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A conceituação do Direito Comercial como ramo jurídico disciplinador das atividades dos comerciantes já
se justificou a época das suas origens, contudo, no seu atual estágio, não mais é possível simplificá-lo a este
extremo.
Ainda que modernamente não se admita simplificar a definição do Direito Comercial como sendo o Direito
do Comércio, ou aquele ramo do direito que visa regulamentar as relações jurídicas em que estejam envolvidos
comerciantes, é imperioso que se busque definir o que seja o comércio em si, enquanto atividade humana
geradora das normas jurídicas tidas como comerciais.
Posteriormente a isso, com a própria evolução das relações humanas em geral e, por conseqüência, das
comerciais, surgiu a noção de moeda, que serviu como denominador de troca, substituindo a mera troca de
mercadorias por mercadorias.
Até chegarmos ao que hoje entendemos por moeda como equalizador das trocas comerciais, passamos
por vários estágios evolutivos em que se utilizou vários objetos como moeda, assim como a própria noção de
moeda foi sendo paulatinamente aperfeiçoada.
2.1- O Direito Comercial na antiguidade e no período romano
Até hoje, em decorrência das escassas referências materiais que temos acerca da existência do Direito
Comercial na antiguidade, não podemos confirmar a sua ocorrência neste período da história humana.
Algumas esparsas e fragmentadas referências sobre legislações dos povos antigos chegaram até nós, o
que é explicado, em parte, pelo aparecimento da escrita ter se dado apenas muito tempo depois do
aparecimento das primeiras civilizações socialmente organizadas.
É razoável que se imagine a existência da atividade comercial na antiguidade, contudo não se tem
materializado o registro de tal fato. As fontes históricas do Direito Comercial são muito falhas para que se afirme
a existência de legislações comerciais dentre os povos da antiguidade, entendido como Direito Comercial um corpo
ordenado e científico de normas destinadas a reger a prática mercantil.
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Além do Código de Hamurabi, os pesquisadores apontam o Código de Manu, da Índia, (século XIII -
a.C.), como outro monumento de código legislativo da antiguidade, que teria nos seu conteúdo algumas regras de
Direito Marítimo.
Contudo, estes dispositivos legais antigos não formavam uma compilação sistematizada de leis
para que se possa determiná-los como “Direito comercial”.
Nem mesmo os fenícios, considerados os grandes comerciantes do seu tempo, deixaram leis comerciais
escritas. A eles são atribuídos os costumes marítimos que os romanos compilaram sob o título de “Lex Rhodia
Jacto” reputado como o mais importante monumento da legislação marítima da antiguidade, onde surgiu a
idéia do alijamento da carga, no caso de perigo à embarcação, o que hoje os juristas tratam como avaria grossa.
Outros institutos, como o “foemus nauticum” (câmbio marítimo), também apareceram no período romano antigo.
Os romanos, por viverem em uma sociedade fundamentada na propriedade e na atividade rural,
prescindiram de legislação mercantil específica. Os comerciantes, geralmente estrangeiros livres, respondiam
pelas suas atividades perante o “praetor peregrinus”, que a eles aplicava o “jus gentiun”.
Na era cristã, com a decadência do império romano, houve alterações substanciais na organização social,
que deixaram antever a expansão comercial romana. As antigas leis que proibiam os patrícios e os senadores de
praticarem atividades comerciais foram paulatinamente abandonadas.
Com a queda do Império romano, no século V, em virtude da invasão dos bárbaros, dá-se o que alguns
historiadores chamam de “desorganização do mundo europeu”, com amplas e marcantes repercussões sobre o
Direito e o comércio.
É sabido que o sistema social e econômico imperante na Idade Média em muito atrapalhou o
desenvolvimento do comércio como um todo e, notadamente, da legislação a ele pertinente. Não havia um poder
central na Europa capaz de manter a paz e assegurar a realização do Direito, houve constantes invasões: este
estado de insegurança política, administrativa, social e econômica permanente refletiu-se no ordenamento
jurídico de então.
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Essas corporações eram chefiadas por um ou mais indivíduos, chamados de cônsules, que, ao tomarem
posse do cargo, juravam respeitar os costumes da corporação, costumes estes que sempre eram referidos no texto
desse juramento.
