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1.1. Contrato-Promessa
Através do CP (neste caso de compra e venda), que contém, necessariamente todos os
elementos do contrato definitivo, as partes conseguem precisamente o efeito da compra e venda
obrigacional, tudo está montado, mas a transferência do domínio depende de uma ulterior atuação - a
celebração do contrato definitivo.
Se o CP coloca as partes numa situação semelhantes a do correspondente contrato definitivo,
faz todo o sentido submete-los a forma idêntica. O art 420 apenas exige, para as promessas relativas a
definitivos formais, o escrito assinado pelas partes ou pela parte que fique vinculada, sem, com isso,
obstar a execução específica. Por esta via, os rigores da forma são aplainados. Os ganhos em
desformalismos serão depois gastos no definitivo, ou na execução específica, mas momentaneamente
são de monta.
O CP pode assumir uma feição reguladora autónoma, de valoração diferente do CD. Podemos
distinguir:
- O CP enquanto fonte de valores específicos que se transacionam na sociedade;
- O CP como situação estável, entre as partes, pode não haver qualquer pressa no definitivo, o
CP valerá por si.
1.1.1. Modalidades
A própria lei permite distinguir diversas formas de CP. Assim:
- promessas formais e não-formais, consoante estejam, ou não, sujeitas a alguma forma solene
410/2;
- promessas respeitantes a celebração de contrato oneroso de transmissão ou constituição de
direito real sobre edifício ou sua fração autónoma e as restantes 410/3;
- promessa monovinculante e bivinculante 411;
- promessa exclusivamente pessoal e outras 412;
- promessas com e sem sinal 442/2;
- promessas com e sem tradição da coisa objeto do definitivo 442/2 2p;
- promessas com e sem execução específica 830/1.
1.1.2. Prometibilidade
Prometibilidade - qualidade de um determinado contrato pode ser prometido, isto é, objeto de
CP. Cabe distinguir dois graus de prometibilidade:
- a prometibilidade fraca, imperfeita ou de primeiro grau - o contrato considerado e suscetível
de promessa, mas não pode ser obtido por execução específica, na base de uma acção 830;
- a prometibilidade forte, perfeita ou de segundo grau - o contrato pode ser prometido,
recorrendo-se a execução específica da promessa, no caso de incumprimento.
A partida, os diversos contratos gozam de prometibilidade forte ou perfeita, sendo permitido, as
partes, celebrar um contrato, sê-lo-á, a fortiori, o obrigarem-se a fazê-lo. A promessa parece sempre um
minus, em relação ao contrato prometido. E uma vez celebrada uma promessa, a possibilidade da sua
execução específica e uma decorrência simples da regra da eficácia dos contratos inter partes 406/1.
A execução específica pode, todavia, ser restringida, com isso cessando a prometibilidade forte.
E isso por uma de duas vias:
- pela natureza dos valores envolvidos, a execução da promessa é possivel sempre que isso não
se oponha a natureza da obrigação assumida 830/1;
- por norma expressa (legislação que o proiba).
Além disso, a própria prometibilidade fraca ou imperfeita pode ser vedada pelo ordenamento,
com uma consequência da maior gravidade, a de não ser, de todo e com referência ao contrato
atingindo, possível o correspondente CP. A regra geral mantém a possibilidade de conclusão dos
diversos CP. Mas nem sempre e, também aqui, por duas ordens de fatores:
- pelos valores envolvidos (promessa de doação);
- pela presenca de regras expressas (1591 promessa de casamento).
1.1.5. Forma
No artigo 410 do CC temos as seguintes regras formais:
- ao CP não se aplicam as regras formais relativas ao definitivo 410/1;
- excepto tratando-se de contratos definitvos para os quais a lei exija documento autêntica ou
particular, altura em que a promessa "só vale se constar de documento assinado pelos promitentes"
410/2.
