado para o futuro, está imerso nas


circunstâncias políticas do presente. É exatamente por isso que cada resolução
aprovada, cada detalhe colocado no texto constitucional, ainda que vago, genérico
ou afirmativo, expressa os diversos pactos que se estabelecem entre as forças
políticas ali representadas.

A Constituinte de 1946, eleita em 2 de dezembro de 1945, iniciou seus


trabalhos em 2 de fevereiro seguinte sob o impacto da derrota do nazi-fascismo na
Europa e do fim do Estado Novo no Brasil. Não por acaso, durante os primeiros
meses de discussão, de fevereiro a maio, promoveu-se um duro julgamento do
regime anterior. Produziu-se, em suma, o que se denominou a "autópsia da
ditadura".

Outra marca distintiva da Constituinte de 1946 em comparação com as


anteriores foi sua heterogeneidade político-ideológica. Dela participaram deputados
e senadores eleitos na legenda de nove partidos, ou seja, representativos de todo o
espectro político e donos de diferentes trajetórias políticas até aquele momento. No
mesmo plenário estiveram presentes, incumbidos da elaboração da nova Carta, o
ex-presidente Artur Bernardes, do Partido Republicano (PR), e Luis Carlos Prestes,
do Partido Comunista do Brasil (PCB), que como líder tenentista fora perseguido
ferozmente por Bernardes na década de 1920 (FREIRE, 2007).

Unidas em torno de um projeto liberal-democrático, as forças predominantes


na Constituinte, a saber, o Partido Social Democrático e a União Democrática
Nacional, que juntos ocupavam cerca de 80% das cadeiras, produziram um texto
preocupado fundamentalmente em delimitar o raio de ação dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, para evitar uma nova experiência política baseada no poder
discricionário do Executivo.

O mandato presidencial foi fixado em cinco anos, e foi mantida a proibição


da reeleição para cargos executivos. As atribuições do Congresso foram
fortalecidas, principalmente as que diziam respeito à inspeção das ações do
Executivo. Todas as medidas administrativas ou de política econômica do governo,
mesmo as de curto prazo, deveriam receber a autorização do Congresso. Foi
restaurado o princípio federalista, estabelecendo-se a divisão de atribuições entre a
União, os estados e os municípios.
33

No que se refere ao voto, a nova Constituição extinguiu a bancada


profissional, presente na Carta de 1934, e ampliou a obrigatoriedade do voto
feminino, antes restrita às mulheres que exercessem cargo público remunerado.

No plano social, a Constituinte optou por uma postura conservadora. No


tocante ao direito de greve, aprovou um texto genérico que reconhecia o direito, mas
deixava para o Congresso uma futura regulamentação, que terminou por não vir.
Além disso, manteve dois fundamentos da estrutura corporativista advinda do
regime anterior: o imposto sindical, passaporte para o aparecimento e a manutenção
dos sindicatos controlados pelos "pelegos", e a possibilidade de o Estado intervir na
vida sindical (FREIRE, 2007).

Política externa do Estado Novo

Dois anos depois de instalada a ditadura Vargas começou a Segunda


Guerra Mundial. Apesar das afinidades do Estado Novo com o fascismo, o Brasil se
mantém neutro nos três primeiros anos da guerra. Vargas aproveita-se das
vantagens oferecidas pelas potências antagônicas e, sem romper relações
diplomáticas com os países do Eixo – Alemanha, Itália, Japão –, conseguiu, por
exemplo, que os Estados Unidos financiem a siderúrgica de Volta Redonda.

Após o ataque japonês à base de Pearl Harbour, no Havaí, as pressões para


Vargas romper com o eixo, aumentaram e em 1942 Vargas permitiu que os EUA
usassem as bases militares de Belém, Natal, Salvador e Recife. Como retaliação,
forças do Eixo atacaram navios mercantes brasileiros ao longo da costa. Nos dias 18
e 19 de agosto de 1942, cinco deles – Araraquara, Baependi, Aníbal Benévolo,
Itagiba e Arará – foram torpedeados por submarinos alemães. Morrem 652 pessoas
e Vargas declarou guerra contra a Alemanha e a Itália (ALMANAQUE ABRIL, 1995).

Segundo Pinheiro (2007), uma das principais marcas da política externa


brasileira no primeiro governo Vargas (1930-1945) foi a negociação do alinhamento
com os Estados Unidos. Como uma decorrência do próprio processo de negociação,
no fim já não havia mais o que barganhar com Washington em favor dos interesses
do país. O cenário do pós-guerra, com a Europa em ruínas, com os Estados Unidos
na condição de única potência política, militar e econômica do Ocidente, e com a
inversão da aliança entre Washington e Moscou que resultou na Guerra Fria,
34

estreitou ainda mais o espaço de manobra internacional do Brasil, tornando a


consolidação do alinhamento com Washington a única opção para o governo
anticomunista do general Dutra (1946-1950).

O fim do Estado Novo e da Ditadura Vargas

No começo da guerra, Getúlio conservou-se neutro em relação à 2ª Guerra


Mundial porque não havia uma única tendência dos homens do governo. Porém, o
Brasil tinha inclinações às potências aliadas devido aos empréstimos que um banco
norte americano fez ao Brasil em 1941. Ocorreu então em 1942, a aliança política
entre Brasil e EUA na II Conferência de Consulta aos Chanceleres no RJ.

Segundo Koshiba e Pereira (2004), a participação direta do Brasil na guerra


ocorreu depois de repetidos ataques aos navios brasileiros por submarinos alemães.
Assim, em 1942, Vargas declarou oficialmente guerra contra Itália e Alemanha. No
início o Brasil apenas fornecia matérias-primas e auxiliava no policiamento do
atlântico Sul. Somente em 1944 foi enviado à Itália um contingente de soldados.
Com a vitória do contingente brasileiro o Estado Novo ficou em choque.

As repercussões criadas em torno da contradição de um Estado inspirado no


fascismo italiano que se empenhava na luta antifascista, se entrelaçaram à crise
política interna resultando numa conjuntura favorável ao termino do Estado Novo.

Em 1943, esgotou-se o limite que o Estado impusera “para a legitimação” da


constituição outorgada em 1937. Nessa conjuntura, surgiu o manifesto dos mineiros,
que exigia a participação política dos agentes do processo econômico, isto é, um
desenvolvimento político correspondente e compatível com a prosperidade material.
Neste momento estavam ocorrendo grandes avanços por parte dos Aliados que
coincidiram com o avanço da redemocratização no Brasil (KOSHIBA E PEREIRA,
2004).

Porém, isso não foi fruto do acaso, pois o próprio Getúlio, sentindo o
comprometimento de seu poder, assumiu uma posição mais flexível. Então, com o
fim da guerra em 1945, as forças de oposição levaram o Estado Novo à
desagregação. Foi então que José Américo de Almeida (ministro do Tribunal de
contas) deu uma entrevista ao jornalista Carlos Lacerda. Nesta, afirmou que era
35

dever de todos, naquele momento, dar a sua opinião e participar da vida pública.
Lacerda ofereceu sua entrevista a vários jornais, mas por causa da censura, apenas
o correio da Manhã publicou-a. Esta caiu como uma bomba e teve uma enorme
repercussão. Pressionado, o ditador baixou um decreto que marcava as eleições
para esse mesmo ano. Desde o fim do ano anterior, a oposição havia lançado a
candidatura de Eduardo Gomes à presidência. Para concorrer com este, o ministro
de guerra, Eurico Gaspar Dutra colocou seu nome na disputa eleitoral (KOSHIBA E
PEREIRA, 2004).

A UDN ficou muito preocupada quando a manobra continuísta evoluiu do


queremismo para o grito de “Constituinte com Getúlio”. Isso significava para a UDN
reunir a constituinte antes da eleição, deixando assim, o poder nas mãos de Getulio.

No início de Outubro um comício pró-getulista que havia sido marcado foi


proibido pelo chefe da polícia do RJ. Vargas reagiu substituindo-o pelo seu irmão.
Porém, essa manobra não foi bem vista pelo ministro do exército. Então, a pressão
militar obrigou Getulio a abandonar o poder. A presidência foi assumida
provisoriamente pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (José Linhares).
Chegou ao fim o Estado Novo (KOSHIBA E PEREIRA, 2004).