As corporações, portanto criavam as suas próprias leis e tinham, a sua própria jurisdição, com o
que se defendiam da falta de autoridade dos governos locais, impotentes para impor a todos o seu direito, que,
ademais, não atendia aos interesses do comércio.
Com o passar do tempo e a própria evolução das relações entre os mercadores e os demais cidadãos de
então, essas leis internas às corporações foram sendo estendidas a todos que praticassem atividades
comerciais, passando a ser direito mercantil comum a todos os comerciantes europeus, e não mais apenas
daqueles membros das corporações.
A queda de Constantinopla, nas mãos dos turcos, em 1543, não se constitui apenas no marco do início
da idade moderna. Ela também determinou o declínio das repúblicas italianas que até então dominavam o
comércio europeu.
Com o fechamento do caminho para o oriente os povos europeus deveriam descobrir uma nova
opção para se atingir o comércio com os povos do médio oriente e da China. Nesta tarefa os portugueses e
espanhóis foram os povos que mais glórias colheram num primeiro momento, passando o cedro, após, para os
holandeses, franceses e ingleses, nesta ordem.
A Itália perdeu a hegemonia comercial, mas não a hegemonia legislativa, no que se refere ao Direito
Comercial. A chamada escola italiana é a responsável pelas mais completas obras sobre as leis e usos
comerciais antigos.
A autonomia científica do Direito Comercial remonta a 1553, com seu primeiro tratado sistemático, de
autoria de Bennevenuto Straca, intitulado “Tractatus de mercadura seu mercadore”, publicado em Veneza, em
1553. É uma obra dedicada inteiramente ao Direito Mercantil e da qual foram excluídas as questões de puro Direito
Civil.
Este surgimento de estados fortes foi de certa forma, uma resposta dos governantes às poderosas
companhias de navegação e comércio, que chegaram a se transformar em verdadeiros estados dentro do próprio
estado, como ocorreu na Holanda (Cia das Índias), Portugal, França e Inglaterra.
Nesta época se diz que surgiu o Direito Comercial com conotações marcantemente nacionais, em
contraponto com o Direito da comunidade internacional dos comerciantes.
As nações européias passam, então, a ter uma enorme atividade legislativa comercial onde apareceram
obras de notável importância para o Direito. Delas, se pode destacar uma de 1563, promulgada por Charles IX, que
instituiu em Paris a jurisdição consular.
Surge também nesta época, na Inglaterra, o “Navegation Act”, de Cromwell, em 1651, além das
Ordenações Francesas de 1673 e 1681.
A outra das Ordenações (Ordennance sur le Commerce de Mer) em tudo superior à primeira, regraria o
Direito Marítimo, ocupando-se, não só com o seu setor privado, mas também no administrativo.
Não mais poderiam subsistir as corporações de mercadores, isto se deu com a chamada Lei de
Chapelier, de 1791, que a aboliu da França qualquer associação profissional, proclamando a liberdade do
trabalho e do comércio.
O Código Francês de 1807 influenciou na elaboração de outros diplomas legais, como o Código
Espanhol de 1829, o Português de 1833, o Código Brasileiro de 1850, o Alemão de 1861, e o Italiano de 1865.
O Código Comercial Alemão de 1861, depois do Francês, foi o mais importante monumento legislativo,
que disciplinou os contratos mercantis em massa, os contratos auxiliares dos comerciantes e das empresas.
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No início do século XX, o Direito Comercial experimentou diversas tentativas de unificação do Direito
Privado, como as francesas e Italianas, até chegar no Projeto de Código de Direito Privado Brasileiro.
Alguns autores dividem o Direito Comercial Brasileiro de forma diferente, procurando incluir na História do
Direito Comercial no Brasil o período compreendido entre a descoberta do país e a vinda do Príncipe Regente ao
Brasil, com a conseqüente transferência da corte portuguesa fugindo da invasão de Portugal por Napoleão
Bonaparte.
Tal propósito não nos parece correto, uma vez que, neste período, o que se vivenciou não foi o surgimento
e aplicação de um Direito Brasileiro, mas sim, tão somente uma fase do Direito português, de interesse à história do
Direito português.