A expressão "pelos promitentes" (em vez de partes) levantou dúvidas de interpretação e de
aplicação, abaixo referidas. De todo o modo, ficou adquirida uma dualidade de regimes formais - e isso
para além da hipótese do artigo 413:
- os CP comuns não implicam qualquer forma, aplicando-se-lhes a regra da liberdade, fixada no
artigo 219;
- os CP referentes a definitivos sujeitos a documentos autêntico ou particular, submetem-se a
documentos assinado pelos promitentes.
Os CP puramente consensuais, relativos a bens correntes do dia-a-dia, são muito frequentes e
não levantam problemas. A sua inobservância, de resto, não chega aos tribunais. Em relação aos
restantes, pertence hoje a cultura juridica comum a idéia da redução a escrita e da assinatura, para
desencadear a vinculação.
- ou por reducao;
- ou por conversao.
A reducao pode ser travada mostrando-se que o negocio nao teria sido concluido sem a parte
viciada - 292 - o que constitui um aceno a vontade real, a conversao pelo contrario, apena a uma
vontade hipotetica modelada pelo fim, mais objetiva - 293. Alem disso, o onus da prova nao e
coincidente. Na reducao, o interessado deve provar a divisibilidade do negocio cabendo a contraparte
demonstrar que ele nao teria sido concluido senao na totalidade. Na conversao, cabe ao interessado
fazer prova de que teria havido - a saber-se da invalidade - um negocio diverso.
Menezes Cordeiro - interpretacao-aplicacao conjunta dos dois preceitos, a que
acrescentariamos ainda pelo meos, o artigo 239 (integracao), com o seu apelo a boa fe, devidamente
concretizado.
Uma promessa monivinculante e visceralmente diferente da bivinculante. Na primeira, surge
uma parte sujeita ao livre arbitrio de outra, o que nao sucede na segunda. Nao ha, aqui, um mero
problema de "invalidade parcial", o ponto e tao importante que todo o contrato fica atingido. As
prestacoes principais tem um sentido diferente, consoante a natureza mono ou bivinculante da
promessa. Os deveres acessorios, que podem ser decisivos, sao diversos. Apenas a conversao pode
salvar a promessa bivinculante, vitimada por falta de uma assinatura.
O contrato, particularmente quando fonte de obrigacoes, e um conjunto. Alem da logica da
articulacao entre prestacoes principais, temos as prestacoes secundarias e os deveres acessorios que lhe
dao todo uma coloracao. Quando subscrevem um contrato, tudo o que la esta e essencial, nao ha
contrato enquanto as partes nao tiverem assentado sobre todas as questoes que tenham querido
levantar. A invalidade de uma clausula implica a invalidade total.
O interessado em salvaguardar (parte do) contrato tem o onus de provar a divisibilidade, ele
tem o onus de provar os factos de onde promane a posicao que queira fazer valer (342/1). Apenas feita
essa prova se devolve, a outra, a "contraprova" de que o contrato, apesar de "divisivel", nao teria sido
concluido sem a parte viciada.
No tocante ao CP, nao e possivel excluir a hipotese de "divisibilidade". Em regra e como foi dito,
a promessa monovinculante nao e uma "parcela" da correspondente bivinculante, e antes total e
qualitativamente diferente. Ha, pois, que recorrer a contade hipotetica das partes, na base de indicios
que o interessado tem oonus de provar para se operar a conversao. Mas bi concreto, pode nao ser assim,
de tal modo que, provada a divisibilidade, caiba a contraparte porvar o fim contrario das partes.
A chave deve residir na boa fe e na confianca.
A pessoa que, voluntariamente, celebre um contrato por escrito, tendo-o concluido e, depois,
invoque a falta da sua propria assinatura para nao se considerara vinculada, estara, com grande
probabilidade, a atentar contra a boa fe. A exceptio de nao ter assinado apresenta-se como um venire
contra factum proprium.
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1.1.7.1. Cumprimento
O cumprimento de um CP consiste, em termos analíticos, na emissão, por cada um das partes,
das declarações de vontade que irão integrar o contrato definitivo. Haverá que observar as formalidades
envolvidas, executando, a titulo de prestações secundarias e os deveres acessórios, todas as atuações
instrumentais e materiais, para tanto necessárias.
