Você está na página 1de 64

1

DIREITO EMPRESARIAL – Prof. Paulo Bispo

PARTE 1 – TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL


1. Introdução ao direito empresarial.
1.1. Noções gerais.
1.2. Evolução do direito empresarial.
1.2.1. O comércio e o direito comercial.
1.2.2. Fases do direito comercial.
1.2.3. Teoria da empresa.
1.3. Características do direito empresarial.
2. O empresário.
2.1. Conceito.
2.2. Espécies.
2.3. Caracterização jurídica do empresário.
2.4. Qualificação jurídica do empresário.
2.5. Afetação do Patrimônio
3. Registro de empresas.
3.1. Finalidades, estrutura e organização.
3.2. Atos registrais.
3.3. Processo decisório.
3.4. Processo revisional.
3.5. Exercício da empresa sem registro.
4. Livros empresariais.
4.1. Noções gerais.
4.2. Espécies.
4.3. Formalidades.
4.4. Exibição judicial e extrajudicial.
5. Nome empresarial.
5.1. Conceito e espécies.
5.2. Regras de composição.
5.3. Alteração obrigatória.
5.4. Proteção jurídica.
6. Estabelecimento Empresarial;
6.1. Conceito e Elementos;
6.2. Natureza Jurídica;
6.3. Proteção ao Ponto;
6.4. Alienação do Estabelecimento Empresarial;
7. Agentes Auxiliares da Empresa e do Empresário;
PARTE 2 – DIREITO CAMBIÁRIO
1. Introdução aos Títulos de Crédito;
1.1. Noções Gerais;
1.2. Conceito;
1.3. Princípios Gerais do Direito Cambiário;
1.4. Direito Cambiário Moderno;
1.5. Classificação dos Títulos de Crédito;
1.5.1. Quanto à natureza do direito incorporado;
1.5.2. Quanto ao modelo;
1.5.3. Quanto à estrutura cambiária;
1.5.4. Quanto à menção do negócio subjacente;
1.5.5. Quanto à forma de circulação;
1.6. Natureza Jurídica dos Títulos de Crédito e da Organização Cambiária;
2. Institutos do Direito Cambiário;
2.1. Noções Gerais;
2.2. Saque;
2.3. Aceite;
2.4. Endosso;
2.5. Aval;
2.6. Vencimento do Título.
2

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL


1.1. Noções Gerais
Em sua origem, o direito empresarial denominava-se de direito comercial. Há alguns anos, havia
um Código Comercial e um Código Civil. Desse modo, o direito privado era dicotomizado.
Com o passar dos anos, foram sendo apresentados elementos que vieram a rechaçar a
dicotomização do direito privado. Em razão disso, em 2002, o Código Comercial foi revogado e o direito
empresarial passou a ser regulamentado pelo próprio Código Civil. O Título II do CC02 regulamenta o
Direito de Empresa.
Então, desde 2002, não existe mais direito comercial, mas sim direito empresarial. A unificação se
deu em razão do direito das obrigações, que ficava dividido, em virtude de as obrigações dos
comerciantes serem regulamentadas pelo Código Comercial e as obrigações das demais pessoas
serem regidas pelo Código Civil.
A rigor, o Código Comercial era dividido em três partes. A primeira parte foi revogada em 2002, com
a publicação do CC02. A terceira parte foi substituída por leis especiais. Já a segunda parte, que trata
do direito marítimo, continua em vigor. Dessa maneira, costuma-se dizer que o Código Comercial (1950)
ainda não foi completamente revogado.
O direito civil e o direito comercial estão estritamente ligados, porque ambos possuem normas de
direito privado, então, ambos têm sua natureza estritamente particular. O que prepondera no direito
privado é o interesse dos dois sujeitos envolvidos nessa relação jurídica. Assim, costuma-se dizer que
existe uma linha imaginária que delimita o direito civil e o direito empresarial, apesar de eles se
interligarem em alguns pontos.

1.2. Evolução do Direito Empresarial


1.2.1. O comércio e o direito comercial
a) Antes do Direito Comercial
O comércio é um fazer, um agir, que faz com que circulem as riquezas produzidas, é a atividade do
comerciante. O homem, desde os seus primórdios, era um ser social e vivia em uma economia de
coleta, que consistia na coleta dos bens produzidos pela natureza. Com o passar do tempo, em razão
da evolução das tecnologias, esse sistema de coleta foi se aprimorando (ex.: criaram lanças).
Entretanto, em determinado momento, o homem passou a não se satisfazer mais com essa
economia de coleta e, em razão disso, começou a produzir em excesso. Os homens passaram a produzir
suas riquezas para além das suas necessidades, para que, assim, fosse possível cambiar com outros
grupos. Dessa maneira, a economia de coleta se expandiu para uma economia de escambo. Por
milênios a humanidade viveu com essa economia de escambo. Para alguns autores, essas atividades
de troca já configuravam uma espécie de comércio, por eles denominado de comércio lato senso.
Em determinado momento, a economia de escambo passou a não se sustentar mais. A troca
encontrou dois limites. O primeiro entrave encontrado pela troca foi a ausência de interesse recíproco,
ou seja, a mútua ambição pelos bens envolvidos – não adianta eu querer o bem do outro e ele não
querer o meu, a vontade de efetuar a troca deve ser mútua. Já o segundo entrave consistiu na valoração
econômica dos bens envolvidos na troca – a mensuração econômica dos bens envolvidos é
importante tendo em vista que eles não podem ter uma grande diferença de valor, porque isso
impossibilitaria ou, no mínimo, dificultaria a troca. Muitas vezes, os bens tinham valores distintos, o que
inviabilizava o câmbio. Esses dois limites passaram a inviabilizar a economia de escambo, porque as
pessoas produziam em excesso, mas não conseguiam trocar suas riquezas com outros grupos. Então,
a humanidade lançou mão da permuta e passou a se utilizar da compra e venda.
A sociedade criou o “dinheiro”, que ainda não possuía esta denominação, mas consistia em uma
moeda de troca. Essa moeda consistia em um bem de relativa escassez, que era uniformemente aceito
pelo grupo social. Muitas vezes a moeda era a pele de animais, porque interessava a todos e era de
difícil obtenção (exigia esforço, trabalho). O gado também poderia ser utilizado como moeda de troca. A
3

palavra “capital” vem de “cabeças”, o que importava era o número de cabeças de gado. Ainda, eram
utilizadas como moeda: pedras preciosas, metais polidos, entre outros. As moedas nada mais eram do
que bens comuns entre todos os sujeitos, que todos almejavam e que, portanto, sempre eram aceitos.
Quando o homem passa a adotar o regime da economia padrão, ultrapassa-se a economia de escambo
e alcança-se a economia de mercado.
Assim, o homem passa a se especializar na confecção ou obtenção de determinados bens,
deixando de ser nômade e passando a ser sedentário. Muito embora já estivesse muito facilitada a
circulação da moeda produzida, os autores mais puristas não consideram que já houvesse
comércio. Isso porque as relações ainda eram diretas, entre dois sujeitos apenas. O que faltava nessa
época era a atividade do comerciante. A figura do comerciante se traduz nas pessoas que adquirem
bens com a intensão de revender. O comerciante é um intermediário na relação de consumo, quando
ele está presente, quem produz não negocia com quem consome. O comércio é a atividade humana
que faz circular a riqueza produzida.
Depois de um tempo, os sujeitos que não tinham posses, perceberam que caso se deslocassem
determinadas distâncias, com algum capital, poderiam comprar a mercadoria padrão desse local, por
um preço baixo, porque lá eram comuns. Então, podiam voltar para sua terra de origem e vender, esses
mesmos bens, por um valor muito mais significativo, haja vista que ali não eram comuns. Dessa maneira,
perceberam que poderiam lucrar com a atividade, surgindo assim, a figura do comerciante. Os
comerciantes são os antigos mercadores, aqueles sujeitos que compravam bens, não para o consumo,
mas sim com o único fim de revendê-los. Em razão da sua atividade, os comerciantes eram
considerados nômades.
A compra de coisas móveis para a simples revenda, com o fim de alcançar lucro, configura a
economia de comércio. Essa atividade tem fim lucrativo. Salienta-se que os bens devem ser móveis,
porque os comerciantes não podiam pegar terras ou imóveis e deslocá-los de local. Para que se
configure o comércio é necessário que haja a transposição física do local original das mercadorias para
outro local, com o fim de revenda. Tem-se assim, o comércio estrito senso. Então, o comércio estrito
senso é comprar algo com a finalidade de vender, e fazer disso uma ocupação. Os bens imobiliários
não se prestam para a atividade do comércio, porque não podem ser deslocados de um local para outro.
OBS.: O comércio em sentido estrito (ou econômico) se resume no ato de compra para revenda de
coisas móveis, com o intuito de lucrar. Já o comércio em sentido lato (ou jurídico), incluem não só o
comércio em sentido estrito, mas também o transporte de mercadorias, a indústria da manufatura e as
atividades bancárias.
b) Nascimento do Direito Comercial
Para que se admita autonomia científica de uma disciplina é preciso que ela seja amparada por um
corpo normativo robusto. É necessária a presença de um alicerce básico, elementar. Além disso, é
indispensável a existência de princípios, preceitos particulares, institutos próprios, para que se garanta
a autonomia.
Há uma estimativa científica de que o nascimento do direito comercial se deu na Idade Média Baixa,
mas não há um documento que comprove isso. O direito comercial adveio da própria classe dos
comerciantes, eles mesmos regulamentaram a sua atividade, a partir da prática reiterada de
determinados atos, que originaram costumes. Então, diz-se que o direito comercial tem como origem o
direito consuetudinário. Os comerciantes criavam regras de forma concorrente com as leis estatais,
sem que se estabelecesse conflito entre elas.
Os comerciantes passaram a ascender como classe social, tendo em vista que o comércio é uma
atividade patrimonial que tende à concentração de renda. Entretanto, a atividade de comércio era
carente de tutela normativa. O Estado não regulamentava o direito comercial.
Na época, o Estado não se preocupava em regulamentar a atividade de comércio porque não era
do interesse da classe social dominante. Como a classe social dominante extraia sua riqueza da
economia agrária e imobiliária, não se via necessidade de regulamentar o comércio. Então, os
comerciantes exerciam sua atividade de forma pragmática, seguindo regras e práticas por eles aceitas
e utilizadas. Os burgueses eram comerciantes e, portanto, eram quase “nômades”.
4

A atividade do comércio não interessava aos aristocratas, que estavam presos às suas terras, esta
era sua fonte de renda. Por isso, não haviam leis a respeito do direito comercial. A propriedade mobiliária
é regida pelo direito comercial, enquanto que a propriedade imobiliária é regulamentada pelo direito civil.
Isso se deu em decorrência de questões sociais, históricas, antropológicas e religiosas. A religião foi um
fator muito importante para esta dicotomia, porque os aristocratas eram muito religiosos, e para eles a
terra era sagrada. Os religiosos costumavam acreditar que quando as pessoas morriam, suas almas
ficavam presas à terra. Então, os aristocratas acreditavam que as almas de seus familiares que
faleceram haviam ficado presas, ligadas àquele pedaço de terra. Assim, a terra era algo sagrado e não
poderia ser vista como um objeto de negociação. Os aristocratas consideravam o comércio algo vil. A
religião, na época, era monoteísta, portanto, cada um possuía seus próprios deuses. Alguns aristocratas
tinham como deuses seus antepassados, assim, além de rezar para Deus, rezavam para seus familiares
falecidos. Os integrantes da família já falecidos eram cultuados e endeusados pelos sucessores vivos.
Desse modo, as pessoas estabeleciam um vínculo com a terra, havia um aspecto religioso.
Com o passar do tempo, os comerciantes passaram a se organizar em entidades de classe,
associações, assembleias, corporações de ofício, com o fim de obterem a tão almejada segurança
jurídica. Os estatutos das corporações, que compunham o direito estatutário, foram constituídos por
regras que já eram costumeiramente utilizadas pelos comerciantes. Então, foram as corporações de
ofício que vieram a dar luz para o Direito Comercial, com regras a respeito do exercício do comércio. Os
comerciantes tinham inclusive poder de polícia com relação aos demais comerciantes, com o objetivo
de proteger seu interesse de comércio.
O direito comercial nasceu das corporações de ofício. Cada cidade possuía suas corporações e
cada categoria de comerciantes integrava corporações distintas. Cada corporação tinha seus próprios
usos e costumes, e os aplicava por meio de cônsules eleitos pelos próprios associados.
o direito comercial se afasta dos demais ramos do direito que surgiram da manifestação estatal,
porque a ordem estatal não se preocupava com a criação de uma legislação comercial ou com uma
jurisdição para aplicá-la. O que marca o direito comercial é o pragmatismo, a praxe, e o fato de ele ter
sido criado pelos próprios comerciantes. Para garantir a aplicação desse direito, os comerciantes
criaram os juízos consulares (ou jurisdição consular). O juízo consular era um órgão, que constituía
uma espécie de Tribunal, competente para julgar as questões controvertidas e garantir a aplicação da
norma regulamentadora. Os julgadores (juízes consulares ou cônsules) eram comerciantes eleitos em
assembleia, pelos seus pares. A eleição se dava por mandatos, que poderiam ser renovados. Nas suas
reuniões, os comerciantes elegiam, entre seus pares, sujeitos que atuariam como juízes, com o fim de
solucionar os conflitos de interesses. Então, Cônsul era o título conferido ao comerciante que atuava
como magistrado. Mas só era reputado comerciante quem estivesse devidamente matriculado nas
corporações de oficio.
O direito comercial, em sua origem, tinha como principais características: a) corpo legislativo
robusto; b) princípios e preceitos específicos; c) corporações de ofício; d) jurisdição.
Então, a humanidade evoluiu como uma civilização em razão das atividades comerciais, foi o
comércio que conectou os povos. Assim, pode-se dizer que o comércio é a base da existência da riqueza
das nações.

1.2.2. Fases do direito comercial


O direito comercial é produto histórico da ação social dos comerciantes, que, carentes de tutela
estatal, criaram seu próprio direito, através dos costumes e práticas de praxe. As corporações de ofício
deram origem às regras do direito comercial, que receberam força de lei. Os estatutos das corporações
instituíram as jurisdições consulares, com o fim de garantir a aplicabilidade das regras criadas. Os
cônsules eram eleitos pelos próprios comerciantes e exerciam a função de juízes. Tem-se o nascimento
do direito comercial quando ele finalmente é reconhecido como uma ciência autônoma.
a) Fase Subjetiva
A primeira fase do direito comercial, se deu na Idade Média, e foi denominada de Fase Subjetiva.
A fase subjetiva do direito comercial recebeu esse nome em razão de ser focada no sujeito, na figura
5

do comerciante. Nesse período, o sujeito era reputado como comerciante pelo fato de estar matriculado
na corporação de ofício. Era um direito de natureza corporativa e utilizava-se de um método formal e
elitista.
Então, constituiu-se uma situação corporativista, onde a matrícula da corporação passava de
geração em geração (de pai para filho) e só poderia participar do comércio quem tivesse matrícula na
corporação. O direito comercial tinha um conceito elitista pelo mesmo motivo, ou seja, porque para fazer
parte das corporações de ofício o sujeito deveria possuir uma matrícula de consumidor, e essa matrícula
era restrita, focada em determinados indivíduos, porque era hereditária.
O Direito Estatutário surgiu nesta fase, e ele era composto de regras referentes ao exercício do
comércio e às pessoas que o exerciam, suas leis advinham das corporações, ele possuía jurisdição
consular e tinha como fim regulamentar as relações comerciais. A jurisdição consular se caracterizava
quando determinados comerciantes eram escolhidos para resolver questões conflituosas referentes à
prática Mercantil, aplicando ao caso concreto justamente as regras de Direito Estatutário dentro da
própria corporação de ofício.
O auge do direito comercial se deu na Idade Média, quando os comerciantes passaram a ter,
inclusive, influência política.
Os comerciantes se assentavam nas periferias das cidades, onde moravam em burgos, daí a origem
da palavra “burguês”.
Com o surgimento do direito comercial, surgiu a dicotomia do direito privado, que ramificou-se em
direito civil e direito comercial. Até então, o direito privado era composto tão somente pelo direito civil.
Para que se saiba a que ramo do direito privado a relação jurídica pertence (direito comercial ou direito
civil), deve-se analisar a sua natureza jurídica. O direito comercial constitui um ramo específico do direito
privado, enquanto que o direito civil é a vala comum (princípio da especialidade).
Então, a dicotomia do Direito Privado, significa a separação do Direito Privado em Direito Civil e
Empresarial, sendo que o Direito Empresarial emanou do Direito Civil, de forma que o Direito Civil é o
direito privado, por excelência, nesse sentido a importância maior de tal dicotomia está na autonomia e
independência do Direito Empresarial mantida em razão das peculiaridades existentes na atividade
empresarial.
Com o passar dos anos, houve uma evolução histórica e social, e, no fim da Idade Média Alta, os
comerciantes passaram a ser a classe social dominante. Então, em razão de fatores sociais, políticos,
religiosos e econômicos, essa fase foi superada. O poder jurídico, na época, era absolutista e protegia
o direito privado, o direito civil, a propriedade privada, os direitos reais, de família, etc., porque esses
direitos garantiam status aos governantes e, portanto, deveriam estar em foco. Com a Revolução
Francesa os comerciantes “viraram a mesa” e tiraram os aristocratas do poder.
b) Fase Objetiva (Sistema Francês ou Teoria dos Atos de Comércio)
Com a Revolução Francesa (1789) foi criado o Estado como instituição e deu-se início à Fase
Objetiva do direito comercial. Os comerciantes já tinham muito poder econômico, mas agora passaram
a ter também poder político, tornando-se a classe social dominante. Entretanto, com essas mudanças,
os comerciantes perderam o poder de legislar para o Estado. O poder de legislar se tornou um monopólio
estatal. Foram criados os Tribunais do Comércio, que eram órgão estatais.
Na fase subjetiva o que faltava aos comerciantes a ascensão social. Então, os comerciantes
passaram a comprar títulos de nobreza, tendo ocorrido a ascensão da burguesia como classe social
dominante. A doutrina filosófica era a do Iluminismo. O estado moderno de Direito deixou de ser
absolutista e calcado na dita ordem divina. Elegeu-se como marco histórico a Revolução Francesa, com
a queda da Bastilha. As normas passam a ter controle estatal, inclusive as comerciais, antes reguladas
pelas corporações de oficio, que foram perdendo sua razão de ser. O elitismo caiu por terra, pois as
normas estatais eram aplicadas a todas as pessoas.
O método que foi utilizado para definir a aplicação do direito comercial passou a ser objetivo, ou
seja, devia-se identificar a atividade realizada. O que é feito, e não quem está fazendo. A fase é
denominada de objetiva porque o foco não é mais o sujeito, o critério adotado agora é a identificação da
natureza da atividade explorada. Devia-se analisar se aquele ato consistia ato de comércio ou não.
6

A partir desta fase, qualquer um pode ser comerciante, porque todos são iguais perante a lei (ideais
de igualdade, liberdade e fraternidade da Revolução Francesa). O sujeito não precisa mais ser
matriculado em um órgão corporativo. Define-se quem é comerciante através da prática do comércio, o
sujeito passa a ser comerciante quando pratica o comércio, ou seja, tem o comércio como sua profissão
habitual.
Na fase objetiva perdeu-se o elitismo do comércio. Isso porque, os princípios que regeram a
Revolução Francesa eram da fraternidade, igualdade e liberdade. Então, a partir desse momento, para
que se pudesse ser comerciante, não era necessário fazer parte de um grupo, mas sim, tão somente,
praticar o comércio. O que caracteriza o comerciante é a prática da mercancia, a produção habitual de
comércio. O objeto da atividade de comércio que irá determinar se as garantias do Código Comercial
devem ser utilizadas ou não, de acordo com a sua natureza jurídica.
Mas isso apenas foi regulamentado formalmente pelo Código Comercial Francês de 1807 (18 anos
depois da revolução). O Código Comercial Brasileiro seguiu a mesma diretriz, em 1850. Definia a prática
de atos de comércio como mercancia. Mercancia deveria ser profissão habitual.
Em 1875, o direito comercial e o direito civil sofreram uma unificação no Brasil, tendo sido abolido
o Tribunal do Comércio e tendo sido criado um único órgão jurisdicional, um só Tribunal. Apesar dessa
unificação jurisdicional, o direito comercial e o direito civil ainda possuíam uma divisão normativa.
Apenas em 2002 o Código Comercial passou a fazer parte do Código Civil.
Nessa fase objetiva, para que se aplicasse o direito a cada relação jurídica, antes era necessário
que se analisasse a natureza da atividade praticada, ou seja, se a relação fosse de direito comercial a
lide a ela atinente deveria ser solucionada à luz do Código Comercial, assim como, se fosse a relação
de direito civil, ela deveria ser regida pelo Código Civil.
O problema é que era necessário que houvesse um conceito do ato de comércio, para que se
obtivesse uma precisão cientifica. Se a base de tudo é o ato de comércio, é preciso que se estabeleça
um conceito de ato de comércio adequado e seguro. O conceito deve abranger os elementos que
pretende abarcar e excluir os que devem ficar de fora. Quanto mais se aproximar dessa lógica, melhor
será o conceito. No entanto, nunca ninguém conseguiu definir com segurança quais seriam os atos de
comércio. Sempre que se tentava estabelecer uma definição alguns atos ficavam indevidamente
excluídos. Nenhum conceito criado foi satisfatório, ou eles deixavam de fora um ato de comércio, ou
incluíam como comercial um ato civil.
Até hoje, nenhum comercialista conseguiu apresentar um conceito seguro de atos de comércio, que
permitisse a elaboração de um trabalho metódico. Houveram diversas tentativas de conceituar atos de
comércio, nenhuma atingiu sucesso absoluto, entretanto iremos abordar três.
1º) LUCRO – o primeiro denominador comum atinente aos atos de comércio, que os distanciam dos
atos civis é o critério do lucro, ou seja, a finalidade lucrativa. Os atos de comércio são movidos pela
vantagem econômica. Já os atos da vida civil, em regra geral, não são marcados pelo fim lucrativo (ex.:
casamento). Problemas: existem algumas figuras no direito comercial que não possuem finalidade
lucrativa, fazendo com que esse conceito caia por terra. Ex.: Aval – o aval é uma figura que, apesar de
regulamentada pelo direito comercial, é graciosa. Corresponde aos títulos de crédito, ou seja, à figura
da fiança (fiador). Outro exemplo de atividade sem fim lucrativo regida pelo direito comercial é a
constituição de sociedade anônima, que apesar de considerada mercantil não visa vantagem
econômica. Além disso, existem atos da vida civil que têm finalidade lucrativa ou mercantil, como por
exemplo a agricultura e a pecuária. Os agricultores e pecuaristas têm suas atividades regidas pelo direito
civil, mas atuam com finalidade lucrativa. Por isso, entende-se que, apesar de esse conceito funcionar,
ele apresenta falhas, não é seguro. Embora lógico, esse critério não é suficiente para gerar segurança
jurídica quanto ao conceito.
2º) INTERMEDIAÇÃO – então, tenta-se estabelecer um outro critério de separação dos atos civis
para os atos comerciais, qual seja a intermediação (ou atravessamento). O direito comercial rege
atividades de intermediação, porque os comerciantes compram para vender e, assim, garantir a
circulação da riqueza produzida. O comerciante realiza atividade de intermediação e é regido pelo direito
comercial. Problemas: os corretores de imóveis também realizam atividade de intermediação e são
7

regidos pelo direito civil (direito imobiliário). Ainda, para contrariar o conceito de intermediação, temos a
manufatura, que é uma atividade de comércio que, apesar de ser regida pelo direito comercial, não
possui intermediação. Assim como a manufatura, o financiamento de banqueiros é comércio lato senso
e afronta esse conceito. O conceito não faz referencia à intermediação física propriamente dita, mas sim
no sentido de que é necessária a aquisição da propriedade para a posterior venda, com o fim lucrativo.
O lucro e a intermediação são típicos atos de comércio, mas não são exclusivos.
OBS.: A circulação da propriedade imobiliária é de difícil obtenção, porque é necessário o registro
público e a escritura. Já a circulação da propriedade mobiliária não possui entraves, nem burocracias,
tão pouco registro. Isso porque os comerciantes querem a rápida circulação da riqueza. Mas os
documentos fiscais não são exigências do direito civil ou comercial, mas sim do direito tributário.
3º) NEGOCIAÇÃO EM MASSA – os atos de comércio caracterizam-se por serem atos de
negociação em massa, distanciando-se, assim, dos atos civis que são atos restritos. É verdade, o
manufator vai fabricar a maior quantidade que puder porque sua intenção é lucrar. Problemas: a relação
de consumo, diferentemente da relação de comércio, é cível, ou seja, o consumidor vai comprar um
carro, e não dez, enquanto que o comerciante pretende vender o maior número de produtos possível.
Os atos civis costumam se dar em números reduzidos (ex.: casamento). Entretanto, a figura do aval
contrapõe-se a esse conceito, porque a prática de aval não é reiterada, as pessoas não costumam dar
muitos avais durante a vida, mas é um ao de comércio. Assim, o conceito de negociação em massa
também não é um conceito seguro.
Então, a Teoria dos Atos de Comércio tem como marco histórico a Revolução Francesa, a teoria
abarcava todos aqueles que se dedicassem à atividade mercantil, ou seja, comerciante era todo aquele
que praticava atos de comércio. Argumentou-se contrariamente ao sistema objetivo em razão da
precariedade científica em que se baseava, onde o legislador casuisticamente enumerava os atos de
comércio, de acordo com o que a pratica mercantil considerava como o sendo à época, e que pertenceria
ao Código Comercial. De tal forma não se consegue encontrar o elemento conceitual a fundamentar o
ato de comércio. A dificuldade na conceituação do que seria ato de comércio gerou e gera distorções
das normas, limitando a matéria ao que seria efetivamente comércio. Ficou, assim, restrito o ato de
comércio, dentro da teoria objetiva, àquelas atividades econômicas do simples ato de comerciar,
intermediar ou mediar a oferta e procura de mercadorias, não abrangendo tantas outras, tão ou mais
importantes.
Importante: No Brasil, de acordo com o art. 4º do Código Comercial, adotamos a teoria objetiva, ou
seja, estabelece-se quem é comerciante de acordo com a atividade que cada um exerce.
c) Fase Subjetiva Moderna
Nunca houve um critério científico a sustentar a separação entre o direito civil e o direito comercial,
apenas motivações econômicas e políticas. Ademais, toda essa complexidade não agrada os juristas,
então, passou-se a buscar outros conceitos. Cesare Vivante, da Universidade de Sentelha na Itália,
propôs a unificação do direito privado. Vivante foi um dos maiores comercialistas de todos os tempos,
e ele passou a entender que o direito civil privado e o direito comercial se aproximam e, dessa maneira,
devem ser unificados, sendo regulamentados em conjunto pelo direito privado. Outra razão para que se
estabelecesse esta unificação foi o fato de o direito das obrigações estar em parte regulamentado pelo
direito comercial, no que tange aos comerciantes, e em parte pelo direito civil, no que tange os civis.
Quando Vivante apresentou sua ideia a tese foi rechaçada. Entretanto, com o passar do tempo,
outros estudiosos passaram a compreender esse conceito e criaram a Teoria da Empresa.
Essa fase coincide com a alteração do nome da ciência para direito empresarial e é regida pela
Teoria da Empresa, que foi desenvolvida ao longo do século XX e teve a sua primeira aparição no
Código Civil Italiano de 1942.

1.2.3. Teoria da Empresa ou Concepção Subjetiva Moderna


Muitos passaram a defender a unicidade do Direito Privado, ou seja, um regime jurídico único para
todos os que estão na mesma situação. A teoria foi adotada pelos italianos em 1942 e o mesmo ocorreu
no Brasil, em 2002.
8

A teoria da empresa buscou um denominador comum a todos os empreendedores, chamados


empresários. Então, foi identificada a organização dos fatores de produção (capital, trabalho, matéria
prima e tecnologia) como um elemento comum entre os empresários comerciais e civis.

