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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

O direito comercial tem início na Idade Média. Para Gladston


e Mamede, a origem está nas regiões de Ur e Lagash
(cidades mesopotâmicas da Idade Antiga), mas o que é aceito
pela maioria é que o começo está com o florescimento das
primeiras cidades (burgos) e o desenvolvimento do comércio
marítimo.

Durante a Idade Média, com a ausência de um Estado


centralizado, as regras eram estabelecidas dentro dos limites
dos feudos.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

Na baixa Idade Média, observa-se a decadência do sistema


feudal e o fortalecimento das cidades, e, socialmente, uma
nova classe começa a ganhar força: a dos mercadores
ambulantes que agora tinham condições de se fixarem, e
precisavam de regras para as suas atividades, que
simplesmente eram ignoradas pelo tradicional direito civil.

Para tanto, começaram a se organizar em corporações, e


desenvolveram regras, baseadas nos costumes, para serem
aplicadas nas relações entre comerciantes. Este é o período
subjetivo do direito comercial.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

Nesse momento, o critério caracterizador do comerciante é a


participação na corporação de ofício (de artesãos,
comerciantes etc.), não importando o que o comerciante faça,
mas se pertence ou não a uma determinada corporação.

O direito comercial é um direito de uma determinada classe.


De acordo com Marlon Tomazette, tal sistema também se
refletiu no Brasil durante o século XVIII e a primeira metade
do século XIX, quando as normas tratavam dos “homens de
negócios, seus privilégios e sua falência”.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

Na Idade Moderna, com a centralização do poder político nas


mãos do monarca, o direito também será uma atribuição do
Estado.

Nesse período, o direito comercial não está mais restrito às


atividades dos comerciantes.

Exemplo disso é o surgimento dos títulos de crédito, que na


sua criação estão ligados às relações comerciais, mas com a
sua circulação, tornavam-se um direito autônomo.
O critério adotado nesse período, como resposta ao período
anterior, é o objetivo, ou seja, superado o direito das
corporações, a definição de comércio depende dos atos
realizados, se são ou não comerciais, e não das pessoas que
os realizam.

A legislação que marca esta nova visão do direito comercial, é


o Código Francês de 1807, que adota a teoria dos atos do
comércio, ou seja, o comerciante é quem pratica
determinado ato definido na lei como ato típico da atividade
comercial.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

Como era de se esperar, também este período foi superado,


já que não era possível prever e relacionar todos os atos que
poderiam ser comerciais.

O terceiro e atual momento é o iniciado pelo Código Civil


italiano de 1942. O foco agora não são os atos comerciais,
mas a atividade realizada pelo empresário.

No Código Civil italiano de 1942 ocorre a unificação do


direito privado, de tal modo que num mesmo ordenamento,
em um mesmo conjunto de normas são regulados o direito
civil e o direito comercial.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

Assim, por exemplo, as normas que regulam as relações


obrigacionais são aplicáveis tanto para as operações
corriqueiras de consumidores quanto para as complexas
relações entre empresários.

Também é nesse ordenamento, que se adota a teoria da


empresa, abandonando-se o termo “comércio” e adotando-se
o termo “empresa”.
1º PERÍODO Corporações de • Comerciante é definido por
IDADE MÉDIA Ofício sua participação nas
corporações

• Comerciante é definido pela


2º PERÍODO prática dos atos de comércio.
SÉCULO XIX Código Francês
1807 • Teoria dos atos de comércio.

• Unificação do direito privado


3º PERÍODO Código Civil
SÉCULO XX italiano 1942 • Empresário é definido pela
prática de atividade
organizada

• Teoria da empresa
Evolução do direito empresarial no Brasil

No Brasil, durante todo o período de colonização, se aplicava


apenas as normas portuguesas (por exemplo, as Ordenações
Filipinas).

Com a vinda da Corte para o Brasil em 1808, a colônia


brasileira passa a ser o centro do império português.

