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Contencioso Administrativo
e Tributário
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APONTAMENTOS
2.º Semestre
Aulas teórico-práticas
Índice
PARTE I. CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO ......................................................................................................................... 7
1. O direito de acesso aos tribunais administrativos e o princípio da tutela jurisdicional efetiva ......................... 12
Cap. IV. Âmbito da jurisdição administrativa e organização judiciária administrativa. Conflitos de jurisdição e de
competência. ............................................................................................................................................................................................. 18
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Aulas teórico-práticas
2.2. Intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias (arts. 109º e ss. CPTA) ................... 55
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Aulas teórico-práticas
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Aulas teórico-práticas
1.1. Princípio da verdade material (art. 13º, nº2 CPPT) ......................................................................... 131
3.2. Ação para reconhecimento de direitos ou interesses (art. 145º CPPT) ........................................ 142
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Nota prévia:
Os presentes apontamentos baseiam-se na frequência das aulas teórico-práticas de Contencioso
Administrativo e Tributário, lecionadas pelos Professores Doutores Luís Filipe Colaço Antunes e
Diogo Feio, no ano letivo 2018/2019 (2º Semestre).
Ressalva-se a existência de quaisquer erros, incompletudes ou imprecisões, e incentiva-se a uma
leitura atenta e crítica dos apontamentos. Estes apontamentos constituem um material de estudo
complementar, que deve ser lido em conjugação com a bibliografia obrigatória recomendada.
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Aulas teórico-práticas
12.02.2019
Como iremos ver, os poderes do juiz são variáveis consoante a natureza vinculada ou
discricionária da atividade administrativa. Se o ato é o epílogo de uma atividade administrativa
estritamente vinculada, o juiz não só pode condenar a Administração Pública a praticar o ato tal como
foi pedido pelo autor, como pode emitir uma sentença substitutiva do ato, produzindo os mesmos
efeitos. Se a atividade administrativa for discricionária quanto ao quid, quanto à determinação do
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conteúdo do ato, o juiz apenas pode condenar a Administração a praticar um ato administrativo
qualquer, mas não pode determinar o conteúdo do ato, porque isso é reserva da Administração. Se a
lei conceder liberdade à Administração de praticar ou não o ato, o juiz não pode sequer condená-la a
praticar um qualquer ato administrativo.
O contencioso administrativo tem como finalidade principal e muitas vezes entendida como
exclusiva a de garantir e proteger os direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares. Esta
visão finalista está um pouco ligada ao início do contencioso administrativo. De facto, é esta ainda hoje
a sua finalidade mais relevante, mas não é a única. O princípio da legalidade “não tem apenas um
senhor, tem dois”: o princípio da legalidade (em termos amplos, o princípio da juridicidade) visa,
naturalmente, em primeiro lugar, tutelar as posições jurídicas dos particulares face à Administração,
mas também garantir que a Administração concretize o interesse público em termos juridicamente
válidos. O objeto, os litígios emergentes das relações jurídico-administrativas não se podem confinar à
relação jurídico-administrativa entre particulares e Administração, há também conflitos entre entidades
administrativas, e ainda conflitos interorgânicos.
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Convém fazer uma referência aos principais modelos históricos de justiça administrativa, a fim
de tentar perceber, quer a sua evolução, quer as opções de sistema que ainda hoje se oferecem ao
legislador. Referirmo-nos-emos apenas aos modelos que têm sido adotados no espaço euro-continental
ou latino-germânico: pressupõe-se um sistema de administração executiva ou de ato administrativo,
em que a lei regula primariamente em termos substanciais toda a atividade administrativa e, em
determinada medida, atribui à Administração autoridade para tomar decisões unilaterais obrigatórias
para os particulares, conformadoras da respetiva esfera jurídica, dotadas de força executiva
(excecionalmente, até mesmo executória) e suscetíveis de, salvo nulidade, adquirirem a estabilidade de
caso resolvido, se não forem impugnadas dentro de certo prazo, ou seja, um sistema diferente do
modelo inglês de administração judiciária (que não vamos aqui desenvolver).
1 VIEIRA DE ANDRADE fala, para além desta diferença essencial, em critérios complementares a que por vezes se recorre,
que pela sua ligação com os modelos históricos mais conhecidos, poderiam indiciar também o caráter predominantemente
objetivista ou subjetivista do processo: a entidade competente para o controlo, a conceção do processo, o âmbito do
controlo, os poderes do juiz e os efeitos do caso julgado. Trata-se, porém, de meros indícios.
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facultativos, são autênticos tribunais (arts. 209º e 212º CRP), que gozam dos mesmos poderes de
decisão e de condenação dos tribunais comuns.
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os seus vícios, é também a proteção efetiva da posição jurídica do particular eventualmente lesado por
essa atuação administrativa. Hoje já não basta anular o ato (isso seria um sistema objetivista puro), é
preciso substitui-lo, através das ações de condenação, por outro que satisfaça os interesses do
particular. O particular dispõe, hoje, de uma tutela efetiva a vários níveis – desde logo a nível cautelar
(que era um défice da justiça administrativa até 2002-2004; e também a nível executivo (o tribunal não
dispunha de meios que obrigassem a Administração a executar as sentenças, hoje não é assim, o juiz
dispõe de meios que obrigam a Administração a cumprir o que foi decidido, nomeadamente através
das sanções pecuniárias compulsórias). A tutela efetiva é hoje plena.
Que o sistema de justiça administrativa consagra todas as garantias dos particulares face à
Administração não há dúvidas. O que começa a faltar é o outro lado, não por defeito da justiça
administrativa mas por defeito do Direito Administrativo substantivo. O Direito Administrativo é um
Direito “híbrido”, a Administração é maioritariamente constituída por pessoas coletivas de direito
privado. O prof. entende que falta a outra garantia, a outra legitimidade, a Administração é cada vez
menos Administração, o Direito Administrativo é cada vez menos público. Para quê duas ordens
jurisdicionais autónomas quando o regime jurídico substantivo que aplicam é substancialmente o mesmo? O critério,
hoje, não é a personalidade jurídica pública, é a capacidade jurídica pública do ente. A doutrina
“rende-se” quando se trata de Direito Administrativo substantivo, defendendo depois uma justiça
administrativa. É este o problema.
19.02.2019
Parece haver um consenso na doutrina quanto à determinação dos momentos normativos que
integram a garantia de uma tutela judicial efetiva dos direitos dos cidadãos. A esse propósito, costumam
destacar-se:
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No que respeita às relações jurídicas administrativas, essa garantia põe especiais exigências, na
medida em que está em causa, regra geral, uma relação entre um particular e uma entidade dotada de
um poder público, circunstância que ganha relevo sobretudo quando se trata de executar uma sentença
desfavorável a uma autoridade administrativa.
1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses
legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se
acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
3. A lei define e assegura a adequada proteção do segredo de justiça.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em prazo razoável e
mediante processo equitativo.
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais
caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou violações
desses direitos.
O art. 20º CRP garante, em geral, aos cidadãos o direito de acesso ao Direito e aos tribunais
para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, bem como os direitos à informação e
consulta jurídica e ao patrocínio judiciário (nºs 1 e 2) – direito geral à proteção jurídica, que constitui
um direito-garantia dos cidadãos. O núcleo essencial desta garantia é constituído pelo direito à proteção
pela via judicial, que, para além de dimensões prestacionais típicas de direitos sociais (direitos ao apoio
judiciário), possui dimensões substanciais, que compõem o direito a uma decisão em prazo razoável e
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mediante processo equitativo (previsto no nº4). Nesse sentido, o direito à proteção jurídica integra o
conjunto dos direitos, liberdades e garantias e impõe a instituição legislativa de garantias processuais
adequadas.
1. As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas na forma prevista na lei.
2. As decisões dos tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas e privadas e prevalecem sobre as
de quaisquer outras autoridades.
3. A lei regula os termos da execução das decisões dos tribunais relativamente a qualquer autoridade e
determina as sanções a aplicar aos responsáveis pela sua inexecução.
O direito à proteção judicial é ainda reforçado, ao nível constitucional, pelo art. 205º CRP, que
determina, nos nºs 2 e 3, a obrigatoriedade das sentenças para todas as autoridades e a imposição de
legislação que garanta a sua execução efetiva (VIEIRA DE ANDRADE coloca a questão de saber se este
preceito estabelece uma garantia institucional ou se, associado ao direito à proteção judicial, constitui
um verdadeiro direito subjetivo à execução das decisões jurisdicionais).
Suscita-se a questão de saber se o direito à proteção judicial, no contexto de uma organização
judicial em várias instâncias, implica um direito à reapreciação das decisões judiciais, ou seja, o direito
a, pelo menos, um duplo grau de jurisdição. A maioria da doutrina e da jurisprudência entende que,
fora do âmbito penal, a Constituição não assegura um tal direito (a não ser, porventura, quando estejam
em causa decisões que afetem diretamente direitos, liberdades e garantias, conferindo ao legislador
algum espaço para conformar o sistema de recursos). No entanto, entende VIEIRA DE ANDRADE,
mesmo no âmbito civil e administrativo, deve o legislador, em regra, prever o recurso, de forma a
cumprir a sua obrigação de assegurar aos particulares uma tutela judicial efetiva.
4. É garantido aos administrados tutela jurisdicional efetiva dos seus direitos ou interesses legalmente
protegidos, incluindo, nomeadamente, o reconhecimento desses direitos ou interesses, a impugnação de quaisquer atos
administrativos que os lesem, independentemente da sua forma, a determinação da prática de atos administrativos
legalmente devidos e a adoção de medidas cautelares adequadas.
5. Os cidadãos têm igualmente direito de impugnar as normas administrativas com eficácia externa lesivas dos
seus direitos ou interesses legalmente protegidos.
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6. Para efeitos dos n.os 1 e 2, a lei fixará um prazo máximo de resposta por parte da Administração.
Como consagração do direito geral à proteção judicial, a Constituição consagra, no art. 268º,
nºs4 e ss., o princípio da tutela jurisdicional efetiva dos cidadãos perante a Administração Pública.
Este princípio é reafirmado no art. 2º CPTA. Diz-nos o nº1 que “o princípio da tutela jurisdicional
efetiva compreende o direito de obter, em prazo razoável, e mediante um processo equitativo, uma decisão judicial
que aprecie, com força de caso julgado, cada pretensão regularmente deduzida em juízo, bem como a possibilidade de a
fazer executar e de obter as providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias, destinadas a assegurar o efeito útil
da decisão”. Importa ainda referir o nº2, nos termos do qual “a todo o direito ou interesse legalmente protegido
corresponde a tutela adequada junto dos tribunais administrativos”.
O princípio da tutela jurisdicional efetiva está transversalmente presente e, de certa
maneira, o princípio que melhor o expressa é o princípio da cumulação de pedidos. O princípio da
cumulação de pedidos é um subprincípio do princípio da tutela jurisdicional efetiva, que vem, desde
logo, permitir algo extraordinário. Antes de 2002, o recorrente que quisesse impugnar um ato
administrativo tinha que utilizar um meio processual impugnatório, e se quisesse requerer uma
indemnização pelos danos causados (pedido indemnizatório) tinha que recorrer a outro meio, que
poderia correr em tribunais diferentes. As ações de responsabilidade, em princípio, seriam sempre
propostas nos Tribunais Administrativos e Fiscais, enquanto que, no caso da ação impugnatória, a
competência dependia do autor do ato. Ainda hoje esta ideia se mantém: a competência para os
processos relativos a omissões ou ações do Presidente da República, Tribunais Centrais, Assembleia
da República é do Supremo Tribunal Administrativo, já a matéria de responsabilidade civil
extraobrigacional é da competência do tribunal de 1ª instância.
Com o princípio da cumulação de pedidos, em regra, no mesmo processo e na mesma ação é
possível cumular o pedido indemnizatório com o pedido impugnatório, bem como se pode cumular a
impugnação de um ato com o pedido de impugnação de uma norma (art. 4º CPTA). A cumulação de
pedidos é, como dissemos, um subprincípio que decorre do princípio da tutela jurisdicional efetiva: ao
ser possível julgar ambos os pedidos, o tribunal irá julgar quanto à validade do ato e ressarcibilidade
dos danos ocorridos em virtude da omissão ou da prática do mesmo. O tribunal competente é,
portanto, o mesmo para apreciar ambas a ações.
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A tutela efetiva é garantida, num segundo momento, pela plena jurisdição do tribunal, que lhe
permite tomar as decisões justas e adequadas à proteção dos direitos dos particulares e assegurar a
eficácia dessas decisões.
A lei atual determina, relativamente aos juízes:
1. O reforço dos seus poderes de pronúncia no plano declarativo, a acrescer aos poderes
de anulação e de condenação nas ações tradicionais (sobre contratos e
responsabilidade):
1.1. O poder de condenação à prática de atos administrativos (arts. 66º e ss. CPTA);
1.2. O poder de condenação à não emissão de atos administrativos (art. 37º, nº1, al. c
CPTA);
1.3. O poder de condenação à adoção ou abstenção de comportamentos
administrativos (art. 37º, nº1, al. h CPTA);
1.4. O poder de declaração de ilegalidade de normas por omissão, com fixação de
prazo para o suprimento da omissão (art. 77º CPTA);
1.5. O poder de condenação imediata na reconstituição da situação hipotética atual;
2. O poder de adotarem todo o tipo de providências cautelares que considerem
adequadas (arts. 2º, nº1 e 112º e ss. CPTA);
3. O reforço dos poderes em sede de execução de sentenças (arts. 3º, nº3 e 157º e ss.
CPTA);
4. O poder de aplicação de sanções pecuniárias compulsórias para assegurar a
efetividade das suas decisões (arts. 3º, nº2, 44º, 49º, 66º, 84º, 108º, 110º, 115º, 127º,
168º, 169º e 170º CPTA);
5. Os poderes de controlo da juridicidade de todas as atuações administrativas,
limitados apenas pelo não conhecimento do mérito, em função do princípio da
separação e interdependência de poderes (art. 3º, nº1 CPTA), e pelo respeito pelos
espaços de valoração próprios do exercício da função administrativa (arts. 71º, nº2, 95º,
nº3, 168º, nº2 e 179º, nº1 CPTA);
6. Os poderes de substituição, “quando a prática e o conteúdo do ato sejam estritamente
vinculados” ou haja uma decisão única possível no caso concreto, embora apenas em
sede de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias e de execução de
sentenças (arts. 3º, nº3, 109º, nº3, 164º, nº4, al. c, 167º, nº6 e 179º, nº5 CPTA).
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Temos, por um lado, aspetos que nos revelam uma clara dimensão subjetivista da justiça
administrativa, como o reconhecimento da tutela jurisdicional efetiva e o princípio da cumulação de
pedidos. Por outro lado, estamos perante um contencioso de plena jurisdição, com reforço de
poderes em matéria cautelar, declarativa e executiva.
Hoje, o processo está dirigido à procura da justiça material, ou seja, decaíram muitos vícios
processuais que impediam o juiz de apreciar o mérito da causa. O que acontecia era que, em muitos
processos, o juiz não podia averiguar o mérito da causa, bastando para isso que o requerente usasse
um meio erróneo.
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→ Relativamente aos efeitos, estabelece o art. 189º CPA que as impugnações administrativas
necessárias de atos administrativos suspendem os efeitos dos atos (o que não acontece com as
impugnações administrativas facultativas, nos termos do art. 189º, nº2 CPA).
→ No que diz respeito aos prazos, enquanto que o art. 193º CPA estabelece que o recurso
hierárquico necessário dos atos administrativos deve ser interposto no prazo de 30 dias, o prazo para
interpor o recurso o facultativo é o prazo da impugnação contenciosa do ato em causa, ou seja, de três
meses (art. 58º, nº1, al. b CPTA).
Vimos já uma série de elementos subjetivistas. Mas há também elementos objetivistas, entre os
quais se salienta a amplitude da legitimidade processual ativa. Num contencioso estritamente
subjetivista os titulares do direito de impugnação seriam somente os titulares de direitos ou interesses
legalmente protegidos que tivessem sido lesados. Por sua vez, um contencioso objetivista concede
legitimidade ativa a qualquer pessoa que alegue uma pretensão legítima.
Outro exemplo da dimensão objetivista do contencioso administrativo é a figura da ação
popular (que, nos termos do art. 4º, nº1, al. k ETAF, é da competência dos tribunais administrativos
e fiscais), da ação pública (promovida pelo Ministério Público), e ainda da ação popular pública. É
de notar que o Ministério Público, embora tenha perdido poderes na reforma de 2002-2004, continua
a ter um papel preponderante, nomeadamente pelo facto de poder alegar vícios que não foram alegados
pelo autor.
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administrativa não for atribuída a competência para conhecer de todas as questões de Direito
Administrativo e exclusivamente dessas questões.
3. Compete aos tribunais administrativos e fiscais o julgamento das ações e recursos contenciosos que tenham
por objeto dirimir os litígios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais.
Isto tem imensas vantagens, desde logo, porque está implícita a ideia do procedimento de
partes, com direitos e deveres de cada parte (cai a ideia de “administrado” ou “súbdito”). Vigora no
processo administrativo um princípio de paridade de armas.
Há que fazer referência ainda a uma outra vantagem: é que ao ganhar centralidade a relação
jurídico-administrativa, amplia-se e intensifica-se o princípio da tutela jurisdicional efetiva. Ao
contrário das teorias objetivistas e substancialistas, em que só se podia impugnar o ato final, agora,
como os procedimentos se analisam em fases autónomas, é possível encontrar, com facilidade, atos
administrativos procedimentais, que são verdadeiros atos administrativos, pois produzem efeitos
jurídicos externos.
A noção de relação jurídico-administrativa tem, então, diversas vantagens, porque em áreas em
que haja uma certa diminuição ou “atrofia” do controlo jurisdicional, pode ajudar à jurisdicionalização.
A procedimentalização da atividade administrativa é feita através da figura da relação jurídico-
administrativa.
Há que ter em conta outros aspetos. As relações jurídico-administrativas podem ser:
simétricas, assimétricas, dissimétricas, e poligonais (isto é, constituídas por um conjunto de
partes, ou seja, a relação não é apenas bipolar, do lado público intervêm vários agentes de Direito
Público e do lado particular intervém vários particulares). Antes via-se a questão da seguinte forma:
havia uma relação jurídico-administrativa entre autor e beneficiário do ato, e depois havia uma relação
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paralela entre sujeitos privados (beneficiário e lesados). Esta relação aparece-nos agora publicizada. A
relação jurídica poligonal não protege apenas os beneficiários do ato, protege também os direitos dos
contrainteressados. Basta pensar, p. ex, no licenciamento de uma atividade industrial perigosa, em que
há um número indeterminado de sujeitos da relação jurídico-administrativa. Trata-se de um ato com
efeitos relativamente a terceiros. Por exemplo, no Direito Urbanístico, se a obra padecer de vícios que
resultem da ilegalidade do ato autorizativo pode impugnar-se esse ato junto do tribunal administrativo,
mas se as ilegalidades nada têm a ver com a ilegalidade do ato administrativo, a ação tem de ser
interposta nos tribunais comuns. NOTA: uma atividade licenciada só entra no âmbito administrativo,
se as ilegalidades tiverem a ver com o ato autorizativo.
Por outro lado, é necessário salientar que há relações jurídico-administrativas entre órgãos da
mesma pessoa coletiva (desde que haja uma certa independência entre eles), ou entre órgãos que
integram pessoas coletivas distintas. Normalmente, a relação jurídico-administrativa é uma relação
externa, mas será legítimo excluir os atos internos? Não. Deve adotar-se uma noção que englobe estes
atos internos. É isso que se impõe das orientações doutrinais e jurisprudenciais dominantes.
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no âmbito das relações contratuais, a Administração pode alterar o conteúdo da sua prestação, ou pode
até rescindir unilateralmente o contrato. No Direito Administrativo contratual a relação jurídico-
administrativa não pode ser vista nos mesmo termos do Direito Privado.
→ Quanto ao âmbito orgânico, relativamente, mais uma vez, ao art. 212º, nº3 CRP, coloca-
se o seguinte problema:
Consagra este nº3 uma reserva material absoluta da jurisdição administrativa ou não?
Trata-se de uma reserva material absoluta num duplo sentido: os tribunais administrativos e
fiscais só podem julgar questões de Direito Administrativo e só eles podem julgar essas questões. Dispõe
o ETAF que os tribunais administrativos podem julgar questões que não sejam materialmente
administrativas. O CPTA, por sua vez, refletiu um entendimento doutrinal que defendia que em
algumas áreas se justificava um alargamento da jurisdição administrativa, nomeadamente em matéria
de contratos e responsabilidade civil extracontratual. De facto, ao lermos o art. 4º, nº1, als. e, f e g
ETAF, notamos que houve um alargamento do âmbito da jurisdição administrativa relativamente a
ações sobre questões que não são materialmente de Direito Administrativo. P. ex., compete aos
tribunais administrativos a apreciação de litígios relativos a contratos privados celebrados pela
Administração, bem como a apreciação de ações de responsabilidade civil extracontratual por atos de
gestão privada da Administração.
Mas só os tribunais administrativos e fiscais é que podem julgar estas questões? É preciso saber
se há reserva material absoluta ou relativa de jurisdição. A propósito desta questão têm sido
desenvolvidas várias teses. Se tivesse vigorado a tese da reserva material absoluta, a questão relativa à
matéria de indemnizações relativas às expropriações teria passado para os tribunais administrativos,
bem como a matéria relativa a contraordenações (o que não aconteceu). Entendia-se que os tribunais
comuns seriam mais garantísticos.
O prof. COLAÇO ANTUNES defende a reserva material absoluta de jurisdição administrativa,
salvaguardando os aspetos de natureza instrumental. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA
defendem, por sua vez, que só deveriam ser permitidas devoluções para outras jurisdições de matérias
materialmente administrativas que viessem previstas na Constituição. Outros autores, como FREITAS
DO AMARAL, defendem a atribuição destas matérias a outras jurisdições por consubstanciarem uma
melhor defesa dos direitos fundamentais e pela falta de recursos logísticos e humanos.
Importa fazer referência a um argumento do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da
República, que consiste na distinção entre contencioso por natureza (recurso contra atos
administrativos) e contencioso por atribuição ou acidental: o contencioso por natureza seria
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exclusivo dos tribunais administrativos e fiscais e o de atribuição deveria caber aos tribunais comuns.
Esta distinção, no entanto, já está ultrapassada.
O que tem vingado na doutrina maioritária (FERRER CORREIA, VIEIRA DE ANDRADE) e na
jurisprudência é a seguinte ideia: este preceito constitucional do art. 212º, nº3 é um modelo indicativo,
que define o núcleo essencial das matérias reservadas à jurisdição administrativa, mas não impede que
o legislador, dentro da liberdade constitutiva, alargue ou restrinja o âmbito da jurisdição administrativa,
desde que respeite o núcleo essencial do modelo constitucional, desde logo o modelo judicialista, o
modelo da tutela judicial efetiva e plena. Já seria inconstitucional, por exemplo, que o legislador viesse
fazer uma repartição de competências entre várias ordens judiciais, como a italiana, com base nos
direitos subjetivos: quando estivesse em causa um direito subjetivo, a competência seria dos tribunais
judiciais, quando estivesse em causa um interesse legítimo, a competência seria dos tribunais
administrativos.
26.02.2019
Há alguns desvios legais, que implicam uma dualidade de jurisdições, sendo que dois são
particularmente preocupantes: um relativo a matéria de expropriações e outro relativo a matéria de
contraordenações. O mesmo acontece com uma série de outras matérias que são materialmente
administrativas mas que não fazem parte da jurisdição administrativa.
É o art. 4º do ETAF que nos interessa aqui. As alíneas contempladas no art. 4º devem ser
interpretadas em conformidade com a cláusula geral, que está hoje vertida de forma residual na al. o do
nº1. No art. 4º a técnica utilizada pelo legislador passa por uma enumeração positiva nos nºs 1 e 2 e
depois uma enumeração negativa nos nºs 3 e 4. As várias alíneas do art. 4º incluem na jurisdição
administrativa matérias que não são verdadeiramente relações de direito administrativo. P. ex, em
matéria de responsabilidade contratual, falamos não apenas de contratos administrativos mas também
de contratos de Direito Privado celebrados pela Administração. O legislador optou por incluir matérias
que poderia ter deixado de incluir, uma vez que não se tratam de matérias materialmente
administrativas, e exclui outras que já são verdadeira e materialmente administrativas.
Apesar deste esforço clarificador do legislador, mantêm-se algumas dúvidas. Os principais
problemas colocam-se em matéria contratual e em matéria de responsabilidade civil extracontratual.
Relativamente a esta matéria da responsabilidade civil extracontratual houve um claro alargamento da
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jurisdição administrativa, alargamento este que não deixa de ser um pouco paradoxal, uma vez que é
feito num momento em que o direito substantivo se vai esvaindo.
O legislador utiliza, fundamentalmente, dois critérios para delimitar o âmbito da jurisdição
administrativa. Desde logo, o critério da relação jurídico-administrativa. Mas também o critério
da natureza material dos atos, isto é, cabem na jurisdição administrativa atos materialmente
administrativos que tenham sido praticados por entidades que não cabem na Administração.
Passando para a enumeração positiva dos nºs 1 e 2, compete aos tribunais da jurisdição
administrativa e fiscal a apreciação de litígios que tenham por objeto questões relativas a:
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O art. 26º ETAF diz-nos (na al. c) que é da competência da secção do contencioso
tributário a apreciação dos recursos de atos administrativos do Conselho de Ministros
respeitantes a questões fiscais;
Nos termos do art. 38º ETAF, compete à secção do contencioso tributário a apreciação
dos recursos de atos administrativos respeitantes a questões fiscais praticados por
membros do Governo (al. b);
Nos termos do art. 49º ETAF, compete aos tribunais tributários conhecer das ações de
impugnação dos atos administrativos respeitantes a questões fiscais que não sejam
atribuídos à competência de outros tribunais (nº1, al. a, iv.).
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Há ainda que fazer referência aos tribunais ad hoc, que podem existir nos termos do art. 209º
CRP (NOTA: importa não confundi-los com os centros de arbitragem). Também por esta via há aqui
uma certa restrição do âmbito de competência da jurisdição administrativa.
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1. A sede dos tribunais administrativos de círculo e as respetivas áreas de jurisdição são determinadas por
decreto-lei.
2. O número de juízes em cada tribunal administrativo de círculo é fixado por portaria do Ministro da Justiça.
3. Os tribunais administrativos de círculo são declarados instalados por portaria do Ministro da Justiça.
1. São tribunais centrais administrativos o Tribunal Central Administrativo Sul, com sede em
Lisboa, e o Tribunal Central Administrativo Norte, com sede no Porto.
2. As áreas de jurisdição dos tribunais centrais administrativos são determinadas por decreto-lei.
3. Os tribunais centrais administrativos conhecem de matéria de facto e de direito.
4. Os tribunais centrais administrativos são declarados instalados por portaria do Ministro da Justiça, que fixa os
respetivos quadros.
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Aulas teórico-práticas
c) Das ações de regresso, fundadas em responsabilidade por danos resultantes do exercício das suas funções, propostas
contra juízes dos tribunais administrativos de círculo e dos tribunais tributários, bem como dos magistrados do
Ministério Público que prestem serviço junto desses tribunais;
Nos termos desta al. c, a secção de contencioso administrativo dos tribunais centrais apenas
funciona como 1ª instância nestas situações de ações de regresso.
»»»»»
Quanto à hierarquia, já sabemos que os processos entram, via de regra, nos tribunais de 1ª
instância, isto é, nos tribunais administrativos de círculo (art. 44º ETAF). Pode haver recurso per saltum,
isto é, diretamente para o Supremo Tribunal Administrativo, quando sejam suscitadas apenas questões
de direito e quando os valores sejam muito elevados ou indetermináveis, nos termos do art. 151º
CPTA.