Com o golpe de 45 que resultou na saída de Vargas, a UDN sentiu-se


vitoriosa. Porém este feito não teve a repercussão esperada, pois a população
gostava de Vargas. Então, tudo isso só fez aumentar a popularidade dele. No
entanto, o vencedor da eleição foi Dutra. O governo de Dutra possuía poderes
limitados, pois as forças políticas tinham sido formadas durante o Estado Novo. Os
partidos políticos não haviam compreendido que a verdadeira democracia tinha de
passar pelo teste da incorporação das forças operárias. Essa incompreensão
manteve a distância entre as elites políticas e as massas populares, o que facilitou o
governo a tomar medidas repressivas, típicas do Estado Novo: intervenções nos
sindicatos e dispositivos legais que permitiam o controle e a repressão do
operariado.

Com o fim da guerra o regime nazi-fascista entrou em declínio e as


superpotências, EUA e URSS entraram em ascensão. Essa bipolaridade
proporcionou um clima favorável à perseguição de comunistas brasileiros e a
continuidade de uma política autoritária (KOSHIBA E PEREIRA, 2004).
36

O fim da Era Vargas (1951-1954)

Mesmo Vargas voltando ao poder através do voto em 1950, a ascensão e


radicalização dos movimentos populares fora do controle estatal foram considerados
os principais fatores desencadeadores da crise política que levaria ao fim o governo
Vargas. De acordo com essa linha interpretativa, as classes dominantes ficaram
temerosas com o avanço dos movimentos populares e discordaram do modo como o
governo respondeu às exigências e demandas sociais que irromperam no cenário
político.

A oposição ao governo varguista foi crescendo paulatinamente à medida que


o país era agitado por manifestações de protesto e greves trabalhistas. Críticas e
pressões oposicionistas minaram rapidamente a estabilidade governamental. Na
área da política institucional, os principais grupos oposicionistas ao governo de
Getúlio Vargas faziam parte da União Democrática Nacional (UDN), que o acusavam
constantemente de planejar um golpe em conluio com líderes sindicais objetivando
criar um regime socialista no país.

Na área da imprensa, o antigetulismo ganhou força com a atuação do


jornalista Carlos Lacerda, que em seus pronunciamentos e artigos denunciava
recorrentes casos de corrupção e desmandos administrativos do governo federal.

O presidente se defendia das críticas argumentando que grupos subalternos


ligados a interesses internacionais e nacionais se uniram na tentativa de impedir que
o governo avançasse na área de proteção ao trabalho, limitações de remessa de
lucros das empresas multinacionais para o estrangeiro e fortalecimento das
empresas públicas, sobretudo ligadas a área de energia.

Getúlio teve um governo tumultuado devido a medidas tomadas e a


acusações de corrupção.

De acordo com Cancian (2007) em 1954, a crise política desestabilizou o


governo Vargas. No início do ano, o então ministro do Trabalho, João Goulart,
concedeu um aumento salarial de 100% aos que recebiam salário mínimo. As
pressões de grupos oposicionistas contrárias à medida foram tão violentas que o
governo recuou, e o ministro foi obrigado a renunciar ao cargo.
37

O episódio desencadeador da crise final do governo Vargas ocorreu com o


atentado fracassado contra a vida do jornalista Carlos Lacerda. Esse episódio ficou
conhecido como “o crime da rua Toneleros”. Carlos Lacerda apenas se feriu, mas o
major da aeronáutica, Rubens Vaz, morreu.

Nunca foi esclarecido quem foi o mentor do atentado, mas sabe-se que
pessoas ligadas a Getúlio estavam envolvidas. As investigações apontaram, porém,
que o responsável pela tentativa de assassinato foi Gregório Fortunato, principal
guarda-costas do presidente Getúlio Vargas (CANCIAN, 2007).

Depois do episódio da rua Toneleros, os grupos oposicionistas exigiram o


afastamento de Vargas da presidência da República. Setores das Forças Armadas e
da sociedade civil se uniram aos grupos de oposição e exigiam que Vargas
renunciasse. No dia 24 de agosto, um ultimato dos generais, assinado pelo ministro
da Guerra, Zenóbio da Costa, foi entregue a Vargas.

O presidente se encontrava no Palácio do Catete, quando redigiu uma carta-


testamento e suicidou-se com um tiro no peito. O impacto provocado pela notícia do
suicídio de Vargas e a divulgação da carta-testamento foi intenso e acabou se
voltando contra a oposição. Grandes manifestações populares de apoio ao ex-
presidente estouraram em várias cidades do país.

Comícios organizados por líderes sindicais e políticos ligados ao getulismo


responsabilizavam a UDN e o governo norte-americano pelo fim dramático de
Getúlio. Órgãos de imprensa, como o jornal “O Globo” entre outros, e a embaixada
dos Estados Unidos foram alvo de ataques populares. Greves de trabalhadores
também ocorreram como forma de protesto. Depois de algumas semanas, as
manifestações e agitações populares cessaram (ARRUDA E PILETTI, 2007;
CANCIAN, 2007).

O governo de JK

A morte de Vargas, que traumatizou profundamente o País, foi sucedida pela


bem-aventurança do governo de Juscelino Kubistschek, ex-governador do Estado de
Minas Gerais. Eleito em 1955, Juscelino realizou um dos melhores governos da
38

história republicana. Estimulou a criação do parque industrial de bens de consumo,


especialmente os automóveis e deslocou a capital para o interior do Brasil.

Brasília foi inaugurada no final do seu mandato, em 1960. Tratou de forma


benigna a oposição, bem como, os dois levantes militares que foram facilmente
neutralizados.

As profundas modificações que causou na estrutura social e econômica do


Brasil foram os verdadeiros legados daquele governo. Com ele o Brasil saltou em
definitivo rumo à industrialização e à internacionalização da sua economia.

A crise de 1961

Nas eleições de 1960 o povo brasileiro elegeu Jânio Quadros, ex-


governador de São Paulo, por uma maioria esmagadora de votos. Passados sete
meses de sua posse, Jânio Quadros renunciou lançando o País na sua mais grave
crise do após-guerra.

Os ministros militares negaram-se a obedecer a Constituição e darem posse


ao Vice-Presidente João Goulart, acusando-o de ser simpatizante da implantação de
uma república sindicalista. Na realidade temia-se a agitação provocada pela
Revolução Cubana que entrava então na sua fase radical, realizando uma reforma
agrária e banindo as burguesias agrárias e urbanas da ilha.

Leonel Brizola governador do estado do Rio Grande do Sul lança em Porto


Alegre, em agosto de 1961, o manifesto pela “Legalidade” que visava dar posse a
Jango, então ausente do País, em viagem pela China Comunista. O Exército dividiu-
se quando o comandante do III Exército, General Machado Lopes resolveu apoiar
Brizola. A guerra civil foi evitada graças a uma emenda constitucional que introduziu
no Brasil o sistema parlamentarista. Por ele João Goulart tomava posse, mas teria
de dividir seus poderes com o Congresso que passava a controlar seu ministério.
Jango aceitou, mas depois realizou um plebiscito reintroduzindo o presidencialismo
em 1963.
39

O golpe de 1964 – antecedentes históricos

Na concepção da ciência política clássica, a palavra revolução é entendida


como um fenômeno sociopolítico radical e violento que remove à força, em geral por
meio de uma guerra civil sangrenta, as classes dirigentes tradicionais, arrancado-as
do poder e substituindo-as por uma outra força, composta pela nova geração
emergente (como ocorreu na Revolução Americana de 1776 e na Francesa de 1789,
ou com as revoluções comunistas que ocorreram na Rússia, em 1917, e na China, a
partir de 1949).

Evidentemente que o Movimento de 1964 não promoveu nada disso, visto


que não derrubou nenhuma aristocracia hereditária ou monarquia reinante e nunca
cogitou “expropriar os expropriadores”. Ao contrário. Em momento algum ele deixou
de ser amparado pelas elites tradicionais (os empresários da indústria e do
comércio, os poderosos latifundiários e fazendeiros, e as grandes corporações
estrangeiras), e mesmo por parte majoritária do Alto Clero Católico (pelo menos até
1968). Se o comparássemos à Revolução Francesa de 1789, poderíamos dizer que
no Brasil de 1964, ocorreu a vitória do Primeiro e do Segundo Estado (o alto clero e
a nobreza) contra o Terceiro Estado (o povo).

