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PUBLICADO EM
Souza, Laura de Mello e, and João José Reis. "Popular Movements in Colonial Brazil." In
The Oxford Handbook of the Atlantic World (1450-1850), edited by Nicholas
Canny; Philip Morgan, 550-66. Oxford: Oxford University Press, 2011.

Brazilian Popular Movements in Atlantic Context

Laura de Mello e Souza

Universidade de São Paulo

1. problematização histórica e conceitual

Antes de tornar-se nação, em 1822, o Brasil não era visto como uma unidade territorial,

mas como uma constelação de regiões mais ou menos articuladas em dois grandes

conjuntos administrativos: o Estado do Brasil, englobando quase todas as regiões que hoje

constituem o país, e o Estado do Grão Pará e Maranhão , compreendendo a Amazônia.


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Mais comum era usar o plural: the Brazils, como diziam, sempre, os anglo-saxões. Ou falar

de América Portuguesa, como muitos dos letrados luso-americanos do século XVIII.

Brasis ou América Portuguesa: do ponto de vista geográfico, as possessões lusitanas na

América eram ainda indefinidas no início do século XVIII. Só na segunda metade do

século XVIII, com o Tratado de Santo Ildefonso(1777), é que as fronteiras portuguesas na

América do Sul passaram a ter nitidez.

Indefinidas na nomenclatura e na geografia, as terras portuguesas da América o eram

também do ponto de vista humano. Como todo povo colonizador, os portugueses,

originários da Europa, se depararam com uma humanidade desconhecida e misteriosa.

Quais eram os povos que habitavam os Brasis? Como haviam chegado àquela terra? Com a
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introdução de escravos africanos, generalizaram-se as relações inter-étnicas; da mistura

entre brancos europeus, indígenas e africanos de variada origem lingüística e cultural, se

originaram contingentes de mestiços: homens e mulheres muito diferentes dos padrões

ocidentais mas, ao mesmo tempo, bastante afeitos a eles, pois a língua e muitos dos

costumes dos colonizadores nunca se perderam, apesar de, muitas vezes, e em vários

aspectos, se alterarem e se transformarem.

Na segunda metade do século XIX, o médico e cientista francês Louis Couty, que

viveu no Brasil por oito anos e escreveu um livro sobre a escravidão no país, proferiu uma

afirmação marcante: “O Brasil não tem povo”. Até hoje, muitos representantes do

pensamento conservador repetem, significativamente, a frase de Couty. Com ela, o

cientista procurava definir uma formação social dominada pelos senhores de escravos e

baseada primordialmente no trabalho escravo. Possivelmente não desejava expressar todo

o preconceito e a incompreensão que nós, quase cento e cinqüenta anos depois, podemos

identificar na sua formulação.

Tal preconceito e incompreensão ante formas históricas e culturais distintas das

européias não foram exclusivos ao pensamento de Couty, encontrando, ao longo dos

séculos, ressonância entre as elites dominantes no Brasil. Serviram inclusive para alimentar

uma espécie de ideologia da vadiagem, ou seja, uma formulação de base antes ideológica

que empírica, segundo a qual o povo brasileiro não gostava de trabalhar, vivendo na

vadiagem2. Como a denominação e as terras, também o povo do Brasil era e continuou

difícil de classificar. Hoje, com um território imenso e um nome conhecido enquanto país

soberano, o Brasil continua estranhando o seu próprio povo.

Falar de movimentos populares no Brasil antes de 1822 suscita, portanto, uma série de

problemas. Quem seria o povo, e como ele se manifestaria numa formação social marcada,
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durante três séculos, pela escravidão, que não apenas coloria os habitantes como articulava

todas as relações econômicas e sociais, desqualificando o trabalho sistemático? E qual

seria, naquela formação social, a natureza dos conflitos ditos populares?3

Num sentido estrito, seria difícil falar de movimentos populares, sobretudo se o

parâmetro fosse o dominante no mundo de influência européia. Assentada, como as

sociedades européias suas contemporâneas, na desigualdade e no privilégio, na estima e na

honra, a sociedade colonial da América portuguesa apresentava ainda elementos

suplementares capazes de acirrar a insatisfação e os conflitos: adotava, como as sociedades

ibéricas metropolitanas, os estatutos de pureza de sangue, mas havia reinventado, na

América, a instituição da escravidão, e dela fizera algo bastante diferente do que fora no

Mundo Antigo. Além de comportar a escravidão e o escravismo, a América Portuguesa era

um conjunto de regiões coloniais, sujeita a um estado monárquico estabelecido do outro

lado do Atlântico. A conflitualidade própria a sociedades profundamente desiguais via-se

acentuada, portanto, pela animosidade entre habitantes do reino e habitantes das regiões

coloniais. Muitos dos movimentos sociais ali ocorridos, ao longo do tempo, tinham caráter

anti-metropolitano, e mesmo anti-colonial, sem, contudo, contarem com participação

popular expressiva. Impõe-se, portanto, estabelecer a diferença entre movimento social e

movimento popular.

Por fim, se o Império português constituía um ‘mundo em movimento’, as suas

diversas partes mostrando-se permanentemente conectadas, nem sempre as motivações e as

lógicas dos movimentos populares tinham dimensões imperiais4. Alguns movimentos

foram, de fato, expressões locais de processos mais amplos, comuns ao mundo Atlântico –

o que, aliás, se tornou mais viável e verdadeiro ao longo do século XVIII. Muitos, porém,

mantiveram feição específica, relacionando-se com acontecimentos e processos locais.


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2. índios, colonos e conflitualidade em contexto escravista

Por outro lado, numa acepção mais abrangente, os movimentos de natureza popular

existiram desde o primeiro século da colonização. Se a dizimação dos indígenas que

habitavam a costa atlântica assumiu, ainda no século XVI, contornos de hecatombe, a

resistência oferecida pelos habitantes naturais da terra foi uma das respostas possíveis ao

avanço da colonização5. Na segunda metade do século XVI, na região do chamado

Recôncavo Baiano, grupos indígenas mais ou menos cristianizados e aculturados se

insurgiram, sob o comando de um jovem índio que havia integrado um aldeamento

jesuítico e recebido, nele, os rudimentos da religião cristã. Parece que um poderoso senhor

de engenho da região, chamado Fernão Cabral de Taíde, procurou, inicialmente, utilizar a

insurreição em proveito próprio e, por intermédio dos sublevados, conseguir um maior

número de escravos índios para suas plantações: era assim que, naquele tempo, se

articulavam as contradições aparentes entre catequese e escravidão. O levante, contudo,

fugiu do controle. Os sublevados expressavam uma religiosidade mestiça, na qual os

elementos ensinados na evangelização jesuítica se misturavam a concepções míticas

próprias dos povos indígenas do litoral sul-americano. A Mãe de Deus adquiria contornos

terrenos e indígenas, e a narrativa do dilúvio universal vestia a roupagem mitológica dos

Tupi, preconizando que o profeta do movimento – que ficou conhecido como Santidade do

Jaguaripe – se salvaria das águas encarapitado no tronco de uma palmeira. O fim da

insurreição, que muitos consideram de tipo milenarista, foi trágico: mortes, destruição,

encarceramento - por obra do Santo Ofício da Inquisição - do senhor de engenho Taíde6. A

moral da história mostrou-se desanimadora, e reapareceria em outros episódios da história

colonial, nos quais voltaram a se misturar a insatisfação e a energia rebelde dos


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desfavorecidos, por um lado, e, por outro, os esforços – quase sempre bem sucedidos – de

elites atentas e capazes de manipular, em proveito próprio, o potencial revoltoso de índios,

de escravos negros, de homens pobres socialmente desclassificados.

A escravidão indígena foi proibida desde 1570, e as proibições se tornaram mais

estritas no período da dominação filipina sobre Portugal (1580-1640). Estabelecia-se,

contudo, uma distinção entre índios bons (amigos dos portugueses) e índios maus

(inimigos dos portugueses), a Coroa e os jesuítas - principal ordem missionária em atuação

na América Portuguesa desde 1549 - entendendo que os indígenas apresados em guerra

justa, ou seja, em guerras movidas contra índios belicosos, não aculturados e, portanto,

maus, podiam ser escravizados. Conforme o processo de colonização se enraizou em solo

americano, seus agentes principais – os colonos de origem européia – promoveram, com

freqüência, ataques (“saltos”) a aldeias indígenas que guardavam prisioneiros e os

"resgataram" dos inimigos para, em seguida, escravizá-los. Os desmandos tornaram-se

cada vez mais freqüentes: se os jesuítas admitiam a escravização do indígena desde que

regulada e contida, os colonizadores passaram a não admitir nenhum tipo de obstáculo à

escravização dos índios. Aumentou, assim, o fosso entre jesuítas e colonizadores, e os

índios votavam maior simpatia aos “hábitos negros” (denominação dada aos inacianos por

toda a América) que aos demais habitantes da colônia. Se alguém podia então ser visto

como amigo e aliado das populações indígenas destroçadas pelo choque cultural e pelas

doenças, que chegavam pelo Atlântico junto com os navios, este alguém era o jesuíta, e

não o colono. Conforme a colonização se desenvolveu e a atividade crescente dos

engenhos integrou mais e mais a América portuguesa à economia atlântica, aumentando a

necessidade de braços, os conflitos entre colonos e jesuítas se intensificaram.


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Ocupando, desde o meado do século XVI, um planalto próximo ao litoral mas isolado

dele por uma cordilheira escarpada, a Serra do Mar, os habitantes de São Paulo

constituíram um grupo peculiar no conjunto do mundo colonial luso-americano. Eram

mestiços do ponto de vista étnico e cultural, falavam a língua geral – uma variante do Tupi

indígena, que os jesuítas colocaram em estrutura gramatical latina – e se habituaram a

andar pelos matos, de onde, como disse um historiador, tiravam ‘o remédio para a sua

pobreza’. Tornaram-se tanto profissionais dos matos quanto caçadores de índios famosos e

temidos, usando-os em suas lavouras e vendendo-os para outras regiões. Aos poucos,

começaram a ser chamados para sufocar levantes indígenas onde quer que eles ocorressem.