1. Os recursos interpostos de decisões de mérito proferidas por tribunais administrativos de círculo são da competência
do Supremo Tribunal Administrativo quando as partes, nas alegações, suscitem apenas questões de direito e o
valor da causa seja superior a 500.000 (euro) ou seja indeterminada, designadamente nos processos de
declaração de ilegalidade de norma ou de declaração de ilegalidade por omissão de norma.
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Aulas teórico-práticas
Art. 151º CPTA - Revista per saltum para o Supremo Tribunal Administrativo
A decisão proferida pela secção do contencioso é recorrível para o pleno (art. 25º, nº1, al. a
ETAF), bem como os recursos para uniformização de jurisprudência (art. 25º, nº1, al. b ETAF)
Em razão do território, voltamos ao CPTA. A regra geral está contemplada no art. 16º CPTA,
segundo o qual os processos são intentados no tribunal da área da residência habitual ou da sede do
autor → critério da proximidade, em vista a facilitar o acesso aos tribunais. Esta regra, no entanto,
conhece diversas exceções:
Desde logo, o art. 17º CPTA, relativamente a processos relacionados com bens imóveis
ou direitos a eles referentes, que são intentados no tribunal da situação dos bens;
Outra exceção está consagrada no art. 18º CPTA: em matéria de responsabilidade civil
extracontratual, incluindo ações de regresso, é competente o tribunal do lugar em que
se deu o facto constitutivo da responsabilidade;
Em matéria contratual há duas hipóteses: nos termos do art. 19º, nº1 CPTA, é
competente o tribunal do lugar do cumprimento do contrato; nos termos do art. 19º,
nº2 CPTA, se as partes convencionarem o tribunal perante o qual se comprometem a
deduzir as suas pretensões relativas ao contrato, o tribunal competente para o efeito é
o tribunal convencionado.
12.03.2019
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Aulas teórico-práticas
No plano declarativo, visto que o princípio da tipicidade das formas processuais existe;
Em matéria de tutela cautelar: antes da Reforma de 2002/2004 era extremamente difícil
o autor obter sucesso por várias razões, nomeadamente porque os meios processuais
cautelares eram escassos, o processo cautelar em sentido próprio que existia era apenas
o pedido de suspensão dos efeitos do ato. O STA foi sempre fazendo uma
interpretação mais dúctil das normas, mas numa interpretação literal os três requisitos
cumulativos faziam com que a tutela cautelar fosse um dos défices mais graves da
justiça administrativa. Hoje, nos termos dos arts. 112º e 115 CPA, vemos que os
critérios são vários: fumus boni iuris, periculum in mora e apreciação em concreto dos bens
jurídicos em causa (sublinha-se “em concreto” porque se fossem em abstrato o
interesse público sobrepor-se-ia sempre).
Porque é que o prof. COLAÇO ANTUNES entende que o subprincípio da cumulação de pedidos é a melhor expressão
do princípio da tutela jurisdicional efetiva?
Por existir uma enorme “reverência” em relação ao autor do ato (que ainda se mantém, apesar
de mais mitigada do que antes - o STA continua a ter uma dupla personalidade, porque funciona como
tribunal de 1ª instância quando se trata de atos de certos autores – cfr. art. 24º ETAF, e como tribunal
de recurso e uniformização de jurisprudência), havia dois meios processuais que tinham que ser usados,
havendo duas ações e não uma, e a correr em tribunais diferentes. Este subprincípio da cumulação de
pedidos vem permitir (arts. 4º e 5º CPTA) que o autor, no mesmo processo, formule vários pedidos,
a apreciar pelo mesmo tribunal. Está aqui patente uma economia de meios processuais extraordinária,
e o juiz (o tribunal, se bem que agora os tribunais administrativos e fiscais passaram a julgar de forma
singular, isto é, com a Reforma de 2015 perdeu-se a colegialidade, o que diminuiu um pouco a
autoridade deste subprincípio) aprecia agora todo o âmbito da relação jurídica controvertida. Nesta
Reforma de 2015 diminuiu-se a tal dupla personalidade do STA, mas sobretudo dos Tribunais Centrais
Administrativos, que, em bom rigor, apenas conhecem em 1ª instância as ações previstas na al. c do
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Aulas teórico-práticas
art. 37º ETAF (ações de regresso fundadas em responsabilidade por danos resultantes do exercício das
suas funções, propostas contra juízes dos tribunais administrativos de círculo e dos tribunais
tributários, bem como dos magistrados do Ministério Público que prestem serviço junto desses
tribunais).
Convém ainda analisar a cumulação de pedidos a vários níveis:
Quanto à sua estrutura, podemos ter uma cumulação:
1. Simples: o autor pretende a procedência de todos os pedidos e a produção de todos
os efeitos jurídicos;
2. Alternativa: o autor pretende a procedência de todos os pedidos mais satisfaz-se
com a obtenção da prestação que o demandado ou um terceiro escolher;
3. Subsidiária: o autor formula um pedido principal e um pedido subsidiário, no caso
de improcedência do primeiro.
Quanto ao momento, a cumulação pode ser:
a) Inicial;
b) Sucessiva (p. ex., art. 63º, nº1 CPTA)
Quanto aos pressupostos, há que ter em conta a distinção entre cumulação simples,
alternativa e subsidiária:
1. Na cumulação simples terá que existir sempre uma compatibilidade substantiva
entre os pedidos e os respetivos efeitos, isto é, tem que haver uma compatibilidade
entre os efeitos decorrentes dos pedidos formulados e entre os pedidos em si. P.
ex., serão incompatíveis os pedidos de alguém que formulasse um pedido de
reconhecimento de uma categoria funcional e, simultaneamente, formulasse um
pedido de anulação dessa categoria funcional;
2. Na cumulação alternativa e subsidiária tem que haver uma conexão objetiva entre
os pedidos, que pode decorrer da identidade da causa de pedir (art. 4º, nº1, al. a
CPTA), ou seja, que a causa de pedir seja única ou que os pedidos estejam entre si
numa relação de prejudicialidade ou de dependência (nomeadamente por se
inscreverem no âmbito da mesma relação jurídica material). Essa conexão objetiva
pode ainda decorrer do facto da procedência dos pedidos principais depender
essencialmente da apreciação dos mesmos factos ou da interpretação e aplicação
dos mesmos princípios ou regras de direito (art. 4º, nº1, al. b CPTA).
Para além destes pressupostos, tem que existir uma compatibilidade processual (art.
5º, nº3 CPTA), sob pena de absolvição da instância relativamente ao pedido que
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Aulas teórico-práticas
Nos termos do CPTA2, as causas passaram a ter um dado valor económico. O interesse
legalmente protegido que se quer defender em juízo corresponde a uma determinada utilidade
económica, e o CPTA configura, nos arts. 32º a 34º, os critérios que determinarão a fixação do valor
da causa.
1. Quando pela ação se pretenda obter o pagamento de quantia certa, é esse o valor da causa.
2. Quando pela ação se pretenda obter um benefício diverso do pagamento de uma quantia, o valor da
causa é a quantia equivalente a esse benefício.
3. Quando a ação tenha por objeto a apreciação da existência, validade, cumprimento, modificação
ou resolução de um contrato, atende-se ao valor do mesmo, determinado pelo preço ou estipulado pelas partes.
4. Quando a ação diga respeito a uma coisa, o valor desta determina o valor da causa.
5. Quando esteja em causa a cessação de situações causadoras de dano, ainda que fundadas em ato
administrativo ilegal, o valor da causa é determinado pela importância do dano causado.
6. O valor dos processos cautelares é determinado pelo valor do prejuízo que se quer evitar, dos bens que se
querem conservar ou da prestação pretendida a título provisório.
7. Quando sejam cumulados, na mesma ação, vários pedidos, o valor é a quantia correspondente à soma dos
valores de todos eles, mas cada um deles é considerado em separado para o efeito de determinar se a sentença pode ser
objeto de recurso, e de que tipo.
8. Quando seja deduzido pedido acessório de condenação ao pagamento de juros, rendas e
rendimentos já vencidos e a vencer durante a pendência da causa, na fixação do valor atende-se somente aos
interesses já vencidos.
9. No caso de pedidos alternativos, atende-se unicamente ao pedido de valor mais elevado e, no caso de pedidos
subsidiários, ao pedido formulado em primeiro lugar.
2 No entender do prof. COLAÇO ANTUNES, esta questão poderia estar regulada no ETAF, uma vez que o art. 6º fixa as
alçadas.
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Aulas teórico-práticas
Nos processos relativos a atos administrativos, atende-se ao conteúdo económico do ato, designadamente por
apelo aos seguintes critérios, para além daqueles que resultam do disposto no artigo anterior:
a) Quando esteja em causa a autorização ou licenciamento de obras e, em geral, a apreciação de decisões
respeitantes à realização de empreendimentos públicos ou privados, o valor da causa afere-se pelo custo previsto da obra
projetada;
b) Quando esteja em causa a aplicação de sanções de conteúdo pecuniário, o valor da causa é determinado pelo
montante da sanção aplicada;
c) Quando esteja em causa a aplicação de sanções sem conteúdo pecuniário, o valor da causa é determinado
pelo montante dos danos patrimoniais sofridos;
d) Quando estejam em causa atos ablativos da propriedade ou de outros direitos reais, o valor da causa é
determinado pelo valor do direito sacrificado.
O art. 32º CPTA fixa os critérios gerais para a determinação do valor da causa, e o art. 33º
CPTA fixa critérios especiais para os processos relativos a atos administrativos (atende-se
principalmente ao conteúdo económico do ato). O art. 34º CPTA, por sua vez, fixa um critério
supletivo.
Nos termos do art. 32º CPTA, havendo cumulação de pedidos, como é que se determina o
valor da causa? É necessário usar um critério interpretativo: é que a maioria dos pedidos são
cumulações aparentes (ou seja, são formulados vários pedidos mas têm a mesma utilidade económica,
daí que a cumulação seja meramente aparente). P. ex., um pedido de cumulação de impugnação de ato
com um pedido de condenação à prática de um ato → cumulação aparente.
O art. 32º, nº7 CPTA refere-se à cumulação simples. Como se determina o valor da causa? O
valor da causa será a soma dos valores dos vários pedidos. O nº9, 1ª parte diz respeito aos pedidos
alternativos, nos quais se atende apenas ao pedido de valor mais elevado, e a 2ª parte do nº9 diz respeito
aos pedidos subsidiários, nos quais se atende ao pedido formulado em primeiro lugar.
No art. 37º CPTA, cuja epígrafe é “objeto da ação administrativa”, incluem-se todos os pedidos
que, antes da Reforma de 2015, estavam repartidos pela ação administrativa comum e pela ação
administrativa especial.
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Aulas teórico-práticas
1. Ainda que não ponham termo a um procedimento, são impugnáveis todas as decisões que, no exercício de poderes
jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e
concreta, incluindo as proferidas por autoridades não integradas na Administração Pública e por entidades privadas
que atuem no exercício de poderes jurídico-administrativos.
2. São designadamente impugnáveis:
a) As decisões tomadas no âmbito de procedimentos administrativos sobre questões que não possam ser de novo
apreciadas em momento subsequente do mesmo procedimento;
b) As decisões tomadas em relação a outros órgãos da mesma pessoa coletiva, passíveis de comprometer as condições do
exercício de competências legalmente conferidas aos segundos para a prossecução de interesses pelos quais esses órgãos
sejam diretamente responsáveis.
(…)
Para efeitos do disposto no presente Código, consideram-se atos administrativos as decisões que, no exercício de
poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual
e concreta.
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Aulas teórico-práticas
3 Ver, no entanto, o art. 52º, nº3 CPTA, que parece admitir a existência de atos administrativos impugnáveis que não
individualizem os seus destinatários.
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Aulas teórico-práticas
questões que não possam ser de novo apreciadas em momento subsequente do mesmo procedimento;
e a al. b) refere-se aos pareceres vinculativos, que embora não tenham força constitutiva própria,
determinam o conteúdo do ato final.
3. Os atos impugnáveis de harmonia com o disposto nos números anteriores que não ponham termo a um
procedimento só podem ser impugnados durante a pendência do mesmo, sem prejuízo da faculdade de impugnação do
ato final com fundamento em ilegalidades cometidas durante o procedimento, salvo quando essas ilegalidades digam
respeito a ato que tenha determinado a exclusão do interessado do procedimento ou a ato que lei especial submeta a um
ónus de impugnação autónoma.
O nº3 do art. 51º CPTA vem admitir que possam existir atos preparatórios e instrumentais que
se configurem como verdadeiros atos administrativos, com eficácia jurídica externa, podendo ser
impugnados autonomamente. A regra é a de que a não impugnação do ato instrumental (que é um
verdadeiro ato administrativo) não preclude o direito a impugnar o ato final, excecionando-se os casos
em que as ilegalidades dizem respeito à exclusão do interessado no procedimento (caso em que, não
impugnando o ato instrumental, preclude a possibilidade de impugnar o ato final).
Questão diferente é a de saber se pré-decisões (como p. ex., a decisão de constituir um júri de
prova de doutoramento) devem ou não ser impugnadas de forma autónoma. Embora também aqui
haja que distinguir entre vinculatividade e decisão perentória do conteúdo do ato, parece que estas pré-
decisões, ao abrigo do princípio da tutela jurisdicional efetiva (na sua vertente de decisão em tempo
útil) deviam ser autonomamente judiciadas, sem que tenha que se esperar pela decisão final.
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Aulas teórico-práticas
Numa ação de condenação podemos estar perante uma inércia pura e simples (a Administração
Pública, no prazo legalmente estabelecido, não disse nada), ou então podemos ter um ato de
indeferimento expresso (ou até uma recusa por parte da Administração em apreciar o requerimento).
Quer o indeferimento, quer a recusa são atos administrativos, em bom rigor. Mas curiosamente, a ação
de condenação vem abranger estas três situações (inércia da Administração, indeferimento e recusa).
A ação de condenação, rigorosamente, apenas deveria abranger situações de silêncio puro, de inércia,
porque quer o indeferimento, quer a recusa são, como dissemos, atos administrativos, cabendo,
portanto, na ação de condenação à prática de ato legalmente devido. De certa forma, o legislador obriga
o juiz a convidar o autor a substituir o pedido (impugnatório por condenatório).
O prof. COLAÇO ANTUNES entende que pode haver cumulação de pedidos: impugnação e
condenação. Isto porque, normalmente, o pedido de impugnação não resolve o problema.
Dispõe o art. 52º, nº1 CPTA que a impugnabilidade do ato administrativo não depende da
respetiva forma (o ato pode assumir a forma de regulamento ou norma, sendo sempre justiciável). Nos
termos do nº2 do mesmo art. 52º CPTA, o não exercício do direito de impugnar um ato contido em
diploma legislativo ou regulamento não obsta à impugnação dos seus atos de execução ou aplicação.
O nº3 refere-se aos atos administrativos gerais.
→ Atos confirmativos:
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1. Não são impugnáveis os atos confirmativos, entendendo-se como tal os atos que se limitem a reiterar,
com os mesmos fundamentos, decisões contidas em atos administrativos anteriores.
2. Excetuam-se do disposto no número anterior os casos em que o interessado não tenha tido o ónus de
impugnar o ato confirmado, por não se ter verificado, em relação a este ato, qualquer dos factos previstos nos n.os 2 e 3
do artigo 59.º
3. Os atos jurídicos de execução de atos administrativos só são impugnáveis por vícios próprios, na medida em
que tenham um conteúdo decisório de caráter inovador.
4. Quando seja admitida a impugnação do ato confirmativo, nos termos do n.º 2, os efeitos da sentença que
conheça do objeto do processo são extensivos ao ato confirmado.
O legislador define, no nº1, o que são atos confirmativos: “aqueles que se limitem a reiterar,
com os mesmos fundamentos, decisões contidas em atos administrativos anteriores”. O ato
impugnável é o ato confirmado, o que foi praticado pelo subalterno, porque se entende que o ato
confirmativo não é um ato em sentido próprio para efeitos contenciosos. É certo que é preciso verificar
se estão reiterados os mesmos argumentos e causas de pedir. O prof. COLAÇO ANTUNES entende que
nem sempre o ato confirmativo é uma cópia do ato praticado pelo ato do subalterno, daí que surjam
exceções. O nº2 contém essas mesmas exceções (nos casos em que o interessado não tenha tido o
ónus de impugnar o ato confirmado, por não se ter verificado, em relação a este ato, qualquer dos
factos previstos nos nºs 2 e 3 do artigo 59º). Conforme dispõe o nº4, sendo impugnáveis, os efeitos da
eventual sentença são extensivos ao ato confirmado.
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Aulas teórico-práticas
3. O disposto na alínea a) do número anterior não impede a utilização de outros meios de tutela contra a execução
ilegítima do ato administrativo ineficaz.
Em regra, apenas são impugnáveis os atos eficazes, aqueles que produzem efeitos jurídicos
externos (art. 54º, nº1 CPTA). Executoriedade e eficácia são, no entanto, elementos complementares
(o segundo é requisito do primeiro) mas autónomos. O CPTA admite a impugnação de atos ainda não
eficazes nas situações previstas no nº2 deste art. 54º:
Importa distinguir entre eficácia interna e eficácia externa. Quando falamos em eficácia
referimo-nos à eficácia externa, isto é, falamos dos atos recetícios, que carecem da comunicação aos
destinatários para produzirem efeitos jurídicos. A eficácia interna, por sua vez, tem a ver com a
obrigatoriedade jurídica do conteúdo regulador do ato. P. ex., quando estamos perante um ato nulo
(art. 162º CPA), este “não produz quaisquer efeitos jurídicos”. O prof. COLAÇO ANTUNES entende que o
que isto quer dizer é que esse ato não produz efeitos jurídicos internos (porque padece de um vício tão
grave que abala a sua própria estrutura). Mas um ato nulo pode ser eficaz externamente, se tiver sido
validamente notificado. O que ele não tem é eficácia interna.
1.2.1.1. Legitimidade
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e) Presidentes de órgãos colegiais, em relação a atos praticados pelo respetivo órgão, bem como outras autoridades, em
defesa da legalidade administrativa, nos casos previstos na lei;
f) Pessoas e entidades mencionadas no n.º 2 do artigo 9.º
2. A qualquer eleitor, no gozo dos seus direitos civis e políticos, é permitido impugnar as decisões e deliberações
adotadas por órgãos das autarquias locais sediadas na circunscrição onde se encontre recenseado, assim como das
entidades instituídas por autarquias locais ou que destas dependam.
3. A intervenção do interessado no procedimento em que tenha sido praticado o ato administrativo constitui mera
presunção de legitimidade para a sua impugnação.
No que respeita à legitimidade processual ativa, nos termos do art. 55º, nº1, têm legitimidade:
Os cidadãos eleitores das comunidades locais, para impugnação dos atos dos respetivos
órgãos autárquicos ou de entidades instituídas pelas autarquias locais ou que delas
dependam, independentemente de terem ou não um interesse direto e pessoal na
anulação, através da ação popular local (nº2);
Qualquer pessoa e entidade mencionada no art. 9º, nº2 – ação popular social (nº1, al.
f).
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No que diz respeito à legitimidade passiva, uma das grandes novidades do CPTA de 2002 foi
a de que, contrariamente ao que acontecia antes, em que a legitimidade pertencia ao órgão autor do
ato, a parte no processo passa a ser a pessoa coletiva pública ou, no caso do Estado e das Regiões
Autónomas, o Ministério ou a secretaria regional (nos casos em que o ato é da autoria de um órgão
integrado numa estrutura ministerial ou do governo regional, respetivamente – art. 10º, nº2 CPTA). Só
não será assim nos casos em que o ato é impugnado por outro órgão da mesma pessoa coletiva, caso
em que a ação é proposta contra o órgão que praticou o ato (art. 10º, nº8 CPTA).
Para além da entidade autora do ato impugnado, são obrigatoriamente demandados os contrainteressados a
quem o provimento do processo impugnatório possa diretamente prejudicar ou que tenham legítimo interesse na
manutenção do ato impugnado e que possam ser identificados em função da relação material em causa ou dos
documentos contidos no processo administrativo.
1.2.1.2. Efeitos
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1.2.1.3. Prazos
1. Salvo disposição legal em contrário, a impugnação de atos nulos não está sujeita a prazo e a de atos
anuláveis tem lugar no prazo de:
a) Um ano, se promovida pelo Ministério Público;
b) Três meses, nos restantes casos.
2. Sem prejuízo do disposto no n.º 4 do artigo 59.º, os prazos estabelecidos no número anterior contam-se nos
termos do artigo 279.º do Código Civil.
(…)
Para os particulares, o prazo de impugnação é de três meses (art. 58º, nº1, al. b CPTA), e para
o Ministério Público o prazo é de um ano (art. 58º, nº1, al. a CPTA). Conforme dispõe o nº2 do mesmo
art. 58º, os prazos contam-se nos termos do art. 279º C. Civ.
(…)
3. A impugnação é admitida, para além do prazo previsto na alínea b) do n.º 1:
a) Nas situações em que ocorra justo impedimento, nos termos previstos na lei processual civil;
b) No prazo de três meses, contado da data da cessação do erro, quando se demonstre, com respeito pelo
contraditório, que, no caso concreto, a tempestiva apresentação da petição não era exigível a um cidadão normalmente
diligente, em virtude de a conduta da Administração ter induzido o interessado em erro; ou
c) Quando, não tendo ainda decorrido um ano sobre a data da prática do ato ou da sua publicação, quando
obrigatória, o atraso deva ser considerado desculpável, atendendo à ambiguidade do quadro normativo aplicável ou às
dificuldades que, no caso concreto, se colocavam quanto à identificação do ato impugnável, ou à sua qualificação como
ato administrativo ou como norma.
(…)
O nº3 prevê as situações em que podem ser superados os limites do nº1: quando ocorra justo
impedimento (al. a); quando se demonstre que, no caso concreto, não era exigível a tempestiva petição
(al. b); quando, não tendo decorrido ainda um ano da prática do ato, o atraso deva ser considerado
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O art. 59º CPTA regula o início dos prazos. Nos termos do nº1, “os prazos de impugnação só
começam a correr na data da ocorrência dos factos previstos nos números seguintes se, nesse
momento, o ato a impugnar já for eficaz, contando-se tais prazos, na hipótese contrária, desde o início da
produção de efeitos do ato”. Ou seja, os prazos começam a correr a partir da data dos factos previstos neste
art. 59º, mas se o ato ainda não for eficaz nesse momento, o prazo apenas começa a correr a partir do
momento em que começar a produzir os seus efeitos. Vejamos as várias situações previstas no art. 59º:
(…)
4. A utilização de meios de impugnação administrativa suspende o prazo de impugnação contenciosa do ato
administrativo, que só retoma o seu curso com a notificação da decisão proferida sobre a impugnação administrativa ou
com o decurso do respetivo prazo legal, consoante o que ocorra em primeiro lugar.
5. A suspensão do prazo prevista no número anterior não impede o interessado de proceder à impugnação contenciosa
do ato na pendência da impugnação administrativa, bem como de requerer a adoção de providências cautelares.
(…)
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Aulas teórico-práticas
19.03.2019
1. Não pode impugnar um ato administrativo com fundamento na sua mera anulabilidade quem o tenha
aceitado, expressa ou tacitamente, depois de praticado.
2. A aceitação tácita deriva da prática, espontânea e sem reserva, de facto incompatível com a vontade de impugnar.
3. A execução ou acatamento por funcionário ou agente não se considera aceitação tácita do ato executado ou acatado,
salvo quando dependa da vontade daqueles a escolha da oportunidade da execução.
Esta figura da aceitação do ato é uma figura praticamente inexistente no direito processual
comparado. Existe uma figura semelhante no direito italiano (“aquiescência”). Normalmente, uma das
situações mais frequentes que se reconduzem a esta figura é a da renúncia do direito de impugnar o
ato. Esta é uma primeira tese. Para além disso, não é uma renúncia ao ato mas sim a uma posição
jurídica substantiva favorável. Em consequência, esta tese acaba por não se distinguir muito da primeira
tese, da renúncia ao direito de impugnar o ato, porque aprece lógico que a renúncia à posição jurídica
implique a renúncia ao exercício do direito.
O prof. COLAÇO ANTUNES não está de acordo com nenhuma destas teses. Há que distinguir
entre renúncia expressa e tácita. A grande dificuldade coloca-se quando a renúncia é tácita. O prof.
entende que na renúncia tácita não há sequer uma vontade implícita do interessado, os factos jurídicos
praticados pelo interessado criam uma relação de confiança legítima, quer na Administração, quer nos
contrainteressados, de que esse particular não vai exercer o seu direito de ação. As situações são
diferentes. P. ex., a renúncia à posição jurídica de vantagem pode ser feita desde o início do
procedimento, nomeadamente através da fase instrutória, onde é apresentado um projeto de decisão,
e onde vigora um princípio da dupla decisão. A renúncia a uma posição jurídica de vantagem tem uma
dimensão procedimental que a aceitação do ato não tem. O prof. entende que a aceitação do ato
dificilmente se pode formular antes da audiência prévia. A aceitação do ato não implica reconhecer a
validade do ato, e muito menos implica, mesmo havendo aceitação do ato, a renúncia à posição jurídica
do particular. O prof. entende que se trata mais de um efeito preclusivo que o sistema jurídico, por
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Aulas teórico-práticas
razões de economia processual, associa à conduta do autor, seja ela de forma mais expressiva, através
da aceitação expressa, seja ela através de aceitação tácita. Este efeito não tem tanto a ver com um ato
volitivo (pelo menos na aceitação tácita), mas antes com uma censura por parte do ordenamento
jurídico.
Esta figura da aceitação do ato não tem sentido quando estamos perante uma ação popular, p.
ex. A ser aplicável, é no domínio da ação particular, e com prudência.
Importa referir que não há aceitação de atos nulos, a aceitação só pode ter lugar relativamente
a atos anuláveis.
Quanto aos efeitos da sentença, quando se trata de uma sentença anulatória (a invalidade típica
é, como sabemos, a anulabilidade), esta tem um efeito constitutivo (visa conformar a situação jurídica
da Administração, nomeadamente impedindo que a Administração pratique o mesmo ato com os
mesmos vícios) e ultraconstitutivo (a Administração, na sequência de uma sentença anulatória, está
obrigada a reconstituir a situação que teria existido se o ato lesivo não tivesse sido praticado). O prof.
COLAÇO ANTUNES não concorda com a afirmação de que uma sentença que declara a nulidade tem
um efeito meramente declarativo. Os atos nulos, apesar de não produzirem efeitos jurídicos, produzem
resultados juridicamente relevantes. Ao contrário do que acontece no Direito Civil, em que a nulidade
é a “porta de saída”, remetendo-se os resultados do ato nulo para o mundo da irrelevância jurídica, no
Direito Administrativo a nulidade é a figura que permite que o ato não produza efeitos jurídicos mas
que se tenha em consideração esses resultados juridicamente relevantes do ato nulo. É preciso ter em
conta os resultados juridicamente relevantes produzidos na sequência de um ato nulo, que podem, em
alguns casos, justificar que a sentença não seja meramente declarativa.
1. A ação administrativa pode ser utilizada para obter a condenação da entidade competente à prática, dentro
de determinado prazo, de um ato administrativo ilegalmente omitido ou recusado.
2. Ainda que a prática do ato devido tenha sido expressamente recusada, o objeto do processo é a pretensão do
interessado e não o ato de indeferimento, cuja eliminação da ordem jurídica resulta diretamente da pronúncia
condenatória.
(…)
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Aulas teórico-práticas
A ação de condenação à prática de ato devido está regulada nos arts. 66º e ss. CPTA. Tem que
haver um requerimento do particular a solicitar a prática do ato, dirigido a um órgão com competência
para decidir, e tem que ter decorrido o prazo estabelecido na lei. Como sabemos, aboliu-se o
indeferimento tácito (que era uma ficção para “abrir a porta” do contencioso). Estamos agora não
perante a ficção de um ato mas perante um facto, uma inércia. O pedido é, por isso, a condenação à
prática de um ato legalmente devido.