O que se pode fazer é subdividir o período brasileiro em duas fases distintas, uma que vai de 1850
(com a promulgação do Código Comercial Brasileiro) até 1930 (com a Revolução de 1930 e seu
intervencionismo na economia) e outra que vai daí até os nossos dias.
3. FONTES DO DIREITO COMERCIAL
Partindo da definição do significado de fonte como sendo nascedouro, origem, procedência, etc.,
podemos relacionar as seguintes fontes do Direito Comercial:
O Direito Comercial pertence ao gênero do Direito Privado, carregando com si íntima vinculação ao direito
obrigacional. Embora essa identidade de gênero, ainda subsistem institutos diversificados que distinguem essas
duas figuras, como o caso da falência para o direito comercial e da insolvência civil para o direito civil.
Tradicionalmente, a legislação comercial manteve uma separação em relação ao Direito Civil. Sob esse
aspecto, alguns defendem a manutenção da dicotomia de tratamento entre institutos de Direito Civil e de
Direito Comercial. O primeiro, na concepção dicotômica, destina-se em especial aos nacionais e abrange as
relações da vida em sociedade, muitas de natureza personalíssima, como os institutos de direito de família. O
segundo é, necessária e historicamente, universalista e procura estabelecer princípios internacionalmente
aceitos para sistematizar as relações de natureza eminentemente econômica. Exemplos desse caráter
cosmopolita do Direito Comercial encontram-se na adoção de leis uniformes para os títulos de crédito e para a
propriedade industrial, firmadas a partir de tratados internacionais.
Devemos observar que vivemos sob o manto do princípio da legalidade, que é o pilar do nosso sistema
jurídico e previsto CF, art. 5º, II1, o qual estabelece o princípio da estrita legalidade, segundo o qual, a única fonte
formal do Direito é a Lei.
Contudo, os códigos não têm a capacidade de regulamentar a totalidade dos atos jurídicos, notadamente
quando se tratar do comércio, com a sua dinâmica particular. As leis esparsas são necessárias, obviamente,
mas causam certa desorganização num sistema legal codificado, pois podem criar certa confusão na sua
interpretação e aplicação, tornando fragmentário o direito.
Esta confusão legal gera a necessidade constante da interpretação das normas legais pelo aplicador, além
da necessidade de se adaptar a legislação aos tempos e aos fatos concretos. Surgem a todo o momento, diante
dos juízes que decidem causas mercantis, lacunas legais específicas, no entanto não pode o julgador se
abster de julgar o caso concreto sob o argumento de que não existe Lei específica sobre ele incidente.
Neste sentido, surge a necessidade do aplicador da Lei recorrer, constantemente, às chamadas fontes do
direito, na solução das lides mercantis.
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Art. 5º, II “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de Lei”.
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OBS: Alguns autores consideram que, além das leis comerciais, também as disposições de outros
Códigos que regulam particularmente matéria comercial (processo civil), desde que isso seja expressamente
determinado pela lei comercial, como por exemplo, no as arts. 121 e 428 do antigo Código Comercial,
recepcionados pelo novo Código Civil;
Na falta da fonte principal, o aplicador da lei comercial vale-se como fonte secundária, ou seja, na omissão
ocorrida nas fontes primárias (lei comercial), das seguintes fontes:
a) a analogia2;
b) os usos e os costumes;
c) os princípios gerais de direito (que, para alguns autores é chamado de fonte complementar)3.
Neste diapasão encontramos o artigo 4º da lei de Introdução ao Código Civil4 que é uma norma sobre a
interpretação das leis: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito”.
Igualmente, o Código Comercial estabelece normas destinadas à interpretação das leis, como, por
exemplo, os artigos 121; 291 e 4285: (usadas apenas na falta da principal) usos e costumes mercantis, a Lei Civil, a
jurisprudência, a doutrina, analogia, eqüidade e os princípios gerais do Direito. OBS: artº 4º da Lei de Introdução ao
Código Civil.
Lei civil é a principal fonte subsidiária do Dir. Com. Entretanto nas matérias sobre obrigações, as leis civis
regem não como se fontes subsidiárias, mas - segundo alguns autores – como principais (ex. art. 121 C.Comercial).
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A analogia pressupõe identidade de relação entre idéias ou objetos distintos. A analogia, mais do que uma fonte
de direito, é um processo, um método de interpretação legislativa. Cabe ao julgador estabelecer as identidades
entre as relações, objetos e situações jurídicas e aplicar a lei ao caso concreto, dada a omissão particular.