O contrato definitivo haverá ser, precisamente, o prefigurado na promessa. Pode suceder que
esta deixe espaços em branco. Ai temos três hipoteses:
- a determinação de tais espécies foi deixada a alguma das partes ou a terceiro, aplicando-se o
400/1;
- o aspeto por regular e comunicável ao contrato definitivo. altura em que este será concluído,
procedendo-se a determinação aquando da execução deste, assim sucede com a determinação do preço,
por exemplo 883;
- e possível ultrapassar o problema através da integração do CP ou da sua interpretação
complementadora 239.
Nada disso ocorrendo, o CP será nulo por indeterminabilidade do seu objeto 280/1.
As partes podem, de comum acordo, concluir um contrato diferente do que ambas haviam
prometido. Nessa altura, teremos uma modificação por mutuo consentimento.
O contrato definitivo deve ser celebrado por inteiro. Havendo sucessão hereditária, poderia
cada herdeiro celebrar um CP relativo à sua quota-parte, desde que tal eventualidade interesse ao
promitente-adquirente - modificação da promessa, por mutuo acordo. A transmissão da posição de
promitente aos herdeiros não pode, seja pelas regras das obrigações, seja pelas das sucessões, modificar
a realidade em jogo. A promessa seria ser cumprida na totalidade, pelos herdeiros no seu conjunto. Se
um deles faltar, a responsabilidade e da herança (de todos), sem prejuízo do direito de regresso a que
possa haver lugar, contra o responsável.
Quanto aos parâmetros relativos a concretização, no cumprimento do CP, temos:
- legitimidade: o contrato definitivo so pode ser concluído pelas partes na promessa, há que
descontar o pactum de contrahendo cum tertio, altura em que o definitivo e concluído entre o
promitente obrigado e o terceiro, de acordo com as regras que regem o contrato a favor de terceiro;
- lugar da prestação: o contrato definitivo e, em regra, um contrato entre presentes, obriga por
isso, ambas as partes a encontrarem-se para a conclusao, o lugar de celebracao. Quando nao esteja
determinado no contrato, ou seja, nos termos do mesmo, determinavel, deve ser fixadode acordo com
as regras aplicaveis ao proprio definitivo, por via do principio da equiparacao. Assim, tratando-se de
uma promessa de compra e venda, o definitivo e celebrado no local onde estiver a coisa ou no cartorio
notarial mais proximo, segundo o artigo 885, a escritura e marcada pelo promitente-comprador, a quem
cabem as despesas do contrato 878;
- tempo da celebracao: nao havendo prazo, qialquer das partes pode interpelar a outra, nos
termos dos artigos 777/1 e 805/1, no caso da promessa monovinculante, podera ser necessario recorrer
a tribunal 411, como vimos;
- imputacao do cumprimento: na hipotese, algo teorica, de serem concluidos, entre as mesmas
partes, diveros CP identicos e de ser celebrado um contrato definitivo que nao explicite a qual das
promessas se reporte, aplicar-se-ao os artigos 783 e 784.
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- a confusão, quando ambas as posição de promitente se reúnam na mesma esfera jurídica 868.
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na falta de estipulacao em contrário, não há lugar, pelo não cumprimentodo contrato (seja definitivo ou
haja mera mora), a qualquer outra indeminização.
O artigo 442/2, 1ª parte, visa dar corpo a um esquema penintencial: o não cumprimento
atempado traduz a opção pelo arrependimento.
Finalmente, mais dois argumentos de natureza sistemática e que não devem ser desprezados:
- a presença de sinal afasta, em princípio, a execução específica 830/2, se o sinal só funcionasse
no incumprimento definitivo, não se entende porque não usar esse tipo de execução, durante o período
de mora;
- a reforma de 1986 coloca, lado a lado com o sinal, a indemnização pelo valor da coisa entregue
por conta do definitvo; ora esta funciona perante a simples mora, não parece razoável prever, para a
indemnização em causa, um regime diverso do do sinal e, ainda por cima mais gravoso.
