Você está na página 1de 4

DEPARTº HISTÓRIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Aluno: Vinícius de Albuquerque Damasceno


Disciplina: HISTÓRIA DO BRASIL I
Professor: Dr. Moisés Peixoto
Carga Horária: 60
Turma: 01
Ano/Semestre: 2022.2
Horário: 4N2345

1- António Manuel Hespanha e Maria Fernanda Bicalho abordam diferentes


aspectos da administração portuguesa na América portuguesa, mas ambos destacam a
importância da relação entre metrópole e colônia na construção do governo dos
povos.
Hespanha, em seu livro "O Governo dos Povos", aborda a questão da expansão
portuguesa e procura compreender por que essa expansão foi "portuguesa". Para o
autor, a resposta está na forma como a administração portuguesa foi capaz de
articular-se com as elites locais e construir uma forma particular de governo nas
colônias. Segundo Hespanha, a administração portuguesa foi bem-sucedida em
construir um sistema de governo baseado em uma rede de relações sociais e políticas,
que permitiu a integração das elites locais no processo de colonização. Ele também
comenta a experiencia passada adquirida pelos portugueses durante a colonização da
Madeira e nas relações como os Mouros na Península Ibérica. Esse sistema de
governo era caracterizado pela descentralização do poder, com a criação de
instituições locais de governo, como as câmaras municipais, que tinham autonomia
para tomar decisões importantes. Já Maria Fernanda Bicalho, em seu livro "O Antigo
Regime nos Trópicos", aborda a questão das câmaras ultramarinas, que eram órgãos
de administração local criados pela Coroa portuguesa nas colônias. Segundo a autora,
essas câmaras foram importantes na construção do governo das colônias, pois eram
responsáveis por administrar as questões locais, como luz, criação de ruas e
abastecimento de viveres, e garantir a ordem pública mantendo uma certa
uniformidade jurídica, obedecendo a certos usos e costumes locais. No entanto,
Bicalho destaca que as câmaras ultramarinas eram controladas pela elite local
(Nobres da terra) e muitas vezes agiam em seu próprio benefício, em detrimento dos
interesses da Coroa portuguesa. Além disso, a autora destaca que as câmaras
ultramarinas eram um dos principais espaços de negociação entre a metrópole e a
colônia, e que sua atuação foi fundamental para a construção de um sistema de
governo que conciliava os interesses das elites locais com os da Coroa. As Câmaras
eram compostas por 1 juiz ordinário, eleito localmente, ou 1 juiz de fora, nomeado
pelo rei em situação que a coroa queria intervir e não tinha muito apoio popular, além
de 2 vereadores, 1 procurador e posteriormente teria um almotacé e juiz de órfão. Em
conclusão, enquanto Hespanha destaca a importância da articulação entre metrópole
e colônia na construção do governo dos povos, destacando a descentralização do
poder e a criação de instituições locais de governo, Bicalho destaca a importância das
câmaras ultramarinas na construção desse sistema de governo e na negociação entre
a metrópole e a colônia. Ambos concordam, no entanto, que a administração
portuguesa na América portuguesa foi marcada por uma forte interação entre
metrópole e colônia, que influenciou a construção do governo das colônias.