A ação de condenação à prática de ato legalmente devido é, talvez, o meio processual mais
subjetivista do contencioso administrativo, porque enquanto na ação de impugnação ainda se pode
dizer que o objeto do processo é o ato (mas também a posição subjetiva lesada), aqui o objeto do
processo é a pretensão do particular (art. 66º, nº2 CPTA). Esta ação abrange a inércia em sentido
próprio (em bom rigor esta ação só devia servir para esta situação), bem como o ato de indeferimento
ou de recusa de apreciação do requerimento (estes últimos, no fundo, são atos administrativos, logo
não deviam estar aqui nesta ação).
1.2.2.1. Pressupostos
1. A condenação à prática de ato administrativo pode ser pedida quando, tendo sido apresentado
requerimento que constitua o órgão competente no dever de decidir:
a) Não tenha sido proferida decisão dentro do prazo legalmente estabelecido;
b) Tenha sido praticado ato administrativo de indeferimento ou de recusa de apreciação do requerimento;
c) Tenha sido praticado ato administrativo de conteúdo positivo que não satisfaça integralmente a pretensão do
interessado.
(…)
4. A condenação à prática de ato administrativo também pode ser pedida sem ter sido apresentado requerimento,
quando:
a) Não tenha sido cumprido o dever de emitir um ato administrativo que resultava diretamente da lei;
b) Se pretenda obter a substituição de um ato administrativo de conteúdo positivo.
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1.2.2.2. Legitimidade
1.2.2.3. Prazos
1. Em situações de inércia da Administração, o direito de ação caduca no prazo de um ano contado desde o termo do
prazo legal estabelecido para a emissão do ato ilegalmente omitido.
2. Nos casos de indeferimento, de recusa de apreciação do requerimento ou de pretensão dirigida à substituição de um
ato de conteúdo positivo, o prazo de propositura da ação é de três meses, sendo aplicável o disposto no n.º 3 do artigo
58.º e nos artigos 59.º e 60.º
3. Quando, nos casos previstos no número anterior, esteja em causa um ato nulo, o pedido de condenação à prática do
ato devido pode ser deduzido no prazo de dois anos, contado da data da notificação do ato de indeferimento, do ato de
recusa de apreciação do requerimento ou do ato de conteúdo positivo que o interessado pretende ver substituído por outro,
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Aulas teórico-práticas
sem prejuízo, neste último caso, da possibilidade, em alternativa, da impugnação do ato de conteúdo positivo sem
dependência de prazo.
Os prazos variam conforme se trate de um silêncio em sentido próprio, ou seja, de uma inércia,
caso em que o prazo é de um ano (art. 69º, nº1 CPTA), ou de um caso de indeferimento expresso ou
de recusa de apreciação, caso em que o prazo é de três meses (art. 69º, nº2 CPTA).
Poderá haver uma alteração da instância nos termos do art. 70º CPTA.
1. Ainda que o requerimento apresentado não tenha obtido resposta ou a sua apreciação tenha sido recusada,
o tribunal não se limita a devolver a questão ao órgão administrativo competente, anulando ou declarando nulo o
eventual ato de indeferimento, mas pronuncia-se sobre a pretensão material do interessado, impondo a prática do ato
devido.
2. Quando a emissão do ato pretendido envolva a formulação de valorações próprias do exercício da função
administrativa e a apreciação do caso concreto não permita identificar apenas uma solução como legalmente possível, o
tribunal não pode determinar o conteúdo do ato a praticar, mas deve explicitar as vinculações a observar pela
Administração na emissão do ato devido.
3. Quando tenha sido pedida a condenação à prática de um ato com um conteúdo determinado, mas se
verifique que, embora seja devida a prática de um ato administrativo, não é possível determinar o seu conteúdo, o
tribunal não absolve do pedido, mas condena a entidade demandada à emissão do ato em questão, de acordo com os
parâmetros estabelecidos no número anterior.
Os poderes de pronúncia do tribunal estão regulados no art. 71º CPTA. No caso dos atos
discricionários, quando se trate de uma discricionariedade quanto ao quid, tribunal só pode condenar a
Administração a praticar um ato qualquer, mas não pode determinar o conteúdo do ato.
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Aulas teórico-práticas
A ação de impugnação de normas e condenação à emissão de normas está regulada nos arts.
72º e ss. CPTA. A ação de impugnação de normas tem por objeto a declaração de ilegalidade de
normas, por vícios próprios ou derivados da invalidade de atos praticados no âmbito do respetivo
procedimento de aprovação. Quer dizer que as ações apreciam quer as invalidades próprias, quer as
invalidades derivadas de atos praticados no contexto procedimental, durante o procedimento. O nº2
do art. 72º CPTA coloca algumas dificuldades, nomeadamente com o nº2 do art. 73º CPTA, nos termos
do qual “quem seja diretamente prejudicado ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo pela aplicação de
norma imediatamente operativa que incorra em qualquer dos fundamentos de ilegalidade previstos no n.º 1 do artigo
281.º da Constituição da República Portuguesa pode obter a desaplicação da norma, pedindo a declaração da sua
ilegalidade com efeitos circunscritos ao seu caso”.
Os pedidos de declaração de ilegalidade estão definidos no art. 73º CPTA, que se refere aos
pressupostos. Há três pedidos:
Pode ser pedida por quem seja diretamente prejudicado pela vigência da norma ou possa vir
previsivelmente a sê-lo em momento próximo, independentemente da prática de ato concreto de
aplicação, pelo Ministério Público e por pessoas e entidades nos termos do nº 2 do artigo 9º, assim
como pelos presidentes de órgãos colegiais, em relação a normas emitidas pelos respetivos órgãos
Quem seja diretamente prejudicado ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo
pela aplicação de norma imediatamente operativa que incorra em qualquer dos fundamentos de
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Aulas teórico-práticas
→ E um a título incidental:
Art. 73º, nº3 CPT: casos em que o regulamento é mediamente operativo. Nestes casos, os
efeitos só se produzem através de um ato administrativo de aplicação. O prof. COLAÇO ANTUNES
pergunta se não teria mais sentido, nestes casos, em vez deste pedido, formular uma cumulação de
pedidos (admissível nos termos do art. 4º, nº2, al. b CPTA).
O Ministério Público tem o dever de pedir a declaração de ilegalidade com força obrigatória
geral quando tenha conhecimento de três decisões de desaplicação de uma norma com fundamento na
sua ilegalidade (art. 73º, nº4 CPTA).
1.2.3.1. Prazos
1. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a declaração de ilegalidade de normas pode ser pedida a
todo o tempo.
2. A declaração de ilegalidade com fundamento em ilegalidade formal ou procedimental da qual não resulte
inconstitucionalidade só pode ser pedida no prazo de seis meses, contado da data da publicação, salvo nos casos de
carência absoluta de forma legal ou de preterição de consulta pública exigida por lei.
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Aulas teórico-práticas
A regra é a de que o pedido pode ser feito a todo o tempo. Todavia, o nº2 do art. 74º CPTA
vem precisar que a declaração de ilegalidade com fundamento em ilegalidade formal ou procedimental,
e da qual não resulte inconstitucionalidade, só pode ser pedida no prazo de seis meses. Trata-se de uma
solução entre a nulidade e a anulabilidade.
1.2.3.2. Efeitos
1. A declaração com força obrigatória geral da ilegalidade de uma norma, nos termos previstos neste Código, produz
efeitos desde a data da entrada em vigor da norma, salvo no caso de ilegalidade superveniente.
2. O tribunal pode, no entanto, determinar que os efeitos da decisão se produzam apenas a partir da data do trânsito
em julgado da sentença quando razões de segurança jurídica, de equidade ou de interesse público de excecional relevo,
devidamente fundamentadas, o justifiquem.
(…)
Art. 76º CPTA - Efeitos da declaração de ilegalidade com força obrigatória geral
O nº2 refere-se à produção de efeitos ex nunc. O que é que acontece aos atos praticados ao
abrigo das normas que foram declaradas ilegais quando o tribunal entende que a sentença só produz
efeitos a partir do transito em julgado? O prof. COLAÇO ANTUNES entende que o particular terá que
impugnar tempestivamente os atos praticados ao abrigo dessas normas. Os atos não se convalidam,
mantêm-se ilegais, e por isso têm que ser atacados tempestivamente.
Quanto aos poderes do juiz, apesar da sentença ser condenatória, os poderes não são tão
ingerentes como na ação de condenação à prática de ato legalmente devido.
26.03.2019
Temos vindo a analisar processos principais não urgentes. Os processos principais urgentes
estão definidos nos arts. 97º e ss. CPTA. São eles: o contencioso eleitoral (art. 98º CPTA); o
contencioso dos procedimentos de massa (art. 99º CPTA); o contencioso pré-contratual (arts. 100º e
ss. CPTA); a intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou passagem de
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Aulas teórico-práticas
certidões (arts. 104º e ss. CPTA) e a intimação para direitos, liberdades e garantias (arts. 109º e ss.
CPTA).
O contencioso eleitoral e o contencioso pré-contratual eram, antes, impugnações. Agora o
legislador chama-lhes ações administrativas urgentes. Isto porque, tanto no contencioso eleitoral como
no contencioso pré-eleitoral passou a abranger-se não só pedidos impugnatórios mas também pedidos
condenatórios.
Estes processos urgentes principais distinguem-se dos processos principais não urgentes
porque, atendendo à natureza dos bens jurídicos em causa (p. ex., o direito a realizar uma manifestação,
o direito de asilo), um processo principal com uma duração normal é absolutamente imprestável para
estas situações. Tratam-se de processos céleres, que obedecem a uma tramitação simplificada. Importa
notar que temos processos urgentes que não são processos principais - os procedimentos cautelares
(que têm como notas características a sua provisoriedade, a sua instrumentalidade a sua simplicidade).
O processo cautelar também não satisfaz os interesses que estão aqui em causa porque não têm
capacidade para decidir a questão.
Importa referir, a este nível, a existência de uma série de diretivas da UE. Ao nível do Código
dos Contratos Públicos, uma das diretivas implicou a consagração de um efeito suspensivo a nível
substantivo e um efeito suspensivo a nível processual. O processo principal não tem, em regra, efeito
suspensivo. Este contencioso pré-contratual é, então, uma exceção à regra. Nestes processos urgentes
há um elemento fundamental: o tempo. Quer a Administração, quer o tribunal, quer o particular têm
“tempos diferentes”. Se o legislador comunitário entendeu que era necessário estabelecer um efeito
suspensivo substantivo e processual é porque a Administração não é assim tão lenta como
frequentemente se diz. Dizer-se que a Administração é sempre “lenta” e que o particular é sempre
“rápido” é simplista, muitas vezes o particular não está interessado em obter uma sentença, “litiga por
litigar”.
1. Para os efeitos do disposto na presente secção, o contencioso pré-contratual compreende as ações de impugnação ou de
condenação à prática de atos administrativos relativos à formação de contratos de empreitada de obras
públicas, de concessão de obras públicas, de concessão de serviços públicos, de aquisição ou
locação de bens móveis e de aquisição de serviços.
2. Para os efeitos do disposto na presente secção, são considerados atos administrativos os atos praticados por quaisquer
entidades adjudicantes ao abrigo de regras de contratação pública.
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Aulas teórico-práticas
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Aulas teórico-práticas
Podemos dizer que este art. 132º, nº5 CPTA é uma solução de certo modo equivalente ao processo
principal urgente, na medida em que esta convolação é possível.
Já dissemos que a noção de ato administrativo é aqui muito ampla. Nos termos do art. 103º
CPTA abrangem-se aqui processos dirigidos à declaração de ilegalidade de disposições contidas no
programa do concurso, no caderno de encargos ou em qualquer outro documento conformador do
procedimento de formação de contrato, designadamente com fundamento na ilegalidade das
especificações técnicas, económicas ou financeiras que constem desses documentos. Tratam-se,
verdadeiramente, de normas administrativas e não de atos administrativos.
Os processos do contencioso pré-contratual devem ser intentados no prazo de um mês, por qualquer pessoa
ou entidade com legitimidade nos termos gerais, sendo aplicável à contagem do prazo o disposto no n.º 3 do artigo 58.º e
nos artigos 59.º e 60.º.
No que respeita aos prazos, estes são relativamente curtos. Nos termos do art. 101º CPTA o
prazo é de um mês, independentemente do tipo de invalidade (ou seja, o prazo é de um mês ainda que
os atos sejam nulos). É este o prazo não apenas para os pedidos impugnatórios, mas também para os
pedidos condenatórios. Para além disso, é também este o prazo para o Ministério Público.
1. Os processos do contencioso pré-contratual obedecem à tramitação estabelecida no capítulo III do título II,
salvo o preceituado nos números seguintes.
2. Só são admissíveis alegações no caso de ser requerida ou produzida prova com a contestação.
3. Os prazos a observar são os seguintes:
a) 20 dias para a contestação e para as alegações, quando estas tenham lugar;
b) 10 dias para a decisão do juiz ou relator, ou para este submeter o processo a julgamento;
c) 5 dias para os restantes casos.
4. O objeto do processo pode ser ampliado à impugnação do contrato, segundo o disposto no artigo 63.º
(…)
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Aulas teórico-práticas
No que respeita à tramitação, conforme retiramos da leitura do art. 102º CPTA, ela é bastante
mais rápida do que nos processos principais não urgentes. Os prazos (nº3) são curtos precisamente
porque se trata de um processo principal urgente. Nos termos do nº4, o objeto do processo pode ser
ampliado à impugnação do contrato, nos termos do art. 63º CPTA (se assim é, diz o prof. COLAÇO
ANTUNES, é porque a Administração não é assim tão lenta). Importa não descartar a hipótese, nos
termos do art. 4º CPTA, de uma cumulação de pedidos.
O tal efeito suspensivo processual que referimos está previsto no art. 103º-A CPTA. Este efeito
suspensivo não se aplica a qualquer ato procedimental mas apenas ao ato principal, isto é, ao ato de
adjudicação. A Administração, a entidade demandada e os contrainteressados (que são cada vez mais
a parte principal) podem requerer ao juiz o levantamento do efeito suspensivo.
No art. 103º-B CPTA está prevista a adoção de medidas provisórias, que têm um objeto
diferente do efeito suspensivo automático. O legislador quis acautelar situações que não tivessem por
objeto o ato de adjudicação.
2.2. Intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias (arts. 109º e ss. CPTA)
Nos termos do art. 109º CPTA, o âmbito desta ação poderia ser entendido de uma forma
relativamente restrita. O primeiro acórdão do STJ sobre este tipo de processos urgentes considerou
que esta ação só podia ser intentada no âmbito dos direitos, liberdades e garantias pessoais. A doutrina
tem vindo a alargar o âmbito desta ação, incluindo aqui também os direitos fundamentais de natureza
análoga aos direitos, liberdades e garantias. O prof. COLAÇO ANTUNES tem uma posição intermédia,
não tem um entendimento tão restrito como o deste primeiro acórdão, nem tão extenso como o da
jurisprudência e da doutrina. O prof. incluiria aqui os direitos fundamentais de natureza análoga os que
tenham uma relação intensa com valores como a dignidade da pessoa humana, quando estejam em
causa direitos fundamentais que não tenham uma natureza puramente instrumental. Esta impugnação
tem objetivos consideráveis e perenes, não a podemos banalizar, sob pena do seu descrédito.
Com a leitura do art. 109º CPTA percebe-se que a urgência deste processo principal não é
abstrata e presumida, é uma urgência concreta, objetiva. Há aqui uma certa ideia de subsidiariedade. A
providencia provisória pode ser decretada nos termos do art. 131º CPTA, no prazo de 48 horas.
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Aulas teórico-práticas
Deve ser adotada quando o decretamento provisório de uma providência cautelar não seja
suficiente para tutelar o bem jurídico, mas também nos casos em que não seja necessária uma decisão
de mérito no processo normal, no processo principal.
A decisão e seus efeitos estão previstos no art. 111º CPTA.
2.04.2019
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Aulas teórico-práticas
1. Quem possua legitimidade para intentar um processo junto dos tribunais administrativos pode solicitar a
adoção da providência ou das providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias, que se mostrem adequadas a
assegurar a utilidade da sentença a proferir nesse processo.
2. As providências cautelares regem-se pela tramitação e são adotadas segundo os critérios previstos no presente
título, podendo consistir designadamente em:
a) Suspensão da eficácia de um ato administrativo ou de uma norma;
b) Admissão provisória em concursos e exames;
c) Atribuição provisória da disponibilidade de um bem;
d) Autorização provisória ao interessado para iniciar ou prosseguir uma atividade ou adotar uma conduta;
e) Regulação provisória de uma situação jurídica, designadamente através da imposição à Administração do
pagamento de uma quantia por conta de prestações alegadamente devidas ou a título de reparação provisória;
f) Arresto;
g) Embargo de obra nova;
h) Arrolamento;
i) Intimação para adoção ou abstenção de uma conduta por parte da Administração ou de um particular por
alegada violação ou fundado receio de violação do direito administrativo nacional ou do direito da União Europeia.
Nem sempre é fácil distinguir uma medida antecipatória de uma medida conservatória. P. ex.,
a intimação para abstenção de comportamento de uma decisão que ordena uma demolição de um
prédio será conservatória ou antecipatória?
1. Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, as providências cautelares são adotadas quando haja
fundado receio da constituição de uma situação de facto consumado ou da produção de prejuízos de difícil reparação
para os interesses que o requerente visa assegurar no processo principal e seja provável que a pretensão formulada ou a
formular nesse processo venha a ser julgada procedente.
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2. Nas situações previstas no número anterior, a adoção da providência ou das providências é recusada
quando, devidamente ponderados os interesses públicos e privados em presença, os danos que resultariam da sua
concessão se mostrem superiores àqueles que podem resultar da sua recusa, sem que possam ser evitados ou atenuados
pela adoção de outras providências.
3. As providências cautelares a adotar devem limitar-se ao necessário para evitar a lesão dos interesses
defendidos pelo requerente, devendo o tribunal, ouvidas as partes, adotar outra ou outras providências, em cumulação ou
em substituição daquela ou daquelas que tenham sido concretamente requeridas, quando tal se revele adequado a evitar
a lesão desses interesses e seja menos gravoso para os demais interesses públicos ou privados, em presença.
(…)
Esta dificuldade levou o legislador a alterar os critérios para o decretamento das providências
cautelares, que estão previstos no art. 120º CPTA. Os critérios são os mesmos, mas a relação entre eles
alterou-se com a redação de 2015. Os critérios são: o fumus boni iuris (nº1), o periculum in mora (nº1) e a
ponderação dos interesses envolvidos (nº2).
Saliente-se que o juiz pode afastar-se da providência cautelar pedida ou cumulá-la com outras:
o legislador entendeu que esta é a melhor forma de assegurar uma justiça material e a igualdade das
partes. Isto quer dizer que há um fumus boni iuris e também um fumus males: o juiz pode entender que
apesar de haver aparência de bom direito, ponderando as vantagens e inconvenientes, que a
providência cautelar deve ser recusada. São aqui tidos em conta as pretensões dos contrainteressados.
Na reforma de 2002/2004 havia um predomínio do critério do fumus boni iuris, quando o juiz
se convencesse da altíssima probabilidade da procedência do pedido principal, não recorria aos outros
dois critérios. Agora, não é assim, mesmo que haja essa aparência, o juiz deve sempre ter em
consideração os outros dois critérios, os danos que as partes podem sofrer e o perigo na demora.
2.3.1. Caraterísticas fundamentais da tutela cautelar
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é bem assim, o juiz deve conhecer e deve exigir a prova dos fundamentos dos requisitos que enforma
o pedido da providência cautelar. O prof. COLAÇO ANTUNES entende que o objeto de prova, no
processo cautelar, não é o mesmo que o do processo principal. Enquanto que no processo cautelar o
juiz forma a sua convicção sobre a probabilidade da existência dos pressupostos de facto do direito,
no processo principal o juiz forma a sua convicção na base do conhecimento e prova efetiva dos
pressupostos da existência do direito. Não é tanto a superficialidade, mas a diversidade do objeto que
se distingue no processo cautelar e principal. Esta sumariedade transparece em vários artigos: 116º,
nº2, al. d CPTA, 118º, nºs 2, 3 e 6 CPTA.
Quanto à caraterística da instrumentalidade, no nosso Direito Processual Administrativo, o
processo cautelar depende sempre da existência de um processo principal (art. 113º, nº1 CPTA). NOTA:
a jurisprudência tem entendido que o processo cautelar pode ser intentado durante o processo
principal. Esta ideia também resulta do art. 123º CPTA. Não é assim em todos os ordenamentos
jurídicos. P. ex., no Direito Processual Administrativo francês e alemão podem propor-se processos
cautelares independentemente da existência de processos principais. A instrumentalidade também está
presente no art. 114º, nºs 2 e 3 CPTA.
Finalmente, quanto à caraterística da provisoriedade, esta resulta, desde logo, do facto de as
providências cautelares só se manterem até à prolação e respetiva execução da sentença principal (a
não ser nos casos excecionais, previstos no art. 121º CPTA, em que se pode convolar processos
cautelares em processos principais). Esta característica da provisoriedade pode detetar-se no art. 113º,
nº4 CPTA, que insinua a ideia de que a justiça cautelar tem como objeto uma situação concreta e,
portanto, o legislador entendeu que o requerente possa proceder à alteração ou ampliação do pedido
com base na alteração superveniente dos pressupostos de facto e de direito. Esta ideia está também
presente no art. 124º CPTA.
O art. 126º CPTA diz respeito à utilização abusiva das providências cautelares.
Uma outra norma relevante é a do art. 128º CPTA (proibição de executar o ato administrativo).
De certa forma, poderíamos entender que o art. 128º CPTA abre a possibilidade da suspensão da
eficácia do ato. Contudo, podemos colocar algumas críticas: por um lado, há aqui um certo
esquecimento dos contrainteressados; por outro lado, quem faz a avaliação do dano especial para o
interesse público? Em princípio, deve ser o juiz e não a Administração, pois esta é uma parte
(interessada). Parece que, muitas vezes, os juízes, sobretudo dos tribunais administrativos e fiscais, têm
dificuldade em considerar devidamente fundamentada uma resolução apresentada pela Administração,
deixando transparecer a ideia de que se está a fazer uma interpretação dos critérios para o decretamento
das providências cautelares utilizando de forma soberana o critério do fumus boni iuris. O art. 128º CPTA
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Aulas teórico-práticas
Quanto à suspensão da eficácia de normas, rege o art. 130º CPTA. Até à reforma de 2002/2004,
esta suspensão da eficácia de normas não era possível. Estamos a referir-nos a normas imediatamente
operativas, sem necessidade de concretização por um ato administrativo (“cujos efeitos se produzam
imediatamente, sem dependência de um ato administrativo ou jurisdicional de aplicação”).
Quanto ao decretamento provisório da providência, rege o art. 131º CPTA, nos termos do qual
o juiz pode, no despacho liminar, a pedido do requerente ou a título oficioso, quando reconheça a
existência de uma situação de especial urgência, passível de dar causa a uma situação de facto
consumada na pendência do processo, decretar provisoriamente a providência requerida ou aquela que
julgue mais adequada. Também aqui transparece uma ideia de provisoriedade. De qualquer modo, o
prof. COLAÇO ANTUNES crê que é exigido, por parte do juiz, a verificação dos pressupostos previstos
no art. 116º CPTA, que se refere ao despacho liminar. Saliente-se que o decretamento provisório não
é passível de impugnação, o que não impede, no entanto, o juiz de o revogar ou alterar.
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Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
9.04.2019
1. Os processos do contencioso eleitoral são de plena jurisdição e podem ser intentados por quem, na eleição em causa,
seja eleitor ou elegível ou, quanto à omissão nos cadernos ou listas eleitorais, também pelas pessoas cuja inscrição haja
sido omitida.
2. Na falta de disposição especial, o prazo de propositura de ação é de sete dias a contar da data em que seja possível o
conhecimento do ato ou da omissão.
3. Nos processos abrangidos pelo contencioso eleitoral, a ausência de reação contra os atos relativos à exclusão, inclusão
ou omissão de eleitores ou elegíveis nos cadernos eleitorais, e demais atos com eficácia externa anteriores ao ato eleitoral,
assim como de cada ato eleitoral adotado no âmbito de procedimentos encadeados impede o interessado de reagir contra
as decisões subsequentes com fundamento em ilegalidades de que enfermem os atos anteriormente praticados.
(…)
e urgente, na medida em que os direito de eleger e de ser eleito são direitos fundamentais de
participação política, para os quais a duração normal dos processos não seria suficiente. Da mesma
forma, são também insuficientes os processos cautelares, na medida em que estes bens jurídicos
fundamentais que têm a ver com direitos de participação política dificilmente se harmonizam com a
solução provisória típica dos processos cautelares.
Quanto às eleições aqui em causa, são relativas à designação de órgãos eletivos de pessoas
coletivas de Direito Público, especialmente no âmbito da Administração Autónoma não territorial,
porque nas eleições relativamente à Administração Autónoma, p. ex., regional, a competência é dos
tribunais comuns. Abrange este contencioso eleitoral também eleições relativamente a órgãos de
entidades inseridas na Administração direta e indireta, como p. ex., alguns estabelecimentos públicos.
O prof. COLAÇO ANTUNES entende que não cabe no contencioso eleitoral a apreciação de qualquer
61
Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
litígio de natureza eleitoral que envolva pessoas jurídicas privadas, ainda que atuem no âmbito de
exercício de poderes jurídico-administrativos.
O legislador de 2015 introduziu uma alteração ao regime estabelecido pela reforma de
2002/2004, que apontava para um contencioso unitário. Não está apenas em apreciação o ato eleitoral
mas sim todos os atos que envolvem o procedimento eleitoral. Nesta medida, apontou-se para um
princípio de aquisição progressiva, que se pode ver no nº3 do art. 98º CPTA. Este princípio tem a
ver com a preocupação da estabilidade do universo eleitoral.
Diz o nº1 do art. 98º CPTA que os processos do contencioso eleitoral são de plena jurisdição.
Significa isto que este processo de contencioso eleitoral engloba também a possibilidade de condenação
imediata das autoridades administrativas para assegurar imediatamente a inscrição nos cadernos
eleitorais, a exclusão de candidatos ou a recusa de candidaturas. Não é um contencioso estritamente
condenatório. O juiz tem os poderes mais reforçados, não se resumindo aos poderes impugnatórios.
Terá legitimidade para propor uma ação desta natureza (legitimidade processual ativa), nos
termos do nº1 do art. 98º CPTA, quem seja eleitor ou elegível, ou quanto à omissão nos cadernos ou
lista, também as pessoas cuja inscrição haja sido omissa.
Como se trata de um processo principal urgente, o prazo de propositura da ação é de sete dias
a contar da data em que seja possível o conhecimento do ato ou da omissão (art. 98º, nº2 CPTA).
(…)
4. Os prazos a observar durante a tramitação do processo são os seguintes:
a) Cinco dias para a contestação;
b) Cinco dias para a decisão do juiz ou do relator, ou para este submeter o processo a julgamento;
c) Três dias para os restantes casos.
(…)
A tramitação a observar é relativamente simplificada e célere, como decorre do nº4 do art. 98º
CPTA.
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Aulas teórico-práticas
1. Para os efeitos do disposto na presente secção, e sem prejuízo de outros casos previstos em lei especial, o contencioso
dos atos administrativos praticados no âmbito de procedimentos de massa compreende as ações respeitantes à prática ou
omissão de atos administrativos no âmbito de procedimentos com mais de 50 participantes, nos seguintes domínios:
a) Concursos de pessoal;
b) Procedimentos de realização de provas;
c) Procedimentos de recrutamento.
