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Direito

das
Obrigações



Professor Henrique Sousa Antunes

Eva Brás Pinho 1




Introdução
1. Conceito de obrigação

1.1 Em sentido lato

Ø Situação jurídica passiva. Há realidades distintas do dever, nomeadamente a


sujeição e o ónus.

a. Ónus

• Necessidade de adotar uma certa conduta para a obtenção ou conservação
de uma vantagem própria.

• Exemplo: A vende um terreno, de que é proprietário, a B.

o Artigo 408º/1: a propriedade transmite-se, por mero efeito do
contrato, para a esfera jurídica do B. B não precisa do registo para
ser proprietário, mas se não houver registo, pode perder a
propriedade pela existência de um terceiro com uma situação
jurídica incompatível.

o Registo à forma de dar publicidade ao direito.

§ É uma forma de publicidade provocada. É estruturado em
função dos imóveis. O pedido de registo constitui um ónus.

§ Em direitos reais, pode-se prescindir do registo, e pode-se
utilizar a posse, uma forma de publicidade espontânea.

§ O registo permite, nos termos do artigo 5º/1 do Código do
Registo Predial: enquanto não houver registo, não há
oponibilidade a terceiros.


§ Terceiros (para efeitos de registo): têm de registar e tem de
adquirir o bem a título oneroso e de boa fé.
§ não é um elemento constitutivo do contrato não
dependendo a transferência da propriedade da
realização do registo, mas é um ónus em relação a

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oponibilidade a terceiros nos termos do art. 5º/1
do Código de Registo Predial
§ Neste sentido, a promoção do registo constitui um ónus
uma vez que se traduz na necessidade de adotar uma
certa conduta para obter/conservar uma vantagem
própria


No ónus não há um ato ilícito, não há sanção.


b. Dever jurídico

• Necessidade de observância de uma certa conduta, imposta pela ordem
jurídica, a uma ou diversas pessoas, para a tutela de um interesse de
outrem, e cujo cumprimento vai ser exigido através de meios coercivos
adequados.
• A força deste dever pode variar.

• Exemplo: na compra e venda de um automóvel, o comprador tem o dever
de pagar o preço e o vendedor tem o dever de entregar a coisa.

a. Dever geral ou universal
o Correspetivo de um direito absoluto

§ ex.1: respeito de propriedade alheia

§ Neste exemplo estamos perante um dever genérico de
respeito, ou seja, toda e qualquer pessoa está adstrita ao
dever não sendo necessário um vínculo jurídico para a
existência de um dever

ð Diz-se por isso um dever jurídico geral ou
universal

b. Dever especial ou particular
o Correspetivo de um direito relativo
o ex.2: comprador adstrito ao pagamento do preço
o Neste exemplo estamos perante um dever especial de respeito, ou seja,
o comprador só está adstrito a determinado comportamento porque
existe um vínculo jurídico entre ele e o vendedor
o Respeita apenas a um sujeito em relação a outro sujeito
§ Diz-se por isso que é um dever jurídico especial ou particular

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c. Dever ≠ Ónus:
• O incumprimento do dever constitui um ato ilícito enquanto o
incumprimento do ónus não (simplesmente não se obtém/conserva a
vantagem)

d. Dever ≠ Sujeição:
• O dever é violável e a sujeição não é violável
• porque não há nada que o sujeitado possa fazer para deixar de estar em
sujeição ou para impedir o exercício do direito potestativo



c. Sujeição

• É uma situação inelutável. Significa suportar na esfera jurídica as
consequências de uma determinada conduta.

• Quando uma pessoa está num estado de sujeição, não tem a possibilidade
de violar nada. A sua posição é irrelevante.

• Para o sujeito passivo não há possibilidade de impedir a realização do efeito
que o direito potestativo prossegue
o ex.: a situação do mandatário quanto ao direito do mandante de
revogar o mandato – sujeição


• Exemplo: servidão de passagem. A tem o direito de constituir uma servidão
de passagem para chegar à via pública, este tem um direito potestativo. B
está numa situação de sujeição. Não há forma de impedir a satisfação do
direito.

1.2 Em sentido estrito





• Direito das Obrigações: Direito que regula determinados deveres.
• Direitos reais: absolutos, oponíveis erga omnes.
• É um dever especial. É um vínculo específico, concreto.

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• Não é um dever geral/universal (dever de respeito), não é um ónus porque
o incumprimento de uma obrigação em sentido estrito gera ilicitude; nem
uma sujeição, porque numa obrigação em sentido estrito, pode-se violar
uma determinada situação.

Artigo 397º CC à noção de obrigação.
o Esta noção apela à noção de obrigação em sentido estrito/técnico.

Obrigação: dever de prestar + direito de crédito correspondente.

o Ou seja, a lei olha para a obrigação na sua dimensão passiva, mas também na
sua dimensão ativa, decompondo a obrigação em duas faces
§ O dever de prestar à dimensão passiva do vínculo jurídico
§ O direito de crédito à a dimensão ativa do vínculo jurídico

o O vínculo jurídico que une os dois lados (ativo – direito de crédito & passivo
– dever de prestar) é a relação obrigacional/relação de obrigação/obrigação


o Nota terminológica:
§ Estas designações podem não ser utilizadas para indicar um único
crédito e a dívida correspondente, mas no sentido de uma relação
obrigacional complexa, de onde derivam vários vínculos jurídicos
singulares
ð ex.: relação de compra e venda
§ Usa-se, em regra, o termo obrigação para referir o lado passivo do
vínculo e a expressão “direito de crédito” para aludir ao lado ativo
ð Também se pode falar em dívida passiva e dívida ativa –
ex.: art. 2089º




• Uma obrigação nasce, normalmente, pelo contrato (principal fonte das
obrigações).
o Temos 5 fontes de obrigações:
1. Contratos:
• Não têm de ser típicos.

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• Nascem da vontade.

2. Negócios jurídicos unilaterais:
• Só são fontes de obrigações os que a lei preveja (princípio a
tipicidade).
• Exemplo: promessa pública.
• Nascem da vontade.

3. Gestão de negócios:
• Alguém assume a direção de um negócio alheio, num interesse e por
conta do respetivo dono, sem ter autorização para tanto.
• A partir do momento em que se age em gestão de negócios, nascem
obrigações para o dono do negócio.
• Nascem da lei.

4. Enriquecimento sem causa:
• Uma pessoa recebe um benefício que, à luz da lei, não lhe é devido.
• Não há um ato ilícito.
o Muitas vezes utiliza-se o critério da poupança
de despesas.
• Nascem da lei.

5. Responsabilidade civil:
• Há uma violação de um direito alheio, tratada pela ordem jurídica
como sendo ilícita e culposa, e que gera um dever.
o Contratual.
o Extra-contratual.
• Efeito: dever de indemnizar.
• Nascem da lei.

• Uma obrigação pode-se extinguir pelo seu cumprimento.

2. Considerações a respeito do conceito técnico de


obrigação. Em particular o carácter relativo dos direitos
de crédito e a tese da eficácia externa das obrigações


Obrigação pode ser entendia como uma relação una/simples ou complexa:

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1) Relação uno-simples
• Quando olhamos ao art. 397º, este dá-nos uma definição de obrigação
o Mas está apenas a referir-se à relação mais simplista
§ Fala apenas de uma prestação
o Dá a entender que a cada obrigação corresponde apenas uma prestação
§ ex.: contrato de compra e venda
ð Pelo menos duas obrigações
→ Obrigação de pagar o preço
→ Obrigação de entregar a coisa
ð São duas obrigações, parece uma contradição ao artigo
ð Conceito de obrigação como associado a um dever jurídico
→ Nesta medida estamos dissociados do propósito do art.
397º
Ø Fala em vínculo jurídico
Ø Pode gerar mais do que um dever

o Por isso, a doutrina tem desenvolvido deste conceito mais simples de
obrigação (que corresponde apenas a um dever), para um conceito
mais amplo de obrigação
§ Transita de uma obrigação uno-simples, para uma relação complexa

2) Relação complexa (conceito complexo de obrigação)
• Flexível e útil para poder alargar a relação que se vai estabelecer entre
as partes para aquilo que é a chamada evidência
o Evidência na compra e venda: obrigação de entregar a coisa e a obrigação
de pagar o preço
§ Isto cabe na relação obrigacional complexa
• Virtudes da relação obrigacional complexa (prendem-se com a
possibilidade de ir para lá daquilo que são deveres primários de prestação)
o a) i) Deveres primários de prestação
o a) ii) Deveres secundários de prestação
o b) Deveres laterais
o c) Outras situações jurídicas que têm natureza diversa

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§ Ónus, direitos potestativos, sujeições, expectativas jurídicas, etc.

• Assim: relação obrigacional complexa abrange outras situações
jurídicas
o Quando se estabelece um vínculo entre duas pessoas, esse vínculo não se
vai esgotar numa só prestação
§ É um vínculo que (se for o caso) abrange mais do que uma
prestação e, por outro lado, pode abranger deveres
laterais/potestativos

o A obrigação entendida à luz do art. 397º deve ter este conteúdo mais
amplo (não deve ser apenas o dever de prestar, mas tudo aquilo que
no fundo esteja envolvido na relação que se estabeleceu entre as
partes)

• Quatro categorias fundamentais que podemos encontrar na relação
obrigacional complexa (matéria de oral):

a)Deveres de prestação
1. Deveres primários de prestação
o Núcleo dominante da relação obrigacional
o São os elementos que definem o tipo de contrato em causa
o ex.: no contrato de compra e venda, os deveres primários de prestação
são a entrega da coisa e o pagamento do preço
§ É o núcleo dominante; o que caracteriza o contracto de compra
e venda é haver uma transferência do direito de
propriedade relativamente a certa coisa, implicando o
pagamento do preço e a entrega da coisa correspondente
§ Art. 879º CC

2.Deveres secundários de prestação
Deveres secundários acessórios

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o Comportamentos que são devidos de modo a permitir o cumprimento
dos deveres primários de prestação
§ Se tenho a obrigação de entregar um jarro a um individuo que o
comprou, tenho também a obrigação de o embalar devidamente
de modo que no transporte não se parta
§ Mas o art. 879º só fala em entrega da coisa, não diz que deve estar
inteira
ð Mas seria inconcebível o legislador ter pensado
nesta hipótese


• Deveres secundários com prestação autónoma:
o são condutas que têm de ser observadas sob pena de haver um
comportamento ilícito – duas formas:

§ Sucedâneos da prestação principal
ð Vai-se substituir à prestação principal
ð É sucedânea porque é uma indeminização que vai substituir o objecto que
se perdeu em razão do facto que tornou a prestação impossível
ð ex.: indeminização que acompanha a impossibilidade da prestação
(indeminização por impossibilidade culposa)
ð Comprei um quadro que seria entregue em minha
casa passado uma semana. Houve um incêndio na
loja que destruiu o quadro
ð A coisa não foi entregue
ð Problemas jurídicos:
→ O incêndio destruiu propriedade minha, mereço
indeminização
→ Tem de se partir do princípio que o dono da loja é
responsável
→ Indeminização por impossibilidade de entregar a coisa
→ Não é apenas devolver o preço

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→ Fundamento: art. 799º/1 CC – não cumprimento de uma
obrigação
→ Art. 801º CC – o credor pode resolver o contrato, e já não
tem de pagar o preço; tem ainda o direito de receber uma
indeminização (pelo interesse contratual negativo

§ Cumuláveis com a prestação principal
ð Não surgindo para assegurar que o cumprimento é bem feito, coexiste com o
dever primário ou principal de prestação
ð A prestação ainda é possível, já não estamos perante um caso de impossibilidade
da prestação
ð ex.: indeminização por mora
Ø A prestação ainda é possível
Ø O quadro não foi entregue dia 8, mas dia 10 ainda
está no armazém inteiro
Ø A prestação vai ter de ser entregue, e ainda vai ter
de pagar uma indeminização pelo atraso
(cumulativa)

b) Deveres laterais

• Deveres que já não interessam directamente ao cumprimento da
obrigação, mas são relevantes para satisfação de todos os interesses que
estão envolvidos na relação obrigacional
o São deveres que são relevantes à exata satisfação dos interesses globais
que estão envolvidos nessa relação obrigacional em causa

• ex.: contrato de arrendamento entre A e B
o Estão bem definidos os deveres principais e secundários de prestação
o Mas se o arrendatário se aperceber que há um perigo para o objecto
arrendado ou que há um terceiro que arroga direitos sobre a coisa que
foi arrendada, ele deve comunicar ao senhorio que efectivamente essa
coisa que foi arrendada está numa situação perigosa, ou que apareceu

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alguém que diz que efectivamente é proprietário da coisa e pretende
retirar legitimidade à pessoa que arrendou o imóvel

§ Há uma relação de confiança que se estabelece entre o senhorio
e o arrendatário que justifica que o arrendatário tenha algum
cuidado para com o senhorio relativamente a coisas que, não
estando no núcleo da relação obrigacional, são importantes para o
senhorio
§ Tudo o que possa configurar informação importante para o
senhorio que o arrendatário possa conhecer configura um dever
lateral para o arrendatário
ð Se não transmitir esta informação está a incumprir um dever lateral

• Deveres laterais podem ter três origens:
o 1. Princípio da boa fé – art. 762º/2
o 2. Cláusula contratual que estabeleça deveres laterias
o 3. Disposição legal

• Há várias classificações acerca dos tipos de deveres laterais (Prof. MC diz
que acabam por se resumir em três planos):
o 1. Dever de proteção
o 2. Dever de esclarecimento
o 3. Dever de lealdade


c) Outras situações jurídicas
• Direitos potestativos, sujeições, ónus, excepções, expectativas jurídicas, etc.
• Exemplos:
o Direitos potestativos: direito de resolver ou manter o contrato
o Excepções: situações que impedem ou legitimam o não cumprimento de
deveres primários de prestação
§ Instrumentos que derivam da lei

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§ Excluem a produção do dever primário de prestação que nasça do
dever primário de prestação
§ Excepção de não cumprimento do contrato: “se não cumpres,
também não cumpro”
§ Direito de retenção: “se não me pagas a reparação do automóvel,
não te entrego o automóvel”
§ Formas de autotutela previstas no CC
o Expectativa jurídica: o credor que está em condição suspensiva




Qual o interesse prático da relação obrigacional complexa?
O que ganho em agrupar todos os deveres de prestação que nasçam do contrato
e outras realidades como os deveres laterias?

• O conceito de obrigação complexa nem nasce da lei; aliás o art. 397º
remete para uma relação obrigacional uno-simples

• A existência dos deveres laterias é fundamental para demonstrar a
importância prática da relação obrigacional complexa
o A doutrina e jurisprudência construíram figuras com base na relação
obrigacional complexa (demonstra a importância prática)
§ ex.: contrato com eficácia de proteção para terceiros
§ Há contractos que, pela sua natureza devem poder
beneficiar certos terceiros; não estamos a criar deveres de
prestação ou direitos correspondentes para o terceiro –
estamos a criar eficácia de proteção
ð Deveres laterais
ð A arrenda uma casa a B
Ø B é casado e tem dois filhos
Ø Credor é A e devedor é B (a mulher e os filhos não
são partes neste contrato)

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Ø Na relação obrigacional uno-simples a mulher
e os filhos não têm benefícios nenhuns neste
contrato (não há nenhuma dimensão que os
proteja)
→ Se houver uma extinção do contrato de
arrendamento, a mulher e os filhos não
podem invocar a sua presença para que o
contrato se mantenha (não são partes no
contrato – os deveres de prestação não
respeitam a eles)

Ø Mas, tendo em conta a relação obrigacional
complexa, há deveres laterais de proteção
→ Se cai um bocado do telhado em cima da
mulher, e o senhorio sabia do estado do
imóvel
→ A mulher vai pedir indeminização por o
senhorio não manter o imóvel em condições
→ O senhorio pode dizer que não nenhum
dever para com a mulher, alegando que esta
não é parte no contrato?
o Relação complexa:
responsabilidade contratual,
não pode
§ Relação obrigacional
extingue-se nos deveres
de prestação

o Relação uno-simples: não é
parte, só o marido, mas como
tem dano tem de recorrer à
responsabilidade
extracontratual

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Em suma:
• A obrigação deve ser vista como uma relação obrigacional complexa
o Implica considerar vários planos (deveres primários, secundários,
laterais e outras situações jurídicas)

• Do ponto de vista prático, considerar a obrigação como uma relação
obrigacional complexa a relevância está em conseguir subtrair à
responsabilidade extracontratual figuras ou situações que assim podem
caber na responsabilidade contratual
o Exemplo para dizer em oral: figura do contracto com eficácia de
protecção para terceiros
§ Os terceiros são destinatários dos deveres laterais de
protecção
§ Diferente de contrato a favor de terceiro (em que aqui o
terceiro é parte) – arts. 444º e ss

Características das obrigações
1. Relatividade
• Situações em que há interferência pelo terceiro no direito de crédito
1) Acção de um terceiro (interferência) sobre o próprio crédito
o O terceiro celebra com o devedor um contrato que é incompatível
com o próprio crédito
o ex.: A promete vender a B. O crédito de B é o direito de exigir que A lhe
venda a coisa que foi prometida vender. A, em incumprimento, vende
ao C.
o Há um terceiro que permite afetar o direito de crédito de
B, porque C vai dizer que tem um direito de propriedade
e B que tem um de crédito (inferior)
2) Acção de um terceiro (interferência) sobre o objecto de prestação à
prestação de coisa
o ex.: Empresa que faz mal uma reparação e destrói um quadro

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3) Ação de terceiro (interferência) sobre a pessoa do devedor à prestação
de facto
o ex.: HSA não quer que uma cantora dê determinado concerto numa
casa de espetáculos, mete veneno na sua bebida para a impedir



1. Doutrina clássica ou da eficácia relativa

Ø Argumentos principiológicos
Ø para o terceiro não ter de responder pela interferência

• 1º - Estrutura da obrigação é credor e devedor
o É apenas o devedor que tem de responder pela obrigação
o Terceiro não é parte na obrigação; não está vinculado

• 2º - Liberdade de constituição das obrigações
o Art. 405º CC – princípio da liberdade contratual – liberdade de
celebração
o Quando A contrata com B, já não pode contratar com C?
ð É legítimo que responda pela obrigação que
assumiu, mas há partida tem plena liberdade de
agir
ð Pode fazer os contractos que quiser, mas tem
de responder pelas obrigações que violar
ð A promete vender B, C, D, E…
Ø Promessas só geram dever de prestar e um
direito de crédito correspondente
Ø Todos são válidos
→ Por causa da liberdade de celebração
de contractos, mesmo que violem
contractos anteriores

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→ Se só cumprir a promessa com C, vai
ter de indemnizar todas as outras
pessoas

• 3º - A ausência de publicidade nos direitos de crédito, e a existência de
publicidade nos direitos reais

o O objecto dos direitos reais é uma coisa corpórea (que tem sinais
visíveis – consigo de facto provar a existência dos direitos reais)
o São a todos oponíveis
o Direitos reais

o Nos direitos de crédito não existe publicidade
o O objecto é uma prestação, uma ação do devedor
o Direito das obrigações
o Se não existe publicidade como é possível retirar
consequências da violação do crédito por parte de um
terceiro?
ð Ele vai dizer que não sabia. Não há publicidade,
presume-se que não sabe
Ø Só deve ser responsável quem sabe

• 4º - Se reconhecêssemos o elemento externo das obrigações isto teria
como efeito a liberdade negocial ser afectada, haveria um entrave à
liberdade económica, com os efeitos perversos que isso traria

o ex: A faz contracto promessa a B, mas vende a C.
o O que se passa aqui é uma incompatibilidade de direitos, do
direito do crédito de B e do direito real de C
ð Direito de propriedade do A foi transmitido para C
que vai inviabilizar a satisfação do crédito que B
tem para com o A

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Ø Só pode cumprir a promessa quem é
proprietário da coisa (C)
ð A está na utilização plena da sua liberdade
contratual, ainda que esta interfira com um
interesse alheio – o crédito de B

ð C celebra o contrato com A, acreditando não
estar a interferir com um direito alheio de B

ð A questão é que se aceitássemos a ideia de
efeito externo das obrigações, isto causaria
circunstâncias de incertezas
Ø O terceiro que se poderia defender através da
teoria da defesa dos direitos, agora esta tese
sustenta que o terceiro pode ser
responsável pela satisfação do direito de
crédito
→ Se B tiver danos pode vir a pedir a A
e solidariamente a C
ð Problema: C pode efectivamente não saber de
nada. Aceitar que é solidariamente responsável
seria um entrave, teria de pensar bastante antes de
celebrar o contrato
Ø A teoria clássica diz que isto é um entrave à
liberdade negocial
→ As pessoas teriam receio de exercer a
liberdade contratual com medo de
estar a ofender o direito ao crédito
alheio

Ø Argumentos normativos

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Ø para o terceiro não ter de responder pela violação do crédito

• 1º - Art. 406º/2 CC: Em relação a terceiros, o contracto só produz efeitos
nos casos e termos especialmente previstos na lei

o Logo, diz a doutrina clássica fora dos casos que a lei determine,
a regra é a de que a obrigação tem uma eficácia relativa

o No entanto, este argumento pode ser falacioso
ð O problema é que contracto não é a mesma coisa
que a obrigação
Ø Estamos a tentar saber se o terceiro é
responsável pela violação de um crédito
(e não um contrato).
ð O contrato é uma das fontes de obrigações (mas
não a única), isto significa que quando a lei
fala em contrato está a falar duma realidade
diversa da obrigação, a fonte.
ð Não estamos a falar do contrato, mas assim
do que nasce do contrato. Neste caso a
obrigação já existe
ð Assim, este argumento que é muitas vezes
utilizado pela doutrina clássica, é fraco e
falacioso (argumentação da doutrina do efeito
externo).
Ø É possível que senhor A e B façam
nascer em C um direito de crédito.
Este argumento corresponde a
eficácia do contrato e não da
obrigação.

• 2º - Arts. 413º e 421º CC: são normas que permitem atribuir eficácia
real a um contrato promessa ou a um pacto de preferência

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o E, que medida estas normas são utilizáveis como
argumentação favorável à doutrina clássica?
o A eficácia real é uma ferramenta que a lei dá as
partes para permitir que os direitos que nasçam do
contrato tenham uma eficácia acrescida.

o ex.: contracto promessa CV entre A e B, em que as partes
determinaram eficácia real nos termos do art. 413º
o Depois A vende ao C
o Prevalece o direito de B, a exigir que o A lhe venda o
terreno – eficácia real
ð Se não tivesse sido atribuída eficácia real,
seria C o proprietário
ð A eficácia real vai ser pública (vai estar no
registo) – portanto os terceiros vão ter
conhecimento dela
ð Assim cai o argumento da doutrina clássica a
dizer que só pode ter eficácia relativa

o A eficácia real vem permitir à obrigação o efeito externo,
ser oponível a terceiros.
o Vem permitir ao credor ir atrás da coisa. Quando foi
atribuída eficácia real a obrigação terá efeito externo,
em regra só tem efeito relativo, só tem efeito
externo quando for atribuída eficácia real

o Só quando for atribuída eficácia real é que a obrigação vai ter
eficácia externa
o Em regra, só tem eficácia relativa

o Vamos ter de distinguir três planos no debate entre eficácia
relativa e absoluta das obrigações:

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o Em bom rigor, não podemos referir apenas a eficácia
externa e relativa das obrigações – aliás, a designação
no CC (arts. 413º e 421º) é eficácia real
ð Primeiro plano à Eficácia relativa
Ø ex.: B pede indemnização a A

ð Segundo plano à Eficácia externa
Ø ex.: B além de pedir a indemnização
(obrigação) ao devedor (A) também pede
a terceiros

ð Terceiro plano à Eficácia real
Ø O credor tem direito de ir atrás da coisa.
Sem eficácia real fica na esfera jurídica de
C.

o ex.: A e B CPCV; A vende a C
ð Só a eficácia real permite B ir atrás da coisa
ð Mas se o contracto não tem eficácia real, que
efeitos tem B?

Ø Doutrina clássica: só nos casos dos arts.
413º e 421º é que há eficácia externa
→ Resposta da doutrina da eficácia
externa:
→ Não, porque a eficácia externa é
diferente da eficácia real (que é
o que diz o artigo) – estes artigos
permitem que o credor vá atrás da
coisa
o O que não significam que
não possam atribuir ao
credor o direito de, não

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podendo ir atrás da
coisa, pedir uma
indeminização ao
terceiro
§ Não são os arts.
413º e 421º que
afastam a eficácia
relativa; só afastam
a eficácia real (fora
dos casos previstos
na lei)

ð Entendimento geral da doutrina: sem
eficácia real, não posso ir atrás da coisa
Ø O terreno vai ser do C
Ø Mas o facto de não haver eficácia real,
não exclui o facto de responderem
pelos meus danos tanto o devedor como
o terceiro (eficácia externa)

→ Não haver eficácia real, não
significa que não pode haver
eficácia externa
o Assim, estamos a por em
causa a doutrina clássica
que diz que não havendo
eficácia real, tem de haver
necessariamente eficácia
relativa – porque pode
haver externa
§ Arts. 413º e 421º
não são bons
argumentos porque

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não se referem a
eficácia relativa e
eficácia externa,
falam de outra
realidade – eficácia
real

• 3º - Art. 495º/3 CC: vem indiscutivelmente consagrar a eficácia externa
das obrigações
o ex.: A mata B
§ B tem a seu cargo dois filhos menores (C e D)
§ A tem de responder por responsabilidade criminal, responde
pelo homicídio
§ Mas também responde por responsabilidade civil – art. 483º CC
– indemnizar o lesado
ð Mas o lesado morreu – para além da
indeminização pelo dano perda da vida, que
vai ser entregue aos herdeiros; C e D deixam
também de ter o sustento do pai (e são terceiros
ao dano)
Ø A indeminização vai ter de beneficiar
estes terceiros
Ø O pai tem uma obrigação civil de
alimentos para com os filhos; assim, alei
vem dizer que estes indivíduos tem o
direito de pedir uma indeminização
ao lesado pelos danos que sofreram ao
lesante (a privação de alimentos)

→ Eficácia externa das obrigações
o C e D são os credores da
obrigação de alimentos; B

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é devedor da obrigação de
alimentos
o quando o crédito é afetado,
perante o credor responde
o devedor (B); mas este
morreu
o A lei vem dizer que o
terceiro que afetou o seu
crédito vai responder
perante os credores pela
violação do seu crédito
o A tem de responder
perante C e D; tem de
indemnizar


o Em que medida esta norma é utilizada a favor da teoria
clássica?
o É um reconhecimento de que como em geral não há
efeito externo, é preciso o legislador dizê-lo para
que haja. De outra forma, o legislador não teria de o
dizer

• 4º - Art. 601 CC
o Diz que o devedor responde com todos os seus bens (não fala em
terceiros
o É um argumento frágil
ð É evidente que o credor responde.
ð Mas a norma exclui que pode haver terceiros
responsáveis pelo incumprimento da
obrigação?
→ Não. Nenhuma norma diz que é só o
devedor e mais ninguém

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ð Art. 490º CC: extrai-se que o devedor é o
responsável pelo incumprimento da
obrigação
ð mas tal não significa que não possa haver
auxiliares ou instigadores do
incumprimento da obrigação

• 5º - Arts. 794º e 830º CC
o O credor só pode ir buscar alguma coisa ao terceiro através do
património do devedor

§ Não há relação directa entre o credor e devedor
§ Contra-argumento: estes artigos têm um campo de aplicação
próprio. Não conseguimos extrair que não é possível haver uma
relação directa

• 6º - Art. 1306º CC
o Não é permitida eficácia real, se não nos casos previstos na lei
o Doutrina clássica: o direito obrigacional é diferente do
direito real (este sim oponível a terceiros)
o Contra-argumento: Eficácia real não é a mesma coisa
que eficácia externa
ð Art. 1306º veda a atribuição de eficácia real,
mas não está a dizer que vai ter eficácia
relativa, pode ter externa

• Conclusão:
o a doutrina clássica apresenta argumentos que não são totalmente
procedentes – há espaço para admissão da eficácia externa.
o Mas também não se pode dizer que há eficácia externa só porque sim
(tem de haver argumentos a favor da eficácia externa)

Eva Brás Pinho 24


Argumentos a favor da eficácia externa das obrigações:

1) A doutrina clássica está fundada numa abordagem histórica
• Antes a riqueza estava na propriedade (na terra, nos imóveis)
o Portanto era necessário proteger os imoveis
(protegendo, no fundo, os direitos reais)
o Assim, faz sentido que os direitos reais sejam absolutos
– respeitam a riqueza principal da sociedade
• Hoje, a riqueza é também em grande medida mobiliário (está no crédito),
com a mudança de mãos da riqueza, há que repensar a importância que dou
aos direitos de crédito

2) A eticização dos comportamentos jurídicos
• os comportamentos têm de ser eticamente irrepreensíveis, não podem ser
censuráveis
o Determina que uma pessoa que celebra um contracto, sabendo
que esse é incompatível com um outro anterior, deve
responder pelas consequências do seu comportamento – é
obrigado a indemnizar.

3) Art. 483º CC – estabelece o princípio geral da responsabilidade civil

• Quando se causa um dano, verificados os pressupostos, está-se obrigado a
indemnizar
• Argumento literal: aquele que com dolo ou mera culpa violar ilicitamente
os direitos de outrem tem de responder pelos danos causados (a lei não fala
em direitos reais, de personalidade, etc. – não distingue, fala em qualquer direito
subjectivo)
o A única diferença entre os direitos reais e os de crédito é que nos
segundos não há publicidade e, portanto, só posso admitir a eficácia
externa, não a eficácia real
§ Art. 798º responsabiliza o devedor

Eva Brás Pinho 25


o Arts. 483º + 490º responsabilizam o terceiro
o Problema: seria admitir que uma pessoa com negligência
inconsciente (não imaginava que estava a celebrar um crédito
alheio) celebra um contracto que é incompatível. C compra
sem saber que estava a lesar um direito alheio
o É muito nubloso deixar isto nas mãos do juiz
o Por isso, tem de haver má fé.
ð Negligência inconsciente está fora
o Argumento a favor de que a negligência
inconsciente levaria a responsabilização do
terceiro perante o credor: seria entravar a
liberdade negocial

2. Patrimonialidade
• Não é necessário que a prestação seja avaliável pecuniariamente (tenha
um valor pecuniário)
o A prestação é validamente constituída mesmo que não seja suscetível
de avaliação pecuniária
o ex.: tocas piano para eu adormecer, e eu dou-te rissóis

• A patrimonialidade refere-se não ao conteúdo, mas às consequências
da violação da obrigação
o Se a obrigação for violada, a característica da patrimonialidade
impera – não há prisão por dívidas.
o A consequência da violação da obrigação tem natureza
patrimonial – consiste no pagamento de uma indeminização
patrimonial
o O que responde pela violação de uma obrigação é o património do
devedor, não é a pessoa do devedor (não pode ir preso para resgatar
a dívida)
• Não há patrimonialidade quanto ao conteúdo da obrigação, mas há
quanto à violação da obrigação
o o que responde é o património do devedor (art. 601º CC)

Eva Brás Pinho 26



3. Autonomia
• Obrigações autónomas à vínculos que nascem sem haver a
pressuposição de direitos pré-existentes
o ex.: A contrata com B a CV de uma garrafa. Os vínculos não nascem
de uma vontade pré-existente, nascem de uma vontade que foi
manifestada no momento
o ex.: A vai a conduzir e é encadeado pelo sol, batendo no veículo de B.
Não tem culpa, mas a sua seguradora vai pagar. Não havia nenhuma
relação prévia entre as partes.

• Obrigações não autónomas
o ex.: pagar o condomínio do prédio
§ Estruturalmente é uma obrigação; mas é um dever que
nasce de uma situação jurídica anterior – ser condómino

• O direito das obrigações é suficientemente amplo para abranger obrigações
autónomas e não autónomas; as normas aplicam-se a ambas
o Então, mas como é que a autonomia é característica das
obrigações?
§ Aplica-se também às obrigações não autónomas
§ Mas, é preciso reconhecer que as obrigações não
autónomas têm especificidades de regime, que fazem com
que nem todo o regime das obrigações seja aplicável às
obrigações não autónomas
• Nessa medida, a autonomia é característica das
obrigações


Doutrina da eficácia relativa à tese clássica

Defesa da eficácia externa das obrigações à eficácia das obrigações ser oponível a
terceiros
Não haveria confiança e haveria também incompatibilidade de direitos
Eva Brás Pinho 27
Admitir a eficácia externa das obrigações diz a doutrina clássica seria uma
limitação da liberdade das pessoas devido ao medo de estarem a entrar em
crédito/direito alheio

Contrato é diferente de obrigação, o contrato é fonte de obrigações, mas as
obrigações podem ter outra fonte.



Há normas do cc que vêm mostrar que o legislador reconheceu as obrigações
apenas de forma relativa:

Argumentos da doutrina da eficácia relativa:

1º argumento normativo
• art 406 nº2 à em relação a terceiros o contrato so produz efeitos nos
casos especialmente previstos na lei
o Logo a regra seria de que nos casos normais então as obrigações
têm apenas eficácia relativa
• Mediante contrato não é possível fazer para terceiro um dever de prestar,
mas é possível fazer nascer um dever de crédito para terceiro

Art 413º e 421º à normas que permitem atribuir eficácia real a contratos
promessa ou a um pacto e preferência

• Em que medida estas normas são uteis para a defesa da doutrina clássica?
• A eficácia real é um instrumento que a lei dá as partes para permitir que os
direitos que a lei dá as partes tenha uma eficácia acrescida
o Bem móvel ou imóvel sujeito a registo + partes acordarem a
eficácia real + eficácia real estar explicita no registo
o Ex: A prometeu vender a B terreno com contrato promessa de
eficácia real; A vendeu também a C
§ Se não existisse eficácia real o direito seria de C
§ Existindo o direito é de B porque a eficácia real consta do
registo, logo, havendo publicidade, C saberia

• Critica-se este argumento tese clássica dizendo que não são estes artigos
que afastam a eficácia externa
o Apenas afastam a eficácia real sem ser naqueles casos e não da
eficácia externa
o Isto porque a eficácia real e a eficácia externa não têm os mesmos
efeitos

Ø Estes dois argumentos não são plenamente eficazes

Em bom rigor, há 3 planos:
1. Eficácia Relativa
o B ( credor) pede uma indemnização a A ( devedor
o

Eva Brás Pinho 28


2. Eficácia Externa
o B pode pedir uma indemnização a A, mas também a C por ter
colaborado com A para violar a obrigação para com B

3. Eficácia Real
o Credor vai atrás da coisa

Art 495º à assume a existência de eficácia externa das obrigações

• O lesado foi alguém que morreu, porque se trata de uma indemnização pela
morte de alguém
• logo, o efeito é entrar na esfera jurídica dos herdeirso ( terceiros) e não do
lesado que faleceu
• Se o pai tem um dever de alimentar os filhos, então se os filhos ficam sem o
pai, então os filhos podeme exigr uma indemnização a quem matou o pai
porque assim viola o seu direito de crédito
• Reconhece-se assim eficácia externa
• Este artigo é ainda assim um argumento para a tese clássica, dizendo
que se a eficácia relativa não fosse a regra, o legislador não sentiria a
necessidade de estipular esta regra especifica

Art 601º e 698º
• Teoricamente vem dizer que o devedor assume a obrigação com todo o seu
património
• Mas este argumento é frágil porque lá porque o devedor assume a
obrigação com todo o seu património, não se afasta que também se o possa
fazer com terceiros

Artigo 794º e 803º

• nã o há uma relaçã o directa entre o terceiro e o credor, este vai fazer vale o
seu cré dito pelo devedor que foi atrá s de terceiro. Eu uma relaçã o indirecta
entre credor e terceiro.

Exemplo de alguém que não pode ter a coisa mas pode ficar com o dinheiro
do seguro

Artigo 1306º

• Só estamos aqui a dizer que vedamos a eficácia real, não significa que não
possa haver eficácia externa

Ø A tese clássica utiliza a figura do abuso de direito para permitir a eficácia
externa dizendo que esta é uma exceção a eficácia relativa por serem
situações muito gravosas


Ø O Professor Henrique Sousa Antunes diverge do prof Almeida Costa e admite a
existência da eficácia
Eva Brás Pinho 29

Argumento:
• A doutrina clássica esta fundada numa abordagem histórica
• A riqueza há 100 anos atras estava na propriedade e portanto pretendia-se
proteger os imóveis, os direitos reais no fundo, devendo estes ser absolutos
• Hoje em dia a riqueza esta essencialmente o crédito, logo, a ideia de que
devemos procurar proteger mais onde está a riqueza leva-nosa perceber
que devemos proteger também outras esferas hoje em dia

Eticização dos comportamentos jurídicos à os comportamentos jurídicos
devem ser sempre éticos. Logo, se há alguém que celebra um contrato em relação a
um patrimonio que já se sabia alvo de contrato c outrem deve ser penalizado


Art. 483 º argumento normativo

• Este artigo não distingue entre os direitos subjetivos
• Exigir-se um dever de respeito
• Se eu posso ir atras da coisa quando há a violação de um direito absoluto,
porque é que posso quando há violação de um direito de crédito?
• So no podemos ir completamente atras da coisa num direito de rédito e se
pode num direito real devido há existência de publicidade nos direitos reais
• Este artigo deve casar-se com o artigo 490º
• Diz esta doutrina que a negligência inconsciente não pode servir para
responsabilidade em situação de direito de crédito



1) Patrimonialidade da obrigação

• A prestação não tem de ser suscetível de avaliação pecuniária à art 398º
nº2
• Portanto quando falamos da patrimonialidade da obrigação falamos não do
seu conteúdo mas sim as consequências que surgem no caso de existir
violação da obrigação.
o O que responde pela violação de uma prestação é o património do
devedor, não é o devedor que vai preso

2) Autonomia da obrigação

• Uma vez que existem obrigação autónomas e não autónomas, a autonomia
não é característica das obrigações

• Vínculos ( obrigações) que não pressupõem direitos pre existentes
o Ex: um acidente sem culpa ( alguém encadeado pelo sol), surge um
dever de indemnizar sem ter havido qualquer relação jurídica
anterior
• Ms também existem obrigações não autónomas

Eva Brás Pinho 30


o Mas estas obrigações têm especificidades de regime em virtude da
sua origem e dos direitos de que dependem, que fazem com que nem
todo o regime das obrigações seja aplicado às obrigações não
autónomas
o Vivendo num condomínio existir a obrigação de contribuir para as
despesas do condomínio

3. Relevância do interesse do credor como fim da obrigação.


Proteção secundária do interesse do devedor

Ø Normalmente, vamos pensar que quem deverá merecer tutela é quem tem um
dever e, portanto, seria o devedor o protegido
• Na verdade, não é assim – embora se desconheça o interesse do devedor, o
Direito das Obrigações está estruturado para prosseguir o interesse do
credor

Ø O interesse do credor é o interesse primário que o DO das prossegue
• Esta foi uma opção tomada pelo legislador, que se traduz no conjunto de
normas que permitem identificar esta ideia
• Podemos agrupar estas normas em função dos vários momentos da vida da
obrigação
1. Constituição da obrigação
o ex.: art. 398º/2 CC – patrimonialidade da obrigação
§ não é característica da obrigação, na medida em que se exija para a
obrigação de conteúdo de natureza patrimonial, pois o que diz a lei é que
a obrigação pode ser validamente constituída desde que
corresponda a um interesse do credor digno de proteção legal
o Logo, no momento da constituição da obrigação, percebemos que o
legislador vem trabalhar uma temática pensando no interesse do
credor, por isso não há uma exigência de prestação de natureza
patrimonial
§ a única coisa relevante é que essa prestação corresponda a um interesse
do credor digno de proteção legal

2. Extinção da obrigação
Eva Brás Pinho 31
o Art. 767º CC – cumprimento e não cumprimento das obrigações
§ Art. 767º/1 – retiramos desta norma que o objectivo do legislador é
satisfazer o interesse do credor (desde que o cumprimento não seja feito
pelo devedor, pode ser feito por outra pessoa)
ð O que é relevante é que o interesse do credor seja
satisfeito
§ Art. 767º/2 – mais uma evidência da prevalência do interesse do credor
ð ex.: se contracto o Toy, tenho legitimidade para recusar
o Drake que o vem substituir (lol quem é este)


Mora do devedor versus Mora do credor
Mora à atraso no cumprimento da obrigação
• É mais uma prova de que o interesse do credor prevalece, pois as
consequências da mora do credor são menos gravosas para este, do que as
consequências da mora do devedor para este
• Ou seja, o regime da mora do devedor é mais gravoso
o Isto porque o credor não tem um dever, mas sim um direito e a sanção
tem de pesar sobre o dever
2. Mora do devedor – art. 804º e ss.

• O devedor fica obrigado a pagar todos os danos que sejam consequência
do seu incumprimento
• Se o devedor não cumprir na data devida, vai ser obrigado a indemnizar o
credor pelo atraso no cumprimento da obrigação
• Art. 804º CC
• Art. 804º/1 – se houver danos, há uma norma que diz que os danos têm
de ser pagos
• Art. 804º/2 – fala de mora

• Art. 806º CC
• Art. 806º/1 – presunção: não é preciso demonstrar danos

Eva Brás Pinho 32


§ Aqui, não é necessário que haja prova de danos no credor, porque
a lei atribui automaticamente a obrigação de o devedor
indemnizar
• Art. 807º CC
• Não é só risco, é também responsabilidade

• Art. 808º CC
• Situações em que a obrigação já não faz sentido, embora ainda seja
possível (sendo que quando há perda do interesse do credor, admite-se
incumprimento da obrigação) extingue-se o devedor do credor aceitar a
coisa e pagar o preço
• ex.: vestido de casamento ser entregue quando o casamento já ocorreu
o podemos aplicar o art. 801º/2 (credor pode resolver o contrato)

• Quando temos um prazo definitivo, temos também um termo absoluto
• Responde por todos os danos
• É preciso fazer sempre uma interpretação do contrato
o ex.: a entrega deve ser feita dia 1
o Se for um prazo definitivo
a) Não entregue – incumprimento definitivo
ð Pode haver resolução
b) Entregue – não há incumprimento definitivo
ð O credor, para poder resolver, tem de transformar
a mora em incumprimento definitivo, dando-lhe
um novo prazo (peremptório)

2. Mora do credor – art. 813º e ss.
• O princípio da boa-fé aplica-se e o credor também tem que colaborar no
cumprimento da obrigação
• O credor não responde por todos os danos
• Art. 816º - o legislador vem estabelecer uma indemnização
o O credor vai indemnizar os danos sofridos pelo devedor – só
“maiores despesas”

Eva Brás Pinho 33


o Este artigo não fala de danos não patrimoniais nem de lucros
cessantes
§ É preciso interpretar o que não são “maiores despesas”
ð Não abrange danos não patrimoniais
ð Não abrange lucros cessantes
§ Não é razoável imputar estes tipos de danos ao credor

Ø Mora do devedor ≠ Mora do credor
• O regime da mora do devedor deve ser muito mais gravoso do que o
regime da mora do credor
o Porque o credor já tem consequências próprias de um atraso
• As consequências são diferentes
• Se o devedor não prestar na data devida, pode existir indemnização sobre
a forma de juros

Ø Risco nas moras – art. 796º CC (a propósito da impossibilidade não
objectiva da prestação)

Nota: art. 808º
o ex.: caso do vestido de noiva entregue depois do casamento (caso de
incumprimento definitivo)
§ O credor já não vai ter interesse e não tem de pagar o preço
§ Mais uma evidência que o interesse do credor prevalece (ideia de
risco)

1) Em caso de impossibilidade culposa:
• A culpa é do devedor
• Há uma presunção de culpa – art. 799º/1 CC
• ex.: quadro que era para ser entregue dia 1, e antes de dia 1 o quadro
arder
Em caso de impossibilidade por causa não imputável ao devedor:
• Devedor já não tem de indemnizar
• Problemas que surgem:

Eva Brás Pinho 34


o O comprador pode fazer algo em relação ao devedor? Não, pois o
devedor não teve culpa – art. 790º/1
o Mas, surge outro problema, em relação ao pagamento do preço
§ O risco acompanha o proprietário, que é o comprador
§ Mas, podemos aplicar uma norma para o salvar do risco –
art. 796º/2
ð Aplica-se para proteger o comprador e equilibrar os
interesses de ambas as partes
ð O risco só se vai transferir com o vencimento do
termo ou entrega da coisa (sem prejuízo do art.
807º)
• ex.: quadro que era para ser entregue dia 1, e antes de dia 1 o quadro ardeu,
sem culpa do devedor
o pelas razões vista acima, quem vai assumir o risco é o vendedor, que
perde o quadro e o preço

Em caso de mora (culposa ou não) do devedor:
• Aplica-se a norma do risco – art. 807º
• ex.: incêndio no dia 20, depois da prestação não ter sido realizada no dia 15,
por culpa do devedor
o Mesmo que o devedor demonstre que não teve culpa, a lei diz
que ele será na mesma culpabilizado, porque se ele tivesse
entregue o quadro a tempo, este não teria ardido
o Este prejuízo vai ser do devedor porque esta em mora, mesmo que
ele não tenha culpa

Em caso de mora do credor:´
• O credor é que tem o risco, mas só arca com o risco se a coisa não
resultar de facto imputável a dolo do devedor – art. 815º
• ex.: incêndio ocorre dia 20, e o quadro estava na galeria porque o credor
não o foi buscar no prazo acordado

Mas, poderá haver situações em que o devedor tenha o direito de cumprir?