2- A "Escola do Sentido da Colonização" foi uma corrente historiográfica que se


desenvolveu nos anos 1950 e 1960, defendida por Caio Pardo Jr., e que apoiava a
ideia de que a colonização portuguesa no Brasil teve como objetivo principal a
exploração do território e de seus recursos naturais, além do estabelecimento de
uma sociedade escravista e autoritária. Por outro lado, João Fragoso e Manolo
Florentino, em seu livro "O Arcaísmo como Projeto", propõem uma nova
interpretação para a colonização portuguesa no Brasil, baseada em estudos e na
análise das dinâmicas do mercado atlântico. Para os autores, a colonização
portuguesa no Brasil foi marcada por uma forte interação com o mercado atlântico,
que influenciou as formas de organização econômica e social da colônia. A
economia colonial brasileira era baseada em uma produção agrária voltada para a
exportação, que se articulava com os fluxos comerciais do Atlântico, porém a
colônia também possuía seu mercado internado, pensamento negligenciado por
Caio Prado, e para os autores a américa portuguesa não era um apêndice de
Portugal, como Caio Prado Jr. alegava. Além disso, Fragoso e Florentino
argumentam que a sociedade colonial brasileira era mais complexa e diversificada
do que se imaginava anteriormente, com a presença de diferentes grupos sociais e
formas de organização econômica, para eles era impossível entender a sociedade
pelo capitalismo, já que a elite agraria brasileira era não capitalista e os títulos
valem mais do que o capital. Eles destacam a importância das relações de poder e
de influência entre as elites coloniais e a Coroa portuguesa, que negociavam e
disputavam interesses políticos e econômicos. Outro ponto importante da
abordagem de Fragoso e Florentino é a ênfase na importância do arcaísmo como
projeto político e econômico da elite colonial. Esse projeto buscava a manutenção
de estruturas sociais e econômicas arcaicas, como a escravidão e o latifúndio, que
garantiam a manutenção do poder e dos privilégios das elites locais por via dos
títulos e terras e os status dos Barões do café. Não era uma elite de desejava o
rompimento com essas práticas. Em resumo, enquanto a "Escola do Sentido da
Colonização" via a colonização portuguesa no Brasil como um projeto homogêneo
e orientado exclusivamente para a exploração e dominação do território, Fragoso e
Florentino propõem uma abordagem mais complexa e dinâmica, que leva em conta
as interações com o mercado atlântico, as disputas políticas e a presença de
diferentes grupos sociais e projetos políticos.

3- O livro "Os Negros da Terra" de John Monteiro apresenta uma detalhada análise
sobre a escravidão dos povos indígenas em São Paulo no século XVIII, além de
abordar a relação entre colonos, Igreja e Coroa e a legislação que regulamentava a
escravidão indígena. No início da colonização, os bandeirantes e colonos
utilizaram os indígenas como mão de obra, escravizando-os em grande escala.
Com o passar do tempo, porém, a Igreja Católica começou a se opor à escravidão
dos indígenas, defendendo sua liberdade e autonomia. No século XVIII, com a
expulsão dos jesuítas, a escravidão indígena em São Paulo já era uma realidade
consolidada, com grande número de escravos trabalhando em fazendas e engenhos
de açúcar. A legislação colonial permitia a escravidão indígena, mas estabelecia
algumas limitações, como a proibição da escravidão de índios pacificados e a
obrigatoriedade de que os índios escravizados fossem batizados na fé católica. A
relação entre colonos, Igreja e Coroa era complexa e marcada por conflitos e
disputas de poder. Os colonos, especialmente os grandes proprietários de terras,
tinham interesse em manter a escravidão indígena como forma de obter mão-de-
obra barata para suas atividades econômicas. A Igreja, por sua vez, tinha o papel de
catequizar os índios e defendia a liberdade dos escravos indígenas pacificados, mas
nem sempre conseguia fazer valer seus ideais diante dos interesses dos colonos. A
Coroa portuguesa, por sua vez, muitas vezes atuava como mediadora dos conflitos
entre colonos e Igreja, mas também tinha interesses econômicos na manutenção da
escravidão indígena, já que a exportação de escravos era uma das principais fontes
de renda do Estado. Por fim, Monteiro aponta que a escravidão indígena foi
abolida de forma gradual, em decorrência da pressão de diversos setores da
sociedade. As autoridades coloniais, por exemplo, promulgaram leis para proteger
os indígenas da escravidão e da exploração, e alguns proprietários de terra
passaram a libertar seus escravos indígenas por motivos religiosos ou econômicos.
Concluindo, a escravidão dos povos indígenas em São Paulo no século XVIII foi
uma realidade bastante presente na região, apesar de não ter recebido a mesma
atenção que a escravidão africana. A violência e os maus-tratos impostos aos
escravos indígenas foram uma constante, e a Igreja Católica desempenhou um
papel importante nesse processo. A escravidão indígena foi abolida de forma
gradual, em decorrência da pressão de diversos setores da sociedade.

Você também pode gostar