No contexto da Restauração dos Braganças no trono português (1640), a situação

em todo o Império português se tornou bastante delicada, com indefinições quanto ao

partido a se tomar – fidelidade aos Áustrias espanhóis ou adesão à nova dinastia? –; quanto

às atribuições dos missionários e dos colonos no tocante ao controle dos índios; quanto,

ainda, às relações entre os poderes do Reino e o das diferentes possessões coloniais.

Explodiram protestos e contestações, as notícias se propagando rapidamente por meio dos

boatos e informações que corriam oralmente, transmitidos pelos navios que conectavam as

partes do Império7.

Na América portuguesa, uma das expressões do choque entre o desejo local de

maior autonomia e o esforço dos poderes centrais em controlar o governo foi a briga pelo

direito de escravizar os indígenas. O conflito se mostrou particularmente pronunciado nas

capitanias do sul, governadas por Salvador Correia de Sá. No Rio de Janeiro e em São

Paulo, os poderosos locais se voltaram contra este governador, aliado dos jesuítas8. Por

insistência dos padres, que tinham enviado representantes seus a Madrid para protestar

contra os desmandos cometidos pelos paulistas contra os índios cristianizados das aldeias
7

jesuíticas, Filipe IV havia reiterado as proibições prévias - constantes inclusive de breves

papais - sobre a escravização do gentio. Ora, de acordo com os termos da União Ibérica

(Cortes de Tomar, 1581), tais ordens reais não teriam vigor enquanto não fossem

traduzidas para português e chanceladas em Lisboa, o que demandava tempo. Os jesuítas

tinham pressa, e não obedeceram a tais determinações. De volta da Europa, pararam no

Rio, e, recebidos por Salvador de Sá, decidiram publicá-las nas capitanias do Rio e São

Vicente mesmo sem o complemento das ordens reais. Numa posição oposta, as autoridades

civis e militares, bem como religiosos de outras ordens - carmelitas, franciscanos e

beneditinos - decidiram apelar contra o breve papal e aguardar sua execução legal.

Os jesuítas, contudo, seguiram em frente. Leram o breve no púlpito do colégio de

sua ordem e, com isto, desencadearam um motim popular: uma multidão para lá se dirigiu

e arrombou as portas com machados, gritando: "mata, mata, bota fora da terra, padres da

companhia". O que evitou o linchamento dos inacianos foi a chegada oportuna de Salvador

de Sá e sua guarda pessoal. Nos dias seguintes, tentou-se a reconciliação entre as partes;

mas as hostilidades não cessaram, os vereadores da Câmara Municipal fazendo circular um

"libelo difamatório" contra os jesuítas e alimentando rumores de que o colégio seria

atacado. Depois de um mês de inseguranças, um acordo foi assinado: os padres

renunciavam à intenção de implementar as leis anti-escravistas e concordavam em não

interferir junto aos colonos no tocante aos índios. Por sua vez, os revoltosos retiraram as

queixas contra os jesuítas, aceitando sua permanência no Rio.

Em São Paulo, entretanto, não houve espaço para contemporizações. A publicação

do breve na vila (13/5/1640) suscitou motins que atacaram o colégio com violência e quase

exterminaram os jesuítas. Os frades carmelitas e franciscanos ficaram, como no Rio, do

lado do povo, invocando a ilegalidade do breve. Mas os inacianos não voltaram atrás e
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foram expulsos a 2 de julho, dirigindo-se para Santos, porto do litoral paulista. No intuito

de forçar os moradores de Santos a se posicionar, os de São Paulo enviaram bandos

armados contra os ‘hábitos negros’, que acabaram expulsos também de Santos (3/8/1640).

Desta forma, e graças à intermediação de Salvador de Sá, o Rio foi o único lugar no Sul

onde os jesuítas permaneceram.

Mas os conflitos dessa natureza não se restringiram ao sul. Expressão máxima da

Companhia de Jesus nas Américas, o jesuíta Antonio Vieira pregava no Maranhão desde

1653 em defesa dos índios. Em 1684, explodiram ali insatisfações de colonos contra

representantes da administração metropolitana e as proibições de escravizar índios. Num

tipo de conflito que já se ia tornando corriqueiro, surgiram elementos novos, de caráter

colonial: a revolta contra o monopólio, e a tensão entre os interesses envolvidos na

escravização dos índios e na dos negros da África.

Sob influência de Vieira, o governo metropolitano expedira a 1/4/1680 novas

instruções acerca dos índios, dando-lhes terras, declarando-os livres e mandando castigar

quem os escravizasse 9. A notícia causou rebuliço, e enquanto representantes da população

maranhense se encontravam na Corte, advogando contra as novas providências, foi criada

para o estado do Maranhão uma Companhia privilegiada de comércio (1682), à qual, por

20 anos, cabia monopolizar os principais gêneros, estipular seus preços de venda, e

introduzir, a preços acessíveis e mediante crédito, 500 escravos negros por ano, suprindo

assim a falta de braços indígenas. Alegando que a produção de suas missões era

comercializada sem fins lucrativos, os jesuítas e os franciscanos conseguiram o privilégio

da isenção do monopólio.

As tensões se acirraram porque os agentes da Companhia manipulavam os preços,

fraudavam pesos e medidas, e não enviavam navios com a regularidade necessária,


9

deixando de transportar da África os cativos na quantidade e preço que haviam prometido.

Destituídos de braços para as plantações, os senhores de engenho entraram em conflito

com os jesuítas, sublevando-se sob a chefia de um dos proprietários, Manuel Bekman, e

apoiados pela Câmara Municipal do Maranhão e da ordem carmelita, que não tinha

conseguido a isenção do monopólio. Após tumultos de rua, uma junta composta por

representantes da nobreza, clero e povo decidiu prender a principal autoridade militar, que

não encontrou apoio entre seus oficiais e soldados, simpatizantes da sedição. A junta

declarou extinta a companhia de monopólio, autorizou a escravidão indígena e expulsou os

jesuítas, embarcando 27 deles para Portugal. O irmão de Manuel Bekman, Tomás, foi

enviado à Corte como procurador a fim de negociar as reivindicações dos revoltosos.

Enquanto se esperavam as ordens de Lisboa - o que denota a reverência dos sediciosos ante

a Monarquia e o Rei -, elegeu-se um triunvirato para governar junto com a Câmara e se

procurou estender a revolta até a capitania vizinha do Grão-Pará, para tal se enviando

emissários a Belém.

Mas a esperada adesão não ocorreu. Manuel Beckman foi se fortalecendo no poder

e dele afastando os demais companheiros, enquanto os ânimos se arrefeciam e a tropa

abandonava os sublevados. Em março de 1685, o novo governador Gomes Freire de

Andrade sufocou a sedição e ocupou a cidade, anulando todos os atos do governo

provisório. Declarado o cabeça do motim, Manuel Bekman foi sentenciado, condenado à

morte e, por fim, decapitado, juntamente com um de seus companheiros. Tomás Bekman,

que chegara dez dias depois do governador, foi preso e degredado. Mediante as instâncias

de Gomes Freire, o rei contrariou as disposições legais e autorizou a re-instauração do

cativeiro dos índios. Mas a Companhia de Comércio foi extinta: nos seus objetivos

principais, a sedição havia vencido.


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Sob a espuma de episódios como os que se acabou de mencionar, e que a historiografia

sempre delimitou com maior precisão, corria, contudo, um rio caudaloso de

conflitualidade, pesada, profunda e permanente. A este tipo de conflitos pertence o grande

ciclo de revoltas indígenas da segunda metade do século XVII, conhecido, desde aqueles

tempos, como ‘Guerra dos Bárbaros’ (1651-1704): um dos movimentos sociais mais

amplos e longos da história do Brasil . Opondo os colonizadores luso-brasileiros aos povos

indígenas, foi um capítulo importante da interiorização do processo colonizador, podendo

ser dividido em duas séries de acontecimentos: os conflitos do Recôncavo, na Bahia (1651-

1679) e as guerras do Açu, nas regiões próximas ao rio do mesmo nome, no atual Rio

Grande do Norte (1687-1704). Os conflitos iam extravasando os espaços da faixa litorânea,

onde estavam plantadas as cidades mais antigas e às quais as notícias de outras revoltas

podiam chegar junto com os navios, e ganhavam as imensas extensões semi-áridas do

interior do continente, estendendo-se do leste do Maranhão ao norte da Bahia, no atual

Nordeste interior do Brasil10 .

Os colonizadores e as autoridades administrativas queriam abrir um caminho interior

pelos ‘sertões’, capaz de unir as terras do Estado do Brasil às do Estado do Maranhão e

Grão-Pará: a viagem por mar era difícil e demorada, em virtude dos ventos contrários e das

fortes correntes marítimas. Nessa vasta área interior iam-se, também, estabelecendo currais

de gado: o modo mais livre com que se criavam as reses, muitas das quais vagavam soltas,

permitia aos indígenas capturarem-nas com facilidade para se alimentar. Colonizadores e

autoridades administrativas tinham ainda interesse na busca de minas de salitre e de metais

preciosos, que se acreditava existirem ali.

Os povos indígenas da região eram o maior dos obstáculos ao avanço colonizador: um

verdadeiro ‘muro do demônio’, composto por “bárbaros” que ocupavam indevidamente,


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dizia-se então, as terras que deveriam pertencer aos cristãos civilizados. A visão negativa

dos coevos contaminou também a historiografia, e esses povos, que correspondiam a uma

gama variada de grupos distintos - Potiguar, Janduí, Kariri, Guaianá, Tarairiú – foram

considerados os maiores dentre os selvagens, faladores de uma ‘língua travada’ e

impermeável aos esforços racionalizadores dos jesuítas, que vinham, desde mo século

XVI, compondo uma ‘língua geral’.