2. Salvo disposição legal em contrário, o prazo de propositura das ações a que se refere o presente artigo é de um mês e
as ações devem ser propostas no tribunal da sede da entidade demandada.
(…)
5. Os prazos a observar durante a tramitação do processo são os seguintes:
a) 20 dias para a contestação;
b) 30 dias para a decisão do juiz ou do relator, ou para o despacho deste a submeter o processo a julgamento;
c) 10 dias para os restantes casos.
(…)
Curiosamente, poderia haver aqui referência a outros procedimentos de massa, como p. ex. as
ações populares. Talvez não haja esta referência porque a ação popular está regulada em diploma
próprio (Lei nº 83/95, de 31 de agosto).
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Aulas teórico-práticas
O prazo de propositura das ações é de um mês e as ações devem ser propostas no tribunal da
sede da entidade demandada (art. 99º, nº2 CPTA).
O nº4 do art. 99º CPTA consagra o princípio da concentração de processos, que tem,
naturalmente, que ver com a preocupação de obter uma maior uniformidade das decisões
jurisprudenciais.
Esta matéria está regulada nos arts. 104º a 108º CPTA. A intimação para a prestação de
informações, consulta de processos ou passagem de certidões era, antes, um processo cautelar, com
muitas limitações. É certo que, embora literalemente a lei não fizesse referência à prestação de
informações, quer a doutrina, quer a jurisprudência entendiam que este processo englobava também
as pretensões informativas.
Será que se justifica a existência de um processo urgente principal quanto a esta matéria?
Há uma certa controvérsia na doutrina quanto à consagração destes processos como principais
urgentes. Muitas vezes os pedidos de informação são um pouco “caprichosos”. Para além de que nem
todas as informações carecem de uma resposta célere e urgente. O prof. COLAÇO ANTUNES entende
que o legislador se inclinou para esta posição com base numa ideia de transparência administrativa, por
um lado, e com base numa ideia de que estas pretensões materiais são fáceis de prestar, por outro lado.
Talvez estas duas razões associadas tenham contribuído para esta solução.
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Aulas teórico-práticas
CPTA. É preciso conjugar o art. 104º CPTA com o art. 106º CPTA e ainda com o art. 60º CPTA.
Verifica-se, nos termos do art. 106º CPTA, um efeito interruptivo.
1. A intimação deve ser requerida contra a pessoa coletiva de direito público, o ministério ou a secretaria
regional cujos órgãos sejam competentes para facultar a informação ou a consulta, ou passar a certidão.
2. Quando o interessado faça valer o direito à informação procedimental ou o direito de acesso aos arquivos e
registos administrativos, a intimação deve ser requerida no prazo de 20 dias, a contar da verificação de qualquer dos
seguintes factos:
a) Decurso do prazo legalmente estabelecido, sem que a entidade requerida satisfaça o pedido que lhe foi
dirigido;
b) Indeferimento do pedido;
c) Satisfação parcial do pedido.
Quanto aos pressupostos desta intimação, nos termos do art. 105º CPTA, esta deve ser
requerida contra a pessoa coletiva de Direito Público, o ministério ou a secretaria regional cujos órgãos
sejam competentes para facultar a informação ou a consulta, ou passar a certidão (nº1). A intimação
deve ser requerida no prazo de 20 dias a contar da verificação de qualquer um dos factos previstos no
nº2.
No que toca à legitimidade, têm legitimidade processual ativa os titulares do direito à
informação. Há aqui, no entender do prof. COLAÇO ANTUNES, um pressuposto processual específico:
o interessado deve fazer um pedido prévio de acesso à informação, e só depois é que é legítimo recorrer
a este tipo de ação. Quanto à legitimidade passiva aplica-se o disposto no art. 10º, nº2 CPTA.
Não são atos administrativos. Deve entender-se, para este efeito, que são atos materiais.
1. Deduzido o pedido de intimação, a secretaria promove oficiosamente a citação da entidade demandada e dos
contrainteressados para responder no prazo de 10 dias.
2. Apresentada a resposta ou decorrido o respetivo prazo e concluídas as diligências que se mostrem necessárias, o juiz
profere decisão no prazo de cinco dias.
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Aulas teórico-práticas
23.04.2019
3. Elementos da causa
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Aulas teórico-práticas
Este artigo deve ser conjugado com o art. 78º, nº2 CPTA, que enumera uma série de requisitos
da petição inicial. Nos termos deste artigo, deve o autor:
3.1. Partes
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Aulas teórico-práticas
provimento ao pedido apresentado pelo autor contra a entidade administrativa em causa (art. 57º
CPTA). Os contrainteressados têm poderes processuais próprios das partes: podem contestar e até
recorrer (arts. 68º, nº2, 78º, nº2, al. b, 80º, nº1, al. b, 81º, 94º, nº4, al. e, 114º, nº3, al. d, 115º, 116º, 117º,
120º e 177º CPTA). Para além das partes principais e dos contrainteressados, temos ainda os
cointeressados, que têm interesse em que o autor tenha sucesso no seu pedido, têm interesse em que
o tribunal dê provimento à pretensão formulada pelo autor. Os contrainteressados e os
contrainteressados cabem na categoria mais ampla dos assistentes, partes acessórias que têm interesse
em que uma das partes ganhe a ação.
Depois temos ainda a posição do Ministério Público, que tem uma espécie de “dupla
personalidade”. O Ministério Público aparece como parte principal quando impugna um ato ou norma
administrativa, ou como parte acessória quando atua em defesa ou representação do Estado (em defesa
da legalidade ou interesse público). O prof. COLAÇO ANTUNES entende que o Ministério Público não
devia atuar em defesa do interesse público, isso deveria caber aos serviços jurídicos da Administração
Pública. A intervenção do Ministério Público deve, no entender do prof., ser confinada à defesa da
legalidade administrativa. O Ministério Público é, portanto, uma parte acessória especialíssima, na
medida em que não tem poderes tão confinados como normalmente têm as partes acessórias, podendo
invocar vícios que não foram alegados pelo autor principal.
3.2. Pedido
O pedido é o efeito pretendido pelo autor com a propositura de uma ação. Na medida em que
se reporta a esses efeitos, o pedido pode, em virtude da natureza diversa dos efeitos pretendidos, ser
impugnatório, condenatório ou declarativo.
No caso das providências cautelares (art. 120º, nº 3 CPTA), há uma espécie de compressão do
princípio do pedido, na medida em que o tribunal pode adotar outras previdências em cumulação ou
em substituição daquelas concretamente requeridas.
A causa de pedir envolve duas ideias diferentes: um conjunto de factos concretos que alicerçam
o pedido, por um lado, e as razões de direito que sustentam esse pedido, por outro. Na grande parte
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Aulas teórico-práticas
das vezes, um pedido processual alicerça-se em várias causas de pedir, especialmente se for
impugnatório.
A causa de pedir equivale à invalidade do ato em termos unitários ou há um concurso de causa de pedir?
3.4. Objeto
Aqui falamos no objeto em sentido mediato, porque o objeto imediato tem a ver com o
conteúdo da relação jurídica materialmente controvertida, com o conteúdo da causa, da pretensão. O
que nos interessa aqui é, portanto, o objeto mediato – o que é objeto de controvérsia e impugnação?
Um ato? Uma norma? Um contrato? O prof. COLAÇO ANTUNES valoriza muito esta noção de objeto
mediato.
4. Pressupostos processuais
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Aulas teórico-práticas
→ Competência
→ O art. 14º, nº1 CPTA refere-se a situações de incompetência relativa, casos em que
o processo é oficiosamente remetido ao tribunal administrativo competente;
→ Já as situações de incompetência absoluta estão previstas no nº2, nos termos do qual o
interessado pode, dentro de 30 dias a contar do trânsito em julgado da decisão que
declare a incompetência, requerer a remessa do processo ao tribunal competente.
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Aulas teórico-práticas
O art. 15º CPTA trata da extensão da competência à decisão de questões prejudiciais. O juiz
pode, quando o conhecimento do objeto da ação dependa (no todo ou em parte) da decisão de uma
ou mais questões da competência de um tribunal de outra jurisdição, sobrestar na decisão até que o
tribunal competente se pronuncie (suspensão da instância), conforme dispõe o nº1, ou então a
questão prejudicial é decidida com efeitos restritos ao processo administrativo se a ação da competência
do tribunal de outra jurisdição não for proposta no prazo de dois meses ou se ao processo não for
dado andamento por negligência das partes (nºs 2 e 3).
→ Personalidade judiciária
→ Capacidade judiciária
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Aulas teórico-práticas
O art. 11º CPTA diz respeito ao patrocínio judiciário e representação em juízo. Conforme
dispõe o nº1, nos tribunais administrativos é obrigatória a constituição de mandatário nos termos
previstos no CPC, podendo as entidades públicas fazer-se patrocinar em todos os processos por
advogado, solicitador, ou até licenciado em Direito ou em Solicitadoria. O Estado é sempre
representado pelo Ministério Público.
→ Legitimidade processual
A legitimidade processual (ativa e passiva) estão reguladas nos arts. 9º e 10º CPTA,
respetivamente. A legitimidade processual é uma condição cuja verificação é indispensável à obtenção
de uma pronúncia judicial sobre o mérito da causa. A legitimidade pode ser, como sabemos, ativa ou
passiva.
1. Sem prejuízo do disposto no número seguinte e no capítulo II do título II, o autor é considerado parte
legítima quando alegue ser parte na relação material controvertida.
2. Independentemente de ter interesse pessoal na demanda, qualquer pessoa, bem como as associações e
fundações defensoras dos interesses em causa, as autarquias locais e o Ministério Público têm legitimidade para propor e
intervir, nos termos previstos na lei, em processos principais e cautelares destinados à defesa de valores e bens
constitucionalmente protegidos, como a saúde pública, o ambiente, o urbanismo, o ordenamento do território, a
qualidade de vida, o património cultural e os bens do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias locais, assim
como para promover a execução das correspondentes decisões jurisdicionais.
No que diz respeito à legitimidade processual ativa, importa referir os arts. 9º CPTA e 26º
CPC. A legitimidade ativa implica que o interessado seja efetivamente o titular do direito que invoca.
A titularidade da relação jurídica afere-se pela forma como ela foi invocada na petição, isto é, em função
da titularidade de um direito ou interesse legalmente protegido. Ou seja, e conforme dispõe o nº1 do
art. 9º CPTA, o autor é parte legítima quando alegue ser parte na relação material controvertida. A
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Aulas teórico-práticas
legitimidade processual passiva pertencerá à parte que é titular do dever correspondente ao direito
invocado na relação material controvertida (em regra, uma pessoa coletiva pública).
O art. 9º, nº2 CPTA amplia o conceito de legitimidade processual ativa, nomeadamente quando
estão em causa os chamados “interesses difusos”. Não se exige aqui interesse pessoal e direito na
demanda, tem legitimidade qualquer pessoa, associações ou fundações defensoras dos interesses em
causa, autarquias locais e ainda o Ministério Público.
O legislador optou por uma das teses de controvérsia entre processualistas: fazer referência à
titularidade da relação jurídica tal como foi invocada na petição inicial vs. fazer referência à titularidade
de relação jurídica real (o legislador optou pela primeira).
Quer isto dizer que a legitimidade processual ativa é bastante “generosa”. Daí que exista um
pressuposto processual relativo ao processo que tem muito que ver com legitimidade processual ativa,
que é o interesse processual, o interesse em agir: tem que haver uma necessidade efetiva, real e atual
de tutela jurídica. Esse pressuposto relativo ao processo está no art. 39º CPTA. O legislador exige uma
verificação objetiva da existência de um interesse real e atual, isto é, da utilidade da procedência do
pedido.
Há quem entenda que a legitimidade incluiria o conceito de interesse processual. O prof.
COLAÇO ANTUNES entende que, independentemente desta controvérsia (de se reconhecer ou não a
autonomia do pressuposto do interesse processual), a verdade é que é essencial a verificação objetiva
de um interesse real e atual. Não basta invocar a titularidade de um direito ou interesse legalmente
protegido, até porque se assim fosse não teria explicação a legitimidade processual bastante ampla em
matéria de ação popular ou ação pública levada a cabo pelo Ministério Público, porque aí não está em
causa a titularidade de nenhum direito ou interesse legalmente protegido, mas sim a tutela de bens de
fruição coletiva, de bens comuns, que de certa forma se poderiam reconduzir a interesses públicos mas
não inteiramente personalizados no Estado. O prof. COLAÇO ANTUNES entende que estes interesses
difusos, no nosso ordenamento jurídico, deveriam ser crismados como direitos plurisubjetivos (sendo
direitos fundamentais de natureza análoga aos direitos, liberdades e garantias, tal como consagrados
no art. 66º CRP), e não como meros interesses.
1. Não pode impugnar um ato administrativo com fundamento na sua mera anulabilidade quem o tenha
aceitado, expressa ou tacitamente, depois de praticado.
2. A aceitação tácita deriva da prática, espontânea e sem reserva, de facto incompatível com a vontade de
impugnar.
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Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
3. A execução ou acatamento por funcionário ou agente não se considera aceitação tácita do ato executado ou
acatado, salvo quando dependa da vontade daqueles a escolha da oportunidade da execução.
Importa referir a figura da aceitação do ato (art. 56º CPTA). Trata-se de uma figura anómala,
nas palavras do prof. COLAÇO ANTUNES, que consiste na impossibilidade de impugnação judicial do
ato pela parte que anteriormente já o tinha aceitado ou com o qual havia concordado. Trata-se, por
isso, de um pressuposto processual negativo. Esta aceitação do ato não deve se confundida nem com
a renúncia ao direito de impugnar nem com a queda do prazo, nem também com a extinção do direito
ou interesse legalmente protegido (neste último caso doutrina faz decorrer a aceitação do ato, e de
certa maneira a caducidade do direito da ação, da extinção do direito ou interesse legalmente protegido
- primeiro extinguir-se-ia direito, que teria como consequência a caducidade ao direito de ação).
O prof. COLAÇO ANTUNES entende que o legislador quis, por razões de economia processual,
associar um efeito processual a determinadas condutas dos particulares litigantes quando estes
manifestem um comportamento pouco atento, cuidadoso, de certo modo negligente.
A aceitação pode ser expressa ou tácita (art. 56º, nº1 CPTA). A aceitação expressa pode ser
configurada como um ato negocial; já a aceitação tácita, que deriva de uma prática espontânea
incompatível com a vontade de impugnar, envolve um juízo e prognose pelo juiz.
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Aulas teórico-práticas
A tempestividade é um pressuposto que delimita o prazo fixado pela lei para a proposição da
ação ou para a produção de um específico efeito processual. O prazo para particulares é de três meses
(art. 58º, nº1, al. b CPTA), e o prazo para o Ministério Público é de um ano (art. 58º, nº1, al. a CPTA).
É importante ter em consideração que o caso decidido só se forma decorrido o prazo mais
longo (o prazo para o Ministério Público), ou seja, o ato anulável só se consolida e torna-se impugnável
decorrido o prazo de um ano do Ministério Público, porque o particular pode não impugnar o ato,
mas o Ministério Público ainda vai a tempo, por ter um prazo maior.
MAS o decurso no prazo não sana os vícios! O ato não se convalida, o ato consolida-se. Daí que
possa ser atacada em termos incidentais nos termos do art. 38º CPTA, sempre que a lei substantiva o
admita, com o limite posto pelo nº2.
O art. 58º, nº3 CPTA permite que o prazo de impugnação se alargue para além do previsto na
al. b). Em que situações?
30.04.2019
Devemos continuar a entender a exigência de uma pronúncia administrativa prévia como pressuposto processual da ação
administrativa (art. 59º, nºs 4 e 5 CPTA, arts. 185º, 189º e 190º CPA?
Houve uma evolução considerável nesta matéria. Até à reforma de 2002/2004, a regra era a da
impugnação administrativa necessária. O autor teria que recorrer para o superior hierárquico para obter
uma pronúncia administrativa, e só depois é que estava aberta a possibilidade de propositura da ação.
A impugnação administrativa necessária era vista como um pressuposto processual. O legislador da
justiça admin antecipou-se (art. 59º, nºs 4 e 5 CPTA). A regra, hoje, teria passado a ser a da impugnação
administrativa facultativa e já não a da impugnação administrativa necessária. Esta revolução foi
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Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
confirmada posteriormente com o novo CPA de 2015, no art. 185º, nº2 – as reclamações e os recursos
têm caráter facultativo. Esta é a regra. Cai, portanto, a ideia de impugnação administrativa como
pressuposto processual.
O que distingue hoje uma impugnação administrativa necessária de uma facultativa é que,
quando a impugnação é necessária, suspende a eficácia do ato. Se é facultativa não suspende a eficácia
do ato, suspende, nos termos do nº3 do art. 189º, o prazo de propositura de ações nos tribunais
administrativos. O art. 185º, nº2 CPA veio inverter a regra mas não veio eliminar as impugnações
admin necessárias, que têm o seu expoente mais simbólico no chamado recurso hierárquico necessário.
O recurso hierárquico necessário só existirá quando o órgão subalterno atuar no exercício de uma
competência concorrente. O prof. COLAÇO ANTUNES entende que se deveria ter eliminado a
impugnação administrativa necessária.
A questão que se coloca aqui é a seguinte: será que o art. 185º, nº2 CPA viola os arts. 20º e 268º, nº4
CRP? Aparecem várias teses:
→ Por um lado, as teses mais subjetivistas e radicais (VASCO PEREIRA DA SILVA), segundo as
quais há inconstitucionalidade por violação do direito de acesso aos tribunais e por violação do
princípio da tutela jurisdicional efetiva.
→ Por outro lado, (VIEIRA DE ANDRADE), há quem entenda que o art. 268º, nº4 CRP não
coloca em causa a legitimidade e juridicidade das impugnações administrativas necessárias. Trata-se
apenas de uma condicionante legítima, a tutela jurisdicional atualiza-se no momento posterior.
O prof. COLAÇO ANTUNES entende, por um lado, que a impugnação administrativa necessária
poderia ter sido eliminada “sem grandes custos”, porque se manteria sempre aberta a possibilidade das
impugnações administrativas, eliminando-se apenas a “via sacra” das impugnações administrativas
necessárias. Por outro lado, o prof. COLAÇO ANTUNES entende que, havendo inconstitucionalidade,
seria através de outros argumentos: a impugnação administrativa, quando necessária, de certa maneira
tem os mesmos fundamentos da anulação, a única diferença é que a anulação é de iniciativa da própria
Administração. O prof. entende que o argumento mais forte para sustentar a inconstitucionalidade é
o argumento da precedência da lei: o legislador, ao impor a impugnação administrativa necessária,
estaria a consagrar uma forma de autotutela contenciosa indireta.
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Aulas teórico-práticas
Justifica-se a existência como pressuposto processual de uma interpelação administrativa prévia, nomeadamente através
da apresentação de um requerimento que constitua o órgão admin competente no dever de decidir (art. 67º, nº1, 37º, nº3,
109º, nº2, 104º, nº2, 157º, nº2 CPTA)?
Art. 157º, nº2 CPTA – embora o legislador aponte para uma execução espontânea das
sentenças por parte da Administração, isto não tem um efeito automático, o que faz é criar um dever
da Administração.
»»»»»
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Aulas teórico-práticas
retroativa do ato desde o momento em que foi praticado. Há aqui também um efeito reconstrutivo e
conformativo da posterior ação da Administração. A Administração tem o dever de reconstituir a
situação hipotética atual, isto é, a situação que existiria se o ato ilegal não tivesse sido praticado ou
tivesse sido praticado com a respetiva ilegalidade. A Administração passa a estar inibida de repetir os
mesmos atos com os mesmos vícios, não está impedida de renovar o ato (sobretudo quando este
padece apenas de vícios de fundamentação). Não pode é repetir o mesmo ato com os mesmos vícios,
bem como não pode praticar atos que ponham em causa a execução da respetiva sentença. A nulidade,
no Direito Administrativo, é uma “porta de entrada”.
A execução das sentenças é de cumprimento espontâneo por parte da Administração. A
Administração tem um dever jurídico de executar a sentença corretamente, tendo em consideração os
fundamentos da sentença e os preceitos legais aplicáveis no momento da execução dessa mesma
sentença. A execução da sentença não é discricionária, a Administração está vinculada a executar essa
sentença.
Tal como no processo civil, os efeitos das sentenças são, normalmente, inter partes. Mas o
processo administrativo pode produzir efeitos erga omnes, sobretudo quando está em causa a invalidade
de normas administrativas. Nos termos dos arts. 73º, nº1 e 76º CPTA, quando se trata de uma
declaração de ilegalidade com força obrigatória geral, e desde que se trate de uma norma imediatamente
operativa, a sentença produzirá efeitos erga omnes. Já não será assim nos casos de declaração de
ilegalidade com efeitos circunscritos ao caso concreto.
14.05.2019
(Cabe-nos agora fazer umas breves observações acerca de duas temáticas: as ações contratuais e a ação
popular)
Ações contratuais
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Aulas teórico-práticas
modificação → remissão para o art. 307º CCP – declarações do contraente público, cuja natureza pode
ser de dois tipos:
→ Natureza negocial, que é a regra (se estivermos perante uma declaração negocial, a via
judicial deverá ser a que está prevista nos arts. 77º-A e ss. CPTA);
→ Natureza de ato administrativo (aqui o meio processual terá que ser a ação administrativa
de impugnação de um ato administrativo).
Quanto aos prazos, temos de recuar um pouco e fazer apelo ao art. 41º, nº1 CPTA.
Quanto à legitimidade, a legitimidade processual ativa é bastante generosa, quer quanto aos
pedidos relativos à validade dos contratos (art. 77º-A, nº1 CPTA), quer quanto aos pedidos relativos à
execução do contrato (art. 77º-A, nº3 CPTA). Esta última é ainda mais surpreendente. Faria sentido
que a legitimidade processual ativa fosse reconhecida apenas às partes da relação contratual, mas não
é assim. Esta ampla legitimidade processual ativa, no entender do prof., justifica-se por alguns
princípios do Direito Administrativo Europeu e do Direito da Contratação Pública Europeu: o
princípio da concorrência, o princípio da transparência e o princípio da igualdade.
Ação popular
A ação popular está prevista no art. 52º, nº3 CRP. Há que distinguir a ação popular social (que
a lei designa por ação popular administrativa) da ação popular local. A ideia da ação popular assumir
outras formas de ação administrativa só se poderá aplicar à ação popular social (a tal ação popular
administrativa, na designação legal) e não à ação popular local.
A ação popular administrativa está prevista na Lei nº 83/95, de 31 de agosto. A ação popular,
de certa forma, tem um regime não muito claro, porque uma ação popular em sentido próprio é o
meio destinado a obter tutela jurídica dos bens jurídicos definidos no art. 9º, nº2 CPTA (melhor ainda
do que na própria Lei da Ação Popular). Não se pode propor uma ação particular para defesa do
ambiente. A ação popular serve para a tutela destes bens jurídicos, não se pode, em princípio, propor
uma ação particular para defesa deles. Esta é, no fundo, uma questão de princípio, mas há aqui questões
de interpretação jurídica. Os interesses difusos em sentido próprio são aqueles que são da titularidade
de todos e cada um dos cidadãos. Já quando se fala de interesses difusos em sentido impróprio estamos
a falar de interesses coletivos.
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Aulas teórico-práticas
Casos práticos
Nº1:
Despacho do Diretor Geral de Fundos Farmacêuticos que ordena o encerramento de
um posto de medicamentos, sem fundamentar devidamente a sua decisão, e indicando, na
notificação, a sujeição daquela decisão a impugnação administrativa necessária. Quid iuris?
Estamos perante um caso em que a via adequada seria a impugnação de ato administrativo. De
facto, de acordo com a noção de ato administrativo contida no CPTA (art. 148º), e que corresponde,
atualmente, ao conceito processual de ato administrativo impugnável, estamos perante um ato
administrativo – é uma decisão de uma autoridade, no exercício de poderes jurídicos administrativos,
que via a produção de efeitos externos numa situação individual e concreta (art. 51º CPTA). Esta ação
terá como objeto a anulação do ato (art. 50º CPTA). O ato está enfermado por um vício material, pois
viola uma norma legal, nomeadamente o art. 152º, nº1, al. a CPA. O ato é, portanto, anulável (art. 163º,
nº1 CPA).
Quanto à sujeição da decisão a impugnação administrativa necessária, a verdade é que assim
não seria, ou seja, o posto de medicamentos pode recorrer logo à impugnação judicial, na medida em
que os arts. 185º, nº2 CPA e o art. 59º, nº4 CPTA estabelecem que a impugnação administrativa, regra
geral, é facultativa. Se optasse por esta via, suspendia-se o prazo para a impugnação contenciosa, que
seria de 3 meses (art. 58º, nº1, al. b CPTA). Teria legitimidade nos termos do art. 55º, nº1, al. c CPTA.
Nº2:
Ato que exclui candidato de procedimento concursal tendente à celebração de um
contrato de aquisição de bens móveis que viola princípio da imparcialidade, praticado por
município e em cuja notificação falta indicação da data da sua prática.
Neste caso, estamos perante um ato administrativo interprocedimental, podendo, ainda que
não seja um ato final, de acordo com o art. 51º CPTA, ser impugnável (é uma decisão de uma pessoa
coletiva pública territorial, no exercício de poderes jurídicos administrativos, que visa produzir efeitos
jurídicos externos, numa situação individual e concreta. O ato viola o principio da imparcialidade
(previsto no artigo 9º CPA), padecendo de um vício material e também de um vício formal por violação
do art. 114º, nº2, al. b CPA. Assim sendo, o ato é anulável (art. 163º, nº1 CPA).
Ora, o meio processual adequado é a impugnação contenciosa do ato, sendo o objeto da ação
a anulação do ato (art. 50º CPTA). Saliente-se que o candidato deve impugnar este ato durante o
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Aulas teórico-práticas
procedimento concursal, sob pena de não poder impugnar o ato final de adjudicação com fundamento
nas ilegalidades cometidas no ato de exclusão (artigo 51º, nº3 CPTA). O candidato teria legitimidade
ativa para a ação, de acordo com o art. 55º, nº1, al. a CPTA, no prazo de 3 meses (art. 58º, nº1, al. b
CPTA).
Nº3:
O conselho distrital da Ordem dos Advogados do Porto recusou o pedido de inscrição
feito por Bernardo, licenciado em Direito, residente em Coimbra, com fundamento de que tal
inscrição não podia ser aceite sem uma avaliação prévia da capacidade do titular da
licenciatura para o exercício da atividade profissional de advogado, uma vez que essa
licenciatura não obedecia aos requisitos que aquela Ordem entende como necessários para os
cursos de licenciatura em Direito.
Bernardo pretende reagir judicialmente.
1. Qual o pedido processual principal que, no caso, seria apropriado para tutelar a
pretensão de Bernardo?
2. Contra quem deve ser proposta a ação? E o Ministério Público também poderia propor
a ação?
Art. 68º, nº2 CPTA + art. 10º, nºs 1 e 2 CPTA, quanto à legitimidade passiva: a entidade
demandada é a pessoa coletiva (e não os respetivos órgãos, a não ser na hipótese prevista no nº8). A
entidade demandada será a Ordem dos Advogado.
MP – art. 68º, nº1, al. b CPTA, na medida em que estão em causa direitos fundamentais
(liberdade de profissão).
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5. Poderá ser requerida alguma providência cautelar? Se entender que sim, diga qual a
que se lhe afigura apropriada.
Art. 112º CPTA
Nº4:
O Ministério dos Negócios Estrangeiros procedeu à abertura de um concurso público
para o recrutamento de 5 juristas para a carreira diplomática. A este concurso concorreram 30
juristas. João apresentou a sua candidatura mas não viria a ser admitido na fase da apreciação
formal das candidaturas. O seu advogado requereu de imediato uma providência cautelar e
propôs uma ação principal. Apos estas diligências, João continuou no concurso.