A jurisprudência pende, em maior número, para a associação do sinal, apenas ao
incumprimento definitivo.
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devedor (828);
- na prestação de non facere, havendo obra, é a mesma demolida a expensas de quem se
obrigou a não a fazer (829).
A execução específica é possível quando o devedor possa ser substituído na sua realização.
Assim, não cabe tal instituto perante prestações de facto não-fungíveis (828 a contrario) e nas
prestações non facere, quando não seja possível fazer reverter o sucedido (829/1, a contrario: não haja
obra). Nessa eventualidade, quedam suas soluções:
- ou desiste da realização da prestação devida, passando-se a uma fase puramente
indeminizatória (798);
- ou se pressiona a vontade do devedor remisso, através de sanções pecuniárias compulsórias
(829-A/1);
Existe ainda uma categoria de dever, que se presta a uma substituição, por parte do tribunal: a
realização de um facto juridíco. Tradicionalmente, entendia-se que a prática de tal facto,
designadamente a conclusão de um contrato, era de efectividade insubstituível.
Mais modernamente, as dificuldades dogmáticas na execução do CP têm sido situadas no
dispositivo constitucional que garante a liberdade de disposição, ora a execução específica constituiria
uma excepção severa a esse princípio.
Perante isso, ao não-cumprimento de um CP apenas se poderia reagir através de pedidos de
indemnização. Ora esta solução era triplamente inconveniente:
- o bem acordado e devido é traduzido pelo próprio contrato definitivo: qualquer sucedâneo é
sempre insatisfatório, seja no plano normativo, seja no económico-social;
- é muito difícil (salvo sinal ou equivalente) fixar indemnizações por incumprimento de
promessas: no fundo, tudo depende do que iria resultar da execução do contrato definitivo, o que se
pode tornar inexcogitável;
- a nossa juudicatura é muito avara na atribuição de indemnizações, numa situação que só
muito lentamente tem vindo a ser corrigida; e assim torna-se, em regra, um bom negócio não cumprir
as suas obrigações e esperar pelas condenações do tribunal.
Impunha-se dar o passo seguinte e admitir a execução específica do próprio CP ou, mais
latamente, do dever de contratar.
Está em jogo uma execução de facto positivo, ao qual o devedor executado está obrigado. Uma
vez que se admite o fenómeno da representação, isto é, a possibilidade de alguém praticar atos jurídicos
em nome e por conta de outra pessoa, de tal modo que os efeitos se projectem na esfera jurídica da
última, não há dificuldades conceituais em que tal execução, implicando um facto jurídico, seja levada a
cabo pelo próprio trbunal. A especificidade da matéria justifica um preceito a ela dedicado.
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caso preveja, ele próprio, um contrato definitivo que enferme desse vício; joga o princípio da
equiparação (410/1). Já se se tratar de promessa de teor indeterminado, mas determinável, a
concretização é possível: jogam os preceitos com os artigos 400 (determinação da prestação) e 883
(determinação do preço), aplicável aos contratos onerosos (939). As próprias partes podem prever
mecanismos diversos de determinação, os quais devem ser aplicados.
Um caso particular de indeterminação inicial que não suscita dúvidas é o da promessa a favor de
pessoa a nomear (452 e ss).
Situação diversa é a de o CP a executar conter lacunas. Estas podem ser integradas, nos termos
negociasi (239) ou, até, legais (10), quando elas envolvam lacunas na lei. Torna-se também possível, com
recurso aos institutos da redução (292) e da conversão (293), aproveitar promessas inválidas, de modo a
propiciar as competentes execuções especíicas.
Importa sublinhar que, por vezes, o promitente que, aquando de um pedido de execução
específica, returca invocado invalidades na promessa, está a abusar do direito: seja porque, ele próprio,
induziu o vício de que se pretende prevalecer, seja porque vem contrariar uma posição previamente
assumida, defrontando a confiança legítima assim ocasionada.