→ Empresário: é o profissional da empresa, aquele que organiza os fatores de produção. São


fatores de produção. 1. Mão de obra (ou trabalho). 2. Capital. 3. Matéria prima (terra, insumos ou
natureza). 4. Tecnologia. O empresário é quem exerce habitual, continuada e reiteradamente a atividade
de empresa. Então, o empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para produção ou circulação de bens ou serviços. A atividade econômica organizada é
a própria empresa. Não há mais necessidade de óptica objetiva quanto ao método científico para definir
quem é comerciante. O elemento caracterizador da empresa é a atividade econômica organizada.
Conforme o art. 966, CC: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente [habitualidade,
continuidade] atividade econômica organizada [empresa propriamente dita] para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços.”.
Deve haver profissionalismo, ou seja, continuidade. Deve haver giro empresarial, não pode se
esgotar em um só́ um ato. Do conceito de empresário extrai-se o conceito de empresa. O empresário é
o sujeito que exerce a empresa (objeto de direito).
É empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada (empresa) para a
produção ou circulação de bens e serviços. Para que o sujeito seja considerado empresário, ele deve
exercer reiteradamente a atividade de empresa, deve viver disso, ter como meio de subsistência. O
profissionalismo é um elemento constituidor do empresário, porque o empresário deve se dedicar a
exercer a empresa de forma profissional. A “produção de bens” a que se refere o conceito diz respeito
aos bens móveis ou à manufatura agrária (agricultura e pecuária).
Como toda obrigação corresponde a um direito e vice-versa, o regime jurídico que regulamenta a
atividade dos empresários também lhes garante proteção.
Então, o conceito de empresário abrange quatro características: a) profissionalismo; b)
habitualidade; c) organização econômica da atividade; d) lucro econômico.
Empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção e
circulação de bens e serviços, nos termos do art.966, do CC. A lei determina que só poderá exercer a
atividade de empresário quem estiver em pleno gozo da capacidade civil e quem não for legalmente
impedido. O parágrafo único do referido artigo determina quem não pode ser considerado empresário.
O legislador reconhece que esse conceito é um tanto amplo, e precisa ser, para que seja possível
abranger os empresários comerciais e os empresários civis. No entanto, em razão dessa amplitude,
acaba protegendo outras pessoas que não devem ser protegidas por essa lei, como por exemplo os
profissionais liberais.
Os profissionais liberais ou autônomos (ex.: advogados, médicos, engenheiros, dentistas)
diferenciam-se dos empresários porque o elemento basilar para a atividade que exercem é o
conhecimento intelectual. Quando a intelectualidade se sobrepõe aos fatores de produção, o sujeito
não será considerado empresário, ainda que sua atividade econômica seja organizada, ele será um
profissional liberal. Os funcionários liberais não atuam com a impessoalidade e o fator organizacional
da atividade econômica que caracteriza a atividade empresarial. Então, cada grupo de profissionais
liberais tem seu regulamento próprio (ex. OAB, CREA).
Em regra, os profissionais liberais são procurados em razão do reconhecimento do seu
conhecimento técnico, intelectual, científico. Já os empresários são procurados, tão somente, em razão
do custo benefício do negócio.
Assim, não se costuma considerar empresário o exercente de profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, mesmo que contrate empregados para auxiliá-lo, no entanto há uma
exceção, configurada na hipótese em que o exercício da profissão constitui elemento da empresa.
Portanto é a impessoalidade e fator organizacional da atividade econômica que caracteriza a atividade
empresarial e impõe o atendimento às normas de direito empresarial.
9

Então, o conhecimento intelectual não pode se confundir com atividade econômica organizada
(prevista no art. 966, parágrafo único, CC), salvo se o exercício da atividade intelectual constituir
elemento de empresa, ou seja, quando a organização dos fatores de produção passa a preponderar
com relação à intelectualidade. Portanto, quando a organização econômica da atividade se sobrepõe à
intelectualidade, o profissional liberal será considerado empresário. Para que um profissional liberal seja
considerado empresário é necessário que o exercício da profissão constitua elemento da empresa, de
forma que a impessoalidade e o fator organizacional da atividade econômica caracterizem a atividade
empresarial.
Assim sendo, o advogado que fizer com que o exercício da sua atividade intelectual constitua um
elemento de empresa não poderá ser considerado empresário. Isso porque, independentemente da
empresa de advogados, ela é procurada pela qualidade da atividade intelectual, e não pela qualidade
do escritório. Este é o entendimento majoritário, baseado no aspecto material, ou seja, o advogado não
é abrangido pela parte final do art. 966, parágrafo único, CC. Ademais, o registro dos escritórios de
advogados coletivos não é considerado empresa, mas sim é feito com base no número da OAB (aspecto
formal). Conforme o art. 15 §1º do Estatuto da OAB, o registro da sociedade de advogados deverá se
dar perante a própria OAB, ela é o órgão competente para tanto.
Além dos profissionais liberais, os servidores públicos também não podem ser considerados
empresários. Ocorre que o servidor público está legalmente proibido de exercer tal atividade, pois possui
um vinculo profissional com o poder público, sob uma relação de dependência. Então, o servidor público
não pode ser empresário, salvo como sócio de uma empresa, desde que não exerça funções de
administração e gerência. Isso se dá em razão da necessidade de dedicação ao serviço público, bem
como para evitar que o sujeito se sirva da sua função pública para obter vantagens, conseguir benefícios
para a sua empresa. Além disso, o servidor público é pessoa natural, e, enquanto pessoa natural, o
empresário pode ser levado à penúria patrimonial, porque deve responder ilimitadamente com o seu
patrimônio pessoal. O sócio, o cotista ou o acionista não respondem integralmente com o seu patrimônio
pessoal, sua responsabilidade é limitada e, por essa razão, o funcionário público pode ser sócio, cotista
ou acionista de uma empresa.
Além dos servidores públicos, os agentes políticos e os militares também são agentes públicos e,
portanto, não poder exercer a empresa. Ademais, os falidos também não podem ser considerados
empresários.

→ Empresa: é uma atividade economicamente organizada. Não é a pessoa jurídica, mas sim a
própria atividade que ela exerce. A empresa está para o empreendedor assim como o comércio está
para o comerciante. As empresas conjugando capital, trabalho, natureza e tecnologia, constituem o
empresário. O exercício da empresa é o exercício de uma atividade econômica organizada, e é realizado
pela figura do empresário. É a noção de empresa como exercício de atividade econômica organizada
que determina um regime jurídico único para o direito comercial e para o direito civil.
As empresas têm como órgão competente para registro a junta comercial, diferentemente das
sociedades de advogados, que devem ser registradas perante a OAB.
A palavra “empresa” ainda é utilizada em outros sentidos, que não o teórico da ciência do direito
empresarial. O autor Alberto Asquine apontou que a empresa poderia ter quatro acepções (ou perfis):
a) perfil subjetivo; b) perfil objetivo; c) perfil corporativo; e d) perfil funcional.
a) Perfil Subjetivo da Empresa: visualiza-se este perfil quando tratamos da empresa
como pessoa. Ocorre que, muitas vezes, as pessoas costumam se referir à empresa como se fosse o
próprio empresário. Ex.: “As empresas de ônibus pedem um aumento das tarifas”. Está errado, o sujeito
é o empresário, a empresa é só o objeto. Mas, apesar de ser algo teoricamente errado, as pessoas
conseguem compreender a frase. Quem pede aumento são os empresários, as pessoas, não as
empresas em si. Um é sujeito, o outro é a atividade, assim como advogado e advocacia, médico e
medicina, engenheiro e engenharia. A empresa é a atividade de organização dos fatores de produção
exercida pelo empresário. Normalmente as empresas são exercidas por pessoas jurídicas.
10

b) Perfil Objetivo da Empresa: pode-se observar a face objetiva da empresa quando


ela é confundida com o próprio estabelecimento, ou seja, com o conjunto de bens reunidos pelo
proprietário para promover e explorar a empresa. O estabelecimento não é a empresa, mas sem o
conjunto de bens não há como se dizer que a empresa está estabelecida. A empresa é a atividade
comercial do empresário exercida através do estabelecimento. Um empresário não pode comprar a
empresa de outro, mas um empresário pode comprar o estabelecimento de outro empresário. Então o
complexo de bens pode ser negociado.
c) Perfil Corporativo da Empresa: muitas vezes a empresa é confundida com a ideia
de corporação da qual o Estado é o grande gestor. A ideia de empresa como corporação caiu em
desuso, mas a partir dos anos 90, passou-se a falar da função social da empresa, que tem reflexos na
esfera pública. Remete à concepção de teoria da empresa, Itália, fascismo, século XX, intervenção
vigorosa do Estado na economia. Pregava a empresa no sentido de corporação, na qual o Estado é o
grande gestor. Não invoca somente os interesses do empresário, que é o que costuma ocorrer, mas
também de todos que estão envolvidos nesta relação, como outras empresas e também o próprio
Estado, para acarretar impostos. Esta ideia entrou em desuso. Entretanto, a partir da década de 80
começou-se a falar na função social da empresa, que faz referência a este perfil.

d) Perfil Funcional da Empresa: este é o perfil técnico, elaborado pela teoria da


empresa. A empresa é a organização dos fatores de produção com o fim de circulação ou produção de
bens ou serviços.

Então, o primeiro perfil é o subjetivo, onde a empresa é vista como pessoa, identificando-se com o
empresário; O segundo perfil é o objetivo (ou Patrimonial), onde a empresa se confunde com o
patrimônio ou o estabelecimento empresarial, ou seja o conjunto de bens afeto ao exercício da atividade
empresarial; O terceiro perfil é o Corporativo, através do qual a empresa se confunde com a instituição,
na medida em trata de reunir pessoas (empresários e seus empregados), com propósito comum; Por
último o perfil funcional é o que se confunde com a própria atividade empresarial, segundo o Art. 966
CC.

OBS.: A pessoa jurídica é uma ficção legal. Toda sociedade é uma pessoa jurídica, mas nem toda
pessoas jurídica é uma sociedade.

OBS.: A função social da empresa veio prevista expressamente no art. 47 da Lei de Falências
(nº11.10105). A recuperação judicial tem como objetivo manter o emprego dos trabalhadores e o
investimento dos empreendedores. A recuperação judicial das empresas visa afastar a falência
(insolvência patrimonial).

1.3. Características do Direito Empresarial – deve-se levar em consideração, como contraponto, o direito
civil. Existem seis características do direito empresarial, são elas:

a) INTERNACIONALISTA: o direito empresarial é universal, cosmopolita, enquanto que o direito


civil é eminentemente nacionalista. Tende a transcender as fronteiras nacionais em virtude das
importações e exportações de mercadorias. Assim, existem Cortes Internacionais, como a OMC, para
resolver, dirimir os conflitos de interesses dos empresários de diversos países, bem como para prevenir
estes conflitos, através de acordos, tratados e convenções. Então, o direito comercial é internacionalista
no sentido de que sua aplicação transcende as fronteiras nacionais, como exemplo cite-se as atividades
de importação e exportação de mercadorias entre particulares, celebradas respeitando tratados e
acordos celebrado por diferentes países assumindo compromissos entre si.

b) ONEROSO: o direito empresarial é oneroso, preza o individualismo, enquanto que o direito


civil tem como sua marca a graciosidade. É um egoísmo saudável, busca-se a vantagem econômica. O
11

direito civil até pode ser marcado pela economicidade mas isso não é a principal e inerente
característica. O direito empresarial busca a especulação econômica, porque os empresários querem
dinheiro, visam lucro.

c) FRAGMENTÁRIO: o direito empresarial não forma um sistema jurídico, científico completo,


ele tem falhas. É fragmentário e não fragmentado, são coisas diferentes. O Direito Empresarial é
considerado Fragmentário por ser baseado nas praxes comerciais e mercantis, não formando um
sistema jurídico completo, mas um complexo de normas, que sempre deixa muitas lacunas. Já o direito
civil é muito mais sistematizado, completo, o que não significa dizer que ele é perfeito, mas possui menos
falhas que o direito comercial. Isso ocorre porque o direito comercial é pragmático, adveio de práticas
reiteradas, de costumes. Os empresários não se detêm à minúcias teóricas, eles querem que seja
pragmático, que funcione rápido. Por isso, nas suas falhas, o direito empresarial encontra apoio no
direito civil.

d) INFORMAL: o direito empresarial é anti-formalista, busca a simplicidade. Já o direito civil é


solene e formalista, é apegado a forma. Para os empresários, quanto menos solenidades melhor, porque
certas formalidades atrapalham a celeridade da realização dos negócios.

e) INOVADOR: o direito empresarial é progressista, elástico, dinâmico, porque o comércio deve


se adaptar rapidamente ao mercado. O direito empresarial é pragmático e não solene, em razão de ter
de acompanhar a evolução das vendas. Frequentemente surgem novas espécies de contratos no direito
empresarial, isso porque esse ramo do direito deve se adequar, se adaptar a realidade prática do
comércio. A sociedade anônima (S/A) é um típico exemplo da inovação do direito empresarial e, hoje, é
uma verdadeira máquina de captar dinheiro. Ainda o direito comercial é inovador uma vez que
frequentemente são criadas inovações a serem aplicadas em suas relações comerciais, cite-se como
exemplo o cheque pré-datado, a sociedade anônima e a EIRELI. Já o direito civil tende a ser estático,
parado, estagnado. O direito civil é estático porque depende de grande aceitação social, portanto tende
a ser conservador e possui maior dificuldade de acompanhar a modernidade. O direito civil é atrelado
ao fato social, que o “arrasta”.

f) INTERDISCIPLINAR: o direito só é compartimentado para facilitar seu estudo, mas, na


verdade, ele é uno.
 Direito Empresarial + Direito Civil - o direito empresarial possui grande afinidade com o direito
civil e, em razão dessas relações estreitas, suas lacunas são preenchidas por ele. Então, o direito civil
e o direito empresarial possuem muita afinidade e, justamente pelo fato de o direito empresarial ser
fragmentário, ele tem suas lacunas completadas pelo direito civil, tanto no aspecto típico, como
jurisprudencial, legal e doutrinário.
 Direito Empresarial + Direito Público – o direito empresarial ainda guarda relação com o direito
público, quando este estabelece a circulação das atividades econômicas através da seguridade social
e da propriedade privada.
 Direito Empresarial + Direito Constitucional – o art.5º, inciso XXIX, da CF, trata do direito
empresarial, circunstância que o aproxima e vincula ao direito constitucional.
 Direito Empresarial + Direito Administrativo – o direito empresarial se aproxima do direito
administrativo em razão da Lei das Licitações, que traça um paralelo entre o público e o privado. Aquele
que se candidata a concorrer, em regra geral, é um empresário. Além disso, o regime jurídico único dos
servidores públicos estabelece que, para o sujeito ser funcionário público, ele deve estar em pleno gozo
da capacidade civil, bem como o direito empresarial fixa o mesmo requisito para que um sujeito seja
considerado empresário. Entretanto, o servidor público, ainda que esteja em pleno gozo da capacidade
civil, não pode ser empresário, isso se dá em razão de o sujeito desempenhar função pública. Conforme
estabelece o direito empresarial, funcionários públicos não podem ser empresários.
12

 Direito Empresarial + Direito Tributário – o direito empresarial se aproxima do direito tributário no


que diz respeito à seguridade social e aos impostos oriundos da exploração da empresa. Os
empresários são contribuintes. Ex.: IOF; IPI; ICMS.
 Direito Empresarial + Direito do Trabalho – o direito empresarial se conecta ao direito do trabalho
em razão de que grande parcela dos empregadores são os empresários. A exploração da empresa com
a organização dos fatores de produção nada mais é do que trabalho, os empresários precisam de mão-
de-obra, ou seja, precisam de trabalhadores para exercer a empresa. O perfil funcional da empresa é o
adotado pela teoria da empresa no Brasil, e o legislador trabalhista tentou se servir de um conceito
empresarial ao elaborar a CLT (art.2º - “Considera-se empregador a empresa, individual ou
coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação
pessoal de serviço”). No entanto, conforme estabelece o direito empresarial, deve ser considerado
empregador o empresário e não a empresa, motivo pelo qual, entende-se que o legislador trabalhista
equivocou-se ao redigir o artigo e utilizou a empresa como sujeito. A atividade econômica é a própria
empresa e o risco que o empresário assume. Como estabelece o direito do trabalho,o empregado deve
ingressar com a ação trabalhista contra a pessoa jurídica, o indivíduo de direito, que vai responder com
o seu patrimônio, com o seu acervo social, apesar de o prejuízo real ser do empresário.
 Direito Empresarial + Direito Penal – o direito penal se comunica com o direito empresarial na
medida em que prevê os crimes ambientais, que, em sua maioria, são praticados por empresários no
exercício da empresa. Não é possível penalizar a pessoa jurídica, mas sim seus sócios, os empresários,
que são pessoas físicas. Apesar de alguns admitirem a condenação de pessoas jurídicas, a empresa
não sofre sanções. Ainda há os crimes falimentares regidos pela lei de falências (praticado por
empresários no exercício da empresa).
 Direito Empresarial + Direito Processual Civil – até 1875 havia os Tribunais do Comércio, que
eram aptos para julgar os conflitos atinentes ao direito empresarial. A partir de 1875, houve a unificação
dos Tribunais, de modo que se passou a julgar causas cíveis e comerciais em um mesmo juízo. No
entanto, o direito material continuou dicotomizado até 2002, quando ocorreu a publicação do novo CC.
Então, a unificação do direito empresarial e do direito processual civil se deu em 1875.
 Direito Empresarial + Direito Internacional Público – o direito internacional público se aproxima
do direito empresarial na medida em que a aproximação dos povos e os acordos internacionais
costumam ter cunho mercantil. Inclusive, a Lei Cambiária de Genebra é oriunda dessa aproximação. O
direito empresarial é internacionalista.
Assim, conclui-se que o direito empresarial se comunica visceralmente com outras ciências
jurídicas.

2. O EMPRESÁRIO
2.1. Conceito
Empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção e
circulação de bens e serviços, nos termos do art.966, do CC. A lei determina que só poderá exercer a
atividade de empresário quem estiver em pleno gozo da capacidade civil e quem não for legalmente
impedido.
Conforme os arts.9701 e 9712, do CC, o legislador estabelece dois microssistemas, um referente ao
empresário rural e outro referente ao pequeno empresário.
Em 1984, com a criação do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte
garantiu-se direitos aos pequenos e micro empresários. Entretanto, o sistema foi bifurcado em razão do

1 Art.970, do CC: “A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao
pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”.
2 Art.971, do CC: “O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as

formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao
empresário sujeito a registro”.
13

faturamento bruto anual, tendo ocorrido uma separação dos direitos e estabelecendo-se uma
diferenciação entre o microempresário e o pequeno empresário. Essa bifurcação foi estabelecida pelo
legislador em razão de que ele reconheceu que entre os pequenos empresários, existem alguns que
são menores que os outros. A diferenciação entre o ME e o EPP se dá com relação ao faturamento
bruto anual. Em 1996, foi criada uma lei do simples que tem origem tributária que estabeleceu
vantagens, no campo dos tributos, para os sujeitos que se encaixam como pequenos ou micro
empresários. Em 2007 foi publicada a Lei-Complementar nº123/07, Estatuto da Microempresa e
Empresa de Pequeno Porte, com o fim de garantir as linhas de crédito.
Consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a
sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário, a que se refere o
art. 966 do Código Civil, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro
Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I- no caso da microempresa, aufira, em cada
ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00; e II- no caso da empresa de
pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou
inferior a R$ 3.600.000,00.
Considera-se receita bruta o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria,
o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas
canceladas e os descontos incondicionais concedidos. No caso de início de atividade no próprio ano -
calendário, o limite será proporcional ao número de meses em que a microempresa ou a empresa de
pequeno porte houver exercido atividade, inclusive as frações de meses. O enquadramento do
empresário ou da sociedade simples ou empresária como microempresa ou empresa de pequeno porte
bem como o seu desenquadramento não implicarão alteração, denúncia ou qualquer restrição em
relação a contratos por elas anteriormente firmados.
Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto na Lei Complementar
nº123/06, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica: I- de cujo capital participe outra pessoa jurídica;
II- que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior;
III- de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra
empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a
receita bruta global ultrapasse o limite; IV- cujo titular ou sócio participe com mais de 10% do capital de
outra empresa não beneficiada pela Lei Complementar nº123/06, desde que a receita bruta global
ultrapasse o limite; V- cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica
com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite; VI- constituída sob a forma de
cooperativas, salvo as de consumo; VII- que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII- que exerça
atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de
sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de
distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros
privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX- resultante ou remanescente de cisão
ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 anos-
calendário anteriores; X- constituída sob a forma de sociedade por ações. XI- cujos titulares ou sócios
guardem, cumulativamente, com o contratante do serviço, relação de pessoalidade, subordinação e
habitualidade.
O disposto nos itens IV e VII não se aplica à participação no capital de cooperativas de crédito, bem
como em centrais de compras, bolsas de subcontratação, no consórcio e na sociedade de propósito
específico e em associações assemelhadas, sociedades de interesse econômico, sociedades de
garantia solidária e outros tipos de sociedade, que tenham como objetivo social a defesa exclusiva dos
interesses econômicos das microempresas e empresas de pequeno porte.
Na hipótese de a microempresa ou empresa de pequeno porte incorrer em alguma das situações
elencadas, será excluída do tratamento jurídico diferenciado previsto na Lei Complementar nº123/06,
com efeitos a partir do mês seguinte ao que incorrida a situação impeditiva. No caso de início de
atividades, a microempresa que, no ano-calendário, exceder o limite de receita bruta anual passa, no
ano-calendário seguinte, à condição de empresa de pequeno porte. No caso de início de atividades, a
14

empresa de pequeno porte que, no ano-calendário, não ultrapassar o limite de receita bruta anual passa,
no ano-calendário seguinte, à condição de microempresa. A empresa de pequeno porte que, no ano-
calendário, exceder o limite de receita bruta anual fica excluída, no mês subsequente à ocorrência do
excesso, do tratamento jurídico diferenciado previsto na Lei Complementar nº123/06, para todos os
efeitos legais. Entretanto, os efeitos da exclusão dar-se-ão no ano-calendário subsequente se o excesso
verificado em relação à receita bruta não for superior a 20% do limite.
A empresa de pequeno porte que no decurso do ano-calendário de início de atividade ultrapassar
o limite proporcional de receita bruta estará excluída do tratamento jurídico diferenciado previsto na Lei
Complementar nº123/06, com efeitos retroativos ao início de suas atividades. Na hipótese de o Distrito
Federal, os Estados e os respectivos Municípios adotarem um dos limites, caso a receita bruta auferida
pela empresa durante o ano-calendário de início de atividade ultrapasse 1/12 do limite estabelecido
multiplicado pelo número de meses de funcionamento nesse período, a empresa não poderá recolher o
ICMS e o ISS na forma do Simples Nacional, relativos ao estabelecimento localizado na unidade da
federação que os houver adotado, com efeitos retroativos ao início de suas atividades. A exclusão não
retroagirá ao início das atividades se o excesso verificado em relação à receita bruta não for superior a
20% do respectivo limite referido naquele parágrafo, hipótese em que os efeitos da exclusão dar-se-ão
no ano-calendário subsequente.
O referido impedimento não retroagirá ao início das atividades se o excesso verificado em relação
à receita bruta não for superior a 20% dos respectivos limites, hipótese em que os efeito s do
impedimento ocorrerão no ano-calendário subsequente. Para fins de enquadramento como
microempresa ou empresa de pequeno porte, poderão ser auferidas receitas no mercado interno até o
limite, conforme o caso, e, adicionalmente, receitas decorrentes da exportação de mercadorias ou
serviços, inclusive quando realizada por meio de comercial exportadora ou da sociedade de propósito
específico, desde que as receitas de exportação também não excedam os referidos limites de receita
bruta anual. Para fins de determinação da alíquota, da base de cálculo e das majorações de alíquotas,
serão consideradas separadamente as receitas brutas auferidas no mercado interno e aquelas
decorrentes da exportação. Todo este sistema será regulamentado por resolução do CGSN.
O enquadramento da ME e da EPP são importantes para gozar das vantagens do estatuto da
microempresa e empresa de pequeno porte. Este enquadramento deve ser declarado frente à junta
comercial e após deve-se agregar ao final do nome empresarial a expressão ME ou EPP, conforme esse
enquadramento. A lei complementar nº 123/06 tem um caráter muito mais fiscal do que empresarial.
Este estatuto prevê vantagens no campo tributário, trabalhista, visando proteger a microempresa e
empresa de pequeno porte.
O regime jurídico empresarial é a legislação aplicada aos sujeitos que praticam a atividade de
empresa. No entanto, em alguns casos, o legislador estabelece um microssistema, reunindo ao regime
jurídico empresarial geral ao regime da micro e pequena empresa, que é específico. As micro e
pequenas empresas possuem um regimento próprio, suas próprias normas, fora do CC/02, ou seja,
possuem um regime jurídico próprio. Assim como, o Estatuto da Terra trata do empresário rural e
estabelece outro microssistema autônomo, mas interdependente do CC/02. Há uma interpenetração
entre vários ramos jurídicos. O empresário que crescer passa a se submeter ao regime jurídico
empresarial normal, que é regulamentado pelo art.966, do CC.
Há dois sistemas jurídicos empresariais da microempresa, o que abrange o empresário rural e o
que diz respeito ao empresário urbano. Mas, conforme o art.971, do CC, o empresário cuja atividade
rural constitua sua principal profissão pode requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis e, depois de inscrito, será equiparado ao empresário sujeito a registro.
Os demais sujeitos que realizem atividade rural para sua subsistência, são regidos pelo direito
agrário, com fulcro no Estatuto da Terra. Então, o pequeno empresário urbano é o EPP, já o rural é
regido pelo Estatuto da Terra.
O regime jurídico é o conjunto de regras e normas aplicadas a determinado conteúdo. O regime
jurídico empresarial é o conjunto de regras que são aplicadas a todos empresários em razão do exercício
da empresa. O estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte cria um regime jurídico próprio
15

e estabelece um microssistema, mas está integrado ao regime jurídico empresarial geral. O legislador
não estabeleceu um regime jurídico específico ao empresário rural, então ele precisa fazer uma opção
para se submeter ao regime jurídico empresarial.

2.2. Espécies de empresário


Há três espécies de empresário lato senso: empresário individual, sociedade empresária e eireli;
até 2012 eram duas espécies. Qualquer dessas três figuras pode titularizar uma empresa, elas
constituem sujeitos de direito.

a) Empresário individual - Necessita ser pessoa física/natural. Tem o intuito de praticar atos de
empresa, sem qualquer colaboração ou concorrência. É a figura mais corriqueira desde os primórdios.
A responsabilidade pelas obrigações decorrentes do exercício da empresa é ilimitada. Todo seu
patrimônio fica a disposição dos credores.

b) Sociedade empresária – é uma espécie de pessoa jurídica entre as várias presentes na parte
geral do CC. Quase tomou conta do mercado, atualmente. Seria uma conjugação de vontades e
esforços na organização de atividade empresarial. Não existe sociedade de uma só pessoa, é
imprescindível a pluralidade de sujeitos, sendo necessária a presença, no mínimo, dois sócios (não há
máximo). Não existe a figura do sócio-proprietário, pois o sócio não é dono, é apenas um status jurídico.
A pessoa jurídica é o gênero do qual a empresa é a espécie. Empresa é a atividade econômica
organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. Já a Pessoa Jurídica é um sujeito de
direito personalizado, criado, tendo como requisitos para a existência a organização de pessoas ou
bens, a licitude de propósitos e capacidade reconhecida por norma. Toda empresa, regularmente
constituída, é uma pessoa jurídica, mas nem toda pessoa jurídica é uma empresa.
A sociedade pode ser anônima, limitada, em nome coletivo, em comandita simples, em comandita
por ações, em conta de participação. Os sócios escolhem o nome que querem dar à sociedade. As
últimas três espécies (comandita simples, em comandita por ações e em conta de participação) estão
em desuso atualmente.
Existem várias sociedades empresárias, mas as mais comuns são: a sociedade limitada
(pequenos e médios empreendimentos; os sócios respondem limitadamente, ou seja, seu patrimônio
particular não é vinculado, mas há necessidade de boa convivência), a sociedade anônima - S/A
(grandes empreendimentos; respondem também limitadamente). Existem outros tipos, mas são
raríssimos de existir, como a sociedade em nome coletivo e sociedade em comandita (simples ou por
ações), sociedade unipessoal (que ofende o principio da pluralidade de sócios).
Os membros da sociedade empresária não são sujeitos de direito empresarial, mas sim, são apenas
sócios. Em contraponto, o empresário individual é um sujeito de direito empresarial.
Toda pessoa jurídica de direito público é finalista e, se desviar do fim para o qual foi criada, deve
ser expurgada.
O ato que personifica a sociedade simples é o seu registro em cartório de títulos e documentos. O
registro público de títulos e documentos (art.44, inciso II, do CC), refere-se tanto à sociedade individual
como à sociedade simples. Todas as sociedades que não forem empresárias são simples (art. 982, CC).
Caso a sociedade seja empresária, o seu registro deverá se dar na Junta Comercial.
O legislador classifica a sociedade em duas espécies: a sociedade simples e a sociedade
empresária. Até 2002, elas eram denominadas de sociedade civil e sociedade comercial em razão da
dicotomia do direito civil e do direito empresarial. As sociedades civis exploravam objetos de natureza
civil, atividades extrativas da natureza, agricultura, pecuária, atividades imobiliárias, prestação de
serviços, etc., eram regidas pelo comércio estrito senso, ou seja, baseava-se na compra para a revenda,
tinha sentido econômico. Em contraponto, as sociedades comerciais, por conexão e dependência, eram
regidas pelo comércio lato senso em sentido jurídico, como as atividades da indústria da manufatura,
do transporte de mercadorias e financiamento bancário. Este é o comércio lato senso porque não é
comércio economicamente falando, não envolve circulação de mercadorias, mas por conexão essas
16

atividades nasceram também do mundo dos comerciantes. Então, por vontade do legislador se
submeteu outras atividades ao regime jurídico comercial.
Todos são empresários, quer os empresários civis, quer os empresários comercias, pela teoria da
empresa são todos empresários, em razão da organização econômica dos fatores de produção. Em
razão da unificação promovida pela teoria da empresa admite-se todos como empresários, mas como
ainda verificou-se que as sociedades distanciavam-se umas das outras, estabeleceu-se a divisão entre
as sociedades empresárias e as sociedades simples. O legislador adota o critério da exclusão, da
negação para diferenciar a sociedade empresária da sociedade simples, ou seja, ele diz o que é um, se
não for este, é o outro, sem dizer o que é o outro.
É necessário diferenciar sociedade empresária da sociedade simples. O que distingue é o critério
da exceção ou da negação. Ele diz o que é um, o que já́ exclui o outro. As que não forem empresária
serão simples. Os elementos da sociedade empresarial são os mesmos do empresário individual;
A sociedade empresária é, também, uma espécie de contrato. Aquilo que os sócios assinam com o
intuito de celebrar obrigações. Neste caso, além da relação contratual, nasce, do contrato, um sujeito
de direito. O contrato de sociedade é o único que pode fazer dele nascer um sujeito de direito. Nos
contratos em geral, as partes se colocam em posições antagônicas, visando um objetivo comum. Já na
sociedade não há antagonismo, os sócios, a partir da pluralidade, colocam-se um ao lado do outro.
Visam finalidades comuns, mais objetivamente, o lucro.

c) Eireli - Abreviatura para “Empresa Individual de Responsabilidade Limitada”. É uma figura


nova, criada por solicitação do direito empresarial. Há um erro técnico do legislador, porque não é
empresa, e sim empresário. É pessoa jurídica, não é sociedade. Surgiu a partir de 2012 para superar
as figuras acima, que cerceavam a livre iniciativa por parte dos próprios empreendedores. Sua criação
foi ensejada em razão das vantagens e desvantagens do empresário individual e da sociedade
empresária. É uma mistura das demais espécies de empresários.
A sociedade empresária clamava por uma categoria onde os sócios respondessem limitadamente,
assim, surgiu a sociedade limitada, contudo, ainda assim, era uma sociedade, o que a tornava
inconveniente para aqueles que não gostam de convivência nos negócios. Passou, então, a existir um
clamor pela criação de uma sociedade unipessoal, contudo, o legislador preferiu a criação da Eireli, eis
que, não havia previsão legal para haver sociedade com uma pessoa só – isso poderia ocorrer apenas
temporariamente (6 meses para reconstituir), antes da dissolução, caso não encontrasse novo sócio.
A Eireli juntou os lados positivos das outras espécies de empresários: Possibilidade de empreender
individualmente, sem a concorrência de mais pessoas, e sem vincular totalmente o patrimônio. É
controvertida por sua natureza jurídica, visto que mescla dois tipos, sendo um ser híbrido. São cabíveis
a EIRELI, no que couber, as regras previstas para a sociedade limitada. O inciso sexto do art. 44 do
Código Civil cria a EIRELI (é sua introdução ao direito brasileiro).
As pessoas somam seus capitais e dividem tarefas. A convivência, contudo, pode ser complicada.
O empresário individual sempre responde ilimitadamente pelas responsabilidades decorrentes da
empresa (todo patrimônio está à mercê dos credores – seja da vida civil, ou da vida empresarial). A
vantagem da sociedade empresária é a responsabilização limitada aos sócios – credores só podem
cobrar do patrimônio da sociedade. Com a mistura destas duas figuras, criou-se a Eireli (empresa
individual com responsabilidade limitada). A expressão “empresa” nesse caso está no seu perfil
subjetivo, confundindo-se com a figura do empresário. O nome adequado seria “Empresário Individual
de Responsabilidade Limitada”. As regras jurídicas da Eireli estão previstas no art. 980-A, do CC, e têm
natureza muito próxima da sociedade, mas não é uma sociedade. Neste artigo é a primeira vez que o
legislador usa a expressão “eireli”.