1. Na primeira fase do concurso qual a providência que terá sido requerida pelo
advogado de João?
Providência cautelar de admissão provisória em concursos e exames (art. 112º, nº2, al. b CPTA).
É uma providência cautelar antecipatória. Art. 120º CPTA relativamente aos critérios de decisão.
Depois da reforma de 2015, o fummus boni iuris já não é só por si suficiente, é preciso sempre recorrer
aos outros dois critérios. O legislador, antes da reforma de 2015, era mais exigente quando se tratava
de apreciar o provimento de uma providência cautelar antecipatória, relativamente às providências
cautelares conservatórias.
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Aulas teórico-práticas
Pedido de condenação à prática de ato legalmente devido (art. 67º, nº1, al. b CPTA). O que
João pretendia era ser admitido ao concurso, logo um pedido impugnatório não era suficiente. Ele
podia, em alternativa, proceder à mera impugnação do ato, fazendo referência na petição inicial que
pretendia a eliminação daquele ato do ordenamento jurídico. Se João tivesse deduzido o pedido
impugnatório aplicar-se-ia o nº4 do art. 51º CPTA.
É necessário conjugar o art. 68º, nº2 CPTA com o art. 10º, nº2 CPTA.
Nº5:
O secretário de estado da agricultura emitiu um despacho normativo a estabelecer
novas regras de atribuição de subsídios aos agricultores do território continental. Contudo,
em virtude dos critérios previstos no referido despacho, muitos agricultores consideram que
ficam, desde logo, excluídos, só tendo acesso aos subsídios os que tenham uma elevada
capacidade produtiva. Inconformados, pretendem reagir contra o despacho. Supondo que é
por eles consultados, responda às seguintes questões:
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Podemos colocar a possibilidade do art. 130º CPTA: providência cautelar para suspensão da
eficácia de normas.
Pedido indemnizatório, podendo cumular os pedidos nos termos dos arts. 4º e 5º CPTA. A
acumulação não poderia ser aparente, teria sempre que ser real.
Nº6:
Genoveva, arquiteta, apresentou proposta a um concurso público aberto pela Câmara
Municipal do Porto destinado á celebração de contrato de aquisição de serviços no domínio
da arquitetura no valor de 500 000€. A sua proposta era a mais vantajosa comparativamente às
apresentadas pelos outros concorrentes (67). Contudo, em virtude de diversas ilegalidades
cometidas pelo júri ao longo do respetivo procedimento a proposta de Genoveva não viria a
ser adjudicada.
a) A propor uma ação administrativa para impedir que a CM celebrasse o contrato com
o concorrente classificado em 1º lugar?
c) Caso, justificadamente, não concorde com alguma ou ambas as soluções que foram
sugeridas a Genoveva diga como a aconselharia, fundamentando igualmente a sua resposta,
referindo os pedidos que poderiam ser formulados na ação.
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Aulas teórico-práticas
d) Dado que o procedimento já se encontrava na fase final o melhor seria aguardar pela
celebração do contrato entre a Câmara Municipal e o concorrente classificado em 1º lugar
para, após esta, a Genoveva propor uma ação relativa à validade do mesmo com fundamento
nas ilegalidades cometidas pelo júri ao longo do procedimento?
Tempestividade da propositura da ação: 1 mês, mesmo que se trate de nulidade (art. 101º
CPTA), tanto para a ação particular como para a ação pública. Desde que tivesse respeitado o prazo
de 1 mês, era possível a ampliação da instância, ou seja, o objeto do processo podia ser ampliado à
impugnação do contrato (quanto às invalidades que derivam do procedimento pré-contratual) – art.
102º CPTA. Da mesma maneira, caso tivesse impugnado o ato ou os atos procedimentais que deram
origem às alegadas invalidades (incluindo o ato de adjudicação), poderia arguir a invalidade do contrato
nos termos do art. 77º-A, nº1, al. d CPTA.
Mas como não fez uso do meio processual adequado no prazo legalmente previsto, desta
inércia resulta um efeito preclusivo.
Nº7:
Carolina requereu, junto da Câmara Municipal de Penafiel, o licenciamento para
construção de uma moradia no centro histórico. O pedido de licenciamento foi deferido, tendo
sido emitida a respetiva licença de construção no dia 6 de abril de 2018. Contudo, após o início
da obra, com base em parecer dos serviços técnicos, a Câmara Municipal, em reunião colegial,
declarou nula a licença de construção no dia 31 de janeiro de 2019, com fundamento na
violação do plano de urbanização. Desse ato notificou Carolina.
a) Qual o meio processual que seria apropriado para tutelar a pretensão de Carolina?
Poderia ser requerida alguma providência cautelar?
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Aulas teórico-práticas
b) Qual o prazo para propor a ação? Contra quem deve ser proposta a ação? Qual o
tribunal competente?
Pedido de desaplicação incidental da norma ao caso concreto (art. 73º, nº2 CPTA).
Prazo máximo de 10 dias para as informações solicitadas, ao abrigo dos arts. 82º e ss. CPA.
Intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou passagem de certidões (arts. 104º
e ss. CPTA). Efeito interruptivo do prazo de impugnação.
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Aulas teórico-práticas
21.02.2019
Cap. I. Introdução
1. Conceito de relação jurídica fiscal
O conceito de relação jurídica, no Direito Público, tem como base o conceito de relação jurídica
do Direito Privado. Ou seja, aplica-se este conceito de relação jurídica do Direito Privado ao Direito
Público e, de modo especial, ao Direito Tributário.
O Direito Fiscal aplica-se apenas a prestações pecuniárias, que são coativamente determinadas
pelo sujeito ativo da relação jurídica, que não têm caráter de sanção e que são unilaterais. O sujeito
passivo de um imposto vai ter de o pagar, independentemente de lhe ser feita ou não uma prestação
pelo Estado. Não é pelo facto de se utilizarem serviços públicos que se paga impostos: quer se utilize
mais ou menos, paga-se os mesmos impostos. Os tributos que, por sua vez, têm como caraterística a
bilateralidade, são as taxas. As taxas existem porque se utilizou um serviço público, porque alguém
adquiriu um bem público ou porque em relação a alguém se levanta um obstáculo jurídico. A taxa
pressupõe sempre uma relação de bilateralidade.
Quando falamos de “fisco” estamos apenas a falar de impostos. Os impostos são as mais
importantes receitas que o Estado tem: aquela que todos os anos tem de ser determinada no
Orçamento do Estado.
Para se pagar impostos é preciso cumprir com o princípio da capacidade contributiva: só
paga impostos quem tiver capacidade económica.
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Aulas teórico-práticas
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Os principais impostos são, então, o IRS, IRC, IMI, IVA, IMT, e Imposto do Selo. Saliente-
se que há uma tendência de tributar especiais casos de capacidade contributiva, através de contribuições
especiais: setor energético, setor bancário, indústria farmacêutica (são tributações parcelares e
naturalmente aceites pela generalidade das pessoas).
A obrigação de imposto e relação jurídica de imposto pode ser considerada em sentido estrito
ou em sentido amplo. Em sentido estrito, refere-se à relação jurídica em que alguém paga imposto a
outrem. Em sentido amplo, abrange as obrigações acessórias, como a obrigação de declaração, p. ex.
Quer no IRS, como IRC, como no IVA, tem de haver uma declaração por parte do sujeito passivo que
vai fazer nascer a obrigação de pagar o imposto. O conceito de obrigação faz perceber que o conceito
de relação jurídica tributária é diferente de relação jurídica civil. Na relação jurídica tributária está
presente uma ideia de coatividade (determinada pelo Estado), ao passo que a relação jurídica civil vai
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Aulas teórico-práticas
tendo alguns elementos de liberdade. A obrigação que aqui está presente é uma obrigação coativa que
o cidadão tem de cumprir perante o Estado. O Direito Fiscal acabou por ser o campo do Direito
Administrativo em que foi mais fácil aplicar a ideia de relação jurídica.
A obrigação legal, que tem de ser cumprida pelos contribuintes em relação ao sujeito ativo
(Estado), tem os seus elementos essenciais regulados no art. 36º da Lei Geral Tributária.
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Aulas teórico-práticas
Os sujeitos da relação jurídica tributária podem ser ativos e passivos. Há, no entanto, vários
tipos de sujeitos passivos e vários tipos de sujeitos ativos.
O sujeito ativo será o titular do poder tributário, aquele que determina a linha da relação
jurídica, ou seja, o Estado. Uma outra vertente do sujeito ativo passa pela sua competência tributária,
ou seja, o fisco vai gerir a própria relação jurídica. Existirá um ato pelo qual um serviço do Estado, que
será a Autoridade Tributária, envia, para o contribuinte, a nota de liquidação. A competência tributária
é a capacidade que existe de ir determinando os elementos da própria relação jurídica. A competência
tributária não tem de ser obrigatoriamente estatal. No caso do IMI e do IMT, a sua liquidação poderia
ser feita diretamente pelas autarquias locais. A capacidade tributaria ativa é a capacidade de exigir o
cumprimento da obrigação (art. 15º LGT, com a relação que existe entre a capacidade tributária e
personalidade tributária).
O sujeito passivo pode ter várias circunstâncias. Será, desde logo, o contribuinte, aquele
que praticou o facto tributário, ou seja, o facto que vai levar ao pagamento do imposto. Alguém que
recebe o rendimento, pratica o facto tributário. Agora, o funcionário não vai receber o seu rendimento
total: há uma parte que ficou retida e que é entregue ao Estado (não sendo contribuinte, a entidade
patronal é devedora de imposto). Alguém que não praticou o facto tributário vai entregar, ao Estado,
o montante que é devido. Podemos ter contribuintes que são devedores de impostos e devedores de
impostos que não são contribuintes. O sujeito passivo, em sentido estrito, é o equivalente àquele que
tem capacidade tributária.
A nossa “vida fiscal” é um “filme anual”: no dia 1 de janeiro começa um “novo filme”. Entre
1 de janeiro e 31 de dezembro vai determinar-se os rendimentos, fazer-se as deduções e, no final, fica-
se com o montante que tem de ser entregue ao Estado. Imagine-se que x tem de entregar 20, mas a
sua entidade patronal já entregou 16: assim, x só terá de pagar 4. Se a entidade patronal entregou 25,
o Estado terá de devolver 5 a x.
Quem tem a obrigação de entregar o imposto é um sujeito e quem praticou o facto é outro
(substituição fiscal). A substituição fiscal pode ser definitiva ou provisória. É definitiva quando o
montante, que o terceiro entrega ao sujeito ativo, já iliba o contribuinte de algum imposto. P. ex., os
juros são genericamente tributados, a nível de IRS, a 28%. Acontece a retenção no banco. Em relação
aos salários, é muito difícil que o valor retido corresponda ao valor do imposto a pagar: esta retenção
é uma substituição por conta (vai ser necessário fazer um acerto). Este é o primeiro caso em que o
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devedor do imposto é diferente do contribuinte. Um outro caso é o seguinte: imaginemos uma empresa
que não tem dinheiro para pagar os impostos devidos - havendo incumprimento da obrigação de pagar
os impostos, entra-se na fase executiva. E se não houver património para executar, ou se depois de
executados todos os bens ainda houver obrigação de pagamento de impostos? Em algumas
circunstâncias o Estado pode fazer uma reversão fiscal. P. ex., o art. 25º da LGT.
1. Pelas dívidas fiscais do estabelecimento individual de responsabilidade limitada respondem apenas os bens a
este afetos.
2. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, em caso de falência do estabelecimento individual de
responsabilidade limitada por causa relacionada com a atividade do seu titular, responderão todos os seus bens, salvo se
ele provar que o princípio da separação patrimonial foi devidamente observado na sua gestão.
Sempre que uma empresa não consiga pagar os seus impostos, entrando na fase executiva,
sendo alvo de excussão prévia, e se ainda houver imposto a pagar, o Estado reverte a obrigação e causa
contra os administradores ou diretores da empresa: é responsabilidade dos membros dos corpos
sociais. Nestas circunstâncias, o Estado pode pedir a cada um deles e a responsabilidade é solidária.
1. Os administradores, diretores e gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções
de administração ou gestão em pessoas coletivas e entes fiscalmente equiparados são subsidiariamente responsáveis em
relação a estas e solidariamente entre si:
a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no período de
exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado depois
deste, quando, em qualquer dos casos, tiver sido por culpa sua que o património da pessoa coletiva ou ente fiscalmente
equiparado se tornou insuficiente para a sua satisfação;
b) Pelas dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado no
período do exercício do seu cargo, quando não provem que não lhes foi imputável a falta de pagamento.
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Aulas teórico-práticas
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Aulas teórico-práticas
O art. 54º, nº1 LGT define o procedimento tributário como “toda a sucessão de atos dirigida
à declaração dos direitos tributários”, abrangendo toda a atividade da Administração Tributária que
tem em vista a declaração de direitos tributários. Este mesmo nº1 faz uma listagem exemplificativa de
atos que compreendem o procedimento tributário (REMISSÃO PARA O ART. 44º CPPT). Segundo LEITE
CAMPOS, BEJAMIM SILVA RODRIGUES e LOPES DE SOUSA, a lista prevista neste nº1 não é taxativa, ou
seja, podem incluir-se no âmbito do procedimento tributário outras atividades administrativas, desde
que tenham como objetivo a declaração de direitos tributários.
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Aulas teórico-práticas
Os atos de autoliquidação distinguem-se dos atos de liquidação pelo facto de ser o próprio
sujeito passivo a calcular o montante devido.
28.02.2019
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Aulas teórico-práticas
Lançamento:
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1. O contribuinte
2. A Administração
3. O tribunal
O procedimento tributário tem uma fase preparatória, uma fase constitutiva e uma fase
executiva:
Nos impostos, quase sempre tudo começa com uma declaração do contribuinte.
3. A fase executiva:
O princípio que vigora no Direito Fiscal é, como dissemos, o princípio solve et repetere (que
traduzido à letra significa “paga primeiro, reclama depois”). Só depois do pagamento é que o contribuinte
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Aulas teórico-práticas
pode reclamar ou impugnar. Caso não se queira pagar é preciso constituir uma garantia que suspenda
o processo executivo, caso contrário este corre ao mesmo tempo que o processo declarativo.
As reclamações podem suceder por parte dos contribuintes na sequência de uma liquidação
que lhes foi feita. A reclamação é feita perante a própria Administração, ou seja, estamos ainda na
lógica da relação entre as partes da relação jurídica fiscal: Administração e contribuintes. Os
contribuintes têm aqui, então, duas alternativas:
→ Reclamar:
→ Impugnar judicialmente:
O que está em causa nas reclamações e nas impugnações são liquidações, atos administrativos
de natureza tributária, genericamente definitivos e que determinam a obrigação do sujeito passivo de
entregar uma determinada quantia ao Estado. Os atos tributários não têm a natureza de sanção. A
sanção existiria se a base da capacidade contributiva fosse a de um qualquer ilícito. Isto não quer dizer
que as atividades ilícitas não estejam sujeitas a tributação.
1. O procedimento inicia-se nos prazos e com os fundamentos previstos na lei, por iniciativa dos
interessados ou da administração tributária.
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Aulas teórico-práticas
Na prática, grande parte dos casos que chegam aos escritórios de advogados terão por base
inspeções tributárias - a Inspeção Tributária intervém para examinar a situação do contribuinte e ver
se está de acordo com o regime legal. Muitas vezes sucede que é determinada uma liquidação adicional.
Se isto acontecer, o contribuinte tem que pagar e só depois pondera reclamar ou impugnar.
NOTA: a questão da fraude carrossel – na fraude carrossel o que está em causa é o IVA, que
para os contribuintes tem uma realidade dupla, na medida em se aplica a todo o processo produtivo,
ou seja, todos os agentes de um processo produtivo pagam e recebem IVA, mas são os consumidores
finais que verdadeiramente pagam o imposto. A fraude carrossel consiste na criação artificial de fases
deste processo produtivo, alterando-se artificialmente o montante a pagar em sede de IVA. Este
exemplo da fraude carrossel é relevante na medida em que, muitas vezes, inspeções a um sujeito passivo
acabam por ter repercussões na esfera de outros sujeitos passivos (se é feita uma inspeção ao sujeito
passivo criado artificialmente, os montantes devidos pelos restantes sujeitos passivos serão alterados).
Depois da iniciativa passamos para a fase de instrução, aquela em que são determinados os
elementos essenciais para que haja uma liquidação. Quem é que faz a instrução? A Administração
Tributária, aqui já não há participação direta do contribuinte. Será, normalmente, o órgão competente
para tomar a decisão quem faz a instrução (art. 71º LGT). Na instrução, o órgão instrutor pode utilizar
todos os meios de prova (art. 72º LGT). Pode até utilizar presunções (que admitem sempre prova em
contrário).
Em princípio, as declarações dos contribuintes presumem-se verdadeiras, isto é, a
Administração é que tem que provar que elas não são verdadeiras. A relação jurídica tributária nasce,
portanto, neste aspeto, desequilibrada a favor do contribuinte.
A decisão tem que ser fundamentada (pelo menos de forma sumária), e essa fundamentação
tem que ser de facto e de direito. A falta de fundamentação é um dos vícios mais importantes. Importa
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Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
distinguir falta de fundamentação de avaliação indireta – é possível que a Administração utilize meios
indiretos para chegar a uma tributação. A decisão da Administração é sujeita a impugnação judicial,
mas também a formas administrativas para além da reclamação. É possível que haja recurso hierárquico
(normalmente resulta numa decisão de manutenção da decisão da Administração) e há também a
possibilidade de revisão oficiosa (prazo de quatro anos, quando o erro não seja imputável ao
contribuinte mas sim ao serviço) - art. 78º LGT.
Caducidade da liquidação
• Quando o imposto é periódico (p. ex., o IRS) o prazo de caducidade conta-se a partir do
último dia do período relativo ao imposto, isto é, a partir do termo do ano em que se verificou o facto
tributário. Quando é que caducará o direito de liquidar o IRS relativamente ao ano 2019? A 31
dezembro de 2023.
• Quando o imposto é de obrigação única o prazo conta-se a partir do momento em que se
deu o facto tributário, com exceção do IVA e dos impostos sobre o rendimento quando a tributação
seja efetuada por retenção na fonte a título definitivo, caso em que o prazo se conta a partir do início
do ano civil seguinte àquele em que se verificou, respetivamente, a exigibilidade do imposto ou o facto
tributário.
1. O prazo de caducidade suspende-se com a notificação ao contribuinte, nos termos legais, da ordem de serviço
ou despacho no início da ação de inspeção externa, cessando, no entanto, esse efeito, contando-se o prazo desde o seu
início, caso a duração da inspeção externa tenha ultrapassado o prazo de seis meses após a notificação, acrescido do
período em que esteja suspenso o prazo para a conclusão do procedimento de inspeção.
2. O prazo de caducidade suspende-se ainda:
a) Em caso de litígio judicial de cuja resolução dependa a liquidação do tributo, desde o seu início até ao
trânsito em julgado da decisão;
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Aulas teórico-práticas
b) Em caso de benefícios fiscais de natureza contratual, desde o início até à resolução do contrato ou durante o
decurso do prazo dos benefícios;
c) Em caso de benefícios fiscais de natureza condicionada, desde a apresentação da declaração até ao termo do
prazo legal do cumprimento da condição;
d) Em caso de o direito à liquidação resultar de reclamação ou impugnação, a partir da sua apresentação até
à decisão.
e) Com a apresentação do pedido de revisão da matéria coletável, até à notificação da respetiva decisão.
3. Em caso de aplicação de sanções da perda de benefícios fiscais de qualquer natureza, o prazo de caducidade
suspende-se desde o início do respetivo procedimento criminal, fiscal ou contraordenacional até ao trânsito em julgado da
decisão final.
Nos termos do art. 46º, nº1 LGT, o prazo de caducidade suspende-se com a notificação ao
contribuinte da ordem de serviço ou despacho no início da ação de inspeção externa, cessando, no
entanto, esse efeito, contando-se o prazo desde o seu início, caso a duração da inspeção externa tenha
ultrapassado o prazo de seis meses após a notificação, acrescido do período em que esteja suspenso o
prazo para a conclusão do procedimento de inspeção. Para que um contribuinte “se safe” de pagar o
imposto não basta que decorra o prazo de quatro anos, é preciso que não seja suscitada uma ação de
inspeção externa. O nº2 do art. 46º LGT prevê outras situações em que o prazo de caducidade se
suspende.
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1. A matéria tributável é avaliada ou calculada diretamente segundo os critérios próprios de cada tributo, só
podendo a administração tributária proceder a avaliação indireta nos casos e condições expressamente previstos na lei.
2. Em caso de regime simplificado de tributação, o sujeito passivo pode optar pela avaliação direta, nas
condições que a lei definir.
Esta questão tem a ver com a avaliação. A avaliação, por princípio, é uma avaliação direta, só
haverá avaliação indireta quando a lei assim o permita (art. 87º LGT). A avaliação direta visa
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Aulas teórico-práticas
determinar o valor dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação, tratando-se de um instrumento útil
na descoberta da verdade material (art. 83º, nº1 LGT). Quem é que faz esta avaliação? Nos termos do
art. 82º LGT a competência para a avaliação direta é da Administração Tributária e, nos casos de
autoliquidação, do sujeito passivo; a competência para a avaliação indireta é sempre da Administração
Tributária. A avaliação dá o valor patrimonial tributário (VPT). A avaliação direta é feita quase por
uma mera observação.
A avaliação indireta é, como dissemos, excecional, é subsidiária da avaliação direta (art. 85º,
nº1 LGT). O procedimento de avaliação indireta visa a determinação do valor dos rendimentos ou
bens tributáveis através de indícios, presunções ou outros elementos de que a Administração Tributária
disponha. O primeiro caso de avaliação indireta que aparece na LGT é o regime simplificado de
tributação (art. 87º, nº1, al. a LGT). Como sabemos, o rendimento resultante do trabalho pode ser
tributado de duas formas:
Como é que se calcula o rendimento da categoria B? Existe uma fórmula que leva à
determinação ou não da existência de lucro. Os profissionais da categoria B, ou optam por uma
contabilidade organizada, ou optam pela via do regime simplificado de tributação – terão, para isso,
que ter um rendimento anual inferior a 200.000 euros (art. 28º, nº2 CIRS). O regime simplificado de
tributação consiste no seguinte: presume-se que o contribuinte tem de gastos 25% do valor do seu
rendimento. Assim, se o contribuinte x ganha 100.000 euros por ano, presume-se que tem de gastos
25.000 euros, tributando-se apenas 75.000 euros. Mas o regime não é assim tão simplificado, na medida
em que o trabalhador vai ter que apresentar comprovativos de gastos no valor de 15.000 euros (ou
seja, a presunção acaba por ser apenas relativamente a 10% e não a 25% do rendimento).Este regime
simplificado de tributação é um caso de avaliação indireta. Já o regime da contabilidade organizada,
por sua vez, é um caso de avaliação direta.
EM SUMA: A avaliação direta é a regra e a avaliação indireta é excecional. A avaliação indireta
tem lugar nos casos previstos no art. 87º, nº1 LGT, que veremos adiante.
Nos casos em que não há declaração, a Administração pode fazer inspeções, e pode até fazer
uma avaliação direta do rendimento. Imaginemos o caso dos jogadores de futebol: é possível que alguns
dos seus direitos de imagem estejam relacionados com o seu contrato de trabalho. Mas não são todos
os direitos de imagem que estão relacionados com o contrato de trabalho. P. ex., se o jogador faz um
anúncio de televisão, vai receber royalties que serão tributados na categoria E.
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Aulas teórico-práticas
6.03.2019
1. A revisão dos atos tributários pela entidade que os praticou pode ser efetuada por iniciativa do sujeito
passivo, no prazo de reclamação administrativa e com fundamento em qualquer ilegalidade, ou, por iniciativa da
administração tributária, no prazo de quatro anos após a liquidação ou a todo o tempo se o tributo ainda não
tiver sido pago, com fundamento em erro imputável aos serviços.
(…)
O pedido pode ser feito pelo sujeito passivo, ou pode ser de iniciativa da própria Administração
Tributária.
O pedido é feito à Administração Tributária, mais concretamente à entidade que praticou o ato
em questão.
O prazo para o sujeito passivo fazer este pedido de revisão de atos tributário é o prazo de
reclamação administrativa (art. 78º, nº1 LGT). O prazo para a Administração Tributária fazer o pedido
é de quatro anos, ou a todo o tempo se o tributo ainda não tiver sido pago com fundamento em erro
imputável aos serviços.
Esta é a norma que, em muitos casos, pode “salvar” uma impugnação (caso tenha passado o
prazo para a impugnação), na medida em que o sujeito passivo pode pedir uma revisão do ato e dessa
decisão parte-se para a impugnação. Imaginemos que é praticado um ato tributário do qual o particular
discorda. Quais as hipóteses de reação? Reclamação ou impugnação. Da reclamação, no caso de
indeferimento da intenção do contribuinte, pode caminhar-se para a impugnação. Nos casos em que
os prazos já estão ultrapassados pode recorrer-se à revisão e da decisão partir para a impugnação.
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Aulas teórico-práticas
4. Cobrança do imposto
Qual a lógica do ato tributário, desde que foi praticado até à cobrança do imposto?
Estamos perante um ato que, sendo praticado, levará ao pagamento de impostos, porque é um
indício de capacidade contributiva. Quando se identifica o ato tributário temos o lançamento do
imposto. A fase seguinte é a liquidação (aplicação da taxa de imposto à situação económica que o faz
nascer). A liquidação será notificada ao contribuinte, que das duas uma: ou paga dentro do prazo que
lhe foi dado (pagamento voluntário), ou deixa passar o prazo para pagamento voluntário e entra-se
na fase de cobrança coerciva (art. 103º LGT e arts. 148º e ss. CPPT). A partir do momento em que
se deixa passar o prazo para pagamento voluntário inicia-se o processo executivo, e é possível que em
tribunal estejam a decorrer dois processos relativamente à mesma dívida de imposto: um processo para
declarar a liquidação e outro para executar a dívida de imposto.
A dívida de imposto não é negociável. Não podem credor e devedor chegar a um acordo de
perdão de parte da dívida. No limite, aquilo que poderá suceder é um pagamento a prestações. Isso
está determinado no art. 42º LGT, nos termos do qual o devedor que não consiga cumprir de uma só
vez a dívida tributária pode requerer o pagamento a prestações. Ou seja, é necessário fazer um
requerimento, e a Administração dirá se aceita ou não o pagamento a prestações. Esse requerimento
deve ser feito após ter terminado o prazo para pagamento voluntário (art. 86º, nº2 CPPT). Ou seja, o
contribuinte deixa passar o prazo de pagamento voluntário, dá-se início ao processo executivo, e é
nessa ocasião que se faz este requerimento de pagamento em prestações. Pode, de todo o modo, o
contribuinte apresentar o requerimento antes, mas essa questão apenas vai ser decidida depois de
decorrido o prazo para pagamento voluntário.
1. São devidos juros de mora quando o sujeito passivo não pague o imposto devido no prazo legal.
2. Os juros de mora aplicáveis às dívidas tributárias são devidos até à data do pagamento da dívida.
(…)
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Aulas teórico-práticas
A cobrança coerciva (execução fiscal) está prevista no art. 103º LGT e nos arts. 148º e ss.
CPPT. Quando falamos de execução fiscal estamos a referir-nos ao processo fiscal, isto é, o processo,
que se passa em tribunal, no âmbito do qual os órgãos executivos da Administração Tributária vão
praticar atos de tentativa de cobrança, atos esses que não têm natureza jurisdicional. O executado tem
sempre o direito de reclamação relativamente aos atos que vão sendo praticados no processo de
execução pelos órgãos da Administração Tributária. É este o processo que corre de forma paralela ao
processo de impugnação judicial.