O que o Movimento de 1964 fez de imediato, assegurado o golpe, foi afastar


o núcleo dirigente que cercava o Presidente João Goulart, composto por políticos
populistas, esquerdistas e militares nacionalistas, neutralizando no mesmo instante
todas as instituições jornalísticas, sindicais, estudantis e populares identificadas com
ele.

Passados 46 anos, observa-se que praticamente os mesmos grupos


econômicos e sociais que existiam antes de 1964 continuam tendo papel relevante
na sociedade brasileira, não havendo, pois uma substituição da verdadeira camada
dirigente. Afinal, se a palavra “golpe” é restritiva, e a palavra “revolução” é muito
ampla para tentar definir o movimento político-militar que se impôs a partir de 1964,
qual seria a classificação mais adequada?

Segundo alguns autores, o mais aproximado é dizer-se que o que ocorreu


em março de 1964 foi uma contrarrevolução. Isto é, um movimento de ruptura da
legalidade constitucional para evitar que o regime reformista de João Goulart se
40

transformasse num regime revolucionário, ou numa República Sindicalista Radical


(similar ao dos tempos áureos do peronismo argentino).

Foi, pois, uma ação preventiva, uma contrarrevolução, na medida em que as


Reformas de Base alardeadas pelo chefe populista, com promessas de reforma
agrária, estatizações e nacionalizações, pareciam às classes conservadoras a ponta
de lança da comunização do país. Por igual, as seguidas ameaças da esquerda não
comunista e do populismo radicalizado de ignorar as instituições vigentes e de
propor um Congresso Popular, ou ainda de clamar nas rádios e nos comícios a
intenção de fazer passar as reformas “na lei ou na marra”, como dizia-se então,
muito colaboraram para que os golpistas se apresentassem frente à nação como os
defensores da ordem constitucional em vias de ser ameaçada.

Historicamente, se bem que longe de provocar o mesmo número de vítimas,


o Movimento de 1964 é tributário da La Cruzada, o levante do general Francisco
Franco contra a República da Frente Popular da Espanha, feito em 18 de julho de
1936, como inspirou o violento golpe dado pelas forças armadas chilenas, lideradas
pelo general Augusto Pinochet, que derrubou o governo socialista do Presidente
Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, impondo um Estado de Segurança
Nacional ao país. Destaca-se, todavia, que o Movimento de 1964 não produziu
nenhuma liderança „caudilhesca‟ que dominasse inteiramente o cenário da ditadura.

O Regime Militar que se seguiu foi do princípio ao fim, de 1964 a 1985, o


regime da corporação armada (SCHILLING, 2004).

O mundo pós 2º Grande Guerra

No quadro externo, a Guerra Fria entre o capitalismo estadunidense e o


socialismo (em verdade uma espécie de capitalismo de Estado) soviético
esquentava cada vez mais. Em janeiro de 1959, Fidel Castro, Che Guevara e outros
idealistas entravam vitoriosos em Havana, colocando para correr a ditadura pró-
estadunidense de Fulgêncio Batista. Cuba fica a cerca de 160 milhas náuticas de
distância da Califórnia. Quando, em 1961, Fidel Castro anunciou que a Revolução
Cubana seguiria na direção do Socialismo foi uma calamidade para os Estados
Unidos da América. Tanto pela proximidade do inimigo “em seu quintal” quanto pelo
41

exemplo que potencialmente trazia a outras Nações colocadas sob a órbita de


influência estadunidense desde a Doutrina Monroe – A América para os Americanos.

De fato, cresciam e se fortaleciam após anos de exceção nacionalista


burguesa, os partidos e movimentos de esquerda na América Latina: os Montoneros
no Uruguai, os Tupamaros no Peru, o Partidão no Brasil, o MIR (Movimiento de
Izquierda Revolucionária) chileno, etc. Todos seduzidos pelo exemplo de um grupo
idealista capaz de mobilizar as massas a expulsar o invasor estrangeiro fosse na
forma de capital, fosse na forma de sua presença física. Surgia no Cone Sul a
polarização entre a direita (que, desde sempre, defende o Capital e a manutenção
da Ordem colocada e benéfica a poucos banqueiros, empresários e latifundiários) e
a esquerda (que, desde sempre, defende os direitos do Ser Humano contra o Capital
– que o Capital seja colocado a serviço do Humano ao invés do Humano a serviço
do Capital, lutando por uma Nova Ordem) (CHAVES, 2006).

Assim, no cenário mundial, a partir de 1946, o mundo ficou dividido em dois


grandes blocos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco
comunista, liderado pela União Soviética (SANTOS, 1962).

O Brasil, por sua tradição histórica e por seu modelo econômico, pertencia
naturalmente ao modelo capitalista, sob a bandeira da livre empresa, aliado ainda à
sua forte realidade religiosa incompatível com o ateísmo soviético.

Nos governos dos presidentes Jânio Quadros e João Goulart, não por
convicção ideológica, mas por uma curta visão política, todo este arcabouço
histórico do Brasil foi ameaçado de ruptura violenta tentando estes governos orientar
o Brasil para o lado do bloco soviético.

Ao lado desta situação política, caótica, que provocou protestos da


sociedade civil, da Igreja, da Imprensa, dos Empresários, das Classes Profissionais,
das donas de casa e dos militares, a Economia Brasileira enfrentava inflação
galopante com índices mensais superiores a 60%, elevado desemprego e baixo
crescimento.

Voltando à situação do mundo na década de 1960 do século XX, o Golpe de


1964 enquadra-se dentro da situação política mundial pós Segunda Guerra, auge da
Guerra Fria, quando EUA e URSS atuavam no sentido de ampliar suas áreas de
influência em todos os quadrantes do mundo. A estratégia era apoiar grupos
42

políticos rivais dentro de uma nação e através da possível vitória destes, submeter
os governantes, alçados ao poder, ao atendimento de seus interesses.

O Golpe Militar de 64 se insere nesse processo. Os Estados Unidos


apoiaram o golpe contra João Goulart (Jango) que supostamente era um
simpatizante soviético. Indícios e provas sobre o apoio dos EUA não faltam. Hoje,
sabe-se que o embaixador americano, Lincoln Gordon e o adido militar, Coronel
Vernon Walters, atuaram ativamente nas decisões que antecederam o 31 de março.

Segundo Branco (2006), diversos documentos comprovam que Gordon


sabia da existência de uma operação para dar apoio à revolução, caso houvesse
uma resistência. A operação tinha o nome de “Brother Sam”.

Como parte desse acordo pode-se relatar os vários encontros realizados


sigilosamente entre militares e diplomatas brasileiros e americanos com o intuito de
tratar de segurança e de cooperação industrial e militar e os vários contratos de
compra de material bélico assinados pelo Brasil no exterior.

Não pode ser esquecida, ainda, a contribuição substancial da igreja, com a


campanha anticomunista do padre Patrick Peyton, que ao lançar a Cruzada do
Rosário em Família promoveu uma intensa mobilização dos católicos, visando atingir
o governo constituído. As pregações do padre Peyton influenciaram na ação de
senhoras da classe média, que de rosário nas mãos, conturbaram um comício de
Leonel Brizola em Belo Horizonte e o Comício da Central do Brasil promovido pelo
governo Jango, no Rio. Multidões de pessoas saiam em manifestações chamadas
Marcha da Família com Deus pela Liberdade que acabaram por conquistar
as camadas médias da sociedade e engrossaram as manifestações de repúdio,
ao governo vigente.

Em 01 de abril de 1964 o Brasil acordou sob novo regime. Um golpe,


liderado por militares e os setores conservadores da sociedade brasileira,
depuseram o presidente João Goulart (Jango) e deram início a um regime ditatorial
que sufocou o país por 21 anos.

Sufoco relativo se compararmos aos dias atuais e aos anteriores ao golpe.


Os governos populistas, apesar das promessas e feitos, não eram isentos de vícios:
nepotismos, privilégios, falcatruas, empobrecimento das camadas populares e
arrocho sobre as camadas médias, aumento da dívida externa e da inflação, etc.
43

Na opinião de alguns historiadores e cientistas políticos se era ruim, ficou


pior após o golpe e hoje está péssimo: conchavos políticos, corrupção, desemprego,
saques, assaltos a bancos, falta de segurança interna, disfarçado abandono dos
hospitais e escolas públicas, dívida externa astronômica; endividamento público
correspondente a 60% do PIB; falsos índices de inflação; arrocho fiscal e salarial;
cumplicidade cínica e espoliativa com organismos financeiros internacionais, entre
outros (CHIAVENATO, 1994; FAUSTO, 1997; DEL NERO, 2001).