Familiarizados com as caminhadas mato adentro, exímios na captura de índios, os

paulistas apresentavam um “estilo militar perfeitamente adequado às condições ecológicas

do sertão”11. Comandaram “terços” compostos por elementos socialmente desclassificados

e por outros índios, que haviam se alinhado aos colonizadores para escapar da dizimação

ou, eventualmente, por pertencerem a grupos inimigos dos que se combatia. Os próprios

paulistas, na maioria mestiços de índio – ‘mamelucos’ - constituíam uma mistura complexa

de ‘mocinhos’ e de ‘bandidos’: exaltados pelo governo quando eram necessários a algum

‘serviço sujo’, desqualificados quando sua independência ultrapassava os limites desejados

e se afigurava ameaçadora12.

A ‘guerra dos bárbaros’ deve ser compreendida, ainda, no contexto da dominação

holandesa no nordeste brasileiro (1630-1654). Quando os holandeses foram expulsos,

intensificou-se, por parte dos colonos, o movimento de expansão da pecuária rumo ao

interior, os povos indígenas revidando a essa ofensiva com ataques violentos contra as

fazendas, as plantações e os povoados do recôncavo baiano (1651-1679) e, a partir de

1687, contra Pernambuco, Rio Grande e Ceará. Os conflitos que opunham europeus no

continente e reverberavam no Atlântico enraizavam-se, portanto, no interior da América

portuguesa.
12

Durante o período colonial, os impulsos de expansão resultaram, por toda a parte, em

situações extremamente nocivas e não-integradoras, a ação dos colonizadores redundando,

muitas vezes, em despovoamento13. A Lei do Diretório dos Índios, que passou a vigorar

na América em 1758 e tirava das mãos dos religiosos a administração dos aldeamentos

indígenas, não funcionou satisfatoriamente. Contou com o empenho do governo ilustrado

de Sebastião José de Carvalho e Mello, depois Marquês de Pombal, mas não apenas: as

pesquisas mais recentes mostram que a mudança no regime dos aldeamentos foi, em

grande parte, uma resposta aos anseios e às pressões exercidas pelos próprios indígenas

aldeados14. Na época do Diretório, os índios da Amazônia já tinham o hábito de lançar mão

de ações de liberdade para fazer valer os direitos que acreditavam seus: nas Juntas das

Missões, órgãos que avaliavam as demandas de colonizadores no sentido de escravizar os

‘maus’ índios, e regulavam as ações missionárias, corria também a luta surda e cotidiana

dos indígenas, muitos deles homens livres reconduzidos ao cativeiro e inconformados com

a imprecisão do seu estatuto jurídico15.

Um outro exemplo do protagonismo indígena se encontra nas conflagrações ocorridas

no sertão leste de Minas Gerais durante a segunda metade do século XVIII, os ápices de

violência correspondendo ao período compreendido entre 1765 e 178516. Ali, num

contexto em que o declínio da mineração de ouro e diamantes levava as autoridades

administrativas e os colonos a buscar novas alternativas econômicas, o avanço do

povoamento exerceu pressão sobre regiões cobertas por densas florestas e habitadas por

povos indígenas menos tocados pelo contato com os brancos, alguns deles tidos por

antropógafos . O embate principal foi o verificado entre os pequenos colonos (chamados

de ‘posseiros’) e os povos nativos da região: Coroado, Puri, Botocudo, Kamakã, Pataxó,

Panhame, Maxakali. A belicosidade e a violência desses indígenas foi grande, e a eles


13

coube, em muitos casos, a primeira iniciativa dos ataques. Isto, contudo, não impediu que

boa parte acabasse vivendo nas vilas, misturando-se com brancos, mostrando-se

portadores, por um lado, de uma condição jurídica e social incerta, imprecisa, flutuando

entre a liberdade e a escravidão; mas revelando-se zelosos, por outro, do seu estatuto de

homens livres, que reclamavam por meio dos instrumentos existentes, como as ‘ações de

liberdade’. Nas franjas ocidentais de Minas, portanto, os índios foram guerreiros

sanguinários e também agentes históricos capazes de urdir estratégias que lhes garantissem

a sobrevivência e lhes preservassem a identidade étnica 17.

Muitos outros conflitos poderiam ser lembrados. Houve os que corresponderam a

acomodações e movimentações específicas daqueles povos, como aconteceu com as dos

índios Mura da Amazônia, verdadeiros paradigmas de índio bárbaro, registrados pela

primeira vez em crônicas portuguesas por volta de 1714, flagelo dos colonizadores nas

décadas de 1770 e 1780. Assaltavam fortalezas, pilhavam roças de mantimentos, matavam

as populações ribeirinhas, tinham fama de atirar flechas com força capaz de fazê-las

atravessar um boi inteiro18. Outros tiveram relação com conjunturas globais, como foi o

caso da guerra movida, entre 1752 e 1757, pelo exército coligado de portugueses e

espanhóis contra as forças dos índios Guarani aldeados nos Sete Povos das Missões

jesuíticas19. A Guerra Guaranítica, como ficou conhecida, foi uma espécie de prelúdio da

expulsão da Companhia de Jesus, varrida, nos anos seguintes, da maior parte das

monarquias católicas da Europa.

3. a conflitualidade dos escravos negros.

Guerra e negociação foram também os dois aspectos centrais da resistência dos

escravos de origem africana, ao longo do período colonial e em toda a extensão do território


14

luso-americano. Mas a problemática dessa conflitualidade apresentava questões de natureza

bem distinta daquela indígena. A escravidão africana envolvia três continentes – a África, a

Europa e a América – e movimentava homens e capitais em escala global. Estava presente

em outras regiões coloniais, integrando um sistema atlântico, no seio do qual as notícias e

influências recíprocas circulavam.

Apesar dos imensos contingentes escravos existentes na América portuguesa,

consolidados ao longo dos séculos XVII e XVIII, e que chegaram, no século XIX, a

constituir, presumivelmente, o maior sistema escravista das Américas, não houve, antes do

início do século XIX, revoltas escravas com plano e intento de destruir a ordem vigente:

então, uma série de revoltas escravas sacudiram a Bahia a partir de 1807, culminando, em

1835, com a famosa revolta dos malês20. No mais das vezes, a capacidade escrava de

contestar o regime não foi espetacular: manifestou-se de modo surdo, mas cotidiano. Ia da

lentidão no ritmo de trabalho à sabotagem; da persistência em manter práticas mágico-

religiosas específicas até as fugas coletivas e suicídios; das pequenas aglomerações de

escravos fugidos aos grandes aglomerados, que chegaram a constituir verdadeiras cidades.

A inevitabilidade da resistência escrava influenciou decisivamente o universo mental

de então e tornou impossível distinguir, em muitos dos episódios de tensão e choque entre

escravos e livres, o perigo efetivo do perigo imaginário, que apavorava as populações tanto

quanto os atos reais. Se a possibilidade de levantes escravos foi permanente enquanto durou

a escravidão, o medo foi multiforme e onipresente: o negro fugido, salteador de estradas e

morador de quilombos, foi o maior de todos os inimigos internos que os poderes

estabelecidos tiveram durante o período colonial, e o mais capaz de pôr a perder a

dominação senhorial. O sentimento de medo e de insegurança, em suma, teve dimensões

consideráveis, e permeou todas as camadas da sociedade21. Por isso, talvez, caiba


15

considerar que o modo encontrado pelos escravos para resistir à dominação senhorial foi

eficiente mesmo quando não se concretizou em atos efetivos: a resistência cotidiana,

pulverizada e microscópica, teve efeitos simbólicos poderosos.

Ao mesmo tempo, o conflito e o medo caminharam sempre ao lado da negociação:

sobretudo antes do século XIX, quando os embates se amplificaram, o escravo preferiu

antes negociar que enfrentar abertamente o sistema, exercendo o “heroísmo prosaico de

cada dia”, aproveitando cada conjuntura crítica – como a guerra contra os holandeses, no

meado do século XVII - e cada momento de desatenção da camada senhorial – como por

ocasião de festividades, a exemplo do Natal e da Páscoa - para agir com oportunismo e

esperteza22.

O marco decisivo na história da luta escrava na América Portuguesa foi a constituição

do quilombo dos Palmares, no atual estado de Alagoas, no nordeste brasileiro. Ali, na serra

da Barriga, organizou-se um núcleo formado sobretudo por escravos negros fugidos, que,

em alguns momentos, somaram de 20 a 30 mil habitantes. Documentos datados dos

primeiros anos do século XVII já falavam desse ajuntamento, mas foi na segunda metade

do século, durante e após a guerra dos colonos nordestinos contra os holandeses, que o

fenômeno atingiu a maior expressão. A palavra quilombo derivaria de vocábulo bantu e

designaria originalmente, ainda na África, um tipo de acampamento militar. Na América,

serviu para nomear os ajuntamentos de negros fugidos, da mesma forma que mocambo,

palavra de origem kimbundu. Falou-se muito de uma organização similar à dos reinos

africanos, com rei e rainha, mas não há evidências conclusivas neste sentido. Em Palmares,

o primeiro dos grandes líderes durante o período que antecedeu a destruição, na segunda

metade do seiscentos, foi Ganga Zumba, que, após negociações, estabeleceu uma trégua

com o governo português. Seu sobrinho Zumbi, contudo, representou os setores mais
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radicais: assassinou o tio e retomou a luta contra os colonizadores, até que expedições

compostas por sertanistas de São Paulo, índios e tropas do Nordeste arrasassem o

quilombo, em 1695, após uma guerra que durara mais de meio século (1644-95) 23.