Art. 980-A do Código Civil: “A empresa individual de responsabilidade limitada será́ constituída por
uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será́ inferior
a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País”.
17

Pessoa = Quem pode titularizar uma EIRELI é pessoa natural, conforme entendimento majoritário.
Capital integralizado = Conceito de direito societário. É aquele que é aportado (contribuído) pelo sócio
da sociedade, ou, no caso da EIRELI, da pessoa natural para a EIRELI. Deve ser totalmente
integralizado no momento da constituição da EIRELI, e não por parcelas.
100x o salário-mínimo = O legislador exige capital mínimo para evitar que novas pessoas jurídicas
assumam obrigações e não possam cumpri-las.

§1º “O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a
denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada”.
# Firma ou denominação social = Nome da empresa.
§2º “A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá́
figurar em uma única empresa dessa modalidade”.
# Motivou a discussão a respeito da pessoa jurídica poder abrir EIRELI ou não. Apenas pode, a pessoa
natural, ter uma única Eireli (é uma interpretação possível). Diz que a pessoa natural só́ pode abrir uma
EIRELI, para evitar também a “indústria da EIRELI”. A interpretação no sentido de que a pessoa jurídica
pode, não apenas ter uma eireli, como ter várias, não vigorou.
§3º “A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá́ resultar da concentração das
quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram
tal concentração”.
# Não precisa fechar a sociedade e abrir uma EIRELI, pode-se transformar a sociedade em EIRELI.
Este parágrafo configura a migração dos empresários individuais para a figura da eireli. Bem como nos
casos de sociedade que seja reduzida a um sócio só (extingue juridicamente, mas não de fato – utiliza-
se toda estrutura).
➔ Entretanto, caso a responsabilidade seja tributária ou trabalhista, de acordo com o entendimento
jurisprudencial dominante, é possível que haja a responsabilização do patrimônio particular da
pessoa natural por traz da eireli.
A eireli é de natureza híbrida. É um bom caminho para aqueles que estão entre a pequena e a média
empresa.
A eireli é de natureza limitada, é um sujeito de direito com responsabilidade limitada. O legislador
não esclarece se essa única pessoa seria física ou jurídica, mas a tese majoritária é a de que seria
apenas pessoa natural/física. Estabelece-se um valor mínimo, qual seja de 100 salários mínimos
(atualmente R$ 88.000,00). Evita que pessoas abram uma eireli com R$1.000,00, sendo que há grande
chance de fracasso.
A eireli não é uma espécie de sociedade unipessoal (art.44, inciso VI, do CC). Se a eireli está ao
lado das sociedades, fica claro que, para o legislador, ela é um tipo de pessoa jurídica diverso da
sociedade. Após a nomeação, é obrigatório que o término do nome empresarial se dê com a expressão
“eireli”.
Conforme o art.980-A §6º, do CC, aplicam-se à eireli, no que couber, as regras da sociedade, haja
vista que elas tem a mesma natureza jurídica, mas são espécies diversas.
OBS.: Os microempresários (ME) e empresários de pequeno porte (EPP) podem se enquadrar em
qualquer uma das três figuras (empresário individual, sociedade empresária e eireli). Já os
microempreendedores individuais (MEI) não se enquadram em nenhuma das figuras, haja vista que não
podem ser considerados empresários. Essa classificação serve meramente para o recolhimento de
tributos.
OBS.: Quando se fala de sociedade limitada, não é esta que tem responsabilidade limitada, mas sim os
sócios.
A desconstituição da personalidade jurídica pode ocorrer e ter confusão patrimonial se sócios
aproveitam-se da benesse para comprar carros, por exemplo, para uso próprio em nome da pessoa
jurídica. Esta construção da desconstituição da personalidade jurídica se deu para a sociedade, mas
aplica-se a todos, inclusive à Eireli – é previsto na parte geral do art.50, do CC.
18

2.3. Caracterização jurídica do empresário


Precisam ser apurados os elementos caracterizadores do empresário. O art.966, do CC, traz a
conceituação de empresário. A caracterização jurídica se refere aos elementos que devem estar
presentes para termos um empresário individual, uma EIRELI, etc. Eles estão de forma genérica no art.
966 do CC: Profissionalismo, organização econômica da atividade, produzir/circular bens ou serviços.
O artigo fala em “exercer profissionalmente”, e só́ pessoa física pode ter profissão. Por isso, o professor
utilizou o termo “profissionalismo”, que também se refere à pessoa jurídica que exerce a atividade com
habitualidade, continuidade e reiteração.
a) Profissionalismo: o artigo diz “quem exerce profissionalmente”. A redação é voltada para a pessoa
natural/física. Apenas pessoas naturais têm profissão. Continuidade habitualidade e a reiteração da
função de empresário e, por conseguinte, das atividades empresárias.
b) Atividade Econômica Organizada: volta-se ao mercado para fazer produzir, circular bens e
serviços.

2.4. Qualificação jurídica do empresário


Deve haver respeito às normas, no sentido de que seja lícito o exercício da sociedade. O que é
necessário para poder ser empresário com legitimidade, do ponto de vista jurídico? É necessário o
cumprimento de regras básicas, são os requisitos:
→ Capacidade jurídica ou civil – constitui-se no desenvolvimento mental através do implemento da
sociedade, para a maioria dos indivíduos é 18 anos. Conforme o art.972, do CC, os sujeito precisa estar
em pleno gozo da capacidade civil. É válido apenas para pessoas físicas, as quais não estar impedidas
(exemplo: servidores públicos).

Art. 972 do Código Civil: “Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo
da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”.

QUEM NÃO PODE SER EMPRESÁRIO:


1º) Servidor público - não pode ser empresário porque sua dedicação deve ser total ao
serviço público, sem distrações, de modo a bem desempenhar o cargo. Ademais, o poder que teria como
servidor público poderia ser usado para lhe beneficiar indevidamente (exemplo: como juiz, poderia julgar
o caso de seu concorrente no mercado). Exceção: O servidor público pode ser “empresário” como
acionista, cotista ou comanditário, sem exercer a gerência ou administração. Inciso X do art. 117 da Lei
no 8.112/90 (Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e
das fundações públicas federais). O empresário, nesses casos (acionista, cotista ou comanditário),
responde limitadamente pelas obrigações da sociedade. Isso ocorre para que ele não fique insolvente
(afetaria a “imagem” do Poder Público). Se a vedação fosse absoluta, poderia estimular até a fraude.
Para o professor, esse caso não é uma “exceção” porque o servidor não é empresário, é sócio investidor
em uma sociedade. O cotista, o acionista e o comanditário não são empresários, assim, respondem
limitadamente. Há impedimento do servidor exercer a gerência e a administração (eis que já exerce
outra atividade). Nas três categorias da ressalva, também não podem, como servidor administrar e
gerenciar. Na comandita, ninguém administra; contudo como acionistas e cotistas, embora possível o
gerenciamento, se servidor público há óbice. Art. 117 da Lei no 8.112/90 – “Ao servidor é proibido: X -
participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada,
exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;”.
2º) Magistrado e membro do Ministério Público - os magistrados estão impedidos pela
lei orgânica da magistratura nacional (Lei Complementar nº35/79). O dispositivo 36, inciso I, determina
que pode na mesma condição do servidor ser cotista ou acionista. O ministério público idem. Neste
caso, há regulamento, ainda, no art.128 §5º, inciso II, alínea c, CF, além do art.44, inciso III, da Lei
nº8.625/93. Já para magistrados não há previsão constitucional.
19

3º) Membros do Legislativo - Deputados Federais e Estaduais, Senadores e


Vereadores (art.54, inciso II, alínea a, e art.29, inciso IX, da CF).
4º) Falido - porém, isso não é perpétuo, conforme previsão na lei de falência. Atendem
ao art.974, in fine. São proibidos de exercer a empresa. Quebra no sentido econômico, com reflexo no
Direito, com o estabelecimento de um regulamento jurídico próprio (falencial). Art.102, da Lei nº11.132.
A sentença reconhece a falência sai do processo civil e entra na lei de falência (nesta está a vedação
ao exercício de empresa). A inabilitação não é perpétua, precisa para reabilitar-se a sentença de
extinção das obrigações. O art.158, inciso II, determina que se o falido entrar para falência com ativos,
a diferença que não foi paga, é perdida em juízo.
5º) Incapaz (menor, interdito) - Em tese, o incapaz não pode exercer a empresa (art. 974
do CC, pleno gozo da capacidade civil). Há um tempo atrás, a empresa era encerrada, sem discussão.
Entretanto, argumentava-se que a empresa gera emprego, realiza uma atividade importante para a
sociedade, é meio de subsistência de muita gente etc., e isso começou a ser levado em consideração
com o passar do tempo. Assim, em alguns casos há continuação da atividade da empresa, sempre por
meio de autorização judicial, com parecer do Ministério Público. Entretanto, se em algum momento se
entender que há ameaça ao patrimônio do incapaz, esta autorização poderá́ ser revogada, desde que
sem prejuízo do interesse de terceiros. O incapaz não pode constituir empresa, isso se refere à
continuidade (exemplo: sucessão hereditária).
6º) Estrangeiro - nos casos de exploração de energia e riquezas do solo e no de
empresas de comunicações, só podem ser empresários pessoas brasileiras, ou empresas brasileiras.
Art. 176 §1º da CF. Os estrangeiros não podem exercer certas atividades empresariais (campo
energético e campo das telecomunicações). Nesse caso, a vedação ocorre por interesse popular. São
as riquezas do país, são com elas que conseguimos variar entre a 7ª e 9ª economia do mundo, por isso
tal atenção redobrada por parte do legislador (art.222, da CF).

OBS.: Com relação aos membros do executivo não há previsão. A princípio poderiam, portanto, exercer
atividade empresarial, concomitante com o mandato. Há doutrina, que aponta a utilização, neste caso
do art.37, da CF, deve aplicar a vedação a todo e qualquer servidor público.

2.5 Afetação do Patrimônio


Toda pessoa jurídica ou física responderá pelas obrigações assumidas com todo o seu patrimônio.
Essa responsabilidade limitada não se refere a isso. Na hipótese do incapaz há uma exceção. O que
não pode praticar os atos da vida civil, não pode constituir empresa, exercer a atividade de uma
empresa. Porém, a atividade de empresa, muitas vezes, é o meio de subsistência do menor, da família.
São regras de direito comercial de 1850. Ex.: Pai morre e deixa negócio para os filhos menores
administrarem. Essa empresa deveria ser extinta em relação aos menores, em razão da regra em
relação aos menores e sua interpretação restritiva. Encerra a atividade. Isso também em relação aos
interditos.
Dessa forma, os menores ou familiares podem tentar mudar isso, pleitear tal mudança. De tanta
insistência, o judiciário passa a adotar outras medidas e passa a acreditar que o encerramento seria
meio muito nocivo. Permitindo, então a continuidade da empresa gerenciada por menos ou interditado,
desde que observadas algumas condições, como a conveniência de continuar o negócio, a capacidade
do menor de comandar a empresa, etc. No caso de empresa individual. E assim, diante dessas decisões,
o legislador, em 2012, regulou a matéria. Dizendo que os bens adquiridos pelos menores, antes de
assumirem a empresa não estão sujeitos à responsabilização patrimonial das obrigações assumidas.
Sempre os interesses do incapaz devem prevalecer.
O art.974, do CC, determina que recebe a empresa de forma hereditária.
Nos mesmos casos será nomeado gerente, quando o juiz achar conveniente. O representante legal
ainda assim poderá ser responsabilizado pelo patrimônio do menor. Os gerentes e prepostos
contratados responderiam teriam direito de regresso. E o incapaz responde pelas obrigações que
20

assumir. Assim como o representante legal que gerencia o patrimônio do menor irá responder (art.975).
No caso de eireli também se aplicará, mas com maior cuidado.
Cotas: a possibilidade do menor de continuar como cotista de uma sociedade empresarial deverá
respeitar duas condições: a) ele não poderá assumir o cargo de presidência da empresa, nem realizar
atos de gerência ou administração; e, b) o capital deve estar totalmente integralizado.
Na sociedade poderia o menor responder pelas obrigações à que seu patrimônio esteja vinculado?
Não, os sócios que responderiam pela parcela não integralizada. Busca o legislador proteger o incapaz
e manter o status quo. A regra está prevista Ministério Público art.974 §3º, do CC.
OBS.: No caso de eireli quando o menor ou incapaz recebe herança (art.980-A §6º, do CC).

3. REGISTRO DE EMPRESAS
3.1. Finalidades, estrutura e organização
O registro público é a menção de certos atos e fatos, lançada por um oficial público em livros próprios,
quer à vista de títulos que lhe são apresentados, quer mediante declarações escritas ou verbais das
partes interessadas. Tem a finalidade de conferir publicidade ao ato ou fato que é objeto do registro, ou
atua como simples meio de conservação de um documento.
O registro público é a forma antiga de preservação de informações consideradas vitais para a
sociedade (como o nascimento, registro de casamento, óbito, criação de pessoas jurídicas, entre
outros), que visa, ademais, dar-lhes publicidade necessária para a segurança das relações
interindividuais. Assim, a publicidade é forma de notificação pública: é a consequência necessária do
registro, mesmo quando seja facultativo, visando apenas a perpetuidade de um documento. Haverá
sempre a publicidade, desde que registrado o ato ou fato, mas os efeitos dela podem variar de
intensidade.
O exercício da atividade empresarial por parte da pessoa natural (empresário individual) ou de pessoa
jurídica (sociedade empresária) pressupõe registro correspondente, ou seja, é obrigatória a inscrição do
empresário no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 967, CC), feita em conformidade com a Lei
nº 8.93494, regulamentada pelo Decreto-Lei nº 1.80096, que reviu toda a matéria, dispondo sobre o
Registro Público de Empresas Mercantis. O art. 1.150, CC também regulamenta o assunto.
O registro de empresas, ou “Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins” é
indispensável para que os atos praticados por determinado empresário surtam efeitos. A finalidade do
registro é dar publicidade, eficácia, garantia, autenticidade e segurança aos fatos da vida civil da
empresa. O registro dá publicidade porque qualquer pessoa pode ter acesso e pode pedir certidões para
comprovar o exarado, bem como dá eficácia porque certos atos ou fatos somente produzirão os efeitos
jurídicos através do registro.
Alguns doutrinadores consideram que o Sistema de Registro das Empresas Mercantis é informado
pelos princípios da publicidade e da legalidade, ambos de ordem imperativa.
O princípio da publicidade orienta as consequências jurídicas decorrentes em relação a terceiros, do
arquivamento de um contrato ou do registro de uma firma individual, ou de sua ausência. Existindo o
registro, presume-se que o mesmo seja conhecido por todos. Não existindo, os atos e contratos sujeitos
a registro não produzirão efeitos jurídicos, relativamente a terceiros, daí falar-se em publicidade material
negativa.
Por sua vez, o princípio da legalidade proíbe o registro ou arquivamento de qualquer ato ou contrato
que não se ajuste com as prescrições legais, motivo pelo qual eles estão, antes do seu assentamento
ou arquivamento, subordinados ao exame periódico e prévio dos vogais da Junta Comercial, que podem
fazer as exigências necessárias para a sua adequação à lei, sob pena de ser negado o arquivamento,
ou o registro, conforme o caso.
É importante frisar que os atos praticados entre os particulares só vão produzir efeitos a partir do
momento do registro. Qualquer ato celebrado pelos particulares deve ser registrado (ex.: registro civil,
registro de imóveis, etc.) para que produza efeitos, mas o registro da empresa é um registro diferenciado
dos demais.
21

Embora, em 2002, a intensão do legislador fosse a unificação do direito privado (direito civil e direito
empresarial), através da teoria da empresa, quanto ao sistema de registro ele não conseguiu afastar
essa dicotomia. O sistema manteve-se dicotômico quanto ao registro.
Em 1875, quando extinguiram-se os Tribunais Comerciais do Império e unificou-se tudo no juízo
comum cível, surgiram as Juntas Comerciais. As Juntas Comerciais são o órgão executivo do direito de
empresa e foram criadas logo após a extinção dos Tribunas Comerciais.
Os registros civis têm a sua atividade exercida por um particular incumbido de encabeçar essa função
de registrar. Então, os registros civis são arraigados à pessoa natural que, através de concurso público,
é investida de poder, geralmente são municipais e encabeçados por um particular.
Já o registro de empresas ou “Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins” é
corporativo (herança das corporações de ofício), tendo inclusive órgãos colegiados. Até 1994,
chamava-se de registro de comércio. Não importa a envergadura da empresa, ou a natureza
empresarial, todos necessitam fazer o registro, sob pena de irregularidade e informalidade. A empresa
pode existir sem o registro, ele não é constitutivo, mas, apenas com a sua presença, ela será
regularizada e formalizada. O registro fornece qualificação jurídica e não caraterização jurídica.
Estes registros são efetuados através do SINREM – Sistema Nacional de Registro de Empresas
Mercantis, o qual é composto de dois órgãos: 1º) DREI – Departamento de Registro Empresarial e
Integração (antigo DNRC - Departamento Nacional de Registro de Comércio); e 2º) Juntas Comerciais.
1º) O DREI é o principal órgão do SINREM. Localiza-se em Brasília e tem funcionalidades técnicas,
como: orientar, supervisionar, coordenar e normatizar. É um órgão de natureza federal. Antes de 2013,
o DNRC era vinculado ao comércio pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
mas atualmente, o DREI é vinculado à Secretaria de Micro e Pequena Empresa, a qual possui um
vínculo com a Presidência da República. Então, cumpre ao DREI as mesmas funções do antigo DNRC.
As funções do DREI são eminentemente técnicas, quais sejam organizar, coordenar, supervisionar
e fiscalizar os sistemas de registro. Este órgão não faz registros, ele apenas os supervisiona. Além
disso, o DREI deve normatizar, expandir decisões normativas, indicando às Juntas Comerciais como
devem proceder.
2º) As Juntas Comercias têm circunscrição estadual, ou seja, cada Estado estrutura e mantém a
sua. Suas funções são administrar e executar. As Juntas Comerciais executam e realizam o registro sob
a fiscalização e coordenação do DREI. São órgãos administrativos, com a competência de executar e
administrar, elas também têm seus órgãos para que funcione. A Junta Comercial é uma entidade
vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, subordinada
administrativamente ao Governo do Estado e tecnicamente ao Departamento de Registro Empresarial
e Integração - DREI, que é um órgão integrante da Secretaria da Micro e Pequena Empresa.
# Esses dois órgãos comprovam o hibridismo do SINREM, o qual possui um órgão federal e um
estadual. Órgão federal com ingerência técnica de órgãos estaduais. O hibridismo visa garantir uma
harmonia de identidade em todo o território nacional dos Registros empresariais.

Departamento de Registro Empresarial e Integração -


DREI: organizar, orientar, supervisionar, coordenar e
Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis normatizar os registros de empresas.
SINREM
Juntas Comerciais: executar e administrar.

A Junta Comercial pode efetuar os seguintes registros: Empresário (antiga Firma Individual),
Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), Sociedades Empresárias (Limitada,
Anônima, Cooperativas, Consórcios, Grupos e Filiais de Sociedade Estrangeira e Empresa Pública).
Elas devem ser localizadas na capital do Estado, mas, modernamente, a legislação vem admitindo
uma desburocratização e uma descentralização através da criação de Delegacias ou Escritórios
Regionais. As Delegacias têm competência registral para atos mais simples e podem ser criadas no
interior se isso for autorizado pelo Plenário, já os Escritórios Regionais servem como uma espécie de
22

“balcão” da Junta Comercial no interior, não têm competência decisória, apenas discutem a competência
de registros.
As Juntas Comerciais são compostas por cinco órgãos: a) Presidência; b) Plenário; c) Turmas; d)
Secretaria Geral; e) Procuradoria.

a) Presidência – é o órgão de representação da Junta Comercial. Os integrantes da Presidência serão


nomeados pelo Governador do Estado. O presidente e o vice-presidente serão nomeados, em
comissão, no Distrito Federal, pelo Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo e,
nos Estados, pelos governadores dessas circunscrições, dentre os membros do colégio de vogais.
b) Plenário – é o órgão deliberativo superior, é o “segundo grau”. Será composto de vogais e
respectivos suplentes, sendo constituído pelo mínimo de onze e no máximo de vinte e três vogais.
Os vogais são os sujeitos que atuam no Plenário. Os vogais receberão remuneração por presença,
de acordo com a legislação do Estado a que pertencer a Junta Comercial.
c) Turmas – são o órgão deliberativo inferior, são o “primeiro grau”. Geralmente, quem atua nas Turmas
são advogados nomeados, mas não só advogados. Os sujeitos são indicados por entidades de
classe (advogados – OAB, economistas – CORECON, contadores – CRC, administradores – CRA)
e recebem por GETOM (a remuneração é por atuação).
d) Secretaria-Geral – o secretário-geral será nomeado, em comissão, no Distrito Federal, pelo Ministro
de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo, e, nos Estados, pelos respectivos governadores,
dentre brasileiros de notória idoneidade moral e com especialização em direito comercial. A
secretaria-geral executará os serviços de registro e de administração da junta, é um órgão
burocrático.
e) Procuradoria – é o órgão de fiscalização e consultoria jurídica. As procuradorias serão compostas
de um ou mais procuradores e chefiadas pelo procurador que for designado pelo governador do
Estado. A procuradoria tem como função a fiscalização e a promoção do fiel cumprimento das
normas legais e executivas, oficiando, internamente, por sua iniciativa ou mediante solicitação da
presidência, do plenário e das turmas. Além disto, atuará externamente, em atos ou feitos de
natureza jurídica, inclusive os judiciais, que envolvam matéria do interesse da junta.
A Lei nº 8.934/94 e o Decreto-Lei nº 1.800/96 são os diplomas básicos que dispõe sobre o registro
de empresas.
Conforme dispunha o art. 3º da Lei nº 8.934/94, os serviços do Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins eram exercidos, em todo o território nacional, de maneira uniforme,
harmônica e interdependente, pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREM),
que era composto pelos seguintes órgãos: I- o Departamento Nacional de Registro do Comércio
(DNRC), que constituía o órgão central SINREM, e possuía as funções supervisora, orientadora,
coordenadora e normativa, no plano técnico; e supletiva, no plano administrativo; II- as Juntas
Comerciais, como órgãos locais, com funções executora e administradora dos serviços de registro.
Com a esdrúxula extinção do DNRC, toda sua competência passou a ser do Departamento de
Registro Empresarial e Integração - DREI, que passou a ser o órgão central do Sistema Nacional de
Registro de Empresas Mercantis - SINREM.
Como as Juntas Comerciais são estaduais, havia várias situações em que suas decisões e
entendimentos que se contrapunham, eram opostos. No entanto, com a criação do DREI, não
estabeleceram-se mais essas contradições entre as Juntas Comerciais. Isso porque o DREI é um órgão
central que atua de modo a unificar os entendimentos das Juntas Comerciais.
Por outras palavras, as funções relativas ao registro dos atos dos microempreendedores individuais
e das sociedades empresárias, incluídas, obviamente, as sociedades anônimas, assim como o
julgamento dos recursos contra as decisões dos Plenários das Juntas Comerciais, passaram, por
decreto, atente-se bem, a ser desempenhadas por uma Secretaria cujo nome evidencia que ela está
destinada, primordialmente, a cuidar das questões atinentes às micros e pequenas empresas.
As funções do DREI são as mesmas funções do DNRC, fiscalizar e coordenar as Juntas Comerciais,
mas agora temos essa sinédoque, ou seja, uma secretaria voltada para as pequenas empresas que
23

abrangem a sociedade anônima. “Sinédoque” é uma figura de linguagem utilizada quando algo menor
abarca algo maior, é algo que não tem muita lógica.
Então, em síntese, o registro público de empresas é exercido por órgãos federais e estaduais em
todo o território nacional, de maneira sistêmica. O registro público tem por finalidade dar garantia,
publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos
a registro; cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter
atualizadas as informações pertinentes; proceder às matrículas dos agentes auxiliares do comércio, bem
como ao seu cancelamento.
A competência do DREI, conforme a Legislação Básica - Decreto nº 180096, regulamentado pela
Lei nº 8.934/94, é de baixar as Instruções Normativas, e, segundo o art. 55, também compete ao DREI
propor a elaboração da Tabela de Preços dos Serviços pertinentes ao Registro Público de Empresas
Mercantis, na parte relativa aos atos de natureza federal, bem como especificar os atos a serem
observados pelas Juntas Comerciais na elaboração de suas tabelas locais.
As atribuições do DREI estão descritas no artigo 4º da Lei 8.934/94, que tem por finalidade, por
exemplo: a) supervisionar e coordenar, no plano técnico, os órgãos incumbidos da execução dos
serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins; b) estabelecer e consolidar,
com exclusividade, as normas e diretivas gerais do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins; c) organizar e manter atualizado o cadastro nacional das empresas mercantis em funcionamento
no país, com a cooperação das Juntas Comerciais.
As Juntas Comerciais, a seu turno, estão subordinadas tecnicamente ao DREI e essa vinculação tem
como principal atribuição a responsabilidade de efetuar os registros pertinentes ao Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins. É na Junta Comercial, por exemplo, que deve o empresário
individual fazer a sua inscrição, bem como a sociedade empresária arquivar seu contrato social; além
disso, também é na Junta Comercial que se registram alterações na pessoa jurídica, como endereço,
capital social, objeto social, troca de sócios (quando sociedade empresária). Pode-se também alterar a
natureza jurídica da empresa, seja de empresário (antiga firma individual) para sociedade limitada como
vice-versa. Suas principais funções são executivas e administrativas, conforme a Lei 8.93494, que
dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.

3.2. Atos registrais


Todos os registros públicos têm a função de registrar atos e fatos juridicamente relevantes, sobre os
quais busca-se dar publicidade, eficácia, garantia, autenticidade e segurança. Deve-se salientar que o
registro é o gênero, do qual o registro de empresas é espécie.
A Lei nº 6.01573 trata dos registros públicos na esfera civil e estabelece três formas de escrituração:
a) Inscrição – como a inscrição de um ônus real, hipoteca, penhor; b) Transcrição – possibilita a
transferência da propriedade imobiliária; c) Averbação – qualquer outra alteração na matrícula do
imóvel se dá por averbação.
No direito empresarial, por analogia ao direito civil – conforme estabelece a Lei nº 8.93494 e o
Decreto-Lei nº 1.800/96– também existem diversas espécies de atos registrais: a) Matrícula; b)
Arquivamento; c) Autenticação; d) Assentamento; d) Anotação.
O legislador adota uma espécie de técnica para que se estabeleçam esses registros de empresa, e
elenca uma série de atos e fatos que devem ser registrados. Entretanto, esse rol não é taxativo, não
são “numerus clausus”.
O art. 967 do Código Civil determina que o registro do empresário é obrigatório antes do início da
atividade perante a Junta Comercial, sendo que, posteriormente, qualquer alteração que lhe sob revier
deve também ser averbada junto ao assentamento da empresa.
De acordo com o que preceitua a legislação vigente, os atos do registro vinculados ao Registro
Público de Empresas Mercantis ficam a cargo das Juntas Comerciais, que são de âmbito estadual. No
caso das Sociedades Simples, o registro é feito no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
Conforme dispõem o art. 32, da Lei nº 8.93494 e o art. 87, do Decreto-Lei n e o art. 87, do Decreto-
Lei nº 1.800/96 – O registro compreende: I- a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores
24

públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais; II- O


arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas
mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas; b) dos atos relativos a consórcio e grupo
de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; c) dos atos concernentes a
empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; d) das declarações de
microempresa; e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro
Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e
às empresas mercantis; III - a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas
mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria.
O assentamento de usos ou práticas mercantis é efetuado pela Junta Comercial. Os usos ou
práticas mercantis devem ser devidamente coligidos e assentados em livro próprio, pela Junta
Comercial, ex officio, por provocação da Procuradoria ou de entidade de classe interessada.
Então, os atos registrais se verificam em cinco espécies: a matrícula, o arquivamento, a autenticação,
o assentamento e a anotação, sendo que esta não é mais modernamente utilizada.

a) Matrícula – é utilizada pelos gerentes auxiliares da empresa, que são os comerciantes especiais. É
utilizada por sujeitos que desempenham ofícios tão específicos que têm um regulamento próprio.
Ex.: leiloeiros, corretores de mercadoria, corretores de navio, corretores de câmbio, corretores de
valores (de seguro), diretores de armazéns gerais, tradutores e intérpretes públicos, trapicheiros,
etc. Normalmente são autônomos. Os corretores de imóveis não se inserem nessa categoria, porque
o direito imobiliário é regulado pelo direito civil.
b) Arquivamento – é o ato registral mais importante. O arquivamento constitui o registro dos atos de
alteração, constituição e desconstituição de sociedades empresárias. Conforme o art. 967, do
Código Civil, Art. 967, é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Quando o artigo diz “inscrição”
devemos entender “arquivamento”, porque quando ele foi elaborado ainda não existia a lei que prevê
e regulamenta os registros empresariais.
c) Autenticação – é um ato típico do registro de empresas, faz referência aos livros empresariais, que
devem ser autenticados pela Junta Comercial para que adquiram fé-pública.
d) Assentamento – é escriturar os usos e costumes mercantis, não é muito comum. Ele advém da
força das corporações de ofício. Hoje não tem o mesmo rigor que havia antes.