Os antecedentes do golpe

O suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, representou a vitória


dos partidários do desenvolvimento dependente do capital estrangeiro. Contudo,
seria um exagero atribuir o suicídio apenas a essa questão e, sobretudo, emprestar
a ele, postumamente, a imagem de um nacionalista intransigente. Contrariamente ao
que se pode supor, o comportamento político de Getúlio em relação ao capital
estrangeiro - ao imperialismo, em suma - era bastante flexível, e em nenhum
momento se descartou por completo sua participação na economia brasileira.
Getúlio só não concordava com o alinhamento completo do Brasil aos Estados
Unidos, como estes pareciam desejar. Na verdade, recusava-se a atuar como peça
subordinada ao capital estrangeiro (FAUSTO, 1997; KOSHIBA, 1993).

A ascensão de Juscelino Kubitschek, em 1956, marcou o início do


processo de industrialização inteiramente ajustado aos interesses do capital
internacional. Apesar da composição das forças políticas que serviram de base para
sua eleição, o governo juscelinista definiu com clareza o rumo da industrialização ao
implantar o modelo desenvolvimentista, estreitamente associado ao capital
estrangeiro. Parece estranho que isso possa ter ocorrido com um governo
aparentemente herdeiro do getulismo, pois é preciso notar que João Goulart era seu
vice-presidente e que sua candidatura triunfou através da velha coligação PSD-PTB.

Todavia, seria precipitado atribuir essa “guinada em favor do capital


estrangeiro” a uma política deliberada de Kubitschek. Na realidade, sua posição
diante do capital estrangeiro, tanto quanto a de Getúlio, era ambígua, e sua
ambiguidade refletia a própria indecisão da formação capitalista no Brasil. De fato, a
burguesia industrial brasileira sentia-se incapaz de conduzir o processo de
44

industrialização em posição hegemônica, prensada como estava entre a participação


do Estado e a do capital estrangeiro, representado pelas multinacionais.

A execução do Plano de Metas de Juscelino foi, nesse sentido, a grande


responsável pela definitiva configuração do modelo de desenvolvimento industrial
que o Brasil finalmente adotaria. Efetivamente, com esse ambicioso plano, a
penetração do capital estrangeiro ocorreu de forma maciça, ocupando os ramos da
indústria pesada: indústria automobilística e de caminhões, de material elétrico e
eletrônico, de eletrodomésticos, de produtos químicos e farmacêuticos, de matéria
plástica. Iniciou-se aí a organização das multinacionais, que, monopolizando aquele
que viria a ser o setor mais dinâmico da economia, estavam destinadas a exercer
inegável influência na redefinição da orientação econômica e, também, política do
Brasil.

De acordo com Fausto (1997), segundo ainda o Plano de Metas, o capital


estatal ficou encarregado de viabilizar o programa da infraestrutura destinado a
sustentar o modelo, através da construção de rodovias e da “ampliação do potencial
de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica”.

Ao lado dos problemas internos gerados pelo modelo de industrialização, um


outro se apresentou, e este com maior peso: a penetração e consolidação das
empresas multinacionais. Desde Juscelino (Plano de Metas), a instalação de
multinacionais no Brasil foi maciça. A partir de então, os setores fundamentais da
indústria foram passando para o controle estrangeiro. Segundo Cohen (2006), o
controle externo das indústrias automobilísticas, de cigarro e de eletricidade variou
em torno de 80% a 90%. Nas indústrias farmacêutica e mecânica, a proporção foi de
70%.

Ainda de acordo com Cohen (2006), o resultado principal dessa nova


conjuntura foi a minimização da importância da burguesia nacional, que passou para
o plano secundário, muitas vezes como sócia menor das grandes corporações
internacionais. Isso significa que os postos de comando de tais indústrias estavam
em mãos de indivíduos diretamente designados pela direção da matriz estrangeira,
ou seja, os centros de decisões se encontravam fora do país. Essa situação levou
ao inevitável agravamento do desequilíbrio no Balanço de Pagamentos: a remessa
de lucros para o exterior, além dos pagamentos pelo uso de marcas e patentes
45

(royalties) e da importação de maquinaria, superou rapidamente o capital que as


multinacionais inicialmente investiram.

Naturalmente, as contradições engendradas pelo modelo de


desenvolvimento da industrialização adotado na década de 1950 expressaram-se
através do aguçamento das lutas sociais e políticas. A presença do capitalismo
internacional e o seu papel cada vez mais decisivo no controle de nossa economia
tiveram, por seu turno, uma importância certamente não desprezível no desfecho da
luta. O movimento militar de 1964 teve aí suas raízes e as suas razões (KOSHIBA,
1993).

Quando Jânio Quadros renunciou à presidência, “Jango” estava em viagem


à China comunista, acompanhado de líderes trabalhistas, convocados para
observação e estudo das comunas populares daquele país (Del Nero, 2001, p. 70).

O prenúncio da revolta dos marinheiros, no Rio de Janeiro, e da Revolta dos


Sargentos, em Brasília, segundo Del Nero, foi o pronunciamento feito por Jango na
China.

“Jango” fez um pronunciamento radical, em que revelou sua intenção de


estabelecer também no Brasil uma república popular, acrescentando que, para
tanto, seria necessário contar com as praças para esmagar o quadro de oficiais
reacionários (DEL NERO, 2001, p.71).

O meteoro Jânio Quadros - De obscuro professor de ginásio no subúrbio,


passando por vereador que só ocupou a cadeira depois que o PCB foi cassado, em
seguida prefeito, governador de São Paulo e finalmente presidente da República do
Brasil: Jânio da Silva Quadros (1917 - 1992) chegou e saiu do governo como um
meteoro.

Em 1960, o Brasil se encontrava numa encruzilhada. Conseguiríamos nos


desenvolver mesmo, ou os problemas graves eram o sinal da crise? Então, para
muita gente, Jânio parecia ser a solução.

Pelo menos parecia para as classes dominantes, porque sempre foi


conservador e autoritário. Todos sabiam que ele não ameaçava com nenhum
nacionalismo ou esquerdismo. Além do mais, seria apoiado pela conservadora UDN.
46

Parecia a solução para a classe média udenista, porque Jânio falava


português com impecável gramática e isso mostrava que ele não se dirigia à “massa
ignara”, mas às “pessoas de bem, instruídas, de bom gosto, que sabem o que é
melhor para o país”. Além disso, vivia falando em moralidade pública, em instaurar
auditorias e prender os corruptos, "botar os vagabundos dos funcionários públicos
para trabalhar", em se tornar um administrador moderno e eficaz (SCHIMIDT, 1996).

Grande parte da população, já naqueles tempos de 1960, detestava partidos


e políticos. Pois Jânio candidatou-se por um partido de pouquíssima ou nenhuma
expressão para que as pessoas acreditassem que era o único que não tinha
compromisso com algum segmento que não fosse o povo. Mas na realidade Jânio
Quadros montou um acordo aberto com a UDN. O próprio Lacerda, diria sem rodeios
que o caminho da UDN para o Palácio do Planalto passava pela eleição do Sr.
Quadros para a presidência (QUADROS NETO; GUALAZZI, 1996).

Ainda segundo Quadros Neto e Gualazzi (1996), Jânio venceu fácil. Votação
sensacional: 5,6 milhões de votos contra apenas 3,8 milhões de Lott (PSD + PTB). A
UDN podia comemorar! Conseguira eleger dois importantes governadores: Lacerda,
na Guanabara (ex-Distrito Federal, depois que a capital foi transferida para Brasília),
e Magalhães Pinto, em Minas Gerais.

Empossado na presidência, Jânio fez um governo estranhíssimo.

Para controlar a inflação propôs “austeridade”. No dicionário da burguesia


nacional, essa palavra quer dizer salários congelados, apesar da inflação. O Brasil
não mudara muito. Além disso, cortou gastos públicos. O que resultava em menos
hospitais e escolas. O trigo e o petróleo perderam os subsídios. Assim, os preços do
pão e da gasolina aumentaram em 100%. Ao FMI agradou e recebeu promessas de
empréstimos.

Claro que essas medidas irritavam a esquerda. Mas isso não interessava a
Jânio, já que sempre a insultava. O problema, é que ele começou a tomar medidas
estranhas que acabaram irritando seus próprios aliados direitistas da UDN.