No tempo que Palmares reunia dezenas de milhares de negros fugidos, havia ainda

muitos outros quilombos nas regiões de colonização mais antiga, como Cairu, Camamu e

Ilhéus, ao sul da Bahia. Palmares, contudo, foi a maior ameaça à ordem escravista na

América do Sul, e uma das maiores das Américas até que, no final do século XVIII,

ocorresse o levante do Haiti. Os indícios de que Palmares constituiu um verdadeiro divisor

de águas aparecem em várias fontes documentais, e dizem respeito a diversos aspectos da

vida social, política, econômica e cultural da América Portuguesa em particular, e até

mesmo do Império Português como um todo. Do ponto de vista do léxico, foi com

Palmares que se generalizou o emprego da palavra quilombo para designar aglomerações de

negros fugidos. No que diz respeito às concepções jesuíticas sobre catequese e escravidão,

foi também com Palmares que elas se sofisticaram mais, negando o direito à palavra de

Cristo para os negros que não estivesses sujeitos ao cativeiro. Foi com base em reflexões

sobre Palmares que homens como Antonio Vieira e Jorge Benci refinaram os argumentos

sobre os quais se edificou uma sólida utopia conservadora e escravista, “que admitia negros

no Paraíso, desde que escravos, e os condenava implacavelmente ao inferno se incorressem

em pecado mortal de rebelião”24. Para exterminar o quilombo da serra da Barriga,

estabeleceu-se o hábito de organizar grandes exércitos aniquiladores, com a participação

direta das municipalidades e dos administradores portugueses em serviço na América; a

atuação dos paulistas nessas expedições bélicas passou a ser regular, pois eles já haviam

dado mostras de eficiência no combate aos índios rebeldes. Após Palmares, a função e o
17

cargo de quadrilheiro, que remontavam à Baixa Idade Média, foram substituídos pelo de

capitão-do-mato, que, no início da década de 1720, ganhou legislação específica. Palmares

elevou ao pico máximo o medo senhorial referente às fugas, dando origem ao palmarismo,

ou seja, ao pavor de que uma insurreição escrava pusesse fim à dominação colonial.

Se, até então, ajuntamentos de negros fugidos talvez fossem razoavelmente tolerados, a

memória fantasiosa de uma grande cidadela negra, com fossos e paliçadas, rei e rainha,

com a prática de promover razzias freqüentes nas imediações passou a ganhar corpo e

estatuto de verdade nas mentes de colonos e administradores. Palmares despertou a

consciência de que o controle de multidões de cativos africanos por parte de uns poucos

brancos e outros tantos mestiços podia terminar em catástrofe. Era ainda o quilombo de

Alagoas que assombrava um súdito anônimo quando, quase cem anos depois, na década de

1770, escrevia de Minas Gerais à rainha Dona Maria I, dizendo ser iminente uma guerra de

pretos caso os habitantes da região marchassem para o sul em socorro da fronteira

ameaçada pelos castelhanos. Temia-se pelas mulheres e filhas que ficariam à mercê de

outro inimigo, o “mais pernicioso” de todos, “a gente preta bárbara de África e Guiné”:

inimigo interno, porque todos os moradores o possuíam em maior ou menor número, todos

deles dependiam para minerar ou plantar. Eram domésticos só na aparência, forçados pelo

temor: a sua natureza profunda era feroz, sua inclinação verdadeira era para o mal, e viam

os brancos como inimigos naturais porque os privavam da liberdade25. Um outro episódio,

ocorrido em Mato Grosso no ano de 1775, mostra como o escravo negro conquistara, ao

lado do índio, um papel garantido como inimigo interno potencial, comparável, no âmbito

da conflitualidade externa, aos castelhanos sempre temidos: surpreendida por barulhos

assustadores, a população de certa localidade demorou algum tempo para atinar se estava
18

cercada de castelhanos, se em meio a uma invasão de gentio ou a levante de negro, aturdida

com “o obscuro da noite e susto da novidade”26.

Se essa memória tendia a hipertrofiar o objeto do medo, as práticas concretas tinham

dimensão bastante distinta. O padrão dominante ao longo do século XVIII foi o dos

quilombos de pequeno e médio porte, localizados quase sempre em locais de acesso difícil

– pântanos, ilhas fluviais, grotões e cavernas situados em serras escarpadas – mas próximos

dos centros urbanos mais significativos. Os habitantes dos quilombos, chamados de

quilombolas ou, em certas regiões – como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso -, também

de calhambolas, podiam eventualmente cometer assassinatos e roubar mulheres: a parte

mais substantiva de suas ações era constituída, porém, pelos pequenos furtos que lhes

garantiam a subsistência, pelos assaltos a tropas que transportavam gêneros alimentícios e

animais de carga. Não tinham o objetivo bem definido de subverter a ordem estabelecida,

de planejar uma grande revolta que matasse os brancos e assegurasse o controle negro da

sociedade, apesar de haver indícios, como em Minas Gerais no ano de 1719, de que alguns

escravos ensaiaram promover matança de senhores por ocasião das festividades pascais,

quando estes estariam reunidos nas igrejas e ocupados com os serviços religiosos. Tais

episódios não ultrapassaram a dimensão restrita, localizada: escapadelas voltadas para a

obtenção de ganhos específicos; ensaios de uma liberdade que pouco tinha de efetiva, à

moda do petit marronage que vicejou nas colônias francesas da América. Como observou

um especialista, não era fácil fugir para a liberdade, pois a escravidão não terminava numa

porteira 27. Quando o sistema todo era escravista, o escravo podia até circular livremente,

como ocorria com freqüência nas regiões produtoras de ouro: as malhas apertadas não

davam espaço para outra forma de vida, e tanto os negros alforriados como até mesmo os

escravos que juntavam algum pecúlio compravam escravos para si.


19

Esse padrão de quilombos médios e pequenos espalhou-se por boa parte da América

Portuguesa, tendo magnitude ímpar durante o século XVIII nas regiões auríferas do Brasil

centro-oriental. Minas Gerais contou com cerca de 160 quilombos ao longo do século,

alguns nas imediações dos grandes centros urbanos, como Vila Rica, outros mais afastados,

sertão adentro, grandes e famosos, como o Quilombo do Ambrósio ou do Campo Grande.

Contra este, e também contra outros da região, mobilizaram-se expedições importantes,

com muitas armas de fogo e até canhões. Muitas delas retornavam sem conseguir encontrar

os negros, que fugiam deixando os aldeamentos vazios – alguns compostos por pobres

choças, mas outros dotados de casas cobertas de telhas, paióis para mantimentos, cultivo

variado de raízes, tubérculos, milho, fumo, algodão, hortaliças e árvores de fruta. Em Mato

Grosso, nas imediações do rio Galera, afluente ocidental do rio Guaporé, o quilombo do

Piolho teve mais de cinqüenta anos de existência (1740-1795) e comportou cerca de cem

habitantes, um terço dos quais sendo índios28. Em Goiás, perto da capital Vila Boa, também

proliferavam pequenos quilombos afeitos a furtos nas roças e fazendas circunvizinhas.

Contra eles se usaram tropas compostas por indígenas, sobretudo Xavantes e Caiapós: estas

teriam sido mais destrutivas que as grandes bandeiras luso-brasileiras, protagonizando uma

verdadeira guerra negro-indígena29.

Essa rede de pequenos e médios quilombos não foi autônoma: interagiu com a

sociedade mais ampla, os quilombolas acorrendo às tavernas e aos povoados assim que a

noite caía para trocar ouro em pó pelos produtos dos quais necessitavam: tecidos,

ferramentas, aguardente. Por isso mais de um estudioso considerou o quilombo antes como

elemento de cooperação do que de negação da ordem escravista, constituindo, ao fim e ao

cabo, uma poderosa válvula de escape que impedia a explosão do sistema30. Não conseguiu

tampouco ser corrosivo porque não podia escapar às contradições próprias ao escravismo,
20

em meio às quais os agentes históricos tinham dificuldade em identificar os objetivos e

interesses que os podiam unir contra alvos comuns. Assim sendo, negros libertos se

voltaram contra escravos, índios lutaram contra quilombolas, amortizando o impacto que

tais movimentos, próprios aos setores subalternos da sociedade, poderia ter. Por fim, todas

essas formas que tendiam à oposição transformavam-se, quando necessário, em

mecanismos de negociação: o escravo negro das Américas não foi apenas e sempre o

facínora de Palmares e, depois, do Haiti: foi, amiúde, um negociador esperto, procurando

tirar o proveito máximo de uma situação inelutavelmente marcada pelo infortúnio e pela

iniqüidade.

4. a insurgência dos colonos em chave atlântica

Os movimentos de caráter político mais formal contaram com o protagonismo

significativo de elementos das elites, que, mesmo nos casos em que ocorreu participação

popular, sempre controlaram o processo. Foi sobretudo nestes movimentos – mais sociais,

portanto, que populares - que as conexões atlânticas se fizeram notar mais intensamente;

como se viu até agora, a insurgência indígena e escrava se referiu, quase sempre, a

contextos e motivações circunscritas e regionalizadas.

Vários eram os motivos que levavam as elites a ostentar conexões internacionais. Os

grandes produtores de açúcar e os grandes comerciantes as tinham por força da atividade

econômica: para o exterior ia o produto da lavoura canavieira, de lá vinham os

manufaturados necessários à vida cotidiana. Os que viviam nos grandes portos assistiam à

chegada e à partida dos navios, a maioria portugueses, devido ao sistema de exclusivo de

comércio, mas muitos deles estrangeiros, que pediam licença para se abastecer de água e

alimentos frescos, desembarcando, às escondidas, mercadorias contrabandeadas, livros


21

proibidos pela monarquia dos Braganças e, já para o final do século XVIII, pasquins

sediciosos. Todo homem abastado que desejasse ter um filho formado em Medicina,

Direito ou Engenharia era obrigado a enviá-lo para o exterior, fazendo-o, sobretudo, para a

Europa: enquanto a América foi parte do Império português, não pôde abrigar cursos

universitários próprios.