Eva Brás Pinho 35


• Art. 762º/2
• ex.: caso do João Félix, aqui o venfique é simultaneamente devedor (dever
de o pôr a jogar) e credor
o Se não cumprir o seu dever, usamos o regime da mora do devedor –
art. 804º/1
o Pode ele exigir que o clube o ponha a jogar? Se estiver previsto um
número mínimo de jogos, sim. Se não, quid iuris?
§ Art. 807º - não é só risco, mas sim também responsabilidade
ð Clube vai ter de responder por todos os danos
causados ao credor
§ Art. 815º - está apenas risco
o Se chegarmos à conclusão que tinha o direito de jogar por força da boa-
fé:
§ Estamos numa situação de danos não patrimoniais e lucros
cessantes
§ JF é devedor, mas quem recusa a prestação é o credor
ð Se aplicarmos a mora do credor, este só tem de
indemnizar pelas “maiores despesas”, o que não inclui
os danos do caso
§ Se chegarmos à conclusão pelo art. 722º, ou pelo contrato e
que há um direito a cumprir, podemos aplicar a mora do
devedor



4. Princípios fundamentais do direito das obrigações. A boa fé.

Princípio da boa-fé – art. 816º (credor vai indemnizar os danos sofridos pelo
devedor)
• Vale quer para o credor quer para o devedor
• Boa-fé em sentido objectivo
• Nota: quando falamos de relações obrigacionais complexas, vemos que a boa-
fé surge como um dos deveres laterais de conduta

Eva Brás Pinho 36


• No nosso ordenamento jurídico:
o Art. 227º - resp. pré-contratual (norma de conduta)
o Art. 334º - abuso de direito
o Art. 239º - integração dos negócios jurídicos
o Art. 437º - resolução ou modificação do contrato por alteração das
circunstâncias (iremos estudar...)
§ Há circunstâncias que fazem com que o sujeito cumpra com o
contrato que acordou (alteração das circunstâncias), assim, a
boa-fé não impõe que essa pessoa fique vinculada ao contrato
§ Requisitos:
ð Circunstâncias em que se fundou a decisão de contratar
ð Alteração normal
ð Grave lesão para uma das partes
ð A manutenção do contratos contraria a boa-fé nos termos do
art. 437º
§ ex.: se A fizer um contrato com B, o primeiro não vai admitir que o
segundo resolva o contrato sem justificação
ð no entanto, é possível alteração das circunstâncias.
§ Se a alteração das circunstâncias ocorrer depois da mora do
devedor, o art. 438º impede que ele possa pedir a resolução
do contrato por alteração das circunstâncias

§ ex.: A compra um prédio, mas antes de pagar o mesmo
destrói-se
ð há uma impossibilidade não imputável ao devedor
ð podemos dizer que é um problema de risco (porque o risco
acompanha a propriedade) – art. 796º, e portanto, quem
compra paga
ð mas, segundo o Prof. AC o problema reside no último
requisito do art. 437º (que é o da exigência de sobre as
obrigações não estar coberta pelos riscos próprios do
contrato)

Eva Brás Pinho 37


o sabemos isto através da lei – art. 796º, o
comprador vai dizer que não quer pagar
o mas depois o art. 437º diz que não pode estar
coberta pelos riscos próprios do contrato, o
vendedor vai dizer para ele pagar – o art. 796º
diz que quando o objecto perece, o comprador
assume o risco
§ basicamente não se aplica o art. 437º,
porque é um risco próprio do contrato
definido pelo art. 796º
ð Mas, há autores que defendem que em situações muito
graves não devem ser assim
o ex.: se uma pessoa investe todas as poupanças
de vida para comprar um imóvel
o será que nestes casos devemos ser tão legalistas,
vedando a aplicação do art. 437º, pela aplicação
do art. 796º
o aqui, há quem defenda que deve haver uma
distribuição equitativa dos riscos e, portanto,
embora não haja resolução, deve haver uma
modificação no contrato no sentido do
comprador não ter de pagar tudo, mas uma
parte, porque tal comprometeria a sua
subsistência

o Art. 762º/2 – no cumprimento da obrigação, qualquer das partes
deve proceder de boa-fé
§ Boa-fé subjectiva – consciência ou convicção justificada de se
adoptar um comportamento conforme o direito
ð ex.: o instituto da posse implica que tenhamos de fazer
classificações em relação a duas situações:
o boa-fé sentido subjectivo – estamos a considerar
o art. 1260º

Eva Brás Pinho 38


§ alguém controla uma coisa, achando que
essa coisa lhe pertence, não ofendendo os
direitos ou interesses de terceiros
o má-fé
§ Boa-fé objectiva
ð Tem uma especial relevância no DO.



5. Confronto entre o direito das obrigações os outros ramos
civilísticos

O Dto das obrigações aproxima-se dos direitos que têm conteúdo patrimonial,
aproximando-se por isso dos dtos reais, direitos familiares patrimoniais.

Em bom rigor, o DO aproxima-se dos direitos que têm natureza patrimonial (e
portanto, dos direitos acima enunciados)
a. Direito das Obrigações ≠ Direito da Família
• No DF consagram-se direitos que se definem pela sua função, sendo
irrenunciáveis e intransmissíveis
b. Direito das Obrigações ≠ Direito das Sucessões
• O DO caracteriza-se pela sua estrutura (pelo facto de existir um determinado
vínculo jurídico)
• O DS caracteriza-se pela sua função (em razão dum determinado objectivo)
c. Direito das Obrigações ≠ Direitos Reais
• Obrigações que nascem em virtude da titularidade de um direito real
o ex.: alguém que viva em regime de propriedade horizontal (é
comproprietário) tem de cumprir para as despesas
§ é por ter um DR que tem uma obrigação
§ são obrigações reais – obrigações não autónomas, porque
nascem em virtude da titularidade dum DR, mas que
estruturalmente são obrigações
• Os DR podem nascer dum contrato, assim como os DO
o ex.: se A vender um quadro a B, este passa a ser proprietário do
quadro

Eva Brás Pinho 39


§ aqui, transmite-se um direito de propriedade por contrato
o ex.: se A der terreno que é proprietário, em usufruto, a B
§ aqui, constitui-se um DR por contrato
• Existem DR que se destinam a garantir o cumprimento das obrigações
o ex.: se A deve 500€ a B, pode dar um bem como garantia
§ aqui, constitui-se um direito real de garantia
§ está-se a constituir direitos reais como garantia das
obrigações
• DR que têm por objecto direitos de créditos
o DR aplicam-se a realidades corpóreas, mas há figuras de direitos reais
que se destinam a direitos de crédito (nomeadamente o usufruto)
o Art. 1463º a 1467º - usufruto que tem por objecto direitos de crédito
e não coisas corpóreas
• No entanto, são coisas distintas:
o DR
§ Absolutos e de exclusão (Prof. AC)
ð Quer dizer que são oponíveis erga omnes
§ Exercem-se sobre uma coisa corpórea
o DO
§ As obrigações podem ter eficácia externa, mas excepto alguns
casos, não terão eficácia real
ð Até têm alguma oponibilidade, mas não têm uma tão forte
como a dos DR
§ Tem por objecto uma prestação

6. Modalidades das obrigações quanto ao vínculo. As


obrigações naturais

• Noção e regime é frequentemente exigido em exames e orais


• Ver Hipotese III da sebenta prática sobre o tema das obrigações naturais

Eva Brás Pinho 40


ARTIGO 402º

(Noção)

A obrigaçã o diz-se natural, quando se funda num mero dever de ordem moral ou
social, cujo cumprimento nã o é judicialmente exigı́vel, mas corresponde a um
dever de justiça.



Obrigações naturais:

• Universo de vínculos jurídicos que no entanto não se convertem no direito
de exigir uma prestação
• Não se autorga ao credor o regime coativo do cumprimento da prestação
• 402º do CC "a obrigação diz-se natural, quando se funda num mero dever
de ordem moral ou social, cujo cumprimento não é judicialmente
exigível, mas corresponde a um dever de justiça.”

• O dever de consciência assume a natureza de dever de justiça quando não é


um mero dever social de cortesia ou uma liberalidade mas corresponde a
uma situação tão socialmente relevante que merece certa tutela do
direito, embora não se transforme em dever jurídico gerador de obrigação
civil.
• Ex: dividas prescritas
• Dividas de alimentos que não sejam obrigações civis




Requisitos positivos:
o 1. Funda-se num mero dever de ordem moral ou social
§ Compete à jurisprudência, de harmonia com as concepções
predominantes e nas circunstâncias concretas de cada situação,
averiguar primeiro, se existe um dever moral ou social...

o 2. Corresponde a um dever de justiça
§ ...De seguida, tem que averiguar se esse dever moral ou social é
tão importante que o seu cumprimento envolve um dever de
justiça

Eva Brás Pinho 41


• Quererá isto dizer que merecem alguma tutela do
Direito, por corresponderem a um dever de justiça,
ainda que excluídas de coercibilidade
§ Critério de análise e reflexão para determinar o dever de justiça
e correspondente obrigação natural – atribuir a cada um
aquilo que é seu
• Significa que o dever de consciência assume a
natureza de dever de justiça, quando corresponde a
uma situação tão socialmente relevante que merece
tutela do Direito, embora não se transforme em dever
jurídico gerador de obrigação civil, e não é apenas um
mero dever social de cortesia ou uma liberalidade
Requisito negativo:
o 3. Cumprimento não é judicialmente exigível/incoercível


Ø irreptibilidade da prestação quando se declara obrigação natural



Há um universo de vínculos jurídicos (vínculos que têm relevância para o Direito),
que, no entanto, não se convertem num direito de exigir uma prestação
• Trata-se do cumprimento ou reconhecimento voluntário, efetuado em
obediência a um dever moral e de justiça, e não com o intuito de fazer
uma liberalidade
o Importa que esse dever de consciência corresponda às
concepções sociais, que se mostre objetivamente aprovado e tido
como normal

• Nota: da obrigação natural, que não se limita a obrigações pecuniárias, mas a
qualquer tipo, ainda que não remuneratório, estão arredadas as disposições
das obrigações civis conectadas com a realização coativa da prestação – art.
404º CC

Eva Brás Pinho 42


Problema à como é que eu sei que estou perante um dever de justiça?

• No fundo é através da perceção daquilo que é a tradição, cultura e dentro desse
âmbito o que é que justificaria a existência de uma norma

o Ex acórdão 2008 hipotesse III à “Como acima se acenou o culto
dos mortos faz parte da tradição da nossa sociedade com forte
enraizamento na cultura judaico-cristã.”

• Utilizar como critério a máxima à Sum quiq tribure à atribuir a cada um
aquilo que é seu
o Embora possa não haver uma norma jurídica que atribua x
direito, a consciência jurídica geral traz uma convicção de que
aquelas pessoas têm aquilo direito e portanto que e deve cumprir
o dever de justiça


Sede geral do regime jurídico das obrigações naturais – art. 402º, art. 403º e
art. 404º CC
• No CC há várias referências a ON (expressas, indiretas ou assumidas),
contudo, há ON que não estão tipificadas
1. Apesar disso, se os requisitos do art. 402º CC estiverem preenchidos, estar-se-
á perante um ON
• Não há tipicidade de ON, e resulta assim, inadequada qualquer
enumeração limitativa dos possíveis casos de ON


“No nosso sistema jurídico há um principio de tipicidade ou atipicidade das
obrigações?” à pergunta típica de orais

• Atipicidade

Eva Brás Pinho 43


• Se não normas para reger aquelas situações e por essa razão nos orientamos
para as obrigações naturais, então é normal que não tenha necessariamente de
estar expresso na lei
• A lei estabelce os requisitos para uma obrigação natural e isso é suficiente



Ø Obrigações naturais previstas na lei:
2. Art. 304º CC – prescrição de dívidas
• Decurso do tempo (art. 303º CC – necessário invocação da prescrição)
• Deixa de haver uma obrigação civil, mas passa a haver uma obrigação
natural
o Provém de um dever de justiça

3. Art. 495º/3 CC – obrigação natural de alimentos
• Este artigo não dá uma noção de ON de alimentos, mas pressupõe a sua
existência
• O credor natural de alimentos passa a ser o credor civil de uma
indemnização, perante o lesante que matou ou provocou graves lesões
corporais ao devedor natural de alimento
• Para sabermos se há obrigação natural temos de ir ao regime do art. 403º
CC
• Prof. AC – adiciona a hipótese de uma funcionária que trabalha a vida toda
ao serviço duma família, merece dessa mesma família uma dedicação que
provém dum verdadeiro dever de justiça

4. Art. 1245º + 1246º + 1247º CC – jogo e aposta
• Podem ser fonte de obrigações naturais, mas é preciso distinguir:
o Se for ilícito – não gera obrigações nenhumas (nem civis nem
naturais)
§ex.: roleta russa
o Se for lícito autorizado – gera obrigações civis

Eva Brás Pinho 44


§Deve ocorrer quando há um jogo sobre o qual a lei se
pronuncia, mesmo que não tenha feito gerar obrigações
civis
§ex.: euromilhões
o Jogo lícito tolerado – só gera obrigações naturais
§Deve ocorrer quando há um jogo sobre o qual a lei não se
pronuncia
§ex.: jogo de cartas

5. Art. 1895º CC – dever imposto aos progenitores, de darem aos filhos
menores com eles conviventes, participação nos bens obtidos pelo trabalho
• O filho menor que produza bens com trabalho, mas através de meios ou
capitais pertencentes a estes, vê̂ esses bens a ser propriedade dos pais
• A lei diz que como houve uma contribuição dos filhos para a produção
desses bens, os filhos devem receber algo
o Essa receção é vista como um dever de justiça, mas não um dever jurídico
§Não é judicialmente exigível, não é um dever de justiça
coercível
6. Art. 632º/2 CC – dívida principal e fiança (garantia pessoal)
• Se a obrigação principal for anulada, a fiança permanece válida, como
obrigação natural
7. Art. 636º/3 CC
• Devedor principal tem para com o fiador uma obrigação natural
• Fiador tem para com o credor uma obrigação civil (fiador renuncia ao
efeito extintivo da obrigação)

Regime Jurídico das obrigações naturais:

Princípio da equiparação à art 404º

• Às ON aplica-se o regime das obrigações civis


• O art 404º remete para os arts 762º e ss

Eva Brás Pinho 45


• Mas há duas excepções:
1. Normas relativas ao cumprimento coercivo da obrigação (em geral)

• Não se pode aplicar às obrigações naturais o regime das obrigações
civis em tudo o que se relacione com a realização coativa da prestação
o Como uma das características das obrigações naturais é ser incoercível,
não se podem aplicar normas que pressupõem a realização coativa da
prestação
o Essas normas estão fora do regime das obrigações naturais
• Contudo, há uma norma dentro desta categoria, que pela sua relevância se
admite que se aplique a ON – art. 762º/2 CC
o Imposição do respeito pelo princípio da boa-fé
§ Se tal não for feito, independentemente de se tratar duma
obrigação civil ou natural, então gera-se o dever de
indemnizar

2. Normas especiais das obrigações naturais
• art. 403º CC – não repetibilidade (*)
o Consequência que pressupõe um cumprimento voluntário
§ Espontaneidade
§ Capacidade
• art. 615º/2 CC (*)
o Garantia geral das obrigações (património do devedor)
o Garantias especiais – pessoais (ex.: fiança) ou reais (ex.: hipoteca)
o ex.: impugnação pauliana (art. 610º + 615º/2 CC)
§ A é devedor no montante de 700. B é credor no montante
de 600 e C é credor no montante de 300
§ Segundo o art. 615º/2 CC tem que haver uma valoração da
obrigação civil em detrimento da obrigação natural
(considerando o credor)

• art. 847º/1/a CC

Eva Brás Pinho 46


o Extinção das obrigações além do cumprimento
o Fenómeno da compensação
o ex.: A é credor de B no montante de 100, mas B é credor de A no
montante de 80
§ qualquer devedor pode compensar o credor (têm de
ser recíprocas)
§ só pode invocar a compensação quem tenha um
crédito exigível judicialmente
§ de outra forma, estaríamos a exigir
coercibilidade a uma ON

Prof. AC – explora outros dois aspectos:
1. Reconhecimento de dívida – pode uma obrigação natural ser objecto de
uma promessa de cumprimento ou de reconhecimento duma dívida?

• Em princípio, sim. Sempre passa a existir (nunca, porém com eficácia
retroactiva) uma obrigação civil, tendo como causa a anterior obrigação
natural e pressupondo a validade desta
• Mas, o que antes de mais se exige é:

o Haja vontade clara de transformar a obrigação natural em civil
§ O devedor deve demonstrar a vontade clara de
conferir carácter coercivo à obrigação
§ Se não o fizer, na dúvida, trata-se de uma mera
confissão de dívida natural, não se convertendo esta em
dívida civil

o A natureza natural da obrigação não seja incompatível com a sua
transformação em obrigação civil
§ ex.: não é possível em relação às dívidas de jogo ou de
aposta
ð O legislador não quer fomentar esse estilo de
vida

Eva Brás Pinho 47


ð A lei nã o reputa o jogo uma forma muito honesta
de adquirir, mostrando especial empenho em que
o devedor pague através de um ato perfeitamente
livre, sem o menor constrangimento, e nã o por se
sentir obrigado
Ø Seria contrário à ratio legis admitir
que, nesse caso, se pudesse
transformar a obrigaçã o em civil

§ Já nã o se revelam incompatíveis com os motivos em que
se funda a recusa de acção, por ex., a promessa de
cumprimento ou reconhecimento de uma dı́vida prescrita,
depois de oposta com êxito a prescrição (art. 304º/2)
ð Eu que, na base deste instituto, encontram-se
especiais considerações de certeza e segurança,
em vez de uma estrita ponderação de justiça

§ Nota: a lei admite que se prometa uma prestação ou
reconheça uma dívida por declaração unilateral,
presumindo-se a existência e a validade da causa
(art.458). A promessa ou reconhecimento pode, do
mesmo modo, revestir a forma de contrato

2. Efeito de serem prestadas garantias para o cumprimento de uma
obrigação natural

• Tem apenas em vista as garantias convencionais (convencionadas entre
as partes)
o pois na verdade, afigura-se não haver aqui lugar para as que
derivam directamente da lei (ex.: art. 733º CC, art. 754º CC)

Eva Brás Pinho 48


• Uma vez que se admite a validade de um reconhecimento ou promessa de
cumprimento, também parece de admitir, em tese geral, que as obrigações
naturais possam ser asseguradas mediante fiança, penhor ou hipoteca
o contanto que essas garantias não se mostrem incompatíveis com
os motivos pelos quais a dívida é incoercível (art. 304º/2)

a. Se for o próprio devedor a dar um bem do seu património para garantia
pessoal
o é lícito e a obrigação natural transforma-se numa obrigação
civil
b. Se for um terceiro a prestar uma garantia convencional (ex.: uma fiança ou
uma garantia real)
o só haverá uma obrigação civil para com o devedor, se este tiver
consentido com a garantia
--/--
(*) As obrigações naturais são, em principio, suscetíveis de revestir, quanto ao
objeto, as mesmas modalidades das obrigações civis:

• A lei não estabelece quaisquer providências restritivas acerca da índole
da prestação em que se pode analisar a obrigação natural

o Normalmente, consistirá numa prestação de dinheiro ou de outra
coisa, embora se concebam obrigações naturais de prestação de facto

o Caso a obrigação natural tenha por objeto prestações periódicas (por
ex., a obrigação natural de alimentos – art. 495º/3 CC), a realização,
pelo devedor, de alguma ou algumas delas nã o torna as restantes
judicialmente exigíveis
§ Eu que o vínculo conserva a sua incoercibilidade originária
§ O cumprimento da obrigação natural pode ser feito pelo
próprio devedor ou por terceiro (art. 767º e ss.)

Eva Brás Pinho 49


• Admite-se que os créditos naturais sejam objeto de usufruto ou de
penhor
• ainda, que se transmitam por cessão ou sub-rogação, que se verifique
uma transmissão singular de dívida ou que se produza, em relação a eles,
uma sucessão mortis causa

• Quanto à s normas sobre o modo, o lugar e o tempo da prestação e a
imputação do cumprimento (art. 762º e ss.), bem como sobre a “mora
solvendi”, a “mora accipiendi” e toda a doutrina do incumprimento (art. 790
e ss.)

o observa-se que todas elas caem na exceção do art. 404º, pois dizem
respeito à realização coativa da prestação (exceto a boa-fé resultante
do art. 762º/2)
o Observa-se que a sua aplicação à s obrigações naturais se encontra
prejudicada, pois o devedor nã o está vinculado civilmente à prestação
e o credor nã o tem o direito de exigi-la

Art. 403º CC + art. 476º CC = irrepetibilidade da prestação


• Entre as disposições especialmente aplicáveis à s obrigações naturais avulta
o preceituado pelo art. 403º
o a não repetição do indevido é o principal efeito característico das
obrigações naturais e está indicado na lei
o se a prestação for efetuada nã o pode ser repetida, isto é , se o devedor
natural executa a prestação não pode depois repeti-la

• Mas, este resultado só se produzirá se estiverem preenchidos dois requisitos:
o 1. Se o devedor possuir a capacidade para efetuar o
cumprimento
§ Tem de estar a agir no âmbito da sua capacidade de gozo e de
exercício
• Caso esteja no âmbito da sua incapacidade, o
cumprimento da obrigação natural será anulável

Eva Brás Pinho 50



o 2. E se o devedor agir com liberdade e espontaneidade

§ A prestação tem de ser espontaneamente cumprida e livre
de toda e qualquer coação

§ Apenas se excetua o erro acerca da coercibilidade da
obrigação, o qual a lei declara irrelevante

• Se estiver em causa apenas um erro quanto ao
carácter coercível ou incoercível do cumprimento
da obrigação, esse erro é irrelevante e não
determina a invalidade desse cumprimento

• Para que a ON seja cumprida validamente não é
necessário que a pessoa tenha consciência que está
a cumprir um ON
• Contudo, existindo dolo, aplica-se o art. 254º,
porquanto também nesse caso desaparece o carácter
espontâneo da prestação

Art. 615º + art. 610º CC – impugnação pauliana


• Este instituto constitui um mecanismo de conservação da garantia
patrimonial do credor de modo que no momento do cumprimento da
obrigação o património esteja efectivamente lá
o Se a obrigação não for cumprida, o credor vai atacar o património do
devedor, impugnando

• ex.: A é devedor de uma dívida civil e de uma dívida natural

Eva Brás Pinho 51


o A cumpre a dívida natural, afetando o património que seria relevante
para a satisfaçã o da dı́vida civil
o Podemos retirar do art. 615º/2 que o cumprimento de obrigação
vencida não é impugnável
§ Ou seja, se A tem dı́vidas para com várias pessoas e cumpre a
dı́vida que já tinha vencido, mesmo que o património seja
afetado e já nã o consiga satisfazer integralmente o cré dito do
outro credor, esse ato de cumprimento de obrigaçã o vencida
nã o é impugná vel
• São, porém, impugnáveis:
o Cumprimento de uma obrigação ainda não exigível (que ainda não
se venceu o prazo)
o Cumprimento de uma obrigação natural

• A solução compreende-se dada a incoercibilidade do vínculo, não seria
razoável que o devedor cumprisse em prejuízo dos credores civis

o O legislador veio estabelecer uma preferência entre o credor civil e
o credor natural, em beneficio do credor civil, pois se o
cumprimento duma obrigação natural afetar o cumprimento do
crédito civil, o credor civil pode impugnar

• O art. 615º/2 diz-nos que uma obrigação natural é impugnável, mas de notar
que o é nos termos em que a lei geral admite a impugnação pauliana
o Há que aferir se os requisitos gerais de impugnabilidade do art.
610º estão preenchidos e ainda o requisito da má-fé do art. 612º

Normas relativas ao cumrpiemnto e não cumprimento de obrigações civiis não s


eaplicam as obrigações nturais por serem relativas apenas as obrigações com
coercibilidade

o Exceção a isto é o art 762º nº2 à principio da boa fé

Eva Brás Pinho 52


o Se cumprir uma obrigação natural sem ser de acordo com os
princípios da boa fé tenho o dever de indemnizar

Nota:

Efeito do reconhecimento ou promessa – Inverte o ó nus da prova, ou seja, o


credor nã o tem de provar que existe aquela dividia. No entanto, essa divida nã o
deixa de ser uma divida natural.

Portanto, nã o é que a declaraçã o unilateral no caso de jogo e aposta, seja invalida,
ela é invalida e produz um efeito, que é inverter o ó nus da prova. Ou seja, a
promessa de cumprimento ou reconhecimento de divida, tem algum valor no
â mbito das obrigaçõ es naturais, pois da mesma forma que acontece com as
obrigaçõ es civis, inverte o ó nus da prova e o credor nã o tem de provar que essa
obrigaçã o existe, mas a questã o está em saber se nas obrigaçõ es naturais ainda
tem outro efeito(que já falamos), que é o de converter aquilo que é uma obrigaçã o
natural numa civil.

Ex: Há um reconhecimento de uma divida e a prestaçã o é paga, isto significa que se
o devedor vier a tribunal, o credor va- lhe dizer que há uma promessa de
cumprimento ou reconhecimento de uma divida, que pelo menos vale como a
presunçã o da existê ncia de uma obrigaçã o natural. Portanto, ele nã o tem de provar
que houve aquela aposta, como o outro prometeu cumprir ou reconheceu a
existê ncia da divida, tem de ser ele a demonstrar que essa divida agora nã o existe.

Natureza Jurídica das obrigações naturais:

1. Prof. AC
• muito discutida se apresenta a integração do fenómeno numa categoria
técnica adequada para exprimir sinteticamente a respetiva disciplina
legal

o Nessa atividade de conceituação se traduz o problema da


caracterização jurídica das ON
o À velha noção de conceitos absolutos, com a força de “tudo ou
nada” opõe-se a ideia da relatividade dos conceitos jurídicos

2. Prof. Guilherme Moreira


• trata-se de meras situações ou relações de facto, que, no entanto,
produzem certos efeitos jurídicos, “maxime” a irrepetibilidade da
prestação efetuada pelo devedor

Eva Brás Pinho 53


o Seria algo de idêntico ao que acontece noutros casos, tais como em
matéria de posse e de casamentos anulados ou declarados nulos
o Ideia geral – antes do cumprimento, não há vínculo jurídico,
há apenas situações de facto

3. Prof. HSA
• o termo é ON, logo, presume-se que há obrigação logo antes do
cumprimento

o Argumentos
§ Princípio da equiparação
§ O vínculo jurídico da obrigação natural não é coercível

4. Prof. Carnelutti

• parte dum pressuposto análogo da orientação anterior

o Segundo esta, as ON transformar-se-iam em autênticas


obrigações jurídicas perfeitas, embora surgindo e
extinguindo-se no próprio instante do seu cumprimento
o Até essa altura, não existiria uma relação jurídica, mas um puro
quid de facto

5. Alguns outros autores justificam as ON de forma diversa

• entendem que a lei considera irrepetível o pagamento pelo simples


motivo de que briga com os bons costumes que se possa exigir a
restituição da prestação voluntariamente efetuada

6. Outra doutrina de procedência italiana (Oppo)

• as ON são vínculos extrajurídicos, designadamente certos deveres


morais ou sociais, mas com relevância no mundo do Direito

o Esta sua relevância, traduzir-se-ia no facto de poderem servir de


causa à atribuição patrimonial da prestação efetuada pelo devedor

Eva Brás Pinho 54


o Como a lei não admite enriquecimento sem causa, toda e qualquer
atribuição patrimonial deve fundar-se numa causa donandi,
solvendi ou credendi
o Ora, visto que nas ON não se verifica nenhuma destas causas,
embora o credor possa reter a prestação, segue-se que a ON
constitui uma causa autónoma de atribuições patrimoniais
válidas

7. Orientação clássica

• (construção mais adequada para traduzir as soluções legais que


decorrem do CC actual) – vê nas ON verdadeiras obrigações
jurídicas, embora imperfeitas ou de juricidade reduzida

o Há, entre o credor e o devedor naturais, um vínculo jurídico


anterior ao cumprimento e nesse vínculo se apoia a
irrepetibilidade da prestação

o No conceito de obrigações cabem, segundo esta visão, não só as


obrigações civis ou perfeitas (em que a garantia consiste na
coercibilidade do vínculo – credor pode exigir a prestação), mas
também as obrigações naturais ou imperfeitas (cuja garantia se
reconduz à possibilidade de o credor conservar o que lhe foi
entregue a título de pagamento – o credor apenas pode pretendê-
la).

Fontes das obrigações


I – Contratos
1.Aspetos gerais

Contracto (noção doutrinal) à é um acordo bilateral de vontades, em que duas


ou mais pessoas prosseguem, através do encontro de vontades, a realização de
interesses naturalmente contrapostos e divergentes

Eva Brás Pinho 55


2.Relações contratuais de facto

• Ex: quando alguém entra no metro está a indicar que quer contratar
• Antunes Varela demomina-as de Relações Contratuais abreviadas
• Situações as quais não se justifica aplicar o processo formativo clássico do
contrato
• Realidades que não se adequam ao modelo tradicional de contrato
• Temos de averiguar em face do direito português se é verdade que
precisamos de criar uma figura nova para dar acolhimento para estas
situações que não estão em total congruência com o modelo tradicional

3 Categorias essenciais de situações:

a. Tráfico massificado de bens e serviços

o surge no âmbito das novas civilizações de massas, e segundo as concepções
do tráfico jurídico, existem condutas geradoras de vínculos
obrigacionais, fora da emissão de declarações de vontade que se dirijam
à produção de tal efeito, antes derivadas de simples ofertas e aceitações de
facto
o Metro, autocarro, vending machines
o O nosso sistema jurídico resolve bem esta situação especifica através da
aceitação da figura da declaração tácita à 234º


b. Situação de contacto social

• Situações que, precedendo a celebração de negócios e mesmo que estes não
se cheguem a celebrar, emergem do contacto social
• Há um conjunto de contactos entre duas ou mais pessoas que não
chegaram a acordo quanto aos aspectos essenciais do negócio, mas não
deixa de ser um contacto com relevância jurídica

Eva Brás Pinho 56


• Aplicamos o regime da gestão de negócios

o Transporte amistoso

§ Numa situação de acidente o condutor do transporte
amistoso é responsável por danos
ð Situação considerando que não a causa do acidente
foi externo ao condutor ( ex: rodas derraparam no
gelo ou teve um problema nos travões do carro)
ð Situação de transporte gratuito apenas se pode
pedir indemnização por danos pessoais à art 504º
nº3
ð Se eu partir o meu relógio de ouro
Ø No táxi posso pedir indemnização
Ø No transporte gratuito não posso

§ Ainda assim, apesar de haver responsabilidade não há
relação contratual no sentido clássico do termo
§ Significa isto que diferente já seria a mesma situação mas
com um taxista que formalmente presta um serviço

c. Relações obrigacionais duradouras emergentes de um contrato que é
eficaz em sentido lato
o Exceções
o Isto significaria que elas nunca teriam existido, o que não faz sentido,
pois podem ter originado direitos e deveres ou situações objetivas de
confiança que têm de ser protegidas pelo Direito
o Por força da eficácia retroactiva desses vícios tudo se passaria como
se não tivesse sido celebrado – isto repugna ao Direito, pois nenhum
direito seria tutelad
o Resolvo esta situação com a figura da Responsabilidade Pré-
contratual ( art 227º)
o Aplica-se o critério do bom pai de família

Eva Brás Pinho 57





Assim, ao lado do contrato, fonte de obrigações, existiria esta figura, a qual seria
também fonte de obrigações (Haupt).
Porém a doutrina das relações contratuais de facto está longe de um consenso
unânime
• À luz da maioria da doutrina em PT, esta excitação pelas relações
contratuais de facto foi esmorecendo
• dizendo que esta figura não seria por si só necessária para resolver
problemas que não poderiam ser explicados à luz de outros institutos
(Prof. AC e AV)
• – eles reconhecem a validade do contributo para a dogmática do direito das
obrigações, mas que essas situações poderiam acomodar-se no próprio
contrato, e não ao lado
o Transação de bens e serviços massificados – o próprio CC tem
algumas regras que permitem explicar algumas das perplexidades
identificadas por Haupt:
§ Não há problema no caso dos menores, há uma regra em que
são anuláveis todos os NJ celebrados pelo menor fora da
sua capacidade de exercício, excetuando-se os assuntos de
vida corrente, o que inclui essas situações de apanhar o metro

§ Onde está a aceitação da proposta?

§ Quando me sento na paragem de autocarro estou à espera de
contratar ou de me dirigirem um convite a contratar? O
próprio CC contem regras que admitem celebração de
contratos sem que haja o esquema clássico de proposta
com aceitação
• Art. 234º CC – formação do NJ (há dadas
circunstâncias em que a proposta se considera aceite
ainda que nã o haja uma verdadeira proposta de

Eva Brás Pinho 58


aceitaçã o – quando há uma vontade inequívoca de
adesão)
§ E quanto ao conteúdo? Quem negociou?
§ Vulgar e comum contrato de adesão – dado destinatário pode
aderir ou rejeitar, nã o havendo espaço para qualquer tipo de
negociação
• pode ser celebrado ou nã o

§ Assim, AV e AC entende que não é necessário recorrer a
esta figura porque dentro do próprio paradigma do
contrato pode ser claramente explicado

o Situações que, precedendo a celebração de negócios e mesmo que
estes não se cheguem a celebrar, emergem do contacto social =
contratos prévios que o precedem e que justificam uma proteção
mínima quer da pessoa quer do património – teremos de
recorrer à figura de figura contratual de facto?

§ A resposta encontra-se na figura da culpa in contraindo –
uma das figuras mais relevantes que a boa-fé assume
• Impõe o dever de indemnizar quando nesses
contactos prévios alguém causa dano quer a pessoa ou
património dessa possível contraparte

o Relações obrigacionais duradouras que sofrem de alguma
ineficácia em sentido estrito
§ Se é verdade que a nulidade e a anulabilidade tem eficácia
retroactiva, muitas vezes pode-se salvaguardar dado tipo
de deveres que não são afetados por essa declaração

• Esta figura das relações contratuais de facto, destina-se a dar um
enquadramento a situações que, não encaixando classicamente nos

Eva Brás Pinho 59


quadros do contracto, deveriam ainda produzir alguns efeitos e ser de
alguma forma tuteladas

• Por isso, vamos descobrir situações à margem dos contratos, mas que
não precisamos da figura das relações contratuais de facto para
produzir efeitos
o (ex.: resp. pré-contratual, transporte amistoso, vigilância de
bagagem, etc.)
o & outras situações que, não cabendo dentro dos contratos no sentido
clássico, cabem ainda no sentido do contrato amplo (ex.: transporte
coletivo, parque de estacionamento, etc.)

• Logo, será que a figura contratual de facto é mesmo necessária para dar
resposta a todos estes problemas que resultam do trafico massificado de
bens e serviços, contacto social, ou de relações obrigacionais duradouras
emergentes de contratos ineficazes?
o Em termos gerais, a resposta é negativa (Prof. HSA) – não é
necessária a figura
§ Obviamente que depende do caso concreto.


3.Princípios fundamentais do regime dos contratos
Quais são os princípios fundamentais do regime dos contratos e desenvolvimento à
pergunta típica de orais

Há 4 princípios fundamentais do regime dos contractos:
1. princípio da liberdade contratual
2. princípio do consensualismo
3. princípio da boa-fé
4. princípio da força vinculativa.

3.1 Princípio da liberdade contratual

Eva Brás Pinho 60


A principal fonte das obrigações são os contractos, e a primeira norma trata deste
princípio – art. 405º CC
• É subjacente a este artigo a existência da liberdade contratual – “mãe”
• Podemos ter dois subprincípios:
o 3.1.1. Liberdade de celebração de contratos – “filha”
o 3.1.2. Liberdade de fixação do conteúdo dos contratos – “neta”

3.1.1 Liberdade de celebração dos contratos

ARTIGO 405

(Liberdade contratual)

Dentro dos limites da lei, as partes tê m a faculdade de fixar livremente o conteú do
dos contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste có digo ou incluir
nestes as claú sulas que lhes aprouver.

2. As partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras de dois ou mais


negó cios, total ou parcialmente regulados na lei.

• Com uma dimensão positiva e também negativa


o Positiva
§ sou livre de querer contratar e ninguém me pode impedir.


o Negativa à tenho o direito a não contratar e não posso ser punido
por isso

• Há contudo exceções a este princípio na sua vertente negativa

o Prof. JT discorda que seja uma excepção – é uma situação em que
alguém por acordo com outrem assume o dever de celebrar um
contrato (ainda é uma afirmação da liberdade)

a. Autolimitações
o Vontade do próprio
o A pessoa autolimitou essa dimensão da liberdade de celebrar, auto
obrigando-se a contratar

o Contrato-promessa
§ Art 410º e segs
Eva Brás Pinho 61
§ Porque eu dei o meu acordo de que ia celebrar aquele
contrato
§ Estou no fundo a autolimitar a minha liberdade por me
autovincular
§ A pesssoa obriga-se a celebrar um contrato futuro

o Pacto de preferência
§ Art 414º
§ Esta limitação ainda assim em 2 condições:
ð Se a Constança desse 1000€ ao professor para
comprar o carro dele e o vicente não quisesse igualar
ð O professor pode nunca querer celebrar o contrto de
compra a venda do automóvel e portanto mesmo que
o vicente tenha preferência pode nunca vir a vender
o carro
ð


b. Heterolimitações

o A principal fonte das heterolimitações é a lei
o Limitações de razão alheia à vontade das partes
o Limitações provenientes de normas legais ou do princípio dos bons
costumes
o situações em que o dever jurídico de contratar deriva de dispositivo
especial da lei – são situações em que o dever de contratar não
resulta de uma qualquer vinculação das partes nesse sentido



o À vertente negativa:
§ Causa externas ao próprio
§ Principio da igualdade
§ Principio da não descriminação
§ Sempre que a recusa de contratar se mostre contrária aos
deveres funcionais
ð Ex: advogados oficiosos, médicos
§ Estabelecimento de bens que necessidade essencial pública
§ Seguro do carro é obrigatório

o À vertente positiva:
1. É proibido emprestar dinheiro a alguém numa sala de jogo
2. 2192º + 2198º

Eva Brás Pinho 62



§ Um contrato de doação não pode ser feito com o médico que tratou
a pessoa em fim de vida ou o sacerdote que o orientou
espiritualmente porque poderia ter havido um aproveitamento do
estado da pessoa

• Quais as consequências da recusa a contratar, quando exista essa


obrigação ou dever jurídico?

o Em matéria de responsabilidade civil, o direito à reparação do prejuízo,
nos termos gerais, é inequívoco –
§ a sanção que a ordem jurídica impõe nestes casos é idêntica à que
resulta no caso em que alguém se recusa a celebrar com base
numa autolimitação
§ Recorrendo-se ao princípio de restauração in natura do
ilício e dano causado

o Tratando-se duma obrigação convencional de contratar (ex.: contrato
de promessa), existe a possibilidade de “obter sentença que produza
os efeitos da declaração negocial do faltoso” (art. 830º/1 CC)

§ Tal permite acionar o regime do art. 830º pela contraparte
o qual permite,
§ através duma ação de execução especifica, que o tribunal se
substitua ao obrigado emitindo a declaração negocial
essencial (em falta) para que se celebre o contracto entre
eles

o A doutrina tem dito que esta norma pode e deve ser aplicada a todos os
outros casos (além do contracto promessa) em que existe um dever de
contratar
§ Não precisa de ser aplicada analogicamente, mas através da
regra de que quando alguém deve indemnizar, deve

Eva Brás Pinho 63


reconstituir a situação que existiria se não tivesse havido
violação (reconstituição natural – art. 562º CC)

3.1.2 Liberdade de fixação do conteúdo dos contratos

Ø Liberdade de modelação do conteúdo contratual


Ø Significa que pertence aos contraentes, não só a seleção do tipo de negócio
melhor adequado à satisfação dos seus interesses, mas ainda preenche-lo com
o conteúdo concreto que bem entendam

a. Liberdade de seleção do tipo contratual



• Há vários contratos típicos previstos na lei
• Ex. compra e venda



b. Liberdade de estipulação

• Direcionado para os contratos atípicos ( não previstos na lei)

Posso escolher entre:

1) Contratos típicos ou nominados
2) Contratos atípicos ou inominados

2.1) atípicos puros

§ As partes não se socorrem de elementos legais ou sociais
precedentes
§ Contrato de internamento no hospital
ð Aluguer da cama + arrendamento do espaço+ serviço
alimenticio + prestação de cuidados médicos
ð Era um conjunto de vários contratos sob forma mista
ð Hoje em dia este contrato é de tal maneira comum que
dificilmente o encaramos como um negocio atípico
ð Ainda que não esteja tipificado na lei é tipificado
socialmente

Eva Brás Pinho 64


2.2) atípicos mistos
§ Contratos combinados
ð Quando uma das partes fica adstrita a duas ou mais
prestações principais correspondentes a diversos tipos de
contratos
ð E a contraparte vincula-se apenas a uma contraprestação
unitária
ð Regime da teoria da combinação

§ Múltiplos contratos combinados
§ Contratos acoplados ou de duplo tipo
ð À prestação de uma parte responde uma contraprestação de
contrato de tipo diferente
ð Ex: vendsa de uma casa mobilada
ð O locador

§ Misto em sentido estrito
ð Quando o contrato misto é utilizado como um meio ou um
instrumento para a obtenção de uma finalidade que é
diferente daquela que é própria desse contrato
ð Ex: eu vender um carro que custa 50000€ por 1000€, assim,
faço uma compra para disfarçar a minha verdadeira vontade
que é fazer uma doação
ð Regime da teoria da absorção



3.1.3 Tutela do consumidor: breve referê ncia à importâ ncia desta


tutela; [remissã o para o estudo do regime das Cláusulas
Contratuais Gerais – TGNJ]

3.2. Princípio do consensualismo

3.2.1 Contratos consensuais e contratos solenes ou formais

ARTIGO 219º

(Liberdade de forma)

A validade da declaração negocial não depende da observância de forma especial, salvo


quando a lei a exigir.

Eva Brás Pinho 65


• Permite-nos dizer que os contratos são em regra consensuais

Nota: o registo não é condição de valiade do engócio mas sim condição de


produção de efeitos do negócio. Significa que a compra e venda de um bem móvel
registável ( ex: carro) é um negócio consensual

Exemplo: Contrato de mútuo de 15000€

o Art 1143º à empréstimo deste valor só com escritura publico à


negócio solene

1ª manifestação do PdC – negócios consensuais versus contractos


solenes/formais:
Negócios consensuais/não solenes :
• a lei não impõe nenhum modo específico de forma
(comunicação/exteriorização da declaração negocial) – basta o acordo de
vontades
• É a regra geral – princípio da liberdade de forma/consensualista – art.
219º CC
o A validade do negócio só depende da observância de forma legal
específica quando a lei o exija, sendo nos demais casos as partes
livres de adoptar a forma que entendam

o Não está sujeito a uma forma especial, basta o mero
acordo/consenso

• Estes negócios definem-se por exclusão de partes, mas podemos usar uma
formulação positiva
o São aqueles que (não dependendo de forma legal especial) valem
pela simples manifestação da vontade das partes

Negócios formais/solenes – a lei impõe um determinado modo específico de forma
(comunicação/exteriorização da declaração negocial)
• É a excepção – forma legal especial – art. 221º CC
o Está sujeito a uma forma especial imposta pela lei, sob pena de cair
em nulidade (art. 220º CC)
§ A forma específica é condição de validade destes negócios

Eva Brás Pinho 66


o Em geral, traduz-se na redução do negócio a forma escrita
§ A forma (escrita) mais solene no ordenamento PT é a escritura
pública
• Tem carácter excepcional
§ A lei admite como forma alternativa o documento particular
autenticado
§ E ainda, na falta de disposição legal, a forma legal escrita pode
consistir em escrito particular

2ª manifestação do PdC – negócios consensuais versus contractos reais quoad
constitutionem
Está em causa um critério que assenta no modo de celebração do negócio.

• Dá azo a problemas de regime


• No fundo, é saber se a lei exige uma determinada forma ou não
Negócios não reais/consensuais – este negócio basta-se com a simples emissão
de declarações negociais
• É a regra geral
• É duplamente consensual:
o Quanto aos efeitos
§ Basta a emissão das declarações de vontade (ex.: de vender, de
comprar, etc.)
o Quanto à forma
§ Há liberdade de forma
Nota: Não confundir com negócios consensuais previamente vistos
o Comum a ambos: basta o acordo
§ Prévio: basta o acordo, não é preciso nenhuma forma especial
para o acordo
§ Aqui: basta o acordo, para que se produzam efeitos

Negócios reais (quoad constitutionem) – aquele cuja perfeição depende, além da
declaração, da tradição (traditio) da coisa que tem por objecto

Eva Brás Pinho 67


• Caracterizam-se pela circunstância da sua perfeição depender, para além de
uma manifestação de vontade (formal ou não), da prática de um acto de
entrega da coisa que têm por objecto
• Não basta a declaração inicial, mas exige uma formalidade, que normalmente
é a entrega da coisa
o Sem ela, não se constitui validamente
• Há alguns negócios que para a sua celebração ser perfeita, a lei exige a
entrega da coisa
o Aqui não se trata dum efeito (ex.: como seria num contrato de compra
e venda), mas sim duma exigência do processo de formação do
negócio (é um elemento da estrutura do acto)
§ Em nenhum dos tipos de contractos classificados como reais
quoad constitutionem, existe obrigação de entregar a coisa,
uma vez que o contracto só se torna perfeito com essa entrega
• Depósito
• Mútuo
• Comodato
• Penhor
• Doação
• Parceria pecuária

• Estas formas previstas de negócios reais quoad constitutionem advêm do
Direito Romano. Contudo, uma parte da doutrina entende que os
contratos reais, assim perspetivados traduzem uma sobrevivência
romanista obsoleta, atentatória ao princípio do consensualismo, que só a
força da tradição vem mantendo na generalidade das legislações
modernas – será que faz sentido hoje em dia estas tradições jurídicas?

o Prof. AV e AC – a resposta não tem carácter genérico, é preciso
ver se a entrega da coisa desempenha ou não alguma função
social e juridicamente relevante
§ Em três casos não há qualquer relevância:
• Depósito (art. 1185º CC)
• Mútuo (art. 1142º CC)
• Comodato (art. 1129º CC)

Eva Brás Pinho 68



§ Em outros três casos há relevância:
• Penhor (art. 666º CC)
o a) Garantia de terceiros no comércio jurídico
o b) Tipicidade dos direitos reais
o c) Dimensão de publicidade
• Doação de coisa móvel não reduzida a escrito
(art. 947º/2 CC)
o A lei estabelece duas alternativa de forma
(normas sobre forma são imperativas):
§ Por escrito
• O negócio é perfeito apenas
com as declarações, desde que
estas sejam feitas por escrito
• Neste caso, não é um negócio
real quoad constitutionem
o A entrega da coisa é
apenas um efeito, mas
não um elemento
constitutivo do negócio
§ Oral, mas com entrega da coisa
• Nesta modalidade, a doação já
aparece como negócio real
quoad constitutionem
• Para que o negócio seja
perfeito é necessário: que a
declaração seja feita
oralmente + a entrega da coisa
o Como há duas hipóteses possíveis de o fazer,
pode-se optar pela que se quiser, logo não faz
sentido que esta garantia não exista

• Parceria pecuária (art. 1121º CC)

Eva Brás Pinho 69


o Duas pessoas, uma delas tem um conjunto
de animais que entregue à outra, para que
esta os guarde e administre
o Não faz sentido que possa ser celebrado sem
entrega – a própria entrega é condição
necessária para a execução do negócio
§ Pelo que, sem a traditio o contrato
não tem qualquer utilidade
§ Não é um contrato estático (como o
depósito), mas sim dinâmico

3.2.2 Contratos com eficácia real. A cláusula de reserva de


propriedade

ARTIGO 409º

(Reserva da propriedade)

1. Nos contratos de alienaçã o é lı́cito ao alienante reservar para si a


propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigaçõ es da
outra parte ou até à verificaçã o de qualquer outro evento.