Além disso, a abertura dos portos às nações aliadas de


Portugal fez com que fosse criada a “Real Junta de Comércio,
Fábrica e Navegação deste Estado do Brasil e seus Domínios
Ultramarinos”, por um alvará real em 23-8-1808.
Evolução do direito empresarial no Brasil

Em 1815, passa a ser designada “Real Junta de Comércio,


Fábrica e Navegação do Império do Brasil” e perdura até 1850
com a publicação do Código Comercial de 1850.

A Real Junta de Comércio, além de resolver inicialmente


conflitos ultramarinos, cuidava das matrículas dos
negociantes e das certidões necessárias à época.

A nossa primeira regulamentação é o Código Comercial de


1850, que segue a influência do Código francês de 1808,
adotando, portanto, o critério objetivo da teoria dos atos de
comércio.
Evolução do direito empresarial no Brasil

Embora não houvesse uma relação dos atos de comércio no


Código Comercial, o Regulamento 737, também de 1850,
definia em seu art. 19 quais atos seriam de comércio:

“§ 1º A compra e venda ou troca de efeitos móveis ou


semoventes, para os vender por grosso ou a retalho, na
mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso.

§ 2º As operações de câmbio, banco e corretagem.

§ 3º As empresas de fábricas, de comissões, de depósito, de


expedição, consignação e transportes de mercadorias, de
espetáculos públicos.
Evolução do direito empresarial no Brasil

§ 4º Os seguros, fretamentos, riscos e quaisquer contratos


relativos ao comércio marítimo.

§ 5º A armação e expedição de navios”.

O comerciante era definido como quem praticava a


“mercancia”, o comércio.

O problema era que o Código Comercial de 1850 não definia


o que era a “mercancia”.
Evolução do direito empresarial no Brasil

Carvalho de Mendonça diferencia os atos de comércio, em


três tipos:

• atos de comércio por natureza, que são os negócios


jurídicos relacionados ao “exercício normal da indústria
mercantil”. Neles se observa a habitualidade ou
profissionalismo, a finalidade lucrativa e a intermediação, que
significa não adquirir a mercadoria como destinatário final e
sim aproximar o produtor ao consumidor final;
Evolução do direito empresarial no Brasil

• atos de comércio por dependência ou conexão, que são atos


originalmente civis, mas por terem sido realizados no
interesse da atividade comercial, adquirem a conotação de
atos de comércio, é o caso, por exemplo, da compra de
mesas e cadeiras para um restaurante ou um freezer para um
bar;

• atos de comércio por força de lei, que são caracterizados


como ato de comércio simplesmente por força de lei, como,
por exemplo, os atos realizados pelas sociedades por ações.
Evolução do direito empresarial no Brasil

O Regulamento 737 foi revogado em 1875, mas sua lista de


atos de comércio continuou sendo utilizada, o que, na prática,
gerava problemas, pois vários atos, por não pertencerem à
lista, não eram considerados comerciais, como a compra e
venda de imóveis, a atividade rural, a prestação de serviços,
entre outros.

Dessa necessidade, e por influência do Código Civil italiano


de 1942, o Brasil, antes mesmo do Código Civil de 2002,
começa a adotar a teoria da empresa, como pode se notar,
por exemplo, na Lei n. 8.934/94, que trata do Registro de
Empresas Mercantis.
Evolução do direito empresarial no Brasil

Com o Código Civil de 2002 adota-se oficialmente a teoria da


empresa e ocorre a unificação, ao menos formal, do direito
civil com o direito empresarial.

Esta unificação formal não é absoluta, já que parte do Código


Comercial de 1850 ainda continua em vigor, e o direito
empresarial continua a ser disciplinado por várias leis
especiais, tais como a Lei n. 6.404/76 (sociedades anônimas),
o Dec. n. 57.663/66 (letra de câmbio e nota promissória), a Lei
n. 7.357/85 (cheque), a Lei n. 8.934/94 (registro de empresas)
etc.
Evolução do direito empresarial no Brasil

Agora o empresário é definido de acordo com o art. 966 do


Código Civil de 2002, como quem “exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços”.