Nessa perspectiva, ou seja, a da conflitualidade caracterizada pela participação de

membros das elites sociais, políticas e econômicas da América Portuguesa, é possível

detectar, ao longo do século XVIII, duas grandes conjunturas insurgentes31. A primeira teve

início na época da guerra de sucessão espanhola e se estendeu até 1736, flutuando dos

levantes anti-fiscais e do enfrentamento com os representantes do poder real à luta social

propriamente dita; tendo por protagonistas os colonizadores antigos (que tendiam a se

constituir em aristocracias) e aqueles de origem mais recente (comerciantes e mineradores

de ouro). A segunda teve o colorido mais peculiar à inquietação colonial e social que

caracterizou o período circunscrito entre a independência norte-americana, por um lado, e a

revolução francesa (nela se incluindo a guerra revolucionária e a napoleônica), por outro, os

marcos cronológicos para o caso luso-americano sendo 1789-1798. Esta segunda

conjuntura insurgente teve como protagonistas principais as elites ilustradas, fossem elas

nascidas na América, fossem em Portugal. À luz da historiografia contemporânea, os seus

propósitos separatistas, tradicionalmente muito invocados, tornaram-se bastante discutíveis,

bem como a forma de cooptação dos extratos sociais subalternos. Entre essas duas

conjunturas, mediou um período peculiar, que só agora começa a ser estudado,

correspondente a uma onda de protestos escritos e verbais contra o rei Dom José I e seu

ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, depois marquês de Pombal, atacados por

terem expulsado do Império os padres da Companhia de Jesus. Esta onda de defesa aos
22

jesuítas não chega a constituir uma conjuntura de insurgência, mas foi muito importante por

inaugurar um tipo específico de conflitualidade e, ao mesmo tempo, de punição, ambos

retomados na segunda e última conjuntura insurgente do século.

Se os agentes envolvidos nesses movimentos apresentavam conexões internacionais

devido às condições de nascimento e educação, as peculiaridades do momento histórico

também propiciavam a conexão mais estreita entre as diferentes partes do globo. As

conjunturas insurgentes referidas têm implicações evidentes com o contexto de luta pela

hegemonia política e econômica na Europa – luta que ganhou novos contornos após o

tratado de Utrecht, em 1713, e a morte de Luís XIV, em 1715 -, bem como de luta pelo

controle do Atlântico sul. Ao longo do século XVIII, foi permanente o medo de invasões

estrangeiras, que, de fato, chegaram a ocorrer: em 1710 e 1711, Duclerc e Dugay-Trouin,

corsários franceses, invadiram o Rio de Janeiro com o apoio de seu rei, opositor do de

Portugal na guerra pela sucessão da Espanha; em 1777, os espanhóis ocuparam a ilha do

Desterro, em Santa Catarina.

O medo, como no caso da potencial sublevação escrava, superou os fatos. O escravo

sempre à espreita do senhor, a embarcação estrangeira sempre pronta a surgir na linha do

horizonte, vinda do oceano para atacar a costa, obsedaram as populações de então, e

representaram, no vocabulário político da época, o perigo interno e o perigo externo, que,

se somados, podiam pôr a perder a dominação colonial: tanto o controle dos portugueses

sobre a América quanto o dos colonizadores luso-brasileiros sobre o interior do continente.

O reinado de Dom João V (1706-1750) correspondeu a uma inflexão na política

imperial portuguesa. A descoberta das minas de ouro na região central da América lusitana

conferiu ao Atlântico um predomínio decisivo no conjunto das conquistas do Império,

proporcionando, ao mesmo tempo, um grande alívio à difícil situação econômica do Reino,


23

que, desde a Restauração, em 1640, havia se envolvido em duas longas guerras contra a

Espanha: a primeira, pelo reconhecimento da independência, a segunda para impedir que

um Bourbon ocupasse o trono do país vizinho. O século XVII fora, em grande parte,

dominado por concepções imperiais ainda religiosas, como as do Padre Antonio Vieira. O

século XVIII pensou o Império em termos predominantemente seculares, reformulando e

racionalizando práticas administrativas e fiscais32. Conforme a presença do rei, de seus

administradores e de seus tributos se fez sentir com mais força, eclodiram levantes e

motins em várias partes da América, todos eles podendo ser vistos ora como expressão, ora

como combinação dos três elementos seguintes:

1) o conflito entre grupos sociais já sedimentados, de teor mais aristocrático, e grupos de

sedimentação recente, mais tipicamente arrivistas;

2) o conflito mais genérico entre o povo – na acepção setecentista, mais restrita que a de

hoje – e o governo, bem como seus representantes, em virtude da montagem de aparelhos

fiscais mais eficazes e racionalizados;

3) o conflito mais circunscrito de soldados insatisfeitos com o atraso no pagamento dos

soldos.

Os conflitos dos emboabas, ocorridos nas regiões de Minas Gerais e São Paulo entre

1707 e 1709, e os dos mascates, que se desenrolaram em Pernambuco entre 1710 e 1711

combinaram elementos do primeiro e do segundo tipo. O primeiro decorreu das

transformações ocorridas com o enorme deslocamento humano provocado pela corrida do

ouro às Minas Gerais a partir de 1695, opondo os primeiros descobridores, em geral

paulistas, e os adventícios, originários de outras regiões – como a Bahia – e, sobretudo, do

Reino. Apresentou ainda elementos de resistência dos mineradores ante o empenho

metropolitano em melhor controlar a região, criando vilas e organizando os impostos, e de


24

insatisfação do povo em geral ante o controle de certos gêneros alimentícios – como a carne

– por grupos de comerciantes. O segundo conflito opôs comerciantes da vila do Recife,

fundada por Maurício de Nassau quando da invasão holandesa ao Nordeste, e senhores de

engenho da cidade de Olinda, mais antiga e aristocrática. Teve contornos próximos aos das

tensões estamentais típicas da sociedade européia de Antigo Regime, mas também implicou

na contestação que os grupos locais moveram contra representantes do poder real. Recife

acabou sendo feito cidade pelo governo português: nascido de um empreendimento

realizado pela Companhia das Índias Ocidentais Holandesa, filho do comércio marítimo,

aberto para o intercâmbio com a África, o Recife acabou suplantando Olinda, a cidade dos

primeiros colonizadores do Nordeste brasileiro33. Em ambos os episódios, a Coroa oscilou

entre um e outro pólo do conflito, e o Conselho Ultramarino, que a partir da Restauração

dos Braganças em 1640 passara a cuidar dos assuntos referentes às diversas regiões do

Império, acompanhou com atenção os acontecimentos longínquos, nitidamente temeroso de

que a conflitualidade de colonos poderosos pusesse a perder a dominação metropolitana

sobre aquelas conquistas. O temor não era infundado. No episódio dos mascates, a luta

encetada décadas antes contra a Companhia das Índias Ocidentais fortalecera a auto-estima

dos pernambucanos, dando motivo a laivos de um proto-nacionalismo, que é mais acertado

chamar de sentimento regional, e que os dissabores de mascates e olindenses às voltas com

os representantes do poder real acabaram por reacender. No caso particular da guerra

emboaba, há evidências convincentes de que, entre os mineradores, ganhavam prestígio as

teorias contratualistas que haviam integrado o ideário da Restauração, e que abriam espaço

para a contestação do poder real toda vez que o interesse geral dos povos se achasse

contrariado34.
25

Na cidade do Salvador, na Bahia, ocorreram em 1711 levantes que ficaram

conhecidos como Motins do Maneta. Foram multifacetados na ação e na composição social,

mas se dirigiram sobretudo contra impostos e comerciantes monopolistas, contestando as

taxas sobre os escravos trazidos da Costa da Mina e de Angola, bem como sobre a

alfândega e sobre o sal, monopolizado por um único comerciante. As agitações ganharam a

adesão de soldados, oficiais, marinheiros da frota do Reino e de um negociante

cognominado de "o Maneta". As casas de três importantes homens de negócio foram

pilhadas e depredadas, distribuindo-se os objetos entre a população. Em lugares públicos

foram afixados pasquins insolentes, que ameaçavam "reconhecer a vassalagem a outro

senhor se não fosse suspensa a execução dos novos tributos" 35. Ante esta situação crítica, o

governo local voltou atrás: retirou os aumentos e antecipou um perdão aos revoltosos.

Cerca de um mês e meio depois, contudo, os motins voltaram a ocorrer, desta vez chefiados

por negociantes que alegavam a urgência de armar uma esquadra para socorrer o Rio de

Janeiro, então ocupado pelo corsário francês Dugay-Trouin. Fragilizado, o governador

cedeu e começou a armar os navios, expedindo ordens à Câmara para que coletasse

contribuições. Com a notícia da partida dos franceses, o movimento perdeu sua razão

principal, mas o mesmo governador, que perdoara os culpados do primeiro motim,

procedeu à punição dos envolvidos no segundo, degredando os três principais chefes para

partes da África. O Conselho Ultramarino acusou que havia percebido a recalcitrância e

incoerência do governador: como justificar a leniência no primeiro episódio, que afrontava

o poder do rei, e a dureza no segundo, quando o objetivo era socorrer outra região,

ameaçada pelo perigo externo?