2. Tratando-se de coisa imó vel, ou de coisa mó vel sujeita a registo, só a
clá usula constante do registo é oponı́vel a terceiros.


o Divergência doutrinária quanto a esta questão

o Prof. Antunes varela e Menezes leitão à doutrina maioritária


§ Se nos bens não registáveis não há forma de dar publicidade à
clausula de propriedade, então temos de tutelar o credor
§ Situação em que o A, credor, tem clausula, e o B, devedor que não
pagou as prestações vendeu a coisa a um terceiro

Eva Brás Pinho 70


§ Ainda que o terceiro tenha acreditado na aparência de B ser o
titular do bem, ainda assim temos de tutelar A que não tinha como
dar publicidade ao seu bem uma vez aque este não é registável

Clausula de reserva de propriedade:

• Permite às pessoas disporem sobre a transmissão da propriedade


num contrato
• Afasta o art 886º uma vez que não há transmissão de propriedade
o permitindo a resolução do contrato

Divergência doutrinária quanto ao nº2 ...


Ø No sistema brasileiro não vigora o principio do consensualismo, para a
perfeição do contrato exige-se sempre a entrega da coisa

3ª manifestação do PdC – negócios reais quoad effectum


Art. 408º CC – regra geral, a transferência de propriedade dá-se por mero
acordo de vontades
• Nota: isto é quanto a coisa determinada, porque se se tratar de coisa futura
(art. 211º CC) ou indeterminada, a constituição ou transferência do direito
real só se verifica quando a coisa futura seja adquirida pelo alienante ou a
coisa indeterminada se torne determinada com o conhecimento de ambas as
partes

Contractos simultaneamente reais quoad constitutionem e quoad effectum:
• Doação de coisa móvel não reduzida a escrito
• Mútuo – quando transfiro dinheiro, transfere-se para o mutuário, produz
efeitos jurídico reais
• Penhor – permite criar um direito real de garantia
Contractos real quoad constitutionem, mas não real quoad effectum:

• Depósito – efeitos meramente obrigacionais


Eva Brás Pinho 71


Ø Problema do risco da perda ou da danificação da coisa (em consequência de
caso fortuito ou de força maior):

• Se a transmissão da propriedade é imediata, esse risco passa a correr
por conta do adquirente (comprador), antes mesmo dessa entrega
• Trata-se do princípio res suo domino perit – art. 796º/1 CC

o O risco transfere-se com a propriedade
o Excepções em que o risco corre por conta do alienante
(vendedor):
§ Art. 796º/2 CC – situação de o vendedor conservar a coisa por
motivo que é do seu próprio interesse, o risco transfere-se com
o vencimento do termo ou entrega da coisa – prazo a favor do
vendedor (executa-se o regime de mora)
§ Art. 796º/3 CC – se o contrato estiver dependente de condição
resolutiva e a coisa não haja sido entregue ao adquirente,
assim como na pendência da condição suspensiva
o Compreende-se a razoabilidade da lei, que aliás, contempla apenas o
aspecto do risco, sem que abra verdadeiras excepções ao princípio
consensualista

Se é regra que no nosso ordenamento jurídico, por mero acordo de vontades se dá a
transferência de propriedade, também é verdade que nem sempre assim acontece

• para evitar isto pode-se estabelecer uma cláusula de reserva de
propriedade – art. 409º CC
• Art. 408º CC é supletivo – podem as partes decidir que a transferência
de propriedade não se dá com o mero efeito do contrato

• Há duas situações em que é comum esta cláusula, pois o vendedor tem
medo que o comprador não pague:
o 1. Venda a prestação – o preço é pago durante um determinado
período de tempo estipulado pelas partes

Eva Brás Pinho 72



o 2. Venda com espera de preço – o preço é pago integralmente num
momento posterior à celebração do contrato


• Noutros ordenamentos, a transmissão da propriedade só se dá em momento
subsequente à celebração do contrato, nomeadamente no momento do
registo
o Isto é positivo para a proteção de terceiros e do comércio jurídico
§ Sabem que o que está no registo corresponde à realidade, pois
a transmissão da propriedade só se dá com o registo
• Assim, o princípio consensualista através do qual a
propriedade se transmite no momento da celebração
do contrato talvez não seja o melhor

• Porque é que a cláusula de reserva de propriedade é importante para o
vendedor, se pode resolver o contrato por incumprimento?
o art. 886º CC (norma impeditiva)
o Esta norma afasta o direito de resolução do contrato,
o pois se a propriedade já foi transmitida à não há direito à
resolução
§ Este artigo protege o devedor, por já não ser um mero devedor,
mas sim um proprietário e possuidor da coisa
§ Como tal, o credor não pode reagir com a resolução
o Requisitos cumulativos de aplicação desta norma impeditiva –
art. 886º CC
§ Transmissão de propriedade da coisa + Que a entrega
tenha sido efetuada

Como é que a cláusula de reserva de propriedade afasta a aplicação deste
artigo?
• Porque a propriedade não foi transmitida, logo o art. 886º CC não se
aplica e, portanto, pode haver resolução do contracto

Eva Brás Pinho 73


• Art. 801º/2 CC
o Só é possível resolver o contrato:
§ Por impossibilidade
§ Por incumprimento definitivo
o Logo, com um simples atraso (mora – art. 804º CC) não posso
resolver o contracto
§ Nota: nos casos de mora, presume-se sempre a culpa do
devedor
o Porém, há duas formas de transformar a mora em incumprimento
definitivo – art. 808º CC
§ Se não há por definição perda do interesse do credor
• Ele pode fixar um prazo adicional para o devedor
cumprir
o O credor faz uma interpelação admonitória ao
devedor, fixando um prazo
• Se ele não cumprir dentro desse prazo, transforma-
se a mora em incumprimento definitivo (determina
de forma peremptória que a partir daquele prazo já não
é possível cumprir)

§ Se o credor perdeu objetivamente o interesse na
prestação
• Tem-se mora como incumprimento definitivo desde
logo, podendo resolver o contracto
• ex.: vestido de noiva
• Se estivermos perante uma situação protegida pelo art. 886º CC, mesmo
que haja transformação da mora em incumprimento definitivo, não pode
haver resolução do contrato

Regime de venda com espera de preço:

Eva Brás Pinho 74


• Basta apenas que se afaste o art 886º, com o estabelecimento de uma cláusula
de reserva de propriedade e se transforme a mora em incumprimento
definitivo

• Contrato em que o preço só é pago depois da celebração do contrato:
a. Prestação única
b. Venda a prestações

Regime de venda a prestação


• Norma impeditiva especificamente prevista para a venda a prestação
• Protege mais o adquirente, pois mesmo que o art. 886º CC não se aplique, há
mais uma norma impeditiva da resolução – art. 934º CC
o Na venda a prestação, não basta afastar o art. 886º e transformar
a mora em incumprimento definitivo, para o vendedor poder
resolver o contrato

o É necessário que o art. 934º também não se aplique
§ Só partimos para avaliar a aplicabilidade do art. 934º, se o art.
886º não se aplicar (é um segundo passo apenas, se
necessário)
• A diferença entre as normas impeditivas é que o art.
934º CC aplica-se após o art. 886º CC, pois este segundo
não compreende a existência duma cláusula de reserva
de propriedade
o Estas normas impeditivas complementam-se e
aplicam-se sucessivamente em momentos
diferentes (um a seguir ao outro)
• Requisitos cumulativos desta segunda norma impeditiva – art. 934º CC
o Venda a prestação
o Com cláusula de reserva de propriedade
o Entrega da coisa efetuada ao comprador
o Incumprimento de uma única prestação que não exceda 1/8 do preço
§ Se houver o não pagamento de mais do que uma prestação,
mesmo que sejam de valor inferior a 1/8, a norma não se aplica

Eva Brás Pinho 75



• O art. 934º CC não impede apenas a resolução, impede adicionalmente
o efeito da última faculdade de direitos do credor na manutenção do
contracto em caso de incumprimento (exigência do pagamento
antecipado das restantes prestações por perda do benefício do prazo do
devedor – art. 781º CC)

Resumo:
No caso de incumprimento da venda a prestação, o credor tem dois direitos, com as
respetivas faculdades:
• 1. Manutenção – três faculdades:

o a) Direito a exigir a prestação em falta – art. 817º CC

§ É uma faculdade que deriva do princípio da realização
coativa da prestação
§ Se o devedor não cumprir voluntariamente a prestação, o
credor pode judicialmente obter o cumprimento da
prestação em falta
• Passa-se para a fase executiva, sendo o crédito
imediatamente satisfeito através do património do
devedor
o b) Direito a juros de mora – art. 804º + 806º CC

§ O credor vai receber mais do que a prestação em falta (esse
seria o mínimo que o devedor deveria ter cumprido
voluntariamente), de modo a que o devedor repare os danos
causados devido à mora (art. 804º CC)
§ Portanto, o devedor tem de pagar a prestação em falta + o
montante monetário correspondente a uma
indeminização devido à mora
• O art. 806º CC tutela o interesse do credor, não lhe
sendo exigido que demonstre os danos

Eva Brás Pinho 76



o c) Exigência do pagamento antecipado das restantes prestações
por perda do benefício do prazo (do devedor) – art. 781º CC
§ Forma acessória de tutelar o interesse do devedor, pois o prazo
do cumprimento existe em favor do devedor – favor debitoris
§ Porém, se o devedor não for digno desse benefício pode perdê-
lo, podendo o credor pedir pagamento antecipado das
restantes prestações
• Art. 780º CC – quando o devedor fica insolvente
• Art. 781º CC – quando o devedor não paga uma
prestação
§ Mas, art. 934º CC pode bloquear esta faculdade...
• É uma norma impeditiva da exigência antecipada das
restantes prestações por perda do benefício do prazo
o Haja, ou não, cláusula de reserva de
propriedade, não haverá perda do benefício do
prazo (para o devedor) se estiverem verificadas
todas as condições desta norma
o Logo, a contrario, se estiverem verificadas todas
as condições desta norma, o credor perde esta
última faculdade (da exigência do pagamento
antecipado das prestações)
§ Divergência doutrinária – este art. 781º CC implica
vencimento automático ou exigibilidade antecipada?
• Prof. HSA – exigibilidade antecipada.

• 2. Resolução (segundo caminho abstratamente possível) – duas
faculdades
o Temos antes de mais que ver se não há normas legais
impeditivas que derrogam a regra geral:
§ Art. 886º CC (quando não há cláusula de reserva de
propriedade)
• Ver requisitos.

Eva Brás Pinho 77


§ Art. 934º CC (quando há cláusula de reserva de propriedade)
• Ver requisitos.
o Pré-requisito – art. 801º/2 CC -> art. 808º CC
§ Art. 801º/2 CC
• Só é possível resolver o contrato:
o Por impossibilidade
o Por incumprimento definitivo
§ Porém, há duas formas de transformar a mora em
incumprimento definitivo – art. 808º CC
• Se não há por definição perda do interesse do credor
• Se o credor perdeu objetivamente o interesse na
prestação
o a) Desvinculação do contrato
§ O credor não tem de cumprir, e como a resolução tem efeito
retractivo, (interesse contratual negativo), coloca as partes na
situação em que estariam se não fosse celebrado
• Logo, tem o direito a restituir a prestação
o b) Direito a indeminização
§ art. 801º CC – para o Prof. AC e maioria da doutrina, a
indeminização deve ser calculada nos termos do interesse
contratual negativo (compreende tanto danos emergentes e
lucros cessantes)
o Nos casos de impossibilidade, se o credor puder optar por manter
(interesse contratual positivo, pelas três faculdades da manutenção)
ou resolver o contrato (interesse contratual negativo)
o Nota: não esquecer – art. 808º CC não torna imediata a possibilidade
de resolver o contrato – é preciso transformá-la em incumprimento
definitivo

Situação em que há falta de pagamento do preço ( art 886º) por parte do devedor,
quais as opções do credor?

Eva Brás Pinho 78


1. Manutenção do contrato
• Prestação em falta + juros de mora + possível perda do beneficio do prazo

o Prestação em falta à art 817º
§ O credor pode exigir judicialmente o pagamento da prestação em
falta

o Juros de Mora
§ 804º + 806º
§ Há mora quando o devedor não cumpre a obrigação por culpa
sua
ð Se o cumprimento não se deveu à culpa do devedor então
incorremos numa impossibilidade temporal, não gera juros
de mora
ð Contudo, em regra presume-se a culpa do devedor

o Perda do benefício do prazo
§ 781º
§ O vencimento à se o devedor não cumpre uma prestação
automaticamente já está em divida relativamente às demais
prestações
§ Definição de um prazo para o cumprimento
ð Pode o devedor cmprir antes do prazo?
ð Pode o credor exigir o cumprimento antes?

§ Procurar perceber em beneficio de quem é que o prazo foi
estipulado
ð Se o beneficio for para o devedor então me caso de
incumprimento este entra em mora
ð O beneficio pode ser para o credor
Ø Ex: o credor tem a casa em obras e so quer receber o
móvel em data x então o prazo é em seu beneficio

ð Pode também ser em beneficio dos dois
Ø Ex: mutuo oneroso
Ø O que empresta quer que o prazo dure para receber
os juros
Ø O que recebe quer ter o dinheiro disponível mais
tempo
§ Quando não se consegue precisar em beneficio de quem é que o
prazo foi estabelecido, presume-se que é em beneficio do
devedor
ð Art 779º

2. Resolução do contrato

• transformar em incumprimento definitivo
• é unilateral
• tem eficácia retroativa

Eva Brás Pinho 79


• para transformar a mora em incumprimento definitivo recorremos à norma
di art 808º
o dar um novo prazo ao devedor para cumprir e se não cumpre dá-se o
incumprimento por definitivo
• art 801º nº1 e nº2 à contrato bilateral
• quando:
a. a lei o permitir
b. convenção das partes

• Quando o credor resolve o contrato:

o Direito a exigir a restituição da coisa ou não entregar a coisa se
ainda não tivesse sido entregue
o Direito a indemnização

§ O entendimento maioritário da jurisprudência considera que a
indemnização é pelo interesse contratual negativo
§ Coloca-lo na situação em que não teria celebrado o contrato (
lucros-cessantes + gastos com a realização daquele contrato)

ARTIGO 801º

(Impossibilidade culposa)

1. Tornando-se impossı́vel a prestaçã o por causa imputá vel ao devedor, é este


responsá vel como se faltasse culposamente ao cumprimento da obrigaçã o.

2.Tendo a obrigaçã o por fonte um contrato bilateral, o credor, independentemente


do direito à indemnizaçã o, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua
prestaçã o, exigir a restituiçã o dela por inteiro.

ARTIGO 808º
(Perda do interesse do credor ou recusa do cumprimento)

1. Se o credor, em consequência da mora, perder o interesse que tinha na


prestaçã o, ou esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente for
fixado pelo credor, considera-se para todos os efeitos não cumprida a
obrigação.

• Caso de uma noiva a quem o vestido não foi entregue à data do casamento

Eva Brás Pinho 80


2. A perda do interesse na prestação é apreciada objectivamente.

• Nunca há perda de interesse do credor no dinheiro, de maneira que nunca


haverá perda de interesse nem é impossível
• Assim, o que se faz é através do estabelecimento de prazo ultimo definitivo

Ø Se for incumprimento definitivo pelo art 808º aplicamos o art 801º nº2

Normas impeditivas da resolução do contrato à Art 886º e 934º

• Se uma destas se aplica então o credor não pode resolver o contrato e fica
limitado à manutenção do contrato
• Nunca perde contudo o direito à prestação em falta e os juros de mora
• Poder contudo perder o beneficio do prazo como se verifica no art 934º

ARTIGO 886º
(Falta de pagamento do preço)

Transmitida a propriedade da coisa, ou o direito sobre ela, e feita a sua entrega, o


vendedor não pode, salvo convenção em contrário, resolver o contrato por falta de
pagamento do preço.

1. Caso haja transmissão da propriedade da coisa


2. Caso a entrega da coisa já tenha sido efetuada

ARTIGO 934º
(Falta de pagamento de uma prestação)

Vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade, e feita a sua entrega ao


comprador, a falta de pagamento de uma só prestação que não exceda a oitava
parte do preço não dá lugar à resolução do contrato, nem sequer, haja ou não reserva de
propriedade, importa a perda do benefício do prazo relativamente às prestações
seguintes, sem embargo de convenção em contrário.

• afasta o art 886º porque este se aplica quando existe transmissão da


propriedade, coisa que com uma clausula de reserva de propriedade não
acontece

Eva Brás Pinho 81


• Duas questões tratadas neste artigo:
1. resolução ou não do contrato
2. perda de beneficio do praz

Ø Com estes requisitos cumulativos não se pode resolver o contrato e também


não pode exigir a perda de beneficio do prazo:

1. tratar-se de uma venda a prestações

2. ter clausula de reserva de propriedade
o se não há clausula então este artigo não se aplica porque está no
âmbito do art 886º uma vez que há ao contrario de que com o
clausula, transferência da propriedade

3. A coisa tem de ter sido entregue ao comprador

4. a falta de pagamento de uma prestação que não exceda a 1/8 do valor
total
o atenção que apenas se aplica este artigo se a falta de cumprimento
for de apenas uma prestação
o mesmo que haja duas prestações em incumprimento que ainda
assim não exceda o 1/8 do total já não se aplica o artigo


Art 801º nº2 + art 808º

886º + 934º

Exercícios para sintetizar:

1.
• A vendeu a B um automóvel por 9000€ preço divido por 9 prestações mensais
iguais
• O Automóvel foi entregue de imediato ao comprador
• Que direitos tem o credor se o devedor falhar o pagamento da quinta prestação

o Temos de averiguar se o A pode resolver ou tem de manter o contrato
o Se optar pela manutenção trem direito:
§ |à prestação em falta 817º + juros de mora 804º + 806º
§ Perda de beneficio do prazo 781º
§ Contudo temos aqui uma norma impeditiva que é o art 934º

Eva Brás Pinho 82


ð Há falta de pagamento de 1 prestação
ð Há entrega da coisa
ð Não excede 1/8
ð Por isso não perde o beneficio do prazo

o Se o credor quisesse resolver:

§ Teria de recusar o cumprimento indifinitivo – 808º
§ Poderia haver perda de interesse mas nunca haveria por nunca
perder interesse do dinheiro
§ pelo principio do consensualismo 408º nº1 a propriedade
transmitiu-se por mero efeito do contrato
ð aplica-se o art 886º
ð porque há transmissão da propriedade e entrega da coisa

2. Agora imagine-se que o automóvel não foi entregue



o Neste caso nem o 886º nem o 934º se aplicam porque pressupõem a
entrega da coisa
o Logo, pode resolver o contrato
o Pode usufruir da perda de beneficio do prazo art 780º se quiser
manter o contrato

3. Houve transmissão da propriedade , entrega da coisa e divisão em 5 prestações


o Para manter o contrato :
§ Juros de mora + prestação em falta
§ pode usufruir do beneficio da perda do rpazo porque uma vez
que 1/5 ´r maior do que 1/8 não se pode aplicar o 934º
o Aplica-se o art 886º porque há transmissão da propriedade + falta de
pagamento do preço à não há resolução

4. Clausula de reserva de Propriedade + entrega da coisa + preço divido em 9


prestações
o Manutenção à prestação em falta + juros de mora
o Quanto ao beneficio à não se perde porque não excede 1/8 ( cai o
781º)
o para resolver é preciso transformar a mora em incumprimento
definitivo
§ ver se esta preenchido o 886º que não esta porque devido à
clausula não há transmissão da propriedade
§ vamos ao art 934º esta preenchido
§ aplica-se à não há lugar resolução do contrato

Eva Brás Pinho 83


o logo neste caso so teria direito à manutenção

4.3 Princípio da boa fé. A responsabilidade pré-contratual

ARTIGO 227º
(Culpa na formação dos contratos)

1. Quem negoceia com outrem para conclusã o de um contrato deve, tanto nos
preliminares como na formaçã o dele, proceder segundo as regras da boa fé , sob
pena de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte.

2. A responsabilidade prescreve nos termos do artigo 498º


• Quando falamos em boa fé falamos nos deveres laterais ou acessórios
o Dever de lealdade
o Dever de segurança
o Dever de informação

• O que é que acontece se houver violação de um destes deveres? à
Responsabilidade Pré – Contratual

Pode haver quando:

1. Haja celebração de um negócio inválido ou ineficaz


o Quando a violação dos deveres gera a invalidade ou a ineficácia

2. Rutura das negociações preparatórias inviabilizando a celebração do
contrato

3. Quando mesmo sendo o negócio celebrado validamente a violação de
destes deveres no período das negociações levaram a prejuízo para
uma das partes

• Problemas com estas formas de resp. pré-contratual:
o 1. A resp. pré-contratual cai no âmbito da resp. contratual, resp.
extracontratual ou se eventualmente justifica a aplicação de parte
dum regime de uma e parte de um regime de outra?
§ Exemplos de diferenças de regime:
• Art. 799º/1 CC – é ao lesado que incumbe provar a
culpa do autor da lesão salvo havendo presunção legal

Eva Brás Pinho 84


de culpa (na resp. extracontratual; na contractual é ao
contrário)
• Se houver pluralidade de responsáveis:
o Resp. extracontratual (art. 497º): havendo
vários responsáveis, são todos responsáveis
o Resp. contratual: não há nenhuma norma
paralela ao art. 497º. Logo, temos o regime da
conjunção
§ O lesado vai ter de demandar cada um
dos devedores – pedir a parte que a cada
um deles cabe nos danos que sofreu
• Prescrição:
o Resp. extracontratual: dois prazos a considerar
para efeitos de prescrição
§ Prazo ordinário – 20 anos
§ Prazo da extracontratual: 3 anos a contar
da data do art. 498º CC
o Resp. contratual: só existe o prazo ordinário de
20 anos
• Quando é que se reponde por resp. contratual ou resp.
extracontratual?
o Resp. extracontratual: basta a imputabilidade
(capacidade de entender e de querer) – é
presumida imputável a partir dos 7 anos
§ Já responde extracontratualmente
§ Art. 227º (incompleta)
o Resp. contratual: além da imputabilidade é
necessária capacidade de exercício
§ Adquire-se capacidade genérica de
exercício aos 18 anos
• Destes casos, alguns não são abrangidos pelo art. 227º

Eva Brás Pinho 85


o Uma pessoa não procedeu segundo a boa-fé
(critério objectivo), mas como sabemos se é
culpada?
§ Há presunção de culpa do autor da lesão
em alguns casos
o Mas se houver pluralidade de responsáveis?
§ Quem rompe as negociações são três
patrimónios diferentes. O lesado pode
demandar apenas uma pessoa, pedindo a
indeminização total pelos seus danos? Ou
vai ter de demandar as três pessoas e
receber na medida do património de
cada uma?
• O art. 227º não resolve o
problema
• Só resolve o problema da
prescrição
o Remete para o regime da
resp. extracontratual
o Devemos presumir a culpa da pessoa que
rompeu as negociações ou não? Podemos
reduzir a indemnização se houver mera culpa?
§ O art. 227º CC não resolve isto
§ Discute-se que tipo de resp. é esta
(contratual ou extracontratual)
• O que sugere que seja resp. extra-
obrigacional? [Carvalho
Fernandes]
o art. 227º/2 CC remete para
o art. 498º CC - se há aqui
remissão para o regime
extra-obrigacional deve

Eva Brás Pinho 86


querer indiciar que a sua
natureza é sobre tal
o A lógica é a de evitar
perigos (prevenção) -
como também no art. 483º
CC
• O que sugere que seja resp.
obrigacional? [Menezes Cordeiro]
o Porque o dever de
segurança, de informação,
ou de lealdade não existe
em relação a todas as
pessoas, mas sim, apenas
aos negociantes
o logo, trata-se de deveres
específicos - natureza
específica do dever
o art. 798º CC e ss.
• Terceira via [Carneiro da Fraga e
Menezes Leitão]
o Na resp. pré-contratual há
violação dum dever
específico e isso induz que
a resp. é obrigacional - de
acordo com Menezes
Cordeiro
o mas, há algo que a
distingue - aqui, há um
dever específico que não
nasce duma relação prévia
o defendem que não é
necessário haver uma

Eva Brás Pinho 87


relação prévia para haver
um dever específico
o Concordam com a
natureza do dever, mas
acham que há uma
diferença genética
o Isto é suficiente para a
impedir de ser uma resp.
obrigacional
o Não é uma nem outra –
tem de se ir buscar partes
dos dois regimes; mas
aproxima-se da
responsabilidade
contratual
§ Em suma – qual a natureza da resp. pré-contratual?
• É uma responsabilidade com fortes pontos de contacto
com a resp. contratual, mas que dela se distingue
porque não há uma obrigação assumida
o Nessa medida, o regime da resp. contratual que
poderá ser aplicado, vai sofrer algumas
restrições
o Solução do legislador: art. 498º - prescrição da
resp. extracontratual
o Presunção de culpa não é aplicável
o Regime da conjunção ou não aplicação do art.
494º são normas que valendo para a contratual,
se entendem razoáveis para a pré-contratual,
por causa do contacto prévio entre as partes
• Assim, não há uma resposta fechada para o problema
§ Esta discussão é relevante porque o regime de culpa é
completamente diferente

Eva Brás Pinho 88


• Resp. extra-obrigacional - compete ao lesado mostrar a
culpa do lesante
• Resp. obrigacional - compete ao lesante mostrar que
não tem culpa
o Ao lesado basta demonstrar que houve
incumprimento para automaticamente haver
presunção de culpa
• Terceira via - preciso olhar caso a caso
o No que diz respeito à culpa, não concordam com
a presunção de culpa do art. 799º CC (regime de
resp. obrigacional), pois dizem que vai contra a
liberdade contratual
o Também há quem diga que havendo violação
dum dever específico faz sentido que haja culpa
do lesante atendendo à natureza do dever
o Contudo, não acham que seja sempre assim,
depende da situação

Ø Aplica-se o art 227º no âmbito da rsponsabilidade pré-contratual, contudo, este


artigo precisa de ser consubstanciado numa outra forma de responsabilidade

• Apenas resolve um aspecto que é a prescriçã o, pois remete para a


prescrição extra contratual, para o artigo 498º
• Mas este argumento é fraco porque não significa que isto indique uma
direção para todas as restantes situações

Eva Brás Pinho 89


• Este trabalho de materialização do artigo reside mais no trabalho da
doutrina e da jurisprudência

Elemento histórico: Trabalhos preparató rios, o professor Vaz serra propunha que
à responsabilidade pré contratual se aplicasse o regime da responsabilidade
contratual, embora admitindo que à responsabilidade pré contratual fundada na
ruptura arbitrá ria, se aplicassem as normas do regime da responsabilidade
contratual, se elas fossem mais gravosas para o lesante.

3 opções seguidas por correntes doutrinárias diferentes quanto o regaome


aplicável nos casos de responsabilidade pré -contratual:

a. Responsabilidade extra contratual - Prof AC + HSA

• Presume-se a imputabilidade a partir dos 7 anos


• Professor AC propõe a aplicação do regime da responsabilidade
extra contratual, embora ele esteja muito tomado na aná lise que faz por
uma das situaçõ es da responsabilidade pré contratual que analisa de
forma mais aprofundada, que é a responsabilidade pré contratual pela
ruptura arbitrá ria das negociaçõ es.

• Tendo como apoio legislativo o artigo 227/2.

• Há uma graduaçã o equitativa da indemnizaçã o no caso de mera culpa à


art 494º

o Quando alguém casa um dano com base me negligência leve a entrar


em dano para com alguem
o Imagine-se alguem que sem querer parte um jarro chines de 3
milhões

Eva Brás Pinho 90


o nã o se permite isto na responsabilidade contratual, porque o credor
faz parte de uma relaçã o obrigacional, o credor espera um x, nã o
menos. Está predefinido quais sã o os direitos e deveres.

• Diferentemente da responsabilidade contratual, não presunção de culpa


resulta do 487º.

o Claro que há depois excepçõ es em que neste regime de


responsabilidade extra contratual há presunçã o de culpa, como os
artigos 491, 492/2, 493 e 503/3.

• Uma outra diferença entre o regime extra contratual e contratual é o prazo


de prescriçã o, em especial a norma especial da responsabilidade
extracontratual que prevê o prazo de 3 anos, norma que resulta do artigo
498.

b. Responsabilidade contratual :

Esta tese tem muito por base o facto do conceito de obrigaçã o ser uma relaçã o
complexa, que é preenchida por deveres primá rios, secundá rios e laterais.
Portanto, quando a obrigaçã o se alarga desta forma, é fá cil defender que na
responsabilidade contratual embora nã o haja deveres primá rios de prestaçã o,
possa haver já uma relaçã o obrigacional, portanto defender-se a aplicaçã o do
regime da responsabilidade contratual. Se aplicarmos a responsabilidade
contratual presume-se a culpa, como resulta do artigo 799/1. Quando falamos de
rotura de negociaçõ es falamos da liberdade de celebraçã o e de nã o celebraçã o. Se
essa liberdade está a ser exercida de forma censurá vel ou nã o, é outra questã o,
mas está a agir no â mbito da sua liberdade, logo nã o se deverá presumir culpada.
Claro que se deve demonstrar que no caso concreto ele deve responder pelos
danos que causou, mas nã o faria sentido presumir a sua culpa.

O professor não concordo com o regime do dolo tolerado


Eva Brás Pinho 91
c. Terceira via – Prof. Menezes Leitão

• é uma responsabilidade que está muito dependente das


circunstâncias do caso concreto
• pode levar à aplicaçã o de um tipo ou de outro, ou mesmo, à aplicaçã o
por defeito da responsabilidade contratual, mas com recurso a normas
da responsabilidade extra contratual – uma soluçã o mista

Gera indemnização pelo interesse contratual positivo ou negativo?

Ø Consensualmente a doutrina defende a aplica-se do interesse contratual


negativo
Ø Discute-se contudo exceções em que possa ser válida a aplicação do interesse
contratual positivo
o A exceção será quando o contrato já esteja na verdade a ser
executado ( ex: quando se começa a fazer investimentos no sentido
do contrato)
Ø Ver acórdãos 2007 e 2013 da hipotese VI

a. Interesse contratual positivo

• Colocar as partes na posiçã o em que estariam se o contracto tivesse sido


celebrado
• Dano de cumprimento
• Incluem-se danos emergentes

b. pelo interesse contratual negativo

• colocar o lesado na situaçã o em que estaria se por nã o haver confiado nã o
houvesse iniciado as negociaçõ es
• Dano de confiança.
• quer danos emergentes, quer lucros cessantes,

o segundo o professor AC – quando se pretende colocar o lesado na


situaçã o em que estaria se nã o tivesse celebrado o negocio ou sequer

Eva Brás Pinho 92


iniciado negociaçõ es, o que se quer é não só ressarcir os
prejuízos que teve em virtude de ter iniciado

o essas negociaçõ es que nã o foram levadas a bom porto, quer as


oportunidades perdidas em razã o de ter investido a sua confiança
naquele processo negocial.

Ø Agora, quer os danos emergentes, quer os lucros cessantes que têm de ser
vistos na perspectiva da finalidade de cada tipo de indemnização em
causa:

• Vamos ter danos emergentes e lucros cessantes no interesse contratual


negativo, em razã o de querer colocar o lesado na situaçã o em que ele
estaria se nã o tivesse celebrado o contracto ou iniciado negociaçõ es para a
celebraçã o daquele contrato.

• Vamos ver os danos emergentes e lucros cessantes que sofreu, em razã o do


contracto nã o ter sido cumprido, no fundo tem de ser colocado na posiçã o
em que estaria se o contracto tivesse sido cumprido.

Dever de concluir o contrato

• Quando as negociações já estão tão avançadas que seria de má fé não


concluir o contrato por violação das legitimas expectativas
• Pode argumentar-se contra que este dever de concluir o contrato não pode
existir na medida em que se está fora do âmbito obrigacional e devemos ter
em consideração o principio da livre celebração ( ou não) de contratos

Eva Brás Pinho 93


• O que se argumenta quanto a este dever é que se as aprtes já chegaram a
acordo sobre todas as cláusulas e apenas falta formalizar é como se
praticamente já existisse um verdadeiro vinculo obrigacional

• Defendendo este conceito abrimos possibilidade à indemnização de dados
por responsabilidade pré-contratual por interesse contratual positivo

A favor deste dever à Professor Carlos Ferreira de Almeida

• Segurança jurídica
• Tutela das legitimas expectativas
• Quando as partes chegaram a acordo sobre todas as cláusulasm resta
apenas formar o negócio
• O passo já era só contratar
• O não contratar justifica indemnização pelo interesse contratual
positivo

Contra este dever à Prof Henrique Sousa Antunes e Almeida Costa

• Se há acordo entre as partes sobre todas as clausulas;
• Negócio só necessita de forma que ainda não está preenchida. Se uma das
partes rompe as negociações
o Prof. CFA: resp. pré-contractual + indeminização pelo interesse
contratual positivo

o Prof. AC e HSA: resp. pré-contratual + indeminização pelo
interesse contratual negativo

§ Não há dever de concluir o contracto

• Formalização é um factor importante: ainda não está no papel. Razão
justificativa para existência de forma:
o Há um tempo de reflexão, em que podem decidir não contratar
§ Liberdade contratual
§ Permite à parte beneficiária a possibilidade de
pensar/reflectir

Eva Brás Pinho 94


o Assim, qual é a legitimidade de dizer que havendo acordo entre as
partes o negócio tem de ser concluído? Não faz sentido



• Há casos em que pode haver indemnização pelo interesse contratual
positivo
• Relevar o principio da liberdade de não contratar
• Deve relevar especialmente a questão da formalização uma vez que esta
existe precisamente para que as pessoas tenham tempo de pensar
devidamente

3.4. Princípio da força vinculativa

ARTIGO 406º

(Eficácia dos contratos)

1. O contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se ou extinguir-se


por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei.

2. Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos especialmente


previstos na lei.


1. Pontualidade
• Nº1 art 406º
• Não significa apenas ser cumprido atempadamento
• Significa ser integralmente cumprido, ponto por ponto
• Pacta sunt servanda – o contrato constitui a lei privada das partes, tem de
ser cumprido integralmente sob pena de violar o direito e interesse que o
credor tinha quando pensou executar e celebrar este contrato

Eva Brás Pinho 95


2. Estabilidade

• Só pode extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos
casos previstos na lei à irretratabilidade

• Art 406º nº1 2º parteà principio da intangibiliade
o O contrato só pode modificar-se por mutuo consentimento ou nos
casos previstos na lei

• 3 exceções a este princípio ( ver + desenvolvido + em baixo) :
c. Resolução
d. Revogação
e. Denúncia
3. Princípio da Relatividade dos Contratos

• Contracto só produz efeitos em relação a terceiros, nos casos e termos


especialmente previstos na Lei.
• 4 exceções a este princípio, sã o situaçõ es em que por força da lei, o contracto
produz efeitos relativamente a terceiros:

a) quando tiver sido atribuı́da eficá cia real a um contrato-promessa


b) quando tiver sido atribuı́da eficá cia real a um pacto de preferê ncia
c) contrato a favor de terceiro
d) contrato para pessoa a nomear.

3.4.1 Desvios ao princípio da estabilidade dos contratos



3.4.1.1 Resolução, revogação e denúncia dos contratos [remissão para

TGNJ

a. Resolução

Eva Brás Pinho 96


o ato de um dos contraentes que é destinado ou dirigido ou
destinado à dissolução do vı́nculo contratual
o Pode resultar da lei ou de convenção das partes
o Tende a colocar as partes na situação em que estariam se o
contrato não houvessem sido celebrado

o Ato de natureza unilateral com efeito retroativo
§ Ex: art 434º

o Pode fazer-se:
§ por declaração de uma parte à outra ( art 436º nº1)
§ Pode imperativamente ter de recorrer-se ao tribunal ( por
decisão)
ð Ex: para a alteração do contrato pela mudanças das
circunstâncias
§ Ou necessidade de recorrer a tribunal
ð Art 1047º
o Ex: art 801º nº1à resolução fundada na lei
o Art 432- 436º

b. Revogação
o Ocorre mediante uma declaração de acordo das partes
§ Plurilateral ou bilateral
o Destinada a dissolver o contrato com o conteúdo oposto à
primitiva declaração que deu vida ao contrato

o Opera para o futuro ( eficácia ex nunc)

o Fundamento na vontade das partes ou na lei

§ Na lei
ð ingratidão do donatário o

Eva Brás Pinho 97


ð revogação que possa ocorrer antes da aceitação do
donatário
ð casos que podem ser unilaterais mas que ainda
assim não têm eficácia retroativa

f. Denúncia

o Não é retroativa
o Aproxima-se da revogação
o É especifica dos contratos de prestações duradouras
§ Propósito de não permitir a sua continuidade
o É uma manifestação de vontade de uma das partes
o Objetivo de evitar a renovação do contrato ou a continuação

§ Esta possibilidade é aliás uma imposição de ordem pública
uma pessoa não ter de ficar amarrado a um contrato para
sempre ( 280º nº2)
ð Contudo nada na lei diz qual é o prazo para o
efetuar
ð Tem de ser avaliado de acordo com a boa fé

§ Contudo não posso denunciar sem mais, significa isto que caso
a lei não diga nada em especial, devemos denunciar segundo
os princípios da boa fé ( 762º nº2)

g. Caducidade

• ocorre sempre que se verifique um facto que gera automaticamente a
destruição do negócio jurídico
• Não pressupõe qualquer manifestação das partes de qualquer parte, está
prevista no próprio contrato ou na natureza das coisas

Eva Brás Pinho 98


3.4.1.2 Resolução ou modificação dos contratos por alteração


das circunstâncias

Ø Figura apenas válida quando o contrato ainda que celebrado, não foi
integralmente cumprido
Ø Parte teórica: quando se fala de estabilidade, não se pode deixar de falar na
figura da alteração anormal das circunstâncias em que as partes fundaram a
decisão de contratar – art. 437º a 439º CC

Ø Desde muito cedo na história do direito civil se admitiu um princípio: sempre
que dado contrato era celebrado que a ordem jurídica não poderia deixar de
atribuir a uma eventual modificação do estado das coisas existentes a data da
celebração daquele contrato, no sentido de questionar a manutenção desse
contrato
o Se a situação de facto não se mantém e se modifica, a ordem jurídica
não pode ser indiferente à alteração do status quo: esta alteração pode
fazer com que se atinja este subprincípio da estabilidade
o Esta questão ganhou vitalidade num contexto económico diferente do
atual, nomeadamente a crise económica de 2008

1. Teoria da cláusula rebus sic stantibus



• Todas as circunstâncias que sejam alteradas são tidas em conta
• Vem de tempos medievais, o que vem dizer é que quando houver uma
alteraçã o siginigicativa das circunstâ ncias que existiam ao tempo da
formaçã o do contrato, se essa alteraçã o for particularmente gravosa para
uma das partes haverá a possibilidade de resolver o contrato.

• Se após a celebração desse contrato, se a situação tiver sofrido


alteração, seja relevante ou não, o contrato pode e deve considerar se
Eva Brás Pinho 99
subpassível de resolução – permite resolver muito facilmente um
contrato

2. Teoria da imprevisão

• Acrescenta à teoria anterior que as alterações têm de ser imprevisíveis
• Vem restringir a anterior
• Tem de haver por isso uma alteração das circunstâncias imprevisível

3. Teoria da pressuposição

• Qualquer declaração de vontade negocial pode ser feita na plena convicção
de que se manterá determinado estado de coisas ao tempo existente, ou de
se haverem produzido ou virem a produzir-se certos factos que de outro
modo não se realizaria o negócio ou teria sido em termos diversos

• “ eu vi por x mas eu pressuponha que não ia haver aqui um parque da
Disney, porque nesse caso teria vendido por muito mais

• No fundo tem de ser a alteração de uma circunstância fundamental

• Essa pressuposição de aquela circunstância seria fundamental para a
outra parte tinha de ser conhecida ou cognoscível

• Exemplo:

o A e B tem um contrato de compra e venda de certo imó vel onde do outro


lado da estrada vai ser construı́do um jardim botâ nico, como a
construçã o é assunto que o publico geral sabe a outra parte conhece ou

Eva Brás Pinho 100


deveria conhecer a essencialidade dessa circunstâ ncia para a outra
parte. Ou seja, para a Teoria da Pressuposiçã o este contrato seria
modificá vel. Esta teoria ainda admite por isso uma grande abertura de
desvio ao Princı́pio da Estabilidade Contratual.




4. Teoria da base do negócio

• Exactamente por a teoria da pressuposiçã o derrogar tã o facilmente o


Princı́pio da Estabilidade Contratual se criou a Teoria da Base Negocial.
• Alé m do conhecimento ou cognoscibilidade que aqui sã o també m requisito,
acrescenta-se a imposição da boa fé.
• No fundo a ideia é a e que a boa fé podia impor a aceitação daquela
circunstância
• No fundo o que esta teoria acrescenta à teoria da pressuposiçã o é a
aceitaçã o hipoté tica, isto é , mete-se em questã o se a parte expressasse que
aquela circunstancia era uma condiçã o a outra parte aceitava ou entã o se a
boa fé impuser que a outra parte aceite apesar de a condição não ter
sido imposta.

Em todos os acó rdã os se adopta o conceito da teoria da base negocial e em todos eles se
fala da bilateralidade. A bilateralidade vem dizer que nã o tê m de ser circunstâ ncias
fundamentais para ambas as partes mas tê m de ser circunstâ ncias que sendo
fundamentais para uma das partes a outra parte soubesse ou devesse e aceitasse ou
devesse aceitar.

O Professor Henrique Antunes tem uma opiniã o diferente da dos acó rdã os e da
generalidade da jurisprudê ncia alargando as circunstâ ncias mais à Teoria da Clausula
Rebus Sic Standibus, baseia este alargamento da sua opiniã o no facto de no nosso Có digo
Civil nã o haver uma norma que permita que quando há incumprimento por dificuldade
pessoal ou econó mica grave de uma das partes possa ser possı́vel a modificaçã o, por
exemplo nã o cantar num dia em que se tinha vinculado para um concerto porque foi ao

Eva Brás Pinho 101


funeral do pai. Nó s nã o temos nenhuma norma que proteja os incumpridores em casos
como este o que acontece em outros ordenamentos jurı́dicos.

B.2) Solução do direito português

Ø Acolhe a teoria da base do negócio

ARTIGO 437º
(Condições de admissibilidade)


1. Se as circunstâ ncias em que as partes fundaram a decisã o de contratar
tiverem sofrido uma alteraçã o anormal, tem a parte lesada direito à resoluçã o
do contrato, ou à modificaçã o dele segundo juı́zos de equidade, desde que a
exigê ncia das obrigaçõ es por ela assumidas afecte gravemente os princı́pios da
boa fé e nã o esteja coberta pelos riscos pró prios do contrato.

i. Requerida a resoluçã o, a parte contrá ria pode opor-se ao pedido,


declarando aceitar a modificaçã o do contrato nos termos do nú mero
anterior.

Requisitos para a alteração ser relevante e podermos aplicar o artigo 437º:


1. A alteração tem de dizer respeito às circunstâncias em que se alicerçou a
decisão de contratar

o As circunstâncias anormalmente alteradas têm de ter servido de base à
decisão de contratar – características supra na teoria 5 – têm de se
verificar todas para que haja uma verdadeira alteração das

Eva Brás Pinho 102


circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar (pode
estar em causa uma base objectiva ou subjectiva)
o Modificação da base do negócio jurídico

2. Alteração tem de ser anormal

o Note-se que anormalidade não é sinónimo de imprevisível
o Uma situação previsível pode ser anormal de qualquer modo
o Critério mais amplo que o critério da imprevisibilidade: se a
alteração que for previsível, pode ser anormal na mesma. O facto gerador
da alteração anormal pode-se iniciar somente depois da celebração do
contrato, mas exige-se que nessa data ainda não apresente tal
característica
§ ex.: desvalorização da moeda
o É preciso que as circunstâncias se tenham alterado, isto é, não se
confunde com a teoria do erro acerca das circunstâncias existentes à data
do contrato
o A alteração anormal caracteriza-se pela excecionalidade: é a anómala, a
que escapa à regra, a que produz um sobressalto, um acidente, no curso
ordinário dos acontecimentos
§ Concebe-se, contudo, que num ou outro caso limite surjam
dificuldades quanto à determinação da anormalidade,
conceito de contornos imprecisos


3. Lesão para uma das partes
o Em resultado da alteração das circunstâncias uma das partes sofre
um dano

4. A manutenção do negócio afeta gravemente os princípios da boa fé
o Afetação GRAVE e não apenas afetação

5. A alteração não pode estar coberta pelos riscos próprios do contrato

Eva Brás Pinho 103


o Exemplo:
§ A adquire um edifı́cio a B
§ por força do artigo 408º, A adquire a propriedade desse edifı́cio, e
por isso o risco, por força do artigo 796º transfere-se para o
adquirente A
§ logo se houver um terramoto ou incê ndio e o pré dio ruir estamos
perante um risco inerente ao contrato e nã o pode A recorrer ao
artigo 437º para nã o pagar o que deve e resolver o contrato com B
por causa deste quinto requisito.