TEXTO NORMATIVO INSPIRAÇÃO TEORIA

Código comercial Código francês Teoria dos atos do


(1850) (1807) comércio

Código civil Código civil italiano Teoria da empresa


(2002) (1942)
Conceito e autonomia do direito empresarial

O direito empresarial possui autonomia formal e material, já


que além de regras especiais que regulamentam a disciplina,
temos um corpo de normas específico, o Código Comercial de
1850.

Essa autonomia é questionada, quando o Código Civil de


2002 trata num mesmo ordenamento o direito civil e parte das
regras do direito empresarial.

Entretanto, a autonomia não se perdeu, já que apenas uma


parte do direito empresarial foi tratada no Código Civil de
2002.
Conceito e autonomia do direito empresarial

Outras leis continuam a compor o ordenamento empresarial


como a Lei n. 11.101/2005, que trata da recuperação de
empresas e da falência, a Lei n. 7.357/85 que regula o
cheque, a Lei n. 9.279/96 que trata da propriedade industrial
entre outros, sem contar que o próprio Código Comercial
continua em vigor em relação ao comércio marítimo.
Conceito e autonomia do direito empresarial

E ainda que se falasse na perda relativa da autonomia formal,


a autonomia material foi mantida, que, no dizer de Marlon
Tomazette, significa entre outras coisas a manutenção de
princípios próprios, que são: “a simplicidade das formas, a
onerosidade, a proteção ao crédito, o cosmopolitismo”.

A simplicidade das formas é necessária em virtude da


velocidade das relações econômicas.

A onerosidade se observa no objetivo claro do empresário em


lucrar com sua atividade.

O crédito é essencial para a manutenção da atividade


econômica, enquanto o cosmopolitismo reflete a globalização
das relações empresariais.
Conceito e autonomia do direito empresarial

Como se tudo isso não bastasse, a autonomia do direito


empresarial é assegurada pela CF/1988, no art. 22, I, que, ao
tratar da competência privativa da União para legislar sobre
diversas matérias, explicitou que entre elas estão o “direito
civil” e o “direito comercial”.

Portanto, não resta dúvida de que se trata de matérias


diferentes e autônomas.

A nomenclatura “direito empresarial” se mostra mais


adequada do que simplesmente direito comercial, pois a
preocupação da disciplina não está apenas na atividade de
intermediação de mercadorias, mas também na produção, na
prestação de serviços bem como em todas as relações
necessárias para viabilizar a atividade empresarial.
Conceito e autonomia do direito empresarial

O direito empresarial é, portanto, o ramo do direito que tem


por objeto a regulamentação da atividade econômica
daqueles que atuam na circulação ou produção de bens, bem
como na prestação de serviços.
Objeto e princípios do direito empresarial

Objeto: é o estudo dos meios socialmente estruturados de


superação dos conflitos de interesses envolvendo
empresários ou relacionados às empresas que exploram a
atividade empresarial.

Princípios constitucionais econômicos:

•Soberania nacional
•Livre-iniciativa
•Livre concorrência
•Liberdade de contratar
•Valor social do trabalho
•Direito de propriedade e
•Proteção ao consumidor
Soberania nacional:

Quando o Poder Constituinte Originário define a soberania


nacional como um princípio constitucional econômico, o
objetivo é o de delimitar os destinatários da Ordem
Econômica prevista na Constituição Federal de 1988, ou seja,
estabelecer quem se enquadra como iniciativa privada.

Regra geral, neste país, a iniciativa privada será entregue a


quem for brasileiro, nato ou naturalizado. Excepcionalmente, o
estrangeiro poderá exercer atividade econômica no Brasil.
Para tanto, necessitará de autorização do Poder Executivo
Federal, manifestada através de visto temporário, em se
tratando de estrangeiro pessoa natural, ou de decreto do
Poder Executivo, se for pessoa jurídica.
Livre iniciativa:

Por tal princípio, é entregue à iniciativa privada a liberdade de


escolha referente ao segmento de mercado que pretende
atuar.
A ordem econômica constitucional guarda assim feição de
economia capitalista e não de economia centralizada – onde o
Estado define o ramo de atividade econômica para o agente.