Na verdade, Quadros Neto e Gualazzi (1996) a personalidade de Jânio era


extremamente instável e talvez tivesse um sonho megalomaníaco: aparecer na
história como o maior líder independente do Terceiro Mundo. Dentro desse ideal de
autonomia na política externa, reatou relações diplomáticas com a URSS e a China
47

socialista. Era só uma aproximação comercial, que interessava a empresários


brasileiros. O problema despontou, segundo para Braga (2006), quando resolveu,
sem motivo aparente, condecorar com a Ordem do Cruzeiro do Sul, Ernesto Che
Guevara (guerrilheiro comunista da Revolução de Cuba) num momento em que os
EUA estavam furiosos com Havana. Conseguiu com o feito, aparecer nas páginas
de jornal do mundo inteiro.

O Presidente Jânio Quadros havia entrado em atrito com os chefes militares,


ao conceder a Medalha do Cruzeiro do Sul a Ernesto “Che” Guevara, em solenidade
na capital brasileira. A divisão nas Forças Armadas aumentou após a renúncia de
Jânio, em 1961, pois muitas autoridades militares não aceitavam a posse do Vice,
João Goulart, visto como “comunista”. Na ocasião, “Jango” estava em viagem à
China comunista, acompanhado de “líderes trabalhistas, convocados para
observação e estudo das comunas populares daquele país” (DEL NERO, 2001, p.
70).

Em compensação, Jânio desagradou completamente a UDN e o


Departamento de Estado norte-americano.

Entre os seus feitos no curso meteórico do seu governo, tomou outras


atitudes pouco entendidas até os dias de hoje, como por exemplo: se empenhar ao
máximo e proibir as rinhas de galo, o uso de biquíni nas praias e corrida de cavalos
no meio da semana, entre outras.

Tropeçou na sua estratégia e acabou tendo que renunciar em agosto de


1961, após sete meses de governo.

Só restou ao Congresso aceitar sua decisão. Assumia a presidência,


provisoriamente, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili. O país
acabou por entrar em uma crise política terrível, beirando à guerra civil. Não
obstante, a direita não quisesse a posse de seu vice, João Goulart, do PTB, mas
como mandava a constituição, assumiu e foi ele o pivô da crise final da fase
populista.

Considerado esquerdista pelos setores mais conservadores, e, portanto uma


ameaça, Jango sofreu pressões políticas comandadas pelo partido de oposição da
época, a UDN e pela cúpula, que pretendiam impedir sua posse. Apoiava essa
48

medida também, setores da imprensa, da igreja e outros organismos ditos idôneos


da sociedade.

Mas se tinha inimigos, tinha também amigos que o apoiava e eram contra os
conservadores e a favor da posse, principalmente o governador do Rio Grande do
Sul, Leonel Brizola, e algumas lideranças militares de poder decisório significativos.

Essa crise sucessória foi contornada com uma medida conciliatória: a


aprovação de uma Emenda à Constituição, criando o parlamentarismo no país. No
parlamentarismo, o poder é dividido entre o Chefe de Estado e o Chefe de Governo.

O primeiro não governa, é apenas uma autoridade representativa da nação


sem poder decisório. Quem governa é um primeiro-ministro escolhido pelo
Congresso.

Assim, a constituição fora cumprida. Jango assumiu o poder e a


oposição havia sido atendida. Jango não seria o efetivo governante do país.

Necessário se faz explicar como um presidente apoiado pela UDN, tivesse


em sua chapa um vice do PTB. É que naquela época, além de votar em presidente,
também votava em vice-presidente. Mais ainda: podia votar em candidatos de
chapas diferentes. As duas principais chapas eram Jânio e Milton Campos (um
político da UDN) contra Lott e Jango, ambos do PTB. Muita gente votou na
dobradinha Jan-Jan: Jânio e Jango.

João Goulart (1918-1976) pertencia a uma família de ricos fazendeiros


gaúchos, nada tinha de esquerdista. Sempre foi a favor do capitalismo. Só não
concordava com a selvageria do capitalismo brasileiro. Acreditava em reformas
sociais.

Durante todo o Governo João Goulart, a tônica predominante foi a reforma


agrária. O tema tomou conta de todos os conselhos do Governo. Até quem não
entendia nada e muito menos de reforma agrária passou a discutir, nos corredores
dos palácios presidenciais, sobre reformas de base e, principalmente, a agrária
(JUREMA, 1964, p.24)

Embora Jango viesse de uma família de latifundiários, acreditava na reforma


agrária. Quando ministro do Trabalho de Getúlio, propôs aumentar o salário mínimo
em 100%, provocando um coro de protestos dos empresários. A direita jamais
49

esquecerá este fato. Jango não se abalava. Herdeiro da tradição populista de


conciliação entre a burguesia e o proletariado, quis o apoio do PSD e do PTB, mas
também aceitou alianças com a esquerda e os comunistas. Este foi o grande
problema: as contradições sociais eram muito fortes. A luta de classes, aguda
demais. Naquele momento, não era possível conciliar como ele pretendia. Sua
incompreensão destas contradições – elas próprias motivantes – redundaram na
tragédia do golpe militar de 64.

Os setores mais reacionários odiavam Goulart. Quando Jânio renunciou,


João Goulart (que o povo chamava carinhosamente de Jango) deveria assumir. A
UDN esperneou. A direita militar ruminava contra. Os jornais O Globo e O Estado de
S. Paulo faziam coro.

Jango estava na China, em viagem diplomática. Percebeu que não dava


para voltar logo. Incendiaria o país. Prudente, aguardava os acontecimentos no
Brasil.

Foi quando então se levantou a autoridade de Leonel Brizola, governador do


Rio Grande do Sul. Brizola comandou a resistência a este golpe branco. Através da
rede pela legalidade, reuniu dezenas de pessoas, rádios e jornais que defendiam a
Constituição. Afinal, a Constituição era bem clara; estando a presidência vaga, quem
assumia era o vice. Não havia o que discutir. Brizola não era o baderneiro, era o
defensor das leis. Por sorte, contava com o apoio do general Machado Lopes,
comandante do III Exército (SCHIMIDT, 1996).

O impasse estava instaurado. A qualquer momento, tropas legalistas


poderiam enfrentar as forças contra a posse. Haveria a guerra civil? Na hora “H”, o
Congresso deu um jeitinho. Jango poderia assumir, mas sem poderes, porque agora
o Brasil passava a ter um Estado parlamentarista.

Ao assumir, Jango, se posicionou em defesa das reformas de base,


principalmente a Reforma Agrária e a de controle do capital estrangeiro, que
considerava espoliativo.

João Goulart, do PTB, se considerava um herdeiro político de Getúlio


Vargas. Seu plano político também era populista, Ele esperava que o Estado fosse o
intermediário de um acordo nacional entre os militares, os intelectuais nacionalistas,
a burguesia industrial nacionalista e os sindicatos.
50

Todo o plano furou.

A burguesia industrial “nacionalista” não se empenhou a favor da reforma


agrária. Ela também nada tinha de nacionalista. Estava exasperada para montar
negócios com as multinacionais.

Os militares se apavoraram com a agitação sindical. Para eles, Jango era


incapaz de conter o avanço comunista.

Goulart realmente tentou usar os sindicatos a seu favor. Estimulou greves


políticas para pressionar o Congresso, bajulou pelegos. Isso irritava demais a direita,
que o acusava de querer montar uma "república sindical" ao estilo peronista.

O Parlamentarismo: 1961 –1963

Quem passava a governar era o primeiro-ministro, nomeado pelo presidente.


Mas o parlamento tinha de aprovar a nomeação (com certeza, tinha de estar ligado
aos partidos majoritários no Parlamento, ou seja, no Congresso Nacional), caso
contrário o presidente teria que indicar outro nome (SKIDMORE, 1979).

O primeiro Primeiro-ministro foi Tancredo Neves, experiente político mineiro


do PSD. Para formar o gabinete (sua equipe de ministros), chamou uma porção de
pessedistas e dois da UDN. Moderado, Tancredo visitou os EUA, falou mal do
comunismo e voltou com a mala cheia de dólares emprestados para ajudar as
oligarquias do Nordeste a se perpetuarem no poder no melhor estilo coronelista.