3.3. Processo decisório


As decisões competem ao Plenário e às Turmas. Existem dois regimes de julgamento dos atos
registrais, a decisão colegiada e a decisão singular (monocrática). A decisão singular é proferida e regida
por um sujeito integrante da junta comercial. As decisões colegiadas são proferidas pelos órgãos
colegiados (plenário e turmas). O plenário é o órgão deliberativo superior e as turmas são o órgão
deliberativo inferior.
O que determina a competência é a complexidade, as decisões mais simples serão singulares e as
mais complexas serão colegiadas. As decisões colegiadas são discriminadas em rol taxativo, já as
demais nem são citadas e, portanto, são de competência singular (critério da exclusão).
O Plenário tem por objeto eminentemente julgar os recursos. Qualquer decisão da Junta Comercial
que não agrade ao empresário ou indefira o registro, se recorrida, será de competência do plenário.
As decisões das turmas têm a mesma natureza das decisões singulares, mas de modo coletivo. Tudo
o que for referente à sociedade anônima ou à cessão, transformação, fusão e incorporação societária
(de qualquer sociedade), à constituição de consórcios e grupos de sociedades são de competência
das Turmas.
O empresário tem o prazo de 30 dias para levar à registro os atos a que está obrigado, sob pena de
cair na informalidade. Esse prazo começa a fluir da data do ato ou do fato que gerou a necessidade de
registro. Nada impede que o empresário registre depois do prazo, entretanto, se ele obedecer o prazo,
os efeitos do registro retroagem à data do fato que o originou (efeitos ex tunc). Caso o empresário efetue
25

o registro fora do prazo, os efeitos advindos do registro não retroagem à data do fato, são ex nunc,
conforme o art. 36, da Lei nº8.934: “Os documentos referidos no inciso II do art. 32 deverão ser
apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data
retroagirão os efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o arquivamento só terá eficácia a partir do
despacho que o conceder”.
Então, os pedidos de arquivamento elencados na lei, constituem decisão colegiada e, serão decididos
no prazo máximo de 05 dias úteis, contados do seu recebimento; já os atos próprios do registro público
de empresas mercantis e atividades afins, não elencados em lei, constituem decisões singulares, serão
decididos no prazo máximo de 02 dias úteis, sob pena de ter-se como arquivados os atos respectivos,
mediante provocação dos interessados, sem prejuízo do exame das formalidades legais pela
procuradoria. A lei prevê recurso por decurso de prazo. Não gera direito adquirido, depende da análise
da procuradoria (pode, ainda assim, permanecer indeferido o registro).
O processo decisório quanto ao registro de empresas nas juntas comerciais pode ser: singular, em
decisões menos complexas, sendo deferido em 03 dias úteis por um servidor ou vogal; ou colegiado,
em decisões mais complexas, sendo deferido em 10 dias úteis pelas Turmas ou pelo Plenário (nos
casos de julgamentos de recursos ou assentamentos).

3.4. Processo revisional


Todos os recursos deverão ser interpostos no prazo de 10 (dez) dias úteis, cuja fluência começa na
data da intimação da parte ou da publicação do ato no órgão oficial de publicidade da junta comercial.
A procuradoria e as partes interessadas, quando for o caso, serão intimadas para, no mesmo prazo de
10 (dez) dias, oferecerem contrarrazões. Existem três remédios recursais: a) o pedido de
reconsideração; b) o recurso ao plenário; c) o recurso ao DREI. Dessa forma, respeita-se o princípio da
ampla defesa e do contraditório, antes mesmo do usuário recorrer à via judicial.

a) Pedido de Reconsideração – sempre será referente às decisões não definitivas, portanto, ele é
interposto perante a mesma autoridade que proferiu a decisão recorrida. Deve-se colocar o processo
em exigência, ou seja, condicionar a decisão à certas formalidades, a decisão não é definitiva,
impõe-se apenas uma condição. Então, ou a parte se conforma e cumpre a exigência ou interpõe
pedido de reconsideração e resolve ali dentro da mesma instância. O Pedido de Reconsideração
terá por objeto obter a revisão de despachos singulares ou de Turmas que formulem exigências para
o deferimento do arquivamento e será apresentado no prazo para cumprimento da exigência para
apreciação pela autoridade recorrida em 03 dias úteis ou 05 dias úteis, respectivamente. Então, o
pedido de reconsideração tem por objeto a revisão dos despachos singulares ou colegiados, de
exigência para o documento apresentado a registro. com o provimento do recurso, o processo objeto
do Pedido de Reconsideração será́ deferido e o não provimento implica na manutenção da exigência
exarada. O Pedido de Reconsideração interrompe o prazo para o cumprimento de exigências
formuladas, recomeçando a contagem a partir do primeiro dia útil subsequente à data da ciência
pelo interessado ou da publicação do despacho da decisão que mantiver, no todo ou em parte, a
exigência objeto do Pedido de Reconsideração. O Pedido de Reconsideração pode ser protocolizado
uma única vez. Em caso de não provimento, o interessado poderá interpor Recurso ao Plenário,
dentro do prazo de 10 dias úteis a contar da ciência da decisão do Pedido de Reconsideração.

b) Recurso ao Plenário – é o remédio interposto para as decisões definitivas, singulares ou colegiadas


de turma. Das decisões definitivas, singulares ou de turmas, cabe recurso ao plenário, que deverá
ser decidido no prazo máximo de 30 dias, a contar da data do recebimento da peça recursal, ouvida
a procuradoria, no prazo de 10 dias, quando a mesma não for a recorrente. Então, o recurso ao
Plenário é um recurso administrativo interposto pela parte interessada em face de decisões
definitivas, singulares ou de Turmas de Vogais, proferidas inclusive em pedido de reconsideração
para revisão destas decisões pelo Plenário da Junta Comercial. O Recurso ao Plenário também
pode ser utilizado nos casos de colidência de nomes comerciais, nos casos em que a Interessada
26

deseje cancelar os registros da sociedade constituída com nome comercial colidente ao de sua
empresa

c) Recurso ao DREI – é cabível recurso ao DREI em caso de pleitear-se correção das decisões do
Plenário. Então, das decisões do plenário cabe recurso ao Ministro de Estado da Indústria, do
Comércio e do Turismo, como última instância administrativa. Isso tudo sem prejuízo de que se lance
mão do Poder Judiciário. Esse tipo de processo revisional deve ser utilizado quando a decisão do
Plenário manteve ou reformou decisão singular ou de Turma em pedidos de registro, bem como que
deliberou pela destituição de leiloeiro público.

3.5. Exercício da empresa sem registro


O dever de registro é a grande primeira obrigação imposta aos empresários, tendo ele o prazo de 30
dias para levar à registro, de modo a possibilitar que seus efeitos retroajam. O empresário que não
cumpre com essa obrigação sofre consequências que se referem à perda de outros direitos,
prerrogativas, vantagens, privilégios que os empresários regulares podem desfrutar. Então, apesar de
essa omissão não configurar crime, ela traz consequências danosas ao empresário. É importante
salientar que somente o próprio empresário pode requerer o seu registro.
Em regra, quando o empresário é autuado e recebe pena de multa não é porque ele não tem registro,
mas sim porque ele cometeu outras irregularidades.
O empresário sem registro não pode receber o benefício do instituto da recuperação judicial. Na
Lei nº 11.10105 (lei de falência) a recuperação judicial substituiu a antiga concordata, que seve para
salvar o empresário da falência. O art. 48 da Lei nº 11.10105 estabelece requisitos para que se dê a
recuperação judicial (o caput do artigo prevê o pressuposto e os incisos preveem os requisitos). O
pressuposto para que se conceda o benefício da recuperação judicial é o exercício da empresa por dois
anos. Então, poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 02 anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente: I– não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II– não ter, há menos de 05 anos, obtido concessão de
recuperação judicial; III- não ter, há menos de 05 anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV– não ter sido condenado ou não ter,
como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta
Lei. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não
vencidos.
O empresário sem registro não pode requerer a falência do seu devedor. Conforme o art. 97, da
Lei nº 11.101, podem requerer a falência do devedor: I– o próprio devedor; II– o cônjuge sobrevivente,
qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III– o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei
ou do ato constitutivo da sociedade; IV– qualquer credor. Mas para isso, o credor empresário deverá
apresentar certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas
atividades. Ainda, os credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para
o pedido de falência com base no art. 94, da Lei nº 11.101 que determina que será decretada a falência
do devedor que sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40
(quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência. Essa possibilidade só é possível em uma
relação entre dois empresários. Então, o devedor deve ser empresário para que o credor possa requerer
a sua falência, assim como, o credor só terá legitimidade ativa, para fazer tal requerimento, se ele tiver
registro. A falência é uma execução coletiva, então há um concurso de credores. Então, o empresário
sem registro até pode vir a se habilitar no processo de falência, porque possui crédito, mas não tem
legitimidade ativa para requerer que se inicie o processo. No entanto, é indispensável a existência de
um título executivo, apesar de a ação ser coletiva. Deve-se recordar que o título extrajudicial já nasce
líquido (em regra), mas o título judicial deve ser liquidado.
27

O empresário sem registro perde a eficácia probatória dos seus livros empresariais. Ninguém
tem o direito de constituir a própria prova a seu favor. Caso os livros se apresentem em condições legais
de escrituração podem constituir prova à favor do empresário (exceção). A autenticação é o crivo que a
Junta Comercial dá aos livros comerciais, é como se o que está contido nos livros fosse uma certidão
expedida pelo próprio ente público. É evidente que os livros empresariais só contarão com eficácia
probatória nos litígios entre empresários, caso contrário essa prerrogativa irá ferir o princípio da
igualdade, porque o sujeito que não é empresário não possui livros. O empresário sem registro não tem
os seus livros certificados pela Junta Comercial, motivo pelo qual seus livros não possuem eficácia
probatória. Conforme o art. 418, do Código de Processo Civil, os livros empresariais que preencham os
requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários.
O empresário sem registro, que não tenha seus livros com as formalidades impostas pela Junta
Comercial, e tiver sua falência decretada, incorrem em crime falimentar. Conforme o art.178, da Lei nº
11.101, deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência,
conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de
escrituração contábil obrigatórios: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não
constitui crime mais grave.
O empresário sem registro perde a proteção jurídica ao seu nome empresarial, ou seja, não tem
o direito de exclusividade no uso do nome. Conforme o art. 33, da Lei nº 8.934, A proteção ao nome
empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de
sociedades, ou de suas alterações.
O empresário sem registro não pode participar, competir, disputar licitações públicas. Conforme o
art. 28, da Lei nº 8.66693, para que seja possível a participação em licitações públicas é indispensável
a documentação relativa à habilitação jurídica, conforme o caso, consistirá em: I- cédula de identidade;
II- registro comercial, no caso de empresa individual; III- ato constitutivo, estatuto ou contrato social
em vigor, devidamente registrado, em se tratando de sociedades comerciais, e, no caso de
sociedades por ações, acompanhado de documentos de eleição de seus administradores; IV- inscrição
do ato constitutivo, no caso de sociedades civis, acompanhada de prova de diretoria em exercício; V-
decreto de autorização, em se tratando de empresa ou sociedade estrangeira em funcionamento no
País, e ato de registro ou autorização para funcionamento expedido pelo órgão competente, quando a
atividade assim o exigir.
O empresário sem registro não pode abrir os cadastros fiscais e previdenciários, os quais ele está
obrigado a fazer. Assim, tem-se configurado o crime de sonegação e inadimplência tributária e social
(lei do colarinho branco). O crime não é a falta de registro na Junta Comercial, mas sim pela sonegação
e inadimplência.
O empresário sem registro não tem a segurança de deixar ser patrimônio pessoal salvaguardado e
estabelece-se a responsabilidade solidária. Há a responsabilidade da pessoa física mesmo em casos
de eireli e sociedade. É uma consequência que só atinge as pessoas jurídicas.

4. LIVROS EMPRESARIAIS
4.1. Noções gerais
Os livros empresariais são outra obrigação comum imposta aos empresários. Os empresários têm o
dever de registro de atos ou fatos juridicamente relevantes na atividade de empresa. O art. 1.179 do CC
impõe a todos os empresários manter uma forma uniforme de estruturação e contabilidades. É uma
forma de fiscalizar o empresário para ver se ele, de fato, cumpre com seus deveres. Entretanto, também
os próprios empresários têm interesse nesse registro, para organização das informações, ter controle
de mercadorias, estoques etc. Assim, mesmo que o legislador não exigisse o registro, ainda assim seria
utilizado por grande parte dos empresários. Em razão da sua relevância, os livros empresariais são
equiparados, pela legislação, aos documentos públicos. Caso o empresário não escriture os livros
obrigatórios, sofrerá sanções.
28

Exemplos: Caso seus livros obrigatórios não estejam escriturados, o empresário não poderá́ valer-se
da eficácia probatória dos livros, na esfera civil, e, portanto, presumir-se-ão verdadeiros os fatos
relatados pelo requerente acerca dos quais fariam prova os livros em questão. Na esfera penal, a
ausência de escrituração dos livros obrigatórios constitui crime falimentar.
Apenas os microempresários e os empresários de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional
são dispensados de escriturar livros obrigatórios.
Além da obrigatoriedade, os livros empresariais, com suas escriturações, cumprem outras funções,
como: gerencial, documental e fiscal.

a) Gerencial: Questão do empresário manter o registro por necessidade própria, para melhor
administrar a atividade empresarial. Os livros empresariais são produto da invenção dos próprios
comerciantes, os quais julgaram, como única forma de exercer corretamente o exercício empresarial, se
utilizar do devido registro. Isso porque a mente não tem capacidade de guardar todas as informações.
Sendo assim, o registro se faz essencial à gerência. Desde os primórdios, os comerciantes já faziam
anotações, registros e lançamentos.

b) Documental: Os livros cumprem também um papel de comprovação, têm função de comprovar


formalmente as próprias informações ali constantes. A função documental é mais jurídica do que
gerencial. Os livros tornam o conteúdo de alguns papéis em documentos, em razão da importância das
anotações. Seja nos conflitos sociais, seja nas jurisdições contenciosas, as anotações dos livros servirão
de substrato, eis que figuram como prova documental.

c) Fiscal: Fiscalização feita pela lei. O exercício a função empresarial gera uma série de obrigações
tributárias. A maneira mais fácil de se fiscalizar se as obrigações estão sendo cumpridas é a observância
dos livros empresariais. Presume-se que aqueles que não registram da maneira devida não cumprem
com suas obrigações.

# Quando o empresário busca tomar um empréstimo volumoso, muitas vezes a instituição financeira
torna condição a apresentação das escriturações. Isso com o intuito de analisar se tal empresa possui
condições para tal financiamento. Demonstra que ele não está falido, nem pretende apenas dar um
golpe. Deve estar hábil economicamente, pode ser considerado tanto financeiramente, quanto
patrimonialmente.

4.2. Espécies
Os livros empresariais dividem-se em livros obrigatórios (ou necessários) e livros facultativos (ou
auxiliares).
I- Livros obrigatórios - Também chamados de livros necessários. São aqueles em que a escrituração é
imposta por lei, e sua ausência traz consequências, inclusive no campo penal. Serão objeto de
fiscalização.
a) Livros Comuns: É imposta indistintamente a todos os empresários, independente do tamanho da
empresa, da natureza da atividade, etc. Hoje, existe apenas um livro obrigatório comum, que é o livro
diário, o qual deve conter todas as alterações que modifiquem ou possam vir a modificar a situação
patrimonial do empresário. Por serem feitas em ordem cronológica, chama-se “diário”. Cumpre com a
função fiscal. Conforme o art. 1.180, do Código Civil, além dos demais livros exigidos por lei, é
indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou
eletrônica. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço
patrimonial e do de resultado econômico. Então, independentemente da existência de fichas, de
29

qualquer forma se terá́ um diário, ele não será́ substituído. A obrigação é do empresário, mas,
normalmente, quem faz é o contador.
b) Livros Especiais: Também são obrigatórios, mas apenas para algumas categorias de empresários.
Somente serão obrigatórios para os empresários que se enquadrarem em determinadas circunstâncias.
Exemplo: As sociedades anônimas (SA), em razão da sua natureza, precisam manter livros que
demais tipos empresariais não precisam, como as atas e assembleias gerais de transferência dos
beneficiários, além de outros que se encontram dispostos no art. 100 da Lei no 6.404/76. A eireli e as
sociedades limitadas não precisam. Tal situação ocorre com demais empresários, os quais também
possuem obrigatoriedades específicas, como os leiloeiros, etc. Outro exemplo de livro obrigatório
especial é o livro de registro de duplicatas, este livro será obrigatório para todos os empresários que
emitirem duplicatas (não tem a ver com a natureza jurídica). A duplicata é um título de crédito muito
funcional, especialmente no ramo das indústrias. Quem opta pelo sistema de vendas por meio de
duplicatas deve, então, manter o registro de duplicatas, não sendo, logicamente obrigatório por quem
não tem tal título de crédito. Por isso, é classificado como uma espécie de livro obrigatório especial, nos
termos do art. 19 da Lei no 5.474/68.
II- Livros facultativos - Também chamados de livros auxiliares. São os livros que o empresário escritura
para um melhor controle sobre os seus negócios (possuem função gerencial), sua ausência não importa
em nenhuma sanção. Estes livros apenas auxiliam no exercício da função empresarial. Dependerá da
organização e necessidades do empresário. Exemplos:
a) Livro Razão: É uma espécie de resumo do diário, um índice, para consultas mais rápidas e
dinâmicas. Leitura mais fácil, menos técnica. Tem uma escrituração mais enxuta.
b) Livro Caixa: Registra toda entrada e saída de dinheiro em um estabelecimento.
c) Livro Estoque: Registra a entrada e saída de mercadorias em um estabelecimento. Evita o desvio
das mercadorias sem que seja percebido pelo empresário. Ademais, organiza os pedidos que devem
ser feitos, com o intuito de evitar que primeiro falte na prateleira, para somente depois ser realizada a
encomenda.
d) Livro Borrador ou memorial: Onde o empresário lança informações num primeiro momento para
não esquecer, de modo resumido e simples, e apenas depois organiza e formaliza (“passa a limpo”),
momento em que serão enviadas para outros livros. Embora o contador faça os cálculos, ele depende
de informações fornecidas pelo empresário. Tal lançamento pode ser semanal e, em caso de empresas
muito grandes, até diário.
e) Livro Contas-Correntes: Havendo um número muito grande de clientes, o empresário pode abrir
uma conta para cada um. O empresário mantém uma conta individualizada para cada cliente do seu
estabelecimento, para saber o histórico desse sujeito. Exemplo: Cliente quer crédito, e através desse
histórico se descobre se ele é merecedor, se é “bom pagador”. É uma forma de o empresário conhecer
melhor os seus clientes de uma maneira geral.
f) Livro Obrigações a pagar e receber: Espécie de agenda para controlar as obrigações do empresário,
de modo que não haja inadimplemento. Ajuda o empresário a se organizar melhor e evita que, por
esquecimento, tenha restrição de crédito, bem como evita a cobrança a um cliente que já pagou
(situação que pode ter como consequência o ajuizamento de um processo por dano moral.

4.3. Formalidades Jurídicas


Os livros não serão feitos da maneira que o empresário entender melhor. Eles devem ser
padronizados, formalizados, até mesmo para que possa ser lido por todos, para que seja possível
localizar certo itens sempre da mesma forma. Podem ser de dois tipos: formalidades extrínsecas e
formalidades intrínsecas.
30

a) Formalidades Extrínsecas: Referem-se ao aspecto externo do livro, seu exterior, sua apresentação
física. Os livros devem ser encadernados; ter folhas numeradas tipográfica ou mecanicamente; conter
os termos de abertura e encerramento; e, por fim, ser autenticados pela junta comercial. Os livros devem
ser encaixotados, contendo todas as informações e sendo devidamente encerrados. Tais devem ser
armazenados por pelo menos 05 anos. A autenticação pela Junta Comercial se faz necessária para
tornar o livro devidamente válido. Essas formalidades guardam relação com a segurança dos livros. A
prática é tão formal que, muitas vezes, os empresários levam os livros à Junta Comercial apenas com
o termo de abertura e após vão escriturando. Então, as formalidades extrínsecas se remetem ao aspecto
exógeno dos livros, se configuram em: Encadernação dos Livros; Folhas Numeradas tipográfica ou
mecanicamente; Existência de termos de abertura e encerramento; Autenticação do livro na Junta
Comercial.
b) Formalidades Intrínsecas: Referem-se ao seu interior, seu conteúdo, a escrituração propriamente
dita. Devem ser encadernados em forma contábil, com individuação e clareza (discriminação de quem
é a outra parte, mercadorias, etc.), em ordem cronológica, em moeda e idioma nacional. Então, a
escrituração deve ser feita em modo contábil (especialistas em contabilidade, os contadores) e
mercantil, ou seja, não são feitos em linguagem leiga; idioma e moedas nacionais; ordem cronológica
(dia, mês e ano); não pode conter rasuras/bordaduras/raspaduras/emendas/espaços em branco/ser
escrito nas entrelinhas/transbordes para as margens. As formalidades intrínsecas se remetem à técnica
apropriada à elaboração dos livros, se configuram em: Escrituração completa, com individuação e
clareza; Aplicação da forma Contábil; Em ordem cronológica de dia, mês e ano; Em idioma e moeda
Nacional; Sem intervalos, entrelinhas, rasuras, emendas, anotação às margens e etc; Realização por
profissionais contadores.

4.4. Exibição judicial e extrajudicial (ou eficácia probatória dos livros comerciais)
Tanto no campo judicial quanto no extrajudicial, os livros comerciais gozam da proteção do princípio
do sigilo. Assim, o empresário não é obrigado a mostrar seus livros empresariais para qualquer pessoa,
apenas quando determinado por lei, até mesmo porque o “segredo” do seu negócio está nesses livros.
Ademais, de acordo com o princípio da indivisibilidade, os livros devem ser utilizados, como meio de
prova, como um todo. Não se pode pegar apenas uma parte isolada, fora de contexto, para prejudicar o
empresário, por exemplo. A lei exige que a escrituração seja assinada por profissional da contabilidade
(devidamente registrado). Só́ se dispensa o empresário de contratar contador nas localidades onde não
existe esse profissional, o que é raríssimo de ocorrer na prática (art. 1.182, do Código Civil).

a) Judicial – contábil e fiscal. Os livros escriturados são meios de prova que podem ser usados a
favor ou contra o empresário. O empresário tem o direito de segredo em relação aos seus livros, tal
direito hoje é mitigado em detrimento do interesse público (art.195, CTN, art. 22, da Lei nº 11.101/05 –
Lei de Falência). O direito do segredo também se aplica na exibição extrajudicial. Em 1850, este direito
era absoluto. A hipótese de exibição total ocorre atualmente em caso de liquidação de socieda de, em
caso de morte de sócio e, também, quando e como a lei determinar. Visando a proteção do direito do
segredo também há regulação dos casos de exibição parcial (somente à parte que interessa o litígio). O
art. 420, do Código de Processo Civil prevê a exibição total e o art. 421, do Código de Processo Civil
prevê a exibição parcial. De acordo com o princípio da indivisibilidade do livro não pode haver
aproveitamento apenas da parte que favoreça ou prejudique o empresário, deve haver uma análise do
contexto (art. 419, Código de Processo Civil). O empresário não pode se servir das informações
unilaterais para provar em seu favor. Os livros empresariais somente possuem eficácia probatória nos
litígios que se estabelecem entre empresários e, desde que, estejam de acordo com as formalidades
legais, tais condições obrigatoriamente estão vinculadas. Ambos empresários devem escriturar, se um
não fizer não terá privilégio. O empresário pode até utilizar os livros em outros litígios, contudo a
valoração não será a mesma. O Juiz irá valorar como prova unilateral (há certa desconfiança),
diversamente do que ocorre no litígio entre empresários.
31

OBS.: Os livros costumam ser escriturados por contadores, mas isso não permite que o empresário
alegue não ter conhecimento das escriturações em seu desfavor, tentando responsabilizar somente o
contador. Isso pois, sempre o empresário será responsável pelas escriturações realizadas.

b) Extrajudicial – as escriturações estão sujeitas à fiscalização tributária ou fiscal da autoridade


pública. Contudo a fiscalização deve limitar-se ao conteúdo de seu interesse. Restringe a atuação da
autoridade pública (súmulas 439, 260 e 390, do STF). Se eventualmente não houver contador na
localidade, o empresário fica dispensado de manter a escrituração.
Súmula 439, STF “Estão sujeitos a fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros
comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação”.
Súmula 260, STF “O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado às transações entre
os litigantes”.
Súmula 390, STF “A exibição judicial de livros comerciais pode ser requerida como medida
preventiva”.

5. NOME EMPRESARIAL
5.1. Conceito e Espécies
O nome empresarial está para o empresário como o nome natural está para o civil. Ele tem a função
de identificar e individualizar as empresas. Entretanto, o nome natural é um direito personalíssimo, e o
nome empresarial, apesar de ter a mesma função do nome civil, não é um direito personalíssimo.
Em relação ao nome empresarial, o legislador manteve-se atrelado à situação de dicotomia entre o
direito civil e o direito empresarial. Um exemplo disso seria que o empresário individual deve ter um
nome natural e um nome empresarial. Além do empresário individual, as sociedades empresariais e a
eireli também precisam ter nomes empresariais.
Caso sejam iguais ou semelhantes, os nomes empresariais podem causar muitas confusões. Ex.:
duas empresas diversas com nomes iguais ou semelhantes.
Além do nome empresarial, o papel individualizador da empresa também é cumprido pelo número do
registro do CNPJ.
A proteção jurídica do nome empresarial se dá através do registro na junta comercial e dos atos
constitutivos do empresário que automaticamente decorre essa proteção jurídica, pois junto com os atos
constitutivos também é registrado o nome empresarial, a firma ou a denominação que vai identificar e
individualizar aquele empresário que está se registrando, atendendo aos princípios da Veracidade e da
Novidade.
O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. O adquirente de estabelecimento, por ato
entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a
qualificação de sucessor. Ademais, nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode
ser conservado na firma social.
Então, o nome empresarial é o elemento de identificação do empresário, e é através dele que o
empresário exerce suas atividades e se obriga nos atos a elas pertinentes. É através do nome
empresarial que o empresário realiza o exercício da empresa. Entretanto, o nome empresarial não
poderá conter palavras ou expressões que sejam atentatórias à moral e aos bons costumes, bem como
não poderá conter palavras ou expressões que denotem atividade não prevista no objeto.
Diferentemente do nome civil, o nome empresarial divide-se em duas espécies: a) Firma; e b)
Denominação. Estas espécies distinguem-se quanto à estrutura e quanto à função.
Quanto à estrutura – Na firma é obrigatória a vinculação do nome civil da pessoa que está por trás do
empreendimento, assim, há uma estreita relação entre o nome civil e o nome empresarial. Sendo a firma
individual, ela deve identificar o empresário individual por trás dela e, sendo a firma social, ela deve
identificar as pessoas naturais que estão por trás da sua composição (pessoa jurídica). Já na
denominação, não é obrigatória, apesar de ser possível, a vinculação com o nome civil. Então, em regra,
utiliza-se de nome ou expressão fantasia para a composição da denominação, o que, muitas vezes,
32

acaba por fazer com que as pessoas confundam a denominação com o título do estabelecimento (que
é o nome que está na placa do comércio). Deve-se ressaltar que nem sempre o título do estabelecimento
se confunde com a denominação social (nome fantasia).
Quanto à função – A firma, além de identificar o empresário, também é a sua assinatura (daí vem a
expressão “reconhecer firma”). A denominação cumpre, tão somente, a função de identificar o sujeito
empresário, portanto, não pode ser a sua assinatura. Então, em caso de firma, a assinatura deve
corresponder à firma e, em caso de denominação, o empresário deve assinar o seu nome civil, sua firma
individual. Entretanto, essa classificação caiu em desuso com o passar dos anos. Assim, caso o sujeito
ao invés de assinar a firma da empresa, assine a sua firma individual, os atos continuarão a ser válidos
porque essa classificação caiu em desuso.
Então, a firma deve se vincular ao nome civil da pessoa que está por trás da empresa,
obrigatoriamente. O empresário individual deve vincular seu nome civil à firma, a sociedade empresária
deve vincular o nome da pessoa jurídica à firma, e a eireli deve vincular o nome da pessoa natural, por
trás dela, à firma. A firma deve ser assinada por todos os sócios no lugar do nome civil de cada um. E a
denominação é o nome fantasia, então o empresário deve assinar seu nome civil, e não a denominação.
Não é obrigatória a vinculação do nome civil do empresário à denominação, mas ela também não é
proibida. Então, a denominação é formada com palavras de uso comum ou vulgar na língua nacional ou
estrangeira e ou com expressões de fantasia, com a indicação do objeto da sociedade.
Então, na Firma é obrigatório vincular o nome civil de quem está por trás do empreendimento, e
além de identificar o empresário é também sua assinatura. Na denominação não é obrigatório vincular
o nome civil dos sócios, de forma que pode-se usar qualquer expressão do vernáculo nacional ou
estrangeiro, entretanto serve apenas para identificar o empresário não sendo utilizada como assinatura.
Os empresários individuais, sociedades em nome coletivo e sociedades em comandita simples,
devem obrigatoriamente adotar firma.
A sociedade anônima deve obrigatoriamente adotar denominação.
Já a sociedade limitada, a sociedade em comandita por ações e a eireli, podem optar livremente por
firma ou denominação.
Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada para o exercício de empresa.
Entretanto, equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das
sociedades simples, associações e fundações.
O nome empresarial identifica o empresário em suas diversas espécies (lato senso), e está em
todos documentos, podendo ser apresentado em forma de firma ou denominação. Já a marca, apesar
de também ser um elemento de identificação da empresa, ela identifica os produtos ou serviços e,
geralmente, está nas etiquetas. O título do estabelecimento é outro elemento de identificação, mas
serve para identificar o ponto ou local da empresa, ele é indicado pela placa da loja. A insígnia ou
logotipo é a forma gráfica que identifica a empresa, está na propaganda. Pode acontecer de o
empresário usar a mesma expressão como marca, título do estabelecimento e nome empresarial, mas
também pode usar diferentes expressões linguísticas.
5.2. Regras de Composição
a) Empresário Individual: FIRMA – A firma deverá se confundir com o nome civil do empresário. O
empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser,
designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade. Então, o nome do empresário
individual deverá figurar de forma completa, podendo ser abreviados os prenomes. Ele poderá vincular
o nome civil como um todo, ou poderá abreviar um nome composto, um sobrenome, desde que reste,
pelo menos, um sobrenome escrito por extenso. Não pode ser abreviado o último sobrenome, nem ser
excluído qualquer dos componentes do nome. Não constituem sobrenome e não podem ser abreviados:
Filho, Júnior, Neto, Sobrinho etc., que indicam uma ordem ou relação de parentesco. Havendo nome
igual já registrado, o empresário deverá aditar ao nome escolhido designação mais precisa de sua
pessoa ou gênero de negócio que o diferencie do outro já existente. Ex.: Juliana Maria B. Isaacsson;
Juliana M. B. Isaacsson; J. M. B. Isaacsson; J. M. B. Isaacsson Informática.
33

