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BRASIL
COLÔNIA
Introdução
Europeus e indígenas estabeleceram no Brasil Colônia diferentes formas de
relação, que afetaram mutuamente suas culturas. Certamente, essa influência
mútua não foi proporcional, em função de uma visão de mundo etnocêntrica
dos conquistadores e de seus objetivos de exploração do território americano.
Assim, não demorou muito para que os portugueses passassem das relações por
escambo para a escravização indígena, e utilizassem da religião para dominá-los.
Neste capítulo, você vai estudar a especificidade da escravidão in-
dígena e suas diferenças em comparação com a escravidão africana.
Além disso, vai examinar as diferenças existentes nas visões de mundo
de portugueses e dos indígenas e de que forma elas afetaram as relações
de trabalho. Por fim, conhecerá o papel da Companhia de Jesus e dos
jesuítas no contexto colonial português na América.
[...] eles pressionaram a Coroa para proibir o cativeiro injusto dos índios. A
“Lei sobre a Liberdade dos Gentios”, de 1570, estabeleceu um dos funda-
mentos da política indigenista portuguesa, declarando livres todos os índios,
salvo aqueles sujeitos à “Guerra Justa” — grupos inimigos que apresentavam
alguma resistência armada (MONTEIRO, 2013, p. 29).
As missões jesuíticas
As missões ou reduções jesuíticas espalharam-se por diferentes pontos do
território português na América, mas houve duas principais regiões de con-
centração: foram duas as principais regiões de estabelecimento das missões ou
reduções jesuíticas: ao sul da colônia, em uma região de constante disputa entre
espanhóis e portugueses, que hoje compreenderia parte do território pertencente
a Argentina, Brasil e Paraguai; e na região amazônica, no território do Pará e
do Maranhão, que foram responsáveis por diversos núcleos de povoamento.
As cartas que os jesuítas escreviam a seus superiores na Europa nos permitem com-
preender como era o cotidiano nas missões e o convívio entre indígenas e padres:
“Se ouvem tanger missa”, conta um inaciano, “já acodem e tudo que nos
veem fazer, tudo fazem. Assentam-se de joelhos, batem nos peitos, levantam
as mãos para o céu”. A clientela era feita de filhos de índios e mestiços,
acrescida, de tempos em tempos, de um principal, ou seja, um chefe. As
primeiras atividades religiosas consistiam em recitar, nas igrejas, ladainhas
ou a Salve-Rainha. Nas sextas-feiras, disciplinavam-se em cerimônias de
autoflagelação e, com o corpo coberto de sangue, saíam em procissão. [...]
Confessavam-se de oito em oito dias e saíam para caçar e pescar todas as
tardes, pois não havia qualquer forma regular de aprovisionamento. A ali-
mentação baseava-se na farinha de pau, nome dado à farinha de mandioca,
e caça, “como sejam os macacos, as corças, certos animais semelhantes a
lagartos, pardais e outras feras”, explicava o padre Anchieta. As meninas
indígenas eram ensinadas a tecer e a fiar algodão, capaz de vestir os jovens
nus. O tempo livre das crianças ficava por conta do banho de rio ou no “ver
correr as argolinhas”, brinquedo, segundo Nóbrega, importado de Portugal
[...] As atividades físicas mais simples impregnavam-se de cantos e danças
nos quais a cultura indígena se impunha. Em festas nos aldeamentos, os
meninos levantavam-se à noite para a seu modo cantar e dançar [...] A
sensibilidade musical do indígena fazia crer aos jesuítas que, “tocando
e cantando entre eles, os ganharíamos” e que “se cá viesse um gaiteiro”,
anotava Nóbrega, não haveria cacique que recusasse seus filhos à escola
jesuítica. Nos batismos em grupo, os meninos índios eram vestidos com
“roupas brancas, flores na cabeça e palmas na mão”, sinal da vitória que
teriam alcançado contra o Demônio (DEL PRIORE, 2010, p. 27).
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