Para substituir Tancredo, Jango indicou outro mineiro, San Tiago Dantas da
ala moderada do PTB, ex-ministro do Exterior (cuidava da relação do Brasil com os
outros países) de Tancredo. Mas na conferência da OEA (Organização dos Estados
Americanos), em Punta del Este, os EUA propuseram a expulsão de Cuba. O
diplomata brasileiro se absteve de votar, irritando a direita. Resultado: o parlamento
vetou seu nome.

Surgiu então o nome do empresário e senador paulista Auro de Moura


Andrade para ser o primeiro-ministro. A situação era tão problemática que
simplesmente estourou uma greve geral de 24 horas nas empresas estatais
(refinarias, trens, ônibus, estivadores) contra a nomeação de Auro, excessivamente
conservador. Greve política, operários que cruzaram os braços para mudar um
51

governo. Mostra da força do PTB e até do PCB para mobilizar politicamente massas
operárias. Mas também - todos desconfiavam - sinal de que Jango dava um
empurrãozinho nos sindicatos para pressionar o Congresso. As coisas estavam
esquentando no país.

Jango nomeou outro político quase desconhecido do PSD gaúcho, Brochado


da Rocha que antes de sair (entrou em seu lugar, Hermes Lima) propôs - e o
Congresso aceitou - antecipar o plebiscito sobre o parlamentarismo para 1963. Ou
seja, o povo é que iria decidir sobre os poderes de Jango.

Este Plebiscito, realizado em 1963 deu esmagadora vitória ao


presidencialismo (proporção de 10 por 1). Acabava-se o parlamentarismo. João
Goulart finalmente ganhava plenos poderes presidenciais. Mas pouco pôde fazer.
Meses depois seria derrubado pelo movimento militar de 1964 (SKIDMORE, 1979).

O presidente João Goulart acreditava que o país precisava de reformas de


base. O problema é que elas mexeriam com os privilégios de muita gente poderosa
no Brasil. Esses poderosos viram no golpe militar a barreira que manteria sua
confortável posição.

O Brasil inteiro falava delas. Jango, o PTB, os estudantes da UNE, o PCB e


os sindicatos eram a favor. A UDN, grande parte do PSD, quase toda a imprensa,
grandes empresários e militares conservadores eram contra. O país ficaria dividido
até que um dos lados impusesse sua opinião com tanques de guerra.

A primeira das reformas de base era a sonhada reforma agrária. Não era
possível que o Brasil, com extensões de terras gigantescas nas mãos de
proprietários que nada plantavam, permitisse que milhões de famílias moradoras do
campo passassem fome porque não possuíam nenhum pedacinho de terra para
cultivar. Japão, França, Alemanha, e até México e China, já tinham realizado
reforma agrária. Por que o Brasil não poderia fazer uma?

Para executar a reforma agrária, o governo confisca uma parte das terras do
latifundiário, ou seja, o desapropria. Essa terra é dividida entre os sem-terra, que
passam a ser pequenos fazendeiros. O problema era que a Constituição só admitia
a desapropriação de terras em caso de utilidade pública, se o governo indenizasse
os proprietários em dinheiro. Ora, simplesmente o Estado não tinha dinheiro para
indenizar tantos latifundiários, a não ser que indenizasse com títulos da dívida
52

pública, ou seja, uma espécie de conta que o governo assume pagar, muitos anos
depois, com juros. Mas aí seria preciso mudar a Constituição. E como mudá-la se o
Congresso estava cheio de conservadores da UDN e do PSD? Um projeto de
expropriação sem indenização em dinheiro foi vetado em 1963. Talvez aí estivesse
um dos erros de Jango: ele avaliou que poderia deixar rolar os protestos populares
que o Congresso, acuado, faria as leis. Porém aconteceria o contrário: a classe
dominante, apavorada com os protestos, veria em Jango apenas um fraco incapaz
de controlá-los. Pediria a deposição ou renúncia do presidente.

Outra das reformas de base era a reforma urbana, que controlaria o valor
dos aluguéis de imóveis e ajudaria os inquilinos a comprar a casa própria. A classe
média alta, dona de mais de um imóvel, ficaria apavorada com a "ameaça comunista
de tomar o que é dos outros".

As reformas de base também eram reformas políticas: direito de voto para


analfabetos e de sargentos e patentes inferiores nas Forças Armadas. Naturalmente,
os defensores das reformas de base imaginavam que esses grupos iriam despejar
votos a seu favor. Os comandantes militares torceram o nariz para a ideia de
sargentos, cabos e soldados votarem. Achavam que isso traria indisciplina para as
tropas. As elites e a classe média também repudiavam o voto dos analfabetos, a
quem consideravam “despreparados”.

As reformas de base eram bem nacionalistas. Incluíam a proibição de


empresas estrangeiras operarem em setores como os de energia elétrica,
frigoríficos, indústria de remédios, refinarias de petróleo, telefones. Naquela época,
os nacionalistas achavam que as empresas estrangeiras atuavam nesses setores
pensando unicamente em seus lucros, pouco se importando com os interesses da
nação. Além disso, argumentavam que não tinha cabimento a empresa estrangeira
lucrar horrores e mandar esses lucros para fora do país, haja vista que uma
empresa nacional poderia fazer o mesmo serviço e usar os lucros para reinvestir no
crescimento da própria economia brasileira. Achavam ainda que a maioria das
multinacionais exercia uma concorrência desleal, prejudicando os empresários
nacionais.

A reforma da educação era outro ponto importante, e tinha apoio da UNE


(União Nacional dos Estudantes). Havia necessidade de mais escolas e
53

universidades públicas de bom ensino. Os estudos deveriam ser voltados para os


problemas nacionais do Brasil.

As reformas de base eram uma proposta para outro tipo de desenvolvimento


capitalista nacional. Mas elas mexiam com muitos grupos poderosos. Grupos que
não tolerariam perder alguns privilégios. Para mantê-los, recorreriam à mão armada
do golpe militar.

Naquela época, todos os dias aconteciam greves, nada funcionava, o país


estava parado.

No campo as coisas estavam piores ainda. As leis trabalhistas não


funcionavam e foi ai então que se formaram as Ligas Camponesas. Elas
organizaram milhões de camponeses nordestinos, os mini-fundiários e os pequenos
arrendatários. Em alguns lugares do Brasil, a agricultura já usava máquinas
agrícolas e pesticidas. Ou então, o fazendeiro parava de plantar para criar gado
bovino. Nos dois casos não precisava mais de tantos camponeses. Pois as Ligas
Camponesas, lideradas por Francisco Julião, um advogado pernambucano de idéias
socialistas, organizavam esses homens na luta por seus direitos. Faziam greves,
recusavam-se a sair das terras e, principalmente, exigiam do governo a reforma
agrária.

Em Pernambuco, 1963, dezenas de milhares de trabalhadores das usinas de


açúcar fizeram uma greve espetacular. Os jagunços fizeram de tudo para acabar
com o movimento, mas nada adiantou. Os patrões tiveram de ceder. E, pela primeira
vez, os empregados das usinas conquistavam o direito de ganhar o salário mínimo.

Para os latifundiários, a existência de ligas camponesas e de greves de


trabalhadores rurais era sinônimo de bagunça. E para os camponeses, ter uma
associação para defender seus interesses, era organização.

Ainda em 1963, Jango sancionou o Estatuto do Trabalhador Rural.


Finalmente, as leis trabalhistas começavam a chegar ao camponês. Agora, a
legislação obrigava o fazendeiro a pagar salário mínimo, assinar carteira de trabalho,
garantir o repouso semanal e remunerar as férias.
54

Jango se tornou para os latifundiários, um terrível agitador. Nessa época


Miguel Arraes, governador de Pernambuco, pela primeira vez botou a polícia do lado
dos camponeses, do lado da lei (SKIDMORE, 1979).

Enfim, para uma boa parte da classe trabalhadora, intelectuais, políticos de


esquerda e estudantes, o Brasil não era uma baderna. Estava ficando organizado
como nunca esteve antes. As pessoas estavam descobrindo a importância de se
associar para lutar por seus direitos, em vez de lamentar suas misérias, erguiam-se
e lutavam para acabar com elas.

As greves estavam se revelando importantes instrumentos de luta. Em 1962,


foi criado o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), uma central sindical visando
unificar as lutas do país inteiro. Para os trabalhadores, essas vitórias eram o
resultado da organização operária. Afinal, depois de uma greve geral, foi aprovada a
lei do décimo terceiro salário.