b) Sociedade em Nome Coletivo: FIRMA - A firma social será vinculada aos nomes naturais dos sócios
e todos os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais, de modo solidário. A firma
também poderá fazer referência à atividade fim da empresa. Todos os sócios podem emprestar seu
nome civil, mas algumas partes podem ser abreviadas ou suprimidas. É uma faculdade usar o nome de
todos os sócios, mas caso se suprima, no mínimo um sócio, é preciso que se acrescente ao nome a
expressão “e companhia”. Então, se a firma não individualizar todos os sócios, deverá conter o nome
de pelo menos um deles, acrescido do aditivo "e companhia", por extenso ou abreviado (e CIA). A
expressão “e companhia” pode ser substituída por qualquer outra expressão que permita que se indique
que é um nome empresarial e foram suprimidos os nomes dos outros sócios. Ex.: “e família”, “e filhos”,
“e outros”. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob firma, na qual
somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a
expressão "e companhia" ou sua abreviatura. Ademais, ficam solidária e ilimitadamente responsáveis
pelas obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem na firma da
sociedade. Ex.: Isaacsson, Sacco e Griep; Informática Isaacsson, Sacco e Griep; Informática Isaacsson,
Sacco e Companhia; Informática Isaacsson e CIA.
c) Sociedade em Comandita Simples: FIRMA – É uma sociedade de economia mista, alguns sócios
respondem ilimitadamente (comanditados) e alguns respondem limitadamente (comanditários). A firma
da sociedade em comandita simples deverá conter o nome de pelo menos um dos sócios comanditados,
com o aditivo "e companhia", por extenso ou abreviado (e CIA). A firma deve ser baseada no nome
social dos sócios comanditados, o nome dos comanditários não pode ser utilizado, caso contrário eles
passarão a responder ilimitadamente. A firma também poderá fazer referência à atividade fim da
empresa. Ex.: sócios comanditados: Juliana Isaacsson e Rochelle Sacco; sócios comanditários: Camila
Griep e Rafaela Kirst; Isaacsson Sacco e Companhia; Informática Isaacsson, Sacco e Companhia;
Informática Isaacsson, Sacco e CIA.
d) Sociedade Anônima: DENOMINAÇÃO - A sociedade anônima opera sob denominação designativa
do objeto social, integrada pela expressão "sociedade anônima", por extenso ou abreviadamente (S/A).
Então, deve-se utilizar uma expressão nacional ou estrangeira, simples ou composta, comum ou
incomum, desde que conste a expressão “sociedade anônima”, no início, no meio ou no final, por
extenso ou abreviado (S/A). Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa
que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa. Ainda, conforme o art. 3º da Lei nº
6.404/66, a denominação na sociedade anônima, poderá ser acompanhada da expressão "sociedade
anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviada, vedada a utilização da última ao final. Então, a
expressão “S/A” pode ser substituída por “CIA”, desde que esta venha no início do nome. Ex.: CEEE –
Companhia Estadual de Energia Elétrica; Banco do Brasil S/A.
e) Sociedade Limitada: FIRMA/DENOMINAÇÃO - Pode a sociedade limitada adotar firma ou
denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura (LTDA). A firma será
composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação
social. Então, a firma pode ser vinculada ao nome civil de um ou de todos os sócios, por extenso ou
abreviado. Caso seja suprimido o nome de, no mínimo um sócio, deve constar a expressão “e
companhia”. A firma da sociedade limitada, se não individualizar todos os sócios, deverá conter o nome
de pelo menos um deles, acrescido do aditivo "e companhia" e da palavra "limitada", por extenso ou
abreviados. Ex.: Isaacsson, Sacco e Griep LTDA; Isaacsson, Sacco e Companhia Limitada; Isaacsson
e CIA LTDA; Juliana B. Isaacsson e Companhia LTDA. Já a denominação deve designar o objeto da
sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. A denominação deverá conter
palavras ou expressões que denotem atividade prevista no objeto social da empresa, e caso haja mais
de uma atividade deverá ser escolhida qualquer uma delas. Poderá ser usada palavra de uso comum
ou vulgar ou expressão de fantasia incomum, gênero, espécie, natureza, artísticos e dos vernáculos
nacional, letras ou conjunto de letras, denominações genéricas de atividades, tais como: papelaria,
açougue, construção etc. A atividade fim da empresa tem de estar presente no nome da sociedade.
Lembrando que, sempre que for compor o nome empresarial com a opção denominação social, não
serão admitidas expressões genéricas isoladas, comércio, indústria, representação, produção, serviço,
34

consultoria, devendo ser feita a pergunta quanto ao nome: “é de quê?”. A denominação poderá ser
composta por qualquer expressão do vernáculo, desde que ao final conste a expressão “LTDA”. A
omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores
que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. Ex.: Isaacsson Comércio de Alimentos
LTDA; Soluções Indústria de Eletrônico LTDA; Casa 21 de Abril – Comércio de Material de Pesca Ltda.
f) Sociedade em Comandita por Ações: FIRMA/DENOMINAÇÃO – A composição da sociedade em
comandita por ações não é por quotas, como é a sociedade em comandita simples, mas sim por ações.
Há o comanditado que é o sujeito que gerencia e administra a empresa e o os comanditários que
realizam aporte de valores. A firma da sociedade em comandita por ações só poderá conter o nome de
um ou mais sócios diretores ou gerentes, com o aditivo "e companhia", por extenso ou abreviado,
acrescida da expressão "comandita por ações", por extenso ou abreviada (C/A). Ex.: Sócio Comanditado
– Juliana Brum Isaacsson; Sócios Comanditários – Rochelle Sacco e Camila Griep; Juliana B. Isaacsson
e Companhia C/A. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação
designativa do objeto social, aditada da expressão "comandita por ações". A denominação na sociedade
em comandita por ações, deverá ser seguida da expressão "em comandita por ações", por extenso ou
abreviada (C/A). Ex.: Isaacsson Comércio de Alimentos C/A; Soluções Indústria de Eletrônico C/A; Casa
21 de Abril – Comércio de Material de Pesca C/A.
g) Eireli: FIRMA/DENOMINAÇÃO – Apenas pessoas naturais podem titularizar a Eireli (Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada), pessoas jurídicas não podem. A firma ou denominação na
empresa individual de responsabilidade limitada deverá ser obrigatoriamente seguida da expressão
"EIRELI". Com relação à firma, o nome do titular da empresa individual de responsabilidade Ltda - Eireli
deverá figurar de forma completa, podendo ser abreviados os prenomes, os nomes dos sócios poderão
figurar de forma completa ou abreviada, admitida a supressão de prenomes, e o aditivo "e companhia"
ou "& Cia." poderá ser substituído por expressão equivalente, tal como "e filhos" ou "e irmãos", dentre
outras. Ex.: Juliana Brum Isaacsson Eireli; J. B. Isaacsson Eireli; J. B. Isaacsson Mercadinho Eireli. A
denominação social deverá conter palavras ou expressões que denotem atividade prevista no objeto
social da empresa, e caso haja mais de uma atividade, poderão ser escolhidas uma ou mais dentre elas.
Poderá ser usada palavra de uso comum ou vulgar ou expressão de fantasia incomum, gênero, espécie,
natureza, artísticos e dos vernáculos nacional, letras ou conjunto de letras, denominações genéricas de
atividades, tais como: papelaria, açougue, construção etc. A atividade fim da empresa tem de estar
presente no nome da sociedade. Lembrando que, sempre que for compor o nome empresarial com a
opção “denominação social”, não serão admitidas expressões genéricas isoladas, comércio, indústria,
representação, produção, serviço, consultoria, devendo ser feita a pergunta quanto ao nome: é “de
quê?”. Cita-se como exemplos de nomes válidos fictícios e não consultados de colidência, e que o objeto
social contemple a atividade econômica de cada uma: Delta Comércio de Tecidos Eireli; Xisto Comércio
de Alimentos Eireli; Soluções Indústria de Eletrônico Eireli. Havendo mais de uma atividade, poderão
ser escolhidas uma ou mais dentre elas. Na denominação da empresa individual de responsabilidade
Ltda - Eireli e das sociedades enquadradas como microempresa ou empresa de pequeno porte, inclusive
quando o enquadramento se der juntamente com a constituição, é facultativa a inclusão do objeto da
sociedade. Ocorrendo o desenquadramento da empresa individual de responsabilidade Ltda - Eireli ou
da sociedade da condição de microempresa ou empresa de pequeno porte, é obrigatória a inclusão do
objeto respectivo no nome empresarial, mediante arquivamento da correspondente alteração do ato
constitutivo ou alteração contratual.
OBS.: As microempresas e empresas de pequeno porte acrescentarão à sua firma ou denominação as
expressões "Microempresa" ou "Empresa de Pequeno Porte", ou suas respectivas abreviações, "ME"
ou "EPP". Então, com relação à carga tributária, há uma outra classificação: “Empresários de Pequeno
Porte (EPP) e Microempresários (ME), e as siglas EPP e ME devem obrigatoriamente aparecer ao final
do nome empresarial. Mas esta é uma outra classificação independente, não importando se o nome
empresarial constitui-se de firma ou de denominação.
35

Atenção: Na formação dos nomes empresariais das sociedades de proposito especifico será agregada
a sigla - SPE, observados os demais critérios de formação do nome do tipo jurídico escolhido observado
o seguinte:
a) se adotar o tipo Sociedade Limitada, a sigla SPE deverá vir antes da expressão LTDA;
b) se adotar o tipo Sociedade Anônima, a sigla SPE deverá vir antes da expressão S/A.
c) se adotar o tipo Empresa Individual de responsabilidade Ltda - Eireli, a sigla SPE deverá vir antes da
expressão EIRELI.
OBS.: “Roubar” um nome empresarial já existente configura crime de usurpação.

5.3. Alterações Obrigatórias


Existem dois princípios que dão norte ao nome empresarial, são eles o princípio da veracidade e o
princípio da novidade. Conforme o princípio da veracidade, o nome empresarial deve ser verdadeiro,
deve demonstrar a verdade fática, não pode ser mentiroso. Já o princípio da novidade determina que
o nome empresarial deve ser novo, exclusivo, diferente dos já registrados, em respeito ao princípio da
exclusividade.
O nome empresarial, pode ser alterado pela simples vontade do empresário, seja esta pessoa física
ou jurídica. Nesse caso de alteração voluntária, exige-se a aquiescência da vontade dos sócios que
detenham participação do capital social que lhe assegurem o direito de alterar o contrato social. Assim,
desde que respeite a veracidade e a novidade, estando de boa-fé, o empresário pode alterar livremente
o nome empresarial. Essa alteração facultativa não pode prejudicar terceiros. Outra hipótese de
modificação do nome empresarial seria a chamada alteração obrigatória, ou vinculada que a lei
preceitua. São casos de alteração obrigatória do nome empresarial:
a) retirada voluntária, exclusão ou morte de sócio cujo nome civil constava da firma social - Neste
caso, enquanto não se proceder à alteração do nome empresarial, o ex-sócio, ou o seu espólio, continua
a responder pelas obrigações sociais nas mesmas condições em que respondia quando ainda integrava
o quadro associativo. Então, quando o empresário sai do quadro social, seu nome civil deve ser retirado
do nome empresarial, sob pena de ferir o princípio da veracidade. Entretanto, cabe esclarecer que os
atos praticados pela sociedade refletem para o futuro, então, caso o empresário saia da sociedade, ele
continuará respondendo pelas obrigações a ela referentes, por até dois anos. Além disso, caso o nome
empresarial não seja alterado após a saída do empresário, ele irá seguir respondendo pelas obrigações
a ela atinentes.
b) alteração da categoria do sócio, quanto à sua responsabilidade pelas obrigações sociais, se
o nome civil dele integrava o nome empresarial - Se sócio comanditado de uma sociedade em
comandita simples passa a ser comanditário, ou se o acionista não diretor da sociedade em comandita
por ações deixa as funções administrativas, o seu nome civil não poderá continuar a compor o nome da
sociedade, a firma social. Até que se altere este nome, o sócio continuará a responder pelas obrigações
sociais como se ainda integrasse a categoria anterior. A alteração no nome é relevante, neste caso,
tendo em vista que os sócios comanditados têm seus nomes civis integrando o nome empresarial e, por
isso respondem ilimitadamente pelas obrigações da empresa, já os sócios comanditários apenas
realizam aporte de capital e respondem limitadamente pelas obrigações da empresa, não tendo seu
nome civil na composição do nome empresarial da empresa. A não alteração do nome empresarial
implicará em prejuízo ao princípio da veracidade.
c) alienação do estabelecimento ato por entre vivos - O empresário individual ou a sociedade
empresária não podem alienar o nome empresarial separadamente. Mas na hipótese de alienação do
estabelecimento empresarial, por ato entre vivos, se previsto em contrato, o adquirente pode usar o
nome do alienante, precedido do seu, desde que com a qualificação de “sucessor de”, caso contrário tal
situação fere o princípio da veracidade. Na alienação do estabelecimento por ato “inter vivos”, o nome
empresarial deve ser obrigatoriamente vendido no conjunto. Isso se dá em razão de uma garantia de
segurança jurídica. O adquirente poderá aproveitar o nome empresarial comprado, mas terá que alterá-
36

lo parcialmente, acrescentando o seu nome. Essa alteração é obrigatória. Ex.: “Rosas de João” →
“Rosas de Pedro sucessor de João”.
d) transformação - A sociedade empresária pode experimentar alteração de tipo societário (passar de
sociedade limitada para anônima, ou vice-versa). Então, quando houver transformação do título
societário, por fusão, cisão, transformação ou incorporação é obrigatória a alteração do nome
empresarial. Nesta hipótese, as regras de formação do nome empresarial relativas ao tipo societário em
que se transformou a sociedade devem ser observadas, alterando-se os aspectos do nome empresarial
então existentes que com elas forem incompatíveis. Isso ocorre quando há a alteração do regime
jurídico, a empresa não se extingue, apenas se transmuda. A não-alteração do nome comercial irá ferir
o princípio da veracidade, e terá como consequência a ineficácia da transformação perante terceiros
que contratarem com a sociedade. Assim, se a sociedade mudar de classificação, deve-se alterar o
nome empresarial.
e) lesão a direito de outro empresário - pelo sistema de proteção do nome empresarial, o empresário
estará obrigado a alterar o seu nome empresarial sempre que este lesar direito de outro sujeito que
exerce atividade empresarial, sob pena de alteração coercitiva e responsabilização por perdas e danos.
O registro de nome empresarial que lesa o direito de outro empresário fere o princípio da novidade. Essa
é a única hipótese de alteração obrigatória que inexistindo fere o princípio da novidade e exclusividade,
não o da veracidade.
Observado o princípio da novidade, não poderão coexistir, na mesma unidade federativa, dois nomes
empresariais idênticos ou semelhantes. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já
inscrito no mesmo registro. Se a firma ou denominação for idêntica ou semelhante à de outra empresa
já registrada, deverá ser modificada ou acrescida de designação que a distinga. Entretanto, será
admitido o uso da expressão de fantasia incomum, desde que expressamente autorizada pelos sócios
da sociedade anteriormente registrada.
Ressalta-se que não são registráveis os nomes empresariais que incluam ou reproduzam, em sua
composição, siglas ou denominações de órgãos públicos da administração direta ou indireta e de
organismos internacionais e aquelas consagradas em lei e atos regulamentares emanados do Poder
Público.
Em algumas situações, é necessária a alteração do nome empresarial em razão do conflito de nomes.
Quem registra primeiro tem direito à exclusividade (regra geral). A inscrição do empresário, ou dos atos
constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso
exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado. O uso estender-se-á a todo o território nacional, se
registrado na forma da lei especial. E cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a
inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.
5.4. Proteção Jurídica
A proteção jurídica é o direito de exclusividade que o empresário tem sobre seu nome empresarial.
Ela se revela no direito de exclusividade no uso do nome e nasce a partir do momento do registro na
Junta Comercial (que deve decorrer do princípio da novidade). A proteção jurídica ao nome empresarial
é uma garantia, que a lei dá à todos empresários, do livre e exclusivo uso do seu nome empresarial,
sem prejuízo do direito à indenização e à condenação pelo crime de concorrência desleal, em razão do
princípio da novidade.
A Junta Comercial não é perfeita, então, às vezes, é difícil identificar os nomes empresariais iguais
ou semelhantes. Então, essa proteção jurídica salvaguarda o direito do empresário de não haver
nenhum nome igual, ou até mesmo, semelhante ao seu nome empresarial.
Não importa se o sujeito estava de boa-fé ou de má-fé, quando o nome empresarial for igual ou
semelhante a outro já existente e devidamente registrado na Junta Comercial, ele deverá ser
obrigatoriamente alterado.
Geralmente, os empresários contratam economistas para realizarem os registros referentes ao nome
empresarial. Então, em regra geral, os economistas já enviam três opções de nome diversas para que
a Junta Comercial analise, claro que estabelecendo uma ordem de preferência.
37

A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXIX, confere proteção jurídica ao nome
empresarial, verbis: “a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País;”.
Além da Constituição Federal, existem outros diplomas ordinários de grande relevância que
asseguram o direito ao nome empresarial, como os arts. 33 e 34, da Lei nº 8.834/94 que preveem que:
“A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de
firma individual e de sociedades, ou de suas alterações; O nome empresarial obedecerá aos princípios
da veracidade e da novidade”; e os arts. 61 e 62, do Decreto-Lei nº 1.800/96 que estabelecem que: “A
proteção ao nome empresarial, a cargo das Juntas Comerciais, decorre, automaticamente, do
arquivamento da declaração de firma mercantil individual, do ato constitutivo de sociedade mercantil ou
de alterações desses atos que impliquem mudança de nome; A proteção ao nome empresarial
circunscreve-se à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial que procedeu ao arquivamento
de que trata o caput deste artigo; A proteção ao nome empresarial poderá ser estendida a outras
unidades da federação, a requerimento da empresa interessada, observada instrução normativa do
Departamento Nacional de Registro do Comércio – DNRC; Expirado o prazo da sociedade celebrada
por tempo determinado, esta perderá a proteção do seu nome empresarial; O nome empresarial
atenderá aos princípios da veracidade e da novidade e identificará, quando assim o exigir a lei, o tipo
jurídico da sociedade; Havendo indicação de atividades econômicas no nome empresarial, essas
deverão estar contidas no objeto da firma mercantil individual ou sociedade mercantil; Não poderá haver
colidência por identidade ou semelhança do nome empresarial com outro já protegido; O Departamento
Nacional de Registro do Comércio - DNRC, através de instruções normativas, disciplinará a composição
do nome empresarial e estabelecera critérios para verificação da existência de identidade ou
semelhança entre nomes empresariais”.
Ainda, o Código Civil também traz dispositivos referentes à proteção jurídica do nome empresarial,
como o art. 1.163 (que versa sobre o princípio da novidade: “O nome de empresário deve distinguir-se
de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já
inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga”), o art. 1.166 (que trata da circunscrição da
proteção: “A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas
averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.
O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma da lei
especial”) e o art. 1.167 (que regula o direito do empresário de exigir que outro se abstenha de usar
nome empresarial igual ou semelhante ao seu: “Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para
anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato”).
Outrossim, o Código de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96), quando trata dos crimes industriais,
prevê a usurpação do nome empresarial e suas consequências. Ainda, estabelece o crime de
concorrência desleal, em seu art. 195. O Código de Propriedade Industrial foi amplamente criticado por
ter sido “elaborado” pelos norte-americanos, haja vista que ele possui um ou dois dispositivos que tratam
das “marcas de conhecimento notório e alto renome”, que independem de registro no INPI para gozarem
de proteção. Ex.: Nike, Adidas, Mc Donalds, Coca-Cola, etc.
Por fim, a Instrução Normativa nº 15/2013 do DREI, também presta-se à proteção do nome
empresarial.
O DREI adota dois critérios para realizar a triagem dos nomes: a) por identidade – homografia; b) por
semelhança – homofonia. Os nomes idênticos são homógrafos, ou seja, são aqueles que têm a grafia
igual, já os nomes semelhantes são homófonos, ou seja, são aqueles que têm a mesma pronúncia, o
mesmo som. Proíbe-se os nomes homófonos porque eles também causam confusão com os clientes.
Ficam estabelecidos alguns critérios para a análise de identidade e semelhança dos nomes
empresariais, pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis –
SINREM. Com relação às firmas, consideram-se os nomes por inteiro, havendo identidade se
homógrafos e semelhança se homófonos. À respeito da denominação, consideram-se os nomes por
38

inteiro, quando compostos por expressões comuns, de fantasia, de uso generalizado ou vulgar,
ocorrendo identidade se homógrafos e semelhança se homófonos ou, ainda, quando contiverem
expressões de fantasia incomuns, serão elas analisadas isoladamente, ocorrendo identidade se
homógrafas e semelhança se homófonas.
O conteúdo intrínseco é identidade ou semelhança na grafia do nome empresarial e o conteúdo
extrínseco é a identidade ou semelhança no logotipo.
Tem-se que a imitação (semelhança) é diferente da reprodução (identidade), sendo, inclusive, aquela
mais grave que esta. Ex.: “El novillo alegre” vs “O novilho alegre”.
Deve-se ressaltar que o direito de exclusividade não é absoluto, um exemplo seria o nome civil,
porque podem haver homônimos, mas, neste caso, o registro deve ser feito de forma maleável (Ex.:
Juliana Brum Isaacsson; Juliana Brum; Juliana Isaacsson) ou ainda pode-se incluir uma expressão
atinente a atividade fim (Ex.: Joalheiro, Informática, Florista).
Assim, cabe esclarecer que não são exclusivas, para fins de proteção, palavras ou expressões que
denotem denominações genéricas de atividades, gênero, espécie, natureza, lugar ou procedência,
termos técnicos, científicos, literários e artísticos do vernáculo nacional ou estrangeiro, assim como
quaisquer outros de uso comum ou vulgar ou nomes civis, bem como não são suscetíveis de
exclusividade letras ou conjunto de letras, desde que não configurem siglas. Ex.: Local e Procedência -
Princesa do Sul, Noiva do Mar, Rainha da Fronteira; Expressões Técnicas e Científicas – Fototécnica,
Floricultura, Joalheiro; Expressões Genéricas de Atividades – “cacau” (Brasil Cacau e Cacau Show),
“cola” (Pepsi Cola e Coca-Cola) – são expressões genéricas, atinentes ao produto e, portanto, podem
ser utilizadas livremente pelos empresários, desde que acompanhada de um nomo fantasia que a
diferencie das demais.
A proteção ao nome empresarial decorre, automaticamente, do ato de inscrição de empresário
individual ou do arquivamento de ato constitutivo de empresa individual de responsabilidade Ltda - Eireli,
de sociedade empresária ou cooperativa, bem como de sua alteração nesse sentido, e circunscreve-se
à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial que o tiver procedido.
A proteção jurídica ao nome empresarial tem circunscrição local estadual, porque a competência das
juntas comerciais é estadual. O empresário que quiser ampliar a proteção do seu nome empresarial em
outros Estados para fazer a abertura de filiais ou mudança de sede, deverá fazer outro registro, com o
mesmo nome, na junta comercial do Estado de destino, desde que lá ele também respeite o princípio
da novidade e da exclusividade.
Então, para ampliar a proteção ao seu nome empresarial ou para que seja possível a abertura de
filiais em outros Estados, o empresário tem três opções:
a) pode providenciar o registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) - o Código
de Propriedade Industrial (9.279/96) determina essa via paralela para que se efetue um registro no
âmbito federal. O sujeito que providenciar o registro no INPI gozará de proteção do seu nome
empresarial em todo território nacional. No entanto, para efetuar o registro do nome no INPI, o
empresário precisa registrar o seu nome empresarial como marca. Ele deverá fazer dois registros, um
na junta comercial do seu Estado de origem, onde irá registrar o nome empresarial, e um no INPI, para
que se registre a marca. Entretanto, o INPI deve ser pago periodicamente, e o registro na junta comercial
é pago uma única vez.
b) pode ir à cada unidade federativa e efetuar o registro do nome empresarial - o empresário
poderá se dirigir a cada Estado do país e efetuar, nas respectivas juntas comercias, o registro do seu
nome empresarial, desde que esteja de boa-fé e respeite os princípios da exclusividade e da novidade.
c) pode fazer com que sua junta comercial de origem provoque a junta comercial de destino, que
deverá fazer a análise do nome e efetuar o registro - caso o nome não seja aceito na junta comercial
de destino, em razão dos princípios da novidade e da exclusividade, o empresário deverá desistir do
registro ou deverá alterar o nome empresarial na junta comercial de origem, e registrar o novo nome
escolhido na junta comercial de destino. Isso porque o mesmo empresário não pode ter dois nomes
distintos registrados, um em cada local.
39

A proteção ao nome empresarial na jurisdição de outra Junta Comercial decorre, automaticamente,


da abertura de filial nela registrada ou do arquivamento de pedido específico, instruído com certidão da
Junta Comercial da unidade federativa onde se localiza a sede da empresa interessada.
Arquivado o pedido de proteção ao nome empresarial, deverá ser expedida comunicação do fato à
Junta Comercial da unidade federativa onde estiver localizada a sede da empresa.
No caso de transferência de sede ou de abertura de filial de empresa com sede em outra unidade
federativa, havendo identidade ou semelhança entre nomes empresariais, a Junta Comercial não
procederá ao arquivamento do ato, salvo se: a) na transferência de sede a empresa arquivar na Junta
Comercial da unidade federativa de destino, concomitantemente, ato de modificação de seu nome
empresarial; b) na abertura de filial arquivar, concomitantemente, alteração de mudança do nome
empresarial, arquivada na Junta Comercial da unidade federativa onde estiver localizada a sede.
OBS.: O enunciado nº 2, da I Jornada de Direito Comercia, determina que: “A vedação de registro de
marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome empresarial de
terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil”. Por sua vez, o art.
1.166 do Código Civil, estabelece que: “A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas
jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos
limites do respectivo Estado”. Entretanto, o enunciado nº 491, da IV Jornada de Direito Civil, trata do
art. 1.166, Código Civil e determina que: “A proteção ao nome empresarial, limitada ao Estado-Membro
para efeito meramente administrativo, estende-se a todo o território nacional por força do art. 5º,
XXIX, da Constituição da República e do art. 8º da Convenção Unionista de Paris”. – Mas, o professor
discorda deste enunciado.

6. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
6.1. Conceito e Elementos
O estabelecimento empresarial não é o local ou a sede da empresa (ponto físico), mas sim o complexo
de bens que o empresário adquire, reúne e organiza, racionalmente, a fim de exercer ou explorar a
atividade empresarial, a empresa. O exercício da empresa precisa ser instrumentalizado, não é à toa
que o empresário organiza os fatores de produção.
O estabelecimento comercial (bens adquiridos) vai ser estabelecido de acordo com a atividade
econômica, o ramo em que o empresário quer trabalhar. Os bens abrangem os materiais (corpóreos) e
os imateriais (incorpóreos). São exemplos de bens incorpóreos indispensáveis para o exercício da
empresa: o nome empresarial, a marca, o crédito com a clientela, o ponto comercial, etc. O aparato
físico de produção do bem comercializado é composto pelos bens corpóreos, materiais, mas muitas
vezes, em certos setores, os bens imateriais são mais importantes. Ex.: No caso da Coca-Cola a marca
(bem incorpóreo) é muito mais importante do que o aparato físico (bens corpóreos), porque mesmo que
o empresário tivesse todos os instrumentos de produção da Coca-Cola, sem a marca, o produto não
venderia tão bem. O direito de usufruir do nome da marca é melhor do que o direito de usufruir do
maquinário daquela empresa, em razão da popularidade do produto.
A aquisição, reunião e organização racional dos bens pelo empresário, agrega um sobre-valor, um
“plus”, ao estabelecimento enquanto complexo de bens, que faz com que ele tenha um valor maior do
que os bens que o compõe individualmente considerados e somados. Então, o estabelecimento vale
mais que os bens individualmente considerados, porque enquanto eles não estiverem racionalmente
organizados, não há como exercer a empresa. O mínimo que o estabelecimento vale é o valor dos bens
individualmente considerados, e o que lhe agrega valor é a organização racional desses bens, que
constitui a capacidade que cada estabelecimento tem para gerar lucro. O “know how” do empresário é
o que aumenta o valor do estabelecimento.
O sobre-valor do estabelecimento é facilmente compreendido quando comparado à uma biblioteca onde
os livros estão organizados em prateleiras, com computadores, salas de estudo, etc., toda essa estrutura
diferencia o complexo de bens do estabelecimento empresarial. A organização racional dos bens lhes
agrega um valor porque facilita o cumprimento da atividade fim. Caso todos esses bens, que
40

compunham a biblioteca racionalmente organizada, a pouco referida, estivessem em caixas, empilhados


em uma sala, seu valor seria extremamente inferior, porque não se está possibilitando a atividade fim.