6. Não pode haver mora da parte que pretende a revogação no momento
em que a alteração das circunstâncias se verifica + 438º

o Nos termos do art 438º
o Este requisito só fica preenchido se a alteração das circunstâncias
se der ao momento em que já há mora constituída

o Este requisito só fica preenchido se a alteração das circunstâncias se
der ao momento em que já há uma mora constituída

§ Prof. AV – a lei refere-se ao momento em que se
produz a alteração das circunstâncias

• Se esta alteração antecede a mora, “não é o
simples facto do devedor ter incorrido em
mora que o impede de pedir a resolução ou
modificação”
§ Havendo prorrogação do prazo por acordo das partes,
deverá atender-se à finalidade que elas tiveram em
visto para efeitos da aplicação da doutrina da
resolubilidade ou modificação do contrato às alterações
posteriores a essa prorrogação

Eva Brás Pinho 104


Tem sido cada vez mais dificil aos tribunais definir o conceito de base do
negócio como é provado pelas decisões do supremo da hipótese VIII, assim, destes
acórdãos conseguimos depreender uma distinção feita pela jurisprudência:

a. Base negocial subjetiva



o Representação mental ou psicológica comum a ambas as oartes
o O que ambas as partes internamente encaram como sendo o
fundamento do contrato

b. Base negocial objetiva

o circunstâ ncias/condicionalismos implı́citos de que depende o


resultado do contrato
o o contrato nunca é alheio à dimensã o colectiva que existe, aqui se
encontram alteraçõ es como: a guerra, as revoluçõ es, as catá strofes
naturais de caracter geral, as alteraçõ es à legislaçã o, o desvalor da
moeda etc... enfim condicionalismos à fundamentaçã o do contrato.
o A base negocial objectiva engloba por isso factos objectivos de
impacto geral.

3.4.2 Desvios ao princípio da relatividade dos contratos

Subprincípio da eficácia relativa/relatividade dos contratos – art. 406º/2


• Os contratos só valem entre as partes, não valem entre terceiros, sem
ser nos casos previstos pela lei (não se pode criar direitos nem deveres
para terceiros)
o Nenhuma das partes do contrato pode obrigar terceiros a cumprir a
obrigação que a parte assumiu perante a outra
§ O vinculo obrigacional apenas une o devedor ao credor

• Excepções à relatividade dos contratos:
o i) Quando se atribui eficácia real a um contrato-promessa

Eva Brás Pinho 105


§ admite-se que o contrato-promessa seja oponível a terceiros
o ii) Quando se atribui eficácia real a um pacto de preferência
§ admite-se que o pacto de preferência seja oponível a
terceiros
o iii) Contrato a favor de terceiro – arts. 443º e ss. CC

A) Contrato a favor de terceiro

• Quando uma das partes assume perante a outra que tenha a obrigação
de efetuar uma prestação a um terceiro
o Faz-se nascer direitos (de crédito ou reais) na esfera jurídica
dum terceiro

• Temos uma relação triangular: promitente que promete ao promissário não
realizar uma prestação a seu favor, mas sim a favor de um terceiro

• Quem é o credor desta prestação? É o terceiro (que não é parte do
contrato), enquanto que o contrato é concluído entre o promitente e o
promissário


• Este contrato vai produzir efeitos relativamente a terceiros, mesmo que este
não tenha aceite uma prestação emergente deste contrato
o ex.: celebração dum seguro de vida com uma
companhia de seguros
§ a companhia compromete-se a prestar uma
prestação a um terceiro que eu indique

• Art. 442º – quem tem o direito de exigir o cumprimento da promessa, é
o promissário e o terceiro
• Art. 443º/2 – ampla liberdade contratual

Eva Brás Pinho 106


• Art. 444º/3 – o promissário que tinha uma dívida com terceiro, pode
acordar com o promitente que a forma de cumprir a dívida para com
ele, é cumprindo a dívida que ele (promissário) tem para com o terceiro


• Se eu sou devedor, ninguém cumpre uma dívida por mim se eu não autorizar,
pois tenho a minha honra própria: a remissão de dívida (art. 863º) e o perdão
de dívida pressupõe um acordo entre as partes
o A vantagem que o terceiro tem é receber um crédito

o Porque é que o terceiro não é efetivamente considerado uma
parte contratual? – art. 444º
§ O terceiro é sempre estranho ao negócio e é
por isso que é um desvio ao princípio da
relatividade
§ Este terceiro, para adquirir direito à prestação
não tem que se tomar parte no contrato
§ É verdade que nos termos do art. 444º/2 o
promissário tem na mesma o direito a exigir do
promitente o cumprimento, MAS, que esta seja
realizada ao terceiro e não a ele próprio (visto
que o titular do direito à prestação é o terceiro)
não pode

• Nota – relações existentes neste contrato:
o Relação básica ou de cobertura – corresponde à
relação entre o promitente e o promissário
§ A pessoa que promete a prestação à é o
promitente
§ A pessoa a quem é prometida a prestação à
promissário

Eva Brás Pinho 107


o Relação de atribuição ou execução à corresponde
à relação do promitente+promissário com o
terceiro

o Há que saber se o promissário tem que ter algum
interesse na promessa para que esta se constitua
validamente – art. 443º/1/primeira parte
§ O promissário tem que ter na promessa um
interesse digno de proteção legal

o A propósito da relação de execução, questiona-se em
que medida é que o promitente se pode recusar a
realizar a prestação ao terceiro em virtude da
relação que o une ao promissário – art. 449º
§ São oponíveis a terceiros, por parte do
promitente, todos os meios de defesa derivados
do contrato
o Tudo o que respeite a outras relações estabelecidas,
elas não poderão ser opostas a terceiros para o
promitente se recusar a realizar a prestação

§ O direito nasce diretamente na esfera
jurídica do terceiro independentemente da
sua aceitação.
ð Contudo, a aceitação vai ter o efeito de
impedir que a promessa seja
revogável entre o promitente e
promissário
§ É uma excepção à regra em que o contrato só
podia ser revogado através dum acordo (art.
447º)
§ O terceiro pode rejeitar ou aceitar, contudo,
de acordo com o art. 448º, a promessa é

Eva Brás Pinho 108


revogável enquanto o terceiro não
manifestar a sua adesão
ð A partir do momento em que o terceiro
aceita a promessa, esta deixa de ser
revogável
o O direito de resolução do contrato pertence ao
promissário
o Porque é que a adesão tem de ser feita ao promissário?
Porque o titular, em última análise, é o promissário

• Contrato a favor de terceiro 443.º - 451º


• quando uma das partes assume perante a outra que tenha nessa
promessa um interesse digno de proteção legal a obrigação de efetuar
uma prestação a favor de terceiro.
o Seja de patrimonial ou não
o Art 443º
o Promitente à aquele que promete fazer algo
o Promissário à outra parte da promessa do promitente
o Beneficiárioà pessoa estranha ao negócio que recebe a vantagem

• Art 444º à quem pode exigir o pagamento da prestação devida ao 3º

• Esse terceiro não é parte de um contrato, mas é credor, e isso nasce de
um contrato feito entre mim e a companhia de seguros.

o Ex: Estou a fazer nascer com este contrato direitos na esfera jurídica
de um terceiro, direitos de credito ou reais.

• O terceiro adquire direito à prestação independentemente da
aceitação e inclusive antes de conhecer a existência do contrato
o Arts 444ºnº1 e 451º

Arts 447º e 448º à referentes à aceitação e rejeição

Relação básica ou de cobertura à relação entre o promitente e o promissário

Relação de atribuição ou de valuta à relação entre o promissário e o terceiro

Eva Brás Pinho 109


Figuras afim que não devem ser confundidas:

1. Fenómeno de representação:

• Na representaçã o o terceiro age em nome e interesse da parte do contrato,


quem está a agir não é o terceiro em bom rigor mas sim a pessoa que é
parte.
• No fenó meno da representaçã o o terceiro não age em seu proveito.

2. Fenómeno de mandato sem representação:

• Neste caso alguém age em favor de outrem sem agir em nome desse
outrem.
• No caso do mandato o que acontece de diferente é que é preciso um ato
posterior para transferir os direitos para a esfera do mandante.. Na
representaçã o nã o é necessá rio este ato, os direitos transferem-se logo
imediatamente para a esfera do representado. No contrato a favor de terceiro
os direitos nascem logo imediatamente na esfera de terceiro

3. Contrato a favor de terceiro falso ou improprio:

• (art. 770º CC)


• Contrato a favor de terceiro falso ou impróprio – não atribuem nenhum
direito a exigir o cumprimento da prestação, ou seja, o terceiro é
apenas recetor da prestação e não credor dessa prestação

• Contrato a favor de terceiro verdadeiro e próprio (art. 443º) – as partes
agem com o intuito claro de permitir que aquele terceiro exija do promitente
o cumprimento da prestação

• De acordo com o art. 444º/1 há um direito que nasce diretamente na
vida jurídica do terceiro, independentemente da sua aceitação
• ex.: namorado vai a uma florista e manda entregar flores na faculdade à
namorada quem tem direito à prestação é o namorado e não a namorada

Eva Brás Pinho 110


• Também pode existir um contrato a favor de terceiro falso previsto na
lei (art. 444º/3)
o A promessa é de libertar o promissário de uma dívida
o ex.: promissário deve 100€ a um terceiro, e vai pagar ao promitente
para que a dívida se extinga. Isto não é um verdadeiro contrato a
favor de terceiros.
o Em princípio este terceiro é uma pessoa determinada, mas pode não
ser, porque o beneficio pode ser estabelecido de acordo com um
conjunto de pessoas indeterminadas

4. Prestação por terceiro:

• Contrato de prestação por terceiro – o terceiro não é credor, mas sim devedor da
prestação
• Não é uma excepção à relatividade pois não há nada na lei que preveja um
contrato pelo qual se possa criar deveres para um terceiro
• Só pode existir com consentimento

5. Contrato com eficácia de protecção para terceiros:

• Contrato com eficácia de proteção para terceiros – o terceiro só é


destinatário de deveres laterais
• Contrato a favor de terceiro – vai originar na esfera jurídica do terceiro deveres
primários de prestação
• ex.: eu, B, tomo uma casa de arrendamento a A. Vou viver para a casa, com
mulher e filhos. Quem é parte do contrato? B e A. Mas quem lá está sempre?
o Vamos imaginar que a casa tem um problema de infiltração, a qual
não é corrigida pelo senhorio, que tem o dever de garantir que a casa
tem condições perfeitas de habitabilidade. Cai o teto em cima da
empregada

o Pergunta-se: quem é que aqui tinha o direito de exigir que o imóvel
tinha de estar em condições de perfeita habitabilidade? B
Eva Brás Pinho 111

o Podia a empregada exigir? Não, porque não era parte. Porém, este
contrato abrange o agregado familiar, gerando deveres de
prestação em favor desses terceiro que passam a estar
abrangidos pelo contrato

o Se alguns desses deveres não forem respeitados, esses terceiros
podem pedir indemnização com base em resp. extra-obrigacional
(integridade física) mas, mais ainda, podem invocar – concretização
prática da relação jurídica obrigacional complexa

Contrato de prestação por terceiro

• não se confunde com o contrato a favor de terceiro


• aqui o 3º não é credor mas devedor da prestação
• apenas se o 3º consentir ficar devedor é que pode, mas no fundo aqui acaba
o 3º por se tornar parte integrante
• não há nada na lei que preveja a possibilidade de conferir a um terceiro a
obrigação de


B) Contrato para pessoa a nomear

• art. 452º a 456º CC


• Há quem entenda que o contrato para pessoa a nomear é uma excepção ao
princípio da relatividade, mas não o é

• Não é verdadeiramente uma excepção à relatividade dos contratos
§ Se não vier a nomear um terceiro para me substituir, os
efeitos daquele contrato vão se realizar na mesma na
minha esfera jurídica.

Eva Brás Pinho 112


§ Este terceiro só vê os efeitos do contrato produzirem-se
na sua esfera jurídica quando ele próprio já é parte do
contrato

§ Substituição de uma parte contratual por outra – isto
consagra-se no art. 455º
ð O contrato extingue-se porque caducidade se não
for nomeada nenhuma pessoa no prazo que se
tinha para nomear

o Há uma situação em que o contrato é concluído entre duas partes,
mas em que uma delas reserva o direito de se fazer substituir por
um terceiro, logo não há nenhuma excepção ao princípio

• A lei permite que as partes possam reservar o direito de indicar um
terceiro que venha assumir as obrigações e a adquirir os direitos
provenientes do contrato

• Este tipo de contrato tem dois requisitos:
o Declaração de nomeação
o Instrumento de ratificação escrita ou procuração anterior à
celebração do contrato-promessa – art. 453º/2 CC

3.5. Eficácia ulterior dos contratos. A responsabilidade


pós-contratual

Prende-se com as obrigações complexas
A obrigação apesar de se extinguir não deixa de exigir alguns deveres ( lealdade,
informação etc)
No fundo é levar deveres para lá dos deveres primários e secundários ( deveres
laterais portanto)

Ex: um corte de energia que fez descongelar imensa carne nas casas das pessoas
O regime que se aplica é o da responsabilidade obrigacional

4. Classificações dos contratos [remissão para TGNJ]
Eva Brás Pinho 113
4.1. Regime dos contratos bilaterais ou sinalagmáticos. A
exceção de não cumprimento do contrato

5. Contratos mistos

1. Combinados ou múltiplos

• sã o contratos em que uma das partes fica adstrita a duas ou mais
prestações principais respeitantes a diversos tipos de contratos e a
contraparte vincula-se a uma ú nica prestaçã o.

• Exemplo à contrato de locação de casa mobilada pois neste tipo de
contrato uma das partes entrega a outra um imó vel em arrendamento e
moveis de mobiliá rio em aluguer que estã o na casa, sã o prestaçõ es
correspondestes e principais de dois tipos contratuais diferentes e a outra
parte vai apenas pagar o preço, é um só prestaçã o que em contrapartida
abrange duas prestaçõ es de tipo contratual diferente.

2. Contratos acopulados ou de duplo tipo

• prestação única de cada uma das partes mas a essa prestação vai
corresponder uma contra prestação de um tipo contratual diferente.

• Por regra, estes contratos irão ser regidos pela Teoria da
Cisão/Combinação (2) – Prof. GT e ML

• Exemplo -à em que se dá a uma certa pessoa habitaçã o em troca de
desempenho de funçõ es de porteiro, uma das partes está no tipo contratual
de arrendamento e a outra está numa prestaçã o de atividade ú nico mas o
tipo de contrato vai ser um contrato de serviço

3. Contratos mistos em sentido estrito

• Ocorre quando se utiliza um certo tipo contratual para se prosseguir
um fim diferente desse tipo contratual.

• Por regra, estes contratos irão ser regidos pela Teoria da Absorção (1) –
Prof. GT e ML
• Exemplo à venda com um preço favor, uma coisa que vale 50000 euros e
eu vendo por 10000 euros, de modo a por uma compra e venda tentar na
realidade doar essa coisa.34

Qual é o regime que se aplica a cada tipo de contrato?

Eva Brás Pinho 114


a. teoria da absorção

• é preciso descobrir qual é o elemento preponderante do contrato
• o regime a aplicar ao contrato misto vai ser o do tipo contratual desse
elemento preponderante

b. Teoria da combinação.

• para aplicar aos vários tipos contratuais as normas que estão previstas
para os vários cada tipo.

• Ou seja, numas clá usulas do contrato usa-se um regime noutras usar-se-á


outro regime.

A doutrina diverge..

a. Professores Galvão Teles e Menezes Leitão

• aplicam a teoria da absorção


• só o fazem nas situaçõ es em que é possı́vel identificar o elemento
preponderante.
• Por isso em bom rigor só será possível utilizar no caso dos contratos
mistos em sentido estrito, porque nos combinados e nos acopulados nã o
vai haver nenhum elemento preponderante propriamente.

• para estes autores aos contratos mistos em sentido estrito aplica-se a


teoria da absorção e nos outros aplica-se a teoria da combinação.


2) Professor Almeida Costa

• Diz que o primeiro passo para responder ao problema é saber se a lei dá


uma resposta à questão.

• Por exemplo, o artigo 1065º, sobre o contrato de locaçã o



o Neste tipo de contrato, estamos perante um contrato combinado.
o Este artigo vem dizer que se tem de tomar este contrato
"submetendo-se à presente secçã o" do có digo - o arrendamento.
o Logo o que a lei diz neste caso é usar a teoria da absorção em que
se toma o tipo contratual como contrato de arrendamento, tendo na
verdade este outro tipo de prestaçõ es.

o Nã o iremos por isso aplicar a teoria da combinaçã o neste caso como
é sugerido pelos professores Galvã o Teles e Menezes Leitã o.

Eva Brás Pinho 115


• També m há exemplo do artigo 1066º exemplo de contrato
mú ltiplo/combinado, em que se usa a teoria da absorçã o, usando o
arrendamento urbano.

• em segundo lugar que se não houver disposição legal que resolva o


problema se devem aplicar os critérios gerais de integração do
negocio jurídico - artigo 239º do Código Civil.

• Por isso, deve se resolver o problema seguindo acordos com uma vontade
hipoté tica das partes ou ditames de boa fé

No fundo pode resolver através:


1. Teoria da absorção
2. Teoria a combinação
3. Segundo os ditames da boa fé

Figura afim à reuniões de contratos

• há dois contratos distintos que estão ligados entre si de alguma forma
• há uma coligaçã o, mas cada um preserva a sua individualidade
• esta figura tem vá rias modalidades:
o contratos mutuamente pendentes entre si
o situaçõ es em que um contrato está dependente de outro
o situaçõ es de uniã o alternativa

• Já nos contratos mistos há apenas um só contrato que reúne várias


características de outros tipos de contrato

o há uma fusão num só contrato.

ð união de negócios com um vínculo acidental


o união simplesmente por razões práticas
o podem ser celebrados vários negócios no mesmo documento, mas sempre
sem prejuízo de autonomia
§ ou seja, continuam a ser dois negócios
o ex.: contracto de trabalho fora + arrendamento de casa fora

ð união de negócios com um vínculo funcional
o união propositada

Eva Brás Pinho 116


o podem ser celebrados vários negócios no mesmo documento, e há
interdependência
§ aqui, há um nexo funcional/uma interligação
o ex.: contracto de trabalho fora + arrendamento de casa fora dependente do
primeiro

5. Contrato-promessa
Artigos relevantes:

440º– 442º 755 nº1 f) + art 830

Conjugar com o regime geral de incumprimento dos contratos, em especial


801º nº2 e 808º

6.1. Noção

ARTIGO 410º

(Regime aplicável)

1. A† convençã o pela qual algué m se obriga a celebrar certo contrato sã o aplicá veis
as disposiçõ es legais relativas ao contrato prometido, exceptuadas as relativas à
forma e as que, por sua razã o de ser, nã o se devam considerar extensivas ao
contrato-promessa.

2. Poré m, a promessa respeitante à celebraçã o de contrato para o qual a lei exija


documento, quer autê ntico, quer particular, só vale se constar de documento
assinado pela parte que se vincula ou por ambas, consoante o contrato-promessa
seja unilateral ou bilateral.

3. No caso de promessa relativa à celebraçã o de contrato oneroso de transmissã o


ou constituiçã o de direito real sobre edifı́cio, ou fracçã o autó noma dele, já
construı́do, em construçã o ou a construir, o documento referido no nú mero
anterior deve conter o reconhecimento presencial da assinatura do promitente ou
promitentes e a certificaçã o, pelo notá rio, da existê ncia da licença respectiva de

Eva Brás Pinho 117


utilizaçã o ou de construçã o; contudo, o contraente que promete transmitir ou
constituir o direito só pode invocar a omissã o destes requisitos quando a mesma
tenha sido culposamente causada pela outra parte.

Contrato-promessa à é um acordo bilateral de vontades nos termos do qual


uma das partes ou ambas, se comprometem a celebrar um negócio jurídico ou
um contrato posteriormente (art. 410º/1)

• Convenção/contrato pelo qual alguém se obriga a celebrar um contrato
futuro
• É um contrato preliminar ou preparatório à precede a celebração de
negócios ou contratos
o Faz parte dum conjunto de tipos negociais e tem o comum o facto de
precederem a celebração de negócios que se vêm a celebrar
posteriormente
o Esta família de contratos preparatórios permitem que, por via da sua
celebração, as partes estejam mais fortemente protegidas do que
por via da boa-fé imposta pelo art. 227º

Prof. AV – o contrato-promessa cria a obrigação de contratar, ou mais
concretamente, a obrigação de emitir a declaração de vontade correspondente ao
contrato prometido
• A obrigação assumida por ambos os contraentes, ou por um deles (se a
promessa for unilateral), tem por objecto uma prestação de facto positivo
• Ao direito correspondente à contraparte chama-se prestação

Figuras próximas do contrato-promessa:

1. Pacto de preferência (art. 414º)
• contrato irmão aka “bro the real og” do contrato-promessa na medida em
que prepara e antecede a celebração de um outro negócio jurídico

Eva Brás Pinho 118


• São os dois regulados, pois são os mais frequentes – tipicidade social
que justificou a sua tipicidade legal


2. Venda a retro (art. 927º)
• o comprador não promete celebrar uma venda com o vendedor: fica sujeito
a que o vendedor, mediante simples notificação, resolva o contrato
3. Proposta contratual (art. 228º/2 e 230º)
• o contrato-promessa distingue-se dos meros actos de negociação que
frequentemente integram o processo formativo dos negócios jurídicos

• Esses processos são destituídos de eficácia contratual especifica, ao
contrário do que se verifica com o contrato-promessa e os demais negócios
preparatórios ou preliminares
o O contrato-promessa unilateral e proposta contratual são figuras
distintas, esta segunda já constitui elemento do contrato a que respeita,
apenas faltando, para a sua conclusão, que a outra parte aceite

Há dois tipos essenciais de contrato-promessa:

ð Contratos-promessa unilaterais:
• destes contratos decorre apenas a obrigação para uma das partes de
celebrar o negócio prometido, com um prazo determinado para exercer
o direito (art. 410º/2 e 411º)
• só a parte que se obriga é que está obrigada a assinar o contrato

ð Contratos-promessa bilaterais
• ambas as partes estão reciprocamente obrigadas a celebrar o
contrato-prometido
• lei exige que ambas as partes assinem


6.2. Disciplina jurídica

Eva Brás Pinho 119


ARTIGO 410º

(Regime aplicável)

1. A† convençã o pela qual alguém se obriga a celebrar certo contrato sã o


aplicá veis as disposições legais relativas ao contrato prometido, exceptuadas
as relativas à forma e as que, por sua razã o de ser, nã o se devam considerar
extensivas ao contrato-promessa.

2. Poré m, a promessa respeitante à celebraçã o de contrato para o qual a lei exija


documento, quer autê ntico, quer particular, só vale se constar de documento
assinado pela parte que se vincula ou por ambas, consoante o contrato-promessa
seja unilateral ou bilateral.

3. No caso de promessa relativa à celebraçã o de contrato oneroso de transmissã o


ou constituiçã o de direito real sobre edifı́cio, ou fracçã o autó noma dele, já
construı́do, em construçã o ou a construir, o documento referido no nú mero
anterior deve conter o reconhecimento presencial da assinatura do promitente ou
promitentes e a certificaçã o, pelo notá rio, da existê ncia da licença respectiva de
utilizaçã o ou de construçã o; contudo, o contraente que promete transmitir ou
constituir o direito só pode invocar a omissã o destes requisitos quando a mesma
tenha sido culposamente causada pela outra parte.

• Dá uma definição de contrato promessa


• Define o regime aplicável
• Vigo o principio da equiparação à 410º nº1

o Aplica-se ao contrato promessa o regime dos contratos em geral e


também as normas relativas ao contrato prometido

o 2 Importantes exceções a este principio:

§ As normas relativas à forma do contratos em geral não se


aplicam diretamente

§ As normas relativas ao contrato prometido que devido à sua


razão de ser não se apliquem ao contrato promessa (
normas de substância)


ð 879º à no contrato promessa não se gera a obrigação de
entregar a coisa nem de pagar o preço
ð 892º

Eva Brás Pinho 120


ð 1682º a)


6.3. Disposições respeitantes à forma e à substância


1ª Excepção à disposições do contrato-prometido que pela própria natureza do
contrato-promessa não se devam considerar extensivas ao mesmo
• Para se apurar se uma determinada norma é ou não aplicável, haverá que
atender ao seu fundamento
o O contrato-prometido tem uma natureza específica pois é provisório
e antecede a celebração de outro contrato, enquanto que o contrato
definitivo tem uma eficácia definitiva

• Exemplos:
o art. 892º – pode-se prometer vender uma coisa que ainda não
sou o proprietário porque, no contrato-promessa, mesmo que não
tenha as coisas no momento da sua criação, posso vir a ter à data da
celebração do contrato definitivo

o art. 1682º/1/a e art. 1682º/2 – com o casamento, os cônjuges ficam
sujeitos a limitações em matéria de disposição de certo tipo de bens
imóveis: se quiser um cônjuge quiser arrendar a morada da família é
preciso o consentimento de ambos os cônjuges

2ª Excepção à disposições relativos à forma à art. 410º/2 e art. 410º/3

• Art 363º à modalidades de documentos escritos


• Art 376º : força probatória
o A força dos documento

Nota: documento particular autênticado ¹ documento particular

Eva Brás Pinho 121


• O contrato-promessa não está sujeito à mesma forma do contrato
definitivo (em matéria de forma vigora o princípio da liberdade de forma –
art. 219º)
• Quando a lei fala de exigência de documento autêntico ou particular, está-se
a referir ao contrato definitivo
o Logo, para aplicação desta norma, o primeiro aspecto que tem que se
indagar é qual o regime de forma do contrato definitivo


a. Se o contrato definitivo for solene
• o contrato-promessa e a exceção está na circunstância de o
legislador apenas exigir documento particular para o
contrato-promessa
o (menos solene, dado que não implica a intervenção de terceiro para
certificar aquilo que está no documento)

o ex.: o mútuo (art.1143º)
§ se fosse de 1000€, o contrato-promessa seria
consensual devido ao facto de o contrato
definitivo de mútuo ser consensual
§ se fosse +25000€, o contrato-promessa seria
solene, mas necessitava apenas de documento
particular, que é exatamente a forma que
necessita o contrato definitivo de mútuo com
este valor
§ se fosse de 32500€, o contrato-promessa seria
solene, mas ao contrário do contrato definitivo
de mútuo que necessita de documento
autentico ou documento particular
autenticado, o contrato-promessa basta-se
com documento particular

§ Se o contrato definitivo for consensual/não solene

Eva Brás Pinho 122


• o contrato-promessa também o vai ser
o ex.: promessa de compra e venda dum automóvel
§ não está sujeita a nenhuma forma
§ não está dependente de ser celebrada por
documento escrito ou particular autenticado,
pelo que o respetivo contrato-promessa também
não está sujeito a qualquer forma


Ø Há ainda formalidades acrescidas quando se tratar dum contrato-promessa de
um terreno (art. 410º/2) ou de prédios urbanos (art. 410º/3)

§ Art. 410º/2 (terrenos)
• se tiver por objecto um contrato definitivo que só será válido
por documento particular autenticado
• tem de se celebrar o contrato-promessa por redução a escrito
assinado por uma parte (unilateral) ou por ambas
(bilateral)
ii. Nas restantes hipóteses, vigora o princípio da liberdade de forma
iii. Nota: o art. 410º/2 não se aplica a qualquer imóvel – só apenas
à promessa de compra e venda dum terreno!

iv. O contrato-promessa de um terreno exige um documento
particular escrito assinado por quem se vincula

b. Art. 410º/3 (prédios urbanos)
• é uma excepção ao artigo anterior
• na medida em que vem exigir um conjunto de requisitos de
forma adicionais quando o contrato-promessa tiver por
objecto um contrato oneroso que implique a transferência de
direitos reais sobre edifício ou fração autónoma já construídos,
em construção ou a construir

Eva Brás Pinho 123


• Nota: o art. 410º/3 aplica-se ao mesmo contrato que tenha
por objecto prédios urbanos – o documento particular tem
de:
1. ser assinado por uma ou pelas duas partes
2. ter o reconhecimento das assinaturas
3. ter a certificação da existência de licença de construção ou de utilização da
coisa

• Prof. AC – na “transferência de direitos reais” referida na lei,
este ccidoutrinário inclui por analogia os contratos
modificativos de ampliação de direitos reais

o Ou seja, quando já existe um direito real e as partes estão a
atribuir mais faculdades e poderes do que já têm, embora
não se trate do “transmitir ou constituir de um direito real”,
o contrato vai cair neste art. 410º/3

o Ficam de fora os contratos que restrinjam os poderes do
titular do direito real e os contratos que o façam extinguir

Ø Polémicas deste artigo:
• Qual a validade do contrato-promessa bilateral que se encontrava
assinado apenas por uma das partes?

• Há quatro teorias, duas radicais e duas moderadas
a) Teorias radicais
1. Contrato-promessa é inteiramente válido
§ Aplicação direta do art. 411º, que prevê e regula a figura
da promessa unilateral

2. Contrato-promessa é inteiramente nulo

Eva Brás Pinho 124


§ Tendo ambas as partes querido realizar uma promessa
bilateral e não podendo o contrato valer como tal, por falta
de assinatura a nulidade só pode ser total

b) Teorias moderadas à contrato-promessa bilateral era nulo, mas pode-se
transformar em contrato-promessa unilateral
• 3. Prof. AC – redução (art. 292º)
o É parcialmente nulo, mas pode-se reduzir de
contrato-promessa bilateral a unilateral
(mecanismo de aproveitamento)
o Consequências – ónus da prova
§ A lei presume que se reduz

§ Só não se reduz se o promitente vendedor
interessado na destruição total do negócio
alegar e provar que a vontade dos contraentes
é impeditiva da manutenção do contrato (art.
342º/2)
§ Se não o fizer, o contrato presume-se reduzido,
não tendo de provar que é essa a vontade dos
contraentes
§ Esta tese defende que é a opção mais favorável,
pois considera o promitente adquirente a
parte mais débil e que necessita de maior
tratamento jurídico

§ Comentário Prof. JT – discorda desta solução na
atualidade, por considerar uma questão
evolutiva: parte dum pressuposto errado,
como se fosse a soma de duas promessas
unilaterais

Eva Brás Pinho 125


• 4. Prof. AV/JT – conversão (art. 293º)
§ É totalmente nulo, mas, pode-se salvar como
promessa unilateral por conversão

§ A expressão “o contrato pode transformar-se” (STJ),
quer dizer que enquanto não se provar a vontade no
sentido da transferência, o contrato está morto –
nulidade total
§ Consequências
ð a convertibilidade do negócio depende de
requisitos:
Ø objectivos à elementos formais e
substanciais que titulem validamente
os efeitos sucedâneos
Ø subjectivos à se as partes tivessem
antevisto esta possibilidade, ainda
assim quereriam o contrato como se
pode salvar – vontade conjectural

§ O ónus de prova é oposto ao da redução: o
promitente comprador que prove que se as
partes tivessem antevisto esta possibilidade,
ainda assim quereriam o contrato como se pode
salvar

Se algum dos requisitos do art. 410º/3 não estiver preenchido, o contrato é
nulo. Quem pode invocar a nulidade?

• Prof. AV – estamos perante uma nulidade mista ou atípica, dado que se
deixa cair grande parte do regime da nulidade
o No regime geral da nulidade, esta pode ser invocada por qualquer
interessado (=titular de um direito que possa vir a ser afetado na sua
consistência técnica, jurídica ou prática por via do negócio nulo)

Eva Brás Pinho 126



o Porém, neste caso específico da segunda parte do artigo, em que
falte algum dos requisitos, só o promitente adquirente é que pode
invocar a nulidade (tutela da parte mais débil)

§ A NÃO SER QUE, a omissão do requisito em
falta tenha sido causada culposamente pelo
adquirente:
§ naturalmente que, nesse caso, ambos podem
pedir a nulidade, não podendo o beneficiário
valer-se da nulidade (Prof. AC)

• Na mesma linha de ideias, a nulidade é de conhecimento oficioso, é
também neste caso? à Não, o tribunal não pode invocar a nulidade.

o Prof. AV ao referir-se a uma nulidade atípica, enquadra isto numa
lógica de proteção do comprador

o Atendendo ao segundo requisito (exigência do reconhecimento das
assinaturas), a nulidade nunca poderá ser de conhecimento oficioso

o Já em relação ao terceiro requisito (licença), estamos no âmbito
da proteção do interesse público e combate à construção
clandestina
§ Talvez na falta deste requisito fará sentido a
possibilidade de ser arguida por terceiro ou de
conhecimento oficioso

6.4. Efeitos da promessa. Atribuição de eficácia real

Eva Brás Pinho 127


Contratos-promessa com eficácia obrigacional versus Contratos-promessa


com eficácia real:
• ex.: A promete vender a B e vendeu a C
o se tiver atribuído eficácia real à promessa, o beneficiário da
promessa torna-se o titular de um direito real dirigido a exigir
ao promitente a realização do contrato definitivo, o qual pode
fazer valer perante terceiros
o vale o direito que foi constituído primeiramente – eficácia erga
omnes

Contrato-promessa com eficácia meramente obrigacional:
o Dele apenas decorrem direitos e deveres de natureza
obrigacional para as partes
o Não decorrem nem nascem qualquer tipo de direitos reais,
nomeadamente os de aquisição
o ex.acima: C iria ficar com o bem – o direito real de propriedade
sobrepõe-se ao direito meramente obrigacional da promessa de
compra e venda (neste ponto há que aplicar as teses da eficácia
para determinar a indemnização)

Contrato-promessa com eficácia real:
o As partes têm a possibilidade de atribuir eficácia real à
promessa de transmissão ou constituição de direitos reais
sobre bens móveis ou imóveis sujeitos a registo
o Exige-se os requisitos do art. 413º:

1. Que o contrato-promessa tenha por objecto mediato imóveis ou móveis
sujeitos a registo
+
2. Que o contrato-promessa seja celebrado por escritura pública ou documento
particular autenticado (salvo lei especial)

Eva Brás Pinho 128
3. Que haja uma declaração expressa das partes a atribuir eficácia real ao
contrato-promessa

4. Que as partes inscrevam o contrato-promessa no registo


o A partir do momento em que nasce o contrato-promessa com
eficácia real, dele decorrem direitos e deveres de natureza
real
§ Equivale à proteção das partes contraentes de uma
possível violação da promessa
ð art. 1317º + 408º + 413º e direito a indemnização

§ Como pode uma das partes (ex.: B) do contrato-promessa
fazer judicialmente sua, o objecto que entretanto foi entregue
a um terceiro (ex.: C)?

§ Isto é, havendo eficácia real, qual o meio processual
adequado para o efeito? Há quatro teses:

ð Tese maioritária (Prof. AV, GT, AC) ào meio judicial concreto é a
ação de execução específica intentada de B contra A cumulada com
ação de nulidade da venda de A a C, dizendo que é uma venda de bens
alheios

ð Critica de Prof. JT – a ação de execução específica movida
contra A terá pouco relevo
Ø A coisa já não está na esfera jurídica de A, à data à
incumprimento definitivo
Ø Se ela fosse julgada procedente, em última análise, ter-
se-ia que sancionar uma venda de bens alheios
Ø Também a cumulação com a ação de nulidade não
faz sentido:

Eva Brás Pinho 129


Ø A era dono da coisa, não estava a vender coisa alheia
(dizer-se que há venda de bens alheios causa alguma
perplexidade)

ð Tese do Prof. OA à intentar uma ação de execução especifica
contra C
ð Tem a vantagem de que já não problemas de legitimidade
ð Critica de Prof. JT à há um problema: a ação de execução
específica implica que C se tenha obrigado a vender a B

ð Tese do Prof. MC à o meio jurídico mais adequado para que C possa
fazer sua a coisa é uma ação de reivindicação
ð É a ação paradigmática de defesa do direito de
propriedade e dos direitos reais (art. 1311º - quando este
artigo fala em proprietário, o legislador quer dizer “titular do
direito real”)

ð O titular de um direito real de aquisição pode intentar ação
contra qualquer possuidor/detentor da coisa e exigir
que entregue a coisa
ð Crítica Prof. JT à esta tese só faz sentido se C tiver a posse
ou detiver a coisa
Ø Mas e se não entregou a coisa?
Ø Princípio do consensualismo – a não entrega implica
que a propriedade não tenha sido transmitida
Ø O que Prof. MC diz é que é mesmo nos casos em que
C não recebe a coisa, já é possuidor da coisa (a posse
não implica o controlo material sobre ela)
Ø Há um segundo problema: a ação de reivindicação
não tem natureza constitutiva, tem natureza
meramente declarativa (o tribunal limita-se a
declarar que alguém é titular de um direito real e que
alguém o está a lesar)

Eva Brás Pinho 130



ð Tese de Prof. ML – ação intentada em regime de litisconsórcio
necessário passivo, atípica, com natureza constitutiva
ð Ação intentada em regime de litisconsórcio necessário
passivo – tem de ter obrigatoriamente dois réus (A e C)
ð Atípica à é um misto das 3 ações supra, tem características
de cada uma delas
ð Natureza constitutiva à o B (promitente fiel) tem de pedir
concretamente ao tribunal que introduza uma
modificação na ordem jurídica ordenando e
reconhecendo essa mesma titularidade

o Registo na atribuição da eficácia real no contrato-
promessa:

§ A atribuição de eficácia real não transmite a propriedade:
ð apenas constitui um direito real de aquisição
ð que se traduz na possibilidade de opor o direito de que se é
titular à celebração do contrato definitivo a qualquer terceiro
que venha a ter uma posição incompatível com a do titular

§ Não é o registo de propriedade que o art. 413º prevê, mas
sim o registo da eficácia real do contrato-promessa
ð Relativamente a este registo da eficácia real do contrato-promessa, o
legislador atribuiu um efeito constitutivo
ð É o que parece resultar da letra do art. 413º/1 (“mediante declaração
expressa e inscrição em registo”)

§ Daí Prof. AC defender que as partes atribuírem eficácia
real ao contrato-promessa sem registo dessa mesma
eficácia real, não vai haver qualquer eficácia real, e por
isso será nula

Eva Brás Pinho 131


ð Assim, se as partes tiverem declarado na escritura pública ou
documento particular autenticado que atribuem eficácia ao
contrato-promessa, mas o registo não existir, o terceiro não será
afetado pela existência dessa declaração das partes

Ø Sem o registo o promitente fiel não pode opor um contrato-
promessa a terceiro

o O contrato-promessa constitui um desvio ao princípio da
liberdade negocial
§ Porque quando as partes o celebram estão a autolimitar-se
ð autolimitação à liberdade contratual

§ É uma forma grave de limitar a liberdade contratual, bem
mais do que no pacto de preferência
ð Isto porque neste último (que é também unilateral), é duplamente
condicionado, pelo que essa obrigatoriedade só se verifica caso se
cumpram duas decisões

6.5. Não cumprimento do contrato-promessa



Ø Traduz-se na recusa injustificada da celebração do contrato.
• De forma expressa à quando um dos contraentes informa o outro que não
vai cumprir
• De forma tácita à se celebrar um contrato ele próprio incompatível

Ø Geram-se dois tipos de remédios:
• direito à execução específica
• direito à resolução.

Ø Critério do bom pai de família para definir a culpa ou não de um incumpridor

Eva Brás Pinho 132


6.5.1 Execução específica

i. Direito à execução
específica – art. 830º
+ indemnização

• Art. 830º/1 –consistem em pedir a um tribunal judicial que emita uma
declaração negocial que substitua a declaração negocial que a parte
incumpriu o contrato-promessa se recusa a emitir e devia emitir

• + indemnização moratória à ao pedido da execução específica pode
cumular-se o pedido da indemnização moratória correspondente aos
danos sofridos pelo atraso no cumprimento da promessa


o O juiz supre a declaração negocial do faltoso ao considerar o
contrato prometido como realizado

§ por força duma sentença, decreta diretamente o efeito
fundamental do contrato prometido, como se requerente e
demandado o tivessem celebrado = vale como seu título
constitutivo

§ ex.: A prometeu vender uma coisa a B e depois recusa-se. B
pode ir a tribunal para que seja emitida uma declaração
negocial que se substitua à vontade de A. A respetiva sentença
possui a eficácia que teria a escritura pública por aquela
suprida, inclusive os efeitos do registo


• Em regra, a ação de execução específica é permitida

Excepto (art. 830º/1 e 830º/2):

Eva Brás Pinho 133



a) Quando quem celebra o contrato-promessa não tem
legitimidade para celebrar o contrato definitivo

§ ex.: contrato-promessa de venda de bem alheio

§ a execução específica é inviabilizada quando o contrato-
promessa se apresenta dotado de mera eficácia obrigacional
e o promitente vendedor transmite a coisa a terceiro: a sentença
judicial obtida em substituição conduziria à venda de bem alheio

§ Nota: aqui também podemos defender a eficácia externa das
obrigações
§ ex.: alienação por apenas um dos cônjuges

b) Ilegitimidade superveniente:
o Ex: venda a terceiro – quando alguém celebra um contrato-
promessa e tem legitimidade, mas deixa de ter no momento da
celebração do contrato

o Se for atribuída eficácia real à o beneficiário da promessa pode ir
buscar a terceiro ( Oponível a terceiros)

§ se não for atribuída eficácia real, não pode
§ nota: a “imperatividade” (não se pode ser privado de tal)
da execução específica esgota-se na relação das partes

c) Quando a própria natureza da obrigação assumida não permite a
execução específica – ilegitimidade originária não suprida

i) Contrato-promessa de natureza eminentemente
pessoal
§ ex.: casamento

Eva Brás Pinho 134



ii) Contrato-promessa reais quoad constitutionem:

§ promessa de comodato, mútuo, penhor, depósito
§ a sua celebração depende, não só da declaração
de vontade, mas também da prática de um acto
material de entrega da coisa que não é
judicialmente suprida

iii) Contrato-promessa de doação ou prestação de
serviços
§ a sua natureza justifica que as partes conservem a
possibilidade de desistir do contrato definitivo até à
celebração deste, embora incorrendo em responsabilidade
pelo incumprimento do contrato-promessa

d) Quando a execução específica é afastada pelas partes – art.
830º/2

ð Há no contrato-promessa uma cláusula em que as partes
declaram que afastam a execução específica
ð O contrato-promessa foi celebrado com um sinal
ð O contrato-promessa foi celebrado com uma cláusula penal

ð se tiver sido fixada uma pena para o não
cumprimento da promessa, presume-se que as
partes quiseram que esse fosse o critério de reparação
e a única consequência do incumprimento
§ são presunções ilidíveis (art. 350º/2)

Ø Art. 830º/3 – quando a promessa é relativa a contratos onerosos de transmissão
ou constituição de direitos reais sobre edifícios, ou as suas frações autónomas,

Eva Brás Pinho 135


já construídos, em construção ou a construir (ex.: prédios urbanos, armazém,
14ºE, etc.) não se pode afastar a alternativa da execução específica

• Art. 830º/3/parte inicial à há o impedimento do afastamento da execução
específica, mas não há imposição de um caminho ao contraente faltoso

o A especial tutela existente para estes casos específicos, pretende
evitar a verificação de situações imorais na prática do contrato-
promessa
§ lógica de tutela do promitente adquirente

o ex.: no contrato-promessa de compra e venda de um apartamento, o
contrato-promessa sinalizado não significa que as partes excluem o
direito à execução específica – caso se admitisse essa exclusão, o
promitente adquirente ficaria desprotegido

• Art. 830º/3/parte final à se o promitente fiel intentar a ação, num
propósito de equilíbrio de posições, concede-se ao promitente faltoso a
faculdade de pedir, no processo destinado à obtenção da execução específica,
a sua modificação por alteração anormal das circunstâncias (art. 437º/2),
ainda que a alteração das circunstâncias seja posterior à mora (é uma
excepção ao art. 438º)
o Ou seja, a lei permite mesmo que esteja em mora à data em que a
alteração das circunstâncias ocorreu

§ Isto acontece porque o promitente vendedor/comprador
(o que seja faltoso) não teve oportunidade de fugir à
execução específica
§ ex.: A promete vender a B um prédio, A recusa-se a vender
porque o prédio vai ser considerado património e vai valer
mais, como prometeu vender a 10 e agora vale 100, não quer
vender. B intenta uma acção de execução específica e A diz que

Eva Brás Pinho 136


afinal vende, mas modifica o contrato: pede para mudar
quanto ao preço, mesmo que A esteja em mora

Ø Nota: como age a execução nos pontos omissos do contrato prometido?
• Prof. AC
• A solução mais razoável é a de que a invalidade do contrato-promessa,
lacunoso em relação a aspectos essenciais do contrato definitivo, apenas se
produz , quando esses elementos não possam ser determinados através
do recurso aos critérios gerais e especiais de interpretação e integração
da vontade dos contraentes.
• Tudo na suposição de que as partes hajam celebrado um efetivo contrato-
promessa, ultrapassando a esfera das negociações preliminares

CPS:
• 442º
• 830º nº2
CPSS:
• 808º e 801º nº2

6.5.2. Resolução do contrato

2. Direito à resolução + indemnização



a) Se não há sinal – CPSS
• Só se pode avançar para a resolução contratual nos termos gerais
através do incumprimento definitivo
o art. 801º/3, por via do art. 808º

• A indemnização apura-se em harmonia com as regras gerais da resp.
obrigacional e tende a cobrir o valor dos danos provocados

o art. 562º e ss

Eva Brás Pinho 137


o Prof. JT e HA– propõe a aplicação da indemnização atualizada,
nos casos em que, embora não havendo sinal, há uma valorização do
imóvel como forma de prevenir a tentação da venda
• Por isso, nesse caso, o promitente fiel pode pedir uma
indemnização correspondente à indemnização atualizada,
a que se refere o art. 441º

2. Prof. MC e ML – embora confirmem que o sinal não serve de cálculo para
indemnização atualizada, referem que, quando não há sinal, a traditio é um
acto de tolerância do promitente vendedor, pelo que este último não deve
ser prejudicado pelo facto de ser tolerante e entregar antecipadamente a
coisa
• No fundo, é demasiado oneroso que, em caso de
valorização do imóvel, seja obrigado à indemnização
atualizada: para isso existe a constituição do sinal
o Se o promitente comprador quisesse salvaguardar-
se contra uma valorização do imóvel, então que
tivesse convencionado um sinal

b) Se há sinal – CPS
• Embora seja um ponto muito discutido, o contrato-promessa pode
resolver-se com simples mora, não tendo esta de ser transformada em
incumprido definitivo para que se possa avançar para a resolução

1. Art. 441º – sempre que é celebrado um contrato-promessa em que alguém
entrega a outrem uma coisa por conta da obrigação futura, presume-se que isso
é um sinal
o Contudo, esta presunção é ilidível com base na oposta vontade
real dos contraentes – art. 350º/2

• Art. 442º/1 – se há sinal, a indemnização apura-se nos termos deste
artigo, que apresenta três possibilidades ao promitente fiel:

Eva Brás Pinho 138


1. Se o promitente faltoso é o que tinha entregue o sinal
o Perde o sinal
o ex.: A paga o sinal da casa, mas não paga a escritura, incumprindo
uma das cláusulas do contrato-promessa. B (a empresa
imobiliária) resolve o contrato ficando com o sinal pago por A.