A execução fiscal, para ser efetiva, não tem que aguardar o decorrer do prazo de impugnação
judicial. O órgão de execução fiscal será o serviço da Administração Tributária onde deva legalmente
correr a execução ou, quando esta deva correr nos tribunais comuns, o tribunal competente. É
competente para decidir os incidentes, os embargos, a oposição, incluindo quando incida sobre os
pressupostos da responsabilidade subsidiária, e a reclamação dos atos praticados pelos órgãos da
execução fiscal o tribunal tributário de 1ª instância da área do domicílio ou sede do devedor (art. 151º
CPPT). A ideia aqui é que há sempre um controlo, uma supervisão do órgão judicial.
Para que a execução se inicie tem que haver uma citação do executado. O contribuinte é
notificado da liquidação e citado para a execução. As regras relativas à citação estão previstas nos arts.
191º a 193º CPPT. Há regras especificas para a citação postal, para a citação pessoal (efetuada nos
termos do CPC) e para a citação eletrónica, pois as citações podem ser feitas para o domicílio fiscal
eletrónico, isto é, para o endereço de email que o próprio contribuinte forneceu à Administração
Tributária.
Tal como sucede no processo civil, pode existir penhora (art. 193º CPPT), que corresponde à
apreensão dos bens necessários para cumprimento da dívida fiscal.
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Aulas teórico-práticas
A execução, não tendo sido suspensa, termina com a venda dos bens penhorados. Tem que se
ver se o montante da venda dos bens penhorados chega ou não para cobrir o montante da dívida. Se
não chegar e estivermos perante uma empresa pode ter que se aplicar o art. 24º LGT, que regula a
responsabilidade dos membros de corpos sociais e responsáveis técnicos, mas a aplicação deste artigo
apenas terá lugar nas circunstâncias em que houver uma declaração de falhas (arts. 272º a 275º
CPPT). Quando é que há declaração em falhas? Quando os bens não cheguem para pagar a dívida ou
quando o executado seja desconhecido ou esteja ausente em parte incerta (ou seja, nas circunstâncias
de impossibilidade de pagamento).
Quanto à extinção da execução, ela está prevista nos arts. 259º e ss. CPPT, e pode ter lugar
porque houve pagamento coercivo (art. 259º CPPT) ou porque houve pagamento voluntário (art. 264º
CPPT). É possível que o pagamento seja feito por um terceiro (“a execução extinguir-se-á no estado em que
se encontrar se o executado, ou outra pessoa por ele, pagar a dívida exequenda e o acrescido” – art. 264º, nº1
CPPT).
Assim terminamos a descrição do procedimento tributário, desde o início ao seu fim, ou seja,
desde que nasce a dívida tributária até ao seu pagamento (seja voluntário, seja através de uma execução).
Na evolução do procedimento poderão existir atos suscetíveis de entrada no processo: quando, no
plano declarativo, se queria impugnar ou reclamar atos, ou quando, no plano executivo, apareçam
embargos ou outros incidentes.
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Aulas teórico-práticas
Há que distinguir a determinação legal dos princípios da classificação doutrinal dos mesmos.
A administração tributária exerce as suas atribuições na prossecução do interesse público, de acordo com os princípios
da legalidade, da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da celeridade,
no respeito pelas garantias dos contribuintes e demais obrigados tributários.
1. Estão sujeitos ao princípio da legalidade tributária a incidência, a taxa, os benefícios fiscais, as garantias dos
contribuintes, a definição dos crimes fiscais e o regime geral das contraordenações fiscais.
2. Estão ainda sujeitos ao princípio da legalidade tributária:
a) A liquidação e cobrança dos tributos, incluindo os prazos de prescrição e caducidade;
b) A regulamentação das figuras da substituição e responsabilidade tributárias;
c) A definição das obrigações acessórias;
d) A definição das sanções fiscais sem natureza criminal;
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Aulas teórico-práticas
O princípio da legalidade não está, todavia, apenas previsto na CRP, está também previsto na
LGT, que alarga esse princípio à definição dos tipos fiscais e ao regime geral das contribuições fiscais.
Faz, por outra via, uma extensão do princípio da legalidade àquilo que é a liquidação e cobrança de
impostos, a regulamentação das figuras da substituição e responsabilidade tributárias, a definição das
obrigações assessórias, a definição das sanções sem natureza criminal e as regras de procedimento e
processo tributário. Estas matérias não vão, portanto, poder ser objeto de um regime determinado por
normas regulamentares. Aqui não está tanto em causa a questão formal mas sim a questão de se dizer
que tem que ser uma norma legislativa e não administrativa.
O princípio da proporcionalidade está previsto no art. 266º, nº2 CRP. Este princípio tem uma
divisão tripla: a atividade da Administração Tributária tem que ser necessária, adequada e proporcional
em sentido estrito.
O art. 63º LGT refere-se à inspeção. É principalmente no decorrer de uma inspeção tributária
que poderão existir situações violadoras deste princípio da proporcionalidade. Qual a ideia que aqui
tem que estar presente? Numa inspeção tributária, a Administração Tributária apenas deve praticar os
atos que sejam estritamente necessários ao apuramento da situação tributária dos contribuintes. O art.
63º, nº1 LGT enumera alguns desses atos que podem ser praticados pelos órgãos competentes:
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Aulas teórico-práticas
O princípio da celeridade está enunciado no art. 55º LGT e concretizado no art. 57º LGT, nos
termos do qual o procedimento tributário deve ser concluído no prazo de quatro meses, devendo a
Administração e os contribuintes abster-se da prática de atos inúteis ou dilatórios. A regra em Direito
Tributário é inversa à do Direito Administrativo, isto é, a regra é a do indeferimento tácito. Ou seja, se
a Administração Tributária nada disser no prazo de quatro meses, pressupõe-se que indeferiu o pedido
que lhe foi feito. A ficção do ato de indeferimento tácito, prevista como consequência da violação do
princípio da celeridade, despoleta a possibilidade de recurso hierárquico, reclamação graciosa, ação
administrativa, impugnação judicial e de pedido de constituição de tribunal arbitral, nos termos do art.
57º, nº5 LGT. Mantém-se, todavia, o dever de responder da Administração.
Importa aqui referir o art. 45º LGT, que se refere à caducidade do direito à liquidação. Se os
tributos não forem notificados ao contribuinte no prazo de quatro anos (se a lei não determinar outro
prazo), caduca o direito a fazer a liquidação.
O princípio da colaboração está previsto no art. 59º LGT, nos termos do qual “os órgãos da
administração tributária e os contribuintes estão sujeitos a um dever de colaboração recíproco”. Falamos de uma
colaboração entre a Administração, por um lado, e o contribuinte, por outro. É um dever recíproco e
que pressupõe a ideia de informação. Por princípio, quer a Administração, quer os contribuintes atuam
de boa fé, isto é, presume-se a boa fé da atuação de ambos (art. 59º, nº2 LGT). Isto tem relevância
relativamente a presunções sobre as declarações iniciais e informações prestados pelos contribuintes
(p. ex., no IRC há uma autoliquidação, ou seja, é o próprio contribuinte que faz a liquidação – presume-
se que atua de boa fé). A Administração é que tem que provar que há erros ou omissões na atuação do
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Aulas teórico-práticas
contribuinte, algo que vai fazer através da utilização do expediente do art. 63º LGT (inspeções
tributárias).
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Aulas teórico-práticas
As informações vinculativas são publicadas, logo é possível verificar se, em relação a uma
dúvida, já há uma informação vinculativa da Administração.
Pode pedir-se uma informação vinculativa com caráter de urgência, que terá que ser
respondida no prazo de 75 dias (art. 68º, nº2 LGT). Os pedidos de informação vinculativa com carater
de urgência têm que estar acompanhados de uma proposta de enquadramento jurídico-tributário.
O pedido de informação vinculativa (quer tenha ou não caráter de urgência) é sempre feito por
via eletrónica.
No caso em que o pedido é urgente e não há resposta no prazo dos 75 dias considera-se que a
Administração aceitou tacitamente o enquadramento jurídico-tributário apresentado pelo contribuinte
(art. 68º, nº8 LGT). A informação vinculativa produz efeitos apenas para a situação em concreto, e
apenas no que respeita aos atos e factos que tenham sido identificados no pedido. Esta é a grande
diferença entre as informações vinculativas e as respostas expressas, que vinculam a Administração
Tributária em relação àquele contribuinte durante um período de quatro anos, a não ser que haja
sentença judicial em sentido contrário.
Pode, no caso do pedido de informação vinculativa urgente, a Administração notificar o
contribuinte de que a situação é de especial complexidade técnica, e que por isso se vai aplicar o prazo
normal dos 150 dias (art. 68º, nº10 LGT). O pedido de informação vinculativa é arquivado se estiver
pendente ou vier a ser apresentada reclamação, recurso ou impugnação judicial que implique os factos
objeto do pedido de informação (art. 68º, nº12 LGT). Por outro lado, numa se pode fazer um pedido
de informação vinculativa quando esteja a correr um procedimento de inspeção tributária.
O nº 15 do art. 68º LGT prevê a caducidade das informações vinculativas se houver uma
alteração superveniente dos pressupostos de facto ou de direito em que assentaram (p. ex., se houver
uma alteração legislativa) e podem ser revogadas, com efeitos para o futuro, no prazo de um ano a
contar da sua prestação, sendo o contribuinte obrigatoriamente notificado (art. 68º, nº16 LGT).
Convém ter em atenção que há sempre a possibilidade de recorrer contenciosamente das
informações vinculativas que sejam prestadas. Tem que se seguir a forma das ações administrativas
comuns. É um pedido feito ao tribunal administrativo e tributário, que segue a forma da ação
administrativa, e tem sido aceite a possibilidade de mesmo os repercutidos poderem recorrer de uma
informação vinculativa (porque, relembre-se, quem pode fazer o pedido de informação vinculativa, em
princípio, são os sujeitos passivos, havendo no entanto alguma discussão relativamente à questão de
saber se podem ou não os repercutidos fazê-lo também).
Relativamente à colaboração dos sujeitos passivos, por sua vez, ela sente-se desde logo no dever
de declaração. Por princípio, como dissemos, presume-se verdadeira e de boa fé a declaração que o
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Aulas teórico-práticas
contribuinte faz. A Administração tem o ónus da prova relativamente àquilo que foi declarado pelo
contribuinte. É a Administração, através do procedimento de inspeção, que vai ter que provar essa
falta de verdade. É, portanto, a própria Administração quem, no fundo, “vira” o ónus da prova, porque
a partir do momento em que há uma liquidação adicional é o contribuinte que tem que provar que a
Administração não atuou de acordo com a verdade da situação tributária.
Pode parecer contraditório, mas o sujeito passivo, querendo, pode recusar-se a colaborar. P.
ex., no processo de inspeção, a determinada altura é aberto um período de audiência prévia do
contribuinte, que pode ou não exercer esse direito de audiência prévia, não podendo ser prejudicado
pelo facto de não o exercer. Ou seja, a falta de exercício da colaboração não pode ter como
consequência uma alteração do ónus da prova que existe sobre a Administração. Há um princípio de
boa fé de atuação dos dois agentes, presumem-se verdadeiras as declarações dos contribuintes e é, por
isso, a Administração que tem o ónus de provar que aquilo que foi declarado tem omissões, não
corresponde à verdade, ou não faz uma boa interpretação da lei. Ou seja, é a Administração quem tem
que demonstrar a falta de verdade daquilo que tenha sido declarado pelo contribuinte.
O princípio da boa fé está previsto no art. 59º, nº2 LGT. O art. 59º CPPT, por sua vez, prevê
que o procedimento se inicia com as declarações dos contribuintes, desde que estes fornecem à
Administração os elementos indispensáveis à verificação da sua situação tributária.
Conforme dispõe o art. 75º, nº1 LGT, “presumem-se verdadeiras e de boa fé as
declarações dos contribuintes apresentadas nos termos previstos na lei, bem como os dados e apuramentos
inscritos na sua contabilidade ou escrita, quando estas estiverem organizadas de acordo com a legislação comercial e fiscal,
sem prejuízo dos demais requisitos de que depende a dedutibilidade dos gastos”.
Importa ainda referir o art. 74º LGT, que determina, no nº1, que o ónus da prova dos factos
constitutivos de direitos, sejam da Administração, sejam dos contribuintes, recai sobre quem os
invoque.
7.03.2019
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Aulas teórico-práticas
O princípio da participação está consagrado no art. 60º LGT e no art. 267º, nº5 CRP. O art.
267º, nº5 CRP consagra o direito de participação que qualquer cidadão tem no procedimento
administrativo. Qual é a concretização no procedimento tributário deste direito que é dado aos
administrados? É, fundamentalmente, um direito de audiência prévia, que tem duas grandes funções:
→ Uma relacionada com a descoberta da verdade: isto tem que ver com a lógica de que se
pressupõe que as declarações são verdadeiras – a verdade tributária será, então, naturalmente, a
tributação de acordo com a substância económica da situação (porque os impostos existem para
tributar situações económicas);
Há aqui uma lógica de tipicidade, ou seja, a lei determinar, no art. 60º, nºs 1 e 2, os casos em
que pode existir audiência prévia. Vejamos:
Há um princípio geral de audição da posição do contribuinte. O nº2 do art. 60º LGT diz que é
dispensada a audição quando:
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Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
Uma vez que o nº2, al. a) do art. 60º LGT dispensa a audição prévia quando a decisão seja
favorável ao contribuinte, estamos aqui perante uma dimensão contraditória do direito de participação,
a lei só reconhece o direito do contribuinte se pronunciar nos casos em que as decisões da
Administração lhe sejam desfavoráveis (só há dispensa de audição prévia quando a decisão é totalmente
favorável ao contribuinte, não pode ser uma decisão apenas parcialmente favorável). A decisão
desfavorável pode surgir por via expressa ou tácita, e existe sempre a possibilidade de recurso
hierárquico (p. ex., para o Ministro das Finanças) – há situações em que a lei determina que esse recurso
hierárquico é obrigatório.
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Aulas teórico-práticas
e o contribuinte tem que explicar, no requerimento, porque considera que estes estão cumpridos) e
tem que se fazer o calculo do benefício, quando tal seja obrigatório. O pedido é feito nos serviços que
podem fazer a liquidação do tributo, e o despacho determinará o início e o fim da aplicação do
benefício.
Podem também existir decisões da própria Autoridade Tributária que revertam um
determinado benefício. Essas decisões têm sempre que passar por audiência prévia do interessado.
4. Audição antes da aplicação de normas anti abuso (art. 63º, nº5 CPPT):
Quando seja aplicada uma disposição anti abuso (art. 63º, nº5 CPPT) é necessário que se
estabeleça o direito de audição prévia, que terá que ser exercido no prazo de 30 dias a contar da
notificação do projeto de aplicação da norma anti abuso ao contribuinte. A consequência da aplicação
da norma geral anti abuso é a ineficácia do ato (art. 38º LGT), que se aplica quando existe a utilização
de meios artificiosos ou fraudulentos que levam a uma menor tributação ou até a uma inexistência de
tributação. Tem que ser comprovado que determinado ato ou negócio foi praticado com um objetivo
de natureza fiscal (de diminuir, eliminar ou determinar o deferimento temporal dos impostos), e desde
que existam contratos ou atos que pudessem chegar ao mesmo resultado mas com maior pagamento
de impostos. É muito difícil determinar o que é que é fraude fiscal e o que é elisão fiscal (utilização das
normas tributárias de forma a chegar a um menor pagamento de impostos). Se não há uma
substancialidade económica para fazer determinada opção, pode existir uma situação de abuso.
Quando se aplica esta norma geral anti abuso, que vai levar a uma maior tributação, tem que haver
uma audiência prévia do interessado.
EM SUMA, há um negócio jurídico válido, que pode produzir os seus efeitos, mas que no plano
tributário pode ter passado por um abuso de formas jurídicas. Esta norma anti abuso do art. 38º LGT
é especialmente relevante, porque poderia ser entendida como uma “válvula de escape” para o sujeito
ativo da relação. Ao mesmo tempo, é tão mais necessária na medida em que cada vez mais há
expedientes complicados, formas jurídicas complexas e que muitas vezes têm que ser “descascadas”
para ver se há algum objetivo de natureza tributária escondido.
5. Audição antes da reversão do processo de execução fiscal (art. 23º, nº4 LGT):
Os responsáveis subsidiários podem ser chamados a responder pelas dívidas dos devedores
originários. Isto faz-se através da reversão do processo de execução fiscal contra o responsável
subsidiário, que deve ser precedida da audiência do responsável subsidiário, que tem assim
oportunidade de pôr em causa a verificação dos pressupostos da reversão.
6. Audição antes da aplicação de métodos indiretos (art. 60º, nº1, al. d LGT):
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Aulas teórico-práticas
Métodos diretos são aqueles que “se veem”, digamos assim. Imaginemos que estamos perante
um consultório médico, que declara que atende um doente por dia, e há uma inspeção na qual se vê
que na sala de espera há cerca de 100 lugares sentados. É provável que o consultório receba mais do
que aquilo que declara. A avaliação indireta, por sua vez, pode ser feita em várias circunstâncias: quando
p. ex não há declaração, ou quando esta é insuficiente, quando tem erros claros e óbvios. A avaliação
indireta é extraordinariamente importante para os casos de tributação do património (que em Portugal
é, fundamentalmente, o património imobiliário).
O art. 87º LGT determina taxativamente os casos em que pode haver avaliação indireta (NOTA:
voltaremos a esta questão a propósito do procedimento de avaliação indireta):
É, a este propósito, importante referir o art. 89º-A LGT, que determina padrões de rendimento
relativamente a algumas ostentações de riqueza.
A aplicação de meios indiretos pressupõe uma audiência prévia do contribuinte. Convém ter
em atenção que há proibição de dupla audição, isto é, não há audição numa inspeção e num processo
de avaliação por meios indiretos, há apenas uma audição (art. 60º, nº3 LGT).
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Aulas teórico-práticas
7. Audição antes da conclusão do relatório de inspeção tributária (arts. 60º, nº1, al. e
LGT):
Após a realização de uma inspeção tributária deve ser elaborado um projeto de relatório com
a identificação dos atos tributários que poderão decorrer daquela inspeção, bem como a sua
fundamentação. O sujeito passivo deve ser notificado desse projeto de relatório, de forma a poder
pronunciar-se sobre ele. É este relatório que, tornando-se definitivo, consubstanciará a fundamentação
da liquidação adicional decorrente da inspeção.
O princípio da confidencialidade está previsto no art. 64º LGT, nos termos do qual os
dirigentes, funcionários e agentes da Administração Tributária têm que guardar sigilo sobre os dados
recolhidos sobre a situação tributária dos contribuintes e os elementos de natureza pessoal que
obtenham durante o procedimento. São deveres especiais que têm que ser cumpridos pelos agentes da
Administração.
Este dever de sigilo pode cessar nos casos previstos no nº2 do art. 64º LGT:
a) Autorização do contribuinte para revelação da sua situação tributária;
b) Cooperação legal da administração tributária com outras entidades públicas, na medida
dos seus poderes;
c) Assistência mútua e cooperação da administração tributária com as administrações
tributárias de outros países resultante de convenções internacionais a que o Estado
Português esteja vinculado, sempre que estiver prevista reciprocidade;
d) Colaboração com a justiça nos termos do Código de Processo Civil e mediante
despacho de uma autoridade judiciária, no âmbito do Código de Processo Penal;
e) Confirmação do número de identificação fiscal e domicílio fiscal às entidades
legalmente competentes para a realização do registo comercial, predial ou automóvel.
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Aulas teórico-práticas
Tem que haver aqui um equilíbrio entre o elemento de natureza pessoal e de necessário respeito
pela confidencialidade de atos pessoais, por um lado, e o interesse público, por outro. Por isso se evolui
em relação a casos mais graves com a possibilidade de publicação das listas dos devedores fiscais.
O princípio do inquisitório está previsto no art. 58º LGT. A ideia aqui presente é a de que a
Administração não está limitada pela iniciativa do autor do pedido, o contribuinte, para realizar todas
as diligências necessárias à satisfação do interesse e à descoberta da realidade material. Quer isto dizer
que a Administração não está limitada àquilo que seja o pedido do contribuinte. Privilegia-se aqui a
descoberta da verdade material.
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Aulas teórico-práticas
Convém notar que há casos em que o recurso hierárquico é obrigatório, situações em que tem
que se seguir o trilho administrativo e procedimental.
14.03.2019
1. Procedimento de liquidação
2. Procedimento de cobrança
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Aulas teórico-práticas
A cobrança pode ser voluntária ou coerciva. É voluntária quando é cumprida dentro do prazo
legalmente previsto. É coerciva quando é feita em processo de execução. É de salientar que o
pagamento da prestação tributária constitui a obrigação principal do sujeito passivo, nos termos do art.
31º, nº1 LGT. O prazo de cobrança dos impostos varia de imposto para imposto, de acordo com
aquilo que seja determinado nas regras especiais. Se nada for dito, o prazo é de 30 dias a partir da
notificação da liquidação. A partir do momento em que se ultrapasse o prazo para pagamento
voluntário, começam a contar-se juros de mora. É também esse o momento em que o contribuinte
pode fazer o requerimento para pagamento a prestações, e é ainda o momento em que se pode prestar
garantia para suspender a execução. P. ex., alguém que discorda da liquidação não vai pagar porque
quer impugnar, e então presta garantia para suspender a execução. Se não suspender a execução há
uma possibilidade de cobrança coerciva.
O procedimento de informação vinculativa tem, como vimos, como ponto de partida o pedido
de informação vinculativa. Art. 68º LGT. O pedido de informação vinculativa é feito pelos sujeitos
passivos (art. 18º, nºs 3 e 4 LGT): o contribuinte, o substituto ou o responsável. O nº4 do art. 18º LGT
diz-nos que não é sujeito passivo quem suporta o encargo do imposto por repercussão fiscal. Portanto,
considera-se que, à partida, e sem mais, o repercutido não teria a possibilidade de fazer o pedido. É
este o pressuposto inicial. Estes pedidos de informação vinculativa incidem situações em concreto que
se vão aplicar a um determinado contribuinte (que pergunta, no fundo, qual o enquadramento no plano
da legislação fiscal), que tem que começar por descrever os factos e dar os elementos necessários para
que a Administração possa decidir.
A informação vinculativa pode ser pedida com caráter de urgência, conforme dissemos
anteriormente. Nos casos em que é pedida com caráter de urgência, tem que se ter em atenção o prazo
de 75 dias e a necessidade de o pedido vir obrigatoriamente acompanhado de uma proposta de
enquadramento. Com isto não quer dizer que quem faça um pedido de informação vinculativa não
urgente não possa fazer o enquadramento. Pode fazê-lo, se assim o entender, mas não tem de o fazer.
Como dissemos, à partida os repercutidos não podem fazer o pedido de informação
vinculativa. O legislador, no nº4 do art. 68º LGT, diz-nos, no entanto, que o pedido por ser feito “por
outros interessados”. O prof. DIOGO FEIO entende que entram aqui os repercutidos, porque se assim
não fosse não faria sentido a remissão para o nº3 do art. 18º LGT. A legitimidade para o pedido deve,
portanto, ser ampla.
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Aulas teórico-práticas
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Aulas teórico-práticas
atua de uma determinada forma relativamente a um imposto e tem dúvidas sobre essa atuação). É,
portanto, um instrumento muito importante mas que tem que ser ponderado. Se alguém faz
preventivamente um pedido de informação vinculativa e a resposta é contrária ao enquadramento que
o contribuinte faz dos factos, esse contribuinte fica a saber que relativamente a liquidações que lhe
venham a ser feitas no que respeita a esses mesmos factos não lhe vale de nada a impugnação graciosa,
é preferível partir logo para a impugnação judicial.
A informação vinculativa, como já foi dito, vincula a Administração, salvo se houver alteração
superveniente dos factos. A Administração deixa de estar vinculada à informação que deu quatro anos
depois de a ter dado, a não ser que o contribuinte solicite a renovação da informação inicialmente dada.
No caso da Administração não responder a um pedido de informação vinculativa não urgente,
passado o prazo dos 150 dias previsto no nº4 do art. 68º LGT, o contribuinte pode atuar de acordo
com aquela que é a sua posição em relação à circunstância em concreto, nunca podendo por esse facto
ser sujeito a coimas, juros ou outros acréscimos legais (art. 68º, nº18 LGT).
As decisões da Administração são sujeitas a um recurso judicial autónomo, em que se utiliza a
forma de ação administrativa (nº 20 do art. 68º LGT) e terão, de acordo com o art. 9º CPPT (nºs 4 e
1), legitimidade para essa ação os contribuintes, os substitutos, os responsáveis, outros obrigados
tributários, partes em contratos fiscais e qualquer pessoa que prove ter um interesse legalmente
protegido.
O IRC é um imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas. Tributa-se o lucro = aquilo
que se ganhou - aquilo que se gastou. O modo como se contabilizam os gastos tem que ser o mais
rigoroso possível, e não é igual numa lógica meramente contabilística face à contabilidade fiscal. A
contabilidade fiscal terá regras próprias que vêm do CIRC.
➔ Uma sociedade portuguesa compra uma determinada mercadoria por 1.000.000 euros a
uma sociedade alemã.
➔ Uma sociedade portuguesa, perante uma outra, compra a mesma mercadoria mas paga
10.000 euros. As duas sociedades têm sócios idênticos.
No segundo caso é possível que, pelo facto de existirem relações especiais entre pessoas que
estão envolvidas no negócio, se tenha praticado uma situação que não corresponde ao valor da
mercadoria no mercado. O art. 63º CIRC, determina o que se vai considerar como relações especiais.
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Aulas teórico-práticas
O conceito de relações especiais está desenvolvido no art. 63º, nº4 CIRC. Este nº4 não é taxativo, é
meramente exemplificativo.
Se a Administração chegar à conclusão que há relações especiais, pode aplicar às relações
económicas em causa uma avaliação em que utilize como pressuposto os valores normais de mercado.
A forma como se chega a esses valores normais de mercado é muito complexa.
Os preços de transferência pressupõem uma relação especial que leva a que sejam aplicados
“preços” que não correspondem à normalidade do mercado (são preços de favor), e nessas
circunstâncias a Administração pode fazer uma correção, aplicando os preços normais de mercado.
Que consequência é que isto vai ter? Por parte de quem recebe o preço, há uma modificação quanto
aos seus ganhos, que terá como consequência o aumento do lucro e, consequentemente, há uma maior
tributação em sede de IRC.
Os acordos prévios, previstos no art. 138º CIRC, são acordos que se aplicam em relação a
circunstâncias de preços de transferência, em que previamente os contribuintes (que naturalmente
cairiam numa circunstância de relação especial) pedem à Administração que determine o método para
determinar os termos e as condições que são economicamente aceitáveis. Isto inclui quer operações
económicas e financeiras, quer mesmo operações entre grupo. Estes pedidos podem ser feitos
relativamente a casos em que uma das entidades é estrangeira e em que exista uma convenção para
evitar a dupla tributação, e no fundo o que se determina aqui é um procedimento amigável. O pedido,
que é feito ao Diretor Geral da Autoridade Tributária, deve conter uma proposta em concreto. O
acordo, que é confidencial, é reduzido a escrito e trata-se de um acordo entre a Autoridade Tributária
portuguesa e as Autoridades Tributárias estrangeiras que estejam em causa. O prazo de vigência do
acordo nunca pode ultrapassar três anos. A consequência disto é o facto de a Autoridade Tributária
ficar vinculada a atuar de acordo com aquilo que acordou. Os sujeitos passivos não podem interpor
recurso relativamente ao acordo. Este acordo pode ser prorrogado sob solicitação do sujeito passivo.