Deve-se salientar que o estabelecimento tem uma identidade própria, ele não se confunde com os bens
que o compõe, tanto é que pode-se tirar alguns bens, e o estabelecimento seguirá com o mesmo valor
econômico. Ex.: se retirarmos três mesas de um restaurante, o estabelecimento comercial seguirá tendo
o mesmo valor econômico. Entretanto, se for retirada uma grande quantidade de bens do
estabelecimento, a ponto de desarticulá-lo, fazendo com que ele perca a capacidade de explorar a
atividade empresarial, o seu valor diminui.
A aquisição de um estabelecimento comercial que já esteja em funcionamento denomina-se de fundo
de empresa, antes chamava-se de fundo de comércio. O fundo de empresa nada mais é que o conjunto
de bens corpóreos (vitrine, mesas, cadeiras, computadores, máquinas e estoques) ou incorpóreos
(ponto, nome, tecnologia, segredos do negócio, contratos comerciais, marcas e patentes) que tem por
objetivo facilitar o desenvolvimento da atividade mercantil de forma a obter mais sucesso. Definindo a
aquisição do ponto comercial, além de fazer um contrato minucioso descrevendo o estado de
conservação do prédio, condições do aluguel/imóvel, bens corpóreos e incorpóreos de forma a evitar
discussões judiciais relacionadas às responsabilidades, danos pré-existentes e obrigações entre as
partes, o empreendedor possui a alternativa de adquirir também a empresa de quem esteja vendendo
o ponto comercial, ou, optar em abrir uma nova empresa.

6.2. Natureza Jurídica

Existem até 09 teorias propostas pela doutrina para esmiuçar o estabelecimento empresarial, mas
estudaremos apenas aquela que é mais difundida e aceita, Teoria Universalista.
O estabelecimento empresarial consiste em uma universalidade de fato, ou seja, o estabelecimento é
uma unidade de bens materiais e imateriais, criada por força da vontade do titular. O estabelecimento é
um bem uno, novo, composto por uma variedade incontável de bens. O estabelecimento é uma
universalidade de fato e não de direito. É uma universalidade de fato porque possui um conjunto de
regras próprio, diferente das regras que regulamentam os bens que o compõe. O estabelecimento
possui um regime jurídico próprio.
Ademais, o estabelecimento é uma universalidade de fato porque não foi imposto pelo legislador o
reconhecimento da universalidade, como ocorre no caso da massa falida. O estabelecimento é uma
universalidade em razão da vontade do empresário e não da lei, por isso é uma universalidade de fato
e não de direito. O estabelecimento tem uma identidade própria e é constituído pela vontade do
empresário.
41

O Código Civil classifica o estabelecimento empresarial como uma coisa coletiva ou estabelecimento de
fato porque permite que seja como um todo objeto unitário de direitos e negócios jurídicos, sem, contudo,
proibir a negociação isolada dos bens integrantes do mesmo.
O Código Civil define universalidade de fato no art. 90 como a pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária, podendo, entretanto, ser objeto de relações
jurídicas próprias. Portanto, os bens integrantes do estabelecimento podem ser objeto de relações
jurídicas autônomas ou podem ser negociados de forma unitária, por meio do trespasse, como um
conjunto de bens.
Vale lembrar que o estabelecimento empresarial não se confunde com o empresário, que é aquele que
exerce a atividade empresarial, e nem com a empresa, que corresponde à própria atividade exercida
pelo empresário por meio do estabelecimento empresarial. O estabelecimento não é sujeito de direito
(sujeito de direito é o empresário) e não possui personalidade jurídica. O estabelecimento empresarial
não é uma pessoa jurídica, é uma universalidade de fato que integra o patrimônio do empresário
individual ou da sociedade empresária, sendo objeto de direito, pode ser alienado, onerado, arrestado,
penhorado ou objeto de sequestro.
Relacionado à natureza jurídica do estabelecimento empresarial encontra-se o princípio da construção
continuada do estabelecimento, pelo qual, o complexo organizado de bens utilizado pelo empresário
não é algo estático, é dinâmico, modificando-se constantemente de acordo com o desenvolvimento da
atividade econômica (circulação das mercadorias, reforma do imóvel, aquisição e venda de maquinários
e veículos). Tudo isso influencia a definição do aviamento e do valor do estabelecimento. O
estabelecimento nunca está pronto e acabado, ele está sempre em evolução.
A teoria geral do direito empresarial pode ser sintetizada em uma simples frase: “O empresário exerce
a empresa através do estabelecimento comercial”. Estes três pontos (empresário, empresa e
estabelecimento comercial) constituem o tripé do direito empresarial. O empresário é uma pessoa
jurídica de direito privado, que deverá reunir e organizar os bens para que seja possibilitado o exercício
da empresa.
Sabe-se que o estabelecimento comercial é uma universalidade de fato porque, embora se reconheça
que ele é produto de um todo, ele é composto de diversos bens, que concatenados e organizados
ganham vida própria, tem uma identidade própria. Ex.: o cosmo, o universo é uno, mas na verdade ele
é composto por infinitas galáxias, estrelas, planetas, etc. Ex.: o espólio também é uma universalidade,
porque durante o inventário, os herdeiros ficam em condomínio necessário até saber o que é seu de
direito. O espólio é uma universalidade de direito porque se estabelece por força de lei. Já os
estabelecimentos comerciais não são universalidades de direito, porque se compõe por vontade dos
empresários e não por força de lei. Deve haver uma organização racional, que demanda um “know how”.
O estabelecimento empresarial é protegido pelo direito como unidade, universalidade. O direito também
protege os bens individualmente considerados, mas deve-se prestar atenção ao fato de a lei proteger o
estabelecimento como universalidade, porque, assim, se percebe que a própria lei o reconhece como
unidade.
Muitas pessoas confundem o estabelecimento com o imóvel, o espaço físico onde ele se localiza. No
entanto, estas duas coisas não se confundem. Aqui, a doutrina se divide, porque parte dos autores
defendem a ideia de que o imóvel não faz parte do estabelecimento comercial e outra parte dos
estudiosos entende que o imóvel integra o estabelecimento comercial.
1ª Corrente: Imóvel não compõe o estabelecimento empresarial - Alguns autores entendem que o imóvel
sequer é um bem elemento que compõe o estabelecimento. Isso porque, dentro das classificações dos
bens temos a separação dos bens móveis e imóveis, sendo pacífico que o estabelecimento se insere
na classificação dos bens móveis, porque ele pode ser levado de um ponto para outro. O
estabelecimento é o conjunto de bens que pode ser transferido de um imóvel para outro, isso é a
mobilidade do estabelecimento. A mobilidade, condição de bem móvel do estabelecimento, impede que
o prédio (imóvel) seja seu componente. Além do mais, o imóvel é sempre o bem principal, e os móveis
são os bens acessórios, se estivéssemos colocando o prédio como elemento do estabelecimento
estaríamos dizendo que o bem principal deve ser abrangido dentro dos bens acessórios.
42

2ª Corrente: Imóvel integra o estabelecimento empresarial - Outros autores entendem que o imóvel
constitui elemento do estabelecimento, porque eles se restringem a analisar o conceito de
estabelecimento, sem levar em consideração a classificação dos bens. Muitas vezes o estabelecimento
empresarial não exige um imóvel, um prédio físico. Ex.: comerciantes ambulantes – “Doçuras da Fabi”;
“Gourmetto Churros”; “Sanata Lanches”. Conforme essa teoria, o imóvel, desde que de propriedade do
empresário, deve integrar o estabelecimento empresarial e, caso o imóvel não seja de propriedade do
empresário, o direito de ocupar o espaço físico, decorrente da locação, deve ser considerado elemento
do estabelecimento empresarial.
O estabelecimento empresarial é um bem economicamente apreciável protegido pelas leis e, portanto,
é um bem jurídico. A proteção jurídica do estabelecimento empresarial pode ser direta ou indireta. A
proteção indireta se dá com relação aos bens individualmente considerados, que compõe o
estabelecimento empresarial. Ex.: leis que punem o furto, o roubo, que preveem a ação de esbulho
possessório, de reintegração de posse, de interdito proibitório, etc. Já a proteção direta guarda relação
com o estabelecimento como universalidade, unidade. Ex.: a regulamentação da desapropriação de
estabelecimento comercial – garantindo indenização, que deve abranger tanto o proprietário do prédio
como o empresário que loca o imóvel, porque ele terá que transferir o estabelecimento para outro ponto
comercial, além dos lucros cessantes. Assim, se está oferecendo uma proteção jurídica ao
estabelecimento como unidade, reconhecendo a identidade individual do estabelecimento. Ex.2: a
garantia de proteção ao ponto.

6.3. Proteção ao Ponto

Reconhece-se que o estabelecimento tem uma identidade própria, que é móvel. O ponto é o espaço
físico onde o empresário exerce a empresa, mesmo que o comércio seja móvel, porque os trailers, por
exemplo, são móveis, mas voltam todos os dias para o mesmo local.
O ponto pode ser de propriedade do empresário ou não, é uma questão de conjuntura. Quando o
empresário é dono do imóvel, o ponto é protegido de forma indireta e resguardado pelo direito de
propriedade, que é o direito mais amplo, “erga omnes”. Assim, caso o empresário tenha seu ponto
ameaçado, pode lançar mão das ações possessórias, amparado pelo mais amplo direito subjetivo que
o Estado outorga ao cidadão, por isso, o direito empresarial não se preocupa com essa situação. O
direito empresarial se direciona à proteção dos empresários inquilinos, que ficam à mercê do proprietário
do imóvel.
A proteção ao ponto só existe quando o empresário é inquilino, porque, quando o empresário é
proprietário, ele está amparado pelos direitos da propriedade. Quando o empresário não é proprietário
do prédio, ele fica em uma situação muito delicada, porque geralmente há um prazo para o término do
contrato, que acaba com o ponto. Entretanto, a lei confere o empresário, em razão dos investimentos,
esforço e risco que ele empreendeu e se expôs, o direito de continuar no ponto, mesmo que contra a
vontade do proprietário, porque isso pode gerar um enriquecimento sem causa do dono do imóvel, que
quando o negócio está indo bem, está dando certo, aumenta de modo exorbitante o aluguel do prédio.
O empresário inquilino é protegido pelo direito empresarial porque investiu esforço, dinheiro e trabalho
para que a empresa crescesse, expondo-se aos riscos atinentes ao negócio. O direito empresarial visa
proteger o empresário inquilino do proprietário do imóvel que pode lhe pressionar, aumentando o aluguel
exorbitantemente, recebendo vantagens, e que pode pegar “carona” no trabalho, riscos e investimento
que o empresário superou, gerando uma espécie de enriquecimento sem causa. Outras vezes, o
proprietário quer rescindir o contrato de locação, para que o empresário saia dali, e ele possa assumir
o ponto, montando a sua própria empresa semelhante.
Então, o legislador garante ao empresário a renovação do contrato de locação, mesmo que contra a
vontade do proprietário. Este direito é chamado de direito de inerência, que é o direito de permanecer
no ponto, que a lei garante ao empresário inquilino. O empresário alcança esse direito de inerência
através de uma ação judicial, chamada de ação renovatória. A renovação do contrato, neste caso, é
compulsória. Ao empresário inquilino exercer o direito de inerência, percebe-se que não há concordância
43

na renovação do contrato. Nessa ação, verifica-se o direito à propriedade contrapondo-se ao direito ao


ponto (direito de inerência). A ação renovatória não se confunde com a ação revisional de aluguel.
Na ação renovatória o proprietário do imóvel será sempre o réu e o empresário inquilino será sempre o
autor. Mas, se a ação for de despejo os polos se invertem. O contrato sempre deverá ser renovado por
igual período do previsto no contrato original. Para poder ingressar com a ação, o empresário deverá
preencher alguns requisitos e condições, formais e materiais, quais sejam:
I- Requisitos Formais:
a) o contrato a ser renovado deve ter sido celebrado de forma escrita;
b) o contrato a ser renovado deve ter sido ajustado com prazo determinado.
II- Requisitos Materiais:
a) o inquilino deve estar no local há, no mínimo, 05 anos ininterruptos, não importando se por meio
de um único contrato de locação ou por diversos contratos sucessivos;
b) o empresário inquilino deve estar no mesmo ramo de atividade há, no mínimo, 03 anos, porque este
é um requisito de valorização do ponto;
c) o autor da demanda deve ter legitimidade ativa para promover ação renovatória – podem exercer o
direito de inerência: o empresário original, seus sucessores por “causa mortis” ou os
empresários que compraram o estabelecimento comercial (alteração do contrato por ato “inter
vivos”);
d) o empresário tem o prazo máximo de 01 ano e o prazo mínimo de 06 meses, da data de expiração
do contrato de locação em vigor, para propor a ação. Então, o tempo disponível para ingressar com
a ação é sempre de 06 meses, no penúltimo semestre ates do termo do contrato. Não é o prazo
decadencial, na verdade, é um lapso de tempo, durante o qual a ação renovatória pode ser proposta.
Passados 06 meses, o proprietário não pode ser obrigado a renovar o contrato, porque a lei lhe
garante essa segurança, para que ele não perca nenhum outro contrato.

Entretanto, existem situações em que o proprietário no imóvel não é obrigado a renovar o contrato de
locação. Essas situações devem ser alegadas na contestação, e dividem-se em aspectos formais e de
mérito, são eles:

I- Aspectos Formais: quando o empresário inquilino não cumprir com qualquer daqueles 06 requisitos
(formais e materiais) para a propositura da ação, o proprietário não é obrigado a renovar o contrato.

II- Aspectos de Mérito:


a) quando o proprietário quer rever o imóvel para uso próprio. O direito de domínio deve prevalecer ao
direito de inerência;
b) quando o proprietário for obrigado a realizar uma reforma no imóvel, à mando do poder público, por
autuação de autoridade administrativa (União, Estado ou Município – código de posturas);
c) quando o proprietário resolver investir no seu bem através de reformas, que devem ser amplas e
devem alterar a substância da coisa;
d) quando o proprietário pretender transferir para aquele local fundo de comércio seu, já existente há
mais de um ano, desde que este estabelecimento não seja do mesmo ramo que o do inquilino, para
evitar uma situação de enriquecimento sem causa. Deve ter no mínimo um ano porque deve-se
provar que é uma atividade séria. Muitos autores consideram inconstitucional o fato de a empresa
não poder ser do mesmo ramo, e defendem a possibilidade de que o estabelecimento seja do mesmo
ramo, desde que haja uma indenização ao empresário inquilino. Então, há uma controvérsia
extralegal;
Entretanto, a própria lei do inquilinato (Lei nº 8.245/91 – a partir do art. 51) prevê uma exceção a
essa regra, no sentido de que, não pode ser do mesmo ramo que o estabelecimento do inquilino,
salvo se a locação envolver as instalações e pertences. Esta é a chamada locação-gerência, o
estabelecimento está racionalmente organizado, não é um imóvel “oco”. Isto está previsto na lei,
então, é uma exceção a respeito da qual não há divergências. A lei confere essa possibilidade ao
44

próprio proprietário do prédio, como também ao seu cônjuge, ascendente ou descendente (pessoa
física); em caso de pessoa jurídica, o direito é conferido ao titular do estabelecimento existente há
mais de um ano a ser transferido, se o dono do imóvel for sócio proprietário detentor do maior capital
social, ou seu cônjuge, ascendente ou descendente;
e) quando a proposta de aluguel oferecida pelo empresário inquilino na ação de renovação não for
compatível com o mercado imobiliário atual – depende de perícia. O valor deve ser justo, respeitar
a realidade do mercado imobiliário de locação;
f) Quando o locatário tiver proposta superior de terceiro, ou seja, quando terceiro se oferecer para
pagar mais e o inquilino não cobrir a oferta (o inquilino tem direito de preferência, e pode cobrir a
oferta de terceiro).

O locatário tem três meses para cumprir com o alegado, ou seja, dar o destino alegado ao imóvel, caso
contrário, apesar de a situação não poder retornar ao status quo ante, é cabível uma indenização (com
lucros cessantes, etc.) ao empresário inquilino. Entretanto, no caso de o proprietário não renovar o
contrato por proposta melhor de terceiro, a indenização é obrigatória, independentemente de qualquer
prazo.

Então, conforme a lei do inquilinato, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá
direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: I- o contrato a renovar
tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; II- o prazo mínimo do contrato a renovar ou
a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; III- o locatário esteja
explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
O direito de inerência poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação; no caso de
sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo sublocatário.
Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que faça
parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido
pelo locatário ou pela sociedade. Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio
sobrevivente fica sub-rogado no direito a renovação, desde que continue no mesmo ramo. O direito a
renovação do contrato estende-se às locações celebradas por indústrias e sociedades civis com fim
lucrativo, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos previstos neste artigo. Do
direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no máximo,
até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor.

O locador não estará obrigado a renovar o contrato se: I- por determinação do Poder Público, tiver que
realizar no imóvel obras que importarem na sua radical transformação; ou para fazer modificações de
tal natureza que aumente o valor do negócio ou da propriedade; II- o imóvel vier a ser utilizado por ele
próprio ou para transferência de fundo de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da
maioria do capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente.
Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do mesmo ramo do locatário, salvo
se a locação também envolvia o fundo de comércio, com as instalações e pertences.
O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros cessantes que tiver
que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, se a renovação não
ocorrer em razão de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no prazo de três
meses da entrega do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo Poder
Público ou que declarou pretender realizar.

O título do estabelecimento é a placa, o luminoso, que indica o ponto do estabelecimento comercial.


Esse título não tem registro próprio, como tem o nome (junta comercial) e a marca (INPI). O titulo do
estabelecimento não tem mais registro próprio, mas tem proteção jurídica?

6.4. Alienação do Estabelecimento Empresarial


45

A alienação do estabelecimento empresarial traz uma série de consequências, porque teremos um


empresário alienante e um adquirente (empresário ou não). Deve-se analisar as obrigações
remanescentes e a quem elas competem.
A doutrina do direito comercial dá uma nomenclatura específica para essa alienação do
estabelecimento, qual seja trespasse. Geralmente, o contrato é de compra e venda, mas o trespasse é
algo abrangente e corresponde a qualquer forma de transferência do estabelecimento comercial. Na
prática, os empresários costumam dizer: “passa-se o ponto”, mas esta expressão não é a mais correta,
porque se o sujeito não é o proprietário do imóvel onde está instalado o estabelecimento, ele poderá
passar o direito de ficar no local e não o próprio imóvel.
O trespasse entre alienante e adquirente será perfeito, mas ele poderá ser ineficaz quanto à terceiros.
Isso é uma exceção, que afeta o direito de domínio, o direito de propriedade. E isso ocorre porque o
estabelecimento comercial é o primeiro instrumento de proteção dos credores daquele empresário. Além
disso, a empresa está sempre “girando” a renda, há um passivo presente, mesmo que o empresário
cumpra suas obrigações em dia. Os bens que compõe o estabelecimento comercial são garantia dos
credores, esses bens poderão ser nomeados à penhora, por isso, o trespasse, em algumas situações,
será ineficaz. Então, o estabelecimento comercial é uma proteção que o legislador oferece aos credores.
As restrições podem ser de caráter formal ou material (art.1.144, e ss., do Código Civil).
→ Restrição Formal: corresponde à publicidade, ou seja, trespasse deve ser público e só
surtirá os efeitos depois do registro, em razão de uma segurança jurídica (arquivamento na Junta
Comercial). Então, deve-se averbar na junta comercial o contrato de trespasse. Além disso, é
indispensável que o trespasse seja publicado no Diário Oficial.
→ Restrição Material: diz respeito à eficácia do ponto de vista jurídico. Assim, a alienação
só será eficaz perante terceiros se ao alienante sobrarem bens suficientes para solverem seu
passivo (1). Então, se o empresário remanescer com bens suficientes para solver o seu passivo (ficar
com bens suficientes para pagar seus credores, não tem problema, ele pode alienar o estabelecimento
sem preocupação. O legislador busca respeitar as faculdades de domínio, de disposição do bem, porque
estabelece apenas um requisito para que a garantia de nenhum credor seja ofendida. Caso o empresário
pague todos os seus credores antes da alienação (2), o trespasse também será eficaz. Esta é uma
outra alternativa, independentemente de restarem bens. Há uma terceira possibilidade, que se dá quanto
todos os credores anuam, de forma expressa ou tácita, a realização do trespasse (3).
- Na anuência expressa é necessário obter de cada um dos credores essa
autorização. No entanto, como algum credor pode negar o seu consentimento simplesmente por
ignorância e não concedê-lo, a forma mais ágil é a autorização tácita.
- Na anuência tácita os credores são notificados sobre a venda e se não
manifestarem nenhuma oposição no prazo de 30 dias, entende-se que anuíram. Essa notificação pode
ser judicial ou extrajudicial, a extrajudicial é mais dinâmica e não tão cara. Então eles são formalmente
comunicados de que o empresário que é devedor deles pretende alienar, transferir o estabelecimento.
Então, se faz uma notificação pelo Cartório de Títulos e Documentos, e os credores têm o prazo de 30
dias para apresentar oposição. Caso não haja manifestação, considera-se que houve anuência
(art.1.143, CC).
Sempre lembrando que o estabelecimento pode ser objeto de negócio enquanto universalidade,
unidade. Pode ocorrer, além da alienação, o usufruto ou o arrendamento do estabelecimento, e todos
esses contratos configuram trespasse.
Se ao alienante restarem bens suficientes para suprir o seu passivo, não há porque exigir maiores
formalidades (art.1.145, CC). O legislador busca um meio termo, visa conciliar o direito de domínio do
empresário e a segurança jurídica dos seus credores. A alienação do estabelecimento com desrespeito
aos requisitos materiais traz dois desdobramentos no direito falimentar:
a) Ato de Falência: a falência é o fracasso do empresário, que revela a incapacidade
patrimonial de honrar todas as obrigações atinentes ao exercício da empresa. Quando isso acontece,
deve ser decretada a falência. A falência é o estado de insolvência do empresário. Há três critérios
46

presuntivos de falência: i) impontualidade; ii) execução frustrada; iii) prática de ato de falência (Lei
nº11.101⁄05). Os atos de falência podem advir da atitude de alienar estabelecimento em desrespeito aos
pressupostos materiais, permitindo que qualquer credor venha a requerer a falência do empresário
(art.94, da Lei nº11.101⁄05). O empresário está em desespero patrimonial, ato de quebra de falência.
Então, uma das consequências do desrespeito dos requisitos materiais é que os credores podem
requisitar a abertura da falência daquele empresário. Os atos de falência são condutas típicas praticadas
pelo empresário que fazem presumir sua falência. Uma dessas condutas é justamente, a alienação do
estabelecimento sem salvaguarda de bens para o adimplemento das obrigações. Uma vez decretada a
falência, os credores têm possibilidade de ingressar com ação renovatória. Embora o negócio seja
válido, o credor busca sua ineficácia em relação a si. Ocorre quando após a alienação, há decreto de
falência. Se detectar os elementos, o juiz, pode mesmo decretar a ineficácia objetivo de ofício. Pode
ocorrer independentemente de má-fé/conhecimento por parte do adquirente em relação a situação
patrimonial da empresa. Desta forma, o adquirente pode ser condenado a devolver todos os bens do
estabelecimento adquiridos. Os bens irão para a massa falida. Já estando o empresário em insolvência,
o adquirente só poderá se habilitar no processo de falência, para quem cabe, receber alguma quantia.
b) Ineficácia Objetiva: havendo trespasse sem o cumprimento dos requisitos, este terá
a sua eficácia retirada (art.129, da Lei nº11.101⁄05), e os bens irão voltar à massa falida. O trespasse é
ineficaz, independentemente do conhecimento da condição do alienante pelo adquirente. Decretada a
falência, a Lei nº11.101⁄05 cria um instrumento para proteger os credores, que é a reabilitação. Busca-
se integrar à massa falida bens que foram vendidos antes do estado de insolvência, apesar de na época
terem sido válidos, virão a ser considerados de ineficácia objetiva. Os bens serão chamados para solver
a massa falida, para satisfazer o crédito dos credores. Assim, o adquirente será instado a devolver à
massa falida o estabelecimento empresarial.
O administrador judicial pode, mediante autorização judicial, vender o estabelecimento como
universalidade, para se preservar o “plus” o sobre-valor, para que se consiga mais dinheiro para pagar
os credores.
OBS.: A recuperação judicial (antiga concordata) visa evitar a falência do empresário. Nela há um plano
de recuperação que deve ser aceito pelos credores do empresário e homologado pelo Juiz, a alienação
do estabelecimento pode ser uma das exigências deste plano. Aquele que adquire o estabelecimento
não fica responsável pelo passivo do empresário (art. 60, §1º, da lei de falências).
O passivo pendente remanesce sob a responsabilidade do alienante ou ele passa ao adquirente?
Este assunto foi muito controvertido. O Código Comercial de 1890, determinava que o passivo era de
responsabilidade do alienante. O estabelecimento comercial só é composto pelos bens ativos, as
obrigações passivas não integram o estabelecimento, então ele não é passado ao adquirente,
remanescendo na responsabilidade do alienante. Essa, entretanto, é uma lógica que se presta para
fraude.
O legislador passou a atuar pontualmente em certas questões, e criando exceções à regra geral. A
primeira exceção se deu com relação aos trabalhadores, que passam a ser de responsabilidade do
adquirente. Isso é uma determinação da CLT. A troca na titularidade da empresa (estabelecimento) não
afeta os contratos de trabalho dos respectivos empregados (art.448, CLT). A alienação do
estabelecimento empresarial não prejudica os trabalhadores em relação aos seus créditos, eis que o
adquirente responderá pelo ativo e passivo, respondendo pelos débitos empregatícios (mesmo que o
trabalhador já não trabalhasse mais para o alienante) – responsabilidade pelo passivo trabalhista
solidário. O empregado poderá optar entre um e outro, pode ingressar com a ação contra o alienante ou
contra o adquirente. Mas essa é uma exceção pontual.
Mais, o CTN, em seu art.133, determina que o adquirente do estabelecimento comercial assume
integralmente o passivo tributário do alienante se este não voltar à atividade empresarial ou não o fizer
em 6 meses – adquirente com responsabilidade integral e direto. Se, no entanto, o alienante continua
exercendo empresa ou volta a exercer em 6 meses, ele ainda continua, titular dos débitos e o
fisco(credor tributário de qualquer esfera) poderá cobrar a dívida fiscal dele. No entanto, se ele não
pagar(por insolvência ou insuficiência) o adquirente será cobrado por responsabilidade subsidiária.
47

Depois de 1968 consubstanciou-se que, afora os credores trabalhistas e tributários, o passivo não possa
ser responsabilidade do adquirente. Para pacificar, o CC determina que o adquirente assume o passivo
pendente se ele estiver escriturado(critério da escrituração) – assume as dívidas pendentes descritas
nos livros de registros dos gerais o adquirente pode tomar conhecimento antes da aquisição do
estabelecimento.
O passivo não escriturado remanesce sob a responsabilidade do alienante, se for passivo trabalhista ou
tributário, por terem sua normatização em leis especiais (portanto, não derrogados pelo CC) continuam
sendo de responsabilidade do adquirente independentemente de escrituração. Entretanto, em não
estando escriturados débitos trabalhistas e tributários, o adquirente terá direito de regresso em face do
alienante.
O CC também estabelece que os credores (exceto os trabalhistas e tributários) poderão cobrar (de um
ou outro) seus créditos durante 01 ano (para os créditos vencidos ou 01 ano após a publicidade no
Diário Oficial da alienação para os vincendos – responsabilidade solidária). Posteriormente, cobram de
um outro, conforme os débitos estejam ou não escriturados.
A responsabilidade subsidiária garante a obrigação de outra pessoa, mas sempre que possível deve-
se buscar seu crédito no patrimônio do devedor principal. Como no caos ser avalista ou fiador. O
subsidiário caso tenha que garantir pelo devedor principal ele poderá fazer o regresso depois. CTN
Já na responsabilidade solidária, não há devedor principal, o credor pode buscar a totalidade de seu
crédito onde ele achar melhor possibilidade de receber, se é realmente responsável pela dívida ou não,
cabe ao acionário reaver seu dinheiro com a outra parte solidária através da ação de regresso. CLT +
CC

- Cláusula de não reestabelecimento: Alienando o estabelecimento, pode o alienante continuar a


exercer a empresa? Pode tornar-se concorrente do adquirente? Pode restabelecer-se? Diante da
omissão na lei, permanece entendimento jurisprudencial de que apenas pode restabelecer-se o
empresário se estiver previsto no contrato de alienação – deve haver autorização do adquirente. Tal
requisito diz respeito ao prazo de 05 anos, após a alienação. Ainda, o restabelecimento não pode ser
uma concorrência – logo, pode exercer empresa em outra atividade.
Em suma, três são os requisitos: a) prazo de 05 anos (critério temporal); b) não ser no mesmo ramo de
atividade (critério material); c) não ser no mesmo espaço territorial (ainda que na mesma atividade, e
antes dos 05 anos, se não for na mesma localidade, pode - critério espacial). Se não respeitado, o
adquirente pode exigir judicialmente o cancelamento da empresa concorrente.

O trespasse é o contrato de transferência do estabelecimento comercial. O adquirente assume a


responsabilidade pelas dívidas já existentes. Mas há uma figura similar: a cessão de quotas ou o
controle acionário (SA). Na cessão de quotas não há mudança na titularidade do estabelecimento.
Mudam os sócios, mas não o titular do estabelecimento. Muda o quadro societário, mas não troca de
titularidade, a responsabilidade pelo passivo permanece com a sociedade. Então, na cessão e quotas
existe uma pessoa jurídica que é titular de um estabelecimento (sociedade limitada; não pode ser
empresário individual). A pessoa jurídica explora a empresa através do estabelecimento empresarial.
Ex.: digamos que existam dois sócios, cada um com 50% das quotas, e eles queiram sair da sociedade.
Podem surgir outros dois sujeitos que adquirem as quotas dos antigos “empresários”, tornando-se
titulares do capital social (estes serão os novos “donos” da empresa).
Neste caso não há trespasse, então não deve se analisar a sua eficácia diante terceiros, nem a questão
do passivo pendente. O passivo pendente segue sendo de titularidade da mesma pessoa jurídica, há
apenas a transferência da posição jurídica de sócio, o estabelecimento não foi vendido para outro
proprietário, ele era daquela pessoa jurídica e seguirá sendo, a única mudança se dá com relação à
pessoa dos sócios, o que diferencia cessão de quotas do trespasse.
A pessoa jurídica tem independência de direitos com relação aos sócios. Há apenas a alteração do
quadro social (pessoas físicas que compõe a pessoa jurídica). Sócio não é empresário, a pessoa jurídica
que exercerá a função de empresa.
48

O contrato de transferência do estabelecimento comercial denomina-se de trespasse. O adquirente


assume as obrigações quanto ao passivo pendente (em caso de trespasse), no caso de cessão de
quotas isso não ocorre, porque a pessoa jurídica de direito é a mesma.