2. Se o promitente faltoso é o que tinha recebido o sinal, há que distinguir se
houve ou não traditio:

ð Se não houver tradição da coisa à restituição do
sinal em dobro

ð Se houver tradição da coisa à escolhe o que é mais
favorável
i) restituição do sinal em dobro
ð há a presunção do carácter de sinal – art. 441º/1
Ø logo, toda a quantia entregue, será considerada
sinal
Ø é uma presunção ilidível – art. 350º/2
ð ex.: A promete comprar x por 100, mas agora x vale
130. Se o sinal for de 10, a restituição do sinal em
dobro será 10x2=20.

ii) indemnização atualizada 442º nº3 à falar

ð valor da coisa à data do incumprimento do
contrato-promessa (valor do imóvel no momento
exato – apreciação objectiva)

ð ex.: A promete comprar x por 100, mas agora x vale
130. Se o sinal for de 10, a indemnização atualizada
será:

Eva Brás Pinho 139


Ø 130-100=30 (diferença entre preço fixado e
valor actual apurado)
Ø 30+10 (quantia entregue como sinal) = 40

iv) Art. 442º/2 + art. 755º/1/f – se houver tradição da
coisa, o promitente fiel tem ainda o direito de retenção

Ø É um direito real de garantia que serve os
interesses do promitente fiel

Ø traduzindo-se na possibilidade de reter a coisa
objecto da tradição até que obtenha o pagamento
da indemnização devida

Ø Se a indemnização não vier a ser paga, essa coisa
pode ser vendida pelo promitente fiel, de modo a
obter o montante a que tem direito


→ Claro que este direito pressupõe, desde logo,
que tenha havida tradição da coisa, caso
contrário, não faz sentido falar em direito de
reteção

Ø Assim, em bom rigor, o direito de retenção só
existe:
→ Se e quando tenha havido entrega
antecipada da coisa (traditio)

→ Quando se tratar do incumprimento de um
contrato-promessa sinalizado (dado o art.
755º/1/f) remeter para uma situação em que
a indemnização é devida, não nos termos

Eva Brás Pinho 140


gerais, mas sim em razão da aplicação do art.
442º

Ø Prof. ML – restringe o âmbito de aplicação do art.
755º/1/f, em razão dos duplos incumprimentos que
muitas vezes surgem quando os direitos de retenção
do contrato-promessa colidem com hipotecas em
favor dos bancos que financiam a construção de
edifícios
→ Há uma norma que faz prevalecer o direito
de retenção sobre a hipoteca, mesmo que
essa tenha sido constituída anteriormente
a. Ou seja, o crédito dos bancos só vai
ser satisfeito depois de ser
satisfeito o crédito dos
promitentes adquirentes (pela
indemnização do art. 442º)

→ Posto isto, este professor faz uma
interpretação restritiva da parte final do
art. 755º/1/f

a. O artigo aplica-se apenas quando
se trate de indemnização
atualizada

b. Só neste caso é que o valor da coisa
(objecto do direito de retenção) tem
uma conexão efetiva com a
determinação da indemnização

Eva Brás Pinho 141


§ Art. 442º/3 – direito à invocação da excepção de
cumprimento do contrato-promessa
ð É procedente, salvo nos casos previstos no art. 808º (em que há
uma perda de interesse objectiva)

ð Ou seja, esse “contra-ataque” já não pode ocorrer se já tiver
ocorrido o incumprimento definitivo:

ð só opera havendo simples mora – sempre que o contraente não
faltoso opte pelo valor da coisa ou do direito, nos termos
indicados, pode a contraparte opor-se a esse exercício
oferecendo-se para cumprir a promessa
Ø ex.: se o promitente comprador desistiu e já não está
interessado em resolver o negócio, não comparecendo
no dia marcado para a celebração da escritura, e
consequentemente, não cumprindo a vinculação a que
estava obrigado
Ø Na verdade, poderia cumprir ainda
(simples mora) mas ele não quer cumprir
nem vai fazê-lo
ð À partida, esta não deveria ser um tema, porque à luz do Direito
PT, a resolução de um qualquer contrato pressupõe sempre o
incumprimento definitivo da obrigação (art. 801º). Porque é que
então se discute?

Ø A resposta é dada pelo art. 442º/3 (norma introduzida
na revisão do CC que criou o problema)
Ø É no art. 442º/3/segunda parte que se coloca o
problema
→ Quando alguém incumpre um CPS, este artigo
estabelece a pena aplicada

Eva Brás Pinho 142


→ Em qualquer dos casos, a parte que cumpriu
pode requerer a execução específica do
contrato
→ O contraente não faltoso é o promitente
comprador
→ Se este pedir a indemnização atualizada, o
promitente vendedor pode-se opor por via de
uma excepção do não cumprimento do contrato-
promessa (“afinal de contas quero cumprir”)
→ SALVO o disposto no art. 808º
Ø O que quer dizer que, esse “contra-ataque” só pode
ocorrer se houver simples mora, e não se já tiver
ocorrido incumprimento definitivo

Ø Assim, temos um problema... Pode-se, ou não, resolver
um CPS havendo simples mora?

Ø Prof. AC – não há aqui nenhuma entropia ao regime
regra do contrato-promessa
Ø O que acontece aqui é que todo o CPS se considera
celebrado com uma condição resolutiva tácita, a qual
faz sempre que se dê um incumprimento do contrato-
promessa e o promitente comprador pedir ou o sinal
em dobro ou em indemnização atualizada, que nesse
momento se transforme a mora em
incumprimento definitivo

ð Prof. AV – destrói a tese anterior
Ø Embora gostasse que admitir que não havia qualquer
anomalia no sistema, de facto, lendo o art. 443º/3 a
única forma de interpretar a norma racionalmente, é
apenas a de concluir que quando se está perante

Eva Brás Pinho 143


um CPS, a resolução pode haver havendo simples
mora

Ø Importa ainda salientar que, embora não precise, é de
toda a conveniência que se transforme a mora em
incumprimento definitivo

Ø Certeza e segurança jurídica

Ø Se só resolver quando houver incumprimento
definitivo, quando “dispara” a indemnização
atualizada, já não pode oferecer-se para cumprir a
promessa


→ Prof. ML – solução intermédia
Ø O problema está no art. 442º/3/parte final
Ø Acrescenta a AV que a norma só é um problema
quando o promitente comprador pede a
indemnização atualizada
Ø Há que distinguir os casos em que o contrato-
promessa tem sinal
→ Se pretender o sinal em dobro – tem de se
transformar a mora em incumprimento
definitivo
→ Se optar pela indemnização atualizada –
basta a simples mora

Ø Crítica de AV a ML – não merece acolhimento esta
dissociação pois a parte inicial do artigo refere “em
qualquer dos casos”
→ Prof. Ribeiro de Faria – reconhecendo o
problema, lembra que o art. 808º tem duas partes

Eva Brás Pinho 144


Ø Há duas vidas para transformar a mora em
incumprimento definitivo
Ø Reduzindo o art. 808º a uma só dimensão das duas
que ele naturalmente comporta: só se aplica aos casos
das obrigações que tenham um prazo absolutamente
essencial
→ Em rigor, aí já não haveria nenhum problema:
seria sempre necessário dar-se uma segunda
oportunidade ao promitente fiel para que o
cumprisse

Opinião do Professor Januário Gomes sobre os artigos 442º/3 e 808º

• Diz que não há razão para que relativamente a um contrato promessa com
sinal, se estabeleça um regime diferente do regime geral dos contratos

o que é aquele que só permite a resolução quando há uma


situação de impossibilidade de incumprimento ou de
incumprimento definitivo

§ nomeadamente porque se transformou a mora em não


cumprimento definitivo pela fixação de um prazo
adicional que o devedor de novo nã o cumpriu.

• Considerando isto, també m é verdade que o artigo 442º/3 estabelece que


se o promitente fiel optar pela indemnizaçã o actualizada pode o devedor
oferecer-se para cumprir a promessa e tal só nã o ocorrerá quando o artigo
808o se verifique, passaria a haver aqui uma contradiçã o entre aquilo que
é a aplicaçã o do regime regra e aquilo que dispõ e o artigo 442o/3 porque
quando diz “ salvo quando o artigo 808o se aplique”, ora o artigo 808o é

Eva Brás Pinho 145


preciso aplicar-se sempre para segundo o regime geral poder haver essa
resoluçã o.
• E quando se pede indemnizaçã o actualizada o que se está a fazer é resolver
o contracto, portanto se se teria sempre de recorrer ao 808º então
nunca poderia haver a possibilidade da outra parte se oferecer a
cumprir a promessa nã o pagando a indemnizaçã o actualizada,
• por isso o que diz o professor Januá rio Costa Gomes é que quando no
442º/3 se faz referencia ao 808º está se apenas a considerar uma das
hipóteses do 808º que é a perda de interesse do credor.

• Isto significa, que segundo esta teoria mesmo no caso do contrato


promessa com sinal é preciso transformar a mora em incumprimento
definitivo e nã o se está a inviabilizar a excepçã o do cumprimento

o porque embora essa seja inviabilizada pelo 808º, esse 808º que está
no 442º/3 refere-se apenas à perda do interesse do credor,
portanto só quando se vai transformar a mora em incumprimento
definitivo pela fixaçã o de um prazo adicional e transformada a mora
em incumprimento definitivo é possı́vel resolver pela indemnizaçã o
actualizada sem a parte faltosa se opor.
o Se o credor ainda tiver interesse então o outro pode oferecer-
se para cumprir a promessa, caso contrário já não pode.

6.6. Outras violações do contrato-promessa. A falta de


legitimidade

Eva Brás Pinho 146


• A violação de uma processa reveste, por vezes, outras modalidades. Assim, se
sucede a prática de alguns atos que ponham em causa o cumprimento, ainda
antes da verificação ou do decurso do respetivo prazo.
o O promitente faltoso não tem legitimidade para a celebração do
contrato prometido

• Esta ilegitimidade pode ocorrer:
o Ao tempo da celebração do contrato-promessa, embora seja possível
ao promitente vir a afastá-la, pelo que o mesmo se mostra válido
§ nestas situações a execução específica é impraticável – não
cabe ao tribunal, na sentença, substituir o terceiro ou o
cônjuge estranho ao contrato-promessa. Exemplos:
ð Hipótese da promessa de venda de coisa alheia ou de
bens imóveis por um dos cônjuges sem consentimento
do outro
ð Quando este se torne necessário
ð Respetivo suprimento judicial

o Assim, só resta à parte lesada o caminho indemnizatório

Ø A referida ilegitimidade pode apresentar-se como superveniente:

• Exemplo: promessa da compra e venda ou de oneração de certa coisa – o
promitente aliena, posteriormente a terceiro
o As consequências desta forma de violação dependem da existência ou
não de eficácia real:
a) Sem eficácia real à meros efeitos obrigacionais – a contraparte apenas tem
direito a indemnização pelos danos sofridos:

§ Calculada nos termos gerais, ou
§ Fixada previamente a título de sinal ou pena convencional –
arts 442º/2/3 e 811º

Eva Brás Pinho 147


b. Com eficácia real à Oponível ao terceiro adquirente, desde que se
encontre registada antes do registo do direito deste – art. 413º
§ A lei não conjuga a eficácia real do contrato-promessa com a
execução específica. A eficácia real acarreta necessariamente a
possibilidade coativa
ð Assim, existe direito de execução específica, não obstante
haver convenção expressa ou tácita das partes em contrário
e mesmo que o promitente remisso disponha da coisa a favor
de terceiro
Ø Uma disposição que afastasse a execução específica
estaria em contradição com a eficácia real

Têm legitimidade processual passiva:
• O promitente faltoso, com vista à execução específica do contrato-promessa
• O terceiro se obteve a posse da coisa, para revindicação desta
§ Devem evidentemente os dois ser demandados na mesma ação

6. Pacto de preferência

• Arts. 414º a 423º

ARTIGO 414º

(Noção)

O pacto de preferê ncia consiste na convençã o pela qual algué m assume a obrigaçã o
de dar preferê ncia a outrem na venda de determinada coisa.


• Pacto de Preferência vs. Contrato-Promessa:
§ Pacto de Preferência à a vinculação do promitente está sujeita
aos pressupostos mencionados abaixo (exemplo: arts. 1235º)

§ Contrato-Promessa à resulta para o promitente uma
verdadeira obrigação de realizar o negócio prometido

Eva Brás Pinho 148
7.1. Noção

• Figura diversa, próxima do contrato-promessa unilateral, também


denominado como pacto de prelação,
§ Consiste num acordo pelo qual alguém se obriga a dar preferência
a outrem na eventual conclusão futura de um determinado
contrato, caso, cumulativamente:
ð o promitente venha de facto a celebrá-lo
ð o beneficiário queira contratar em condições iguais às
que um terceiro aceita
• Importância prática – pacto de preempção:
§ importância prática especial a respeito da compra e
venda, mas pode referir-se a qualquer contrato oneroso em
que se tenha sentido a preferência:
§ Locação
§ Sociedade
§ Contrato constitutivo do direito de superfície
• Tendo esta importância prática, o nosso legislador, ao definir o pacto de
preferência, pensou sobretudo no que tem por:
o Objeto a venda – art. 414º
o Obrigação de dar preferência extensiva a todos os contratos com ela
compatíveis – art. 423º

• O pacto de preferência apresenta-se como:
A. Unilateral:
§ Só uma das partes se vincula,
§ O beneficiário permanece livre e exercer ou não o direito que lhe
cabe
B. Recíproco:
§ Exemplo: numa partilha se convenciona a preferência entre
coinvidentes, para a hipótese de algum deles alienar a sua parte

O promitente tem uma liberdade condicionada – pressupostos:

Eva Brás Pinho 149


• 1. O promitente fica adstrito a dar preferência a outrem na realização de
determinado contrato
• 2. Existência de um projeto de realização desse contrato comunicado ao
promissário.

7.2. Requisitos de forma e de substância

• Não existe preceito expresso que determine a subordinação do pacto de


preferência às disposições aplicáveis a contrato a que se refira,
§ Não cabe pensar-se numa ideia de equiparação idêntica à subjacente
do contrato-promessa
• O pacto de preferência submete-se ao regime geral dos contratos, com a
ressalva que se estabelece quanto à forma:
§ Art. 415º considera aplicável o art. 410º/2 para o contrato-
promessa
§ Porém, uma vez que no pacto de preferência só existe um
promitente, só a sua assinatura é necessária.

§ O direito e as obrigação de preferência são, em princípio,
intransmissíveis, entre vivos e por morte – art. 420º.
§ Contudo, esta natureza pessoal pode ser afastada:
ð por estipulação expressa das partes
ð consequência da própria natureza do contrato
PL e AV - “a transmissibilidade do direito de preferência pode resultar tacitamente
da própria natureza do contrato”

7.3. Exercício do direito de preferência

a) Esquema de funcionamento do direito de preferência – art. 416º


• Determina-se que o obrigado a dar preferência, quando pretenda realizar o
contrato à mesma submetido, deve transmitir ao titular do correspondente
direito

Eva Brás Pinho 150


a) O seu projeto negocial
b) As exatas cláusulas contratuais apresentadas a terceiro ou dele
recebidas
Ø Assim como a identidade deste, ou seja, todos os elementos
que se mostrem significativos para a formação da vontade
de exercer ou não a preferência

Ø Impõe-se a comunicação entre o projeto do contrato e das
cláusulas respetivas – exemplo: art. 1458º CPC
• Contudo, a lei dispensa a notificação judicial, podendo agir-se
extrajudicialmente
Ÿ É de utilização facultativa, mas não pode recorrer-se
à notificação judicial avulsa visto que a lei criou um
processo de jurisdição voluntária para esse efeito


b) Comunicação ao beneficiário

• Após esta, o beneficiário dispõe de oito dias para a declaração de preferência
• Divergência doutrinária sobre a identificação do 3º
• Pires de lima e Antunes varela
o quando há existe uma relação jurídica entre o preferente e o 3º deve a
identidade do terceiro ser revelada
o Ex: arrendamento ( eu posso não querer ser arrendatário de x senhorio)

• Prof oliveira ascensão

o à letra da lei
o nada diz sobre a necessidade de designar a identidade
o Questão de privacidade


• Prof MC e GT e HSA
o para haver transparência deve haver a comunicação de quem é a pessoas
o Ex: se existirem duas empresas concorrentes
o O professor Henrique entende que seja me que circunstância for, a
revelação da identidade do 3º deve ser sempre exigência de devida
comunicação pelos princípios da boa fé.

Eva Brás Pinho 151



Renúncia à houve uma comunicação corretamente efetuada e o preferente declara
que não ira exercer essa preferência

Renúncia antecipada

• Isto é nestas situações em que as pessoas dizem que não exercem o seu
direito de preferência
• no fundo fazendo extinguir o seu direito de preferê ncia
• mas sem que tenha havido uma comunicação correctamente efectuada,
ou que não tenha havido de todo comunicação.
• Em qualquer dos casos o que diz o Professor Almeida Costa é que há
que distinguir dois tipos :

1) Alcance genérico ou indiscriminado

o no fundo o titular da preferê ncia diz que sejam quais for as
condições para a realização que é objecto a preferência, ele
não vai exercer a preferência.

o Eu admitida relativamente aos direitos convencionais de
preferência, mesmo aqueles que tê m eficá cia real.

o Porem, já não é possível relativamente aos direitos legais de
preferência, porque aı́ entra um interesse publico.

2) Alcance concreto

o quer em relaçã o ao direito convencional de preferê ncia, quer em
relaçã o ao real é possível a renúncia de um concreto projecto de
negócio
o Não querendo isso dizer que se outro fosse o projecto o
renunciante não aceitasse.

Exemplo:

• A e B tem pacto de preferê ncia relativamente à venda de automó vel. A


pergunta a B se quer comprar o automó vel por 5 mil euros, B diz que nã o,
mas é titular de um direito de preferê ncia. Nã o houve comunicaçã o aqui, B
nã o manifestou nenhuma vontade relativamente ao seu direito de
preferê ncia, só demonstrou vontade de recusar a proposta contratual

• Se A disse “ se eu tiver C que quer comprar por 5 mil euros, você quer
comprar?” e B disser que nã o quer comprar nesses termos, como as coisas
acontecem ainda antes de uma comunicaçã o correctamente efectuada. B
está a fazer uma renú ncia antecipada a um projecto concreto de negó cio.

Eva Brás Pinho 152


Preciso ver no caso concreto se estamos perante uma comunicaçã o
correctamente efectuada ou se estamos perante a ausê ncia de uma
comunicaçã o ou mal efectuada.

• A prestaçã o bá sica que o promitente se encontra vinculado consiste em
apresentar ao beneficiá rio do direito de preferê ncia uma proposta de
contrato, nos termos indicados. A declaraçã o de preferê ncia assume o
significado de uma aceitaçã o. Pode, por isso, o contrato ficar desde logo
concluı́do se as partes manifestam a vontade de uma vinculaçã o definitiva,
com observâ ncia da forma legal para esse contrato necessá ria. Quando
assim nã o aconteça, a notificaçã o e a declaraçã o de preferê ncia
consubstanciam um contrato promessa, desde que satisfeita a forma
exigida.




Exceções:

1. Quando do próprio pacto resulta outro prazo

2. Ao notificá-lo, o obrigado lhe conceda um prazo mais longo do que o
convencionado:
• Pode exercer-se o direito à preferência ainda que o seu titular tenha
conhecimento do projeto do negócio através de um meio diverso da
comunicação imposta pela lei

3. Quando é definido por lei a título supletivo
• Não se efetuando a declaração de preferência dentro do prazo devido à
o direito caduca

• Art. 416º/2 àresulta de uma atitude passiva do titular do direito
de preferência, que, em face de uma comunicação correta do
projeto do contrato com terceiro, nada declara do prazo devido –
renúncia tácita
ð Galvão Telles
Ø Tal caducidade tem de entender-se referida a um
determinado projeto de negócio.
Eva Brás Pinho 153

Ø Se este se frustra, renasce o direito de
preferência relativamente a outro que o
obrigado a ela pretenda realizar.

Ø Salienta-se que a declaração de preferência
deve ser recebida pelo obrigado à
preferência e não apenas expedita pelo seu
beneficiário, dentro do prazo respetivo


§ A prestação básica a que o promitente se encontra
vinculado consiste em:

ð Apresentar ao beneficiário do direito de preferência
uma proposta de contrato, nos termos indicados
ð O caráter assume a comunicação prevista no art.
416º - embora o prazo, via de regra, seja de oito dias e
não de cinco – art. 228º

§ Declaração de preferência à aceitação

• Observância da forma legal
o O contrato pode ficar desde logo concluído, se as partes manifestarem
a vontade de uma vinculação definitiva

• Inobservância da forma legal
o Neste caso, a notificação e a declaração de preferência
consubstanciam um contrato-promessa, desde que satisfeita a forma
exigida
o Contudo, mesmo fora deste regime de aplicação, o obrigado à
preferência e o preferente ficam vinculados à celebração do negócio

Eva Brás Pinho 154


§ O que se torne faltoso responde pelos danos causados ao outro
e, no caso do preferente, verifica-se também a caducidade do
seu direito

Se houvesse notificação judicial, observar-se-á a modalidade da execução
específica:
• Art. 1458º CPC
• Nas restantes hipóteses, aplicam-se as normas que regulam o
cumprimento das obrigações sem prazo certo – art. 777º

ARTIGO 417º
(Venda da coisa juntamente com outras)

1. Se o obrigado quiser vender a coisa juntamente com outra ou outras, por um


preço global, pode o direito ser exercido em relaçã o à quela pelo preço que
proporcionalmente lhe for atribuı́do, sendo lı́cito, poré m, ao obrigado exigir que a
preferê ncia abranja todas as restantes, se estas nã o forem separá veis sem prejuı́zo
apreciá vel.

2. O disposto no nú mero anterior é aplicá vel ao caso de o direito de preferência


ter eficácia real e a coisa ter sido vendida a terceiro juntamente com outra ou
outras.


• Neste caso, o beneficiário da preferência pode restringi-la à coisa sobre
o seu direito incide, com redução proporcional do preço

• É lícito ao obrigado exigir que a preferência abranja todas as restantes,
desde que a separação lhe acarrete juízo apreciável – art. 417º/1
o O regime indicado subsiste quando o direito de preferência tenha
eficácia erga onmes e se reúnam os pressupostos (art. 417º/2):
1) O direito de preferência ter eficácia real
+
2) A coisa ter sido vendida a terceiro juntamente com
outra ou outras

4. Prestação acessória – art. 418º
Eva Brás Pinho 155
ARTIGO 418º

(Prestação acessória)

1. Se o obrigado receber de terceiro a promessa de uma prestação acessória


que o titular do direito de preferência não possa satisfazer, será essa
prestaçã o compensada em dinheiro; nã o sendo avaliá vel em dinheiro, é excluı́da
a preferê ncia, salvo se for lı́cito presumir que, mesmo sem a prestaçã o estipulada,
a venda nã o deixaria de ser efectuada, ou que a prestaçã o foi convencionada para
afastar a preferê ncia.

2. Se a prestaçã o acessó ria tiver sido convencionada para afastar a preferê ncia, o
preferente nã o é obrigado a satisfazê -la, mesmo que ela seja avaliá vel em dinheiro.


• Hipótese do obrigado à preferência receber do terceiro que deseja a coisa a
promessa de uma prestação acessória que o titular da preferência não pode
satisfazer (ex: prestação de facto)
o Se tiver sido convencionada de forma fraudulenta apenas para
afastar a preferência, considera-se irrelevante – art. 418º
o Compensar-se-á em dinheiro
o Caso não é suscetível de avaliação pecuniária à exclui-se a
preferência.
o Exceto se:
§ Se mostre lícito presumir que, mesmo sem a prestação
estipulada, se não deixaria de efetuar o contrato
§ Se haja estabelecido essa prestação somente como obstáculo à
preferência

5. Unidade/Pluralidade de preferentes

ARTIGO 419º

(Pluralidade de titulares)

1. Pertencendo simultaneamente a vá rios titulares, o direito de preferê ncia só


pode ser exercido por todos em conjunto; mas, se o direito se extinguir em relaçã o
a algum deles, ou algum declarar que nã o o quer exercer, acresce o seu direito aos
restantes.

Eva Brás Pinho 156


2. Se o direito pertencer a mais de um titular, mas houver de ser exercido apenas
por um deles, na falta de designaçã o abrir-se-á licitaçã o entre todos, revertendo o
excesso para o alienante


1. Pluralidade de preferentes à vários titulares
o Art. 419º/1 - Só pode ser exercida por todos em conjunto,
acrescendo aos outros o direito que se extinga quanto a algum deles ou
que algum não queira exercer
o Direito atribuído simultaneamente a diversas pessoas e exercido por
todos em conjunto
2. Unidade de preferentes à exercida apenas por um deles
• Art. 419º/2 – Procede-se a licitação entre todos, ficando ao alienante o
excesso.
• Exceto quando:
o Se tenha fixado uma ordem de preferentes ou
o Um outro critério para a sua escolha (ex: indicação de terceiros)

• Direito atribuído simultaneamente a diversas pessoas, mas os
contitulares encontram-se numa posição alternativa

7.4. Preferência legal

Preferência convencional vs preferência legal:



1. Preferência Convencional ( direitos de preferência convencional)
• Goza, em princípio, de um mero direito de crédito à conduta do obrigado
à preferência
• Verdadeiro pacto de preferência
• cujo inadimplemento dá apenas lugar a uma indemnização
• eficácia interpartes à obrigacional
o pode contudo ser-lhe atribuída eficácia real e ser portanto oponível a
terceiros

Eva Brás Pinho 157


• Pode existir renúncia antecipada tanto de alcance genérico e indiscriminado
como de um especifico projeto de venda



2. Preferência Legal
• Resulta diretamente da lei
• Tem carácter real e é oponível a terceiros (erga omnes)
• Não utilizar a expressão “ pacto de preferência”
• Tem prevalência em relação aos direitos de preferência convencional (
mesmo que tenha eficácia real) à 422º
• Não é possível uma renúncia antecipada de alcance genérico e
indiscriminado
• Desfruta de um direito potestativo que lhe permitirá fazer seu o negócio
realizado em violação da preferência – art. 1410º
o Exemplos: Arts. 1380º, 1381º, 1409º, 1410º, 1555º, 2130º e 1112º/4
o 1409º
§ Compropriedade ( há quotas)
§ Todos eles têm direito a “ tudo” e não a partes, portanto avalia-
se pela percentagem das quotas
§ Se um dos comproprietários quisesse vender a sua quota, os
restantes comproprietários teriam preferência caso a
quisessem comprar em relação aos demais possíveis
compradores interessados

Ø Esta distinção é importante logo desde o seu surgimento
Especificidade. à direito de preferência do arrendatário

• Exemplo: A é proprietá rio de uma casa que arrendou a B, e depois pretende


vender essa casa a C.
• Vai dar o direito ao B de preferir, se nã o exercer a sua preferê ncia, nem por
isso quando a coisa vier a ser vendida, o arrendamento deixa de subsistir.
• 1091º é o artigo que estabelece o direito de preferê ncia do arrendatá rio.
• No np4 – há uma remissã o para os artigos 416º a 418º e també m 1410º.

Eva Brás Pinho 158


• Manda aplicar a este direito do arrendatá rio, estes regimes.

Direito de preferência legal à Servidões prediais à art 1555º à remissão para


o 1410º

artigo 1535º Direito de superfície

• consiste na faculdade de plantar ou edificar em solo alheio, ao fim de


determinado perı́odo, esse direito cessa e o proprietá rio do solo vai
adquirir a propriedade do edifı́cio, sem prejuı́zo de uma compensaçã o seja
devida por aplicaçã o das regras do enriquecimento sem causa.

• Eu um direito real menor, é uma oneraçã o tiramos isso do artigo 1535º
porque o direito de preferência não existe em beneficio de ambos, não
existe em beneficio do proprietário do solo e do superficiário.

o Só um deles, só uma das partes é que tem o direito de preferê ncia,
que é o proprietá rio do solo.
nº2 do artigo 1535º
o remete outra vez para o 1410, a acçã o de preferê ncia está nesta
norma como está nas tantas outras que estabelecem direitos legais
preferê ncia.

• Quem tem esse direito de preferencia é o proprietário do solo, o que
significa que o direito de superfı́cie nã o deixa de ser uma oneraçã o ao
direito de propriedade. Quando se faz isto, está se a querer fazer extinguir o
direito de superfı́cie.

• Obviamente que o superficiá rio pode vender o edifı́cio que plantou em
superfı́cie tem o direito de construir e manter o edifı́cio num solo que
pertence a X por 99 anos, só podemos vender isso!

o Mas podemos fazê -lo por causa do artigo 1534º que diz que os
direitos são transmissíveis, mas ao transmitir o meu direito de
superfície temos o artigo 1535º que permite que o meu direito
de superfície cesse.

• Se eu transmitir o direito de superfı́cie que tenho a X, o proprietário vai
ter o direito de exercer a sua preferencia nesta alienação e se o fizer,
vai ocorrer a expansão do direito de propriedade, adquire as faculdades
de plenitude que gozava antes da constituiçã o de um direito de superfı́cie.

Eva Brás Pinho 159



7.5. Eficácia real do pacto de preferência

ARTIGO 421º

(Eficácia real)

1. O direito de preferê ncia pode, por convençã o das partes, gozar de eficá cia real
se, respeitando a bens imó veis, ou a mó veis sujeitos a registo, forem observados os
requisitos de forma e de publicidade exigidos no artigo 413o.

2. Eu aplicá vel neste caso, com as necessá rias adaptaçõ es, o disposto no artigo 141ºº



• Atribuição de eficácia real quando:
o Recaia sobre bens imóveis ou móveis registáveis, mediante a
observância dos requisitos de forma e de publicidade estabelecidos para
o contrato-promessa – art. 421º/1
o Aplica-se com as necessárias adaptações – regime das
preferências legais – art. 421º/1

• O direito convencional de preferência mesmo que dotado de eficácia
real nunca prevalece contra os direitos legais de preferência
o fundados no interesse de ordem pública à art. 422º
o A referida restrição imposta aos preferentes convencionais cujos direitos
tenham mera eficácia obrigacional visa impedir o prejuízo dos
credores
o A sua admissão nesses casos seria suscetível de afastar
eventuais interessados na aquisição dos bens, e, inclusive,
dispensar o preferente, sem adequado motivo, da competição
direta com os vários candidatos a tal aquisição.

6.6. Violação da preferência. Consequências


Eva Brás Pinho 160



• Pode verificar-se que o obrigado à preferência aliene coisas a terceiro,
sem que tenha sido dado conhecimento ao preferente – art. 416º

§ As consequências da violação da preferência são diversas,
consoante haja eficácia real ou não – Há?



1. Sim – é-lhe lícito, através do exercício da ação de preferência, fazê-lo
prevalecer sobre o negócio realizado com terceiro

o Ação de preferência art 1410º

§ Possibilidade do titular da preferência substituir-se ao
terceiro adquirente, adquirindo a coisa que foi alienada
nas conduções em que esse terceiro aquiriu

o Aplica-se as adaptações necessárias no art. 1410º para a
preferência legal – art. 421º/2

2. Não – só existe a possibilidade de o preferente obter do promitente
faltoso uma indemnização dos danos que resultarem do incumprimento do
pacto de preferência


Contra quem deve ser proposta a ação de preferência? à problema não
pacífico

1. Antunes Varela e Menezes Leitão - Art. 1410º/1 – opinião baseada na letra e
na história da lei

• Contra o obrigado à preferência e terceiro adquirente
• refere-se à “citação dos réus” – não apenas de um
• Sustenta que a legitimidade processual passiva pertence ao promitente
faltoso e ao terceiro. Entre eles se estabelece um caso de litisconsórcio
necessário passivo
• No fundo a ação de preferência é intentada aos dois em conjunto
• O Professor Henrique Antunes considera que esta é a melhor posição.

2. Almeida Costa
• A proposta deve ser feita contra quem está na posse da coisa
• de acordo com os princípios se apresenta a orientação segundo a qual
deve apenas ser demandado quem se encontre na posse da coisa,
via de regra, só o terceiro adquirento

• Exceto se o preferente deseja também contra o faltoso
§ Exemplo: com vista a obter uma indemnização pelos danos
sofridos ou uma sentença declaratória da simulação do preço

Eva Brás Pinho 161


• Esta orientação era praticamente unanime no antigo código civil
pela doutrina e jurisprudência


Ø Prazo da proposição ar:t 1410º

• Artigo pensado para a compropriedade mas que vai ser aplicado à
violação de qualquer direito legal de preferência

• A ação é de 6 meses, contados da data em que o preferente conheça os
elementos essenciais da alienação,
o Para requerer que lhe seja atribuída a quota alienada

• 15 dias seguintes à propositura da ação
§ Impõe-se ao demandante o depósito do que o terceiro haja
despendido, a fim que o mesmo seja reembolsado, caso a
ação proceda

• Nota: 14010º nº3 à preocupação do legislador de graduar os
direitos de preferência

Ø Em termos de simulação do preço, em que o preço declarado é superior ao
preço real, a preferência vai-se exercer por este último – arts. 240º/2 e 286º

Questão de saber se o titular da preferência pode exercer o seu direito de
preferência pelo preço declarado, correspondente àquilo que foi declarado pelas
partes no negócio simulado, e não ter de pagar aquilo que é o preço real.

1. Professores HSA, AV e ML

• Afigura-se possível que o terceiro possa exercer a preferência pelo
preço declarado, que é o preço inferior ao preço real

• o problema prende-se com a interpretação do art. 243º/1

o quanto à inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé
o regime pensado para evitar que o terceiro seja prejudicado ,
porque esse iria sempre exercer a sua preferência pelo preço
real
o é no fundo, permitir que ao nã o poderem opor a simulaçã o, o
terceiro nã o perca uma vantagem que tem e que deriva do facto do
preço declarado ter sido inferior à quele que é o preço real.

o Portanto este artigo pode ser utilizado não apenas para os casos
em que o terceiro é prejudicado, mas também para os casos em
que o terceiro obteria uma vantagem

Eva Brás Pinho 162


o vê m no fundo dizer que a lei acaba por vedar aos simuladores,
exigir que a preferê ncia seja exercida com base no preço real.

o Portanto, o titular da preferência vai poder exercer a sua


preferência porque a simulação não lhe pode ser oposta,
porque é um terceiro de boa-fé , pelo valor declarado que é o preço
inferior.


• Isto quer dizer, se impede que seja arguida pelos simuladores contra
terceiros de boa fé prejudicados com a invalidação ou também contra os
que tão-só deixam de lucrar


2. AC, MC, CF
• A solução da preferência revela-se no preço real, salvo havendo
disposição especial em contrário
• Não faz sentido que um terceiro tenha um enriquecimento ilegítimo
• é verdade que os simuladores declararam um preço inferior ao preço
real, mas també m se na verdade o preço real é superior e foi pago,
não faz sentido que o titular da preferência pudesse exercer a
acção de preferência pelo preço que foi declarado, mas nã o
corresponde ao preço real.



Contrato-Promessa vs. Pacto Preferência
• Contrato-Promessa – também dotado de eficácia real (art. 413º)

• Na promessa da alienação, se o promitente não cumpre e transmite a
coisa a terceiro, o beneficiário da promessa aproveita a ineficácia
desse ato para conseguir a transmissão da coisa nos termos prometidos

2. Pacto Preferência – erga onmes
• Se o obrigado, a dar preferência aliena a coisa a um terceiro sem
observar o disposto no art. 416º, o preferente pode substituir-se ou sub-
rogar-se ao adquirente
o Exercendo o seu direito potestativo de ficar com a coisa em igualdade
de condições.

Execução especifica vs pacto de preferência

Execução especifica à vou buscar nos termos em que eu acordei; adquiro nos
termos em que foram acordados

Eva Brás Pinho 163


Ação de preferência à vou buscar nos termos em que o obrigado contratou com
o terceiro



Ø Por esta diversidade que reside o motivo que explica que não pode aplicar-se
o mecanismo da ação de preferência regulada no art. 1410º ao contrato-
promessa.

II – Negócios unilaterais



1. Noção e sua admissibilidade como fonte de obrigações


É uma fonte das obrigações. Existe apenas uma manifestação de vontade ou,
havendo várias declarações de vontade, todas elas têm o mesmo conteúdo, são
concorrentes ou paralelas.

Deve-se aceitar que as obrigações possam ser constituídas por negócio
jurídico unilateral?
4 objeções:

1. O direito das obrigações é marcado pela inter-subjetividade.

o A inter-subjetividade é um argumento contrário à admissibilidade dos
negócios jurídicos unilaterais como sendo uma fonte de obrigações.
o Inter subjetividade acontece depois da obrigação ser constituída, e aqui
estamos a tratar um panorama anterior que é a de saber se a obrigação
pode ser constituída pela vontade de apenas uma pesoa



2. “Invito beneficium non datur”: a constituição de um direito de crédito
depende do acordo do seu beneficiário, do seu titular.

3. Se admitirmos o negócio jurídico unilateral com fonte de obrigações, podemos
estar a criar um risco de vinculações que são assumidas
precipitadamente

Eva Brás Pinho 164



o Basta emitir uma declaração de vontade para se estar obrigado.

4. Pode haver dificuldades probatórias

HSA à destas 4 razões, aquela que merece ser mais instante ou influenciadora
deve ser a ideia de que o NJ unilateral pode induzir avinculações precipitadamente
assumidas
Ex: doação
A doação é tratada como um contrato, o objetivo do legislador é evitar que a
pessoa se precipite e por isso é que esta depende da aceitação da outra parte

A simples circunstância de eu saber que a minha proposta vai ter de ser aceite pelo
outro faz com que eu também pense 2 vezes naquilo que vou transmitir e isto
traduz a lógica do principio do contrato

Contrato a favor de terceiro à exemplo em que nasce um crédito na esfera
jurídica de alguém sem que ele tenha de aceitar, ainda que possa rejeitar


Art 457º à Princípio da tipicidade

• Só são fonte de obrigações os negócios jurídicos unilaterais que estiverem
tipificados na lei
• O testamento não é um exemplo porque so surje com a morte do testador,
logo não lhe gera obrigações
• Razões de ser deste princípio:

1) A regra no nosso direito é de que o direito de cré dito se constitui com
acordo do seu titular, no entanto a este argumento podemos responder
com o exemplo do contrato a favor de terceiro

2) A lei deve evitar a possibilidade de vinculações que sejam
assumidas de forma precipitada, e por isso o legislador nã o deve
permitir regimes que dê em possibilidade de algué m se vincular de
forma precipitada,


• 4 negocios tipificados :SABER ESTES 4

o Promessa Pública à art 459º e segs
§ Ex: perdi o meu carro e ofereço 500€ num jornal para quem o
encontrar.

o Concurso Público – 463º
§ Tem de haver admissão de concorrentes + seleção ( escolha)
+ concessão do prémio ( escolher qem ganha)
§ Por isso é que tem de haver prazo para os concorrentes

Eva Brás Pinho 165


o Doação pura feita a incapaz à 951º/2
§ Doação livre de encargos

o Ato entre vivos de constituição de uma fundação à 185º nº2
§ “ torna-se irrevogável”

NÃO USAR O ART 458º COMO ARGUMENTO NESTE ASSUNTO, TRATA NEGOCIOS
JURIDICOS UNILATERAIS MAS QUE NÃO SÃO FONTE DE OOBRIGAÇÕES
A obrigação nasce da relação fundamental, mas se essa relação fundamental é
destruída ou é ineficaz, então a obrigação cai

2. Modalidades

• 4 negocios tipificados :
• SABER ESTES 4
o Promessa Pública à art 459º e segs
§ Ex: perdi o meu carro e ofereço 500€ num jornal para quem o
encontrar.

o Concurso Público – 463º
§ Tem de haver admissão de concorrentes + seleção ( escolha)
+ concessão do prémio ( escolher qem ganha)
§ Por isso é que tem de haver prazo para os concorrentes

o Doação pura feita a incapaz à 951º/2
§ Doação livre de encargos
§ receito diz que as doaçõ es deste tipo nã o requerem aceitaçã o, ou
seja, estabelece que a doaçã o ao produzir efeitos
independemente da aceitaçã o produz efeitos.



o Ato entre vivos de constituição de uma fundação à 185º nº2
§ “ torna-se irrevogável”

2.1. Promessa de cumprimento e reconhecimento de dívida

ARTIGO 458º
(Promessa de cumprimento e reconhecimento de dívida)

1. Se algué m, por simples declaraçã o unilateral, prometer uma prestaçã o ou


reconhecer uma dı́vida, sem indicaçã o da respectiva causa, fica o credor
dispensado de provar a relaçã o fundamental, cuja existê ncia se presume até prova
em contrá rio.

Eva Brás Pinho 166


2. A promessa ou reconhecimento deve, poré m, constar de documento escrito, se
outras formalidades nã o forem exigidas para a prova da relaçã o fundamental.

- formalidades ad substancia, uma questão e validade

• . Ainda que possam ter um efeito prá tico idê ntico ou igual uma coisa é
prometer cumprir outra é reconhecer a divida.

• Quer a promessa de cumprimento quer o reconhecimento de dı́vida sã o


negó cios jurı́dicos unilaterais sem dú vida, mas não são fontes de
obrigações,

o como sendo negó cios que já pressupõ e uma obrigaçã o pré -existente,
ou seja, nã o geram novas obrigaçõ es, é isto que esta
inequivocamente expresso no artigo 458º

o Reconhecer uma dı́vida ou prometer cumprir não é mais do que


reconhecer ou prometer cumprir uma obrigação que já existia
anteriormente.

• Faz nascer uma presunção de causa, causa essa que é a relação
fundamental
• Não constitui obrigação mas tem o efeito de inverter o ónus da prova, ou
seja
o não tem que ser o credor a provara existência da divida, mas
sim o devedora provar que esse divida não existe ou é ineficaz

• O reconhecimento deve porem constar de documento escrito, se


outras formalidades não forem exigida para a prova da relação fundamental

o Contudo, se. Aprova da relação fundamental depender de
formalidade maior, deverá também observar-se na promessa ou
reconhecimento

2.2. Promessa pública

ARTIGO 459º

(Promessa pública)

1. Aquele que, mediante anú ncio pú blico, prometer uma prestaçã o a quem se
encontre em determinada situaçã o ou pratique certo facto, positivo ou negativo,
fica vinculado desde logo à promessa.

2. Na falta de declaraçã o em contrá rio, o promitente fica obrigado mesmo em


relaçã o à queles que se encontrem na situaçã o prevista ou tenham praticado o facto
sem atender à promessa ou na ignorâ ncia dela.
Eva Brás Pinho 167



2.3. Concurso público

ARTIGO 463º

(Concursos públicos)

1. A oferta da prestaçã o como pré mio de um concurso só é vá lida quando se fixar
no anú ncio pú blico o prazo para a apresentaçã o dos concorrentes.

2. A decisã o sobre a admissã o dos concorrentes ou a concessã o do pré mio a


qualquer deles pertence exclusivamente à s pessoas designadas no anú ncio ou, se
nã o houver designaçã o, ao promitente.

Elementos do concurso público:

• Existir um processo de candidatura


• O prémio ser atribuido por decisão de um júri ou na falta deste, por decisão
do promitente

463º nº1

• a oferta da prestação só é válida desde que se fixe no anúncio público o


prazo para a apresentação de concorrentes
• objetivo de impedir que o promitente adie a sua prestação sob pretexto de
esperar que se apresentem mais candidatos

463º nº2

• Interpretar de forma restritiva


• não se pode dizer que pelo facto de ser um concurso pú blico e de haver um
Jú ri que foi designado para a atribuiçã o do pré mio que a decisão desse
Júri não é sindicável pelos Tribunais.

o nã o parece adequado o sentido tomado por alguma Jurisprudê ncia


no sentido de resolver estes casos dizendo que o artigo 463º nº2
atribui competê ncia exclusiva ao Jú ri e por isso a questã o está
decidida

Eva Brás Pinho 168


o Quando os critérios de decisão forem objetivos, poderá o tribunal
envolver-se, se os critérios de valoração são artísticos,musicais, etc e
portanto são subjetivos, não poderá o tribunal substituir-se ao júri

o em caso de dúvida preserva-se a autonomia do júri, mas o artigo não


poderia validar uma decisão do júri que estivesse objetivamente
errad

III Gestão de negócios


1. Noção e enquadramento geral do instituto

ARTIGO 464º (Noção)

Dá -se a gestã o de negó cios, quando uma pessoa assume a direcçã o de negó cio
alheio no interesse e por conta do respectivo dono, sem para tal estar autorizada.