Em 1720, nas Minas, reapareceriam várias das questões constitutivas das sedições

anteriores nesta conjuntura: luta entre setores do aparelho administrativo (o ouvidor contra
26

o governador), entre oligarquia local e governo, insatisfação generalizada contra os tributos

sobre o ouro, que, apesar da região ter se povoado e urbanizado rapidamente desde os

episódios de 1707-1709, ainda não tinham encontrado uma forma acertada. O intuito

governamental em estabelecer Casas de Fundição, onde se descontaria o tributo e se

carimbariam as barras, suscitou em Vila Rica – atual Ouro Preto - protestos populares de

violência anônima, que se prolongaram por vários dias no final do mês de junho. Por

detrás, contudo, estavam mineradores e comerciantes importantes, alguns dos principais

potentados da região, inclusive participantes da antiga guerra emboaba. O governador local,

Dom Pedro de Almeida, primeiro fingiu contemporizar, para, no final, ocupar militarmente

Vila Rica e mandar executar sumariamente um pequeno comerciante que, na qualidade de

súdito branco de El Rei, deveria ter sido julgado. Possivelmente porque sabia que seria

admoestado seriamente pelo monarca, o governador, conde de Assumar, escreveu um texto

de reflexão política, raro no contexto imperial português, no qual fundamenta uma defesa,

apresentando os motivos que o haviam levado às medidas extremas e expressando, com

grande propriedade, as contradições próprias ao mando em colônias onde a economia

repousava na força de trabalho escrava e que distavam das metrópoles meses de viagem

marítima36.

Ocorrido em Salvador, em maio de 1728, o levante do Terço Velho fechou a

primeira conjuntura crítica do século XVIII luso-americano. Ultrapassou os motivos

tradicionais de insatisfação dos soldados, ligados aos atrasos no fornecimento das fardas e

das rações de farinha de mandioca, revelando profunda insatisfação ante o aparelho

judiciário, pois o estopim do movimento foram as sentenças severas que o Ouvidor Geral

do Crime dava contra soldados acusados de roubo. Cerca de 300 soldados – a maior parte

da guarnição da Bahia – se rebelou, percorrendo as ruas desordenadamente. Assim que a


27

movimentação arrefeceu, o vice-rei do Brasil, conde de Sabugosa, presidiu à repressão: 23

prisões, um julgamento sumário, 7 enforcamentos com dois esquartejamentos; 13 degredos

perpétuos para Benguela37. A insurreição de soldados, braço armado do poder, era

ocorrência séria: se havia acontecido anteriormente em diferentes pontos do Império

português - inclusive, em 1688, na própria Bahia -, o teor crítico daquele primeiro quartel

do século XVIII a tornava gravíssima.

Entre esse bloco de revoltas e o que fechou o século concentram-se, nas regiões do

Brasil centro-oriental – Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo – um conjunto

de movimentos protagonizados por homens cultos ligados às leis e à religião. O motivo

comum a todos foi o protesto contra a expulsão dos jesuítas, realizada pelo governo de

Dom José I em 1759. Na qualidade de missionários e mestres, já que, na ausência das

universidades, os cursos oferecidos pelos colégios atraíam os meninos e rapazes das

diferentes regiões da América portuguesa, os Padres da Companhia gozavam de estima e

prestígio. Pelo teor das palavras sediciosas imputadas aos réus, fica claro que, no âmbito

desse movimento, ia-se delineando um novo tipo de conflitualidade. Baseava-se, como no

tempo dos emboabas e no das revoltas tardo-seiscentistas que pipocaram em diferentes

regiões do Império, no contratualismo, caro aos inacianos. Mas invertia os termos clássicos

das revoltas do Antigo Regime, ou seja, “viva o rei e morra o mau governo” – na França,

vulgarizando-se a variante “viva o rei sem a gabela”, o detestado imposto sobre o sal. Não

se concentravam mais os ataques nos cobradores de impostos ou nos governantes relapsos

para, assim, se preservar a figura real38. O que se encontra nas palavras “sacrílegas”

daqueles apoiadores dos jesuítas é o ataque ao rei e a seu ministro, sem, contudo, se negar a

monarquia: algo como “viva o bom governo e morra o rei”. Dom José, diziam os pasquins

sediciosos, tinha ficado louco ou pateta após o terremoto de 1758 e passara as rédeas do
28

governo para o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, que governava mais

tiranicamente que imperadores romanos como Nero e Diocleciano. Nunca antes, talvez, a

crítica à pessoa real se tornara tão freqüente e corriqueira, dessacralizando a monarquia39.

A maior parte desses episódios não foi além das reuniões, distribuição de panfletos,

de pasquins, murmurações, rumores. Mas como, naquela época, as palavras e as

murmurações eram tidas por sediciosas, houve investigação e acusados: em 1760 e 1776 no

arraial de Santo Antônio do Curvelo, no sertão de Minas Gerais, entre os rios São Francisco

e das Velhas; em 1760 em Vila Rica, principal centro urbano da capitania; em 1769, em

Mariana, sede do bispado mineiro; em 1775 em Sabará, cabeça da comarca do Rio das

Velhas. Há indícios, que ainda esperam por maior investigação, de jesuítas disfarçados

incitando os índios das aldeias a se rebelar no Espírito Sant, em Mato Grosso e na parte

norte de Goiás. Nas localidades mais afastadas da América Portuguesa ressoavam portanto

as notícias referentes às perseguições movidas contra os Padres da Companhia nas

principais monarquias católicas da Europa. Antes de 1773, quando a ordem foi extinta na

Cristandade, temia-se que, apoiados por potências inimigas dos portugueses, os padres

facilitassem uma invasão à América portuguesa. Foi nesse contexto que tomou forma nas

Minas, em termos práticos, o crime de inconfidência.

O segundo momento de insurgência aqui abordado representa certa ruptura ante a

tradição insurgente que o antecedeu. Compósito no tocante aos grupos sociais envolvidos,

ou ainda quanto aos objetivos esboçados, apresenta, contudo, uma natureza predominante: a

coloração colonial, não podendo ser confundido com as formas de insatisfação mais

tradicionais próprias ao mundo do Antigo Regime. Além do que, neste momento, o apreço

por idéias ilustradas se funde ao anseio por mudanças radicais que, em última instância,

põem em xeque a forma de governo – o absolutismo monárquico - e o estatuto político - o


29

colonial. Na insurgência de então, nota-se a profunda influência dos dois acontecimentos

capitais da época: a independência das colônias norte-americanas, em 1776, e a revolução

francesa de 1789. Talvez nunca o impacto da dimensão atlântica tenha se feito tão presente

como então. Marcam o período as chamadas inconfidências de 1789, em Minas, de 1794,

no Rio de Janeiro, e de 1798, na Bahia, apresentando um saldo de cinco enforcados, um

deles esquartejado: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes da Inconfidência Mineira.

Essas “inconfidências” tiveram enorme importância na historiografia brasileira e na

construção da memória nacional, sendo tradicionalmente consideradas o marco inicial do

processo de independência. Contudo, tende-se, hoje em dia, a considerá-las de modo um

tanto diferente. Expressaram a crise do Antigo Sistema Colonial na América Portuguesa,

mas tanto a impossibilidade de abrir mão do escravismo quanto o ideário ilustrado

impuseram limites à consciência crítica de seus agentes e à radicalidade de seus propósitos.

A tensão entre os objetivos civilizadores dos “inconfidentes”, muitos deles letrados, e o

medo da “barbárie”, representada por uma população majoritariamente mestiça, negra e

indígena, tornou-os hesitantes diante de transformações efetivas – como a abolição da

escravidão, sobretudo após a revolta de São Domingos – e, em alguns casos, levou-os a

buscar soluções de compromisso, tais como projetos reformistas que incorporassem alguns

dos mais esclarecidos dentre os governadores representantes do poder metropolitano (o que

parece ter sido, mais especificamente, o caso da Inconfidência Mineira). A defesa de

interesses privados – perdão de dívidas, participação em redes internacionais de

contrabando – acabou por sobrepujar a adoção de medidas que beneficiassem as camadas

menos favorecidas da população. Em termos gerais, as inconfidências – sobretudo a

mineira e a baiana - parecem expressar o desejo das elites em obter representação política

junto aos órgãos do governo metropolitano e junto à administração colonial, procurando


30

atenuar o centralismo administrativo dos portugueses. A “inconfidência” do Rio de Janeiro

restringiu-se à discussão, em âmbito privado, de idéias ilustradas e sediciosas. Em todas

elas, o povo propriamente dito foi cooptado por poderosos, inclusive no caso da

inconfidência baiana, também chamada de “revolta dos alfaiates”.

Tornada a região mais importante do Império português devido à descoberta do

ouro (ca. 1694) e dos diamantes( 1729), Minas Gerais tinha uma vida urbana muito

acentuada e uma elite intelectual expressiva, que freqüentara cursos universitários na

Europa, e da qual fizeram parte alguns dos maiores poetas do século XVIII luso-brasileiro,

como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antonio Gonzaga e Alvarenga Peixoto.

Disseminara-se o hábito das reuniões literárias e o empréstimo de livros, inclusive os

proibidos. As bibliotecas particulares possuíam títulos de autores como Raynal,

Montesquieu, Voltaire, e as idéias ilustradas adquiriram potencial perigoso a partir de 1784,

quando Luís da Cunha Menezes substituiu no governo a D.Rodrigo José de Menezes,

amigo dos letrados e poetas da capitania, e promoveu uma grande mudança no sistema de

distribuição dos cargos administrativos. O endividamento de alguns desses homens, todos

membros da oligarquia local, e a interrupção de circuitos bem estabelecidos de contrabando

de diamantes, integrados por outros tantos, ajudou a alimentar a insatisfação.

Tudo o que se sabe do episódio assenta sobre fontes oficiais: os autos das duas

devassas então instituídas, que, sem dúvida, fornecem visão deformada. Mesmo assim, é

possível afirmar que, sob influência dos acontecimentos norte-americanos de 1776,

conversou-se sobre a independência da região, chegando-se a esboçar um plano sedicioso,

com participação de membros importantes da magistratura, administração e milícias. A

revolta, que esperava a adesão de setores populares, explodiria quando o governador

lançasse a derrama, ou seja, dispositivo fiscal que obrigava a população a cobrir a diferença
31

das cem arrobas de ouro devidas ao quinto. Ciente de que se tramava um levante em seu

governo – seja por ter recebido denúncias, seja por participar dele -, o governador,

Visconde de Barbacena suspendeu a derrama (14/3/1789) e procedeu à repressão.