TRESPASSE CESSÃO DE QUOTAS


No trespasse o estabelecimento empresarial deixa Na cessão de quotas de sociedade limitada ou
de integrar o patrimônio de um empresário (o na alienação de controle de sociedade anônima
alienante) e transfere-se para o de outro (o o estabelecimento empresarial não muda de
adquirente). O objeto de venda são os bens titular. Tanto antes como após a transação, ele
corpóreos e incorpóreos envolvidos com a pertencia e continua pertencendo à sociedade
exploração de uma atividade empresarial. empresária. Essa terá sua composição de sócios
alterada. Na cessão de quotas ou alienação de
controle, o objeto de venda é a participação
societária.

7. AGENTES AUXILIARES DA EMPRESA E DO EMPRESÁRIO


Auxiliares Independentes (agentes auxiliares da empresa e prestadores de serviços): são
considerados independentes, pois não existe uma relação de dependência ou subordinação com o
empresário que contrata seus serviços. Esta relação será firmada pelo Contrato de Prestação de
Serviços. Os agentes auxiliares da empresa devem ter registro na Junta Comercial, devem ser
especializados e também são considerados empresários, mas especiais, porque exercem funções
especiais. Ex.: leiloeiro oficial (Lei nº1.932), corretores de valores, ( de corretores de imóveis – regidos
pelo CC), corretores de navios, corretores de mercadoria, corretores de câmbio, tradutores e intérpretes
públicos, trapicheiros, etc. Seus documentos são dotados de fé pública. Os agentes auxiliares da
empresa ou do comércio são chamados de comerciantes oficiais. Os empresários comuns costumam
lançar préstimos do serviço desses agentes para exercer algumas atividades da empresa. A relação
que eles mantém com os empresários comuns é de independência, não há relação de subordinação,
deve haver um contrato de prestação de serviços para o desenvolvimento da empresa.

Auxiliares Dependentes (agentes auxiliares do empresário): são considerados dependentes, pois


existe uma relação de dependência ou subordinação com o empresário que os contrata. Esta relação
será denominada Preposição Empresarial ou Preposição Mercantil, e não se confunde com a relação
de emprego, embora ela exista. O preponente (empresário) é o responsável pelos atos praticados por
seus prepostos, quando praticados em razão do exercício da empresa. Ele delega ao preposto, é o
“empregador”. O preposto (agentes auxiliares ou colaboradores), por sua vez representa o preponente,
praticando atos em seu nome. Não o fazem na condição de sócio, mas de preposto. Pode haver inclusive
superioridade hierárquica entre prepostos diferentes, como gerentes e tudo o mais. Não se trata de uma
contrato de mandato propriamente dito.
Preposição é a responsabilidade do preponente pelos atos praticados pelos seus prepostos em razão
do exercício da empresa. O vínculo entre ambos é empresarial. Essa preposição visa melhor gerenciar
os atos empresariais, auxiliando-os e, por isso, são chamados de auxiliares dependentes.
Os auxiliares dependentes são os agentes auxiliares do empresário. Eles não são independentes, há
poder hierárquico, trata-se de uma relação de subordinação. Eles não são empresários. A preposição
mercantil é o nome da relação que se estabelece entre o empresário e o agente auxiliar, onde há
preponente e preposto.
O preposto é o agente auxiliar do empresário e essa relação era regulamentada pelo antigo Código
Comercial, atualmente, esta relação é regida pelo direito do trabalho. O Código Civil, que revogou o
Código Comercial, trouxe as regras substitutivas a respeito desta relação. A óptica maior vai ser do
trabalhismo, principalmente, em razão da hipossuficiência.
O preponente é o empresário, o empregador, enquanto que o preposto é o empregado, que pode ser
industriário, comerciário, etc. (dependendo da atividade exercida).
49

A preposição mercantil regula a responsabilidade que o preponente, empresário, possui pelos atos
praticados pelos seus prepostos. Isso vai contra à relatividade das obrigações (“pacta sunt servanda” –
o contrato faz lei entre as partes, não produz efeitos para terceiros). A assinatura da CTPS é o que faz
com que o empresário preponente assuma a responsabilidade pelos atos praticados pelo preposto, em
razão do exercício da empresa (necessariamente).
A relação de emprego não se confunde com a preposição, mas elas se encontram estritamente ligadas.
O empresário deve se servir do profissional contador para a escrituração dos seus dados, que podem
ser auxiliares da empresa independentes ou auxiliares do empresário (preposto).
Os prepostos são regidos pelo CC, a partir do art.1.169. Não pode o preposto terceirizar o serviço
contratando outro sujeito para fazer o seu trabalho sem a autorização do preponente. Ler os artigos do
CC!
Entre os prepostos, dependendo da estrutura da empresa, geralmente quando ela tem maior
envergadura, o preponente pode estabelecer uma relação de comando entre seus prepostos. Ex.:
gerente, capataz, feitor, etc.
Há distinções entre o gerente administrativo (gerente geral) e o gerente órgão (sócio gerente):
1) Gerente Geral – é a designação atribuída a uma pessoa a quem se competem as funções de
gerenciar. Quando este cargo é decorrente mandato convencional o gerente será um preposto do
comerciante ou um mandatário. A pessoa que assumir o cargo de gerente geral atribuída pelo seu
preponente (patrão), receberá por seu trabalho mensal um salário.
2) Sócio Gerente – é a designação atribuída ao sócio, que é investido de mandato legal de
administrador e representante legal da sociedade. Quando se trata de sociedade, quem a representa
legalmente são os sócios. A relação do sócio gerente não é de preposição, ou seja, não é preposto nem
preponente, já que é uma relação institucional que ele desenvolve enquanto sócio. O sócio que exercer
a função de sócio gerente receberá mensalmente pelo seu labor mensal, o denominado “pro labore”.
Então, gerente órgão (sócio gerente) não pode se confundir com o “gerente preposto”. Gerente
administrativo pode ser qualquer um dos dois (sócio ou preposto), porque é uma expressão comum,
mas não se pode confundir. O gerente órgão tem sua relação jurídica regida pelo direito societário. Os
sócios empreendedores trabalham, diferentemente dos sócios investidores, que não gerenciam nem
administram. O gerente preposto ganha salário e o sócio gerente é remunerado por pró-labore, porque
ele não é empregado. Todos os sócios têm o direito de gerenciar (poder de deliberação e comando) e
representar a sociedade.
O contador contabilista (preposto ou contratado) não exime o empresário da sua responsabilização; os
dados devem ser lançados pelo próprio empresário.
A preposição empresarial ou mercantil revela a responsabilidade que o preponente assume pelos atos
praticados pelos seus prepostos, em razão do exercício da empresa. Os prepostos poderão atuar no
interior ou fora da casa de comércio. O preposto que atua fora da casa de comércio necessita de
autorização por escrito detalhando os poderes que possui a praticar atos que venham a obrigar o
preponente. É necessária a carta de preposição. Entretanto, no interior da casa de comércio não há
necessidade do preposto ter uma autorização por escrito. Quando os atos forem realizados fora do
estabelecimento, o preponente só responde pelo estabelecido no contrato, ou seja, pelo o que ele
autorizou acordar.

PARTE 2 – DIREITO CAMBIÁRIO

1. INTRODUÇÃO AOS TÍTULOS DE CRÉDITO

1.1. Noções Gerais

O direito cambiário diz respeito à toda teoria geral do comércio, não é referente apenas à letra de câmbio,
apesar de este ter sido o primeiro título de crédito criado pelos comerciantes. Hoje, a letra de câmbio
50

caiu em desuso. O direito cambiário diz respeito a todos os títulos de crédito, alguns, inclusive, passaram
a ser adotados nas relações civis. Ex.: cheque.
Para fins comerciais, o cheque e a nota promissória são muito mais utilizados como títulos de crédito.
No entanto, o cheque, a cada dia mais, vem caindo em desuso.
O título de crédito poderia ser chamado de título de débito ou de título de obrigação, porque é o outro
lado da moeda. Utiliza-se a expressão “crédito”, porque o direito cambiário, geralmente, é analisado pela
visão do credor. Os títulos e crédito, muitas vezes advêm do direito das obrigações.

1.2. Conceito

“Crédito” vem do latim “credere”, que significa acreditar. O crédito pode ser analisado do ponto de vista
econômico, além do ponto de vista jurídico.
- Econômico: crédito é a troca de um bem presente por um bem futuro (credor/devedor). Alguém
recebe o ônus agora, na expectativa de receber depois. Por isso o crédito dá elasticidade às relações
econômicas, pois embora não consista em meio de produção, ele permite a circulação de riquezas. O
prazo corresponde à dilação temporal. Quando se fala em crédito, se fala em fidúcia, que é a confiança
de que o devedor irá cumprir com a obrigação no tempo oportuno. O comerciante só fornece o crédito
quando acredita que o devedor vai pagar. Isso se dá, normalmente, nas pequenas relações. Existem
garantias pessoais e reais. Essa questão de acreditar não é bem assim que funciona com o banco, por
exemplo. Nas grandes relações, as grandes empresas concedem o crédito esperando o inadimplemento
para que seja possível cobrar os juros e demais taxas, mas a regra é que quem concede o crédito
acredita que haverá o adimplemento. Se não houvesse o crédito, a humanidade não estaria onde está
hoje. O crédito, então, tem dois elementos: a) Tempo/Prazo; b) Confiança (Fidúcia - acredita).
- Jurídico: o crédito merece proteção, não pode ficar só na fidúcia, só no acreditar. Assim, o
direito deve oferecer instrumentos de proteção ao crédito para os credores. O crédito é o produto de
uma relação obrigacional, estabelecendo um elo de ligação entre credor e devedor. O crédito é uma
quantia em dinheiro, geralmente (≠ direito civil – obrigações de pagar, entregar ou fazer). As fontes da
obrigação são primárias (ou principais) e secundárias (ou subsidiárias). A lei é fonte primária de
obrigação. A fonte de obrigação por excelência no ramo do direito privado é o contrato (acordo de
vontades com a finalidade e realizar uma relação jurídica; ele deve ser bilateral). O contrato que
estabelece um crédito é uma fonte secundária de obrigação. Outra fonte de obrigação secundária é o
ato ilícito. Os títulos de crédito podem nascer da fonte primária (lei) ou das fontes secundárias (contratos
ou atos ilícitos). Então, sob o ponto de vista jurídico, o crédito sempre é fruto de uma relação
obrigacional, que decorre de: lei (fonte primária), de contratos (pacta sunt servanda - fonte secundária)
e atos ilícitos (responsabilidade civil - fonte secundária).

DECOREBA:
Elementos do Crédito sob o ponto de vista econômico: a) Tempo; b) Fidúcia.
Sob o ponto de vista jurídico: a) Fruto de uma natureza obrigacional (lei, contrato, ato ilícito).

O título de crédito sob o ponto de vista jurídico é um documento e, portanto, meio de prova a comprovar
uma relação de fato ou uma obrigação, bem como o próprio crédito que ele diz conter. O título de crédito
constitui prova documental, e tem grande peso. Ele comprova a existência de obrigação líquida entre o
credor e o devedor, e estabelece um prazo para o seu cumprimento. Existem outros documentos
capazes de comprovar essa relação de débitocrédito, relação de atos ou fatos juridicamente relevantes,
mas não são títulos de crédito e, portanto são inferiores. Os títulos de crédito estão dispostos em um rol
taxativo (numerus clausus), e apresentam vantagens em relação a outros títulos. Por isso,
recorrentemente são utilizados, traduzindo o princípio do pragmatismo do direito empresarial, estas
vantagens são as seguintes: a) executividade imediata (tem eficácia executiva); b) fácil mobilidade
(fácil circulação, negociabilidade). O título de crédito não gera riqueza, não é um fator de produção, mas
gera uma elasticidade para o giro comercial. Ex.: o endosso gera uma cadeia de devedores, e o último
51

a receber é o credor, os demais são co-devedores. O endosso é um ato cambiário. Não há eficácia o
título de crédito sem fundos, mas ele é executável.

Detalhe: TODO O DOCUMENTO NÃO É UM TÍTULO DE CRÉDITO. MAS TODO O TÍTULO DE


CRÉDITO É UM DOCUMENTO. Exemplo: contrato é um documento.

Fábio Ulhoa Coelho cita o ato ilícito como uma fonte de obrigação, que não é a mais comum, mas é
uma das três possíveis. Ex.: há uma batida de trânsito.
1º) “A” sai do carro reconhecendo a sua culpa e o seu dever de indenizar, então pergunta à “B” qual foi
o dano causado e lhe dá um cheque no valor correspondente. Evita-se a ação de conhecimento,
liquidação e fase de execução.
2º) “A” sai do carro reconhecendo a sua culpa, mas não entra em acordo com “B” com relação ao valor
do dano. Assim, evita-se a ação de conhecimento, mas será necessária a execução e a liquidação da
nota de reconhecimento de culpa (ação monitória – não é um título de crédito).
3º) Nem “A”, nem “B” reconhecem a culpa. Então, será necessária a ação de conhecimento, para que
se estabeleça o credor e o devedor, depois a liquidação e a execução.

Conceito é uma expressão teórica que busca delimitar algo. De acordo com Cezare Vivanti: “Título de
crédito é o documento necessário para exercício do direito literal e autônomo nele mencionado.”.
Esse conceito é aceito pela maioria da doutrina, e traz todos os princípios fundamentais que regem o
direito cambiário. Pelo conceito acima exposto, é possível perceber que é indispensável a apresentação
do documento que constitui o crédito (título de crédito), exaltando a funcionalidade e robustez do
documento como meio de prova.

1.3. Princípios Gerais do Direito Cambiário

a) Princípio da cartularidade - “cártula” significa papel ou cartão, é aquele instrumento por meio do
qual se revelam as provas documentais. Os título de crédito é um papel, preenchido com as informações
necessárias. Enquanto princípio, cartularidade significa que o credor deve fazer uso do título de crédito
para exercer suas prerrogativas cambiárias. É credor aquele que porta o documento (título ao portador).
O título deve estar em posse do credor, ele deve ter o papel que representa a obrigação. Se não houver
o documento, o credor não poderá exercer suas prerrogativas cambiárias. Esse documento tem a
finalidade de exercer o direito de crédito. Isso significa que a existência do título é necessária para
perseguir o crédito (cártula), ou seja, exercer o direito cambiário, sendo que o postulante tem que ter a
posse desse documento físico. Para Fábio Ulhoa Coelho, o princípio da cartularidade traz a ideia de que
“o exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe a sua posse”.

b) Princípio da literalidade - o direito é literal, quando exercido por meio da via cambiária. Os títulos
de crédito são, em regra, literais. A literalidade pode ser vista por dois enfoques:
- Externa (ou em abstrato): deve respeitar a forma legal, sem o que o título será apenas um documento
qualquer, e não um título de crédito. O título de crédito deve respeitar um padrão para segurança jurídica.
Então, o princípio da literalidade externa determina que o título de crédito só será tido como tal se tiver
respeitado as formalidades atinentes ao respectivo título, cada título tem uma lei específica que o
regulamenta e traz o seus elementos formais, a fim de que o mesmo possa ser apresentado. Se não
respeitar, pode ser outro documento qualquer, mas não título de crédito.
- Interna (ou em concreto): se refere ao teor, ao conteúdo, extensão e limites dos títulos de crédito.
Então, conforme o princípio da literalidade interna, o título será exercido conforme o que está escrito,
vale apenas o que está escrito no título. Por isso, se necessita da cártula devidamente formalizada.
Qualquer obrigação só é exigível após o seu vencimento e contra quem o título estabelece. O valor se
dá por forma numérica e escrita, para que não haja dúvida ele deverá ser cumprido na sua literalidade.
52

c) Princípio da autonomia - rege o direito cambiário. O título de crédito tem um direito de natureza
autônoma, incumbe a independência interna das obrigações cambiárias. Uma obrigação eivada de
vícios não afeta as demais obrigações existentes no mesmo título de crédito. Então, o título de crédito
é independente de todas as obrigações. A mácula em uma obrigação não macula outra obrigação. Dá
segurança jurídica às obrigações. Cada relação cambiária é independente em relação às demais
realizadas. Ex.: cheque (ordem de pagamento à vista - é um título de crédito impróprio porque não há
prazo) endossado (tem fácil circulação, mas cada uma das obrigações cambiárias pode ser garantida
por aval). Pelo princípio da autonomia todas as obrigações são independentes entre si. Se uma das
obrigações, existentes na corrente, é nula devido à menoridade do sujeito, por exemplo, as demais
obrigações não são maculadas. É em razão disso que os títulos de crédito têm fácil circulação.
- Deste decorre o princípio da inoponibilidade das exceções contra terceiros de boa-fé. Para evitar
abusos, o princípio não vige quando houver má-fé de terceiro. Ainda, decorre deste o princípio da
abstração, ou seja, todo título de crédito, uma vez emitido, torna-se causa em si mesmo, independente
da relação que o originou. A abstração é parcial, eis que ainda é possível trazer à tona situações de
direito material – apenas, porém, antes de haver qualquer endosso (após será abstração total).

Estes são os três principais princípios que representam os títulos de crédito.

d) Princípio da abstração - pode ser considerado um sub-princípio da autonomia. Uma vez emitido, o
título de crédito se desvincula do vínculo jurídico original, e torna-se causa em si mesmo. O crédito
incorpora na cártula de igual modo a uma “cicatriz na face”. O saque do cheque é o preenchimento do
documento. O título de crédito, uma vez emitido, se desvincula da obrigação subjacente. Ex.: cheque
endossado. A relação material existe independente do título de crédito. O título é causa em si mesmo,
independe da relação material, que é regida pelo direito civil, enquanto o título é regido pelo Direito
Cambiário. Alguns autores falam em abstração total e abstração parcial. Na total, todo título de crédito,
uma vez emitido, torna-se causa em si mesmo, independente da relação que o originou. Na parcial, o
título já está abstraído, se desprendeu da obrigação subjacente, mas ainda é possível trazer à tona
situações de direito material – apenas, porém, antes de haver qualquer endosso (após será abstração
total).
- ABSTRAÇÃO PARCIAL X TOTAL (questão de prova) - Abstração é o que está
independente, está autônomo. Por força do princípio da abstração um título de crédito, uma vez emitido,
torna-se autônomo, independente, da causa subjacente. Ele ganha razão em si mesmo. Ganha causa
em si mesmo. Por isso se diz que o título de crédito se abstrai do negócio jurídico subjacente. Isso
garante uma maior circulação do título de crédito. Em que sentido? No sentido de que o credor pode
transferir o título sem necessidade da anuência ou fala com o credor. Se ele puder negociar o título
livremente, e puder entrar diretamente com a execução, melhor e maior a abstração do título. Essa
abstração, porém, pode ainda ser analisada num dúplice aspecto:
a) Abstração parcial - É parcial porque este credor/exequente que sofreu o inadimplemento, vai executar
o título, se ele for ainda o originário (mesmo da relação material), e vai fazer a ação de cobrança em
cima do título de crédito. Pelo fato de não ter negociado o título, o devedor poderá́ opor em sede de
embargos matérias de defesa da RELAÇÃO MATERIAL. Logo, o título apenas se abstraiu parcialmente.
Em resumo, credor e devedor são os mesmos da relação material e no título de crédito. O título de
crédito não entrou em circulação ainda.
b) Abstração total: Porém, se o credor originário repassou o título a outro devedor, e passou a ser um
co-devedor pelo endosso, e o exequente passa a ser o endossatário etc. O título judicial já circulou. O
que determina a abstração total é a colocada em circulação do título de crédito. Exemplo: o endosso.
Quando ele entra em circulação por via de endosso ele se desprende TOTALMENTE da relação
material.

e) Princípio da inoponibilidade das exceções contra terceiros de boa-fé - pode ser considerado um
sub-princípio da autonomia. As exceções não são mais oponíveis contra terceiros, devem ser os
53

mesmos sujeitos intervenientes na relação material e na relação cambiária. Então, da abstração parcial,
passamos a ter uma abstração total, quando a relação cambiária não envolver os mesmos sujeitos da
relação material. O terceiro deve estar de boa-fé. Deve-se provar a exceção e a má-fé do terceiro
para que o princípio não seja aplicado. O título uma vez emitido torna-se causa em si mesmo. O título
é aceito por causa da segurança que o direito cambiário tem. Os títulos sempre surgem em uma relação
material, sempre haverá uma relação subjacente. Não se pode usar como matéria de defesa, para não
pagar o título de crédito, o descumprimento de obrigação material. A inoponibilidade é total e parcial. É
total a partir do momento em que colocou em circulação se dá a abstração total. O endosso é que dá a
abstração total. Pode transferir o título de crédito. Credor pode cobrar de qualquer pessoa da cadeia
desde que tenha cobrado do devedor principal.

- Os princípios mencionados são do estudo clássico. Há quem afirme que o princípio da inoponibilidade
não se aplica nas relações de consumo em razão da proteção trazida pelo CPC.

1.4. Direito Cambiário Moderno

Esses princípios gerais do direito cambiário acima referidos estão calcados na doutrina clássica.
Contudo, alguns desse princípios, em virtude da modernidade, foram mitigados. Por exemplo, o princípio
da cartularidade por força dos meios telemáticos existentes, já que muitos títulos de crédito são emitidos
virtualmente, tem sofrido mitigações. Contudo, ainda para execução do título é necessário o original
(cártula).
Com a evolução da tecnologia, os títulos cambiários passaram a ser feitos por meio eletrônico, o que
vem em contraposição ao princípio da cartularidade. É um momento de transição, mas a cada dia mais,
a via eletrônica vem ganhando espaço, e isso é uma tendência geral, não apenas no direito cambiário
(ex.: processos eletrônicos).
No artigo “O desenvolvimento da informática e o desatualizado direito cambiário” o autor, Fábio Ulhoa
Coelho, usa como primeiro exemplo a duplicata, que era um título de crédito muito comum dentre os
atravessadores. O atravessamento de mercadorias geralmente é feito por parcelas, tendo em vista que
o atacadista não tem crédito suficiente. Ex.: eletrodomésticos – a Arno vende para as Casas Bahia, e
consegue parcelar em diversas vezes, em razão de um montante expressivo. O banco que faz o
adiantamento dessas parcelas para empresa.
À luz dos princípios do direito cambiário, os representantes das empresas (ex.: Brastemp, Arno)
deveriam emitir duplicatas, preenchê-las e levá-las até o banco para descontar. Atualmente, as
empresas não preenchem todas as duplicatas, mas sim organizam os dados no meio eletrônico (ex.:
disquete, CD, pendrive) e levam no banco para descontar. Então, o documento duplicata não existe
mais, há apenas a reunião de dados e o sujeito paga pela guia entregue a ele pelo banco. Ademais,
agora não se leva mais as informações até o banco, e sim se realiza a entrega por meio de envio
eletrônico. Se for necessário promover a execução do título, a duplicata terá de ser emitida, porque a
norma processual exige a presença física do título.
As notas promissórias devem ser destruídas após o seu adimplemento, tendo em vista que se ela cair
nas mãos de terceiro de má-fé, poderá ser cobrada novamente. Atualmente, o modo de pagamento se
dá através da emissão de boletos. Fábio Ulhoa Coelho entende que os documentos bancários que
comprovam a quitação devem ser aceitos em juízo, apesar de não haver essa previsão no direito
cambiário.
De acordo com o CDC, caso o inadimplente seja um consumidor, o princípio da inoponibilidade de
exceções não deve ser aplicado à ele. O que gera muita insegurança para o direito cambiário.

1.5. Classificação dos Títulos de Crédito

1.5.1. Quanto à natureza do direito incorporado – o crédito se incorpora à cártula e a acompanha sempre.
54

a) direitos obrigacionais: título de crédito que se satisfaz pelo pagamento de uma quantia em dinheiro
incorpora natureza de direito obrigacional. São os títulos de crédito propriamente ditos ou próprios. Ex.:
letra de câmbio, nota promissória, duplicata e o cheque (há divergências porque é a ordem de
pagamento à vista).
b) direitos reais: são aqueles que se destinam a atribuir a titularidade sobre os bens ou produtos que
estão neles discriminados. Então, atribuem a propriedade de determinadas mercadorias à determinada
pessoa. A disponibilidade da coisa será atribuída a quem tiver a cártula. São chamados de títulos de
crédito impróprios. Aí que aparecem os armazéns gerais, os diretores desses armazéns, são agentes
auxiliares do comércio (contraria o princípio da tradição, advindo do direito civil, e não coaduna com o
pragmatismo do direito empresarial). Ex.: cártula de conhecimento de depósito, conhecimento de
transporte, warrant.
c) direitos societários: conferem o status (qualidade) de sócio a quem seja o portador das cártulas
(ações). Também são considerados impróprios.

1.5.2. Quanto ao modelo


a) livre: aqui as partes podem dispor acerca da forma e modo de emissão, embora tenha que obedecer
aos princípios cambiários. O emitente pode dispor livremente dos títulos, desde que cumpra seus
elementos formais. São considerados títulos, independente da forma (tamanho, disposição, etc.). Ex.:
são aqueles talões comprados em papelarias.
b) vinculado: é quando o título de crédito tem que obedecer padronização, ou seja, a lei padroniza a
sua forma e por quem pode ser emitido. Ex.: cheque.

1.5.3. Quanto à estrutura cambiária


a) Ordem de pagamento: nesse caso vai apresentar sempre três situações/posições jurídicas distintas,
não necessariamente três pessoas diferentes. Há a figura do sacador (que cria o título de crédito, emite
a ordem de pagamento), do sacado (que é o banco, o destinatário da ordem de pagamento) e do
tomador ou beneficiário (que é o credor da quantia estabelecida na cártula). Ex.: Cheque, duplicata,
letra de câmbio.
-sacador: correntista (emitente);
- sacado: banco (quem recebe);
- tomador: credor (beneficiário).
b) Promessa de pagamento: só tem duas posições jurídicas cambiárias, a do sacador e a do tomador.
Ex.: nota promissória.
– sacador: emitente.
– tomador: beneficiário.

1.5.4. Quanto à menção do negócio subjacente


a) Não causal (abstrato): o abstrato é aquele que se destina a abstrair do negócio subjacente e,
portanto, não precisa indicar a relação jurídica anterior. Não tem vínculo material anterior, não menciona
o negócio que lhe deu origem. Ex.: cheque, letra de câmbio, nota promissória. Incide o princípio da
abstração.
b) Causal (não abstrato): é aquele que depende do lançamento de informações anteriores àquela
relação. É o ato que vinculou o credor e o devedor. A literalidade externa não exige referência à causa
subjacente. Incide o princípio da abstração. Ex.: nota fiscal futura – deve discriminar todos os dados da
compra e venda. Ex.: duplicata – precisa mencionar a causa subjacente.

1.5.5. Quanto à forma de circulação


a) Ao Portador: é aquele que não identifica seu beneficiário, o credor, o titular do crédito, sendo que
aquele que o portar será o seu titular, de acordo com o princípio da cartularidade. Quem alega que
aquele não é o titular então que prove. Circula pela tradição, entrega material do título.
55

b) Nominal: são aqueles títulos que identificam o beneficiário, o credor, o titular do crédito. Os títulos
nominais só podem ser pagos àquela pessoa nele previstos, o que não significa que ele não possa
circular através do endosso, desde que sejam títulos à ordem. Os títulos podem ser:
- à ordem: é aquele em que o credor pode dar a ordem ao devedor para que pague a outrem e,
assim, sucessivamente. Circula por meio do endosso e da tradição. Endossante: Credor. Endossatário:
Beneficiário. Ex.: Cheque. Então são transmitidos pelo endosso, somado à tradição, conforme o princípio
da cartularidade. Deve ter a cláusula à ordem, porque o sujeito deve dar a ordem para que o título seja
pago ao endossatário. A cláusula à ordem é inerente ao endosso, se o título nada disser, ele é à ordem,
porque esta é a regra do direito cambiário.
- não à ordem: veda a circulação por endosso, apenas será transmissível por cessão civil e mais
a tradição. É a exceção dos títulos de crédito. Essa cláusula deve ser expressa e impede o endosso, o
que não impossibilita que ele circule através da cessão civil (cedente e cessionário – deve haver um
contrato de cessão).
Endosso x Cessão Civil: No endosso, há o endossante e o endossatário, que é uma figura
iminentemente atinente ao direito comercial, diferente da cessão, que é uma figura do direito civil. O
regime jurídico da cessão é outro, a pessoa depende, no mínimo, da notificação do devedor, o que
evidencia o formalismo do direito civil, que trava, dificulta a circulação. O endosso é um ato cambiário
e, portanto, unilateral. Já a cessão é um contrato e, portanto, deve ser bilateral. Endosso vem da
expressão italiana “en dorso”, que significa “nas costas”, então o endossante deve assinar no verso do
título.
Obs.: Alguns autores usam “nominativo” para o título que, além de nominal, necessita registro em livro
para transferir (ações).