• Gestor à pessoa que interfere no negócio


• Dono do negócio à titular do negócio

• Esta figura resulta de duas coisas:


1. Necessidade de salvaguardar o princípio da ordem pública
o Que condena as intromissões na esfera pessoal e patrimonial
alheia

2. Na vida das pessoas ocorre muitas vezes situações de solidariedade
humana e que leva a uma interferência espontânea nos negócios de
outrem
o A fim de evitar um dano irremediável ao titular do respetivo
direito ou obrigação

• Assim, tem de haver uma conciliação de interesses para que:

o O gestor não resulte prejudicado pelas consequências da sua
intervenção espontânea e bem intencionada

o Ao mesmo tempo que o dono do negócio possa reagir contra as
intromissões estranhas que sejam supérfluas ou dolosas, ou em
todo o caso prejudiciais aos seus interesses

Eva Brás Pinho 169


2. Requisitos à saber de cor

1) Direção de negócio alheio



• Alienidade do negócio à que se trate de um ou mais negócios de outrem
o “ negócio” não tem de ser interpretado no sentido técnico-jurídico,
mas sim em sentido amplo de “ assunto ou interesse”

• A intervenção pode traduzir-se na prática:
o Atos puros atos materiais à ex: colheita de frutos, ou reparação de
um edifício

o Atos jurídicos à verdadeiros negócios jurídicos ou simples atos
jurídicos; Aqui integram-se atos gestórios de administração e de
disposição.

• Limites de gestão
o que o negócio se apresente suscetível de ser realizado por
pessoa diferente do seu dono ou titular
o que não contrarie uma proibição legal, a ordem pública ou os bons
costumes ( 280º)

o Excluem-se à os atos de natureza pessoal como a adoção, o
divórcio, o testamento etc

2) Atuação no interesse e por conta do dono do negócio

• Intencionalidade
o O gestor tenha o propósito e a consciência de gerir um negócio
alheio + atuar no interesse e por conta de outrem
o Agir para outrem, uma ação para que os efeitos do meu
comportamento se produzam na esfera jurídica de um terceiro que é
o dono do negócio à intencionalidade oara i prof AC

• Subsiste o fundamento do instituto, se o gestor se encontra em erro sobre a
pessoa do dono do negócio
o Os direitos e obrigações emergentes da gestão cabem ao que
efetivamente tenha essa qualidade



• Hipótese à 2 negócios à 1 negócio alheio e outro próprio
o Não deixa de haver gestão de negócios quanto ao primeiro
o Exemplo à A, vizinho de B, fazer obras em casa deste a fim de evitar
que ela, ruindo, danifique a sua própria casa

Eva Brás Pinho 170



§ Não existirá ou existirá gestão de negócios, quanto ao interesse
de B, conforme A efetue as reparações apenas para defesa do seu
interesse ou no interesse de ambos

§ Do ponto de vista prático pode ser mais difícil de averiguar se a
atividade do agente satisfaz simultaneamente o seu interesse e o
de terceiro, mas aquele a realizasse mesmo que procurasse tão-
só a proteção do seu interesse


• Quando alguém gere um negócio alheio suponde que ele é próprio

o Não atua para outrem mas sim para si
o Ex: A vende um objeto de B, ou faz reparações um prédio deste,
convencido erroneamente de que se trata de coisas suas

o Neste caso, as regras de gestão só vigoram se houver aprovação
do dono do negócio ( art 472º nº2)

o No caso de ignorância culposa e de resultarem da gestão prejuízos
para o dono do negócio, este tem direito a indemnização de
acordo com a responsabilidade civil ( 472º nº2)




• Gestão de negócios imprópria à tem lugar quando alguém gere um
negócio alheio como seu, sabendo que é alheio

o Falta a intenção de agir para outrem
o Prof AC à Aplicam-se as normas de responsabilidade civil e
possivelmente criminais; contudo, para aplicar a responsabilidade
civil tem de haver dano.

o Ex: A vende algo que pertence a B para ficar com o respetivo preço
o Ex: eu quero vender um sabonete e utilizo fotografias da rita pereira
sem lhe pedir autorização e faço 1milhao de lucro. É injusto porque
estou a usar a imagem da atriz que se calhar me cobrava 50000
euros para eu utilizar a imagem

o Prof Júlio Gomes e prof Menezes leitão à entendem que a
responsabilidade civil não serve, o enriquecimento sem causa
também noa, mas que podemos aplicar o art 472º por maioria de
razão

§ Aplicando as regras da gestão de negócios, podemos
aplicar o art 465º e)

Eva Brás Pinho 171


§O professor HSA entende que é confuso o dono do
negocio ter de aprovar a gestão para aplicar o 465º e ser
pago
ð Até porque através da aprovação da gestão por parte do
ator, a empresa ganha uma seria de possibilidades e
benefícios que não tinha

o O professor HSA defende a possibilidade de uma indemnização
por dano não patrimonial que é a ofensa ao sentido de justiça
por alguém obter lucro a custa de outrem



3) Falta de autorização

• Não deve haver entre o agente e o dono do negócio uma relação
jurídica convencional ou legal que autorize ou imponha a intromissão
o Ex: contrato de prestação de serviços

• Exige-se que o gestor não tenha o direito ou a obrigação de assumir a
direção do negócio alheio


4) O problema da necessidade ou utilidade

• O gestor deve conformar-se com o interesse e a vontade, real ou
presumível, do dono do negócio ( REFERIR SEMRPE O INTERESSE E
VONTADE)

o Este pressuposto só é indispensável para que nasçam da gestão
determinadas obrigações a cargo do dono do negócios à art 468º
o Interesse não é o mesmo que a vontade

o Ex: uma casa que precisa de ser pintada e o dono não tem dinheiro
para a pintar naquele ano


o Se um vizinho pinta, a ação foi de acordo com o interesse porque o
dono queria que a casa fosse pintada, mas não é de acordo com a
vontade porque não tendo dinheiro, não tinha efetivamente vontade

• Mesmo que a atuação do gestor não tenha sido necessária ou nem mesmo
utilmente iniciada, de acordo com o interesse e a vontade real ou
presumível do dono negócio, sempre decorrem dela efeitos próprios da
gestão à art 666º
• O professor Almeida Costa questiona se este requisito é mesmo
necessário uma vez que pode ser uma gestão de negócios irregular quando
o gestor não atua de forma correspondente ao interesse do dono do negócio
o Para ele o termo “interesse” do 464º não é o mesmo do 465º/a)

Eva Brás Pinho 172


§ 464º - significa que que a pessoa esteja a agir na consciência
de que os seus atos estão a entrar na esfera jurídica de outrem
§ 465º/a) – significa necessidade ou utilidade
ð Preenchido: gestão regular
ð Não preenchido: gestão irregular


• Prof Menezes Leitão à só há gestão de negócios quando pelo menos no
inicio a ação do gestor coincida inicialmente com a vontade real ou
presumível do dono


Para alguns professores, como por exemplo Menezes Leitão, este
último é requisito e sem ele não estamos perante uma verdadeira
gestão de negócios
Para Almeida da Costa, basta que os 3 primeiros estejam preenchidos
para estarmos perante uma gestão de negócios e o preenchimento do
último só vai servir para distinguir se estamos ou não perante uma
gestão regular.
Ø Estabelecer a diferença entre relações internas ou externas

3. Institutos afins
4. Relações entre o gestor e o dono do negócio

Ø Duas características da gestão:


a. Responsabilidade à arts 466º, 467º, 472º
b. Gratuitidade à art 470º

5. Obrigações do gestor

ARTIGO 465º

(Deveres do gestor)

O gestor deve:

a) Conformar-se com o interesse e a vontade, real ou presumível, do dono do


negócio, sempre que esta nã o seja contrá ria à lei ou à ordem pú blica, ou
ofensiva dos bons costumes;

• O interesse e a vontade presumível serão apreciados segundo critérios
subjetivos
• Regra à exigência da conformidade da gestão à vontade do dono do
negócio
o Exceção à admite-se que em algumas situações o gestor se afaste
dessa vontade

Eva Brás Pinho 173


b) Avisar o dono do negócio, logo que seja possı́vel, de que assumiu a gestão;
c) Prestar contas, findo o negó cio ou interrompida a gestã o, ou quando o dono as
exigir;

d) Prestar a este todas as informações relativas à gestão;

e) Entregar-lhe tudo o que tenha recebido de terceiros no exercı́cio da gestã o ou o


saldo das respe0tivas contas, com os juros legais, relativamente à s quantias em
dinheiro, a partir do momento em que a entrega haja de ser efectuada

ARTIGO 466º

(Responsabilidade do gestor)

1. O gestor responde perante o dono do negó cio, tanto pelos danos a que der
causa, por culpa sua, no exercı́cio da gestã o, como por aqueles que causar com
a injustificada interrupçã o dela.

• O gestor deve prosseguir a gestão inciaida, a qual só pode ser interrompida
por justa causa ou determinação do “ dominus”

2. Considera-se culposa a atuaçã o do gestor, quando ele agir em desconformidade


com o interesse ou a vontade, real ou presumı́vel, do dono do negó cio.

• O gestor responde perante o dono do negócio


o Quer pelos prejuízos que culposamente causar no exercício da
gestão
o Quer pelos prejuízos que, uma vez iniciada a atividade gestória,
ocasione com a injustificada interrupção dela

• O gestor deve tomar como ponto de referência aquilo que o dono
negócio faria nas circunstâncias

• Considera-se culposa a atuação do gestor que não se conforme com o
interesse e a vontade, real ou presumível, do dono do negócio

• Art 467º à Solidariedade dos gestores

o Dois ou mais gestores que tenham agido conjuntamente, a sua
responsabilidade será solidária
o Ação conjunta à ação dos gestores que coordenarem a intervenção
nos mesmos negócios

• Um incapaz pode validamente gerir um negócio alheio à art 488º e 489º

6. Obrigações do dono do negócio

Eva Brás Pinho 174


ARTIGO 468º

(Obrigações do dono do negócio)

1. Se a gestã o tiver sido exercida em conformidade com o interesse e a vontade,


real ou presumı́vel, do dono do negó cio, é este obrigado a reembolsar o gestor
das despesas que ele fundadamente tenha considerado indispensáveis,
com juros legais a contar do momento em que foram feitas, e a indemnizá -lo
do prejuı́zo que haja sofrido.

• A lei não exige uma efetiva indispensabilidade das despesa, basta que o
gestor fundadamente as tenha considerado como tais

• Quando há pluralidade de donos do negócio, estes não respondem
solidariamente para com o gestor

2. Se a gestã o nã o foi exercida nos termos do nú mero anterior, o dono do negó cio
responde apenas segundo as regras do enriquecimento sem causa, com
ressalva do disposto no artigo seguinte.

Art 470º nº1 à Princípio da gratuitidade

• Regra à a gestão de negócios não confere, em princípio, direito a


qualquer remuneração
o Contudo, o “ dominus” é obrigado a remunerar o gestor, sempre que
a gestão corresponda a uma atividade profissional deste.
§ Aplica-se o art 1158º nº2
§ Este sistema de gestão mista abrange o negócio alheio e
simultaneamente a empresa/negócio do gestor
§ Incluem-se advogados, médicos, solicitadores etc

Ø Quando o dono do negócio não aprovar a gestão e ela não tiver sido exercida
nos termos do 465º a), o “ dominus” responde de harmonia com as regras do
enriquecimento sem causa

7. Apreciação da culpa do gestor



Questão de saber se:

a) Professor Galvão telles
• A culpa do gestor aprecia-se em abstrato segundo o critério do homem
médio

b) Professor Antunes Varela e Ribeiro Faria
• Ou concreto atendendo a como ele atua na condução dos seus próprios
negócios?

Eva Brás Pinho 175


• Critério mais desresponsabilizante

c) Professor Almeida Costa
• O que devemos tomar como padrão é o padrão daquele sujeito em
concreto mas estabelece 2 exceções em que se deve aplicar o critério do
homem medio
• restrições:
1. situação que envolve o exercício da atividade profissional do
gestor
2. o gestor através da sua intervenção, afastar, deliberada ou
conscientemente, ainda que de boa fé, a atuação de outra pessoa
que se dispunha a gerir o negócio alheio

Art 342º nº1 à impõe ao gestor a aprova da regularidade da gestão, ou seja,
de que esta foi exercida de acordo com o interesse e a vontade do dono do negócio,
se desejar prevalecer-se dos direitos que lhe conferem os arts 468º e 470º

Ø Asrts 468º e 470º conferem certos direitos ao gestor

Ø Pertence ao dono do negócio o ónus probatório do exercício incorreto da
gestão
• Com vista a pedir uma indemnização prevista no art 466º
• Pode haver situações em que faça sentido aplicar o art 799º
o Admitindo-se assim uma presunção de culpa do gestor

8. Aprovação e ratificação da gestão


ARTIGO 469º

(Aprovação da gestão)

A aprovaçã o da gestã o implica a renú ncia ao direito de indemnizaçã o pelos danos


devidos a culpa do gestor e vale como reconhecimento dos direitos que a este sã o
conferidos no no 1 do artigo anterior.

Aprovação da gestão
• Art 469º
• Respeita a atos materiais ou jurídicos e situa-se no plano das relações
do dono do negócio com o gestor

• Três consequências:
1. O dono do negócio renúncia ao direito de indemnização pelos danos
devidos a culpa do gestor

Eva Brás Pinho 176


2. Vale como reconhecimento dos direitos que a este são conferidos
no art 468º nº1
o Ou seja, o “ dominus” fica obrigado a reembolsá-lo de certas
despesas feitas e a indemniza-lo dos prejuízos que sofreu com a )
gestão

3. Transformação da gestão irregular em gestão regular

• A lei não exige formalidades especiais à aplica-se o art 217º + 219º (
liberdade de forma)

• A aprovação da gestão apenas se refere às relações entre o dono do
negócio e o gestor à juízos conjunto sobre a atuação deste


Ratificação da gestão:

• Dirige-se aos atos jurídicos realizados pelo gestor
• envolve a posição do dono do negócio perante terceiros
o Note-se que o terceiro devia ter pedido o documento de prova dos
poderes de representação
o O professor julio gomes vê 2 formas de proteger o terceiro:
§ Em determinadas circunstâncias a recusa da ratificação pode
constituir abuso de direito porque pode não ser razoável não
ratificar



• Confere uma legitimidade superveniente à atividade do gestor
• A ratificação considera-se negada se não ocorrer no prazo fixado pela
outra parte ( art 268º nº3)
• Encontra-se sujeita à forma requerida para a procuração ( art 268º nº2)
o Em principio é a mesma forma do negócio representativo


Aprovação sem ratificação:

• O dono do negócio pode exprimir a sua concordância à atuação do gestor e
renunciar à responsabilidade do gestor ( art 466º) e assumir as suas
obrigações para com este (art 468)
o Mas não chame à respetiva esfera jurídica o negócio realizado em
seu nome
• A ratificação é formal e portanto a simples aprovação não implica a
ratificação

Ratificação sem aprovação:

• O “ dominus” pode querer aceitar os efeitos do negócio representativo
realizado pelo gestor

Eva Brás Pinho 177


• Ainda que considere que este não agiu de acordo com o seu interesse ou
desrespeitou a sua vontade real ou presumível à art 468º

Professor Pessoa Jorge à considera que a ratificação é uma aprovação tácita

Em suma:
• Regra à a ratificação traduz a vontade do dono do negócio de aprovar
a gestão

• Para que se entenda o contrário, exige-se clara manifestação nesse
sentido e que não se ofenda o principio da boa fé



9. Gestão de negócios representativa e não representativa

Ø Plano das relações externas

Gestão representativa:
• Situação em que o gestor agiu em nome do dono do negócio
• Vigora a disciplina da representação sem poderes ( art 471º e 268º)
• O ato resulta originariamente ineficaz e só produz efeitos com a sua
ratificação

Gestão não representativa:
• O gestor atua em nome próprio
• Aplicam-se as disposições sobre o mandato sem representação ( art 471º,
1180º e 1184º)
• Os direitos e obrigações do negócio produzem-se imediatamente com
referência ao gestor
• Uma vez aprovada a gestão haverá que transferi-los para a esfera jurídica
do “ dominus” e não pode este substituir-se ao gestor no exercício dos
créditos resultantes de tal negócio´

Sintese:

1. Requisitos

2. Relações internas
a. Regular
o Se a ação do gestor trouxe beneficio para o dono do negócio
o Deve o gestor ser pago do que gastou
o Quando o gestor age em cumprimento do art 465 a)
o Efeitos:
1) 468º1 à reembolso das despesas + juros legais + indemnização
do prejuízo que o gestor tenha sofrido no exercício da sua gestão
ð Despesas que sejam fundadamente indispensáveis

Eva Brás Pinho 178


2) 470º à tem direito a remuneração se corresponder À sua
atividade profissional
3) 466º à efeito negativo

b. Irregular
o Quando o gestor não age de acordo com o interesse e vontade real ou
presumível
o Pode transformar-se a gestão irregular em gestão regular através da
aprovação
§ Mas o art 469º tem de ser extendido para incluir o art 470º e
incluir a remuneração do gestor

3. Relações externas
a. Representativa
b. Não representativa


IV – Enriquecimento sem causa

1.Noção e pressupostos

ARTIGO 473ª

(Princípio geral)

1. Aquele que, sem causa justificativa, enriquecer à custa de outrem é


obrigado a restiuir aquilo com que injustamente se locupletou.

2. A obrigaçã o de restituir, por enriquecimento sem causa, tem de modo especial


por objecto o que for indevidamente recebido, ou o que for recebido por virtude de
uma causa que deixou de existir ou em vista de um efeito que nã o se verificou.

Requisitos cumulativos:

1) A existência de enriquecimento
2) Que esse enriquecimento se obtenha à custa de outrem
3) A falta de causa justificativa

1.1 Requisitos positivos

1) Enriquecimento

Eva Brás Pinho 179


• Tem de se produzir um enriquecimento da pessoa obrigada à restituição
o Pode traduzir-se:
a. Na aquisição de um novo direito
b. Acréscimo do valor de um direito que já lhe pertencia
c. Através da diminuição do passivo ou evitando-se uma despesa
( em vez de um aumento patrimonial)

Podemos encarar a vantagem do enriquecimento como:

( o nº1 do 479º não impõem forçosamente qualquer das soluções)

a) Enriquecimento real
o Valor objetivo e autónomo da vantagem adquirida
o Tese defendida por Menezes Leitão e Júlio Gomes
§ Exceto quando o enriquecido esteja de boa fé em que se deve
atender ao enriquecimento patrimonial

b) Enriquecimento patrimonial

o Reflete a diferença produzida na esfera económica do enriquecido

§ Situação efetiva ( situação real) vs situação em que se
encontraria se a deslocação não se tivesse verificado ( situação
hipotética)

o Tese defendida pelo Professor Almeida Costa


Exemplos:

• A usa ou consome uma certa coisa de B
• O enriquecimento real à será apreciado através do valor objetivo da
utilização ou consumo dessa coisa, independentemente dos reflexos que
teve no património de A
• O enriquecimento patrimonial à importa averiguar tais repercussões de
restituir se pauta pelo efetivo alcance das vantagens do património do
enriquecido



O enriquecimento terá de ser avaliável em dinheiro ou poderá ainda consistir
tão-só em vantagens não patrimoniais, sem valor económico?

• Pode consistir em vantagens não patrimoniais quando produza
consequências apreciáveis em dinheiro
• No fundo, quando se converta numa vantagem patrimonial indireta

Eva Brás Pinho 180


Questão de saber se pode haver enriquecimento de simples vantagens
morais ou ideais conseguidas à custa de causa alheia:

• Não é possível
• Contudo, o sistema podia permitir casos como o do art 398º nº2 e 496º
• Mas gera obstáculos no âmbito da praticabilidade, certeza e as segurança do
direito
• É difícil satisfazer o empobrecido não patrimonialmente com a quantia
representativa do seu enriquecimento
• Para mais, podia levar a excessos dado que enriquecimentos não
patrimoniais são muito frequentes e variados




2) Suporte do enriquecimento por outrem

• A vantagem adquirida por alguém resulta, normalmente, de uma perda
também avaliável em dinheiro, sofrida por outra pessoa
• Exemplos em que esra deslocação patrimonial pode acontecer:
o Uma despesa que se efetua
o Um trabalho prestado sem remuneração
o Uma renda que não se cobra



Quando se fala à custa de outrem significa que a outra pessoa tem de ficar
empobrecida?

• A diminuição suportada pelo empobrecido não tem de ser igual à vantagem
conseguida pelo enriquecido

• Pode até acontecer que haja um enriquecimento sem qualquer
prejuízo ou efetivo empobrecimento para o dito empobrecido

Exemplo:
• Imagine-se um contrato de arrendamento que terminou e o arrendatário ficou
lá sem pagar a renda

• Ficou contudo provado que tal foi a experiencia traumático de arrendamento,
que o senhorio não voltaria a arrendar a ninguém
• Ficou também provado que a casa estava nas mesmas condições quando foi
deixada que estaria 8 meses antes

• Mas há na verdade uma verdadeira perda patrimonial, não há um
empobrecimento do senhorio

Eva Brás Pinho 181


Contudo, a maioria da doutrina entende que mesmo que não haja
empobrecimento deve haver enriquecimento sem causa, a questão é que se
levanta é de que forma é que a restituição é feita


Duas teses a respeito da medida de restituição:

1. Teoria tradicional do duplo limite
• Parte do conceito de enriquecimento patrimonial
• Porque há esse duplo limite, a restituição não pode exceder o valor do
empobrecimento patrimonial
• Defendido pelo AC
• Dano real à correção inserida nesta teoria
• Problema à esta tese não pensa nas situações em que o enriquecimento
patrimonial é igual a 0

2. Teoria moderna do enriquecimento real
• Corrigida pela boa fé que permite a aplicação do enriquecimento
patrimonial também
• Valor objetivo e autonomo da vantagem adquirida

Lucro por intervenção à vantagem jurídica e económica que eu adquiriu por
me intervir em esfera jurídica alheia
• Poupança de despesas é diferente de lucro por intervenção
• Tem de ser tratado de forma autónoma.
• O lucro tem de ser restituído



3) Correlação entre o enriquecimento e o suporte deste

• Art 473 nº1 à “ à custa de outrem”
• Tem de existir uma ligação entre o enriquecimento e o suporte alheio, ainda
que essa correspondência não tenha de ser necessariamente de igual valor


Tornar-se-á necessário que se consiga a vantagem económica imediatamente à
custa do titular do direito à restituição?

a. Na relação direta
o A deslocação patrimonial produz-se imediatamente entre o
património do enriquecido e do empobrecido
o Ex: A realiza benfeitorias num prédio de B

b. Na relação indireta
o A deslocação faz-se através de um património intermédio ( há
deslocações sucessivas)
o Ex: A irmã de B e com ele convivente, obtém de C fornecimento de que
seu irmão beneficia. Ora, se o fornecedor C não é pago e resulta assim
Eva Brás Pinho 182
empobrecido, dá-se enriquecimento de B, mas através de S, que
contratou em nome do próprio.

Ø A interposição de um terceiro património pode levantar dificuldades, uma vez
que é necessário definir as relações entre o seu titular, o empobrecido e o
enriquecido:
• Professor Antunes Varela e Pires de Lima

o Exigem o carácter direto
o “o art 481º restringindo o dever de restituição aos casos em
que o terceiro tenha adquirido gratuitamente, mostra que a
pretensão de enriquecimento só vale contra os casos de
enriquecimento imediato, não valendo, por conseguinte, para
os casos de duas aquisições sucessivas”
o O art 289º nº2 e o art 616º nº3 são caos excecionais em que
se admite o carácter indireto

• A doutrina tem exigido este carácter imediato, contudo, é de aceitar que
a jurisprudência terá movimentos livres para atender a uma ou
outra situação em que essa exigência da deslocação direta se mostre
excessiva levando a situações de injustiça
• Professor Menezes Leitão + Júlio Gomes à exclui-se a necessidade de
uma relação imediata

1.2 Requisitos negativos

Ø Só haverá lugar a pretensão na falta destes requisitos

1) Ausência de causa legítima



• Não basta que alguém tenha obtido vantagens económicas à custa de outra
pessoa, exige-se que não haja uma causa ou um facto que, de acordo
com os princípios do sistema jurídico justifique a deslocação
patrimonial

• Há uma grande dificuldade em definir “ causa” enquanto formula para
servir de critério único para a determinação e todas as hipóteses em que o
enriquecimento é privado de justa causa, Vaz Serra agrupa as hipóteses
em 3 categorias principais: ( pedir ao professor para explicar
isto)

1) O enriquecido conseguiu o obtido pela vontade do empobrecido
2) Conseguiu-o sem a vontade do empobrecido, mas pelo ato de uma
pessoa

Eva Brás Pinho 183


3) Conseguiu-o sem a vontade do empobrecido e sem o ato de outra
pessoa, apenas em virtude de uma disposição legal


• Não tem de ser antijurídico, pode ser apenas ajuridico

o Ou seja, não tem de ser ilícito, mas basta não haver uma causa que
justifique como um contrato ou por exemplo o usucapião
o Ex: um contrato celebrado entre o enriquecido e o empobrecido é a
causa jurídica mais invocada
§ Será sem causa quando resulte de uma prestação de outrem
que se destinava a liquidar uma relação jurídica que não se
produziu ou não era válida


Ø Art 473º nº1 àPrincípio geral de que pela amplitude dos seus termos permite
à jurisprudência incluir muitos casos práticos no instituto que o legislador não
conseguiria prever de forma expressa


2) Ausência de outro meio jurídico

• De acordo com o principio da subsidiariedade
o este instituto só pode ser aplicado se não existir outra figura apta a
dar uma resposta como por exemplo a nulidade

o apenas se as outras normas diretamente predispostas não
esgotarem a tutela jurídica da situação é que se justifica o
recurso complementar ao instituto do enriquecimento sem causa

§ ex: a vitima de um roubo que possa pedir uma ação de
reivindicação não pode agir contra o autor do delito invocando
o enriquecimento sem causa
§ Ação de reivindicação e ação de restituição da coisa à
instrumento para ir atras da coisa à Instrumentos que
inviabilizam o enriquecimento sem causa


• Imagine-se que há uma situação em que um direito prescreve, já não é
possível utilizar a figura da prescrição, por isso aqui já poderíamos utilizar
o enriquecimento sem causa àver art 494º nº4

§ Mas também se poderia utilizar o enriquecimento sem causa
se o instrumento primário não permitir resolver o meu
problema inteiramente


Eva Brás Pinho 184


ARTIGO 474º
(Natureza subsidiária da obrigação)

Nã o há lugar à restituiçã o por enriquecimento, quando a lei facultar ao


empobrecido outro meio de ser indemnizado ou restituı́do, negar o direito à
restituiçã o ou atribuir outros efeitos ao enriquecimento.


3) Ausência de preceito legal que negue o direito à restituição ou atribua
outros efeitos ao enriquecimento à saber dar exemplos para a oral

a) Não haverá lugar ao enriquecimento se causa quando a lei recuse esse
direito

• Ex: prescrição do direito a recorrer ao instituto do enriquecimento sem
causa
• Exemplos:
o frutos na posse de boa fé à se a pessoa utilizou de boa fé, os frutos
percebidos são seus à nega a possibilidade do dono do terreno
recorrer ao enriquecimento sem causa
o alimentos provisórios à art 2007º nº2
o usucapião àart 1287º e segs

b) o art 494º também impede o recurso ao instituto quando a lei “atribui
outros efeitos ao enriquecimento” :

SABER ISTO
• tratam-se de casos em que a ordem jurídica regula as consequências
económicas de uma atribuição patrimonial impondo ao beneficiado uma
obrigação com objeto diverso da fundada
• Exemplos:
o modificação do contrato por alteração das circunstâncias à
instituto que tempera o enriquecimento
o Benfeitoriais úteis que possam ser levantadas ( art 1273 nº1)
o Especificação de má fe 1337º
§ esta norma garante que 1/3 pertence ao dono da matéria
prima e o que resto ficava para o esculturo que usou o bloco
de pedra do dono da pedra
§ no enriquecimento sem causa, tinha de ser tudo restituído
pelo dono da matéria ao escultor


1.3 O problema da capacidade do enriquecido e do que
suporta o enriquecimento

Eva Brás Pinho 185


• Os preceitos que regulam as incapacidades destinam-se a proteger a
vontade


• O enriquecimento pode produzir-se independentemente da vontade
do enriquecido e da pessoa à custa de quem ele se produz

• Daí que a lei se contente com o facto objetivo do enriquecimento, sendo
indiferente que um e outro, respetivamente, tenham capacidade para
adquirir e para alienar

• A capacidade dos interessados não constitui, por isso, requisito ou
pressuposto do instituto

2. Hipóteses especiais de enriquecimento sem causa



Enriquecimento por prestação à art 473º nº1

1. Repetição do indevido à art 476º

1.1 Cumprimento de obrigação que não existe


• Art 476º nº1
• 3 requisitos para o exercício da pretensão de enriquecimento nela
admitido:
1) Que se efetue uma prestação com a finalidade de cumprir uma
obrigação
o Aqui o conceito de obrigação é entendido na amplitude do art 397º
o Todo o vínculo jurídico pelo qual uma pessoa fica adstrita para
com outra ao cumprimento de uma obrigação

2) Que essa obrigação não exista na data da presunção
o Se a obrigação existe, mas com um conteúdo inferior ao da
prestação satisfeita, a pretensão de enriquecimento valerá
quanto à diferença, pois nesta parte a dívida não existia.

o Não pode considerar-se inexistente uma obrigação que
prescreveu

§ à art 304º nº2 denega o direito à repetição no caso de
cumprimento de obrigações prescritas

Eva Brás Pinho 186


o Sendo a prestação efetuada a pessoa diferente do credor, tem o
devedor a possibilidade de repeti-la, dado que nada devia a
terceiro
§ Contudo, só lhe é permitido fazê-lo enquanto o
cumprimento não se tornar liberatório, nos termos em
que a prestação realizada a terceiro extingue a obrigação
( art 476º nº2)

o Pode todavia, tratar-se de crédito existente mas ainda não
vencido, porque se encontra sujeito a um prazo à art 476º nº3


3) Que a prestação efetuada nem mesmo se relacione com um dos
deveres de ordem moral ou social, impostos pela justiça, que
originam obrigações naturais

o é excluída a repetição, desde que haja uma obrigação natural do
autor da prestação
o também se pode repetir uma prestação efetuada com o propósito
do cumprimento de uma obrigação dessa espécie, que não existe

Ø Verificando-se estes 3 pressupostos, haverá lugar à repetição do
indevido, ainda que o autor do cumprimento o tenha efetuado com
dúvidas sobre a existência da obrigação ou estando até seguro da sua
inexistência

1.2 Quando se cumpre obrigação alheia


• A do cumprimento de uma obrigação de outrem na convicção de que é
própria
o Art 477º nº1
o Porém, sempre que não haja direito de repetição, o autor da
prestação ficará sub-rogado nos direitos do credor à art 477º nº2

• Situação diversa é a da pessoa que sabe ser a dívida alheia e que
efetua o cumprimento na convicção errónea de estar a isso obrigada
para com o devedor

o Neste caso só existe direito de repetição cotnra o credor se este
conhecia o erro ao receber a prestação
o Encontrando-se o credor de boa fé, resta ao “ solvens” a
possibilidade de exigir do devedor exonerado aquilo com que o
mesmo injustamente se locupletou


2. Enriquecimento por virtude de uma causa que deixou de existir à art
473º nº3

Eva Brás Pinho 187


• Quando, embora no momento da realização de uma prestação exista
causa jurídica que a fundamenta, esta venha posteriormente a
desaparecer.
• Imagine-se uma situação de incumprimento não imputável ao devedor
• A, famosa cantora de opera, adoece e já tinha recebido a remuneração e não
consegue dar o espetáculo à 795º
• Ex: quanto à recuperação de uma coisa cujo desaparecimento levou à
indemnização do seu titular


3. Enriquecimento por falta do resultado previsto à 473º nº2

• Imagine-se que A e B celebram um contrato promessa. B antecipa o
preço, imagine-se que CP acaba por não ter como resultado o contrato
definitivo.
• O preço que foi entregue deve ser restituiu ido uma vez que o efeito que
se pretendia ( a celebração de contrato definitivo) não se realizou
• 3 requisitos:

1) Que se haja realizado uma prestação para obter, de harmonia
com o conteúdo do respetivo negócio jurídico um especial
resultado futuro

o Não se trata do efeito imediato que decorre da própria
natureza do negócio, mas do específico resultado a que,
consoante o estabelecido, se tendia com a prestação.
o Esse resultado futuro especial pode ser:
§ um ato de quem recebe a prestação
§ ou algo que a pessoa que recebe a prestação não tem de
produzir ou não tem de produzir por si só
ð ex: o cumprimento de uma obrigação condicional, na
esperança de que a condição se preencha

1) Que se depreenda do conteúdo do negócio jurídico a fixação do
fim da prestação

o Seria pouco razoável que a contraparte pudesse ser
surpreendida por uma pretensão de enriquecimento baseada
na falta de um resultado que de todo ignorava haver-se tido
em vista


2) Que o resultado não se produza
o Questão de interpretação da vontade
o Saber se a não produção do resultado previsto se pode
verificar de qualquer forma ou apenas de uma certa maneira
§ Presume-se a 1º opção

Eva Brás Pinho 188


Art 475º à dois casos que excluem o instituto

a. Se o autor, quando realizou a prestação já sabia que o efeito era
impossível
o Não basta a mera convicção, o autor tinha de ter a certeza da
inviabilidade do resultado
o Ex: A paga a B o aluguer de um barco para uma viagem à madeira,
sabendo que o barco não tinha condições para fazer tal viagem

b. Se o autor impediu de má fé a verificação do resultado

3. Obrigação derivada do enriquecimento sem causa.


Diferentes soluções
Ø Sobre a pessoa que se locupletou injustamente recai a obrigação de
restituir ao empobrecido em tudo quanto haja obtido à sua custa

• Deve proceder-se à restituição em espécie

o Não sendo esta possível, deve entregar-se o valor
correspondente à art 479º nº1

o A obrigação de restituir não pode exceder a medida em
locupletamento


Duas teses a respeito da medida de restituição:

1. Teoria tradicional do duplo limite

• Parte do conceito de enriquecimento patrimonial
• Porque há esse duplo limite, a restituição não pode exceder o valor do
empobrecimento patrimonial à expresso no 479º nº2

o Os dois valores não têm necessariamente que coincidir
o A gasta 6.000€ em benfeitorias no prédio X de B
o O prédio sofre uma valorização de 8.500€ ou apenas de 5.000€
o O que decide é o valor, do enriquecimento ou do empobrecimento,
que se presume sempre mais baixo
o Logo, B terá de restituir a A 6.000€ ou 5.000€

• Defendida pelo Prof. Almeida Costa

• Dano real do lesado à correção inserida nesta teoria

Eva Brás Pinho 189


o Surge para dar resposta a situações em que o enriquecimento de
um não corresponde à diminuição do património de outro
o Isto so serve quando a situação de 0 se aplica ao
empobrecimento e não ao enriquecimento
o Exemplo:
§ A ocupa por algum tempo a casa de B que se encontra
desabitada
§ Locupletando-se em 1000€ sem que este tenha qualquer
redução patrimonial, uma vez que não tencionava
arrendá-la.

o A aplicação pura desta tese levaria a isentar este primeiro
o dano real à no caso de intromissão em bens ou direitos alheios,
corresponde, para certa corrente, ao valor objetivo do uso ou dos
bens consumidos ou alienados.

• Problema à esta tese não pensa nas situações em que o enriquecimento
patrimonial é igual a 0

2. Teoria moderna do enriquecimento real
• Esta teoria deve ser afastada quando existe boa fé que permite a aplicação
do enriquecimento patrimonial também
• Valor objetivo e autónomo da vantagem adquirida
o Interpretação do art 479º
o Diferente de lucro
• Deve descontar-se o que resultou de fatores diferentes e pessoais do
beneficiado, como o seu trabalho, espírito de iniciativa, experiência ou
perícia


Lucro por intervenção:

• Defendida por Menezes Leitão e Júlio Gomes
• Baseiam-se na gestão imprópria de negócios e não necessariamente no
enriquecimento sem causa
• vantagem jurídica e económica que eu adquiro por me intervir em
esfera jurídica alheia
• Poupança de despesas é diferente de lucro por intervenção
• Tem de ser tratado de forma autónoma.
• O lucro tem de ser restituído


Ø À data da redação do CC a riqueza centrava-se na propriedade, e por isso é o
1271º protege o uso de frutos d bens alheios etc, o problema é que atualmente
a riqueza esta no crédito, e portanto ficamos com alguma falta de proteção do
alcance de lucro por pessoa alheia ( nomeadamente dos direitos de imagem ).
Assim o art 480º diz que o enriquecimento sem causa esta pensado para a boa
fé, e mesmo quando haja ma fé não tem uma sanção tão punitiva. Isto proque
esta virado para situações em que a riqueza não é assim tao grande. O

Eva Brás Pinho 190


problema ´que atualmente há muita riqueza em coisas incorpóreas e não há
uma norma cmo a do 1271º para proteger estas situações com coisas
incorpóreas.


A que momento deve reportar-se a avaliação do enriquecimento à custa de
outrem?

• Art 479º nº2
• Deve atender-se ao enriquecimento atual, o que se apura à data de
algum dos seguintes factos
o Este é suscetível de apresentar diferença, mesmo acentuada, em
relação ao que se produziu quando da deslocação patrimonial

• O objeto da obrigação de restituição não pode exceder a medida do
locupletamento à data em que se verifique um dos seguintes factos:

a) A citação judicial do enriquecido para a restituição
b) O conhecimento, pelo enriquecido, da falta de causa do seu
enriquecimento ou da falta do efeito que se pretendia conseguir com a
prestação




• A produção de qualquer das tais circunstâncias tem como consequência o
agravamento da obrigação a cargo do enriquecido.

• Assim que o enriquecido conheça o carácter injustificado do
locupletamento, o objeto da restituição deixa de se restringir àquilo com
que enriqueceu sem causa, abrangendo ainda as diminuições e os não
aumentos posteriores devidos a culpa sua

• A acentuação da responsabilidade do enriquecido reflete-se também na
hipótese da alienação gratuito de coisa que devesse restituir

o Art 481º

ARTIGO 481º
(Obrigação de restituir no caso de alienação gratuita)

1. Tendo o enriquecido alienado gratuitamente coisa que devesse restituir, fica o


adquirente obrigado em lugar dele, mas só na medida do seu pró prio
enriquecimento.

2. Se, poré m, a transmissã o teve lugar depois da verificaçã o de algum dos factos
referidos no artigo anterior, o alienante è responsá vel nos termos desse artigo, e o
adquirente, se estiver de má fé , é responsá vel nos mesmos termos.

Eva Brás Pinho 191





4. Prescrição
ARTIGO 482º

(Prescrição)

O direito à restituiçã o por enriquecimento prescreve no prazo de três anos, a


contar da data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe compete
e da pessoa do responsá vel, sem prejuízo da prescrição ordinária se tiver
decorrido o respectivo prazo a contar do enriquecimento

•A lei estabelece 2 prazos de prescrição do direito à restituição


o 482º + 494 nº4
• 2 requisitos para o prazo começar a contar:
o O empobrecimento tomar conhecimento do direito que lhe compete
( da ocorrência dos factos) + conhecimento da pessoa do
enriquecimento

• Desde o momento em que a restituição pode ser exigida, inicia-se também
a contagem, segundo as normas gerais do prazo ordinário da
prescrição
o Prazo de 20 anos ( 309º)

Ø A prescrição ordinária só impera quando o direito à restituição não se
haja, entretanto extinguido pelo decurso do prazo excecional de 3 anos

Ø A prescrição ordinária opera sempre, mesmo que o empobrecido não
chegue a ter conhecimento do seu direito e da pessoa responsável pela
restituição


Prescrição normal à os 3 anos decorrem depois do conhecimento ( ainda que
desconhecendo o responsável)

Prescrição do enriquecimento à os 3 anos só se contam depois de se saber
também quem é a pessoa responsável
Significa que pode a prescrição pro responsabilidade civil prescrever antes da
possibilidade de recorrer à prescrição do recurso ao enriquecimento sem causa

Eva Brás Pinho 192


V – Responsabilidade civil

1. Noção. Responsabilidade civil e responsabilidade penal

• Se nos primó rdios da histó ria nã o havia a distinçã o entre o que é responsabilidade
penal e o que é responsabilidade civil, hoje em dia tal está bem demarcado.

• Objectivo da responsabilidade penal


o reprimir a conduta do agente e prevenir em relaçã o a esse agente e à
generalidade das pessoas que tal conduta se volte a repetir

• Objetivo da responsabilidade civil


o Ressarcir os danos causados pelos lesante ao lesado
o A responsabilidade civil nã o está , contudo, totalmente desligada da ló gica
que há na responsabilidade penal, se assim fosse a responsabilidade civil,
como visa o ressarcimento dos danos, seria sempre objectiva.

Semelhanças entre as duas:

Ø Quanto à culpa:

Civil à regra geral qualquer tipo de culpa responsabiliza, ou seja, dolo ou


negligência

Penal à regra geral só há responsabilidade quando o agente praticar um facto
dolosamente (també m há casos em que a negligencia fundamenta a
responsabilidade penal, crimes por negligencia).

• Há vá rias normas que assentam na culpa para responsabilizar, e embora
tanto o dolo como negligê ncia sã o razõ es de indemnizaçã o, ao contrá rio da
penal, no artigo 494º temos uma distinçã o entre ambas.

• Dizer-se que a responsabilidade civil olha apenas para o lesado e nã o para o
lesante nã o é verdade em absoluto.
• També m a jurisprudê ncia tem dito que quando se fixa a indemnizaçã o por
danos nã o patrimoniais, artigo 496º, pensa-se no dano do lesado e no grau
de censurabilidade da acçã o do agente. Esta atenção ao grau de
censurabilidade da acção do agente tem uma função punitiva, sendo
nesse sentido também um ponto de contacto da responsabilidade civil
com a responsabilidade penal

Ø Dito tudo isto, é importante ainda ter presente que a responsabilidade civil
não se confunde com a responsabilidade moral e que a responsabilidade
civil també m nã o se confunde com a segurança social.
• Alé m da responsabilidade moral não ser coercitiva há no plano dos
fundamentos de cada responsabilidade, na responsabilidade moral o
fundamento é a violação de deveres éticos ao passo que na

Eva Brás Pinho 193


responsabilidade civil nã o é apenas isso que acontece, o fundamento
principal da responsabilidade civil é a criaçã o de danos,
independentemente de o comportamento por trá s desses danos ser
é tico ou nã o.
• Por outro lado quando olhámos para a responsabilidade civil não
estamos a olhar para ela como numa logica assistencialista, de
ajudar as necessidades dos outros, como acontece com a segurança
social, na responsabilidade civil apenas há assistê ncia se for fundada, na
segurança social nã o, a segurança social prescinde de fundamentos
concretos para apoiar um lesado.

( excerto da sebenta do Manuel Ximenez com adaptações)

2. Evolução histórica da responsabilidade civil e seus


problemas atuais

Ø O conceito de responsabilidade surgiu de uma forma diferente daquela que
existe atualmente: a responsabilidade era coletiva e objetiva.
• Exemplo: as famílias faziam a reparação dos danos de forma coletiva,
quando um dos seus membros era atingido, independentemente de saber se
havia ou não culpa do infrator.

Ø Não havia distinção entre responsabilidade penal e responsabilidade civil. Hoje
em dia, a responsabilidade penal é destinada a punir o agente; e a
responsabilidade civil tem o objetivo de reparar e indemnizar os danos sofridos
pelo lesado.

Ø A responsabilidade civil foi-se subjetivando: haverá o dever de reparar um
dano quando se consiga identificar um comportamento censurável no agente.
E, por outro lado, foi-se individualizando: o lesado não é o grupo, mas sim a
vítima da lesão, e quem vai sofrer as consequências da lesão não é o grupo a
que pertence o lesante, mas sim o próprio lesante.

Ø A história é circular: quando no século XIX assistimos à revolução industrial e à
emergência dos acidentes de trabalho, assiste-se à construção de um sistema
de responsabilidade que deixa de ser subjetivo, para passar a ser outra vez
objetivo.

Ø Em relação à coletivização, a responsabilidade é individual, mas também
coletiva. Por exemplo, nos acidentes de viação, quem responde pelos danos
causados é uma companhia de seguros, que é uma coletividade de riscos.

Ø Segurança social: assiste independentemente do juízo de responsabilidade, e
garante uma compensação pelo facto de a pessoa se encontrar numa situação
de lesado.

Eva Brás Pinho 194


a. Responsabilidade objetiva:
• independentemente da culpa, exige-se, mesmo provando-se que não há
culpa, a indemnização
• o legislador admite este tipo de responsabilidade mas só nos casos
previstos na lei, não há um princípio geral de responsabilidade objetiva
• art 483 nº2
• este tipo de responsabilidade é gravosa na medida em que ignora quem
podia ter tido mais diligências ou quem as teve ignorando o critério do bom
pai de família

b. Responsabilidade subjetiva à com culpa presumida mas ainda há a
possibilidade de se provar que não há culpa e portanto não haverá
indemnização

3. Responsabilidade civil obrigacional e responsabilidade


civil extra-obrigacional


Responsabilidade contratual:
• A responsabilidade é obrigacional.
• Traduz-se no dever de indemnizar pela violação de um direito de
crédito ou de uma obrigação (nos termos do artigo 397º).
• Este direito de crédito pode nascer:
o de um contrato
o de um negócio jurídico unilateral
o de uma gestão de negócios
o de um enriquecimento sem causa
o da própria responsabilidade civil quando há dever de indemnizar.

Responsabilidade extracontratual:
• Trata do dever de indemnizar pela violação de um dever geral de
respeito.
• Há um dever geral de respeito fundamentalmente em 2 situações, nos
termos do artigo 483º:
o Quando há direitos absolutos.
o Quando há disposições legais que, sem atribuírem direitos, se
destinam diretamente à proteção de certos interesses.

Normas comuns aos dois tipos de responsabilidade:
• 562º - 572º:
o Tratam da obrigação de indemnização.

Distinção entre responsabilidade civil contratual e extracontratual:

1. Avaliação da culpa:
o Responsabilidade civil contratual:

Eva Brás Pinho 195


§Utiliza-se o critério da diligência do bom pai de família,
nos termos do artigo 487º/2.
o Responsabilidade civil extracontratual:
§ Utiliza-se o critério da diligência do bom pai de família,
nos termos do artigo 487º/2.
§ Artigo 799º/2: manda aplicar o artigo 487º/2.