Tal liberdade, porém, não é absoluta, encontrado na


legalidade a sua principal barreira, haja vista a livre-iniciativa
ser exercida nos termos da lei.
Livre concorrência:

Com efeito, se eu componho a iniciativa privada e se sou eu


quem escolhe o ramo da atividade econômica que eu atuarei,
nada obsta que eu escolha o mesmo segmento de mercado
do meu vizinho.

Pode-se, portanto, livremente exercer o direito de


concorrência.

Porém, a livre concorrência também não é absoluta, sendo


temperada pela lealdade. A concorrência, apesar de livre,
deve ser também leal; por isso, o direito não tolera o desvio
ilícito de clientela e reprime os atos de concorrência desleal.
Liberdade de contratar:

Trata-se da faculdade atribuída aos agentes econômicos de


escolher se contrata ou não, com quem contrata, por qual
valor, por quanto tempo etc., englobando também a liberdade
contratual – a liberdade de definir o conteúdo do contrato.
Valor social do trabalho:

Além de princípio constitucional econômico, é, ao lado da


livre-iniciativa, fundamento da ordem econômica brasileira.

Ao contrário do que se apresenta no Direito do Trabalho, é um


princípio econômico e, portanto, muito mais empresarial do
que trabalhista. Guardando relação com a onerosidade
enquanto característica essencial para o Direito Empresarial,
significa: “a cada trabalho realizado deverá ser assegurada a
competente remuneração”.

É isso o que justifica se anular um contrato de trabalho com


um menor e, ainda assim, ser obrigado a pagá-lo pelos dias
trabalhados.
Direito de propriedade:

Deve-se assegurar o direito de propriedade, em razão, não de


uma eventual e suposta “função social” que a propriedade
possa vir a ter, mas sim de sua função econômica, de sua
utilidade, qual seja servir de objeto para uma relação de
mercado, visando a circulação de riqueza, a partir de uma
visão mais dinâmica do que a concepção civilista sobre esta
temática.
Proteção ao consumidor:

A proteção ao consumidor também foi alçada à condição de


princípio constitucional econômico. Na medida em que o
consumidor “tem sempre a razão” e existe informações
assimétricas relevantes entre ele o seu fornecedor, é preciso
que haja a sua tutela jurídica.
FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

São fontes do direito empresarial: a lei e os costumes. A lei


civil ou empresarial será fonte do direito empresarial se puder
ser aplicada ao caso concreto, de acordo com as regras de
interpretação.

As leis, que são fontes do direito empresarial, encontram-se


em grande medida no Código Civil no Livro II, “Do Direito da
Empresa” e no Título VIII do Livro I, “Do Direito das
Obrigações”, que trata dos “Títulos de Crédito”, e que são
aplicados quando houver a omissão das leis especiais, como
o Dec. 57.663/66, a Lei n. 5.474/68, a Lei n. 7.357/85, entre
outras. Além da Lei n. 6.404/76, que trata das sociedades por
ações, e da Lei n. 11.101/2005 que trata da recuperação de
empresas e da falência, entre outras.
FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

É importante ressaltar que o Código Comercial de 1850,


apesar de ter sido quase todo revogado, ainda continua
parcialmente em vigor e é fonte para o comércio marítimo
(Parte Segunda).

Quanto ao costume, chamado de “usos comerciais”,


certamente foi a origem de todo o direito empresarial, quando
as regras eram definidas pelas Corporações de ofício.