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A rigor, os princípios gerais de direito não são fonte porque não se trata de regras, mas sim de princípios que
compõe a própria estrutura do sistema jurídico adotado pelo direito positivo. Segundo Clóvis Beviláqua os
princípios Gerais de direito são os “elementos fundamentais da cultura jurídica humana de nossos dias.”....””idéias
e princípios sobre os quais assenta a concepção jurídica dominante”.... ‘induções e generalizações da ciência do
direito e dos preceitos da técnica.” Um exemplo de Princípio Geral de dierito é o da “pars conditio creditorum”, ou
seja, a igualdade de tratamento entre os credores na execução coletiva falimantar.
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Dec.-Lei nº 4657, de 4.9.42 – art 4º - “Quando a Lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.”
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“art 121- As regras e disposições do direito civil para os contratos em geral são aplicáveis aos contratos
comerciais, com as modificações e restrições estabelecidas neste código.
“art. 291- As leis particulares do comércio, a convenção das p[artes sempre que lhes não for contrária, e os usos
comerciais, regulam toda a sorte de associação mercantil; não podendo recorrer ao direito civil para decisão de
qualquer dúvida que se ofereça, senão na falta de lei ou uso comercial.”
“art. 428- As obrigações comerciais dissolvem-se por todos os meios que o direito civil admite para a extinção e
dissolução das obrigações em geral, com as modificações deste código.”
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Analogia implica que, se dois objetos de direito ou situações jurídicas têm semelhanças, e a um deles falta
solução legislativa, aplica-se a solução já estabelecida para o primeiro objeto ou situação que a lei contemplou.
Usos e costumes: devem estar assentados nas Juntas Comerciais (DNRC sugere a sua transformação em
Lei).
Os requisitos para a admissão de um uso comercial são três:
a) devem ser praticados entre os comerciantes, “sem divergência a todos os casos semelhantes, constante
e uniformemente”;
b) “serem conforme aos sãos princípios da boa-fé e às máximas comerciais”;
c) não serem contrários às disposições da legislação comercial.
Fases do procedimento de assentamento dos usos e costumes mercantis: A legitimidade para provocá-lo
cabe:
a) à própria Junta Comercial, agindo de ofício;
b) à Procuradoria da Junta Comercial;
c) aos órgãos de classe.
O processamento se faz por exame prévio da legalidade pelo presidente da Junta Comercial, seguindo-se a
publicação de convite, com prazo de noventa dias para pronunciamento de entidades interessadas e decisão quanto
à veracidade e possibilidade de registro por sessão, com a presença de, pelo menos, dois terços dos vogais e
aprovação de, no mínimo, metade mais um dos vogais presentes. Findo o procedimento, a anotação se faz em livro
especial, inserindo-se sua justificação. A publicidade é indispensável, e o uso assim assentado será divulgado no
Diário Oficial da União, Estado ou Distrito Federal, conforme o local da sede da Junta Comercial que procedeu ao
apontamento. A lei ainda prevê que a cada quinze anos se faça a publicação da coleção de usos ou práticas
mercantis assentadas.
A forma de prová-lo em juízo, durante a discussão de um litígio, encontra regras próprias, tanto na
legislação comercial como na processual civil. A prova dos usos e costumes é feita através do seu assentamento no
Registro do Comércio e o órgão competente é a Junta Comercial (Lei 8934/94, art. 8º, VI). Importante frisar que
essa a certidão expedida pela Junta Comercial não faz prova absoluta.
Por exemplo: um dos usos e costumes mais conhecidos, o cheque visado, acabou sendo incorporado pela
Lei 7.357/85. Talvez seja a tendência em relação ao cheque pós-datado.
Os usos e costumes gerais, isto é, os que se observam nas mais diferentes praças do País, podem ser
objeto de produção em juízo, mas os de uso local exigem certidão expedida pela Junta Comercial.
Já os princípios gerais do direito, em regra, não são fonte, mas muitos estão explícitos nas leis em vigor,
fazendo parte da própria estrutura do sistema jurídico. Daí porque legítima a sua aplicação aos casos omitidos por
lei. Ex: principio par conditio creditorium.