2. Ónus da prova da culpa:
o Responsabilidade civil contratual:
§ É o lesante que tem de demonstrar que não teve culpa, ou seja, que
agiu de acordo com o critério do bom pai de família.
ð Há uma presunção de culpa.

o Responsabilidade civil extracontratual:

§ Cabe ao lesado provar a culpa do autor da lesão, nos termos
do artigo 487º/1.
ð Há uma ausência de presunção de culpa.
ð Casos de presunção legal de culpa previstos no Código
Civil:

Ø 491º à responsabilidade das pessoas obrigadas à
vigilância de outrem.

ü Exemplo: responsabilidade dos pais perante os danos
causados pelos filhos a terceiro.

ü A presunção de culpa está na parte que estabelece:
“salvo se mostrarem que cumpriram o seu dever de
vigilância”.


ü “Ou que os danos se teriam produzido ainda que
tivessem cumprido o seu dever de vigilância”: isto não é
a presunção de culpa.
→ Aqui o responsável reconhece que não cumpriu o
dever de vigilância.
→ E, mesmo que tivesse cumprido, os danos ter-se-
iam produzido.

ü Exemplo: A e B são pais de C. C, enquanto joga à bola,
parte uma montra de uma loja.
→ Os pais são responsáveis pelos danos causados
pelo filho ao dono da loja, uma vez que não
cumpriram o seu dever de vigilância.
→ No entanto, 5 minutos mais tarde, há um tremor
de terra que parte todas as montras das lojas
situadas na mesma rua.

Eva Brás Pinho 196


→ Neste caso, os pais não cumpriram o dever de
vigilância, mas mesmo que tivessem cumprido, o
dano teria ocorrido na mesma.

→ De acordo com a teoria da diferença (*ver
abaixo), não existe diferença entre a situação
patrimonial atual e a situação patrimonial
hipotética do lesado.
ð Sendo assim, não vai haver
indemnização.

→ O tremor de terra, relativamente ao facto de a
montra ter sido partida, é uma causa virtual.
→ O chute da bola é a causa real do dano.
→ Se se admitisse que o tremor de terra excluiria o
dever de indemnizar, segundo a teoria da
diferença, então estar-se-ia a dar sempre
relevância negativa à causa virtual.

→ A parte final do artigo 491º reconhece a
relevância negativa da causa virtual.

Ø 492º Danos causados por edifícios ou outras obras
à

ü Esta responsabilidade recai no
proprietário do edifício ou de outra obra
por vício de construção ou defeito de
conservação;
ü no possuidor do edifício ou obra, ou na
pessoa que esteja obrigada, por lei ou por
negócio jurídico, a conservar o edifício ou
obra.

Ø 493º à Danos causados por coisas, animais ou atividades

ü Nº1: danos causados por coisas, animais ou
atividades.
→ Exemplos de danos causados por coisas: danos
causados por elevadores.

ü Outra norma em que se faz referência a danos
causados por animais:
→ Artigo 502º.

ü Diferença entre o artigo 493º e o artigo 502º:

→ O artigo 493º é um caso de responsabilidade
civil por factos ilícitos. Todos os pressupostos
têm de estar verificados.

Eva Brás Pinho 197



→ O artigo 502º é um caso de responsabilidade
pelo riscoà cai o pressuposto da culpa. E pode,
eventualmente, cair o pressuposto da ilicitude.

ü
→ Nos termos do artigo
ð Proprietário, usufrutuário, petsitter.
493º, a pessoa responsável é a pessoa
que está obrigada a vigiar o animal.

→ Nos termos do artigo 502º, a pessoa responsável é
a que aproveita ou utiliza o animal no seu próprio
interesse.
ð Proprietário, usufrutuário
.
→ O artigo 502º circunscreve os danos pelos quais
se pode responder sem culpa. Ou seja, os que
resultem do perigo especial que envolve a sua
utilização.
ð “Perigo especial” = perigo da espécie.

→ O artigo 493º/2 trata das chamadas atividades
perigosas.
ð A jurisprudência permite fazer uma lista
de atividades perigosas, que não estão
previstas na lei.
ð Exemplos:
i. Fabrico e lançamento de produtos
pirotécnicos.
ii. Utilização médica de raio-x. Podem,
quando há uma exposição
agravada, causar cancro.
iii. Caça.

ð Há uma atividade, que, de acordo com o
STJ (assento nº1/80), não vai estar
englobada pelo artigo 493º/2, embora
fizesse todo o sentido que estivesse.
i. Condução, que pode causar
acidentes de viação.

ð Prof. Menezes Leitão: considera que há
três situações em que, ainda assim, a
presunção do artigo 493º/2 se tem de
aplicar.
i. Quando estão em causa provas
desportivas de condução.

Eva Brás Pinho 198


ii. Quando está em causa o transporte
de material inflamável ou
explosivo.
iii. Quando haja uma condução sob o
efeito de álcool ou estupefacientes.
ü
Ø 503º/3.
ü Trata da situação do comissário.

• Para haver responsabilidade extracontratual, é necessário haver imputabilidade:
o Para alguém ser responsável extracontratualmente, é preciso que tenha 7
anos.
§ Mesmo com menos de 7 anos pode ser imputável, mas tem de se
vencer a presunção de imputabilidade.
• Para haver responsabilidade contratual, também tem de haver imputabilidade.
Mas, para além da imputabilidade, tem de haver capacidade jurídica (capacidade
de exercício).
o Aqui, o menor de 10 anos já não será responsável contratualmente pelos
danos que causa. Porque, embora sendo imputável, não terá, em
princípio, capacidade de exercício.


3. Quando há uma pluralidade de responsáveis pelos danos:

o Responsabilidade extracontratual:
§ Responde-se solidariamente.
ð Artigo 497º.

§ Exemplo: A, e C, causaram danos no valor de 3.000€. O lesado é B.
B pode só ir buscar os 3000€ a A. Se C não tiver dinheiro para
pagar, B não vai ser afetado, porque pode ir buscar a A o
ressarcimento integral dos seus danos.
ð Depois poderá haver direito de regresso.

o Responsabilidade contratual:
§ Não existe nenhuma norma paralela à do artigo 497º.
§ Artigo 513º: aplica-se o regime da conjunção ou obrigações
conjuntas.

§ Exemplo: A, B e C são devedores. A sua contribuição é igual, pelo
que cada um vai responder por 1000€. O credor não pode
demandar os 3000€ apenas a um deles. E se um deles não tiver
condições económicas para pagar, B não vai receber o pagamento
porque não pode pedir o ressarcimento a outro.


4. Prescrição:
o Responsabilidade extracontratual:

Eva Brás Pinho 199


§ Artigo 498º/1: o direito de indemnização prescreve com o
decurso de um de dois prazos:
ð O prazo da prescrição ordinária: 20 anos.
ð O prazo de 3 anos a contar da data em que o lesado teve
conhecimento do direito que lhe compete, embora com
desconhecimento da pessoa do responsável.

o Responsabilidade contratual:
§ Não há nenhuma norma especificamente prevista para a
prescrição.
§ Aplica-se o regime geral da prescrição: prescrição ordinária de
20 anos.

5. Responsabilidade por facto de outrem:
o Responsabilidade extracontratual:
§ Artigo 500º:

ð Exige a relação de comissão: relação de subordinação
entre a pessoa que vai responder e a pessoa por cujos
factos a primeira responde.
ð A responsabilidade do comitente assenta numa obrigação de
indemnizar do comissário.

o Responsabilidade contratual:
§ Artigo 800º:
ð Não exige relação de comissão, pelo que as hipóteses de haver
uma responsabilidade por facto de outrem são maiores.
Ø O devedor responde pelos atos dos seus representantes
legais ou auxiliares.
ð Mesmo que não haja uma obrigação de indemnizar do
comissário, o devedor vai ser responsável.

6. Artigo 494º:
o Responsabilidade extracontratual

§ aplica-se o artigo 494º, norma que estabelece a limitação
equitativa da indemnização no caso de mera culpa.
§ Quando há um comportamento fundado na mera culpa, há um
juízo de censura mais brando.
§ Circunstâncias que o artigo 494º refere: grau de culpa do agente, a
situação económica do lesado e do lesante, e outras circunstâncias
do caso.

o Responsabilidade contratual, não se aplica a norma do artigo 494º.

§ Já que neste tipo de responsabilidade, existe uma relação
obrigacional prévia entre as partes.

Eva Brás Pinho 200


§ Estas negociaram e acordaram os termos da sua responsabilidade.
Pelo que o credor está à espera que lhe seja feita a prestação, ou
então que lhe seja dado o equivalente a essa prestação.

3.1 Assento da matéria no Código Civil


3.2 Concurso das duas formas de responsabilidade


Exemplo: A é motorista de táxi, e, ao transportar o seu cliente, causa um acidente,
que provoca graves ferimentos, pessoais e materiais neste último.
• À primeira vista, diríamos que estamos perante um caso de
responsabilidade extracontratual, porque há a violação de direitos
absolutos (direito à integridade física).
• No entanto, quando a pessoa entrou no táxi, celebrou um contrato. Pelo que
os danos são a consequência do incumprimento de uma obrigação.

Estamos perante um facto danoso: acidente de viação causado por excesso de
velocidade.
Qual o regime aplicável? Há duas abordagens possíveis:

1) Sistema do cúmulo:
o Admite-se convocar os dois tipos de responsabilidade.
o 3 teorias:
§ Teoria da ação híbrida:
• Conjuga normas da responsabilidade extracontratual e
contratual. Vai-se buscar a presunção de culpa da
contratual, e a solidariedade da extracontratual.
• A resposta parece ser negativa quanto à
admissibilidade desta teoria.
o Quando o legislador consagrou as duas
responsabilidades, fê-lo de uma forma
equilibrada. Recorrendo apenas a parcelas do
regime, desequilibra-se o regime.

§ Teoria da duplicação de ações:
• Poderia haver 2 caminhos processuais e depois
aproveitar-se-ia aquele que tivesse o resultado mais
vantajoso.
• Há uma ação fundada na responsabilidade
extracontratual, e outra fundada na responsabilidade
contratual.
• Isto não faz sentido, já que há apenas um facto danoso.

§ Teoria da opção:

Eva Brás Pinho 201


• Pode-se optar pela responsabilidade extracontratual
ou pela contratual.
• Prof. Henrique Sousa Antunes: tem simpatia por esta
teoria, porque não deixa de reconhecer que o facto
danoso, embora seja um só, é subsumível aos dois
tipos de responsabilidade. Pelo que o lesante tem de
aceitar que as consequências negativas dos dois tipos
de responsabilidade se possam aplicar.

2) Sistema do não cúmulo:
o Só um tipo de responsabilidade será aplicável.
o Defendido pelo Prof. Almeida Costa.
a) Este convoca o regime da responsabilidade contratual.
b) Argumento: princípio da consunção.
§ A responsabilidade contratual consome a
responsabilidade extracontratual.
§ O direito das obrigações é fundado na autonomia
privada. Pelo que se as pessoas definiram os termos dos
seus interesses ao abrigo do princípio da autonomia
privada, os danos que resultem de um incumprimento,
têm de ser tratados pela responsabilidade contratual.

Numa lógica de tutela do lesado, merecerá forte acolhimento a teoria da opção,
dentro do sistema do cúmulo.

4. Ilícito intencional e ilícito meramente culposo


5. Responsabilidade por factos ilícitos

Pressupostos (5):
1. Facto voluntário
2. Culpa
3. Ilicitude
4. Dano
5. Nexo de causalidade

Ø O facto e a culpa são subjetivos

5.1 Facto. Ações e omissões


Facto voluntário:
• significa que só há responsabilidade quando haja um comportamento
dominável pela vontade do homem
• o homem tem de poder controlar a ação causadora do dano

Eva Brás Pinho 202


• Ex: se uma pessoa tem um ataque cardíaco e por essa razão cai em cima e
parte a jarra de uma loja
o Este individuo não poderia ser responsável porque não existe
vontade humana aqui, logo não existe um facto voluntário
• Outro exemplo são pessoas com ataques de epilepsia que não conseguem
dominar o corpo com a sua vontade
• Atos da natureza também não responsabilizam porque não são
controláveis pela vontade humana
o ex: sismos, terramotos etc

Exemplo:
E se for causado por uma criança de 4 anos?
o Pode haver ressarcização do lesado dos seus danos através do património da
criança ( pode ter heranças por exemplo)
o Mas a criança não é responsabilizada
§ Há um facto voluntário à foi a sua vontade atirar a bola e partir a
montra;
§ mas é uma vontade incipiente, porque ela não tem capacidade de
controlar a conduta
§ Aqui entra a culpa: há facto voluntário, mas não há culpa

5.2 Ilicitude
5.2.1 Formas de ilicitude
2 modalidades principais de ilicitude previstos no art 483º nº1:

1. Violação do direito de outrem

• Tradicionalmente, entendia-se que apenas estavam contidos os
direitos absolutos – reais e de personalidade
• A doutrina moderna, entende que adicionalmente estã o contidos os
direitos de cré dito
o Doutrina da eficá cia externa das obrigaçõ es, dado que a
expressã o direito de outrem é suficientemente ampla para
integrar todos

2. Violação de disposições legais destinadas a proteger interesses
alheios
• São normas de proteção à normas que não atribuem direito
subjetivos mas que prescrevem condutas que sendo cumpridas
geram responsabilidade putativa
• Ex: violação das regras do código da estrada
o Estas normas têm como objetivo salvaguardar a segurança de
todos e a violação destas normas pode gerar danos para o
outro e por essa razão protege interesse alheio

Eva Brás Pinho 203


• São normas que sem conferirem direitos subjetivos, pretendem
então acautelar interesses particulares
• 3 requisitos para que estejamos perante esta modalide de ilicitude:

1. Haja ofensa de uma norma legal
o Entender aqui a lei em sentido amplo
o Ofensa de direitos absolutos, sem prejuízo da violação de
direitos de crédito.

2. Essa norma jurídica tem de tutelar diretamente interesses
particulares e não apenas reflexamente

o Ex prof AC à norma que pretende evitar as importações de
certos produtos para prevenir a saída de divisas; tem um
objetivo público, não tem interesses particulares como seus
fins, ainda que se essa norma for cumprida se esteja a
proteger os fabricantes nacionais. Mas o objetivo da norma
não é o de proteger esses fabricantes diretamente, é sim um
objetivo coletivo.
o Ex: quando o código da estrada prevê limites de velocidade
está a procurar impedir acidentes de viação. É uma norma de
proteção verdadeiramente. Procura proteger interesses
particulares diretamente

3. A lesão deve concretizar-se na esfera dos interesses particulares que
essa norma pretende proteger

o Ex: uma norma que escreve regras para a conceção de um produto
farmacêutico. O objetivo d regra é o de proteger a saúde do
consumidores. ( proteger diretamente interesses particulares). Imagine-
se que uma empresa vai pedir uma indemnização por uma outra
empresa ter desrespeitado essas regras técnicas de elaboração do
medicamente e com isso ter lançado no mercado uma má imagem do
produto. Assim, ao medicamente ficou associado uma ideia de segurança
e a empresa que seguiu as regras teve uma quebra das vendas.

o Pode a empresa que seguiu as regras impor uma ação por ilicitude da
outra empresa por violação de normas de proteção? NÃO

§ Há uma norma jurídica que protege diretamente o interesse de
consumidores, mas a lesão veio-se a verificar na esfera da
empresa concorrente e não na saúde dos consumidores.
§ O que significa que a lesão não se verificou nos interesses
particulares que eram visados nessa norma
§ Assim, tenho preenchimento dos 2 primeiros requisitos, mas não
o 3º.

Casos especiais de ilicitude:

Eva Brás Pinho 204


1. 484º à Ofensa do crédito ou do bom nome

• Quando falamos de ofensa do crédito à confiança que as pessoas
podem ter relativamente a certa pessoa quanto ao cumprimento das
suas obrigações
• Ex: se saírem noticias de que x advogados é aldrabão, então o seu nome
vai ser afetado e o seu crédito também porque as pessoas vão deixar de
recorrer ao seu serviço porque ele perderá a sua credibilidade
• Quanto à ofensa ao bom nome à falamos do prestígio que a pessoa
tem
• Se dizemos que um presidente de um clube de futebol é corrupto, pode
estar em causa uma ofensa ao crédito também, mas poe em causa o
bom nome
• Gera aqui o problema de saber se essa afirmação ou difusão da
informação relativamente a um facto verdadeiro deve gerar
também responsabilidade civil

o Professor Pessoa Jorge
§ Entende que não há responsabilidade se o facto é
verdadeiro

o Professor MC e AV
§ Diz que há responsabilidade
§ Exceto se a ilicitude deste comportamento pode
ser excluída através de um exercício de um direito
(liberdade de imprensa) ou corresponder ao
cumprimento de um dever ( se eu for testemunha em
tribunal terei de o fazer

o Professor AC
§ Posição intermédia
§ Não haverá responsabilidade se a divulgação se
destina a assegura interesses legítimos
§ Em regra, na opinião do Professor, os factos que sejam
divulgados pela imprensa, se forem verdadeiros não
são factos que levam à responsabilização da imprensa
§ Professor Menezes Leitão fala em interesses
públicos e simultaneamente legítimos.
§ Este conceito é algo vago
o Prof. JT – interesses legı́timos ou salvaguardar um direito
pró prio do agente



2. 485º à Conselhos, recomendações ou informações
• Normalmente as pessoas quando dão conselhos na rua dão por uma
questão de cordialidade
• O regime regra é o de que não há responsabilização por parte do
agente, ainda que haja negligência da sua parte

Eva Brás Pinho 205


• A não ser que haja o dever jurídico de prestar conselho, nesse caso já é
tido em consideração
• Haverá responsabilidade se agir de forma dolosa?
• Professor MC e ML à haverá responsabilidade neste caso
• Dolo vs negligência (mera culpa)
• Art 485º nº2 ( exceção) deve haver responsabilização quando há
dever jurídico de informação

• Quando é que há dever de indemnizar?
o Quando se tenha assumido o dever de indemnizar pelos danos
o Quando haja o dever jurídico de dar a informação conselho ex:
médicos, advogados
o Quando se tenha procedido com negligência e intenção de
prejudicar
o Quando o facto constitua um crime

3. 486º à Omissões

• Vem equiparar as omissões às ações
• Quando é que uma omissão gera o dever de indemnizar?
o Quando havia o dever jurídico de praticar o ato omitido ( por força
da lei ou do NJ)

• Teoria dos deveres de segurança no tráfego à ex: um menino que cai
num buraco e que durante mt tempo se imaginou que ainda poderia estar
vivo mas quando se resgatou, estava morto. O tio é que abriu os buracos
para procurar agua, e ele não tinha o dever jurídico de tapar os buracos,
mas a verdade é que ele criou uma situação de perigo. Pode ser
responsabilizado por isso?
o Se a pessoa criou uma situação de perigo tem o dever de evitar a
possibilidade de ocorrer danos
o Msmo que não haja uma lei que o obrigue a tapar os buracos
o Esta doutrina entende que a pessoa que cria perigo e não evita o
dano deve ser responsabilizado e ter o dever de indemnizar o dano


4. 334º à abuso de direito
• O prof AC liga esta matérias às relações contratuais de facto
• Quando uma relação não foi celebrada de forma 100% válida, quando a
lei fala em dever jurídico tem de incluir os deveres que advem de um
contrato inválido ou ineficaz mas em que a pessoa na verdade assumiu
essas funções e esta no desempenho das funções, de maneira que não se
pode vir fazer valer da invalidade do negocio para se desresponsabiliza.

Ø Todas estas normas geram dever de indemnizar por ilicitude extracontratual
mesmo que não conseguíssemos incluir na ilicitude definida no 483º

Eva Brás Pinho 206


5.2.2 Causas de exclusão da ilicitude
Ø Causas que justificam um facto danoso

1) Exercício regular de um direito


• A pessoa que viola o direito alheio no exercı́cio de um direito pró prio
nã o atua, em princı́pio, ilicitamente (art. 483º)
• Importatersempreemlinhadecontaaproblemá ticadecolisã odedireitos
(art. 335º) e do abuso de direito (art. 334º)
• Ex: se eu tenha licença para caçar animais, e eu caço uma lebre num
terreno alheio, e isso esta dentro da minha licença, obviamente não
posso ser responsabilizado

2) Cumprimento de um dever jurídico ( princípio doutrinário)

• Se daqui acabar por se praticar dano em esfera patrimonial alheia, nã o
tenho de responder
• De notar que nã o se pode invocar ordens hierá rquicas se constituı́rem
crime: o dever de obediê ncia cessa nesse caso
• ex.: mé dico que recebe 2 doentes, ambos carecidos de transfusã o, mas
só há 1 dose, tem de tomar decisã o. Tem o dever deontoló gico de tentar
salvar o maior numero de vidas possı́vel, mas aqui tem de decidir o que
tem mais probabilidade de sobreviver. O facto de o outro doente ter
morrido nã o faz com que o mé dico incorra em RC, é justificada por força
desta situaçã o especı́fica

3) Causas especiais de exclusão da ilicitude:

O que têm em comum:
• Impossibilidade de recurso aos meios coercivos comuns em tempo
útil
• Necessidade + adequação + proporcionalidade
• Necessidade à não há outra forma de agir para a tutela do direito; não
havia meios coercivos normais à disposição.
• Adequação à fazer apenas aquilo que é estritamente necessário para
impedir o prejuízo; o nosso sistema jurídico não privilegia a autotutela
• Proporcionalidade à fazer um balanço entre o valor que eu estou a
defender e o valor que eu vou sacrificar

o Na ação direta - 336º
§ extrai-se do nº3 que eu não posso sacrificar interesses
superiores aos que eu pretendo asseguro
§ situação em que alguém recorre à força para assegurar o
seu direito
§ ex: eu vou a apssar na rua e vejo um carro com o meu
relógio e parto o vidro, obviamente que eu estou a causar
um dano no carro da outra pessoa, mas seria a única
maneira

Eva Brás Pinho 207


§ apenas se pode atacar para defesa do direito próprio
§ o valor da janela tem de ser igual ou inferior ao valor do
relógio

o Legitima defesa - 337ª

§ Se estou perante uma agressão iminente contra mim, posso
reagir
§ A ação não pode causar um dano manifestamente superior (
mas pode sr superior) ao que se pretende salvaguardar
§ O ato continua a ser justificado, mesmo que seja em
excesso, se se tiver devido a medo invencível do agente
§ Prof Menezes leitão àdiscorda do afastamento da ilicitude,
excluem-se é a culpa

o Estado de necessidade à art 339º
§ Parte de uma necessidade de perigo ( a origem de minha
reação esta no perigo)
§ Não estou a reagir contrato que me esta a atacar mas contra
um bem de 3º
§ Art 339º à o perigo atual de um interesse manifestamente
inferior do interesse que eu quero proteger
§ 339º nº2 à responsabilidade civil por factos lícitos
ð Esta atuação vai obrigar-me a responder pelos danos que
causei
ð Mas a indemnização pode ser equitativa


5)Consentimento do lesado

• Pressupõe que o ato lesivo dos direitos de outem tenha sido praticado
com base na permissão do lesado
• Poré m, o consentimento do lesado nã o exclui a ilicitude do acto, quando
esta se mostre contrá ria à proibiçã o legal ou bons costumes

• Exemplo:
o Vejo uma pessoa a desmaiar e para a levar a um hospital mais
facilmente, arrombo o carro da pessoa que desmaio e vou no carro
dele ate ao hospital.
o Imagine-se que essa pessoa que desmaiou vai pedir indemnização
pelos danos que eu causei no carro ao arrombar
o O que afasta aqui o Estado de Necessidade?
o É que a reação não é a um bem de terceiro, mas sim do que usufrui
o Há aqui consentimento presumido do lesado

• Consentimento:

a. Expresso à quando digo claramente

Eva Brás Pinho 208


b. Tácito à aquele que se verifica quando a pessoa vai para o boxe. No fundo o
comportamento é concludente. Não vai para o boxe se não estiver a espera de
levar socos
c. Presumido à aquele que é ficcionado face às circunstâncias concretas
o Consentimento presumido admite prova em contrário
o É o que sucede no exemplo acima

• Agora imagine-se que eu destruía coisa própria para salvar a outra
pessoa
o Não há estado de necessidade porque não estou a destruir coisa
alheia mas própria
o E também não há consentimento do lesado porque o bem não é de
outro
o Pode a responsabilidade ser da pessoa que desmaiou? Se a pessoa
esta no chão não faz facto voluntário, logo não esta a preencher os
pressupostos da responsabilidade
o Mas também nos parece injusto que a pessoa que partiu o próprio
carro para ajudar outrem não seja compensado pelos danos que
causou
o Trata-se aqui de uma gestão de negócios regular que dá lugar ao
ressarcimento dos danos sofridos através do 478º nº1

5.3 Imputação do facto ao agente. A culpa

Ø Traduz-se numa determinada posiçã o ou situaçã o psicoló gica do agente para


com o facto (prisma subjectivo)

Ø A lei exige que a violaçã o ilı́cita dos direitos ou interesses de outrem esteja
ligada a uma certa pessoa, de maneira a que se verifiquem dois pressupostos:

• Imputabilidade
• Censurabilidade

Causas de exclusão da culpa:

• Medo invencível – art. 337º/2

o ex.: assustei-me com um murro que me deram, e dei-lhe com uma


cadeira na tromba. Ele ficou inconsciente eheh.

• Desculpabilidade

Eva Brás Pinho 209


o ex.: mé dico que nã o dorme há 4 dias que se engana a dosear
remé dio e mata pessoa

• Ação em aparente legitima defesa ou ação direta – art.338º

o ex.:beco escuro onde sei que há assaltos, simula um assalto e o


outro mata



5.3.1 Imputabilidade

ARTIGO 488º

(Imputabilidade)

1. Nã o responde pelas consequê ncias do facto danoso quem, no momento em que o
facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer,
salvo se o agente se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitó rio.

2. Presume-se falta de imputabilidade nos menores de sete anos e nos interditos


por anomalia psı́quica.

• Temos de apreciar imputabilidade, para que a culpa seja considerada


• Só chego a avaliar a culpa segundo o critério do bom pai de família se eu
chegar à conclusão de que a pessoa é imputável

o Uma pessoa não imputável não responde pelo facto danoso (488º)

o Não tem capacidade de entender
§ Logo, a criança de 4 anos não teria de responder pelos danos por ser
inimputável ( não haveria culpa logo não seria responsabilizada)
§ No entanto, esta presunção de inimputabilidade é ilidível
§ Pode provar-se que uma criança de 6 anos que a partida seria
presumida inimputável tinha plena consciência de que o seu
comportamento era errado e por isso afastar-se a presunção de
inimputabilidade


• Nota: houve aqui alteração da lei à art 488º nº2;

o Pois até se estabelecer o regime do menor acompanhado, havia duas
situações em que se previa inimputabilidade – menores de 7 anos e pessoas
com anomalia psíquica;
o agora retirou-se a situação da anomalia psíquica

Eva Brás Pinho 210


o Não significa que pessoas com anomalia psíquica não possam provar que no
momento em que o facto ocorreu estavam inimputáveis, significa apenas
que não há presunção de inimputabilidade
§ Porque pode perfeitamente acontecer que a pessoa com anomalia
psíquica tenha momentos de lucidez e é preciso demonstrar que
quando o facto ocorreu não estava num desses momentos


Será que uma pessoa inimputável nunca responde pelos danos que causa?

• A lei diz que pode, em alguns casos

o Art.489º à indemnização por pessoa não imputável
o Este regime é diferente do regime geral, porque a responsabilidade da
pessoa não imputável tem 2 características que não se aplicam em
regra à responsabilidade por pessoa imputável:

2) Responsabilidade por equidade
ð Não posso então aplicar a teoria da diferença para o
cálculo da indemnização
ð Vamos ter assim em conta: a situação económica das
partes;

3) Responsabilidade subsidiária
ð caso não se consiga obter o ressarcimento dos seus danos da
pessoa que está obrigada a vigiar a pessoa inimputável
ð no regime regra da responsabilidade quando há uma partilha
de culpa o regime é o da solidariedade(497º)
ð Quando é que a subsidiariedade não obsta a que a
indemnização seja exigida a pessoa não imputável:
ü Quando não se pode recorrer a
uma pessoa vigilane

1. Pode não haver uma pessoa obrigada à
vigilância à Impossibilidade de natureza
jurídica
Ø Ex: quando uma pessoa adulta tem
problemas mentais mas não tnha nenhuma
sentença judicial que lhe atribuísse algum
responsável

2. Impossibilidade de natureza jurídica à Quando
há pessoa obrigada a vigiar, mas essa pessoa
não tem de responder por:

Ø + art 491º à estabelece que para
determinadas pessoas, por lei ou por NJ,
estão obrigados a indemnizar pelos danos
que pessoa que vigiam cause

Eva Brás Pinho 211


ü Estabelece uma presunção mas
podem ilidir a presunção provando
uma causa virtual ou que cumpriu
o seu dever

Ø provar que estavam a vigiar ou que os
danos se teriam produzido mesmo com a
tivessem cumprido (quando admitimos
relevância negativa à causa virtual)

Ø Nota: este art. não fala em
inimputabilidade exclusivamente, fala em
incapacidade natural
Ø Um menor de 12 tem incapacidade natural,
mas pode ser imputável

3. Se houver impossibilidade material de o
vigilante indemnizar, por não ter dinheiro
suficiente à Impossibilidade material

5.3.2 Censurabilidade

“Podia e devia ter agido diferentemente naquele caso”


Olhando para o caso concreto, nã o há motivo/justificaçã o para justificar o
afrouxamento da diligê ncia

• O agente nã o só sabia o que deveria ter feito, como fez exatamente o
contrá rio
• Como é apreciada? – culpa em abstrato – art. 287º

o A censurabilidade é apreciada pelo modelo da culpa em abstrato,


do bom pai de família, comparando-se a conduta daquela
pessoa em concreto com a conduta que uma pessoa mé dia teria
naquele caso
o Eu o crité rio utilizado pelo legislador
o Compara-se a conduta do agente em concreto com a conduta que
um bom pai de famı́lia teria praticado naquele contexto

§ Se usou a mesma diligê ncia do homem medio à nã o houve culpa


§ Se usou diligê ncia inferior à de um homem mé dio à houve culpa

5.3.3 Dolo e mera culpa

Eva Brás Pinho 212


Ø O grau da culpa foi irrelevante durante muito tempo para efeitos de
determinaçã o da indemnizaçã o

• Face a isto, os autores inspiraram-se no ramo do Direito em que a
responsabilidade, regra geral, pressupõ e a culpa, que se traduz numa
certa posiçã o do agente para com o facto: o direito penal
• O grau de culpa do agente interessa para a determinaçã o do
quantitativo da indemnizaçã o, nos termos do art. 494o

Há três graus de culpa:

a. Culpa grave – omissã o dos mı́nimos de diligê ncia, a qual só ocorre por um
homem especialmente desleixado
• ex.: B adormece a conduzir

b. Culpa leve – situaçõ es em que o agente adotou um padrã o de conduta que nã o
está em conformidade com o padrã o de conduta que o homem mé dio adotaria,
mas nã o se pode falar de um comportamento desleixado
• ex.: B vai em excesso de velocidade

c. Culpa levíssima – nem o bom pai de famı́lia teria estes nı́veis de diligê ncia, e
como tal já nã o há culpa
• Nota: o ú nico caso do ordenamento jurı́dico que sanciona este tipo é o
art. 493º/2 porque o ilı́cito é causado por uma atividade perigosa

Ø Dolo direto ou intencional



o quando se haja com a intenção de atingir o resulto ilícito que de
antemão representou e quis
o ex: A quer matar B. Atira sobre ele e atingi-o

Ø Dolo indireto ou necessário

o O agente não tem aqui a intenção de causar o resultado ilícito, no
entanto sabe e aceita que esse resultado é uma consequência necessária
e inevitável do resultado que pretende atingir

o Ex: A quer incendiar a casa de B. Sabe que B não consegue fugir porque
esta acamado. Ele não quer matar o B, so quer incendiar a casa, mas
sabe que vai acabar por matar B e conforma-se com isso.

Ø Dolo eventual
o Aqui o resultado ilícito é apenas possível e não necessário da conduta do
agente
o Aqui não posso aplicar o 494º
o É preciso ter cuidado na distinção entre o dolo eventual e a negligência
consciente

Eva Brás Pinho 213


o Ex: passar um sinal encarnado 15 segundos depois está-se mt mais
próximo do dolo eventual do que se fosse 3 segundos depois

Ø Normas relevantes no âmbito do dolo à art 814º nº1; art 815º nº2; art 1681º
nº1

Ø Negligência consciente

o Há um resultado ilícito que é possivel da conduta do agente
o Aqui pode aplicar-se o 494º
o Aqui a pessoa acredita que o resultado negativo não vai acontecer, ainda
que saiba que pode acontecer

Ø Negligência inconsciente
o O agente nem sequer considerou que poderia haver um fim ilícito
o Contudo, um agente bom pai de família saberia que não teria de agir
dessa forma

Normas relevantes a ter em consideração:

Art 494º à permite limitar a indemnização no caso de mera culpa
Art 497º nº2 à norma que estipula que o direito de regresso entre os
responsáveis dár-se-a na medida da culpa das pessoas responsáveis, isto é, se uma
pessoa teve mais culpa paga mais
Art 506º nº2 à a respeito da colisão de veículos
Art 507º nº2
Art 570º à trata da culpa do lesado que pode fazer com que o juiz exclua a
indemnização atendendo ao grau da culpa

5.3.4 Prova e presunções de culpa

Art. 487º/1 – cabe ao lesado provar a culpa do autor da lesão, excepto nos
casos em que há presunção de culpa

• (art. 491, art. 492º/1 e art. 493º/1)



• Todas estas normas se baseiam numa presunçã o de culpa assente numa
ló gica de equilı́brio, em que o lesado tem a seu favor a presunção de
culpa do lesante e este tem a possibilidade de a ilidir:

o alegando e provando o contrario (art. 350º/2)
o ou invocando a relevância negativa da causa virtual


ARTIGO 491º

Eva Brás Pinho 214


(Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem)

As pessoas que, por lei ou negócio jurídico, forem obrigadas a vigiar outras, por
virtude da incapacidade natural destas, são responsáveis pelos danos que elas
causem a terceiro, salvo se mostrarem que cumpriram o seu dever de vigilância ou
que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido.

• Há uma presunção legal de culpa


• Adicionalmente, tem també m o reconhecimento negativo de causas virtuais

§ ex. art. 491ºà filho parte uma montra, mas a montra ter-se-ia
destruı́do na mesma pois houve um terramoto minutos depois

§ Quando os pressupostos da responsabilidade estã o preenchidos, há
direito a indemnizaçã o natural ou por restituiçã o de dinheiro – art.
566º/1 (ver mais a frente – indemnizaçã o)

§ Calcular a indemnizaçã o em dinheiro – Teoria da diferença – art.
566º/2:

ð A indemnizaçã o calcula-se pela diferença da situaçã o
patrimonial atual do lesado e a situaçã o patrimonial
hipoté tica do lesado (se a lesã o nã o tivesse ocorrido) na data
mais recente que o tribunal possa avaliar

ð No caso da montra, a situação atual = situação hipotética

v Logo, a indemnizaçã o = 0

• Questão do não reconhecimento de relevância negativa a causas
virtuais
o Relevâ ncia negativa da causa virtual
§ Significa usar a causa virtual para com isso excluir o
dever de indemnizar do autor da causa real

• A doutrina tem interpretado esta teoria no sentido de nã o reconhecer isto


• Algué m, ao abrigo da teoria da diferença, nã o pode ser isentado de
responsabilidade por um facto furtuito
• nã o seria aceitá vel porque nã o deixou de haver um comportamento
responsabilizante que causou um dano
• A doutrina vem dizer, ainda que acessoriamente, que a responsabilidade
civil tem uma ideia punitiva

• ex.: o tremor de terra, relativamente ao facto de a montra ter sido partida


pelo filho e ao dano, representa uma causa virtual

• Se eu admitisse que o tremor de terra excluı́sse a responsabilidade do filho,


estarı́amos a dar relevâ ncia negativa à causa virtual

Eva Brás Pinho 215


• Relevância positiva da causa virtual
o Quem promove uma açã o, que nã o causou o dano porque algué m se
antecipou (mas poderia ter causado o dano)
o ex.: cavalo foi envenenado, mas algué m lhe dá um tiro antes deste
morrer

• Indemnização calculada pela equidade e não pela diferença

o ex.: indemnizaçã o de danos nã o patrimoniais, por pessoa nã o
imputá vel ou quando há culpa do lesado
o A lógica geral é à da da pessoa responde perante outrem , a
não ser que prove que não agiu com culpa ou entã o que, ainda
que existisse culpa, invoque a relevâ ncia negativa da causa virtual

ARTIGO 492º
(Danos causados por edifícios ou outras obras)

1. O proprietário ou possuidor de edifício ou de outra obra que ruir, no todo ou
em parte, por vício de construção ou defeito de conservação, responde pelos
danos causados, salvo se provar que não houve culpa da sua parte ou que,
mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os danos.

2. A pessoa obrigada, por lei ou negócio jurídico, a conservar o edifício ou obra
responde, em lugar do proprietário ou possuidor, quando os danos forem devidos
exclusivamente a defeito de conservação.

• Há uma presunçãolegal de culpa


o Recai no proprietá rio/no possuidor desses mesmo edifı́cio ou na pessoa
obrigada a conservar o mesmo (art. 492º/2)

• Adicionalmente, tem també m o reconhecimento negativo de causas virtuais

ARTIGO 493º
(Danos causados por coisas, animais ou actividades)
1. Quem tiver em seu poder coisa móvel ou imóvel, com o dever de a vigiar, e bem
assim quem tiver assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais,
responde pelos danos que a coisa ou os animais causarem, salvo se provar que
nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente
produzido ainda que não houvesse culpa sua.

2. Quem causar danos a outrem no exercício de uma actividade, perigosa por sua
própria natureza ou pela natureza dos meios utilizados, é obrigado a repará-
los, excepto se mostrar que empregou todas as providências exigidas pelas
circunstâncias com o fim de os prevenir.

• Há uma presunção legal de culpa
• Adicionalmente, tem també m o reconhecimento negativo de causas virtuais
• Coisas = circunstâncias muito diversas

Eva Brás Pinho 216


o ex.: elevadores, balizas, á rvores, etc.

• Segundo o STJ, os acidentes de viação não se englobam no art. 493º/2
• ≠ art. 502º
o No anterior (art. 493º), temos um caso de responsabilidade por factos
ilı́citos
§ Tem de haver culpa (ainda que presumida)
§ Subjectivamente, é a pessoa que está obrigada a vigiar o
animal
§ Em relação ao âmbito, trata as atividades perigosas

ð Atravé s da jurisprudê ncia:
v Produçã o e fabrico de produtos piroté cnicos
v Corridas de karting
v etc.
ð Caso especial nã o incluı́do – acidentes de viaçã o
v andar de carro é bastante perigoso
v Assento 1/80 – já estã o cobertos no regime da
responsabilidade objectiva sem culpa

o ex.: A dá boleia a B; B tem um reló giode 50k; sofrem acidente e o reló gio
fica destruı́do. B pode pedir indeminizaçã o a A?

o Art. 504º: só se abrange os danos pessoais – nã o pode

o Mas e se A estava todo bezano e B nã o sabia? Já nã o se aplica o art.
504º/3 – havendo culpa, aplica-se o regime geral – CULPA é relevante

o Prof. ML – três casos em que se houver qualquer coisa mais do que
a condução já se justifica ir ao regime mais gravoso do art. 493º/2:

§ Provas desportivas de conduçã o
§ Transporte de material inflamá vel
§ Conduçã o sob efeito de á lcool ou

Estupefacientes

o Neste (art. 502º), temos um caso de responsabilidade pelo risco


(não interessa a culpa)
§ Prescinde-se do requisito da culpa
§ Subjectivamente, refere-se à pessoa que aproveita/utiliza o
animal no seu pró prio interesse
§ Em relaçã o ao â mbito, circunscreve os danos pelos quais se pode
responder sem culpa aos que resultem ao perigo especial que
envolve a sua utilizaçã o
ð “especial”: dano que deriva das características da
própria espécie

Eva Brás Pinho 217


5.3.5 Pluralidade de responsáveis

Ø Caso de serem vários os autores, instigadores ou auxiliares do ato ilícito
Ø Todos respondem pelos danos que hajam causado ( art490º)
Ø A sua responsabilidade é solidária ( art 497º)

Ø A lei não pressupõem uma ação concertada ou que haja cooperação entre os
agentes
• Existirá a sua responsabilidade mesmo que tenham atuado
isolados e sem plano de conjunto

5.4 Dano
• Art 483º nº1 “ obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes
da violação”
• Não existe correlação entre a amplitude dos danos e o grau de culpa (
um dano pequeno pode surgir de uma situação de dolo e um dano
grande pode surgir de uma situação de mera culpa)

5.4.1 Noção e espécies de dano

Dano à ofensa de bens ou interesses que são protegidos pela ordem jurídica

Há vários tipos de danos:

d. Patrimoniais à suscetíveis de avaliação pecuniária

e. Não patrimoniais à não suscetíveis de avaliação pecuniária

Danos patrimoniais indiretos à quando os dois acontecem. Ex: difamação do
qual resultam danos morais mas também perdas económicas pela diminuição da
clientela profissional. A compensação abrangerá tanto a compensação do puro
dano não patrimonial como ainda a indemnização pelos seus reflexos materiais.


f. Danos materiais àObjeto da ofensa é a coisa

g. Danos pessoais à Objeto da ofensa é a pessoa

Há danos que podem figurar vários tipos de danos ao mesmo tempo:

Ø Alguém que vai para o hospital e deixou de trabalhar, tem danos pessoais no
corpo, tem danos patrimoniais porque deixa de trabalhar e de ganhar dinheiro
Ø Se um amigo meu parte uma jarra que era passado há anos em gerações da
minha família então há um dano material porque a jarra se parte, á dano

Eva Brás Pinho 218


patrimonial porque perco o valor pecuniário da jarra, e tenho danos não
matrimoniais referentes a ferir o sentimento de memoria da família


h. Dano real
Ø dano que o lesado teve em sentido naturalístico
Ø Ex: partir uma perna ( curar-se é a reconstituição natural) ; um veiculo que é
destruído num incendio ( substituir por um igual é a reconstituição natural)
Ø Isto é importante para a consideração da reconstituição natural
o primordial no nosso OJ
o possível nos danos reais
o reconstituir a situação hipotética que existiria se não tivesse
existido dano


Quando a reconstituição natural não é possível ( art 566º nº1)?

Ø Indemnização em dinheiro calculada pela teoria da diferença
Ø Quando a reconstituição natural não é possível
Ø Quando a reconstituição natural não consegue reparar integralmente os danos
sofridos pelo credor
Ø Quando é excessivamente onerosa para o devedor

i. Dano de cálculo à expressão pecuniária da ofensa ocorrida a um dano real
• Cabe neste domínio uma avaliação abstrata ou uma avaliação concreta
• Apura-se a diferença para menos produzida no património do lesado
• Opera-se em concreto com a teoria da diferença
• Ex: valor pecuniário do carro quando não seja possível restituir um igual ;

j. Dano emergente à perda ou diminuição de valores já existentes no


património do lesado
Ex: partiu se a jarra que eu tinha que custava 100€

k. Lucro -cessante à os benefícios que o lesado deixou de obter em resultado da
lesão

l. Danos presentes à já se fixaram à data da ocorrência da indemnização.

m. Danos futuros à danos que ainda não se verificaram

• são indemnizáveis se forem previsíveis art 564º nº2
• Subdividem-se entre certos e eventuais conforme a respetiva produção
se apresente infalível ou apenas possível

n. Danos diretos à Danos que resultaram imediatamente do facto ilicito
o. Danos indiretos à resultam mediatamente ( indiretamente) do facto ilicito

Eva Brás Pinho 219


p. Dano positivo ou de cumprimento à situação em que o lesado estaria se o
contrato tivesse sido cumprido ( interesse contratual positivo)
• Destina-se a colocar o lesado na situação em que se encontraria se o
contrato fosse exatamente cumprido
• Prejuízos que decorrem do não cumprimento definitivo do contrato ou do
seu cumprimento tardio ou defeituoso

q. Dano negativo ou de confiança ( interesse contratual negativo) à situação
em que o lesado estaria se o contrato não tivesse sido celebrado
• Repor o lesado na situação em que estaria se não houvesse celebrado o
contrato, ou mesmo iniciado as negociações com vista à respetiva conclusão

r. Ressarcíveis à quando a indemnizaçã o permite verdadeiramente apagar a


existê ncia do dano (o prejuı́zo)

s. Compensáveis à quando a indemnizaçã o nã o permite verdadeiramente
apagar a existê ncia do dano (o prejuı́zo)

(os danos patrimoniais muitas vezes sã o ressarcı́veis - nem sempre; os danos nã o-
patrimoniais só podem ser compensá veis)

t. Naturais à quando o dano prové m da natureza



u. Humanos à quando o dano prové m duma açã o humana

Nota:

Acordão 8.09.2016 ( processo nº1952/13) à Danos económicos puros à ver
hipótese XXV

• Há uma perda económica que ocorre sem ter havido uma violação de um
direito absoluto
• Quando é que estes danos económicos puros são ressarciveis?
o Quando se conseguir de identificar uma outra modalidade ilicitude,
nomeadamente:
§ quando se encontrar uma disposição legal destinada a proteger
interesses alheios
§ quando aconteça uma situação por exemplo de abuso direito

• Imagine-se que há uma interrupção da energia elétrica e isso faz com que o
trabalho que eu estou a fazer no meu computador se perca e isso leva a um
dano económico grande porque tinha de entregar dali a uma hora e já não
consigo
o Aqui há um dano económico puro porque há um prejuízo apesar de
não haver um direito violado.