NOTA: a única política europeia que acaba por estar sujeita a um princípio de uniformidade é
a fiscal. A consequência disto é que nunca haverá política fiscal material a nível da UE porque haverá
sempre algum Estado a vetar. E é importante que, relativamente a certas matérias, haja uma política
uniforme. P. ex., quando há transações entre diferentes Estados da UE por parte de diferentes pessoas
coletivas (e as pessoas coletivas, muitas vezes, têm sede num Estado e estabelecimento estável num
outro), não tem lógica que as regras não sejam uniformes. Isto é, aliás, prejudicial para as empresas. Há
uma proposta (CCCTB - Common Consolidated Corporate Tax Base) que é, no fundo, um caminho para se
determinar uma base de cálculo da base tributável que seja idêntico em todos os Estados.
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Aulas teórico-práticas
Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS): são sociedades que são tributadas
por participações sociais que têm noutras.
21.03.2019
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Aulas teórico-práticas
ser feito pelo interessado. O requerimento tem que ser especificamente para esse fim, tem que calcular
o montante em causa, e tem que fazer a prova dos pressupostos necessários para a aplicação do
benefício.
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Aulas teórico-práticas
A avaliação direta tem por base a declaração dos contribuintes, relativamente à qual existe,
como sabemos, uma presunção de verdade. A avaliação direta parte de um princípio de procura da
verdade material. A avaliação que a Administração faça é suscetível de impugnação autónoma (art. 86º,
nº1 LGT e art. 54º CPPT). Pode ser necessário, quando a lei assim o imponha, que para se partir para
a impugnação se tenham que esgotar os meios administrativos: ou uma segunda avaliação ou a revisão
de atos tributários. É o caso do nº2 do art. 86º LGT.
Existe avaliação indireta nos casos em que a avaliação direta não é possível (é o caso de
situações em que não há declaração, p. ex.). Como referimos supra, o art. 87º LGT determina os casos
em que é admitida a avaliação indireta. O elenco do art. 87º LGT é taxativo. Com a avaliação indireta
não se vai, provavelmente, chegar a uma verdade absoluta, mas sim a uma verdade aproximada. Para
além disso, por princípio, a utilização de presunções deve ser vista com cautela em matéria tributária,
porque vai levar ao pagamento de impostos. A determinação dos casos daquilo que é a avaliação
indireta vai depender muito de conclusões de ordem prática. O art. 87º, nº1 LGT prevê os seguintes
casos:
O primeiro caso, que já vimos, é o caso de um regime simplificado de tributação. Falámos dele
a propósito da categoria B do IRS.
Ou seja, quando exista uma falha que impeça em absoluto a avaliação direta da matéria
tributável. Será, p. ex., o caso de inexistência ou insuficiência de elementos de contabilidade, quando
não supridas no prazo legal; ou a recusa de exibição da contabilidade e demais documentos legalmente
exigidos, quando não seja possível à Administração Tributária obtê-los ao abrigo dos poderes que lhe
são conferidos.
Nos casos em que a matéria tributável do sujeito passivo se afasta, sem razão
justificada, mais de 30% para menos ou, durante três anos seguidos, mais de
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Aulas teórico-práticas
O legislador estabelece, na tabela do nº4 do art. 89º-A LGT, um padrão de riqueza que
pode constituir manifestações de fortuna, ou seja, que podem ser reveladores de padrões de
rendimento substancialmente elevados. A ideia do legislador terá sido a de que um sujeito passivo
que tem capacidade económica para obter os bens previstos nesta tabela auferirá pelo menos de
um rendimento correspondente ao rendimento padrão previsto no nº4 do art. 89º-A LGT. Assim,
haverá avaliação indireta quando o contribuinte não entregue declaração e evidencie essas
manifestações de riqueza.
Nos casos em que os sujeitos passivos apresentam, sem razão justificada, resultados
tributáveis nulos ou prejuízos fiscais durante três anos consecutivos, salvo nos casos
de início de atividade, em que a contagem deste prazo se faz do termo do terceiro
ano, ou em três anos durante um período de cinco (al. e):
Importa referir que os sujeitos passivos têm oportunidade de justificar que estes rendimentos
nulos ou prejuízos repetidos correspondem à realidade. Por outro lado, o recurso à avaliação indireta
só é possível quando estes prejuízos se verificam durante três anos consecutivos, salvo nos casos de
início da atividade. Quando uma atividade se inicia é normal que exista prejuízo, daí a ressalva destas
situações. Nesses casos, a contagem começa a partir do terceiro ano de atividade.
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Aulas teórico-práticas
7. Procedimento de inspeção
O procedimento de inspeção, para além de ver referido o seu regime na legislação geral,
também o vê no Regime Complementar do Procedimento de Inspeção Tributária (DL nº 413/98, de
31 de dezembro), tal é a sua relevância. No que respeita à inspeção é muito importante o art. 63º LGT.
A Administração Tributária tem poderes discricionários relativamente à escolha dos
contribuintes que vão ser alvo de inspeção e relativamente aos atos que estejam em causa em qualquer
inspeção. A abertura de uma inspeção provém, evidentemente, da aplicação da lei tributária, mas há
uma liberdade da Administração, que obviamente não pode ser abusada, relativamente aos atos que
estão sujeitos a inspeção. A lei toma cuidados de forma a evitar uma “perseguição” dos contribuintes.
Relativamente a um ato em concreto, a não ser em casos muito excecionais, não se pode repetir uma
inspeção – garantia de irrepetibilidade (cfr. Ac. TCA Norte de 20.12.2005, Recurso nº 00079/02).
Em relação ao mesmo contribuinte pode, p. ex., inspecionar-se dois anos, não se pode é inspecionar
duas vezes o mesmo ano em relação ao mesmo tipo de imposto.
As inspeções podem ser internas ou externas. As inspeções externas são aquelas que a
Administração faz no domicílio ou sede do contribuinte, conforme estejamos perante uma pessoa
singular ou coletiva (são externas, portanto, relativamente à própria Administração). Estas inspeções
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Aulas teórico-práticas
externas serão mais normais no caso de pessoas coletivas, sendo que tudo começa com a notificação,
onde tem que estar explicado o âmbito da inspeção. Nos casos de fraude carrossel, que já vimos, pode
acontecer que um contribuinte seja inspecionado e daí se retire a existência de uma fraude.
As inspeções podem ainda ser globais ou limitadas. Naturalmente que uma inspeção interna
é limitada. Nas inspeções externas é também natural que sejam concedidas à Administração as
condições para poder cumprir os seus objetivos (p. ex., os membros da Administração que estão
encarregues de fazer a inspeção podem ficar alojados nas instalações do sujeito passivo).
Elemento essencial para o procedimento de inspeção é a notificação inicial, que serve como
comunicação. Esta notificação tem que ser enviada para o domicílio ou sede do sujeito passivo. É
necessário que a notificação remeta para uma ordem de serviço, em que estará o âmbito e extensão da
inspeção. Tem que estar determinado, à partida, o imposto e o ano sobre os quais vai incidir a inspeção.
Os atos de inspeção iniciam-se a partir do momento em que o contribuinte recebe esta notificação.
O contribuinte tem que ter a hipótese de ser ouvido em audiência prévia. Há uma nota de
diligência obrigatória, em que se acaba por explicar os vários atos da inspeção, e um relatório (relatório
final da ação de inspeção) é entregue ao contribuinte para que ele possa exercer o seu direito de
audiência prévia. Este relatório já contém um projeto de decisão. Normalmente, o que acontece é que
o projeto de decisão acaba depois por ser a decisão final, ou seja, é muito difícil reverter a decisão em
audiência prévia. Exercer ou não o direito de audiência prévia é uma opção estratégica do contribuinte,
na medida em que, nessa audiência prévia, o contribuinte vai invocar uma série de argumentos, e é
possível que a Administração se defenda desses argumentos, criando um facto à volta deles, que depois
o contribuinte pode atacar.
Se do relatório não constar o projeto de decisão, isso pode ser usado pelo contribuinte como
uma causa de invalidade da própria inspeção.
Feita a audição prévia há notificação da decisão final ao contribuinte, e se houver alguma
liquidação a fazer determina-se o prazo de liquidação adicional, isto é, o prazo para fazer o pagamento
voluntário. Em princípio, as inspeções não podem durar mais do que seis meses, e durante esses seis
meses suspende-se o prazo de caducidade da liquidação.
O contribuinte tem um especial dever de colaboração com a Administração durante a inspeção,
que se nota, desde logo, nos casos em que cede parte das suas instalações para que a inspeção decorra,
bem como no facto de ter que fornecer todos os elementos e documentos que a Administração solicite.
O contribuinte não pode, portanto, colocar obstáculos à realização da inspeção. Um direito que o
contribuinte tem é o direito ao silêncio.
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Aulas teórico-práticas
Este procedimento remete-nos para uma grande discussão, que é a de perceber os limites do
sigilo bancário, porque, há aqui interesses conflituantes. O que é que acontece se se quebra o direito
ao siligo bancário? Há uma violação do direito à privacidade. Há então o conflito de interesses entre,
por um lado, o combate à fraude e à evasão fiscal, e, por outro, a tutela do direito à privacidade. Sendo
esta matéria especialmente controvertida, o legislador toma cuidados especiais relativamente ao
levantamento do sigilo bancário. A questão levantava-se também relativamente à necessidade de
autorização judicial. Como era necessária autorização judicial, os procedimentos para esse efeito eram
tão demorados que acabava por ficar sem efeitos. No art. 63º-B, nº1 LGT determinam-se os casos em
que a Administração Tributária tem o poder de levantar o sigilo bancário (p. ex., quando existam
indícios de prática de crime em matéria tributária).
Uma vez levantado o sigilo bancário, o ónus da prova é do contribuinte.
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Aulas teórico-práticas
apresentada por escrito, e nos casos de manifesta simplicidade pode ser apresentada de forma oral.
Quando se opta pela forma escrita, o pedido por ser feito também através da transmissão eletrónica,
isto é, via email. A reclamação está isenta de custas. Nela devem constar os fundamentos factuais e de
direito, e em princípio a prova é documental.
Os fundamentos são, como dissemos, os mesmos que existem para a impugnação, isto é, existe
uma cláusula aberta quanto à legalidade (art. 70º, nº1 CPPT). Há uma grande abertura por parte do
legislador relativamente à admissibilidade de situações em que se admite a reclamação graciosa.
O prazo de 120 dias começa a contar-se a partir do fim do prazo para pagamento voluntário,
determinado na notificação. Sendo ela entregue no serviço periférico local, é dirigida ao serviço
periférico regional. O órgão periférico local (sede ou domicílio do contribuinte) vai instruir o processo
que depois envia para o órgão periférico regional, num prazo de 90 dias, no máximo, o que quer dizer
que para uma decisão expressa o órgão regional tem mais cerca de 30 dias. O próprio serviço periférico
local faz uma proposta de decisão. Regra geral, não será necessária instrução quando os elementos
juntos ao processo já sejam suficientes para se tomar a decisão (há uma remessa imediata, nestes casos).
Quanto à decisão propriamente dita (art. 75º CPPT), ela pode ser expressa ou tácita, e pode ser
de deferimento ou indeferimento. Se nada for dito, e para efeitos de impugnação, considera-se que há
indeferimento tácito. Quer isto dizer que, passado o prazo para a Administração decidir, se nada for
dito, começa a contar-se o prazo para a impugnação judicial, considerando-se que houve
indeferimento. O contribuinte pode, obviamente, não impugnar a decisão de indeferimento tácito e
esperar pela decisão expressa. O facto de existir indeferimento tácito não quer dizer que a
Administração não esteja obrigada a responder. O art. 106º CPPT deve ser lido em conjugação com o
art. 57º LGT, que determina que o procedimento tributário, se nada for dito em contrário na lei, deve
ser concluído no prazo de quatro meses. Durante esse período o contribuinte fica proibido de praticar
atos que sejam considerados dilatórios.
Portanto, findo o prazo para pagamento voluntário do tributo, começa a contar o prazo de
reclamação graciosa. O prazo de apresentação da reclamação graciosa é, como dissemos, de 120 dias.
Caso seja apresentada a reclamação nesse prazo de 120 dias, a partir do momento da entrega da
reclamação no órgão competente (o serviço periférico local da área do domicílio ou sede do
contribuinte) começa a contar o prazo de quatro meses, que a lei determina como os quatro meses do
procedimento. Passados esses quatro meses, se nada for dito, começa a contar o prazo para
impugnação judicial. Caso se deixe passar esse prazo, o contribuinte só poderá recorrer à impugnação
caso venha, hipoteticamente, a existir um indeferimento expresso. A regra geral aqui é a contrária do
Direito Administrativo, é a do indeferimento tácito. NOTA: há casos previstos na lei de deferimento
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Aulas teórico-práticas
tácito. É o caso dos pagamentos por conta, pagamentos que o contribuinte vai fazendo durante o
período tributário por conta do imposto que vai ter que pagar - os profissionais da categoria B, durante
o ano, terão que fazer três pagamentos por conta (art. 133º CPPT). Este pagamento por conta também
é suscetível de impugnação judicial, mas tem que haver obrigatoriamente reclamação graciosa, e se
nada for dito pela Administração no prazo de 90 dias, a pretensão do contribuinte foi tacitamente
deferida. Da decisão pode caminhar-se para a impugnação judicial (no prazo de três meses) ou pode
fazer-se recurso hierárquico (art. 76º CPPT). Os recursos hierárquicos são apresentados no prazo de
30 dias da notificação do ato.
Em princípio as reclamações graciosas não são obrigatórias, são facultativas, o contribuinte é
que vai tomar a decisão entre reclamar ou recorrer diretamente à impugnação. Essa análise passa, p.
ex., pela existência ou não de uma questão meramente jurídica (caso em que é natural recorrer
diretamente à impugnação). Há, no entanto, casos em que a reclamação graciosa é obrigatória. É o
caso de impostos em que tenha existido erro na autoliquidação. Se a questão for meramente uma
questão de direito não é obrigatória a reclamação, que só será obrigatória quando haja questões de
facto a considerar. Há ainda reclamação graciosa obrigatória nos casos de retenção na fonte em que o
substituto entregou imposto superior ao que era obrigado, e nos casos de pagamentos por conta.
28.03.2018
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Contencioso Administrativo e Tributário Maria João Torres Cruz | FDUP 2018/2019
Aulas teórico-práticas
O contencioso tributário gira muito à volta da impugnação da liquidação. Não obstante, não é
apenas isso, existem outras formas de intervenção.
Os poderes do juiz (art. 13º CPPT) estão intimamente relacionados com a ideia de procura da
verdade material. O juiz que preside ao tribunal tributário tem a obrigação de proceder a todas as
diligências necessárias para chegar à verdade material. Aqui a ideia não é a de uma intervenção através
de presunções. Esta obrigação de chegar à verdade material tem um efeito quer para partes privadas,
quer para partes públicas (desde logo, na medida em que as autoridades públicas são obrigadas por lei
a prestar todos os elementos necessários ao bom andamento do processo). As partes criam uma
situação em que tem que se procurar a verdade material, e o juiz tem que, naturalmente, procurar
sempre essa verdade.
É um dever recíproco, e que está relacionado com o tal dever de procura da verdade material.
Quem será o autor por excelência no processo tributário? O contribuinte. E quem será, por excelência, o sujeito
passivo? A Administração Tributária. Em regra, as ações são propostas contra a Administração
Tributária. Isto é assim desde logo porque a Administração goza do poder executivo e, quando quer
atuar, tem na sua mão, através desse poder executivo, a possibilidade de liquidação. O natural é que o
contribuinte discorde da atuação da Administração Tributária. É bastante razoável que em muitas
situações a impugnação judicial surja na sequência de ações inspetivas e de uma liquidação adicional.
As partes têm, no processo tributário, um especial dever de colaboração, porque o fim que aqui
está em causa é especialmente relevante para a sociedade – o pagamento de impostos, que é, como
sabemos, a principal receita do Estado.
O princípio da celeridade é aquele que leva a que o processo deva estar concluído num prazo
razoável. O prazo de conclusão de um processo tributário, em regra, é de dois anos (em alguns casos
é de 90 dias). Apenas uma ínfima parte dos processos termina, no entanto, dentro deste prazo de dois
anos. Um juiz que não cumpra este prazo está sujeito a responsabilidade disciplinar. Esta possível
responsabilidade disciplinar tem que ser vista com cuidado, na medida em que há casos de especial
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Aulas teórico-práticas
complexidade que não permitem a resolução num prazo tão curto. Muitas vezes as questões colocadas
são questões contabilisticamente muito complexas, e os juízes têm que recorrer a quem saiba de outras
áreas para além do Direito.
Por outro lado, a existência deste prazo é relevante. Imaginemos uma empresa que tem um
litígio com o Estado no valor de 1 milhão de euros. Sabendo que existe o risco de perder, muitas vezes
as empresas pretendem uma decisão que possa ser mais rápida. Mais do que ter uma decisão a seu
favor, as empresas pretendem uma decisão rápida. As empresas cada vez mais preferem recorrer à
arbitragem tributária por causa disto, porque independentemente de não existir recursos, a partir do
momento em que o tribunal arbitral esteja constituído há um prazo inicial de seis meses para se decidir.
Em circunstâncias excecionais, e por acordo do próprio tribunal, podem ser determinados períodos
suplementares. Entre o momento em que entra uma impugnação no tribunal arbitral e a decisão final
raramente decorre mais do que um ano. A decisão é tomada e o contribuinte sabe logo se tem ou não
razão. Isto é especialmente relevante, p. ex., nas situações em que na sequência da liquidação adicional
e da notificação para pagamento se abriram processos executivos.
É preciso, no entanto, ter em atenção o risco de uma decisão arbitral, porque os árbitros (três,
nas questões mais relevantes) não são, à partida, conhecidos. Se a jurisprudência do centro de
arbitragem não for pacífica em relação a uma matéria, tem sempre que se pesar os prós e os contras.
Dúvidas não há, no entanto, que com a arbitragem se deu mais um passo relevante no sentido de maior
celeridade processual. NOTA: Para se partir para a arbitragem não é, em regra, necessária uma
reclamação graciosa anterior.
Este princípio do inquisitório tem a ver com um princípio de oficiosidade, isto é, o juiz pode
praticar os atos que sejam necessários no processo para chegar à verdade material. O juiz não estará
determinado na sua procura de prova por aquilo que as partes, quanto a essa matéria, fazem juntar ao
processo. O juiz recebe uma petição inicial em que fica determinado o objeto do processo, e quanto a
essa matéria ele não vai nem mais além, nem mais aquém. Quanto à prova, no entanto, o juiz pode
ultrapassar aquilo que as partes juntam ao processo. O juiz pode, como determina o art. 13º, nº1 CPPT,
ordenar todas as diligências que sejam necessárias para atingir a verdade material.
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Aulas teórico-práticas
O princípio do contraditório tem a ver com a utilização dos elementos processuais através das
duas partes do processo. Esta referência está ligada a uma outra: o contraditório escrito, que tem como
elementos essenciais a petição inicial e a sua resposta, isto é, a contestação:
→ A petição inicial é apresentada pelo contribuinte, deve ser dirigida ao juiz, deve ter
indicado o valor ou a forma de cálculo desse mesmo valor, e deve ser entregue em triplicado
(uma para a outra parte, uma para arquivo e outra para a Fazenda Pública). Também na
petição inicial deve ser feito o pedido de prova testemunhal, se for caso disso.
→ A contestação é apresentada pela Administração, no prazo de 90 dias, e deve também
solicitar, desde logo, a prestação de prova.
O juiz, em primeiro lugar, deve determinar diligências de prova. Pode fazê-lo em relação a
todos os meios de prova (pode, p. ex., haver pareceres técnicos ou de peritos) mas sempre nos limites
da petição inicial, a não ser que haja alterações supervenientes. A contestação também tem que se
limitar ao pedido de impugnação.
No processo tributário há recurso único. Uma questão tributária entra num tribunal tributário
de 1ª instância. Se houver recurso relativamente a uma questão de facto há recurso para o Ttribunal
Central Administrativo. Quando o recurso envolve questões de direito, será para o Supremo Tribunal
Administrativo. Ou seja, há apenas um recurso, que vai para o TCA ou para o STA.
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Aulas teórico-práticas
interesse relativamente aos repercutidos, que têm a sua posição determinada por via de lei; poderão,
portanto, ter um interesse que seja tutelado pela própria lei), bem como as partes de contratos fiscais.
Relembremos que quando falamos de responsáveis subsidiários, eles terão legitimidade quando
tenha existido contra eles uma situação de reversão. Não tem lógica que se admita a responsabilidade
processual para quem ainda não faz parte da relação. Não se pode admitir legitimidade para potenciais
sujeitos passivos, apenas para os sujeitos passivos efetivos.
Além dos sujeitos passivos, tem legitimidade o representante da Fazenda Pública (O art. 15º
CPPT refere-se à competência do representante da Fazenda Pública) e o Ministério Público, sob lógicas
distintas: o representante da Fazenda Pública sob a lógica de defesa da posição da Administração
Tributária; e o Ministério Pública numa lógica de defesa da legalidade. Ao passo que um defende uma
das partes, o outro está pura e simplesmente na defesa da legalidade.
Processo ≠ Procedimento
Aulas teórico-práticas
3.04.2019
3. Processos em especial
Existem vários meios processuais à disposição dos sujeitos da relação tributária. Quando se
fala em meios processuais é preciso ter em atenção que o normal é que o sujeito ativo de uma relação
processual tributária seja o sujeito passivo de uma relação tributária, porque o normal é que esteja em
causa qualquer queixa por parte do contribuinte, do substituto ou do responsável. Sempre que o meio
processual utilizado pelo contribuinte não seja o mais adequado de acordo com a lei, há uma correção
para aquele que é o meio adequado (art. 97º, nº3 LGT), princípio esse que também está previsto no
nº4 do art. 98º CPPT. Este direito não pode ser absoluto, há circunstâncias em que a incompetência
tem que passar por regras próprias.
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Aulas teórico-práticas
→ Art. 111º, nº 3 CPPT: Quando antes da receção de uma impugnação judicial tenha sido feita
uma reclamação graciosa quanto ao mesmo ato, a reclamação tem que ser apensa à impugnação, no
estado em que se encontrar. Pode suceder que, quando estejamos perante um indeferimento tácito,
apenas se junte o pedido de reclamação graciosa.
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Aulas teórico-práticas
Como é que é possível que haja uma impugnação judicial apresentada antes da reclamação?
É possível, desde logo, porque os prazos são diferentes (120 dias para a reclamação vs. três
meses para a impugnação).
São, fundamentalmente, situações de ilegalidade. Note-se que há uma remissão do art. 70º, nº1
CPPT para o art. 99º CPPT, que se refere aos fundamentos da impugnação, que são: a) a errónea
qualificação e quantificação dos rendimentos, lucros, valores patrimoniais e outros factos tributários;
b) a incompetência; c) a ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida; e d) a preterição de
outras formalidades legais. O texto do art. 70º, nº1 CPPT refere-se a estas circunstâncias de forma
meramente exemplificativa (“designadamente”).
Quanto à tempestividade com que é apresentada a impugnação, tem que se distinguir duas
circunstâncias, conforme seja o primeiro meio de reação do contribuinte ou não (cfr. art. 102º, nº1, al.
d CPPT – presunção de indeferimento tácito). Há um prazo de três meses (não é igual a 90 dias!).
Quando há indeferimento expresso, os três meses contam-se a partir do momento do conhecimento
da decisão.
O nº3 do art. 134º CPPPT refere-se a situações de tributação do património, situações em que
esteja em causa uma incorreção numa inscrição matricial, que é essencial para determinar o valor de
um imóvel para efeitos de imposto (o VPT). Se um contribuinte tem dúvidas sobre o valor que está
inscrito na matriz, tem que solicitar a modificação desse valor antes de partir para a impugnação. Se a
Administração nada disser, o contribuinte tem 30 dias para impugnar. Se, pelo contrário, houver
decisão expressa por parte da Administração, o contribuinte tem também 30 dias. Aqui está um dos
casos em que tem que se passar obrigatoriamente pela reclamação antes de partir para a impugnação.
Outro caso é o do pagamento por conta, que é o pagamento provisório de imposto feito pelo próprio
contribuinte (quando é por terceiro estamos perante uma retenção na fonte). Para se impugnar o
pagamento por conta é necessário previamente fazer uma reclamação graciosa, que tem que ser feita
no prazo de 30 dias após ter sido feito o pagamento indevido. Se houver indeferimento expresso o
prazo para impugnação é de 30 dias. Se a Administração nada disser no prazo de 90 dias considera-se
que houve indeferimento expresso, começando o prazo dos 30 dias a contar a partir daí.
O prazo começa a contar a partir do dia seguinte ao evento, e é contínuo, isto é, não para
durante dias não úteis. Se terminar num dia não útil (sábados, domingos e feriados) o fim de prazo
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Aulas teórico-práticas
passa para o dia útil seguinte. Atos que sejam praticados em tribunal e cujo termo do prazo termine
em férias judiciais transfere-se para o primeiro dia útil após as férias. Se p. ex. o prazo de impugnação
terminar em férias deve a impugnação ser entregue de qualquer das formas.
A impugnação interrompe o prazo de prescrição (art. 49º, nº1 LGT), bem como a citação no
processo executivo, a reclamação e o recurso hierárquico. Havendo antes reclamação, a impugnação
começa no momento em que é apresentada a reclamação. Esta suspensão da prescrição é um contínuo.
O contribuinte pode optar por reclamar primeiro e impugnar depois, ou então impugnar logo, fazer
reclamação com recurso hierárquico e daí partir para a impugnação. O primeiro destes atos que permita
a suspensão é o relevante.
i) O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial. O que é que se pede na petição inicial?
A anulação do ato de liquidação, com base numa ilegalidade.
A petição inicial tem sempre que ser dirigida a um juiz. Será apresentada ao juiz do tribunal
administrativo e fiscal da sede ou residência do contribuinte ou no serviço periférico local da sede ou
residência do contribuinte. É apresentada em articulado e em triplicado (art. 103º CPPT). No caso em
que se apresenta a petição inicial no serviço periférico local, este tem que a enviar para o tribunal, e
com a entrega da petição inicial deve entregar-se o pedido de prestação de garantia ou a própria
prestação da garantia para suspender a execução.
A impugnação pode ser inepta, quando lhe faltem os elementos essenciais, o que leva a uma
circunstância de nulidade insanável. Como estamos perante uma nulidade insanável, ela pode ser
conhecida a todo o tempo, porque o princípio da verdade material é relevante mas o princípio de
acordo com o qual uma impugnação não deve ser inepta também o é, porque ela vai determinar o
padrão de defesa da outra parte.
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Aulas teórico-práticas
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Relacionada com a apresentação da impugnação está a prestação da garantia, porque se não for
prestada garantia temos aquele efeito de que já falámos da manutenção ou início do processo executivo,
porque são duas vias diferentes relacionadas com a aplicação do princípio do solve et repetere.
Por outro lado, temos o contraponto do pedido de impugnação, que é a contestação (art. 110º
CPPT). Quem contesta no processo tributário, regra geral, é a Administração Tributária. O juiz notifica
a contraparte para responder. As notificações são essenciais, são a forma de comunicação do juiz com
as partes.
Quando é recebida a petição inicial o juiz notifica o representante da Fazenda Pública para, no
prazo de 90 dias, não só contestar como também apresentar prova adicional. Caso o representante da
Fazenda Pública pretenda, pode solicitar, em 3 dias, o processo administrativo, sem que isso suspenda
o prazo para a contestação. É a solicitação da parte procedimental que esteja junto ao processo de
impugnação (p. ex., uma reclamação anterior). A obrigação de remeter o processo administrativo
impende desde logo sobre o representante da Fazenda Pública.
→ Por exceção
→ Por impugnação
A falta de contestação não equivale a confissão, o juiz aprecia livremente a falta de contestação.