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hipotética violação, não emerjam nenhumas consequências. Isso representaria uma renúncia
antecipada a direitos de credor, vedada pelo artigo 809. O CP que fosse ainda, ad nutum, privado de
execução específica, ainda valeria como contrato. A sua violação acarretaria consequências
indemnizatórias, nos termos do artigo 798.
O normal, porém, é que as partes afastem a execução específica, substitundo-a por sinal ou por
cláusula penal. Estaremos, assim, perante um direito ao arrependimento, tendo o sinal o sentido de
arras penitenciais e /ou a cláusula penal o alcance de um resgate do dever a contratar.
Admite-se, porém, que se possa fixar um sinal ou uma pena convencional e , não obstante,
manter a execução específica. Aí, duas são as soluções possíveis:
- ou a execução específica irá funcionar em alternativa ao esquema do sinal ou à cláusula pena,
cabendo ao interessado, na altura própria, fazer a sua opção;
- ou ela opera cumulativamente com essas figuras, as quais, para além do aspeto compulsivo,
visarão compensar o lesado pela demora e pelas maiores despesas e incómodos que sempre advêm da
necessidade de recorrer ao tribunal.
De modo a facilitar o funcionamento de toda esta matéria, a lei estabelece duas presunções:
- a de que, havendo sinal ou pena convencional, as partes quiseram afastar a execução
específica (830/2);
- a de que, acordando-se um sinal, o mesmo é imputado no preço.
A matéria documenta-se com alguma jurisprudência:
- recaindo a promessa sobre um prédio rústico e existindo sinal, o promitente não faltoso não
pode obter a execução específica do contrato se não se ilidir a presunção do artigo 830/2;
- a presunção do preceito em causa opera mesmo em contratos que integrem diversos vínculos
jurídicos;
- o pagamento de um sinal elevado e a tradição da coisa implicam um propósito de tornar firme
o CP, constituindo indícios de admissão de execução específica, assim se ilidindo a presunção (830/2).
Esta liberdade das partes, relativa à execução específica, tem os limites do artigo 830/3, 1ª parte.
Não pode ser afastada a execução específica no tocante aos contratos urbanos, isto é, aos previstos no
artigo 410/3. Visou-se, com isso, proteger a posição dos promitentes-adquirentes de fogos para
habitação.
Faz todo o sentido atribuir eficácia real a uma promessa e, não obstante, a execução específica:
o promitente-adquirente lançará mão dessa eficácia se a coisa passar a um terceiro, entendido que
fique que, contra terceiros, nunca cabe a execução específica, mas antes uma medida diversa.
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Na doutrina, têm sido defendidas praticamente todas as posições imagináveis. Assim, perante
uma alienação faltosa a um terceiro:
- Antunes Varela e Ribeiro Faria: recorrer-se-ia a uma execução específica contra o promitente
faltoso, e ao regime da nulidade, contra o terceiro, por venda de bens alheios;
- Almeida Costa: idem, mas sendo a venda feita a terceiros meramente ineficaz;
- usar-se-ia a execução específica contra o terceiro adquirente (Dias Marques) ou contra este e
o promitente faltoso (Oliveira Ascensão);
- Menezes Leitão: lançar-se-ia mão de uma ação ah hoc "declarativa constitutiva,
eventualmente cumulável com um pedido de restituição, a instaurar em litisconsórcio(reunião de várias
pessoas interessadas num mesmo processo, na qualidade de autires ou réus, para defesa dos interesses
comuns) necessário contra o promitente e o terceiro adquirente";
- Menezes Cordeiro: intentar-se-ia uma reivindicação contra o atual possuidor da coisa.
A execução específica só pode ser usada inter partes. A venda a terceiros de bens onerados com
uma promessa real não é nem ilegítima, por envolver bens alheios, nem eficaz. O promitente-alienante
é o titular legítimo, dispondo da coisa como entender.