As acusações eram graves. Os sediciosos falavam em separação de Portugal,

supressão do monopólio e abertura dos portos, estabelecimento de um regime republicano

circunscrito à capitania de Minas, adoção de uma constituição própria, criação de uma

fábrica de pólvora e de uma casa da moeda: havia, como se vê, conotação anti-colonial. Os

envolvidos eram pessoas de destaque: além dos já citados poetas, dentre os quais Tomás

Antonio Gonzaga era o ouvidor geral da capitania, contavam o principal comandante

militar da região, grandes fazendeiros, arrematantes dos principais contratos, clérigos que

ocupavam postos importantes na hierarquia eclesiástica. A partir de maio de 1789, fizeram-

se as prisões. A sentença final só seria proferida a 18/4/1791: entre este momento e o início

do processo, haviam-se transcorrido dois anos cruciais, com a explosão do processo

revolucionário na França e a liquidação da monarquia. Tais acontecimentos, bem como a

generalização do temor ante a onda radical que ganhava o Ocidente, pesaram na decisão da

Justiça, que originalmente havia condenado à morte na forca onze inconfidentes,

desterrando outros 7 para a África, num teor repressivo nunca visto antes na América

portuguesa. A 15/10/1791, a rainha D.Maria I concedeu o indulto aos condenados à morte,

menos a um, mas isso foi mantido em segredo pelos desembargadores até 19 de abril de

1792. A 21 de abril, enforcava-se, no Rio de Janeiro, o alferes Joaquim José da Silva

Xavier, o Tiradentes. A República, proclamada em 15/11/1889, o transformaria no primeiro

dos heróis nacionais, posição que ocupa ainda hoje40.

Na cidade do Rio de Janeiro, então com cerca de 40 mil habitantes e sede do

vice-reino do Brasil, o julgamento dos sediciosos e a execução de Tiradentes provocaram


32

profunda impressão. Homens letrados vinham-se reunindo em associações como a

Sociedade Literária, criada em 1786 com o intuito de discutir questões referentes ao

desenvolvimento das ciências e sua aplicação na sociedade, defendendo a "laicização da

inteligência". Em 1794, o vice-rei, Conde de Resende determinou o fechamento da

Sociedade, e seguiu-se uma denúncia contra 11 de seus membros por abraçar idéias

contrárias à monarquia, simpáticas às leis francesas, à liberdade dos vassalos para castigar

os reis e críticas quanto à religiosidade exacerbada da corte portuguesa. Os membros da

Sociedade foram presos e mantidos incomunicáveis, seqüestrando-se-lhes os bens e os

papéis. Eram quase todos homens maduros e pertencentes aos estratos médios da sociedade,

não havendo senão dois proprietários. A figura mais importante do grupo era Manuel Inácio

da Silva Alvarenga, mulato mineiro formado em Cânones por Coimbra e influenciado pelo

pombalismo, ensinando retórica e poética no Rio desde 1782. A devassa durou de

dezembro de 1794 a janeiro de 1795; as demais inquirições e acareações se estenderam até

maio de 1796, e além dos 11 acusados, 65 pessoas estiveram envolvidas como testemunhas.

O movimento não foi caracterizado como inconfidente, pois não se conseguiu provar a

existência de um plano de sedição e levante armado visando a tomada do poder. Os presos

foram soltos em 1797, e nenhum saiu condenado41. Mas ficara evidente que as idéias

francesas começavam a deixar o círculo dos letrados e a ganhar os meios populares,

atraindo o interesse de oficiais mecânicos e artífices.

Esta combinação explosiva se repetiria em 1798, na Bahia, tornando-se ainda mais

complexa e abrangente. A Bahia, atravessava um período de desenvolvimento econômico, e

a capital, Salvador, contava com cerca de 60 mil habitantes; era a maior cidade negra da

América Portuguesa, e fora sede do vice-reinado até 1763. A 12/08/1798, foram afixados

em lugares públicos da cidade avisos ao Povo Bahianense, prevendo grandes mudanças,


33

vantagens para a tropa, liberdade para escravos, liquidação do absolutismo, defesa da

igualdade entre homens, da república, do comércio livre e do direito de propriedade.

Invocavam a revolução de 1789, lembrando que todas as nações do mundo tinham os olhos

fixos na França e que a liberdade era “agradável para todos"42.

Os pasquins constituíram o ponto de partida para as averiguações oficiais, mas,


como nas revoltas antecedentes, houve delatores. 70 testemunhas foram chamadas para
depor, e procedeu-se às prisões, que começaram intensas e foram se espaçando,
estendendo-se até janeiro de 1799. Uma análise cuidadosa dos acontecimentos revela que,
no decorrer do processo, a culpa foi sendo deslocada para os elementos mais pobres e
mestiços da sedição, poupando-se os que tinham preeminência econômica, social ou
cultural. A sentença refletiu esta clivagem. Quatro homens pobres, negros ou mestiços,
foram condenados à forca a 8/11/1799, e outros 6, pobres também, foram desterrados.
De modo mais acentuado que os dois movimentos anteriores que compõem esta
conjuntura, a sedição baiana mostrou o esboço de uma cultura política. Há documentos
indicando trajes e comportamentos privativos dos sediciosos: um brinco na orelha, a barba
crescida até o meio do queixo, uma pequena concha nas cadeias do relógio fariam com que

seu portador fosse reconhecido "como Francês, e do partido da rebelião". O movimento


baiano denotou ainda capacidade de articular segmentos diversos da sociedade, propôs a
abolição da escravidão, evidenciou sensibilidade revolucionária, articulando de forma
peculiar o espaço público e o privado. Até aquele momento, este último fora o campo por
excelência da sedição e do protesto ilustrado. Nas Minas, há evidência de que se falou de
revolta nas estradas e nas tavernas: nunca, entretanto, na forma extremada que o protesto
público assumiria em Salvador.

5. conclusão
34

A dimensão atlântica dos movimentos populares na América portuguesa acentuou-

se conforme avançou a colonização. Numa sociedade escravista, a tensão e a

conflitualidade foram permanentes, mas quase sempre referidas a questões circunscritas a

determinadas regiões, e a problemas concretos, cotidianos. Foi com a constituição de

grupos mercantis e ilustrados mais consistentes que as idéias críticas, os movimentos

sociais e, no limite, revolucionários, passaram a alcançar repercussão em solo americano,

afetando, inclusive, as camadas subalternas – conforme se insinua no caso, ainda pouco

estudado, dos levantes e murmurações partidários dos jesuítas.

O fato de ser o escravismo o grande divisor de águas daquela sociedade abafou as

possibilidades da consciência social propriamente dita. Os diferentes setores das camadas

subalternas apresentaram limites fluidos e interesses flutuantes, o que dificultou traçar

estratégias e projetos comuns. As guerras de índios e de pretos foram freqüentes e geraram

um imaginário de pânico, mas, nelas, não ocorreu uma solidariedade irrestrita que

irmanasse os desfavorecidos: ficou claro o quanto, na guerra contra os pretos, foram

importantes os guerreiros índios. Nos conflitos, os estratagemas cotidianos e a negociação

adquiriram grande importância, e, a longo prazo, minaram a ordem escravista.

A fragmentação territorial da América Portuguesa, bem como a compartimentação

dos interesses regionais dificultaram, por sua vez, que as elites tivessem clara consciência

de suas potencialidades. As “inconfidências” não ultrapassaram o âmbito de protestos

regionais e não cuidaram em aglutinar todas as regiões da América que, assim unidas, se

tornariam independentes de Portugal: os colonos ainda não cogitavam da unidade do Brasil,

que só se configuraria no século XIX, com o Império. Já certos setores da administração

chegaram a temer a força da unidade dessas partes: por isso os governadores tiveram tanto
35

medo, e por isso o Conselho Ultramarino insistiu na ameaça potencial existente na

conjunção do perigo interno com o perigo externo43.

De qualquer forma, parece possível considerar que, nas suas várias manifestações, a

insurgência do século XVIII marca a entrada da América portuguesa no mundo

propriamente dito do Antigo Regime. Os conflitos horizontais, entre plantadores de açúcar

e mascates, aproximam-se dos que opuseram, na França, a nobreza de espada à de toga. O

antifiscalismo, que já se vinha sentindo antes, acentuou-se, mesmo porque a América

portuguesa se tornava mais rica. As contradições entre metrópole e colônia também se

acirraram: a crise do Antigo Sistema Colonial foi um capítulo da crise do Antigo regime,

inaugurada pelas 13 colônias da América do Norte, e acabou acarretando, na América

Ibérica, a emergência de dezenas de estados nacionais.

O Brasil, país surgido nesse contexto, manteve-se monárquico e escravista por quase

todo o século XIX. Característica mais importante que a sua divergência lingüística com

relação aos vizinhos: o único falante americano da língua portuguesa, semeada com sucesso

pelos colonizadores ao longo das duas vertentes do Atlântico Sul.