E os usos, para que se transformem numa regra implícita de


uma comunidade, devem ser praticados reiteradamente, por
certo tempo, e com o reconhecimento voluntário dessa
comunidade.
FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

Requião classifica os usos em dois grupos:

• usos propriamente ditos ou de direito, que são os aplicados


pela vontade do legislador e por isso são aplicados
imperativamente;

• usos interpretativos ou convencionais, que surgem pela


vontade das partes.
FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

Em todo o caso os usos não podem prevalecer sobre a lei,


não se admitindo os costumes contra legem. É importante
ressaltar que as normas coercitivas não podem ser alteradas
pela vontade das partes, enquanto as normas dispositivas
podem ser alteradas pela vontade das partes.

No Brasil, compete às Juntas Comerciais fazer os


assentamentos dos usos e práticas comerciais (art. 8º, VI, da
Lei n. 8.934/94).
FONTES SUBSIDIÁRIAS DO DIREITO EMPRESARIAL

São normas que servem de apoio para a solução de questões


de relevante importância para o Direito Empresarial:

•LeisCivis: na falta de uma norma expressa ou de uma lei


especial para o caso, recorre-se às leis civis.

•Doutrina: ela surgiu na Roma Antiga e compreendia a


interpretação pelos jurisconsultos de matéria de alta
relevância. Compõe-se dos trabalhos forenses, tratados,
pareceres e opinião dos mestres.
FONTES SUBSIDIÁRIAS DO DIREITO EMPRESARIAL

São normas que servem de apoio para a solução de questões


de relevante importância para o Direito Empresarial:

•Jurisprudência: é o conjunto de julgados que são proferidos


pelos mais importantes tribunais do país, de modo constante
e uniforme. A jurisprudência, porque são emanadas pelas
altas cortes de Justiça, tem grande poder de persuasão. Para
que a jurisprudência seja obedecida é necessário que seja
predominante.

•Usos e Costumes: são as normas que são observadas de


modo uniforme e público pelos comerciantes de uma região e
por eles considerado obrigatório para, na ausência da lei,
regular as questões comerciais.
FONTES SUBSIDIÁRIAS DO DIREITO EMPRESARIAL

São normas que servem de apoio para a solução de questões


de relevante importância para o Direito Empresarial:

•Analogia: é o ponto de semelhança entre coisas diferentes.


Juridicamente, podemos definir a analogia como uma
operação lógica pela qual suprem-se as omissões da lei,
aplicando-se as normas de direito que disciplinam casos
semelhantes. Através da analogia é possível aos juízes
decidirem questões diferentes através de pontos de
semelhança.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

EMPRESÁRIO

Seguindo o modelo italiano de 1942 e diante das


necessidades de ampliação da tutela para determinadas
atividades econômicas surgidas com o passar das décadas
como fonte de circulação de riquezas, o legislador brasileiro
adotou o conceito de empresário presente no caput do art.
966 do Código Civil.

Assim, empresário é aquele que exerce profissionalmente


atividade econômica organizada, ou, talvez melhor, atividade
economicamente organizada.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

A profissionalidade decorre da exploração não ocasional


dessa atividade; essa conduta ou atividade não pode exaurir-
se em um ato singular, mas deve consistir em série de atos
para atingir um objetivo comum.

Assim, a profissionalidade indica a habitualidade no exercício


da empresa.

A organização a que o legislador se refere, embora natural do


conceito econômico de empresário, representa o aparato
produtivo que coordena os meios de produção (PAOLUCCI,
2008, p. 5) por meio da reunião de quatro fatores de
produção: capital, mão de obra, tecnologia e insumos.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

Assim, o empresário se vale do trabalho de outras pessoas,


capitaliza-se com recursos próprios ou de terceiros e com
esse capital e trabalho busca um fim produtivo, com intuito de
lucro.

Sem essa organização, a atividade econômica não será


considerada profissional e, portanto, não será abrangida pelo
direito empresarial.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

Além dessa hipótese do caput, ainda deve ser considerada


empresária a atividade rural desde que o sujeito que a explora
o faça de forma organizada e esteja inscrito na Junta
Comercial, nos termos do que dispõe o art. 971 do CC.

Desse modo, será considerado empresário agrícola quem


explora atividade rural profissionalmente criando riquezas.