Num CP com eficácia real, quando seja alienada a um terceiro, a que poderá seguir-se toda uma
sequência de novas alienações, o promitente-adquirente tem de solucionar dois pontos:
- adquirir a coisa;
- pedir a sua restituição a quem seja possuidor.
Na promessa obrigacional, o beneficiário adquire a coisa ou pelo contrato definitivo, ou pela
sucedânea execução específica. Nunca será possível é adquirir a coisa a non domino, quando o
promitente-alienante, em falta, a tenha alienado a terceiros. Este raciocínio é extensível à promessa real.
Resta admitir que, tendo a promessa natureza real, o beneficiário pode adquirir a coisa
potestativamente, dispensando, seja o contrato, seja a execuçaõ específica.
O promitente interessado terá, pois, de apresentar, como causa de pedir da restituição
pretendida: o CP com eficácia real, a aquisição legítima do promitente-alienante, idem a do seu
antecessor e por aí adiante até exibir a causa originária de aquisição.
Para pedir uma coisa a um terceiro, a reivindicação é sempre necessária, com a inerente
diabolica probatio (quase impossível). Por isso, a ação aqui em jogo será sempre intentada contra o
atual possuidor da coisa. E assim sendo, faz todo o sentido que o direito postestativo de aquisição seja
exercido na própria ação em causa, por elementares preocupações de racionalidade processual. POr isso
falamos de reivindicação adaptada.
Quanto a demandar o promitente faltoso, em litisconsórcio, não é preciso, a menos que o réu
na "reivindicação adaptada" o queira, ele próprio, chamar, para excepcionar a invalidade da promessa, a
excepçao do contrato não cumprido ou qualquer outra que lhe diga respeito.
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A execução específica relativa a imóveis está sujeita a registo. Esse registo é mesmo necessário,
sob pena de a ação não prosseguir. O registo da ação é provisório por natureza e pode manter-se por
três anos. Transitada a ação que dê provimento à execução específica, a decisão está sujeita a registo e
é averbada ao registo da ação, o qual converte em definitivo, com a prioridade que lhe advém da
inscrição inicial. O registo da sentença que decrete a execução específica retroage à data da própria
ação. São-lhe inoponíveis os registos de aquisições de terceiros posteriores ao registo da ação. Assim se
consegue evitar o facto indecoroso e injusto de, intentada uma ação de execução específica, o réu poder
neutralizar a decisão do tribunal apressando-se a vender o bem a terceiro.
Há ainda outra hipótese. É intentada uma ação de execução específica, mas não é feito o seu
registo e, não obstante, os autos prosseguem. No decurso da ação, a coisa-objeto é vendida a um
terceiro que também não regista. nessa altura, pela regra da prioridade do registo e pelo funcionamento
da própria execução específica, esta prevale, se for registada antes do registo do terceiro.
Estas soluções, vieram a ser perturbadas pelo facto de se vir a dizer que, pelo registo da ação de
execução específica, a promessa meramente obrigacional adquiriria eficácia real. Não é o caso. A
promessa manter-se-ia, sempre obrigacional. Apenas a eventual decisão do tribunal teria uma eficácia
reportada à data da propositura da ação ou do seu registo. mas como se falou em eficácia real, surgiram
opiniões e decisões desencontradas.
O facto de o registo da ação ter precedido o registo da venda a terceiro não tem relevância, para
efeitos de execução específica, por não ser contitutivo de qualquer direito substantico sobre a coisa.
Quanto à doutrina, na sua maioria, defendeu que o registo da ação de execução específica fazia
retroagir, à data deste, a decisão que viesse a ser proferida no teu termo.
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- a venda a retro: uma das partes dispõe do direito potestativo de resolver o contrato, embora,
por essa via, ela possa provocar um rearranjo nas relações jurídicas presentes, não está em causa um
eventual contrato novo e, para mais, de conteúdo ainda desconhecido.
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