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Aulas teórico-práticas
ii) Abre-se depois o momento da instrução, que é aquele em que se organizam ou se juntam
os elementos de prova. Importa não esquecer aqui o princípio de admissibilidade dos meios gerais de
prova (art. 115º CPPT) e da liberdade do juiz em relação à prova: liberdade de “investigação” e
liberdade de valoração da prova. O princípio essencial no processo tributário é, como sabemos, o da
descoberta da verdade material.
Quanto aos meios de prova, importa referir que, quando estejamos perante informações
oficiais, é necessário que as mesmas estejam fundamentadas. Os documentos que sejam apresentados
podem ser confrontados com dúvidas sobre a sua veracidade, que devem ser colocadas no prazo de
10 dias após a sua apresentação, momento em que se deve fazer a comparação com o pretenso original
do documento. Os documentos podem ser particulares ou autênticos.
Quanto à prova testemunhal, não se pode exceder três testemunhas por facto, nem 10 por cada
ato tributário, isto é, por cada liquidação de um ato (art. 118º CPPT). Quando há prova testemunhal
há audiência de julgamento. NOTA: no caso da arbitragem é usual a apresentação de testemunhas.
Uma outra forma de prova admitida é a prova pericial, feita por peritos que dão pareceres
técnicos (acontece muito em relação à tributação do património e questões de natureza contabilística).
É um pedido feito pelo juiz, ou oficiosamente ou com base num pedido das partes, e a prova pericial
é feita de acordo com as regras do CPC.
iii) Passamos de seguida para a fase de alegações, que é uma fase escrita. O grande interesse
desta fase é o de se fazer uma análise crítica da prova produzida e das questões de direito. Nesta altura
já não se pode fazer prova, pode fazer-se apenas juízos sobre a prova.
iv) Passamos depois para a fase de vista pelo Ministério Público, que aparece aqui como
defensor da legalidade e do interesse público.
v) Fase da sentença:
A sentença tem que ser notificada (arts. 122º e 126º CPPT). Caso quem impugna perca total
ou parcialmente, é condenado em custas e pode eventualmente ser condenado como litigante de má
fé. A sentença tem que expressamente declarar o que é que são factos provados e factos não provados,
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Aulas teórico-práticas
tem que identificar os interessados, os factos, sintetizar as posições das partes e dar os fundamentos
da decisão.
A sentença é nula quando não há assinatura do(s) juiz(es), quando não são especificados os
argumentos da decisão, ou quando há uma contradição entre os fundamentos considerados e a decisão.
A nulidade mais fácil de suprir é, naturalmente, a falta de assinatura.
O juiz apenas está limitado quanto às questões que deve conhecer, isto é, as delimitadas na
impugnação. Por outro lado, tem liberdade quanto aos fundamentos de decisão, com o limite de que
os fundamentos não podem ser contraditórios com a própria decisão.
A sentença é notificada a partir da sua produção, num prazo de 10 dias, ao impugnante, ao
Ministério Público e ao representante da Fazenda Pública. Tomada a decisão e depois de notificada,
não tem o juiz liberdade para a alterar.
O que está em causa neste plano é uma decisão de anulação de um ato tributário. O ato é o
centro da impugnação. Tomada a decisão, e caso seja dada razão ao sujeito ativo, ao impugnante, pode
a Administração ter que reconstituir a legalidade. Ou seja, a Administração, que beneficiou do princípio
solve et repetere, terá que reconstituir aquilo que deveria existir sem a ilegalidade, isto é, terá desde logo
que devolver aquilo que tenha recebido. Deve fazê-lo pagando ou fazendo com que sejam pagos juros
indemnizatórios quando se demonstre que houve erro imputável aos serviços. Tem que haver uma
compensação em relação ao direito da Administração de impor um pagamento, pagamento que aqui
foi ilegal. Para haver juros, estes têm que ser pedidos. A sentença vai precisar sempre de uma atuação
da Administração. O juiz não é a Administração, o juiz determina uma decisão que tem que ser
cumprida pela Administração.
Assistência
Habilitação
Apoio judiciário
O prazo de resposta aos incidentes é de 15 dias, com a obrigação do Ministério Público, dentro
desses 15 dias, se pronunciar. São questões prejudiciais, que são decididas de forma autónoma.
4.04.2019
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Aulas teórico-práticas
As ações para reconhecimento de direitos ou interesses podem sempre ser colocadas por quem
demonstre ter um direito ou um interesse legalmente protegido, conforme resulta do nº1 do art. 145º
CPPT. O prazo desta ação é bastante mais amplo do que o prazo da impugnação: quatro anos a partir
da constituição do direito ou do conhecimento da lesão. No nº3 do art. 145º CPPT salienta-se o facto
destas ações apenas poderem ser propostas quando esse for o meio processual mais adequado para
assegurar a tutela plena, eficaz e efetiva do direito ou interesse legalmente protegido. Isto é, o legislador,
ao prever esta forma processual, não está a admitir que ela seja utilizada quando já falharam todos os
prazos. É uma ultima ratio, ou seja, tem lugar quando há uma qualquer situação controvertida que não
cabe na previsão legal de uma impugnação. Pode haver dúvidas em saber se estamos perante uma
verdadeira ação de reconhecimento ou se deveríamos estar perante uma ação administrativa. Esta ação
tem um âmbito amplo, que corresponderá a todas as situações em que no procedimento tributário
surge um ato administrativo lesivo do sujeito passivo.
Com esta ação de reconhecimento de um direito ou interesse legítimo em matéria tributária
não se consegue anular uma liquidação, são coisas distintas. O caso mais natural de recurso a esta ação
será o da existência de um ato preparatório no procedimento tributário que não tenha consequências
diretas patrimoniais. Não é um modo de atuar em última via. Haverá um caso de verdadeira atuação
em última via, quando p. ex. já passou o prazo para impugnação, é o da revisão oficiosa. Ao pedir a
revisão oficiosa o sujeito passivo está “a dar um passo atrás”, porque se recorre a um meio
procedimental quando se estava a pensar recorrer a um meio processual. É, no fundo, voltar para a
esfera de decisão da Administração.
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Aulas teórico-práticas
Vamos partir assumindo como ponto inicial o processo de impugnação judicial, que se
caracteriza por ter por objeto um ato de liquidação, isto é, uma atitude positiva por parte da
Administração Tributária. É importante que exista um qualquer meio para as omissões de sejam lesivas
pelo contribuinte. Um contribuinte não se sentirá lesado apenas porque a Administração tomou uma
determinada decisão, isto é, há omissões que podem ser lesivas de direitos do contribuinte. Esta ação
tem um campo de intervenção materialmente distinto face ao direito de impugnação, e para ser
utilizada, terá obrigatoriamente que ser o meio tributário mais adequado para assegurar a tutela plena
do direito ou interesse em causa. Por vezes há questões que têm uma base de natureza fiscal e que não
se consegue que sejam tratadas pelas formas processuais previstas no CPPT. P. ex., as empresas A e B
têm um contrato de prestação de serviços. A empresa A, que presta o serviço e receberá uma
remuneração por essa mesma prestação, entende que se deve aplicar a taxa máxima de IVA. Já a
empresa B entende que não se deve pagar IVA, isto é, entende que a operação está isenta. As duas
partes têm uma ideia distinta relativamente à prestação que tem que ser cumprida. Isto é uma relação
entre dois sujeitos privados, e o contencioso tributário está pensado para bases de intervenção em que
temos como sujeito passivo da relação jurídica o contribuinte e como sujeito ativo a Administração.
A impugnação judicial serve para aqueles casos em que o particular considera que tem o seu
direito potencialmente numa situação de lesão em virtude de uma liquidação. A ação para
reconhecimento de um direito ou interesse em matéria fiscal serve para situações em que há uma
omissão lesiva por parte da Administração ou uma outra qualquer forma de atuação pela positiva mas
que não cabe no âmbito de uma impugnação. No caso, pode suceder que outros tribunais tenham que
decidir questões fiscais, ou seja, há questões que saem do âmbito da jurisdição fiscal. Por isso é que é
relevante referir que a ação de reconhecimento de um direito ou interesse em matéria fiscal só pode
ser seguida quando seja o meio processualmente mais adequado.
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Aulas teórico-práticas
O contencioso tributário está muito mais baseado na lógica do ato do que o contencioso
administrativo. Esta ação de reconhecimento de um direito ou interesse em matéria fiscal é a ação que
mais se afasta dessa lógica do ato tributário.
As ações cautelares têm no processo tributário o mesmo conceito que têm no Direito Civil.
São meios que, perante situações de urgência, pretendem acautelar a prática de lesões que se
demonstrem irreparáveis para o contribuinte. A decisão de uma ação cautelar não tem necessariamente
a ver com a decisão do fundo da questão. Basta que exista uma mera aparência de existência de direitos
e a antevisão de um dano.
As providências cautelares podem ser a favor da Administração Tributária, sujeito ativo da
relação tributária, ou a favor do contribuinte, sujeito passivo da relação tributária (bem como os
substitutos e os responsáveis).
O legislador processual tributário foi muito cauteloso na determinação dos meios cautelares,
isto é, não deu grande abertura à sua existência, porque vigora aqui o princípio solve et repetere.
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Aulas teórico-práticas
Estão previstas de forma genérica no artigo que se refere à intimação para o comportamento.
Podem ser utilizadas pelos contribuintes e demais obrigados tributários, isto é, responsáveis e
substitutos. O requerente deste direito tem que invocar e provar o receio de uma possível lesão. Tem
ainda que provar um nexo de causalidade entre a ação sobre a qual pretende atuar provisoriamente e a
lesão, ou seja, tem que provar que há um nexo e que a providência cautelar é o meio adequado à sua
defesa.
É um meio excecional, não é natural que venha a ser utilizado, porque poderia ser um modo,
teoricamente, para contornar um efeito meramente devolutivo. Ou seja, não pode ser o meio utilizado
para não cumprir o princípio solve et repetere.
Estão também previstos no CPPT (que se refere a “meios processuais acessórios”, ou seja,
teremos meios processuais principais – impugnação e ação de reconhecimento; os meios
processuais cautelares – o arrolamento, o arresto e a utilização deste meio pelo contribuinte, e os
meios processuais acessórios). São meios processuais acessórios:
O processo especial de revogação do sigilo bancário apenas se aplica às situações em que a lei
permita o levantamento do sigilo bancário, naturalmente. É possível que exista um recurso interposto
pelo contribuinte. Ou seja, há uma decisão da Administração de levantar o sigilo bancário; se o
contribuinte discorda, utiliza este meio processual e recorre especificamente dessa decisão da
Administração. Deve, perante o tribunal do domicílio fiscal do contribuinte, salientar as suas razões de
defesa do não levantamento do sigilo, e deve fazê-lo no prazo de 10 dias a contar da notificação do
levantamento do sigilo bancário. NOTA: não é necessário que seja um advogado a fazê-lo. Em 10 dias
a Administração deve deduzir a sua oposição.
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Aulas teórico-práticas
É um processo urgente, que deve ser resolvido com uma decisão no prazo de 90 dias contados
da apresentação do pedido de recurso pelo contribuinte. Aqui é especialmente prevista a urgência da
decisão, porque está em causa o conhecimento de dados de natureza bancária.
1. Em caso de omissão, por parte da administração tributária, do dever de qualquer prestação jurídica
suscetível de lesar direito ou interesse legítimo em matéria tributária, poderá o interessado requerer a sua
intimação para o cumprimento desse dever junto do tribunal tributário competente.
2. O presente meio só é aplicável quando, vistos os restantes meios contenciosos previstos no presente
Código, ele for o meio mais adequado para assegurar a tutela plena, eficaz e efetiva dos direitos ou
interesses em causa.
(…)
Art. 147º CPPT – Intimação para um comportamento
Existe para casos de omissão por parte da Administração de uma qualquer prestação jurídica
que esteja legalmente sustentada e que seja suscetível de lesar um direito ou interesse legítimo em
matéria tributária. Pretende-se obviar a todas as situações em que a Administração não atuou no tempo
em que era devido. Não estamos a falar de mora da Administração, estamos a falar de incumprimento
da Administração relativamente às suas obrigações. Este meio só pode ser utilizado quando se esteja
numa situação de último recurso, isto é, tal como prevê o art. 147º, nº2 CPPT, este meio só é aplicável
quando, vistos os restantes meios contenciosos, ele for o meio mais adequado para assegurar a tutela
plena, eficaz e efetiva dos direitos ou interesses em causa.
A intimação para um comportamento inicia-se com um requerimento em que se tem que
indicar a omissão, o direito em causa e os procedimentos a praticar pela Administração Tributária.
Os prazos de pronúncia são, naturalmente, curtos, é uma tutela célere. A Administração
Tributária tem que se pronunciar no prazo de 15 dias sobre o requerimento, e depois desse prazo o
juiz intima ou não a Administração a reintegrar o direito, determinando ele próprio um prazo para a
Administração o fazer. O tribunal não vai atuar, vai mandar a Administração atuar num prazo de 30 a
120 dias. Por isso, a decisão que seja tomada tem que especificar o comportamento que a
Administração tem que tomar.
Este é o processo subsidiário.
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Aulas teórico-práticas
A execução fiscal é o meio processual que tem como objetivo a realização efetiva de um direito
de crédito, e que vai, naturalmente, utilizar meios não jurisdicionais. É o caso processual em que é mais
evidente a relação entre meios jurisdicionais e meios não jurisdicionais. A base deste processo passa
pela ideia de preferência pelo direito do credor. Isto é, o processo de execução fiscal existe para
satisfazer o direito à realização do crédito que o credor tem. Por outras palavras, é o processo para
executar o crédito, neste caso de natureza fiscal.
Salienta-se, naturalmente, em relação a este processo, a ideia de penhora de bens que possa vir
a necessária como modo de satisfazer uma determinada dívida. A dívida tem que ser certa, líquida e
exigível.
Os documentos que podem servir de base à execução fiscal estão determinados no art. 162º
CPPT:
a) Certidão extraída do título de cobrança relativa a tributos e outras receitas do Estado;
b) Certidão de decisão exequível proferida em processo de aplicação das coimas;
c) Certidão do ato administrativo que determina a dívida a ser paga;
d) Qualquer outro título a que, por lei especial, seja atribuída força executiva.
Nos termos do art. 88º CPPT, terminado o período para pagamento voluntário por parte do
contribuinte, é extraída uma certidão de dívida pelas entidades competentes. Essas certidões têm que
ser assinadas e autenticadas e têm que conter alguns elementos, desde logo a identificação dos
devedores.
Os requisitos do título executivo estão regulados no art. 163º CPPT:
Menção da entidade emissora ou promotora da execução (al. a);
Assinatura da entidade emissora ou promotora da execução, por chancela nos termos do
Código ou, preferencialmente, através de aposição de assinatura eletrónica avançada (al. b);
Data em que foi emitido (al. c);
Nome e domicílio do ou dos devedores (al. d);
Natureza e proveniência da dívida e indicação do seu montante (al. e).
Aqui não está em causa a legalidade da dívida mas antes o cumprimento dos elementos
necessários para se fazer uma execução. A legalidade da dívida, a ser discutida, é-lo nos meios
declarativos (impugnação judicial).
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O âmbito da execução fiscal está regulado no art. 148º CPPT, nos termos do qual o processo
de execução fiscal abrange a cobrança coerciva das seguintes dívidas:
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Aulas teórico-práticas
A nulidade dos atos tem como consequência a anulação dos atos subsequentes (a cobrança
coerciva), conforme resulta do nº2 do art. 165º CPPT. No caso de falta de citação de alguém que seja
inabilitado, isso só invalida os atos posteriores à penhora (nº3 do art. 165º CPPT). Estando o processo
executivo a correr, as nulidades são de conhecimento oficioso, e podem ser arguidas até ao fim do
processo, até ao trânsito em julgado da decisão final.
Como sabemos, no processo tributário há atos que são praticados pela Administração e atos
que são praticados pelos tribunais. Genericamente, a competência dos tribunais tribuários está prevista
no art. 151º CPPT, e a competência da Administração no art. 150º CPPT. P. ex., a instauração é feita
pela Administração, bem como os atos de execução material. O tribunal (da área do domicílio ou sede
do devedor) decide os incidentes, os embargos e a oposição à execução. O ato de citação do executado
é feito pelo órgão de execução fiscal.
Todas as certidões de dívida que existem devem ser juntas. Hoje, com as vias informáticas, e
estando instaurado o processo executivo através da emissão do título executivo, faz-se
automaticamente a citação do contribuinte.
O prazo da oposição é de 30 dias a contar da citação (art. 203º, nº1 CPPT). Os fundamentos
de oposição à execução estão previstos no art. 204º CPPT. A oposição suspende a execução (art. 212º
CPPT). Nos termos do art. 213º CPPT, transitada em julgado a sentença, o processo deve ser devolvido
ao órgão da execução fiscal para ser apensado ao processo da execução.
11.04.2019
149
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Aulas teórico-práticas
→ O caso do art. 24º LGT, que se refere à responsabilidade dos membros de corpos sociais e
responsáveis técnicos:
Quando a pessoa coletiva não tenha a capacidade/possibilidade de pagar as suas dívidas fiscais
há responsabilidade subsidiária dos administradores, diretores e gerentes e outras pessoas que exerçam
funções de administração ou gestão. Esta responsabilidade subsidiária depende de reversão, aplicando-
se o benefício de excussão. São duas as situações de responsabilidade dos administradores (art. 24º,
nº1 LGT):
NOTA: o conceito de administrador também abarca o conceito de diretor; abarca todos os que podem
vincular a pessoa coletiva.
→ O caso do art. 28º LGT, que se refere à responsabilidade em caso de substituição tributária.
A regra geral está no nº1 do art. 28º LGT. Quando tenha sido feita a operação material de
retenção e não tenha sido entregue ao Estado o montante em causa, o substituído fica desonerado de
responsabilidade. A responsabilidade é do substituto apenas. Está é a regra geral, mas há exceções:
150
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Aulas teórico-práticas
Nº2: é uma retenção na fonte a título de pagamento por conta de um imposto devido
a final. Caso não tenha sido feita a retenção, a responsabilidade original é do substituído
e a responsabilidade subsidiária do substituto.
Nº3: o prof. DIOGO FEIO entende que este nº3 apenas de aplica aos casos de retenção
na fonte, isto é, retenção que tenha a natureza de pagamento por conta de um imposto,
e não às retenções definitivas.
Aquilo que se põe em causa é o ato executivo, não a dívida tributária. Os fundamentos da
oposição à execução estão previstos nos arts. 204º e 205º CPPT. Não se aplica à ilegalidade em
concreto.
A citação do executado vem definida no art. 35º, nº2 CPPT, de acordo com o qual a citação é
o ato pelo qual se dá conhecimento ao executado da execução contra ele movida, e se dá a hipótese de
ele vir ao processo executivo tomar a sua posição. Por isso é importante o regime das respostas, pois
com a citação abre-se o prazo para apresentar a oposição. Nesta altura pode o executado apresentar
um requerimento para fazer pagamento a prestações.
Os requisitos formais das citações estão regulados no art. 190º CPPT.
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Aulas teórico-práticas
A petição (arts. 206º e 207º CPTP) deve ser apresentada no prazo de 30 dias a partir da citação
(art. 203º CPPT) e a tramitação segue o modelo da impugnação. O modelo processual é o da
impugnação, como sabemos.
Os recursos das decisões dos tribunais tributários correspondem a um segundo juízo sobre a
pretensão do sujeito ativo da relação jurídico-tributária processual. É uma reapreciação por parte de
um juiz. O recurso ou é para o Supremo Tribunal Administrativo ou para o Tribunal Central
Administrativo, consoante estejamos a falar de questões de facto ou de direito: quando estamos a falar
de questões factuais, o recurso é para o Tribunal Central Administrativo; quando a questão suscitada
envolva legalidade, o recurso é para o Supremo Tribunal Administrativo. A tramitação está prevista
nos arts. 280º e ss. CPPT.
2.05.2019
152
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Aulas teórico-práticas
Administrativa). Ainda que a lei preveja estas duas opções, na prática, em mais de 90% dos casos, os
árbitros são designados pelo Conselho Deontológico e não pelo sujeito passivo (porque é bastante
mais caro – clara opção política).
O modelo de arbitragem em Portugal é um modelo de arbitragem institucionalizada no CAAD.
O art. 4º RJAT diz que só existe arbitragem tributária no CAAD. O que se quis foi atribuir a designação
dos árbitros a um órgão independente cujo presidente é designado por um órgão público. O presidente
tem que ser um juiz conselheiro jubilado da jurisdição administrativa e tributária. Por oposição à
arbitragem ad hoc.
O CAAD tem um regulamento de seleção de árbitros que oferece uma série de garantias
adicionais. Para além de requisitos técnicos (pelo menos 10 anos de comprovada experiência em
Direito Tributário, e em alguns casos podem ser pessoas licenciadas em Economia ou Gestão – mas
num coletivo de três, dois são sempre licenciados em Direito), há outros requisitos, nomeadamente de
idoneidade moral. Os árbitros selecionados são sujeitos a verificação pelo CAAD e só depois é que
são admitidos na lista de árbitros.
Todos os contribuintes que sejam pessoas singulares ou coletivas, residente sou não em
Portugal, que tenham um litígio com a Autoridade Tributária que se enquadre no âmbito dos tribunais
tributários. Dentro do âmbito de competência previsto no RJAT e de vinculação da Autoridade
Tributária arbitragem tributária, a Autoridade Tributária não se pode ausentar, o direito à escolha entre
colocar a questão perante um tribunal tributário ou perante um tribunal arbitral é do contribuinte.
Quais os litígios que podem ser dirimidos com recurso à arbitragem tributária?
A ideia inicial da Lei de Autorização é a de que tudo o que é impugnável é arbitrável, ou seja,
uma coincidência total do âmbito de competência. Vamos ver que não é exatamente assim. A
competência dos tribunais arbitrais é apreciada pelo próprio tribunal, ao abrigo do princípio da
competência da competência. A “competência do tribunal determina-se pelo pedido do autor e pela
causa de pedir em que o mesmo se apoia” (P. 118/2012-T).
153
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Aulas teórico-práticas
Todas as pretensões que digam respeito a tributos que não sejam impostos não caem no âmbito
de vinculação da arbitragem tributária (a portaria “afunila” o âmbito). A Portaria também exclui um
conjunto de pretensões (v. art. 2º PV).
Quis-se excluir também todas as pretensões relativas a direitos aduaneiros na importação (já
não se pode dizer o mesmo dos direitos de exportação), bem como os demais impostos indiretos que
incidam sobre mercadorias sujeitas a direitos de importação (os tribunais arbitrais consideraram que o
IVA se inclui aqui nestes impostos indiretos que incidem sobre mercadorias, ou seja, exclui-se o IVA
na importação do âmbito da arbitragem).
Para além desta delimitação negativa ao nível da matéria, há também uma delimitação negativa
ao nível do valor: art. 3º, nº1 PV – litígios de valor não superior a 10 milhões de euros. Porquê 10
milhões? É um valor relativamente baixo.
EM SÍNTESE, o âmbito de competência dos tribunais tributários é muito mais amplo do que o
âmbito de competência dos tribunais arbitrais tributários, quer em razão da matéria, quer em razão do
valor. Os tribunais arbitrais são competentes para apreciar a legalidade dos atos de liquidação de impostos
(e não de quaisquer tributos).
E as contribuições?
Porque é que a portaria fala em “administração”? Quem administra liquida? Há algum imposto que não seja
administrado pela AT? E os casos de autoliquidação?
Liquidar;
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Aulas teórico-práticas
Art. 12º, nº1 Decreto Regulamentar Regional nº2/2013/M (Aprova a orgânica da Direção
Regional dos Assuntos Fiscais da Região Autónoma da Madeira). A Região Autónoma da Madeira
administra os impostos?
Numa interpretação literal, os tribunais arbitrais não serão competentes para apreciar a
legalidade de:
1. Utilidade económica do pedido: o valor do processo, que é calculado nos termos do art.
97º-A CPPT;
2. Facto do contribuinte ter ou não escolhido os árbitros:
a. Processos sem escolha de árbitro: Tabela I (50% pago com a apresentação do
pedido de constituição de tribunal arbitral + 50% pago apos R1; reembolsável em
caso de vencimento – se o contribuinte ganhar, recebe tudo o que pagou);
b. Processos com escolha de árbitro: Tabela II (mais caro; taxa paga pela totalidade
com o pedido de constituição de tribunal arbitral; não reembolsável).
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Aulas teórico-práticas
Em que prazo?
Os árbitros têm pelo menos 10 anos de comprovada experiência na matéria. Há uma inscrição
por tributo. Possibilidade de designação de árbitro não presidente licenciado em economia ou gestão,
sempre que a natureza da matéria o justifique.
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Casos práticos:
Nº1:
António recebeu uma citação com uma nota de liquidação, no valor de 50.000€, relativa
ao seu IRS. Concorda com parte mas discorda de outra. Dois meses depois contacta uma
sociedade de advogados. Será possível promover a sua defesa? E se o contacto ocorresse seis
meses depois?
António será um contribuinte, que recebeu uma nota de liquidação para pagamento de imposto,
tendo recebido essa nota por via de citação. Ou estamos perante um processo executivo ou há aqui
um engano na forma utilizada. No caso de não se estar no processo executivo nunca poderia ser por
via de citação mas sim por via de notificação.
No caso de ser uma citação é que poderíamos por a hipótese de estar em causa uma
responsabilidade subsidiária. Não é o caso porque a nota de liquidação se refere ao seu IRS.
Apesar do contencioso tributário ter por centro o ato tributário, é evidente que a discordância
pode ser parcial. Acontecerá de forma mais natural quando esteja em causa uma liquidação adicional,
porque na liquidação inicial, como existe um princípio de auto declaração do contribuinte, apesar de
heteroliquidação, é pouco usual que isto aconteça.
Se fosse processo executivo, o prazo para a oposição seria de 30 dias a contar da citação pessoal
ou da data em que tiver ocorrido ato superveniente. Isto relativamente à parte executiva. Relativamente
à parte declarativa. Estando a decorrer processo executivo, ele podia fazer requerimento para prestar
garantia.
E se o contacto ocorresse seis meses depois? Passou o prazo de reclamação e de impugnação. Resta a
revisão oficiosa do ato.
Nº2:
Bernardo é notificado de uma liquidação de que discorda. No prazo devido, intenta
uma impugnação judicial relativamente a um indeferimento tácito do seu pedido de anulação.
Após ter entrado com a petição inicial, a Administração responde no prazo de sete meses. O
que deverá fazer o juiz, sabendo-se entretanto que a Administração indeferiu de forma
expressa a intenção do contribuinte?
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Bernardo, sujeito passivo de uma relação jurídica tributária, é notificado de uma liquidação, e
discorda. Tem várias hipóteses de atuação, desde logo, a via administrativa e a via judicial. Bernardo
intentou uma impugnação judicial. Qual é o prazo? 3 meses. A impugnação judicial pode ser judicial
ou por via arbitral. Fundamentos da impugnação. A impugnação foi feita relativamente a um
indeferimento tácito do seu pedido de anulação. Temos que pressupor que houve reclamação, que foi
indeferida tacitamente (que se forma no prazo de 4 meses). A partir da formação do indeferimento
tácito abre-se o prazo para a impugnação judicial.
Qual é o prazo de resposta para a impugnação judicial? É de 90 dias. Qual a consequência da
falta de resposta? Princípio da liberdade do juiz poder livremente considerar essa circunstância. Não
há aqui confissão.
O facto de haver indeferimento tácito não quer dizer que o procedimento termine. Pode haver
uma tomada de decisão pela Administração, de forma expressa. Neste caso a Administração indeferiu.
Que consequência é que isso tem? Havendo indeferimento expresso abre-se prazo para impugnação
do indeferimento expresso. Se nada for feito mantém-se o processo relativamente ao indeferimento
tácito.
Há processo executivo, paralelo ao processo declarativo. A penhora existe relativamente a bens
que possibilitem o cumprimento da obrigação em causa.
Possibilidade de processo especial de levantamento do sigilo bancário.
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