1.6. Natureza Jurídica dos Títulos de Crédito e da Organização Cambiária

O título de crédito não é em si um contrato. Várias são as propostas para definir a natureza jurídica dos
títulos de crédito. São elas:

a) Teoria Contratualista: a obrigação cambiária encontra seu fundamento em um acordo de vontades


de credor e devedor que se vincularam cambiariamente. Além da relação material subjacente, que via
de regra é um contrato, onde um se torna credor do outro, emite-se um título impresso. Embora não
diga que o título de crédito é um contrato, essa teoria afirma que o título de crédito tem proximidade com
ele, uma vez que nasce do acordo bilateral de vontades entre o devedor (emitente) e o credor (tomador).

b) Teoria da Vontade Unilateral (ato unilateral): a simples vontade do sacador de se vincular já é


suficiente para que ele se vincule ao título cambiário, para criar vínculo cambiário. Aqui afasta-se da
noção de semelhança com contrato, que é bilateral, porque o ato é unilateral, já que o fundamento da
obrigação cambiária é a vontade unilateral do devedor, subscritor do título (emitente), este se vincula
por si só sem necessidade de definição de quem é o credor, depende do devedor (emitente). Se
subdivide em:
- Teoria da Criação: o simples preenchimento do título já é suficiente para vincular
cambiariamente o subscritor, obrigação cambiária (ex.: cheque preenchido).
- Teoria da Emissão: o simples preenchimento não é suficiente, é necessária ainda a circulação
livre e legítima do título, ou seja, é preciso a entrega legítima do título. É preciso que o título saia das
mãos do sacador voluntariamente.
→ A diferença entre essas duas sub-teorias é que se o título for perdido ou furtado na teoria da
emissão não será reconhecida a obrigação nele contida, pois não houve a circulação, o contrário não
acontece com a outra teoria.

c) Teoria Mista (proposta por Vivant): em um primeiro momento, o fundamento é o acordo de vontades,
sem o qual o título não nasce, mas a partir de certo momento, o que importa é a vontade do devedor,
56

esse momento é o endosso. Até a transferência do título aplica-se a teoria da criação (a partir daqui o
devedor não pode impor suas exceções contra o novo credor). Então, a obrigação cambiária tem esse
duplo fundamento, para o sacador vale a teoria da emissão, e para o credor vale a teoria da criação,
porque o título já foi colocado em circulação pelo endosso.

Obs.: O legislador brasileiro adotou todas essas teorias no Código Civil.

Solidariedade Passiva do Direito Civil x Solidariedade Cambiária - Fábio Ulhoa Coelho se preocupa
com a figura da solidariedade, que para ele não se aplica às teorias anteriores. O credor pode cobrar
toda dívida de todos os devedores (solidariedade passiva). O último da cadeira cambiária é o credor,
quando há transferência o credor transfere o título (torna-se co-devedor) àquele a quem passou cobrar
dele e do devedor principal (o primeiro devedor). Há solidariedade passiva entre os co-devedores.
Alguns autores afirmam que deveria haver outro nome que não este que é termo do direito civil. A
diferença é que no direito de regresso, se um devedor pagar ele poderá cobrar dos demais (cada um a
sua parte), já no direito cambiário o devedor que pagou tem direito de regresso na totalidade do valor
que pagou. No direito cambiário, todos os co-devedores posteriores ao que pegou o título ficam
exonerados. Por isso, no direito cambiário, primeiro deve-se cobrar do devedor principal, é uma questão
de economia processual. Só pode cobrar dos devedores anteriores àquele que pagou. Os coobrigados
só vão se vincular com o protesto, porque irá atestar que o credor tentou cobrar primeiro do devedor
principal. No direito cambiário, o adimplemento pelo credor principal, exime os demais de
responsabilidade. No direito civil não há uma ordem na solidariedade. Ademais, no direito civil, o devedor
que cumpre integralmente com a obrigação poderá ingressar com ação de regresso contra os demais,
individualmente, porque extingue-se a solidariedade. No direito cambiário, caso o devedor principal
pague a obrigação, não há direito de regresso. Caso outro co-obrigado pague, ele irá regredir quanto à
totalidade do valor do título, e apenas terá direito à regresso contra os que lhe antecederam na cadeia
cambiária, os que lhe sucederam são eximidos de responsabilidade.

2. Institutos do Direito Cambiário

2.1. Noções gerais

A legislação cambiária é fruto de uma convecção internacional firmada em 1930 por vários países, qual
seja a Convenção Uniforme de Genebra. Então, em 1930, o Brasil assumiu o compromisso de uma
unificação do direito cambiário. Entretanto, começamos a enfrentar algumas problemáticas, porque o
acordo internacional só passaria a valer depois de ser referendado pelo legislativo, e isso só ocorreu em
1966, até lá, o decreto 2044/1908 seguiu valendo.
Essa convenção permitiu que os países criassem reservas, ou seja, não se aplica alguns dispositivos
de convenção. O decreto 2044/1908, é válido até hoje, em alguns aspectos, e não vale a convenção,
ou seja, regula as reservas, os pontos onde a convenção é omissa.
O Decreto 57.663/66 que aprovou a Convenção Uniforme de Genebra no âmbito do direito interno é
válido. Ele foi um decreto do executivo que determinou a aplicação do tratado na época da ditadura.
Embora seja um decreto, ou seja, a convenção não foi referenda pelo legislativo. Por esse motivo, após
a entrada em vigor da CF de 88, houve o questionamento acerca de sua não recepção, uma vez que a
CF condiciona a eficácia de tratados e convenções à aprovação por lei.
Contudo, o STF firmou que é constitucional o decreto 57.663/66. Mas isso ainda não foi suficiente,
porque, como a convenção permitiu que os países estabelecessem reservas, o Brasil estabeleceu 13
reservas, o que quebrou a uniformidade da lei, deixando lacunas, que devem ser preenchidas pelo
antigo decreto 2044/1908.
A duplicata traz mais benefícios do que a letra de câmbio, essa foi criada em 1968, ou seja, após a letra
de câmbio, que era o título original da Convenção. A letra de câmbio não é um título usual no Brasil, ela
é uma ordem de pagamento, que alguém impõe a outrem, para que pague determinada quantia em
57

dinheiro à terceiro. Há três posições jurídicas e uma ordem de pagamento. Normalmente são três
sujeitos envolvidos, mas não necessariamente.
Os institutos do direito cambiário que serão estudados a seguir estão presentes completamente na letra
de câmbio e na duplicata (saque, aceite, endosso, aval). No cheque, apenas está presente a figura do
saque. Assim sendo, os exemplos abaixo levaram em conta a letra de câmbio.

2.2. Saque

É o ato cambiário que constitui/cria/emite o título de crédito. Sacar significa subscrever e preencher o
título.
Ex.: Letra de Câmbio de R$10.000,00.

Aldo (Sacador)

Beto (Sacado) Caio (Tomador/ Benificiário)


Aceite

Sacador: quem emite a ordem de pagamento. É credor do sacado e devedor do beneficiário.


Sacado: É a pessoa que se destina a ordem de pagamento, contra quem ela é emitida, que deve pagá-
la (destinatário da ordem de pagamento). É devedor do sacador e do beneficiário.
Tomador: o beneficiário (credor) originário. É credor do sacador e do sacado.

Ex.: Aldo emite uma ordem de pagamento para que Beto entregue determinada quantia em dinheiro à
Caio. Aldo é o sacador, ele efetua o saque, ou seja, preenche o título de crédito e coloca no mercado.
Beto é o destinatário da ordem de pagamento, que consiste em pagar uma quantia em dinheiro ao
beneficiário da ordem de pagamento, portanto ele é o sacado. Já Caio é o beneficiário da ordem de
pagamento, em favor de quem vai se dar a obrigação, seu nome nesta relação é tomador, expressão
advinda do princípio da cartularidade, ou beneficiário. Caio é o credor originário. Aldo tem um crédito
contra Beto e, por isso, ele determina que Beto pague a Caio, seu credor. Existem relações materiais
entre os sujeitos, através das quais eles se determinam credores e devedores uns dos outros. Uma vez
incorporado na cártula, o crédito se desvincula da relação de direito material subjacente que lhe deu
origem e passa a acompanhar a cártula, conforme o princípio da abstração. Caio, antes de receber,
pode transferir a letra de câmbio a Daniel, que transfere para Eduardo, que transfere para Fábio, etc.
Sendo o último da cadeia o único credor. Todos os negócios se deram pela mesma riqueza
(R$10.000,00).

2.3. Aceite

É um ato cambiário unilateral por meio do qual o sacado concorda em cumprir a ordem de pagamento.
Acolhendo a ordem, além de sacado, passa a ser aceitante, e torna-se o obrigado principal. Recusando
o aceite, não se vincula cambiariamente, mas segue materialmente ligado ao sacador. Acaso ele não
aceite, o título de crédito continua eficaz, não descaracterizando a letra de câmbio. Então, as pessoas
só se obrigam pela livre manifestação da vontade. Para que se dê a vinculação cambiária do sacado
58

(Beto), ele deve realizar o aceite, mas ele pode recusar a ordem de pagamento, o que não
descaracteriza a letra de câmbio, passando a ser responsabilidade do sacador (Aldo).
Essa situação se dá por força de relações subjacentes a ela. Por exemplo, Beto deve para Aldo
R$10.000,00, então, Aldo emite essa letra de câmbio em desfavor de Beto para que pague Caio, com
quem tem uma dívida de R$10.000,00. Contudo, tem que existir o aceite de Beto (sacado) para que isso
ocorra.
Nem todo título de crédito depende de aceite, sendo necessário apenas na duplicata e na letra de
câmbio. O aceite é o ato cambiário por meio do qual o sacado obriga-se cambiariamente. O aceite
materializa-se pela simples assinatura no campo correto – anverso do título (frente). A lei, no entanto,
permite que, com uma expressão que identifique o pagamento, se assine no verso. O sacado não está
obrigado a aceitar, se não houver o aceite, não há obrigação cambiária para ele. Mas os títulos de crédito
têm a executividade imediata, é título executivo e a recusa do aceite, embora não vincule, opera o
vencimento antecipado da letra de câmbio ou duplicata contra o sacador. Isso significa que o credor ou
tomador pode se dirigir imediatamente ao sacador e demais coobrigados para cobrar o crédito
cambiário. Esse vencimento denomina-se de vencimento extraordinário, isso porque o vencimento
ordinário é o que se dá pela fluência do prazo (60 dias).
O tomador, via de regra, se dirige duas vezes ao sacado, em um primeiro momento, apresenta a letra
para o aceite, e, caso o sacado aceite, deve esperar o vencimento da obrigação e, em um segundo
momento, apresentá-la para pagamento (quando já vencido o prazo). No entanto, caso o sacado recuse
o aceite, há o vencimento extraordinário. Mas não é obrigatória a existência de dois contatos com o
sacado, pode se dar em uma única vez, depois de vencida a obrigação e, caso ele se recuse a pagar,
entende-se que não há o aceite, mas ainda há executividade imediata. O sacado não precisa justificar
o não aceite da letra de câmbio (≠ duplicata).
A recusa do aceite é unilateral e totalmente livre, sem que seja prejudicado o título. O aceite do sacado
pode ser parcial, ou seja, o sacado pode recusar parcialmente (limitativo, modificativo). O aceite parcial
traz a mesma consequência da recusa total, qual seja o vencimento antecipado do título, podendo o
tomador voltar-se contra o sacador e exigir a integralidade do crédito. O aceite parcial pode ser: a)
Limitativo (o sacado aceita apenas parte da importância do título); b) Modificativo (recusa
circunstância do título, que não o valor. ex.: prazo, praça de pagamento). O sacado vincula-se
cambiariamente apenas nos termos do seu aceite. A consequência jurídica da recusa parcial é a mesma
da recusa total – o vencimento antecipado da letra contra o sacador em seu valor integral.

Cláusula mandato - É uma praxe que as instituições financeiras realizam para ter segurança jurídica.
No contrato de mútuo (empréstimo oneroso), quando temos mutante e mutuário, há embutido uma
cláusula, cujo teor é um mandato. No que consiste este mandato? O mutuário é o mandante e ele está
outorgando poderes ao mandatário (que poderá ser o próprio banco ou terceiros) para que estes emitam
títulos de crédito em cima daquele contrato. O outorgante dá poderes para que outro pratique eles em
seu interesse, o devedor nomeia o credor para que possa emitir título de crédito contra si para lhe cobrar,
em caso de inadimplemento. O contrato de mútuo tem que passar por um processo de conhecimento.
Logo, o banco gera um título executivo para facilitar a execução. Hoje é entendida como abusiva a
cláusula de mandato. De acordo com a Súmula 60, do STJ, é nula a obrigação cambial assumida por
procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.

Cláusula não aceitável – o sacador pode excepcionar as regras tendo em vista que a letra é de modelo
livre, podendo, inclusive, retirar a necessidade de aceite. O tomador terá de esperar o vencimento para
apresentar a letra ao sacado, para pagamento. Caso ele pague, tem-se que o sacado vinculou-se à
obrigação, aceitou aquela relação. Havendo esta cláusula não há a recusa do aceite, com isso o sacador
se preserva.
59

Prazo de respiro – mediante a apresentação da letra pelo tomador ao sacado, este pode pedir àquele
que leve novamente a letra no dia seguinte. O apresentante não precisa deixar a letra com o sacado,
mas deve lhe conceder esse prazo, caso requerido.

Retenção do título - falta de devolução – muitas vezes o tomador remetia a letra pelo correio para o
sacado, com o fim de que fosse dado o aceite. Nesse caso, há o risco de o sacado não devolver o título
ao tomador. As soluções para coibir este tipo de situação eram duas, mas desde 1998, há apenas uma:
a) crime de apropriação indébita (art.168, CP); b) art.885, CPC (revogado).

Cancelamento do aceite – pode o sacado desconstituir o ato do aceite. A lei o autoriza, desde que ele
risque a sua assinatura antes da devolução do título. É o cancelamento do aceite e não a sua anulação,
como diz a lei.

- A convenção de Genebra utilizou a letra de câmbio como substrato analítico para estudar o saque. A
letra de câmbio é de modelo livre e pode se dar, inclusive, em uma folha de caderno. O decreto nº
57.663/66 é onde estão previstas todas estas questões. A cláusula cambiária é a necessidade de dizer
no texto do documento o nome que aquele título pretende ser. O título de crédito deve ser previsto em
lei que conterá os elementos formais que ele deve ter.

- Requisitos/elementos formais de letra de câmbio (Decreto 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra):


Art. 1º - A letra contém:
1- A palavra "letra" inserta no próprio texto do título é expressa na língua empregada para a
redação desse título; É cláusula cambiária, todo título deve ter seu nome expresso no texto.
2- O mandato (mandado) puro e simples de pagar uma quantia determinada (algarismos e por
extenso); Todo mandado é uma ordem de pagamento. Se houver divergência entre o numeral em
algarismos e por extenso, irá prevalecer o valor escrito por extenso.
3- O nome daquele que deve pagar (sacado); A letra de câmbio deverá indicar o destinatário da ordem
de pagamento, com seu RG ou CPF, e elementos que permitam identificá-lo.
4- A época do pagamento; O prazo estipulado na letra de câmbio. A letra pode ser sacada para dia
certo, determina-se a data do vencimento, ou pode-se lançar um prazo que se conta da data do saque.
5- A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; Onde a letra de câmbio é exigível.
6- O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (endosso); Deve-se identificar o
tomador, o credor da letra. A letra é um título nominal (≠ título ao portador), portanto deve ter destinatário
determinado. O primeiro endossante é o tomador (credor originário).
7- A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; É fundamental para fixar a
competência e a prescrição.
8- A assinatura de quem passa a letra (sacador). É o requisito mais importante de todos.
Pelo princípio da literalidade externa, tem-se que o inscrito deve preencher todos os requisitos formais
para configurar a letra de câmbio.

A doutrina classifica esses elementos em essenciais (1, 2. 3, 6, 8) e não essenciais (4, 5, 7), o art.2º
diz que se algum deles faltar poderão ser supridos pela lei, por isso, são considerados não essenciais.
Conforme o disposto no art.2º, o escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no art.1º n ão
produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados a seguir:
a) Se não é informada a data do título de crédito será à vista, a época do pagamento é suprível;
b) O local do pagamento, se não for especificado será o do domicílio do devedor;
c) O local do saque se não for indicado será o domicílio do sacador.
Há quem afirme que somente um elemento é essencial, que é a assinatura do sacador, isso porque na
prática, o sacador assina o título em branco e o entrega. Entende-se que a emissão de cheque em
branco configura um mandato tácito a quem o porta, desde que obedeça os ditames da súmula 387 do
STF: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de
60

boa-fé antes da cobrança ou do protesto”. Então, de acordo com a Súmula 387 do STF, “em branco”,
salvo assinatura, pode circular e ser preenchido.

2.4. Endosso

É o ato cambiário que opera a transferência do título de crédito, do endossante para o endossatário. É
transferir a legitimidade sobre o crédito que está no título cambiário. O endosso pressupõe a entrega do
título, deve-se proporcionar a cartularidade ao endossatário. O portador é havido como legítimo credor
(≠ detentor). A solidariedade faz com que o endossante se torne coobrigado no pagamento do título.
Operar a transferência do crédito e englobar o endossante como coobrigado são as duas consequências
do endosso.
Endossante (ou endossador): é quem endossa o título cambiário, transmitindo-o ao endossatário. O
primeiro endossante sempre será o tomador, que pode ser o devedor, se endossar para terceiro.
Endossatário: quem recebe o título de crédito do endossante via endosso.

Efeitos do endosso: 1º) Transferir o título do endossante para o endossatário; 2º) Vincula o endossante
como co-devedor do título.

Para que se configure o endosso basta a assinatura no verso do título. A assinatura do sacado, para
configurar o aceite, deve estar na frente do título, os atos só serão considerados se devidamente
identificados. Todo aquele que coloca sua assinatura no sacado, torna-se um co-devedor.
A cláusula à ordem não precisa ser expressa no título. Mas o sacador pode instituir a cláusula de não à
ordem, que impossibilita o endosso de título de crédito. Ele pode ser transferido por cessão civil
(ordinária), mas não cabe endosso (ato cambiário).

Espécies de endosso - o endosso pode ser feito de duas formas diferentes:


1. Em branco: é aquele que não identifica o endossatário, e por não identificar o endossatário é um
título ao portador.
2. Em preto: é aquele que identifica o endossatário e, portanto, é à ordem.

Endosso parcial - não pode. Considera-se nulo, por uma questão de funcionalidade, em respeito ao
princípio da cartularidade. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que estiver
subordinado é considerado não escrito.
Endosso impróprio – é aquele que não transfere o título de crédito, nem o crédito nele incorporado. O
titular do documento opera o endosso impróprio para que ele retire o valor, é uma espécie de procuração
ou mandato. Não se opera a transferência do crédito do endossante para o endossatário. É estranho,
pois viola a própria noção de endosso. Não pode ser transferido o crédito. Há duas espécies de endosso
impróprio.
a) Endosso procuração - Endosso Mandato. O procurador-credor incumbirá alguém de praticar os atos
por ele.
b) Endosso Caução (Endosso Penhor, Endosso Pignoratício ou Endosso garantia) - Muito comum no
campo dos negócios, a pessoa dá como garantia para satisfazer uma devida dívida em questão. É
aquele dado em garantia, em caução (art.18, decreto nº57.663).

Os títulos vinculados a contrato tem validade ou não? De acordo com a súmula 26, STJ: O avalista do
titulo de credito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando
no contrato figurar como devedor solidário.

Obs.: Se o sacado indicar cláusula não a ordem então não é possível endossar, a transferência nesse
caso será só por cessão (art.11) – Princípio da literalidade interna. Toda a letra de câmbio, mesmo que
não envolva expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso. Quando o sacador
61

tiver inserido na letra as palavras "não a ordem", ou uma expressão equivalente, a letra só é
transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. O endosso pode ser
feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer outro co-obrigado. Estas
pessoas podem endossar novamente a letra”.

2.4. Aval

É o ato cambiário em que uma pessoa, o avalista, se compromete a pagar título de crédito nas mesmas
condições que o devedor deste título, o avalizado. É um instituto de garantia de favor, tem natureza
pessoal, e não real (bem que dá a garantia).
O aval equivale à fiança do direito civil, tem a mesma função (garantir o cumprimento da obrigação
cambiária), só que a fiança é contrato e o aval é ato cambiário. O contrato de fiança é acessório vem
sempre vinculado a um contrato principal, já o aval é instituto autônomo.
O avalista pode garantir o saque, o aceite e o endosso, e responde autonomamente, primando-se, então,
pelo princípio da autonomia.
Mesmo que a obrigação do avalizado seja nula, por isso, não poderá o avalista eximir do pagamento,
porque em direito cambiário a responsabilidade é autônoma. Isso porque as relações cambiárias são
independentes, autônomas, consagrando o princípio da autonomia.
O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada (avalizada). A sua
obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que
não seja um vicio de forma (art.32).
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a
favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra.
Ex.: Avalizado é menor, pode-se exigir do avalista o pagamento (princípio da autonomia). Nesse caso,
o avalista pode se sub-rogar no direito creditício do avalizado, permitindo-se o direito de regresso.
O avalista tem direito de regresso contra o avalizado e contra qualquer credor anterior da cadeia
cambiária. Também pode regredir contra todos os anteriores.
O aval é feito mediante a assinatura de quem o pratica, assim como os demais títulos. A assinatura do
sacador no verso, do aceite no anverso.

Classificação do aval:
a) Em preto: é aquele que identifica o beneficiário do aval;
b) Em branco: é aquele em que não é identificado o nome do avalizado. Mas identifica quem? Segundo
a lei, em favor do sacador (quem cria o título de crédito).

O cheque, a duplicata e a letra de cambio são os únicos que tem ordem de pagamento, por isso,
possuem a figura do sacado (relação triangular).
O aval parcial é possível, mas não é muito utilizado, pela inviabilidade que produz. Mas o endosso
parcial é nulo.
Nos avais sucessivos um avalista avaliza o outro – subsidiário. E nos avais simultâneos mais de um
avalista para mesma obrigação – solidário. De acordo com a súmula 189, STF, avais em branco e
superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos.

Diferenças entre aval e fiança:


1. Aval é do direito cambiário, fiança de direito civil;
2. O aval vincula-se aos títulos de crédito, enquanto a fiança vincula-se ao direito das obrigações, mais
especificamente ao direito dos contratos;
3. O aval é um ato cambiário (unilateral e autônomo), já a fiança é um contrato (bilateral e acessório);
4. O aval por ser autônomo mesmo que não possa ser exigida ao avalizado, ela pode ser exigida do
avalista;
62

5. Até 2002 era uma diferença, mas após não, embora ainda seja apresentada. Antes a fiança dependia
da outorga do cônjuge, independente do regime de bens. No aval não era preciso. Atualmente, com o
CC/02, exige-se a depender do regime de bens a autorização do outro cônjuge, tanto para o aval quanto
para a fiança (art. 1.647 CC).
6. No aval não há o benefício de ordem, como ocorre na fiança.

2.5. Vencimento do Título

É o fato jurídico que torna exigível o crédito cambiário mencionado no título de crédito. Pode ser:
a) Ordinário - é aquele que se dá pelo decurso do tempo, do prazo previsto no título, questão temporal,
físico.
b) Extraordinário - é um vencimento que ficto, que se dará pela ocorrência de determinado fato jurídico,
que não o tempo. São eles:
1. Quando há a recusa do aceite: consequência é o vencimento antecipado da obrigação, o sacado
pode voltar-se imediatamente contra o sacador.
Obs: O cheque não tem o fenômeno do vencimento, já que é pagamento à vista. É por esse motivo que
diz-se que é um título de crédito impróprio.
2. A falência do devedor também decreta o vencimento antecipado da dívida: todos os credores
poderão se habilitar.
Há essa necessidade porque somente com o vencimento é que se pode exigir o título, essas situações
apresentadas possibilitam isso ainda que não tenha transcorrido o prazo.

Obs: Na letra de cambio, a fixação do prazo pode ser feita de quatro formas:
1ª. data certa;
2ª. a contar data do saque;
3ª. a partir da data do aceite (dá vista ao sacado);
4ª. à vista.

Há 04 regras que posicionam a relação cambiária:


1ª) O devedor principal é o mais anterior - Ex: letra de cambio (sacado aceitante), nota promissória
(subscritor- criador do título - sacador), cheque (subscritor), duplicata (sacado aceitante). Quem será o
devedor principal? Dependerá do título de crédito.
2ª) O sacador é anterior aos endossantes - Todo e qualquer sacador é anterior ao endossante.
3ª) Endossantes posicionam-se em ordem cronológica, linear - Endossante (devedor) é quem
transfere o título. Endossatário (credor) é aquele que recebe o título, este também poderá ser
endossante e terá um endossatário e assim sucessivamente.
4ª) Avalistas posicionam-se imediatamente após seus respectivos avalizados.

Obs.: Primeiro deve-se tentar cobrar do devedor principal, porque se ele paga não há que se falar em
regresso.
O sacador emite ordem de pagamento ao sacado (devedor) que deve pagá-lo ao tomador (credor). Ex.:
Caio (tomador) é fornecedor de Aldo (sacado) que emite título de crédito contra Beto (sacado) para
garantir o pagamento ao Caio.
Letra de câmbio é uma ordem de pagamento que alguém (sacador) dirige a outrem (sacado) para que
pague determinada quantia em dinheiro a um terceiro (tomador). Para que o tomador possa negociar o
título é necessário que o sacado dê o ACEITE(assinatura no verso).
63

Sacador

Sacado ACEITE Tomador


O credor é o último da cadeia
cambiária, os
anteriores(sacador, sacado, tomador, depois de endosso) são os co-devedores.
Cláusula mandato: contrato de mandato é contínuo do principal. Este geralmente é de mútuo. O
outorgante dá poderes para que outro pratique eles em seu interesse, o devedor nomeia o credor para
que possa emitir título de crédito contra si para lhe cobrar, em caso de inadimplemento.
Aceite: acatamento pelo sacado para pagamento. Sua recusa é legítima. Se dá com a assinatura do
sacado no verso do título.
Consequências da recusa do aceite: não desfigura a letra de câmbio como título de crédito, mas opera
o vencimento antecipado contra o sacador. É possível recusa/aceite parcial que pode ser limitativa
(quando se refere ao valor, o sacado aceita o pagamento de parte do valor) ou modificativo (quando o
sacado aceita, mas altera algum dado do título, ex.: praça de pagamento, prazo para pagamento). O
sacado se vincula nos termos do seu aceite. Mas, para o sacador o título também vence
antecipadamente nesse caso. O tomador cobra o valor integral do sacador que pagando torna-se credor
do sacado(tem que esperar o vencimento).
Cláusula não aceitável: o sacador retira a figura do aceite do título. A letra só pode ser apreendida pelo
pagamento no seu vencimento.
Prazo de respiro: é a possibilidade do sacado poder pedir que o credor tomador volte no dia seguinte
para lhe dar resposta quanto ao aceite.
Retenção do título: existem remédios jurídicos para inibir a retenção do título por parte do sacado no
momento do pedido do aceite.

BANCO DE QUESTÕES:
1) Por que as atividades extrativas da natureza nunca foram tratadas pelo direito comercial?
2) Comente a problemática da teoria dos atos de comércio.
3) Por que os profissionais liberais não são considerados empresários?
4) Comente a natureza jurídica da Eireli.
5) Como é a estrutura e organização dor registro de empresas (RE)?
6) Diferenciar comércio em sentido estrito de comércio em sentido lato.
7) Por que se diz que o Direito Comercial é internacionalista e inovador?
8) Quais os perfis da empresa? Explique.
9) Os profissionais liberais são considerados empresários? Explique.
10) Qual a estrutura e organização do Registro Mercantil?
11) Por que os funcionários liberais não são empresários?
12) Quais as características da fase subjetiva do Direito Comercial?
13) O que a lei determina no exercício da empresa para o servidor público?
14) Diferencie empresa de pessoa jurídica.
15) O que é jurisdição consular?
16) O que é necessário para que um profissional liberal seja considerado empresário?
17) Fale sobre a estrutura e a organização do Registro de Empresa.
18) Quais são os requisitos extrínsecos dos livros empresariais?
19) Quais são as características do empresário?
20) Expliquei a dicotomia do direito privado e qual sua importância para o direito empresarial
21) Por que o direito empresarial é considerado fragmentário?
22) Expliquei como funciona o processo decisório no registro de empresas.
64

23) Quais são os requisitos intrínsecos dos livros comerciais?


24) Como se dá a proteção jurídica do nome empresarial?
25) Conceitue estabelecimento empresarial.
26) Explique a natureza jurídica do estabelecimento.
27) Quais foram as dificuldades da teoria objetiva no direito empresarial?
28) Quais são os requisitos para o direito de inerência.
29) No que consiste o sobrevalor que é agregado ao estabelecimento?
30) Diferenciar comércio em sentido estrito de comércio em sentido lato.
31) Por que se diz que o Direito Comercial é internacionalista e inovador?
32) Quais os perfis da empresa? Explique.
33) Os profissionais liberais são considerados empresários? Explique.
34) Qual a estrutura e organização do Registro Mercantil?
35) Por que os funcionários liberais não são empresários?
36) Quais as características da fase subjetiva do Direito Comercial?
37) O que a lei determina no exercício da empresa para o servidor público?
38) Diferencie empresa de pessoa jurídica.
39) O que é jurisdição consular?
40) O que é necessário para que um profissional liberal seja considerado empresário?
41) Quais são os requisitos extrínsecos dos livros empresariais?
42) Quais são as características do empresário?
43) Explique a dicotomia do Direito privado e qual sua importância para o Direito empresarial.
44) Porque o Direito empresarial é considerado fragmentário?
45) Explique como funciona o processo decisório no registro de empresas.
46) Quais são os requisitos intrínsecos dos livros comerciais?
47) Como se dá a proteção jurídica do nome empresarial?
48) Conceitue estabelecimento empresarial.
49) Explique a natureza jurídica do estabelecimento.
50) Quais foram as dificuldades da teoria objetiva no direito empresarial?
51) Quais são os requisitos para o direito de inerência.
52) No que consiste o sobrevalor que é agregado ao estabelecimento?
53) Diferencie Firma de Denominação.
54) Como se compõe o nome empresarial nos diversos tipos empresariais?
55) Conceitue estabelecimento e sua natureza jurídica.
56) Todos os bens da empresa compõem o estabelecimento?
57) O que significa o sobrevalor do estabelecimento empresarial?
58) Diferencie trespasse de cessão por quotas.
59) Como se dá a proteção ao estabelecimento empresarial? E ao ponto?
60) Quais são os requisitos para o direito de inerência?
61) Quais são as hipóteses de não renovação do ponto comercial?
62) Como funcionam os prepostos?
63) A favor de quem é prestado o aval em branco?
64) O que é saque?
65) Diferencie abstração parcial de abstração total.
66) Explique os títulos de credito quanto a classificação em relação a circulação?
67) O que é endosso impróprio? Exemplifique.
68) Classifique títulos de crédito quanto a estrutura.
69) Quais os efeitos da recusa do aceite?
70) Quais os elementos do crédito sob o ponto de vista econômico e jurídico?
71) O que é cláusula cambiária?
72) O que é a preposição empresarial?
73) Explique o princípio da literalidade.
74) Quais são os efeitos dos títulos vinculados a contratos?

Você também pode gostar