A UNE vivia uma virada sensacional. Seu presidente em 1960, o goiano Aldo
Arames, pertencia à AP (Ação Popular). O pessoal da AP vinha da JUC (Juventude
Universitária Católica) e, em princípio, não era marxista. Até 1964, eles estariam na
direção da UNE. Aliás, como bem lembra Schimidt (1996), em 1963 o presidente da
UNE era o paulista José Serra, anos mais tarde ministro neoliberal de FHC.

Naquela época os estudantes levavam muito a sério a luta política. A


geração dos anos 60 e começo dos 70 acreditava que a luta política realmente
mudaria o mundo inteiro. Por isso a UNE era tão importante e tão perigosa para os
poderosos.

O pessoal da UNE acreditava que o ensino não podia ser elitista, como se
dizia na época. A universidade precisava ser comprometida com as necessidades
nacionais, formar pessoas capazes de pensar os problemas brasileiros em vez de
ficar seguindo as instruções norte-americanas. Os conhecimentos não deveriam
ficar presos à sala de aula e ao laboratório, eles deviam ser levados ao povo.

Dentro desses ideais, a UNE criou os CPC (Centros Populares de Cultura),


nos quais se faziam representações de peças de teatro na rua, de autores como
Oduvaldo Viana Filho e Gianfrancesco Guarnieri, shows de música e poesia,
sessões de cinema com filmes politizados (de diretores como Pasolini, Glauber
Rocha), debates em praça pública e auditórios. Tudo com objetivo educativo: de
55

modo divertido e fácil de entender, mostravam às pessoas nas ruas a necessidade


de combater o “imperialismo norte-americano” e de defender as reformas de base.

No Congresso Nacional, a força de apoio de Jango era o PTB, segundo


partido em tamanho. Brizola, por exemplo, tinha sido eleito deputado federal com a
maior votação do Brasil (pela Guanabara. Prova de sua popularidade junto à antiga
capital). A Frente Parlamentar Nacionalista unia os deputados e senadores
favoráveis às reformas de base.

Apesar da liberdade de atuação (Prestes era uma figura pública, dava


entrevistas e palestras), o PCB mantinha-se na ilegalidade. Para escapar da
proibição da lei, os comunistas elegeram diversos deputados e vereadores pela
legenda do PTB.

Como de costume, o PCB tinha enorme prestígio entre estudantes e


sindicalistas. Mas a força dele ainda era bem pequena. Além disso, continuava a
achar que o Brasil não estava preparado para o socialismo. Por isso, apoiava as
reformas de base de Jango, que eram apenas uma melhorada no capitalismo
nacional. Tinham força porque eram organizados e conscientes, mas eram
relativamente poucos.

Talvez a melhor maneira de traduzir o clima intelectual e político do Brasil


naquele começo dos anos 60 seja a descoberta do verbo conscientizar. Ele surgiu
naquele momento porque expressava com perfeição o que os brasileiros estavam
fazendo: o Brasil começava a pensar a si mesmo, começava a tomar consciência de
seus problemas e de como resolvê-los por conta própria. As pessoas acreditavam
que era possível mudar muita coisa para melhor. As pessoas estavam se
conscientizando.

Como se observou, o Brasil do começo dos anos 60 estava cheio de atritos.


De um lado, as forças da mudança, que apoiavam as reformas de base. Do lado
contrário a potência do conservadorismo de direita.

Contra Goulart tínhamos os latifundiários e os empresários, sem falar no


pavor de o governo inventar impostos pesados sobre as grandes fortunas.

No Congresso Nacional, a UDN e outros deputados conservadores


formaram a Ação Democrática Parlamentar para bloquear as reformas de base.
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A classe média, geralmente udenista, tinha horror a um presidente que se


aproximava dos trabalhadores. As greves que paralisavam os transportes e os
serviços de luz irritavam demais. Acreditavam que os aumentos salariais só serviam
para aumentar a inflação.

As greves, os conflitos de classes cada vez mais agudos e as incertezas da


política de Jango deixavam a classe média desnorteada.

Segundo Figueiredo Filho (2005), uma pesquisa de opinião do Ibope, feita


na véspera do golpe de 64, mostrou que a maioria dos brasileiros considerava bom
o governo de Jango. Mas grande parte dessa maioria era de gente que não moveria
um dedo para defendê-lo.

Além da oposição sistemática da UDN, dos latifundiários, dos grandes


empresários e da classe média, Jango ainda tinha de enfrentar a grande imprensa.
Jornais como O Estado de S. Paulo e O Globo eram implacáveis. O presidente
aparecia como culpado de tudo de ruim que havia no país. Nas manchetes, coisas
como "Jango é marionete nas mãos dos comunistas", "Querem uma república
sindicalista", "País à beira do caos e da anarquia" eram comuns e faziam a cabeça
das pessoas (FIGUEIREDO FILHO, 2005).

Havia sinais de mudança da Igreja. O papa João XXIII nas encíclicas Mater
et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963) atacava o comunismo, mas defendia a
necessidade de mudanças graduais na sociedade. O Concílio Vaticano II confirmou
essas idéias e o novo papa, Paulo VI, deu sinal verde para o engajamento dos
católicos em projetos de reformas não socialistas. Alguns estudantes da JUC
(Juventude Universitária Católica) tinham certa simpatia pelas ideias marxistas.
Formariam a AP, de onde vieram os presidentes da UNE nos anos de 61 a 64. A
maioria do clero, entretanto, continuaria muito reacionária. Havia até a extrema
direita, ligada a figuras tradicionalistas como Dom Castro Mayer e Dom Geraldo
Sigaud, que trocava figurinhas como uma organização católica fascistóide, a TFP
(Tradição Família e Propriedade). No Nordeste, os padres tentavam formar
sindicatos rurais controlados pela Igreja e contrários às ligas camponesas. Na
véspera do golpe, padres e freiras organizaram passeatas com milhares de pessoas
apoiando uma intervenção militar (FIGUEIREDO FILHO, 2005).
57

Quem não estava de acordo com o governo de Goulart era o Departamento


de Estado dos EUA. As propostas nacionalistas de controlar a remessa de lucros
das multinacionais para o estrangeiro, de entregar à Petrobrás o refino de todo o
petróleo e de estatizar diversas companhias norte-americanas eram muito
desagradáveis para os EUA.

O grande fantasma da época foi a Revolução Cubana, liderada por Fidel


Castro. Socialismo, guerrilha, Che Guevara, marxismo, esses acontecimentos
estavam virando rotina entre os estudantes. Havia o medo de acontecer no Brasil o
mesmo que em outros países latino-americanos.

No Brasil, a direita também se organizava. Na época das eleições, o IBAD


(Instituto Brasileiro de Ação Democrática) enchia as televisões, rádios e jornais com
publicidade política a favor de candidatos udenistas ou semelhantes. Centenas de
candidatos tiveram a campanha eleitoral financiada pelo IBAD, que por sua vez
recebeu dinheiro direto dos EUA (através da CIA) e de grandes multinacionais
instala das no Brasil. Eram financiamentos ilegais, houve investigação e as provas
apareceram. Mas Jango, querendo mostrar boa vontade com os EUA, mandou
deixar para lá (SCHIMIDT, 1996).

O IPES (Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais) planejava propagandas


em veículos de comunicação atacando os comunistas, os nacionalistas e João
Goulart. O embaixador norte-americano, Lincoln Gordon, tinha uma estranha
liberdade de movimentos para entrar em assuntos alheios a seu país. Frequentava
quartéis, ouvia as lamúrias servis de Lacerda, mandava recados para a imprensa.

Nas academias, os militares aprendiam que as greves, os protestos sociais,


as manifestações populares eram uma “baderna” intolerável. Para eles, o que faltava
ao país era a “disciplina” e a “ordem”.

Os militares como tantos brasileiros decentes, se enojavam com a existência


de políticos corruptos. Naquela época, começou a jorrar a ideia de que “A
honestidade é de cor verde-oliva”, ou seja, a cor da farda do Exército. Para muitos
militares e civis, o país só teria governos honestos quando o Estado estivesse nas
mãos dos generais.

Nas escolas militares, havia uma doutrinação anticomunista fortíssima.


Qualquer greve era vista como “armação dos comunistas contra o Brasil”.
58

O mais difícil de aceitar era a influência dos EUA sobre a capacitação de


nossos militares. Alguns dos melhores oficiais do Brasil fizeram cursos de
aprimoramento com os americanos, inclusive na Escola do Panamá, fundada em
1951. Voltavam de lá com a lição de que “O que é bom para os EUA é bom para o
Brasil; o que é ruim para os EUA é ruim para o Brasil”.