Eva Brás Pinho 220


• Caso não haja nenhuma das situações acima, não é ressarcivel
o Isto porque se pretende evitar uma situação de multiplicação de
pedidos de indemnização

• O danos economicos puros em sede de responsabilidade extracontratual
não são ressaciáveis uma vez que não conseguimos encontrar um direito
absoluto violado

Dano morte – lesã o que corresponde à morte de uma pessoa, sabemos que é um
dano autó nomo.

O que a nossa lei admite sã o 2 tipos de danos:

1) danos sofridos pela pessoa falecida


2) Danos sofridos pelas pessoas indicadas na lei.

• Há uma dú vida, que ainda subsiste, que é se essas pessoas que estã o indicadas
no art.496/2
• recebem relativamente aos danos sofridos pela vitima, a titulo pró prio ou a
titulo sucessó rio. Imaginando que o senhor A morreu, e se lhe for atribuı́da
uma indemnizaçã o, essa vai integrar
• a herança e depois vai ser atribuı́da a essas pessoas por tı́tulo sucessó rio – o
reflexo prá tico que isto tem, é que se integrar a herança, sendo essa um
patrimó nio autó nomo, essa indemnizaçã o vai ter de responder pelas dividas
da herança.
• Por isso, há quem defenda e o Professor Henrique Antunes concorda, que esta
indemnização deve ser atribuída autonomamente por direito próprio às
pessoas que vêm no art.496/2.

• Mas questã o pré via a esta, é saber o que indemnizamos quando uma
pessoa morre
o há vá rios argumentos para se poder dizer que se a morte é imediata,
nã o haveria lugar a indemnizaçã o por danos sofridos pelo falecido.
o Portanto, basicamente o sofrimento está nas pessoas que ficam,
essas sã o indemnizadas nos termos do 496/2.

• Se o imediata nã o haveria. Embora a questã o tenha razã o de ser, hoje está
resolvida pacificamente – é incontestável que a perda da vida é uma lesão
autónoma que é susceptível de ressarcimento.
o O problema está nos valores do ressarcimento.

• Quando algué m morre há o ressarcimento da perda da vida, e há o
ressarcimento dos danos nã o patrimoniais sofridos pelas pessoas indicadas
no 496º(depois havendo a duvida se recebem por via sucessó ria ou directa).

Eva Brás Pinho 221


5.4.2 Ressarcibilidade dos danos não patrimoniais


ARTIGO 496.º
(Danos não patrimoniais)

1. Na fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais
que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito.

2. Por morte da vítima, o direito à indemnização por danos não patrimoniais
cabe, em conjunto, ao cônjuge não separado de pessoas e bens e aos
filhos ou outros descendentes; na falta destes, aos pais ou outros
ascendentes; e, por último, aos irmãos ou sobrinhos que os
representem.

3. Se a vítima vivia em união de facto, o direito de indemnização previsto no
número anterior cabe, em primeiro lugar, em conjunto, à pessoa que vivia
com ela e aos filhos ou outros descendentes.

4. O montante da indemnização é fixado equitativamente pelo tribunal,
tendo em atenção, em qualquer caso, as circunstâncias referidas no artigo
494.º; no caso de morte, podem ser atendidos não só os danos não
patrimoniais sofridos pela vítima, como os sofridos pelas pessoas com
direito a indemnização nos termos dos números anteriores.

Ø Os danos não patrimoniais, embora insusceptíveis de uma verdadeira e própria
reparação ou indemnização, porque inavaliáveis pecuniariamente, podem ser,
em todo o caso, de algum modo compensados.

Ø Admite-se a indemnização dos “ danos não patrimoniais que, pela sua
gravidade, mereçam a tutela do direito”

Ø A lei não os enumera, mas confia ao tribunal o encargo de apreciar, em
cada situação concreta, através de fatores objetivos, se o dano não patrimonial
se mostra digno de proteção jurídica

Ø A indemnização por danos não patrimoniais aplicam-se a todos os tipos de
responsabilidade

Ø É pouco convincente os contraargumento a admissibilidade de compensação
dos danos não patrimoniais alegando-se a dificuldade acrescida que possa
existir na prova e apreciação desses danos em algumas circunstâncias, ou a de
eventuais fatores de insegurança que se introduzam no comércio jurídico

Ø Assim, admite-se a plena consagração:

• Do princípio da ressarcibilidade dos danos não patrimoniais à 496º nº1

Eva Brás Pinho 222


• Do critério de fixação equitativa da indemnização à 496º nº3

o Este critério não depende de haver ou não motivo para atenuação da
responsabilidade, nos termos do art 494º
o A determinação do montante indemnizatório compensatório que
corresponde aos danos não patrimoniais calcula-se sempre segundo
critérios de equidade
o Atende-se:
§ à extensão e gravidade dos danos
§ ao grau de culpa do agente
§ à situação económica deste e do lesado
§ todas as circunstâncias que contribuam para uma solução
equitativa


5.5 Nexo de causalidade entre o facto e o dano

ARTIGO 563º

(Nexo de causalidade)

A obrigaçã o de indemnizaçã o só existe em relaçã o aos danos que o lesado


provavelmente nã o teria sofrido se nã o fosse a lesã o

Ø O facto tem de ser causa do dano


Ø “Provavelmente” à utiliza esta expressão a doutrina para dizer que a teoria a
aplicar deve ser a Teoria da Causalidade Adequada





1. Teoria da equivalência das condições

• É causa de um evento, toda e qualquer condição que tenha concorrido
para a sua produção em termos tais que a sua não ocorrência
implicasse que o evento deixasse de se verificar

• Assim, todos os factos que são condição necessária do evento são
considerado como causa desse dano e portanto levam a responsabilização

• Critica à conduz a um alargamento excessivo do nexo de causalidade e
pode conduzir a soluções injustas

• Ex: eu dou uma noticia triste a alguém que vai conduzir e tem um acidente
por estar triste; se eu não tivesse contado ela teria guiado bem e o dano não
teria ocorrido; nesta circunstância eu seria responsabilizado

• Há factos que podem não ser evidentes para a produção dos danos

Eva Brás Pinho 223



Teorias seletivas:

Ø Vem escolher apenas alguns factos



2. Teoria da última condição ou da causa próxima

• A causa mais próxima do dano assume-se como a causadora do dano

• Critica: nem sempre o último facto gera imediatamente o dano. Assim,
esta teoria é muito redutora e não tem em conta as causas indiretas

• Esta não é uma doutrina defensável
• Muitas vezes um facto gera outro facto que vai levar a um dano, por isso
esta teoria é redutora
• Ex: A prende B numa jaula de leões. Quem morre comido por leões teve o
seu dano porque o amigo o prendeu la dentro e não pelo simples facto,
ainda que ultimo, de os leões o terem mordido; Não seria justo que A não
fosse responsabilizado so porque o dano foi causado diretamente pelos
leões, sem atender à causa indireta do dano que foi A ter fechado B na jaula

3. Teoria da condição eficiente

• Fazer uma avaliação de todas as causas e ver qual é que foi a mais
relevante e eficiente para a produção do dano
• Critica: esta teoria tem uma grande dose de subjetividade e pode gerar
injustiças
• Esta teoria ainda assim seria mais válida do que as supra expostas

5.5.1 Teoria da causalidade adequada

Ø Teoria mais razoável e com assento normativo



Ø Segundo esta teoria para que exista um nexo de causalidade entre um facto
e um dano é preciso em primeiro lugar que o facto tenha sido em concreto
condição do dano

• ( parecido com a teoria da equivalência das condições)

Ø Mas não basta dizer que um conjunto de circunstâncias se reuniram para que o
dano sucedesse

Ø É preciso fazer uma avaliação em abstrato e é preciso que o facto seja
adequado a produzir o dano segundo o curso normal das coisas

Eva Brás Pinho 224


• A adequação tem de ser avaliada em função do caso concreto
• Isto acontece quando “ provavelmente” aquele facto pode gerar o dano
• Porque alguém me manda uma mensagem, eu fico triste e tenho uma
acidente, este facto não chega para dizer que é o verdadeiro causador do
dano
• Não devo bastar me apenas com a última causa, porque o facto
efetivamente relevante pode não ter sido o ultimo, e podem haver vários
factos eficientes


Ø Quando se fala numa responsabilidade sem culpa ( por risco) devemos ser mais
rigorosos na aplicação desta teoria e ser mais restritos na avaliação abstrata da
adequação
• Um facto só não será causa do dano se noa for de todo adequado à causa
do dano no caso das responsabilidades por facto ilícito porque há dolo

Teoria do fim ou do escopo da norma violada:

• As normas têm sempre objetivos, como as normas de excesso de velocidade
que têm como objetivo garantir a segurança dos condutores
• Saber se os danos que resultaram do facto correspondem à frustração
das utilidades que o legislador procurava prosseguir com a aprovação
da norma
• É auxiliar na resolução de alguns casos
• Na prática, é uma teoria que complementa ( para alguns ate substitui) a
teoria da causalidade adequada

5.5.2 Problema da causa virtual ou hipotética



Causalidade interrompida ou interrupção do nexo causal à quando um facto (
causa virtual) adequado a provocar determinado dano, não chega todavia a
ocasiona- lo porque entretanto um outro facto ( causa operante), autónomo do
primeiro, produziu o mesmo facto danoso

ATENÇÃO: A CAUSA VIRTUAL É SO SE O RESULTADO VIESSE A SER
IGUAL AO DA CAUSA OPERANTE


Exemplo:
o A ministra ao cavalo X de B uma dose mortal de veneno
o acontecendo, porém, que, antes de se consumarem os seus efeitos, o cavalo
é morto a tiro por C

Problemas:

Eva Brás Pinho 225
1. Problema da relevância positiva da causa virtual

• Saber se a causa virtual ou hipotética do dano pode fundamentar uma
obrigação de indemnização do seu autor
• Entende-se que a causa hipotética ou virtual não constitui
fundamento para uma obrigação de indemnização, devendo
considerar-se o dano como consequência do facto interruptivo
A circuns
• O autor da causa virtual apenas estará obrigado a reparar o efeito
parcial porventura produzido, de que o seu facto foi, na verdade,
causa real ou operante

2. Problema da relevância negativa da causa virtual

• Saber se pode invoca-lo o autor da causa operante ou real, para
excluir ou reduzir a obrigação de indemnização que sobre ele
impende
• A causa virtual não possui relevância negativa de excluí-la pois em nada
afeta o nexo causal entre o facto operante e o dano
• Sem o facto operante o lesado teria o dano idêntico, mas não aquele
preciso, dai que exista a obrigação de indemnizar
• No plano da isenção ou atenuação da obrigação indemnizatória, verifica-
se que pode, excecionalmente, ser tomada em linha de conta a
circunstância de que o dano viria a produzir-se como consequência da
causa virtual ou hipotética
o nesta medida assume relevância negativa à arst 491º, 492ºnº1,
493º/1, art 616º/2, 807º/2, 1136º/2
o nestes caso há o denominador comum de o seu beneficiário se
encontrar numa posição de responsabilidade agravada
o é perante o mencionado agravamento da posição do responsável
que a lei entende justo admitir a relevância negativa da causa
virtual, que, pondo-se o problema, opera mesmo em face da culpa
provada



Ø A esta figura contrapõem-se a causalidade antecipada ou prematura à que
se verifica quando o dano, provocado por certo facto, se teria produzido mais
tarde, em consequência de um outro

5.6. Prescrição

Art 498º nº1 determina 2 prazos para a prescrição do direito à
indemnização:

a) 3 anos a contar da data em que o lesado tenha conhecimento desse direito

Eva Brás Pinho 226


o Ou seja, a verificação dos pressupostos embora com
desconhecimento da pessoa do responsável e da extensão integral
dos danos

b) 20 anos, prazo ordinário a contar do facto danoso ( art 309º)

Ø Prazo de 3 anos à partir do cumprimento, prescreve o direito de regresso
entre responsáveis ( art 498º nº2)

Ø Se o facto ilícito constituir crime para que a lei penal consagre prazo mais
longo, será este o aplicável (art 498º nº3)
• Art 118º CP à fixa prazos prescrição de 15,10 e 5 anos conforme os
vários crimes

6. Responsabilidade pelo risco


Ø Responsabilidade objetiva àEstamos pelo menos a abdicar do pressuposto da
culpa

Art 500º e 503º e seg
O legislador intendeu que risco poderá significar:

• perigo
• proveito/beneficio/utilidade
• autoridade

o o legislador considera que é justo que uma pessoa deva responder
pelos danos que causa
§ apesar de não ser a fonte de um perigo, mas porque tem benefício
com a atividade ou porque dá ordens para a execução de
determinadas tarefas que deve assumir os prejuízos que estejam
associadas a esses benefícios/autoridade

o A par das situações em que consideramos um perigo, temos a
responsabilidade de quem dá ordens e instruções ou do estado ou
de mais pessoas coletivas publicas
v Art 500º: Se tiver a empresa A que tem ao seu serviço 50
empregados vai responder pelos danos causados pelos seus
empregados

6.1 Formulação do problema



Ø Embora predomine o princípio da responsabilidade subjetiva baseada na culpa,
sancionam-se situações excecionais de responsabilidade objetiva ou pelo
risco ( = independentes de culpa)
Eva Brás Pinho 227

• Entende-se que se alguém exerce uma atividade criadora de perigos
especiais então deve responder pelos danos que ocasione a terceiros
• Será uma contrapartida pelas vantagens que o exercício daquela
atividade traz

• A obrigação de indemnizar os danos causados a terceiros é
independente da culpa, mas não significa que a culpa seja irrelevante
uma vez que pode ter interesse:
o No estabelecimento de limites do quantitativo indemnizatório -à
508º e 510º
o Quando existem vários responsáveis à art 500/3, 501º e 507/2º
o Na concorrência de culpa do lesado na produção ou agravamento do
dano à 570º
o Critérios de indemnização por danos não patrimoniais e graduação
equitativa por mera culpa à 498º por remissão o 499º

6.2 Casos de responsabilidade pelo risco



Art 499º à são extensivas aos casos de responsabilidade civil as disposições
relativas à responsabilidade civil por factos ilícitos

Ø São razões de certeza e segurança jurídica que levam o legislador a especifica
que atividades perigosas é que constituem fonte de responsabilidade

Ø Além das atividades especificadas no código civil, há muitas outras especificas
em legislação avulsa

• Responsabilidade de danos causados por aeronaves
• Responsabilidade de danos causado no exercício da caça com armas de
fogo

6.2.1 Responsabilidade do comitente

ARTIGO 500º

(Responsabilidade do comitente)

1. Aquele que encarrega outrem de qualquer comissã o responde,


independentemente de culpa, pelos danos que o comissá rio causar, desde que
sobre este recaia també m a obrigaçã o de indemnizar.

2. A responsabilidade do comitente só existe se o facto danoso for praticado pelo


comissá rio, ainda que intencionalmente ou contra as instruçõ es daquele, no
exercı́cio da funçã o que lhe foi confiada.

Eva Brás Pinho 228


3. O comitente que satisfizer a indemnizaçã o tem o direito de exigir do comissá rio
o reembolso de tudo quanto haja pago, excepto se houver també m culpa da sua
parte; neste caso será aplicá vel o disposto no no 2 do artigo 497o.


3 Requisitos para se aplicar o art 500º, para que o comitente seja
responsabilizado:

1. relação de comissão à alguém ter encarregado outrem de executar
determinada tarefa que é realizada por conta e interesse do primeiro

• art 500 nº1
• esta relação é uma relação que se caracteriza genericamente
mas que pressupõem um vínculo de autoridade e
subordinação .
• não é só encarregar um amigo de fazer algo, tem de haver um
vínculo jurídico do qual se possa retirar que a pessoa que
encarrega tem a possibilidade de dar ordens, instruções e
fiscalizar a conduta do comissário
• dai que a responsabilidade do comitente muitas vezes se
confunda com a responsabilidade que existe da entidade
empregadora relativamente ao danos causados pelo seu
empregador
• ex: contrato de trabalho é uma relação de autoridade e de
subordinação

2. Obrigação de indemnizar o comissário

• art 500º nº1
• o próprio comissário tem de ser obrigado a indemnizar
• divergência doutrinal:
o saber se indemnizar pode ter apenas fundamento em culpa ou se
pode ter outros fundamentos como responsabilidade licita ou por
risco

1) Professor Antunes Varela
§ o art 500 nº3 à diz “ também” culpa à dá a entender que para
haver esta obrigação de indemnizar pelo comissário tem de
haver culpa da sua parte e portanto responsabilidade civil por
factos ilícitos quanto ao comissário
ð ou seja, para o comitente indemnizar o comissário
tinha de ter culpa

2) Prof Almeida Costa
§ Admite que haja obrigação de indemnizar do comissário, mesmo
que não seja por factos ilícitos ( imagine-se uma situação de
responsabilidade por factos lícitos)
§ Funda este argumento no art 165º ( responsabilidade civil das
pessoas coletivas)

Eva Brás Pinho 229



3. O facto danoso tem de ter sido praticado no âmbito das funções que lhe
foram destinadas

• Art 500 nº2
• A questão está em saber o que é que definimos como “ em execução de
uma tarefa”

Quando é que se considera que está no exercício da função?

• Não se interpreta como algo feito “ por ocasião das funções” à neste caso
não estou no exercício da função

• É interpretado como sinónimo de “ por causa da função”

o Descobrir se há um nexo de adequação da natureza da função que foi
atribuída ou dos instrumentos que lhe foram entregues para a
prossecução da função e os danos que vieram a ocorrer
o Há um grau de probabilidade de risco no exercício da função e o
dano veio a estar na esfera desse risco que está associado à função

Hipóteses:

a. Um determinado funcionário está a fazer a reparação de um telhado ( tarefa da
empresa para quem trabalha) em função de um descuido a telha cai na cabeça
de uma senhora que passava ao lado dessa casa e a senhora fosse grave danos
de vários tipos


b. O mesmo funcionário esta a fazer a reparação de uma instauração elétrica,
fuma, atira a beata para o chão e causa um incendio na casa
o o caso do cigarro é por ocasião da função, porque não é atividade da
reparação da extensão elétrica que veio a causar aqueles danos, mas
sim outro facto


c. Um sujeito dirige-se a um banco para saber as condições para abertura de uma
conta e como é um bocado surdo, debruça-se sobre o balcão para ouvir o que o
funcionário diz. O funcionário aproveita-se e consegue retirar a carteira do
senhor
o O furto poderia ter acontecido ali como noutro sitio—não foi o facto de
estar no banco, não houve nenhuma contribuição das funções ou dos
instrumentos que tenham sido atribuídos ao funcionário para o
exercício das suas funções para o dano—não podemos dizer que os
danos foram causados por causa das funções


Eva Brás Pinho 230


d. Novamente um sujeito que se dirige a um banco e quer saber as condições, o
funcionário percebe que a pessoa é humilde, engana-a e fá-lo preencher um
formulário que na verdade é uma transferência de dinheiro da conta do sujeito
para o próprio funcionário

o O funcionário ao estar naquele espaço gera confiança, quando a pessoa
preenche nunca pensaria que seria uma transferência de dinheiro de
uma conta para a outra, ou seja, a instituição criou pelo simples facto
de ela existir e ter o seu funcionário ao serviço, criou um grau de
confiança que veio a permitir a ocorrência do dano

e. Uma empresa põem nas mãos do funcionário e usa o carro para atropelar
alguém

o O facto foi praticado com dolo direto, mas ele o fez com um
instrumento que lhe foi entregue pela própria empresa e é um
instrumento que pode servir para este tipo de lesões, de atropelar
alguém
§ HSA: o comitente teria de ser responsável
Quem deu o carro foi a empresa, quem deu o cigarro não foi a empresa
ð tenho um funcionário ao meu serviço e durante a
hora de almoço vai a um restaura entra numa
briga e fere 2 pessoas
o o comportamento está dissociado da empresa, e não há nada das
funções que levariam a este dano a não ser a circunstancia que por
causa das suas funções está naquele momento naquele lugar—o
comitente não vai ser responsável



Há 3 tipos de culpa:
• Culpa in naligente: na escolha
• Culpa in instrumento: na instruções
• Culpa in vigilando: na vigilância
o O comitente é responsável mesmo que não haja nenhuma destas
culpas

Nota: no art 800º o devedor vai se colocar na posição do auxiliar


v ex: o devedor devia ter feito a reparação da eletricidade sem causar danos

6.2.2 Responsabilidade do Estado e outras entidades
públicas [remissão]

Eva Brás Pinho 231


ARTIGO 501º
(Responsabilidade do Estado e de outras
pessoas colectivas públicas)
O Estado e demais pessoas colectivas pú blicas, quando haja danos causados a
terceiro pelos seus ó rgã os, agentes ou representantes no exercício de
actividades de gestão privada, respondem civilmente por esses danos nos
termos em que os comitentes respondem pelos danos causados pelos seus
comissá rios.

• Remete-se para o regime do art 500º


• Refere-se a atos no Âmbito da gestão privada.
• A responsabilidade civil extracontratual do Estado e das demais entidades
públicas no domínio dos atos de gestão pública foi disciplinada pelo DL
nº48051
• Constituem atos de gestão pública:
o A detenção de uma pessoa pela policia
o A sentença de um juiz ou o registo de um imóvel feito pelo
conservador do registo predial
o A gestão pública não envolve ou reflete necessariamente o exercício
imediato de poderes soberanos. Importa sim que a atividade se dirija
à realização de fins típicos ou específicos da entidade pública através
dos meios que lhe são próprios

• Constituem atos de gestão privada:
o A compra livremente concessionada de mobiliário destinado a uma
escola
o Arrendamento de um edifício para instalação de serviço camarários

6.2.3 Danos causados por animais

ARTIGO 502º
(Danos causados por animais)

Quem no seu pró prio interesse utilizar quaisquer animais responde pelos danos
que eles causarem, desde que os danos resultem do perigo especial que envolve
a sua utilizaçã o.

• Sanciona a responsabilidade objetiva dos que utilizam quaisquer animais


no seu próprio interesse, relativamente aos danos que os mesmo causarem

• Perigo especial à Perigo que é característico ou típico dos animais
utilizados, variando com o natureza destes

o Vaz Serra à no sentido em que o termo “ especial” empregado no
art 502º, “ tem por finalidade esclarecer que o risco há-de variar

Eva Brás Pinho 232


conforme a “ espécie” dos animais utilizados, e não que, desprezando
o risco geral do seu aproveitamento, os utentes deles só respondam
por riscos específicos, criados por circunstâncias normais.

o Exige-se que o dano se encontre numa adequada correlação com o
perigo específico do animal

o Dai que se afaste a responsabilidade objetiva,:

a. quando o dano se mostre consequência de força física que move
o corpo do animal
§ ex: determinando a sua queda)
b. ou se este segue apenas a vontade da pessoa que o conduz
c. ou ainda se causou dano como produziria coisa inanimada
§ uma pessoa que tropeça num cão tranquilamente
deitado, ou se o mesmo serve de objeto de arremesso)


• Estão abrangidos pela formulação do art 502º todos os que utilizarem
animais no interesse próprio, sendo proprietários ou como se o fossem.
o Exclui-se o que experimenta um animal antes de adquiri-lo

§ Este responderia nos termos do art 493º n1 que estabelece
uma presunção de culpa em relação a quem tenha assumido o
encargo de vigilância de quaisquer animais

Ø Concorrência do 493º e 502º
• Perante o lesado poderá verificar-se concorrência dos pressupostos das
duas formas de responsabilidade neles previstas
o Imagine-se a pessoa que utiliza o animal confia a outrem a vigilância
deste
o Assim, à responsabilidade do utente pelo risco ( art 502º), acresce a
responsabilidade do vigilante baseada em facto ilícito.

6.2.4 Acidentes causados por veículos

ARTIGO 503º

(Acidentes causados por veículos)

1. Aquele que tiver a direcçã o efectiva de qualquer veı́culo de circulaçã o terrestre e


o utilizar no seu pró prio interesse, ainda que por intermé dio de comissá rio,
responde pelos danos provenientes dos riscos pró prios do veı́culo, mesmo que
este nã o se encontre em circulaçã o.

Eva Brás Pinho 233


2. As pessoas nã o imputá veis respondem nos termos do art. 489o.

3. Aquele que conduzir o veı́culo por conta de outrem responde pelos danos que
causar, salvo se provar que nã o houve culpa da sua parte; se, poré m, o conduzir
fora do exercı́cio das suas funçõ es de comissá rio, responde nos termos do no 1

I. Pessoas responsáveis

Ligação entre o art 500º e o art 503º:



Ex: A que é uma empresa tem ao seu serviço o motorista B para transportar
moveis e nas suas funções despista-se e atropela uma mulher que está no passeio

• Temos um comitente, um comissário e uma mulher e acidente de viação
• A mulher vai querer demandar o comitente e o comissário

• Em que medida pode o comitente e o comissário ser responsáveis?

o Comitente—tem de preencher os 3 requisitos:
§ Relação de comissão
• Há entre a empresa e o trabalhador

§ Haja obrigação de indemnizar do comissário
• é o único requisito que levanta questões

§ O facto danoso tenha sido praticado no exercício da
função que lhe foi confiada
• Sim, ao transportar os móveis atropela

o Comissário: art 503º nº3—presunção de culpa

§ Norma que está na responsabilidade por risco, mas está lá
porque está ligada aos acidentes causados por veículos, mas
não é uma norma da responsabilidade por risco é uma
norma da responsabilidade por factos ilícitos embora
com culpa presumida

§ Responde pelos riscos salvo se provar que não teve culpa
§ Esta mulher pode demandar:
• o comissário: Porque não nos diz que o comissário
não teve culpa

Eva Brás Pinho 234


• E o comitente: pelo art 503º nº3 a obrigação d
indemnizar do comissário está preenchida, logo todos
os requisitos estão preenchidos

O acidente aconteceu não porque se puder imputar uma culpa do comissário,
mas porque o comissário teve um ataque cardíaco:

o Comissário: não tem culpa, logo não é responsável, ou seja, ou responde
com culpa ou então não responde
o Não há nenhuma norma que lhe atribua responsabilidade objetiva
do comissário

o Comitente: também não responde pelo art 500º porque faltaria o requisito
da obrigação de indemnizar pelo comissário
o Mas a empresa é proprietária do veículo— logo responde pelo art
503º nº1: há uma responsabilidade objetiva e não pelo art 500º.

Pressupostos para aplicar o art 503º nº1:


1) Alguém que tenha a direção efetiva de um veiculo, não significa que a
pessoa tenha que ser um detentor legitimo (proprietário,usufruário), ou seja,
pode também ser alguém que roubou o carro

• Direção efetiva é o poder de facto que se tem sobre o veiculo, ou seja, é
a pessoa que controla o veiculo (escolher a forma como trabalha e o
dever de zelar que o veiculo circule em condições)

2) Utilizar o veículo no seu próprio interesse

• Exclui o comissário—não utiliza o veiculo para próprio interesse, mas
da empresa
o Art 503º nº3
o Só responde pelos danos que culposamente causar
§ mas há uma presunção de culpa que precisa de ser
ilidida
§ apenas existe responsabilidade objetiva do comissário
quando ele conduzir o veículo fora das suas funções de
comissário
ð nesta situação estará a responder como detentor
ð a responsabilidade objetiva do condutor abusivo
isenta a da pessoa por conta de quem o veículo é
normalmente dirigido

Eva Brás Pinho 235




Responde pelos riscos próprios do veiculo:

• Riscos ligados à máquina
o Ex: travões falham, o motor explode

• Risco ligados à pessoa que utiliza essa mesma máquina
o Ex: Atraque cardíaco, a pessoa desmaia

• Riscos ligados à interação entre a máquina e/ou a pessoa que
utiliza o veículo com circunstancias externas
o Ex: o veículo derrapa no gelo— circunstancias externas que
interage com a máquina
o Ex: a pessoa fica encadeada—interage com a pessoa
O condutor teve um ataque cardíaco, é um risco próprio do utilizador da máquina,
está incluído nos riscos a que o art 503º nº1 se refere. A empresa é proprietário,
utiliza o veiculo através do comissário no seu próprio interesse e aconteceu um
risco ligado ao utilizador do veiculo


A diferença entre responsabilizar a empresa pelo art 500º e pelo art 503º?

• Se a responsabilidade da empresa surgir pelo art 503º

o há limites máximos de indeminização previsto no art 508º do
CC, aplicam-se à responsabilidade do detentor de acordo com os art
503º nº1 e não à responsabilidade do art 500º

• Para o lesado é mais benéfico que a responsabilidade se baseie no
art 500º

Ex: o Senhor A que conduz o seu próprio veiculo

Como é que o senhor A pode ser responsabilizado pelos danos do seu próprio
veiculo?
• Responsabilidade civil por atos ilícitos
• Responsabilidade por risco nos termos do art 503º nº1
o É uma responsabilidade que se vai circunscrever aos danos que a lei
tenha previsto:
§ Art 504 nº3: limitação dos danos
v Ex: uma pessoa que é transportada à boleia pelo A e
sofre danos materiais—essa pessoa não pode pedir
essa indeminização por danos materiais
Eva Brás Pinho 236
• O A vai responder pelo art 503º nº1:
• Se o A teve culpa (ex: excesso de velocidade,
adormeceu ao vulante quando podia ter parado para
descansar e não o fez)—aplicamos só ao art 483º ou
art 493º nº2 (atividades perigosos)

o Mas o art 493º nº2 para a doutrina/Menezes
leitão é aplicável, mas em condições muito
específicas:
§ Provas desportivas
§ Transporte de materiais inflamáveis
§ Condução sobre efeito de
estupefacientes

v Ex: A é taxista e transporta o B e nesse transporte
rebenta um pneu e o B morre.
o Qual a norma que aplico para responsabilizar o
A?
§ Art 503º nº1: é um risco da máquina
o Beneficiários da responsabilidade: art 504º
nº2
§ O que está fora da responsabilidade
deste artigo: são os 3º que possam ser
indemnizáveis nos termos do art 495º
nº3 ou art 496º
• O art 504º indemniza os danos
pessoais e patrimoniais da
pessoa transportada, mas poe
fora os 3º
• Ver hipótese 36 quanto à
indeminização integral ( e não
em proporção) de Duarte
relativamente aos ovos de berta
o O art 504º nº3 que é um transporte gratuito
poe fora até os bens materiais da própria
pessoa transportada—porque são limitações à
indeminização do art 503º

§ Art 508º: limitações
Ou seja, o art 503º nº1 não pode exceder os limites máximos do art 504º e
508º
A responsabilidade pelo risco é de âmbito mais pequeno do que a
responsabilidade por atos ilícitos

Eva Brás Pinho 237


1. Ex: A atropela B, B estava a atravessar a estrada fora da passadeira, tendo
uma passadeira a 5 metros—culpa do lesado

• Art 505º: quando há culpa do lesado a concorrer com o risco de
circulação a responsabilidade do detentor do veículo é afastada
o A viu-se confrontada com B sem ter tempo para parar o veiculo, A
estava a conduzir respeitando todas as regras de trânsito
o O art 505º determina que o atropelamento não gera nenhuma
responsabilidade—afasta a indeminização por parte do detentor do
veiculo, exclusão da responsabilidade prevista no art 503º nº1
§ A responsabilidade aqui seria fundada no art 483º

2. Ex: A atropela nas mesmas condições, mas agora A estava em excesso de
velocidade—há culpa dos 2
• Art 570º vai haver uma ponderação do juiz
o Não há exclusão da responsabilidade a não ser nos termos que o art
570º o permita

Ø Sem culpa o art 505º não se aplica e com culpa aplica-se

A doutrina e a jurisprudência tem evoluindo e mesmo no caso do art 503º nº1,
mesmo quando estou perante uma responsabilidade pelo risco confrontada com a
culpa do lesado, ainda assim possa haver a manutenção da responsabilidade do
detentor do veiculo, mas uma ponderação dos factos do caso concreto pelo art
570º. Isso acontece quando há:
• Risco acrescido: quando além da circulação do veículo há qualquer
problema adicional no veículo que esteve envolvido nessa lesão

o Não se aplica o art 505º, aplica-se o art 570º
v Ex: A vai a conduzir e rebenta um pneu/encadeado pelo
sol/derrapou no óleo/ataque cardíaco e uma pessoa passa a estrada
fora da passadeira

III. Beneficiários da responsabilidade

ARTIGO 504º

(Beneficiários da responsabilidade)

1. A responsabilidade pelos danos causados por veı́culos aproveita a terceiros,


bem como à s pessoas transportadas.

• Abrange-se aqui os que se encontravam fora do veículo mas não apenas
estes

Eva Brás Pinho 238


• Também entram como terceiros as pessoas ocupadas na atividade do
veículo sem que o acidente se relacione com os riscos próprios deste
o Ex: motorista, maquinista
o Contudo, se existir um contrato de trabalho com a entidade
transporte há que ter isso em conta

2. No caso de transporte por virtude de contrato, a responsabilidade abrange


só os danos que atinjam a própria pessoa e as coisas por ela transportadas.

• Entende-se em sentido amplo
• Abrange os danos pessoais + danos nas coisas transportadas
• Excluem-se as pessoas enumeradas nos nºs2 e 3 do art 495º e nº2 do art
496 que hajam sofrido danos patrimoniais e não patrimoniais
o Só têm direito a uma indemnização autónoma se existir culpa do
condutor ( porque passamos a responsabilidade por factos
ilícitos)

3. No caso de transporte gratuito, a responsabilidade abrange apenas os danos
pessoais da pessoa transportada.

• Trata-se de um regime coincidente com o âmbito do respetivo seguro no
plano comunitário

4. Sã o nulas as cláusulas que excluam ou limitem a responsabilidade do
transportador pelos acidentes que atinjam a pessoa transportada.

• Norma de ordem pública
o Visa-se a proteção da vida e da integridade física dessas pessoas,
procurando evitar que o transporte se descuide nos seus deveres
de diligência e de cuidado para com as pessoas transportadas

• Cláusulas que excluam ou restrinjam a responsabilidade quanto às
coisas transportadas já são válidas, a questão só se coloca quanto às
pessoas

IV. Causas de exclusão da responsabilidade


ARTIGO 505º

(Exclusão da responsabilidade)

Sem prejuı́zo do disposto no artigo 570o, a responsabilidade fixada pelo no 1 do


artigo 503o só é excluı́da quando o acidente for imputá vel ao pró prio lesado ou a

Eva Brás Pinho 239


terceiro, ou quando resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do
veı́culo.


1) Se o acidente resultar de facto do próprio lesado, culposo ou não.

• Pressupõem-se qee para a exclusão da responsabilidade pelo risco o
facto causado pelo lesado seja causa única do acidente, ou seja, que
a culpa seja exclusivamente do lesado

• Ex: o peão que, desatento, atravessa a via pública em local onde não
podia fazê-lo

• Se não for causa única, aplica-se o art 570º e pode haver ponderação no
montante da indemnização


2)Se o acidente se dever a facto de terceiro, com ou sem culpa sua

• Simples problema de ligação causal dos danos verificados ao facto de terceiro,
ou seja, dever-se o acidente tão só a este terceiro
o Ex: um atropelamento porque o condutor fica encadeado com as
luzes provocadas pela imprudência de quem dirige outro veículo

• Havendo concorrência de culpas entre o condutor e o terceiro respondem
solidariamente ( art 497º)

o O mesmo acontece quando há concorrência de culpas entre o
terceiro e o lesado ( 570+497º)

3)Se o acidente se dever a causa de força maior estranha ao funcionamento do
veículo

• Devemos distinguir acidentes devido a casos fortuitos e casos de força maior
o Casos fortuitos à riscos inerentes ao funcionamento das coisas
ou maquinismos que o agente utiliza ( ex: rebentamento de um
pneu)

o Causa força maior à força da natureza estranha a essas coisas
ou maquinismos
§ Ex:uma faísca ou um ciclone
§ A responsabilidade objetiva nos termos do 505º só é
afastada nos acidentes causados por estas causas

• Havendo culpa do condutor + uma causa de força maior à não se exclui a
responsabilidade mas é fundamento para efeitos de limitação equitativa
da indemnização por hipótese de mera culpa ( art 494º)

Eva Brás Pinho 240


V. Colisão de veículos

ARTIGO 506º

(Colisão de veículos)

1. Se da colisã o entre dois veı́culos resultarem danos em relação aos dois ou em


relaçã o a um deles, e nenhum dos condutores tiver culpa no acidente, a
responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de cada um dos
veı́culos houver contribuı́do para os danos; se os danos forem causados
somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos condutores, só a
pessoa por eles responsável é obrigada a indemnizar.

2. Em caso de dúvida, considera-se igual a medida da contribuição de cada um


dos veı́culos para os danos, bem como a contribuiçã o da culpa de cada um dos
condutores.

• Aplica - se analogicamente a outras situações em que colaborem na produção


do dano coisas diversas subordinadas ao regime da responsabilidade pelo risco
o Ex: a colisão entre um animal e um veículo, sem culpa da pessoa que
utiliza o animal nem da que conduz o veiculo

• Só se aplica quando não há culpa da parte de nenhum dos condutores

• Nº1 deve ser interpretado extensivamente para que se insiram não só os
danos nos veículos e nas pessoas responsáveis dos riscos, mas também às
pessoas e coisas neles transportadas, como os danos causados a terceiros ou no
património destes

o Vaz Serra à Entende que o art 506º só compreende os danos
causados nos veículos e nas pessoas dos responsáveis pelos riscos
§ o prof entende que relativamente aos danos causados a 3º, vigora
o principio da responsabilidade solidaria dos vários responsáveis
do dano. Conclui que”perante os terceiros lesados, qualquer dos
veículos foi causa da totalidade dos danos e por isso, o respetivo
lesado responsável pelo risco é obrigado a indemnizar integral
deles

o Pires de Lima e Antunes Varela à Quanto aos danos causados a
3º pela colisão de veículos justifica-se a aplicação do 506º

§ O problema apenas se levanta no âmbito das relações internas
entre os detentores dos veículos, pois em face dos dos terceiros,
qualquer deles responde solidariamente

Eva Brás Pinho 241


Exemplo:

• X e Z colidiram
• X sofreu 500; Z sofreu 1.600
• Para os danos X contribuiu em 2/3 e Z apenas 1/3 sem culpa de qualquer dos
condutores
• Somas os danos derivados da colisão ( 500+1600)
• Repartir o montante global de responsabilidade ( 2100) proporcionalmente à
participação dos veículos na produção desses danos
• Assim, 2/3= 1400€ e 1/3=700€
• Assim, o responsável pelo veiculo X suporta o prejuízo de 500€ nele
ocasionado e deve satisfazer 900€ ao dono do veiculo Z

Reparação de danos provocados às pessoas transportadas gratuitamente:

• Pode esse passageiro reclamar do responsável pelo risco do outro veículo a


inteira indemnização do prejuízo ou apenas a indemnização
correspondente à proporção em que o risco desse veículo concorreu para o
dano?
o ( hipótese da dúzia de ovos) prof HSA entende que o ressarcimento
deve ser integral

• Quanto aos danos pessoais a situação está resolvida, mas quanto aos
danos não pessoais?

o Prof Vaz Serra à sentido da responsabilidade parcial
o Prof Antunes varela à ambos os condutores respondem
objetivamente quanto aos danos pessoais embora quanto aos danos
nas coisas por eles transportados, não havendo culpa, não haja
responsabilidade de qualquer um deles

Imaginando que o veiculo A e B embatem. Como se determina a


responsabilidade?

Para simplificar vamos agora pensar apenas em danos sofridos pelo A e B –


imaginando que A sofreu danos no valor de 100 e B no valor de 200. Como se
aplica o 506º?

Soma-se os danos, neste caso 300.

Supondo que A sofreu mais danos, porque tinha um mini e B uma carrinha –
considera o juiz que em resultado da dimensã o do veı́culo B, a contribuiçã o para os
danos é a maior pois é maior o veiculo.

Eva Brás Pinho 242


Portanto, na prá tica faz-se a soma de todos os danos e depois aplica-se a


proporção em que cada um tiver contribuído para saber o que cada um tem
de pagar. Supondo que havia aqui uma pessoa transportada, um C.

Relativamente a C nã o se aplica este crité rio, imaginando que sofreu 500 de
danos pessoais e 100 de danos materiais. C é transportado por B, e é um terceiro
relativamente a A. Ele tem relativamente A e a B dois tı́tulos de responsabilidade -
A norma que fundamenta a responsabilidade do A e do B, para com C é o 503o/1
só que para saber em que medida ele é beneficiá rio da responsabilidade:

1) O A vai responder perante o C nos termos do 503/1 e 504/1( norma que fala de
terceiros)

2)Relativamente a B, C vai poder responsabiliza-lo com base no 503/1 e agora só


precisamos de saber se foi transportado de forma onerosa, e ai aplica-se o
504o/2, se for gratuitamente aplica-se o 504/3.

VI) Danos indemnizáveis



• Art 503º nº1 à “ danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo
que este não se encontre em circulação”

• Tanto se abrangem os danos provocados por veículos em circulação, na via
pública ou num recinto privado, ou mesmo fora de qualquer via, como os
devidos a veículos estacionados

• Também o perigo de doença súbdita de quem dirige uma viatura cabe nos
riscos próprios do veículo

• Os danos que não respondam à fórmula do nº1 do art 503º, ou seja,
relacionados com riscos estranhos ao veículo, ficam fora da responsabilidade
objetiva nele consagrada

o Mas poderão ser indemnizados no âmbito da responsabilidade por
factos ilícitos se for caso disso

VII) Limites de responsabilidade

Eva Brás Pinho 243


Artigo 508º

Limites máximos

1 - A indemnização fundada em acidente de viação, quando não haja culpa do


responsável, tem como limite máximo o capital mínimo do seguro obrigatório de
responsabilidade civil automóvel.
2 - Se o acidente for causado por veículo utilizado em transporte colectivo, a
indemnização tem como limite máximo o capital mínimo do seguro obrigatório de
responsabilidade civil automóvel estabelecido para os transportes colectivos.
3 - Se o acidente for causado por veículo utilizado em transporte ferroviário, a
indemnização tem como limite máximo o capital mínimo do seguro obrigatório de
responsabilidade civil estabelecido para essa situação em legislação especial.

• Estabelece-se como elemento de referência o capital minímo do seguro


obrigatório dos veículos
• Procurou-se aproximar o direito português dos critérios comunitários
respeitantes aos valores máximos da indemnização

• Verificando-se concorrência de riscos na colisão de veículos, os limites
máximos só operam depois de repartida a responsabilidade pelo modo
determinado no art 506º

• Por remissão do art 499º é possível aplicar o regime do art 494º
permitindo-se a graduação equitativa da indemnização

o Assim, pode atender-se à situação económica do lesado e do
responsável
• N hipótese de responsabilidade sem culpa a indemnização encontra sempre
os seus parâmetros máximos no art 508º


VIII) Pluralidade de responsáveis

6.2.5 Danos causados por instalações de energia elétrica ou gás


7. Responsabilidade por factos lícitos

Ø Excecionalmente a obrigação de indemnização pode resultar de uma conduta
lícita do agente
• O princípio da responsabilidade civil por factos lícitos na esfera jurídica
alheia não está explicitamente formulado no CC

Eva Brás Pinho 244


Ø Na eventualidade de uma pessoa ofender em benefício de um direito ou
interesse juridicamente protegido e mediante a prática de ato lícito, um direito
ou interesse de outrem
• A lei confere ao lesado uma pretensão de indemnização contra o
beneficiário
• Permite-se a
• satisfação de um interesse qualificado, coletivo ou individual, mas,
em virtude de considerações de razoabilidade, impõm-se a
obrigação de indemnizar os danos causados a terceiros

a) Situações em que a lei permite lesar a propriedade alheia embora comine o
ressarcimento dos danos produzidos

• Estas hipóteses reportam-se à responsabilidade civil extracontratual
ou extra-obrigacional por facto lícito
o Art 339º Nº2
o Art 1322º nº1
o Art 1347º nº2 e 3
o Art 1348º nº2
o Art 1349º
o Art 1367º nº2

b) Situações em que a obrigação de indemnizar se relaciona com o direito
atribuído a um contraente de por termo a um contrato

• A responsabilidade por facto lícito qualifica-se como contratual ou
obrigacional
o Art 1172º
o Art 1229º
o Art1781º b)
o Art 1792º 2

8. Obrigação de indemnização


8.1 Danos compreendidos na indemnização
8.2 Principais doutrina

8.2.1 Doutrina da equivalência das condições
8.2.2 Doutrinas seletivas
8.2.3 Doutrina da causalidade adequada
8.2.4 Problema da causa virtual ou hipotética

8.3 Formas e cálculo de indemnização
8.3.1 Formas de indemnização
Eva Brás Pinho 245

ð Reconstituição natural ( em espécie)


Quando a reconstituição natural não é possível ( art 566º nº1)?

Ø Indemnização em dinheiro calculada pela teoria da diferença
Ø Quando a reconstituição natural não é possível
Ø Quando a reconstituição natural não consegue reparar integralmente os danos
sofridos pelo credor
Ø Quando é excessivamente onerosa para o devedor

ð Indemnização em dinheiro

8.3.2 Cálculo da indemnização. A teoria da diferença e suas


exceções

Indemnização em dinheiro:

• Faz-se de acordo com a teoria da diferença:
o Artigo 566º.
o A indemnização calcula-se pela diferença entre a situação patrimonial
atual do lesado e a situação patrimonial hipotética do lesado, se a
lesão não tivesse ocorrido, na data mais recente que puder ser
atendida pelo tribunal.

• Exceções à teoria da diferença:

o A doutrina vem dizer que a responsabilidade civil não pode ser vista
nestes termos, porque existe um comportamento responsabilizante que
causou um dano.
o Ou seja, a doutrina não reconhece, na teoria da diferença, relevância
negativa à causa virtual.

§ Isto seria reconhecer que a responsabilidade civil tem uma função
punitiva.

o Há casos em que a indemnização não é calculada pela teoria da diferença,
mas sim por outros critérios, nomeadamente pelo critério da
equidade.
o Exemplos:
§ Indemnização por danos não patrimoniais.

Eva Brás Pinho 246


ð Como não são suscetíveis de avaliação pecuniária, nunca se
poderia utilizar a teoria da diferença.´

§ Indemnização por pessoa não imputável.
ð Pessoa que não tem capacidade de entender e querer.

§ Quando não há culpa do lesado.

8.4 Concausalidade. Culpa do lesado

Eva Brás Pinho 247

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