Também, independentemente do seu objeto, é considerada


empresária a sociedade por ações (art. 982, parágrafo único).
Sociedade por ações ou sociedade anônima sempre será
empresária.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O empresário rural

A atividade rural no Brasil à época de vigência do Código


Comercial não era considerada empresária, pois não estava
incluída como ato do comércio, naquela classificação.

A exploração dos recursos rurais, em qualquer de suas


modalidades (agricultura, pecuária etc.), era concebida como
simples exercício do direito de propriedade ou outro direito
real ou obrigacional que tivesse por objeto a exploração da
terra.

Era exercida por núcleos familiares que trabalhavam a terra


sem a finalidade principal de produzir riquezas, mesmo que
dela tirassem seu sustento.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O empresário rural

Essa realidade sofreu profundas modificações. A atividade


rural foi tendo seu perfil modificado para atender a novas
necessidades do mercado de consumo, interno e externo,
principalmente com novas tecnologias.

Ao reconhecer a atividade rural como empresária, o Código


Civil rompe a regra do nosso passado rural.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O empresário rural

Desse modo, aos pequenos grupos familiares foram


agregados insumos e tecnologia para a produção mais
eficiente.

Pode-se afirmar que atualmente há duas espécies de


atividades rurais: o agronegócio e a agricultura familiar.

Aquele que explora o agronegócio certamente interessa fazê-


lo de forma empresarial. Para tanto, o legislador, atento a
essa necessidade, possibilitou o exercício da atividade rural
de forma empresarial, desde que seja requerida a inscrição na
Junta Comercial.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O pequeno empresário

A limitação da responsabilidade patrimonial, decorrente das


sociedades de responsabilidade limitada e unipessoal, pessoa
jurídica de uma só pessoa, também é forma de incentivo, pois
o patrimônio particular do sócio, como regra geral, não sofre
extensão da responsabilidade, senão quando ocorre fraude.

Mas esse incentivo não é suficiente. Diante desse quadro, o


legislador criou outros incentivos direcionados a classes que,
embora fossem capazes de produzir de forma organizada,
não o fazia diante de inúmeras exigências legais.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O pequeno empresário

Assim, os pequenos empresários com potencial, no setor rural


e urbano, mas que não se arriscavam na atividade
empresarial, foram beneficiados pela lei como incentivo para
ingressarem na empresa formal, nos termos do disposto no
art. 970. Essa norma tem caráter programático, estando em
sintonia com preceitos constitucionais.

O art. 170, IX, da Constituição Federal traz como um dos


princípios básicos da ordem econômica o tratamento
diferenciado, favorecendo empresas de pequeno porte, desde
que obedecida a legislação ordinária. O art. 185, parágrafo
único, da Constituição Federal menciona genericamente o
mesmo princípio para a empresa rural.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O pequeno empresário

As prerrogativas aplicáveis aos pequenos empresários são


encontradas em legislação própria, como a que prevê a
redução da carga tributária, por meio de enquadramento do
empresário no SIMPLES – Sistema Integrado de Pagamento
de Impostos e Contribuições das Microempresas e das
Empresas de Pequeno Porte (Leis 9.371/96 e 9.841/99).

MEI – Esta é a sigla para o Microempreendedor Individual.


Trata-se de empresário individual, criado pela Lei
Complementar nº 123/2006. O tipo foi criado pela Lei
Complementar nº 123/2006  e alterado pela LC 155/2016,
devendo ter faturamento anual de até R$ 81 mil, podendo se
ajustar ao Simples Nacional.
EMPRESA E EMPRESÁRIO

O pequeno empresário

O MEI não pode ter participação em outra empresa como


sócio ou titular.

Em contrapartida, pode ter um empregado que receba salário-


mínimo ou o piso da categoria.

Será enquadrado no Simples Nacional e fica isento dos


tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL).
Paga apenas o valor fixo mensal pequeno dependendo da
categoria que será destinado à Previdência Social e ao ICMS
ou ao ISS. Essas quantias são atualizadas anualmente, de
acordo com o salário mínimo.
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