Aqui no Brasil, foi fundada em 1949, a ESG (Escola Superior de Guerra),


Nela, desenvolveu-se a famosa DSN (Doutrina de Segurança Nacional), que
doutrinou muitos militares. O golpe e a ditadura militar procuravam seguir os
princípios dessa doutrina, divulgados pela ESG. E à frente de todos estava o
General Golbery do Couto e Silva (FIGUEIREDO FILHO, 2005, p.86).

Para a DSN, a Terceira Guerra Mundial já havia começado, que eles


consideravam uma luta do Mundo Livre contra o Comunismo Internacional. O lado
do bem era o dos valores da civilização cristã ocidental tais como a propriedade
privada, o individualismo, o capitalismo, as liberdades, a democracia. O inimigo era o
mundo do mal, do ateísmo, da imoralidade, da socialização dos meios de produção,
do Estado totalitário, da ditadura monstruosa dos comunistas.

Acontece que a DSN não era apenas negativista, no sentido de querer


negar, destruir uma situação. Ela tinha um lado construtivo, ou seja, propunha criar
um novo país, ligando-se à uma visão geopolítica. A geopolítica foi inventada pelo
imperialismo alemão no final do século XIX. Sua ideia é a de que o destino de um
país se relaciona com suas condições geográficas. O general Golbery do Couto e
Silva, especialista em geopolítica, cabeça-chefe da DSN brasileira, dizia que o
Brasil, país gigantesco com população crescente, tinha o destino de se tornar a
grande potência capitalista do Cone Sul. Para isso, os militares assumiriam a
direção do país, mobilizando todos os recursos econômicos, políticos, psicossociais
e militares (FIGUEIREDO FILHO, 2005).

A gota d‟água para que agissem veio com a rebelião dos marinheiros e o
famoso Comício da Central do Brasil.

As lutas de classes chegaram ao ponto mais agudo. Valia tudo, até mesmo
calúnias e baixíssimo nível.

Panfletos espalhavam que Jango baixaria um decreto ordenando que os


moradores dividissem seus apartamentos com os favelados.
59

Brizola foi convidado a proferir uma palestra sobre “reforma agrária” em


Minas Gerais. Não conseguiu. Um coro de senhoras e senhoritas, rezando o terço,
pedia a Deus que livrasse o Brasil do comunismo e da reforma agrária.

Jango resolveu apresentar sua última carta: as reformas de base teriam de


passar “por bem ou por mal”, como se dizia. No dia 13 de março de 1964, apesar do
feriado decretado de surpresa pelo governador Lacerda, centenas de milhares de
pessoas compareceram ao célebre Comício da Central do Brasil quando João
Goulart anunciou que estava enviando ao Congresso as primeiras reformas de base:
expropriação de latifúndios improdutivos, nacionalização das refinarias de petróleo.

Seis dias depois, foi a vez de a classe média paulista dar o troco.
Associações de donas de casa, esposas de maridos com altos vencimentos
mensais, damas da alta sociedade, pastores evangélicos, comerciantes, policiais, e
demais organizações representativas mobilizaram milhares de pessoas na Marcha
da Família com Deus pela Liberdade (SKIDMORE, 1979).

A Marcha e a rebelião dos marinheiros (que haviam criado uma associação


para defender seus interesses), coordenada pelo Cabo Anselmo foi o toque final de
provocação às Forças Armadas. Imprescindível lembrar que o Cabo Anselmo
confessou ser um agente da CIA (serviço secreto dos EUA) “plantado” com a função
de transbordar o balde de paciência dos comandantes militares brasileiros.

No dia 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho precipitou o


golpe. Tinha o apoio do governador mineiro (e banqueiro) Magalhães Pinto. Na
Guanabara, Lacerda entrincheirou-se no Palácio Guanabara, aguardando o ataque
dos fuzileiros navais liderados pelo comandante Aragão. Não houve ataque
nenhum. Não houve choque militar, Não houve nenhum bloqueio.

Os anos de chumbo

A resistência contra a ditadura começa a ser articulada primeiro pela Frente


Ampla liderada por Carlos Lacerda (conspirador e entusiasta do golpe de 1964) que
pretendia restaurar o poder civil. Fracassada aquela articulação foi a vez dos
estudantes. Em 1968 imensas manifestações de protesto foram organizadas em
várias capitais do Brasil contra as brutalidades do regime. Depois de uma ocupação
60

das fábricas ocorrida em Osasco, São Paulo, e o desbaratamento do movimento


estudantil em Ibiúna, São Paulo, em outubro de 1968, o regime resolveu decretar o
rigoroso Ato Institucional nº 5 que implantava a ditadura de forma absoluta no Brasil.

Os anos que se seguiram foram marcados como os mais violentos da


História do Brasil. Inconformados com o fechamento de toda e qualquer forma de
expressão política centenas de estudantes marcharam para a estrada da guerrilha
urbana e rural. A pretexto de combatê-los com maior eficiência o regime militar
lançou mão de práticas de guerras coloniais, generalizando a aplicação da tortura.

O período sangrento foi acompanhado por um notável crescimento


econômico. A era General Médici foi caracterizada por esta ambiguidade, de um
lado sedimentava-se e aprofundava-se o desenvolvimento econômico da época de
Juscelino e de outro regredia-se às práticas de terrorismo de Estado dos tempos da
ditadura fascista de 1937-45.

Legitimado basicamente pelo sucesso econômico, o regime começou a


periclitar a partir da crise do petróleo de 1973. O estrategista do regime, o General
Golbery do Couto e Silva estimulou então a abertura política conduzida pelo General
Ernesto Geisel, o presidente.

Ela ganhou corpo após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog e do


operário Mário Fiel Filho nos porões da repressão que chocaram a opinião pública
brasileira.

Em 1974, os militares e seus ajudantes, reunidos no partido civil que lhes


dava sustentação - a ARENA - foram derrotados nas eleições daquele ano.

Em 1979 o General Figueiredo acelera a pacificação com a lei de anistia


permitindo o retorno dos exilados políticos que se encontravam no exterior. Na série
de eleições ocorridas entre 1980 a 1984, o regime se enfraqueceu ainda mais
permitindo que os candidatos do partido de oposição - o MDB - assumiram a chefia
de prefeituras e governos estaduais.

A redemocratização

Numa última tentativa de manter o poder, o regime criou o Colégio Eleitoral


onde tinha superioridade de votos e poderia eleger um presidente da República da
61

sua confiança. Venceu as convenções da ARENA, Paulo Maluf que no imaginário


popular estava associado às práticas corruptoras. Foi então que as oposições
coligadas (o pluralismo foi autorizado em 1980) resolveram sair às ruas
conclamando o povo a favor da eleição direta para a presidência da República.

Praticamente durante todo o ano de 1984 o País se encontrou imobilizado a


favor das “Diretas-Já”, emenda proposta pelo deputado Dante de Oliveira e que foi
rejeitada pelo Congresso Nacional constrangido por leis de emergência. As
oposições tomaram a decisão de participar do Colégio eleitoral com candidato
próprio apostando na corrosão do regime provocada pela candidatura Maluf.

Em janeiro de 1985, foi eleito Tancredo Neves responsável pela transição


pacífica para o regime democrático. A morte de Tancredo Neves, em abril de 1985,
fez com que seu sucessor fosse o vice-presidente José Sarney egresso do partido
de sustentação do regime militar. Este período de transição foi marcado pelo Plano
Cruzado do Ministro da Fazenda Dilson Funaro, pela vitória do PMDB nas eleições
de novembro de 1986 e pela aprovação da nova Corta Constitucional, orquestrada
pelo deputado Ulysses Guimarães e promulgada em outubro de 1988, considerada a
mais avançada constituição da história republicana no Brasil.

Muitos planos econômicos vieram na esteira dos acontecimentos. Governos


problemáticos.

Chegamos ao período da globalização, várias privatizações e um modelo


econômico que acompanhasse a ordem mundial com dois governos do sociólogo
Fernando Henrique Cardoso e dando continuidade, dois mandatos do petista Luiz
Inácio Lula da Silva.

Estamos entrando numa nova Era, de novas esperanças, com uma mulher à
frente do governo brasileiros e muitas promessas a serem cumpridas.
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