1
A designação dessa região variou ao longo do tempo, mas aqui, em nome da simplicidade, optamos por
manter sempre nesta forma. Ver Fabiano Vilaça dos Santos, O governo das conquistas do norte: trajetórias
administrativas no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-1780). Tese de Doutorado, Programa de História
Social, março de 2008.
2
“A ideologia da vadiagem” in Laura de Mello e Souza, Desclassificados do ouro – a pobreza mineira no
século XVIII. 2a. edição. Rio de Janeiro, 2004, pp. 295-306.
3
Uso aqui a diferenciação consagrada de Fernando A . Novais, que distingue a escravidão enquanto
instituição do escravismo enquanto sistema articulador de relações sociais. Ver Fernando A . Novais,
Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial . São Paulo, Hucitec, 1979.
4
John Russell-Wood, A world on a move, Carcanet Press, 1992.
5
Para uma discussão sobre o contingente dizimado, em particular, e a população indígena em geral, ver Leslie
Bethell,, ‘Notas sobre as populações americanas às vésperas das invasões européias’ in Leslie Bethell (org.),
História da América Latina – vol. I – América Latina Colonial. Trad., São Paulo, EDUSP, 1986, pp. 129-131
6
O principal trabalho sobre o assunto é de Ronaldo Vainfas, A heresia dos índios. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
36

7
Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, “O Império em apuros – notas para o estudo das alterações
ultramarinas e das práticas políticas no Império colonial português, séculos XVII e XVIII” in Júnia Ferreira
Furtado (org.), Diálogos Oceânicos – Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império
Ultramarino Português, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2001, pp. 197-254.
8
A respeito, ver o clássico de Charles Boxer, Salvador de Sá and the struggle for Brazil and Angola, Londres,
Athlone Press, 1952, pp. 122-54.
9
Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro) - História Geral do Brasil antes de sua
separação e independência de Portugal - 4a. ed., revisão e notas de Rodolfo Garcia, São Paulo, Edições
Melhoramentos, 1951.Para a atuação de Vieira na Amazônia, ver Thomas Cohen, The fire of tongues -
António Vieira and the missionary church in Brazil and Portugal, Stanford, Stanford University Press, 1998
10
Pedro Puntoni, A guerra dos bárbaros – povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil –
1650-1720. São Paulo, Hucitec/Edusp, 2002.
11
Puntoni, op.cit., p. 196. Puntoni, op. cit., p. 77. À p. 61, a referência ao ‘muro do demônio’
12
Laura de Mello e Souza, “São Paulo dos vícios e das virtudes” in O sol e a sombra – política e
administração na América Portuguesa do século XVIII, São Paulo, Companhia das Letras, 2006, pp. 109-147
13
Puntoni, op. cit., p. 46. John Monteiro, Negros da terra, São Paulo, Companhia das Letras, 1993, p. 7-8.
14
Ângela Domingues, Quando os índios eram vassalos. Colonização e relações de poder no Norte do Brasil
na segunda metade do século XVIIII. Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos
Portugueses, Lisboa, 2000. Mauro Cezar Coelho, Do Sertão para o Mar - um estudo sobre a experiência
portuguesa na América, a partir da Colônia: o caso do Diretório dos Índios (1758-1798). Tese de Doutorado,
São Paulo, FFLCH-USP, 2006.
15
Souza e Mello, op. cit., pp. 67-69.
16
Maria Leônia Chaves de Resende e Hal Langfur, ‘Minas Gerais indígena: a resistência dos índios nos
sertões e nas vilas de El-Rei” in Revista Tempo – dossiê Os índios na História – abordagens
interdisciplinares. UFF, no. 23, julho/dezembro de 2007, pp. 15-32. Maria Leônia Chaves de Resende,
Gentios brasílicos – índios coloniais em Minas Gerais setecentista, Campinas, FAFICH/UNICAMP, 2003
(tese de doutorado). Hal Langfur, The Forbidden Lands:Colonial Identity, Frontier Violence and the
Persistence of Brazil’s Eastern Indians, 1750-1830, Standford, Stanford University Press, 2006.
17
Chaves de Resende e Langfur, ‘Minas Gerais indígena: a resistência dos índios nos sertões e nas vilas de
El-Rei” in Revista Tempo...., passim
18
Francisco Jorge dos Santos, “Descimento dos Mura no Solimões” in Sampaio e Erthal (org.), op. cit., pp.
73-95.
19
Tau Golin, A guerra guaranítica – como os exércitos de Portugal e Espanha destruíram os Sete Povos dos
jesuítas e índios guaranis no Rio Grande do Sul (1750-1761). 2ª. edição. Passo Fundo, EDIUPF; Porto
Alegre, UFRGS, 1999.
20
João José Reis, Rebelião escrava no Brasil. 2ª. ed. revista e ampliada, São Paulo, Companhia das Letras,
2003
21
Para a importância do medo de escravos em Minas Gerais, ver, entre outros, meu trabalho Norma e conflito
– aspectos da história de Minas no século XVIII. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999. Pablo Luís de
Oliveira Lima – Marca de fogo – o medo dos quilombos e a construção da hegemonia escravista (Minas
Gerais, 1699-1769). Tese de Doutorado, Belo Horizonte, FAFICH-UFMG, 2008
22
João José Reis e Eduardo Silva (org), Negociação e conflito – a resistência negra no Brasil escravista. São
Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 14.
23
Para esta parte sobre Palmares, utilizei a bibliografia seguinte: Ronaldo Vainfas “Deus contra Palmares –
representações senhoriais e idéias jesuíticas”; Sílvia Hunoldt Lara, “Do singular ao plural: Palmares, capitães-
do-mato e o governo dos escravos”; Carlos Magno Guimarães, “Mineração, quilombos e Palmares: Minas
Gerais no século XVIII”, todos in João José Reis e Flávio dos Santos Gomes (org) – Liberdade por um fio –
história dos quilombos do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. Stuart B. Schwartz, “Rethinking
Palmares: slave resistance in Colonial Brazil” in Slaves, peasants and rebels – reconsidering Brazilian
slavery. Urbana and Chicago, University of Illinois Press, 1992, pp. 104-136. Eduardo Silva, “Fugas, revoltas
e quilombos: os limites da negociação” in João José Reis e Eduardo Silva (org), Negociação e conflito – a
resistência negra no Brasil escravista. São Paulo, Companhia das Letras, 1989, ”, pp. 62-78
24
Ronaldo Vainfas “Deus contra Palmares – representações senhoriais e idéias jesuíticas”, in op. cit
25
Laura de Mello e Souza, “Tensões sociais em Minas....” in Norma e conflito....,p. 94.
37

26
Luiza Rios Ricci Volpato, “Quilombos em Mato Grosso – resistência negra em área de fronteira” in Reis e
Gomes, op. cit., p. 220.
27
Eduardo Silva, “Fugas, revoltas e quilombos...” in Reis e Silva (org)., op. cit.
28
Luiza Volpato, “Quilombos em Mato Grosso...”, p. 222.
29
Mary Karasch, , “Os quilombos do ouro na capitania de Goiás”, in Reis e Gomes, op. cit pp. 240-262
30
Donald Ramos, “O quilombo e o sistema escravista em Minas Gerais no século XVIII”, in Reis e Gomes,
op. cit., pp. 164-192.
31
Valho-me nas considerações seguintes de capítulo escrito por mim anos atrás: “Motines, revueltas y
revoluciones en la America Portuguesa de los siglos XVII y XVIII” in Enrique Tandeter e Jorge Hidalgo
Lehuedé (coord.), Historia general de América Latina, volume IV, s.l., Ediciones Unesco / Editorial Trotta,
2000. Fiz alterações e acréscimos, à luz do avanço das pesquisas recentes
32
Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Baptista Bicalho, 1680-1720: o Império deste mundo. São Paulo,
Companhia das Letras, 2000.
33
Há vasta bibliografia sobre ambos os episódios. Cito apenas dois trabalhos recentes e importantes: Adriana
Romeiro, A guerra dos emboabas, Belo Horizonte, Editora UFMG, no prelo; Evaldo Cabral de Melo, A
fronda dos mazombos - nobres contra mascates – Pernambuco, 1666-1715. São Paulo, Companhia das
Letras, 1995.
34
Para um ótimo balanço da conflitualidade imperial no período imediatamente posterior à Restauração, ver
Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, “O Império em apuros…”passim.
35
Sobre os motins do Maneta, além das excelentes notas de Rodolfo Garcia a Francisco Adolfo de Varnhagen
(Visconde de Porto Seguro) - História Geral do Brasil, 4a. ed., São Paulo, Edições Melhoramentos, 195, vol.
III, pp. 338-41, onde cita documentos importantes. Alberto Lamego, "Os motins do ‘Maneta’ na Bahia",
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, (55), pp.357-366, 1929.
36
Discurso Histórico e Político sobre a sublevação que nas Minas houve no ano de 1720. (Estudo crítico,
estabelecimento do texto e notas de Laura de Mello e Souza), Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro, 1994
37
Luís Monteiro da Costa, Na Bahia Colonial - apontamentos para a História Militar da Cidade de Salvador.
Bahia, Livraria Progresso, 1958, pp. 131-132.
38
Remeto, mais uma vez, a Luciano Figueiredo, “O império em apuros...”
39
Valho-me aqui da tese de Leandro Pena Catão – Sacrílegas palavras – Inconfidência e presença jesuítica
nas Minas Gerais durante o período pombalino. Tese de doutorado, Belo Horizonte, FAFICH-UFMG, 2005,
bem como de seu projeto de pós-doutorado apresenetadao à Cátedra Jaime Cortersão – USP,
“Jesuítas,Inconfidência (s), contestação e cultura política no Estado do Brasil nos tempos de Pombal”, 2008.
40
Por ser muito vasta a bibliografia, refiro-me apenas aos trabalhos mais recentes produzidos sobre a
Inconfidência Mineira: Kenneth Maxwell, Conflicts and Conspiracies – Portugal and Brazil, 1750-1808.
Cambridge University Press, 1973; João Pinto Furtado, O manto de Penélope, São Paulo, Companhia das
Letras, 2002.
41
Afonso Carlos Marques dos Santos, No rascunho da nação.Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura,
1992.
42
István Iancso, Na Bahia, contra o Império.São Paulo, Hucitec; Salvador, Edufba, 1976.
43
Ver Laura de Mello e Souza, “A conjuntura crítica no mundo luso-brasileiro de inícios do século XVIII” in
O Sol e a Sombra...., pp.78-108.

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